SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 15
Descargar para leer sin conexión
EDUCAÇÃO PARA O PENSAR E EDUCAÇÃO EMANCIPATÓRIA
Autora: QUINTAL, Tânia Maria Massaruto de.
Mestranda do Programa da Pós-Graduação em Educação
da Universidade Nove de Julho. São Paulo. Brasil.
Orientador: LORIERI, Marcos Antonio.
RESUMO
O presente trabalho desenvolve a temática da educação em duas perspectivas: a necessidade
de uma educação emancipatória frente às demandas sociais e as possibilidades emancipatórias
de uma educação voltada ao pensar dos alunos, por meio do trabalho de iniciação filosófica
com crianças. O artigo se propõe a realizar, ainda que brevemente, uma análise descritiva das
relações entre educação e sociedade, utilizando como referencial teórico os estudos da Teoria
Crítica, por meio do pensamento de Theodor W. Adorno. Nesta temática, Teoria Crítica e
Educação, desenvolve conceitos como educação para a emancipação, racionalidade
instrumental, racionalidade emancipatória e semiformação, estabelecendo uma relação entre
educação, formação cultural, modo de produção capitalista e a necessidade de uma formação
crítica e reflexiva dos educandos frente a esta realidade. Justificando assim, a necessidade de
uma educação para o pensar como possibilidade de uma educação emancipatória, o trabalho
se propõe a investigar as contribuições da filosofia para uma educação que priorize o pensar
dos seus educandos. Aborda teoricamente o Programa de Educação para o Pensar- Filosofia
para Crianças- de Matthew Lipman, bem como alguns conceitos de sua concepção filosófica e
educacional, além das possíveis implicações para uma educação que priorize o pensar como
potencial emancipatório.
Palavras-chave: Teoria Crítica; Filosofia para Crianças; Educação para o pensar;
Emancipação;
1. Introdução
A educação não cumpre necessariamente a tarefa emancipatória. Num mundo
condicionado pela racionalidade instrumental1
e permeado pelos produtos da indústria
cultural2
, a educação pode estar à mercê da reprodução desta estrutura. Neste sentido, a Teoria
1
Pucci (2003, p. 24) desenvolve os elementos constitutivos da razão instrumental: “Ela é a razão no processo
técnico, na operação, no saber aplicado. Reifica-se; coisifica-se. Eliminando toda dubiedade do pensar através da
unidimensionalidade, ela se torna a ferramenta das ferramentas a serviço da produção material, da exploração do
trabalho, dos trabalhadores. Seu objetivo é a reprodução ampliada do capital”.
2
“... a indústria cultural é a cultura totalmente convertida em mercadoria” (Maar, 2003b, p.23)
Crítica da Escola de Frankfurt nos oferece um alerta a respeito destes rumos que os processos
formativos se constituem social e culturalmente.
É a partir de acontecimentos como Auschwitz que Adorno procura traçar estas críticas e
discutir possíveis saídas para constituir uma educação emancipatória. A partir da discussão
destas questões e considerando o contexto social no qual a educação se dá hoje, procuramos
identificar e discorrer sobre práticas educativas que viabilizem a emancipação dos sujeitos,
como busca de uma educação contra a barbárie, que cumpra sua função enquanto
transformação do modo de existência vigente.
Preocupados com o problema da racionalidade instrumental no mundo atual e com as
possibilidades da educação enquanto meio de emancipação social procuramos, no presente
artigo, desenvolver a referida temática considerando a necessidade de uma educação
emancipatória frente às demandas sociais e às contribuições de um programa educacional
voltado para o pensar dos alunos como uma possível saída para a construção de uma
Educação Emancipatória.
2. Educar após Auschwitz
Quando falo de educação após Auschwitz refiro-me a duas questões:
primeiro, à educação infantil, sobretudo na primeira infância; e, além disto,
ao esclarecimento geral, que produz um clima intelectual, cultural e social
que não permite tal repetição; portanto, um clima em que os motivos que
conduziram ao horror tornem-se de algum modo conscientes. (ADORNO,
2003, p. 123)
A exigência que Auschwitz não se repita é a primeira de todas para a educação, dizia
Adorno em seu conhecido texto Educação após Auschwitz3
. A pouca consciência do seu
significado social e histórico, enquanto barbárie, e da própria necessidade de que este
acontecimento não se repita, mostra o quanto ainda hoje, Auschwitz é possível.
Auschwitz como regressão, situa-se não somente como genocídio de uma raça, mas
também como o exemplo da perda da experiência formativa, da racionalidade
instrumentalizada que cria homens “não sujeitos”, “não pessoas”. A perda da possibilidade de
realizar experiências formativas resulta de uma tendência social, da própria forma como o
modo de produção capitalista se reproduz e da reificação do homem, que tornando-se coisa,
torna-se incapaz de desenvolver um sentido autônomo para sua vida: “O problema está em
que a perda da faculdade de fazer experiências não é uma imposição exterior à sociedade, mas
3
ADORNO, T. W. Educação e emancipação. 3ª ed. São Paulo, Paz e Terra, 2003, p. 119.
corresponde à sua configuração nuclear: ao próprio modo de produzir e reproduzir da mesma”
(MAAR, 2003a, p. 65).
A ocorrência de Auschwitz pode ser entendida como uma tendência social relacionada a
um estado de consciência que banaliza o mal, que apreende fatos como este como naturais,
inevitáveis. Daí a possibilidade de repetição. Ontem foram os judeus, amanhã serão outros.
“.... Auschwitz aqui e agora” (Maar, 2003b, p. 28). O outro diferente não é compreendido, não
é aceito, porque a relação com ele é privada de alteridade.
Aqui se coloca o ponto de partida de Adorno para discutir os caminhos da educação,
articulando-a num sentido ético: o sentido de que Auschwitz não se repita traz consigo a
necessidade de pensar uma educação após ele, a necessidade de educar contra a barbárie: “... o
centro de toda educação política deveria ser que Auschwitz não se repita” (ADORNO, 2003,
p.137).
Desenvolver este sentido ético na educação não está relacionado a uma educação moral
prescritiva e impositiva. Adorno (2003, p. 124) faz uma crítica a vínculos de compromisso
pautados em normas prescritas de fora, que representam na verdade uma heteronomia, um
tornar-se dependente de mandamentos exteriores que não são refletidos e assumidos
autonomamente pelo sujeito. Assim o sentido ético posto à discussão educacional parece estar
mais relacionado às reflexões sobre as condições sociais e psicológicas que geram a barbárie e
ao papel que a educação, enquanto processo de formação, pode desempenhar.
Auschwitz é o símbolo da semiformação4
, a formação que se tornou prejudicada,
danificada. Ultrapassa a tragédia dos campos de extermínio e representa a perda da
experiência formativa, da capacidade de fazer experiências humanizadoras: “... o verdadeiro
anti-semita é definido pela completa incapacidade de fazer experiências, por ser inteiramente
inacessível” (ADORNO, 2003, p.48).
Maar (2003a, p. 66-67) descreve o fenômeno da semicultura5
como travamento da
experiência, desenvolvendo-se apenas o momento afirmativo da cultura, ou seja, a adaptação
à realidade, o recebimento passivo de conteúdos culturais já dados, e não o momento de
negatividade, de resistência. Com isso, o momento da contradição, da crítica não se
desenvolve e a educação cumpre seu papel enquanto semiformação, reproduzindo o sistema
4
Sobre o conceito de semiformação, retomamos Adorno (1996, p. 388): “... A formação cultural agora se
converte em uma semiformação socializada, na onipresença do espírito alienado, que segundo sua gênese e seu
sentido, não antecede a formação cultural, mas a sucede (...) Símbolo de uma consciência que renunciou a
autodeterminação, prende-se, de maneira obstinada, a elementos culturais aprovados”.
5
Semicultura e semiformação são termos usados pelos comentadores de Adorno ganhando o mesmo sentido, ou
seja, o travamento da experiência formativa autêntica.
social-político-econômico, e com isso, os motivos que levam ao horror e que tornam
Auschwitz possível.
Indivíduos que aderem cegamente a coletivos, perdendo a individualidade e a dimensão
autônoma de suas vidas, como em Auschwitz, representam a consolidação da semiformação,
ou seja, a adequação acrítica frente à realidade. Mas também, como alerta Adorno,
representam o processo de reificação, a consciência que se torna coisa, o homem que deixa de
ser sujeito e se torna objeto.
... Mencionei o conceito de consciência coisificada. Esta é sobretudo uma
consciência que se defende em relação a qualquer vir-a-ser, frente a qualquer
apreensão do próprio condicionamento, impondo como sendo absoluto o que
existe de um determinado modo. (ADORNO, 2003, p. 132)
Neste trecho Adorno nos mostra a necessidade de atentar para a conversão de uma
relação humana em “coisa”: pessoas que se tornam coisas, deixam de ser seres
autodeterminados, conseguem tornar os outros iguais a coisas. Explica-se então o estado da
consciência no qual ela se torna indiferente à dor do outro. Não há o estabelecimento de uma
relação de alteridade, de diferenciação, de autonomia, porque as consciências são
uniformizadas.
...O elogiado objetivo de “ser duro” de uma tal educação significa
indiferença contra a dor em geral. No que, inclusive, nem se diferencia tanto
a dor do outro e a dor de si próprio. Quem é severo consigo mesmo adquire o
direito de ser severo também com os outros, vingando-se da dor cujas
manifestações precisou ocultar e reprimir. Tanto é necessário tornar
consciente esse mecanismo quanto se impõe a promoção de uma educação
que não premia a dor e a capacidade de suportá-la, como acontecia
antigamente. (ADORNO, 2003, p. 128-129)
Contudo, como bem descreve Adorno, este estado de consciência resulta de uma
formação, de um modo determinado de formação, não de uma natureza inata, pois o homem é
social e historicamente determinado. Assim, fica claro o papel que educação pode cumprir
enquanto forma de combater a semiformação, resgatando a cultura em seu aspecto de
resistência. É aqui que está à necessidade de se pensar uma “Educação após Auschwitz”.
Para Adorno (2003, p. 125) “... O único poder efetivo contra o princípio de Auschwitz
seria autonomia, para usar a expressão kantiana; o poder para a reflexão, a autodeterminação,
a não-participação”. Esta seria uma saída para a educação: a produção de uma consciência
verdadeira. Cabe então resgatar a educação enquanto racionalidade, mas não a racionalidade
instrumental, criticada pelos teóricos críticos, e sim a racionalidade esclarecida.
3. Racionalidade Emancipatória
Kant, ao responder a pergunta “O que é esclarecimento?”, defende a necessidade do
homem fazer uso público de sua razão, num processo de “emancipação intelectual”, por meio
da superação da ignorância e do desenvolvimento de um pensar por conta própria, ou seja,
criticando o pensamento que se faz pela inculcação:
Esclarecimento [Aufklärung] é a saída do homem de sua menoridade, da
qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de
seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio
culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de
entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo
sem a direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem de fazer uso de teu
próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento [Aufklärung]. (KANT,
2005, p. 63-64)
Fazer uso público da razão é o que o homem faz enquanto sábio, falando em seu
próprio nome, discordando, expondo seus pensamentos publicamente, em todos os espaços
sociais, de forma autônoma. Para Kant, o uso público da razão é decorrente do esclarecimento
e da racionalidade que libertam o homem de tudo que o prendia e o fazia ser menor, se este
ser menor não estivesse no homem mesmo, que por falta de coragem, torna-se incapaz de
fazer uso deste esclarecimento em prol de sua emancipação.
Kant vê no homem a responsabilidade de sua libertação na medida em que este tem
coragem de fazer uso da própria razão. A razão representa para o filósofo uma possibilidade
de emancipação humana.
A afirmação da dimensão instrumental da razão representa a negação da razão
emancipatória. É neste momento que residem às preocupações da Teoria Crítica: o resgate da
razão enquanto esclarecimento e emancipação:
... Embora privilegiem, inclusive a partir de um momento histórico próprio,
a crítica da razão instrumental, o momento da negação, contudo, como pano
de fundo, e em diversos momentos de seus escritos fazem aparecer a
negação da negação, ou seja, a reafirmação da Razão Emancipatória de Kant
(PUCCI, 2003, p.29)
A Teoria Crítica denuncia o irracionalismo da sociedade capitalista, por meio da
crítica que faz à razão instrumental e à indústria cultural que a viabiliza, mas anuncia as
possibilidades da razão. Temos então dois momentos: o primeiro, da afirmação da razão
alienada, instrumentalizada e o segundo, o resgate da razão crítica, tentando resistir à
dominação e à repressão da barbárie do sistema.
O esclarecimento racional seria meio de tornar consciente e combater a razão
instrumental. A razão com seu caráter emancipatório é a saída. Trata-se de resgatar a
potencialidade crítica do esclarecimento.
4. Educação e Emancipação
Para situar a educação na perspectiva emancipatória por meio do legado da Teoria
Crítica, buscamos identificar o que Adorno, um de seus representantes, entende por
educação6
. Façamos nossas as suas palavras:
A seguir, e assumindo o risco, gostaria de apresentar a minha concepção
inicial de educação. Evidentemente não a assim chamada modelagem de
pessoas, porque não temos o direito de modelar pessoas a partir do seu
exterior; mas também não a mera transmissão de conhecimentos (...) mas a
produção de uma consciência verdadeira. Isto seria inclusive da maior
importância política. Isto é: uma democracia com o dever de não apenas
funcionar, mas operar conforme seu conceito demanda pessoas
emancipadas. Uma democracia efetiva só pode ser imaginada enquanto uma
sociedade de quem é emancipado (ADORNO, 2003, p.141-142, grifo do
autor)
Emancipação significa o mesmo que conscientização, racionalidade (ADORNO, 2003,
p.143). Daí as relações entre razão, consciência crítica e formação cultural. Mais uma vez a
educação assume no pensamento de Adorno, um papel político: além de combater os
princípios que possibilitaram Auschwitz, a educação só tem sentido enquanto produção de
uma consciência verdadeira, em relação a um projeto de sociedade democrática. Retomando
as palavras de Adorno (2003, p. 121): “... A educação tem sentido unicamente como educação
dirigida a uma auto-reflexão crítica”.
6
É importante ressaltar que os processos educacionais, para a Teoria Crítica, estão relacionados à formação e à
cultura, não se limitando às instituições de ensino, mas englobam a forma como os produtos simbólicos são
disseminados, mercantilizados e com isso, determinam estes processos.
Educação/formação cultural pela auto-reflexão crítica significa para Adorno
a busca da autonomia, da autodeterminação kantiana, do homem enquanto
sábio fazendo uso público de sua razão, superando os limites da liberdade
trazidos pela barbárie, pela semicultura. O homem enquanto sábio se torna
cidadão do mundo, supera a dimensão do privado, do doméstico, do
paroquial, das normas e imposições mil. E isso é plenamente educativo,
formativo. Existe, pois, um potencial pedagógico inestimável no
esclarecimento. A educação é antes de tudo esclarecimento. (PUCCI, 2003,
p. 47).
A auto-reflexão crítica é elemento fundamental para uma educação emancipatória, no
sentido de esclarecimento frente aos mecanismos de manipulação ideológica, de deturpação
em relação às situações de opressão dadas pelo modo de produção dominante.
Segundo Adorno uma educação emancipatória necessita alcançar o objetivo de
“desbarbarizar”. A principal tarefa da educação é, então, a “desbarbarização” por meio do
esclarecimento crítico e da educação enquanto processo de emancipação. A barbárie é o
contrário da formação cultural, é a continuidade do potencial autoritário:
... a barbárie des-educa, de-forma e está profundamente presente nas
relações sociais dominantes. É preciso re-educar. E o básico no atual
processo de re-educação chama-se “desbarbarização”: restabelecer as
condições de autonomia, de consciência e de liberdade do indivíduo, do
sujeito, do ambiente social. E a escola tem um papel fundamental nesse
processo (PUCCI, 2003, p. 50, grifo do autor).
A desbarbarização é elemento para resgatar a experiência formativa, por meio da
reconstrução da individualidade dos sujeitos na experiência com os outros (alteridade) sendo
fonte impulsionadora de resistência.
A educação para Adorno seria impotente e até mesmo ideológica se desconsiderasse o
objetivo de adaptação e não proporcionasse ao homem meios para se orientar no mundo, mas
ao mesmo tempo, se esta educação se reduz a formar homens ajustados socialmente,
adaptados e conformados, ela não cumpre sua tarefa de resistência. Frente ao duplo papel da
escola, adaptação e resistência, a educação por meio dela deveria enfatizar muito mais a
resistência, pois a adaptação é imposta pelo próprio contexto social, cultural, econômico: “...
A educação por meio da família, na medida em que é consciente, por meio da escola, da
universidade teria neste momento de conformismo onipresente muito mais a tarefa de
fortalecer a resistência do que fortalecer a adaptação.” (ADORNO, 2003, p. 144).
É importante buscar transpor a possibilidade de emancipação em situações formativas
concretas. Contudo, cabe uma ressalva: que a educação emancipatória não se torne um
chavão, um mero discurso retórico. Por isso é necessário cuidado.
A importância das contribuições da Teoria Crítica para pensarmos em propostas
educacionais anuncia a necessidade de refletirmos sobre ao papel que a escola, enquanto
instituição de formação proporciona ao pensamento, resgatando a função social da educação.
Isso porque em todo o momento a discussão entre razão, razão crítica, pensamento crítico,
formação cultural, permeia as considerações da Teoria Crítica.
Como possibilitar em nossas propostas educacionais o pensamento crítico? Como
viabilizar em práticas formativas concretas uma educação enquanto projeto de experiência
formativa no sentido de resistência? Como viabilizar a experiência da auto-reflexão?
A escola deve, portanto, ter compromisso com a constituição das estruturas
mentais, com a formação de sujeitos capazes de operar formalmente para
que se criem as condições necessárias à tomada de consciência e, de forma
articulada com a prática, se dê a ruptura com o caráter ideológico,
mistificador de uma racionalidade que desumaniza (PRESTES, 2003, p. 98)
Torna-se importante pensarmos em como a educação pode veicular através de suas
práticas, uma formação para a emancipação. Como a escola pode contribuir para um
pensamento mais crítico, consciente e coerente? É preciso antes de tudo que a educação forme
os sujeitos para o pensar.
5. Educação para o Pensar
A discussão sobre uma “Educação após Auschwitz” indica a necessidade que temos
hoje de educar para o pensar. Auschwitz como conseqüência da perda da experiência
formativa materializa a importância de refletirmos sobre uma educação após ele e esta só é
possível, se possibilitar o pensar, enquanto esclarecimento e criticidade.
É fato, então, a necessidade que temos hoje de educar para o pensar bem, ou seja, não
qualquer forma de pensar, mas uma forma rigorosa, profunda, radical, sistemática. Adorno já
nos alertava que não basta uma racionalidade, mas sim uma racionalidade crítica. Daí a
indicação de uma educação voltada para o pensar bem. Isso se deve principalmente se
considerarmos a necessidade de formar cidadãos autônomos e críticos, e também se
considerarmos a função social da escola, como espaço de democratização do conhecimento e
de intervenção na estrutura social a fim de modificá-la.
A escola hoje, frente ao mundo permeado pela racionalidade instrumental, deve
preocupar-se mais em formar sujeitos que façam perguntas, que saibam problematizar, do que
sujeitos que tenham respostas prontas e automatizadas. Talvez, o problema maior da escola,
ao longo de sua história, esteja no enfoque em “dar respostas”, ao invés de fortalecer o pensar
dos alunos para construí-las por si mesmos a partir de perguntas e que lhes sejam
significativas.
... O que deve ser evitado, na visão educacional que defendemos, é que as
novas gerações sejam levadas, simplesmente, a adotar as respostas já
prontas. Elas não apenas têm o direito de proceder a um exame rigoroso e
crítico a respeito dessas respostas, o que envolve conhecê-las, mas também o
direito de ajuizar e opinar sobre elas e sobre alternativas para tais respostas.
Todos os seres humanos têm direito de decidir nos rumos das suas vidas.
Também crianças e jovens têm esse direito, como lhes cabe o direito de
aprender a dominar o uso das ferramentas intelectuais que lhes possibilitem
as decisões. Têm direito de ser educados para a autonomia. (LORIERI,
2002, p. 43, grifo do autor)
Educação para o pensar é a expressão que aponta esforços educativos intencionais para
proporcionar aos educandos, a construção de um pensar bem, ou seja, a produzirem
pensamentos (entendimentos, explicações, significados, conhecimentos) críticos, rigorosos,
reflexivos, contextualizados, abrangentes, capazes de se submeter a constante crítica e
principalmente, autônomos no sentido apontado por Lipman:.
... no sentido em que os pensadores autônomos são aqueles que „pensam por
si mesmos‟, que não repetem simplesmente o que outras pessoas dizem ou
pensam, mas que fazem seus próprios julgamentos a partir das provas, que
formam sua própria visão de mundo e desenvolvem suas próprias
concepções acerca do tipo de indivíduo que querem ser e o tipo de mundo
que gostariam que fosse. (LIPMAN, 2001, p. 36)
Matthew Lipman idealizou e construiu um programa de educação voltado ao pensar,
levando a prática da investigação filosófica à educação das crianças e jovens7
.
Antes de tudo, diria Lipman, é preciso que a escola fortaleça nas crianças a capacidade
de pensar, na verdade, esta deveria ser sua principal tarefa (LIPMAN, 2001, p.11). O objetivo
principal de Lipman, por meio da educação filosófica, é desenvolver nas crianças e jovens a
capacidade de pensar bem, formular e construir conceitos, realizar julgamentos razoáveis e
que estes sejam úteis e significativos às suas vidas.
7
Programa Filosofia para crianças - Educação para o pensar
A expressão Educação para o Pensar remonta a essa preocupação, ou seja, a de
consolidar por meio do processo educacional, formas de pensar que não sejam superficiais,
acríticas, descuidadas, incoerentes e sim que sejam complexas, sistemáticas, criativas, críticas,
coerentes e consistentes, o que Lipman denomina como um pensamento de ordem superior.
Ele indica as propriedades dessa maneira de pensar como sendo, acima de tudo,
conceitualmente rica, coerentemente organizada e persistentemente investigativa (LIPMAN,
2001, p. 37). Riqueza de conceitos, coerência, organização e curiosidade são características
fundamentais deste pensar.
O pensamento de ordem superior representa para Lipman a excelência do desempenho
cognitivo e esta conta tanto com a racionalidade, quanto com a criticidade e com a
criatividade. Ele o denomina também de pensar complexo que
... é, portanto, o pensamento que está ciente da suas próprias suposições e
implicações, assim como está consciente das razões e provas que sustentam
esta ou aquela conclusão. O pensamento complexo leva em consideração a
sua própria metodologia, seus próprios procedimentos, sua própria
perspectiva e pontos de vista. O pensamento complexo está preparado para
reconhecer os fatores que são responsáveis pelas tendências, preconceitos e
auto-ilusões. Ele inclui pensar sobre procedimentos ao mesmo tempo em
que pensa sobre seu tema principal. (LIPMAN, 2001, p. 42, grifo do
autor)
Lipman (2001) define o pensamento de ordem superior como a composição do pensar
crítico (orientado por critérios e razões) com o pensar criativo (orientado pelo contexto). Não
há pensamento crítico sem julgamento criativo, assim como não há pensamento criativo, sem
julgamento crítico (LIPMAN, 2001, p.39).
Podemos acrescentar que o pensamento de ordem superior não equivale
somente ao pensamento crítico, mas à fusão dos pensamentos crítico e
criativo. Isto é particularmente evidente quando os aspectos críticos e
criativos sustentam e reforçam um ao outro, como no caso onde o pensador
crítico inventa novas premissas ou novos critérios, ou quando o pensador
criativo dá uma nova orientação a um costume ou tradição artística. E o
pensamento de ordem superior inclui o pensamento flexível, rico em
recursos. Rico em recursos no sentido de que ele tem idéia de onde procurar
os recursos de que necessita, e flexível no sentido de que é capaz de
movimentar-se livremente dispondo destes recursos a fim de que sejam
totalmente eficazes (LIPMAN, 2001, p. 38-39)
A concepção de Educação para o Pensar de Lipman supõe que pensamento crítico
pode ser incentivado por meio da atividade criativa e inversamente, que a criatividade pode
ser alimentada pelo desenvolvimento da criticidade. Cabe à educação desenvolver e
aprimorar os aspectos de criticidade, criatividade, coerência, lógica e curiosidade nos alunos.
“Fazer com que os alunos filosofem é um exemplo de como o pensamento de ordem
superior pode ser estimulado em uma sala de aula, fazendo uso da comunidade de
investigação” (LIPMAN, 2001, p. 38). Para Lipman, o trabalho com filosofia desde a
educação das crianças é um meio de desenvolver habilidades cognitivas e alcançar o
pensamento de ordem superior.
O pensamento de ordem superior é viabilizado através do diálogo que se instaura nas
comunidades de investigação filosófica: “A comunidade de investigação, especialmente
quando utiliza o diálogo, é o contexto social mais apropriado para a geração do pensamento
de ordem superior” (LIPMAN, 2001, p. 40).
As comunidades de investigação se realizam como uma proposta na qual os alunos:
problematizam questões; levantam hipóteses, argumentos, idéias; constroem e desconstroem
conceitos; formulam juízos; discutem critérios de verdade. A importância desta prática não
está no acerto do raciocínio ou na criação do conhecimento convencional, mas sim no próprio
fazer, no processo de investigação que o grupo de alunos se propõe a realizar. A comunidade
de investigação só se define como tal porque conta com a colaboração de todos, combinando
o diálogo, o pensamento crítico e autocorretivo, a responsabilidade e o respeito pelo grupo.
A racionalidade é para Lipman um meio para um pensar melhor e também para
desenvolver atitudes razoáveis: “Ser razoável não significa fazer uso da racionalidade pura; é
a racionalidade temperada pelo julgamento” (LIPMAN, 2001, p. 21). Formar cidadãos
razoáveis é uma necessidade para uma sociedade democrática.
Lipman indica uma prática educativa em que os alunos possam questionar situações,
temas e conceitos que se apresentam como problemáticos, a fim de estimulá-los e realizarem
julgamentos, baseados nos critérios da racionalidade e da deliberação. Estes julgamentos, são
orientadores da ação, estão relacionados a critérios que possam guiar e enriquecer a vida
destes alunos.
... Objetivo do processo educativo é o de ajudar-nos a formar melhores
julgamentos a fim de que possamos modificar nossas vidas de maneira mais
criteriosa. Julgamentos não são fins em si mesmos. Nós não experienciamos
obras de arte a fim de julgá-las; julgamos estas a fim de sermos capazes de
ter experiências estéticas enriquecedoras. Fazer julgamentos morais não é
um fim em si mesmo; é um meio de melhorara a qualidade de vida.
(LIPMAN , 2001, p.37)
Podemos dizer que Educação para o Pensar para Lipman fundamenta-se na
necessidade do uso da racionalidade, na capacidade de pensar bem, comunicar o pensamento,
fazer julgamentos relevantes, identificar e discernir valores: “... A educação pode ser vista
como um grande laboratório da racionalidade, mas é mais realista vê-la como um contexto no
qual pessoas jovens aprendam a usar a razão para que possam crescer e se tornarem cidadãos,
companheiros e pais capazes de raciocinar” (LIPMAN, 2001, p.33).
6. Educação para o Pensar e Educação Emancipatória: considerações finais
“... Após Auschwitz é preciso elaborar o passado e criticar o presente prejudicado,
evitando que este perdure e, assim, que aquele se repita” (MAAR, 2003b, p.11). É preciso
retomar o passado, traçar o presente e projetar o futuro. É preciso superar a perda da
capacidade humana de realizar experiências formativas e a condição de objeto a que o homem
se reduziu num mundo instrumentalizado pelo capital: para isso é necessário discutir a
educação nesta ótica política que abarca a necessidade da emancipação e do resgate do
homem enquanto sujeito capaz de produzir um mundo humanizado por ele.
Expor sobre Auschwitz e uma educação após ele, através do pensamento de Adorno,
significou neste artigo, advertir sobre os caminhos que a educação tem percorrido em nossa
sociedade, pautada pelas regras e ditames da razão, que no seu ápice, se tornou irracional, a
ponto de levar “... quem projeta um sistema ferroviário para conduzir as vítimas a Auschwitz
com maior rapidez e fluência, a esquecer o que acontece com estas vítimas em Auschwitz”
(ADORNO, 2003, p.133).
O conhecimento e a razão, vistos neste contexto, não são necessariamente meios de
emancipação. É preciso compreender como a racionalidade e o conhecimento, reproduzidos
pelos processos educativos, podem ser formativos, no sentido de adquirirem configurações
não “coisificadas” e “não coisificantes”, deixando estes de estarem a serviço da reprodução
desenfreada da injustiça social e da barbárie. É preciso combater a apropriação irrefletida de
conhecimentos técnicos desvinculados de finalidades humanizadoras.
Este foi o sentido que buscamos neste artigo ao expor sobre as idéias de Adorno a
respeito de uma Educação após Auschwitz e sobre a necessidade de sua superação por meio
de uma educação emancipatória, esclarecida, formativa, voltada ao pensar bem. E é no
pensamento crítico e no esclarecimento das formas irracionais através das quais a
racionalidade se configurou enquanto instrumento, que podemos encontrar possíveis saídas
emancipatórias. A racionalidade esclarecida é a arma de luta contra a racionalidade
instrumentalizada. A crítica se dirige à racionalidade, mas ela mesma é a possibilidade de
mudança. Por isso falar de emancipação na proposta aqui descrita implica necessariamente em
resgatar a razão e o pensar na educação: “... Ele não criticava a racionalidade, mas seu déficit
nos termos da experiência formativa dialética, que nada mais seria para Adorno do que a
própria razão. Trata-se de advertir a razão contra si mesma em nome de si mesma” (MAAR,
2003b, p. 20)
A necessidade de construção de uma educação emancipatória canaliza
fundamentalmente ao resgate do potencial racional do homem, de sua autonomia, de seu
pensamento crítico e por isso à importância de se refletir sobre as possíveis relações entre
Educação para o Pensar e Educação Emancipatória.
Educação Emancipatória para Adorno comporta necessariamente o pensamento
crítico, a auto-reflexão crítica. Ela é o esclarecimento intelectual, social, cultural que pode
impedir a barbárie e tornar conscientes os mecanismos de sujeição e reificação. É uma
educação que impede a formação de consciências homogêneas e coisificadas. O
esclarecimento racional é meio de fortalecer a resistência. Emancipação é para o autor o
mesmo que conscientização, racionalidade crítica.
Educação para o pensar em Lipman tem a intenção de desenvolver nos sujeitos o
pensamento de ordem superior sendo este a simbiose do pensamento crítico e criativo.
Pensamento crítico para Lipman remonta à idéia de pensar com critérios, realizando
julgamentos razoáveis que orientem ações razoáveis. Há aqui uma grande ênfase na
racionalidade, na razão, como meio de fortalecer julgamentos e ações razoáveis.
Para Adorno a racionalidade é saída para uma educação emancipatória, na medida em
que esta racionalidade proporciona aos sujeitos a possibilidade de realizar experiências,
experiências formativas. Sobre o conceito de racionalidade ou de consciência ele diz:
Em geral este conceito é aprendido de um modo excessivamente estreito,
como capacidade formal de pensar (...) Mas aquilo que caracteriza
propriamente a consciência é o pensar em relação à realidade, ao conteúdo- a
relação entre as formas e estruturas de pensamento do sujeito e aquilo que
este não é. Este sentido mais profundo de consciência ou faculdade de pensar
não é apenas o desenvolvimento lógico formal, mas ele corresponde
literalmente à capacidade de fazer experiências. Eu diria que pensar é o
mesmo que fazer experiências intelectuais. Nesta medida e nos termos que
procuramos expor, a educação para a experiência é idêntica à educação para
a emancipação (ADORNO, 2003, p.151)
A Educação Emancipatória deve combater a experiência fragmentada, o pensamento
unidimensional e domesticador, que leva o indivíduo a aderir a um coletivo cegamente, como
aqueles que aceitaram o anti-semitismo e seu horror. Deve possibilitar ao homem resgatar-se
enquanto pessoa-sujeito, ser de construção, relação, determinado, mas também determinante.
A emancipação só é possível pelo esclarecimento e pelo pensamento crítico. Não há
emancipação quando há doação, quando se dita para o outro e não o deixa dizer. E é neste
sentido que encontramos na proposta de Lipman alternativas que nos parecem materializações
de uma educação em que o aluno, engajado num processo de investigação em uma
comunidade solidária, aprende a pensar dialógica, filosófica e criticamente, ganhando voz, e
com isso autonomia, ao mesmo tempo em que respeita o outro, o diferente, lidando
positivamente desde bem pequeno com situações de alteridade.
Há diferenças nas concepções de Adorno e Lipman quanto à relação entre
racionalidade e educação, assim como diferenças no papel que cada um atribui à educação no
conjunto social e na própria forma de concebê-lo. Diferenças estas naturais se considerarmos
as bases epistemológicas e políticas de cada um. Lipman não fala de uma educação
emancipatória nestes termos, propõe mudanças nas práticas formativas visando formar
sujeitos pensantes e críticos para viverem plenamente uma democracia social. Adorno não
tem uma proposta educacional específica, como o programa de Lipman, mas faz um estudo e
crítica sobre os processos formativos na sociedade capitalista de sua época, visando encontrar
saídas para superar as condições materiais objetivas desiguais. Adorno propõe a superação da
sociedade capitalista. Lipman não propõe este caminho. Neste artigo não objetivamos
esmiuçar tais questões, apenas aproximar as relações que possam existir no que se refere às
idéias de emancipação e educação para o pensar, procurando ressaltar as contribuições que
uma educação que prioriza este fim pode oferecer na formação de sujeitos pensantes, livres,
autônomos e sendo assim, emancipados.
Referências Bibliográficas
ADORNO, T. W. Educação e emancipação. Trad. Wolfgang Leo Maar. 3ªed. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 2003.
_____. Teoria da Semicultura. Tradução de Newton Ramos-de-Oliveira, Bruno Pucci e
Cláudia B. M. de Abreu. Publicado na Revista "Educação e Sociedade". Campinas: n. 56, ano
XVII, dezembro de 1996, pág. 388-411
_________.; HORKHEIMER, M. Dialética do Esclarecimento. Trad. Guido Antonio de
Almeida. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2006.
CASTRO, E. A.; RAMOS-DE-OLIVEIRA, P. (org). Educando para o pensar. São Paulo:
Pioneira Thomson Learnig, 2002.
KANT, I. Resposta à pergunta: Que é “Esclarecimento”? (Aufklärung). In: Immanuel Kant:
textos seletos. Tradução Raimundo Vier e Floriano de Sousa Fernandes. 3. ed. Petrópolis:
Vozes, 2005.
KOHAN. W. O. Filosofia para crianças. Rio de Janeiro, DP&A, 2000.
LIPMAN, M. O pensar na educação. Tradução Ann Mary Fighiera Perpétuo. 3. ed.
Petrópolis, RJ, Vozes, 2001.
________; OSCANYAN, F. S.; SHARP, A. M. Filosofia na sala de aula. Tradução Ana
Luiza Fernandes Falcone. São Paulo, Nova Alexandria, 2001.
LORIERI. M. A. Filosofia: fundamentos e métodos. São Paulo; Cortez, 2002.
MAAR, W. L.“Educação crítica, formação cultural e emancipação política na Escola de
Frankfurt”. In PUCCI, Bruno (org). Teoria Crítica e Educação: a questão da formação
cultural na Escola de Frankfurt. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003a.
________. “Á guisa de introdução: Adorno e a experiência formativa”. In: ADORNO, T. W.
Educação e emancipação. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003b.
PRESTES, N. H. “A razão, a Teoria Crítica e a Educação”. In PUCCI, Bruno (org). Teoria
Crítica e Educação: a questão da formação cultural na Escola de Frankfurt. 3. ed. Petrópolis,
RJ: Vozes, 2003.
PUCCI, B. “Teoria Crítica e Educação”. In PUCCI, Bruno (org). Teoria Crítica e Educação:
a questão da formação cultural na Escola de Frankfurt. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.
RAMOS-DE-OLIVEIRA, P. Filosofia para a formação da criança. São Paulo; Pioneira
Thomson Learning, 2004.
ZUIN, A. A.; PUCCI, B.; RAMOS- DE- OLVEIRA, N. Adorno-o poder educativo do
pensamento crítico. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.

Más contenido relacionado

La actualidad más candente

Henri paul hyacinthe wallon 2 psicologia
Henri paul hyacinthe   wallon 2 psicologiaHenri paul hyacinthe   wallon 2 psicologia
Henri paul hyacinthe wallon 2 psicologiaAna Rita Rochynski
 
As teorias pedagógicas modernas resiginificadas pelo debate contemporâneo
As teorias pedagógicas modernas resiginificadas pelo debate contemporâneoAs teorias pedagógicas modernas resiginificadas pelo debate contemporâneo
As teorias pedagógicas modernas resiginificadas pelo debate contemporâneoDrika Moraes
 
ConcepçãO Interacionista
ConcepçãO InteracionistaConcepçãO Interacionista
ConcepçãO Interacionistacristinammelo
 
40.resumo para concurso professor henri wallon.docx
40.resumo para concurso professor   henri wallon.docx40.resumo para concurso professor   henri wallon.docx
40.resumo para concurso professor henri wallon.docxAlineMelo123
 
Apostila de-conhecimentos-pedagógicos
Apostila de-conhecimentos-pedagógicosApostila de-conhecimentos-pedagógicos
Apostila de-conhecimentos-pedagógicosEDILENE CABRAL
 
Afetividade no desenvolvimento infantil final
Afetividade no desenvolvimento infantil finalAfetividade no desenvolvimento infantil final
Afetividade no desenvolvimento infantil finalIsa Silveira
 
Diferença entre ensino tradicional
Diferença entre ensino tradicionalDiferença entre ensino tradicional
Diferença entre ensino tradicionalArlindo Francisco
 
Currículo e desenvolvimento humano
Currículo e desenvolvimento humanoCurrículo e desenvolvimento humano
Currículo e desenvolvimento humanoLOCIMAR MASSALAI
 
Abordagem cognitivista
Abordagem cognitivistaAbordagem cognitivista
Abordagem cognitivistaLílian Reis
 
Teoria Sociocultural
Teoria SocioculturalTeoria Sociocultural
Teoria SocioculturalFabiano Ramos
 
38.resumo para concurso professor vigotsky.docx
38.resumo para concurso professor   vigotsky.docx38.resumo para concurso professor   vigotsky.docx
38.resumo para concurso professor vigotsky.docxAlineMelo123
 
Vygotsky E O Papel Das InteraçõEs Sociais Em Sala De Aula
Vygotsky E O Papel Das InteraçõEs Sociais Em Sala De AulaVygotsky E O Papel Das InteraçõEs Sociais Em Sala De Aula
Vygotsky E O Papel Das InteraçõEs Sociais Em Sala De AulaEliane Almeida
 
ConcepçãO Interacionista
ConcepçãO InteracionistaConcepçãO Interacionista
ConcepçãO Interacionistacristinammelo
 

La actualidad más candente (20)

G ped didp_3_1_05
G ped didp_3_1_05G ped didp_3_1_05
G ped didp_3_1_05
 
Henri paul hyacinthe wallon 2 psicologia
Henri paul hyacinthe   wallon 2 psicologiaHenri paul hyacinthe   wallon 2 psicologia
Henri paul hyacinthe wallon 2 psicologia
 
A Escola de Vygotsky e Piaget
A Escola de Vygotsky e PiagetA Escola de Vygotsky e Piaget
A Escola de Vygotsky e Piaget
 
As teorias pedagógicas modernas resiginificadas pelo debate contemporâneo
As teorias pedagógicas modernas resiginificadas pelo debate contemporâneoAs teorias pedagógicas modernas resiginificadas pelo debate contemporâneo
As teorias pedagógicas modernas resiginificadas pelo debate contemporâneo
 
ConcepçãO Interacionista
ConcepçãO InteracionistaConcepçãO Interacionista
ConcepçãO Interacionista
 
40.resumo para concurso professor henri wallon.docx
40.resumo para concurso professor   henri wallon.docx40.resumo para concurso professor   henri wallon.docx
40.resumo para concurso professor henri wallon.docx
 
Concepção sociointeracionista
Concepção sociointeracionistaConcepção sociointeracionista
Concepção sociointeracionista
 
Apostila de-conhecimentos-pedagógicos
Apostila de-conhecimentos-pedagógicosApostila de-conhecimentos-pedagógicos
Apostila de-conhecimentos-pedagógicos
 
Afetividade no desenvolvimento infantil final
Afetividade no desenvolvimento infantil finalAfetividade no desenvolvimento infantil final
Afetividade no desenvolvimento infantil final
 
Diferença entre ensino tradicional
Diferença entre ensino tradicionalDiferença entre ensino tradicional
Diferença entre ensino tradicional
 
Vigotsky letras 6 semestre aula de 03042013
Vigotsky letras 6 semestre aula de 03042013Vigotsky letras 6 semestre aula de 03042013
Vigotsky letras 6 semestre aula de 03042013
 
Currículo e desenvolvimento humano
Currículo e desenvolvimento humanoCurrículo e desenvolvimento humano
Currículo e desenvolvimento humano
 
Aula sobre wallon
Aula sobre wallonAula sobre wallon
Aula sobre wallon
 
Abordagem cognitivista
Abordagem cognitivistaAbordagem cognitivista
Abordagem cognitivista
 
La taylle, dantas e oliveira aula 6
La taylle, dantas e oliveira aula 6La taylle, dantas e oliveira aula 6
La taylle, dantas e oliveira aula 6
 
Teoria Sociocultural
Teoria SocioculturalTeoria Sociocultural
Teoria Sociocultural
 
38.resumo para concurso professor vigotsky.docx
38.resumo para concurso professor   vigotsky.docx38.resumo para concurso professor   vigotsky.docx
38.resumo para concurso professor vigotsky.docx
 
Vygotsky E O Papel Das InteraçõEs Sociais Em Sala De Aula
Vygotsky E O Papel Das InteraçõEs Sociais Em Sala De AulaVygotsky E O Papel Das InteraçõEs Sociais Em Sala De Aula
Vygotsky E O Papel Das InteraçõEs Sociais Em Sala De Aula
 
ConcepçãO Interacionista
ConcepçãO InteracionistaConcepçãO Interacionista
ConcepçãO Interacionista
 
Slaide afetividade
Slaide   afetividadeSlaide   afetividade
Slaide afetividade
 

Destacado

2. Freire. P. Pedagogia Autonomia. Paulo Deloroso
2. Freire. P. Pedagogia Autonomia. Paulo Deloroso2. Freire. P. Pedagogia Autonomia. Paulo Deloroso
2. Freire. P. Pedagogia Autonomia. Paulo DelorosoAndrea Cortelazzi
 
2 currículo, programa e programação
2 currículo, programa e programação2 currículo, programa e programação
2 currículo, programa e programaçãopsicologiaestoi
 
Concepcao critico emancipatoria
Concepcao critico emancipatoriaConcepcao critico emancipatoria
Concepcao critico emancipatorialuacapu
 
Gênese do Pensamento e da Linguagem L. S. Vygotsky.
Gênese do Pensamento e da Linguagem L. S. Vygotsky.Gênese do Pensamento e da Linguagem L. S. Vygotsky.
Gênese do Pensamento e da Linguagem L. S. Vygotsky.ronnymm
 
Educação transformadora
Educação transformadoraEducação transformadora
Educação transformadoraPertti Simula
 
Concepções Teóricas de Aprendizagem Paulo Freire
Concepções Teóricas de Aprendizagem  Paulo FreireConcepções Teóricas de Aprendizagem  Paulo Freire
Concepções Teóricas de Aprendizagem Paulo FreireTatiane Ferreira
 
Novo Ensino Médio - Escolas em Tempo Integral
Novo Ensino Médio -  Escolas em Tempo IntegralNovo Ensino Médio -  Escolas em Tempo Integral
Novo Ensino Médio - Escolas em Tempo IntegralPalácio do Planalto
 
Abordagem critico superadora
Abordagem critico superadora Abordagem critico superadora
Abordagem critico superadora pauloaltizani
 
Paulo freire: educação para a mudança
Paulo freire: educação para a mudançaPaulo freire: educação para a mudança
Paulo freire: educação para a mudançaNathan Natal
 
Ensino Fundamental De 9 Anos
Ensino Fundamental De 9 AnosEnsino Fundamental De 9 Anos
Ensino Fundamental De 9 AnosDilce
 
Teorias de aprendizagem
Teorias de aprendizagemTeorias de aprendizagem
Teorias de aprendizagemnormaquilino
 
Ensino Fundamental de 9 anos
Ensino Fundamental de 9 anosEnsino Fundamental de 9 anos
Ensino Fundamental de 9 anosprofandre
 
ENSINO FUNDAMENTAL 9 ANOS
ENSINO FUNDAMENTAL 9 ANOSENSINO FUNDAMENTAL 9 ANOS
ENSINO FUNDAMENTAL 9 ANOSjaninedepine
 
Banco de questões de sociologia
Banco de questões de sociologiaBanco de questões de sociologia
Banco de questões de sociologiaJosé Luiz Costa
 

Destacado (20)

Teorias Cognitivas de aprendizagem
Teorias Cognitivas de aprendizagem Teorias Cognitivas de aprendizagem
Teorias Cognitivas de aprendizagem
 
2. Freire. P. Pedagogia Autonomia. Paulo Deloroso
2. Freire. P. Pedagogia Autonomia. Paulo Deloroso2. Freire. P. Pedagogia Autonomia. Paulo Deloroso
2. Freire. P. Pedagogia Autonomia. Paulo Deloroso
 
2 currículo, programa e programação
2 currículo, programa e programação2 currículo, programa e programação
2 currículo, programa e programação
 
Concepcao critico emancipatoria
Concepcao critico emancipatoriaConcepcao critico emancipatoria
Concepcao critico emancipatoria
 
Gênese do Pensamento e da Linguagem L. S. Vygotsky.
Gênese do Pensamento e da Linguagem L. S. Vygotsky.Gênese do Pensamento e da Linguagem L. S. Vygotsky.
Gênese do Pensamento e da Linguagem L. S. Vygotsky.
 
Educação transformadora
Educação transformadoraEducação transformadora
Educação transformadora
 
Concepções Teóricas de Aprendizagem Paulo Freire
Concepções Teóricas de Aprendizagem  Paulo FreireConcepções Teóricas de Aprendizagem  Paulo Freire
Concepções Teóricas de Aprendizagem Paulo Freire
 
Slide curriculos e programas
Slide curriculos e programasSlide curriculos e programas
Slide curriculos e programas
 
Ensino medio (2)
Ensino medio (2)Ensino medio (2)
Ensino medio (2)
 
Novo Ensino Médio - Escolas em Tempo Integral
Novo Ensino Médio -  Escolas em Tempo IntegralNovo Ensino Médio -  Escolas em Tempo Integral
Novo Ensino Médio - Escolas em Tempo Integral
 
Abordagem critico superadora
Abordagem critico superadora Abordagem critico superadora
Abordagem critico superadora
 
Paulo freire: educação para a mudança
Paulo freire: educação para a mudançaPaulo freire: educação para a mudança
Paulo freire: educação para a mudança
 
Ensino Fundamental De 9 Anos
Ensino Fundamental De 9 AnosEnsino Fundamental De 9 Anos
Ensino Fundamental De 9 Anos
 
Teorias de aprendizagem
Teorias de aprendizagemTeorias de aprendizagem
Teorias de aprendizagem
 
Ensino Fundamental de 9 anos
Ensino Fundamental de 9 anosEnsino Fundamental de 9 anos
Ensino Fundamental de 9 anos
 
Teoria De Vygotyski
Teoria De VygotyskiTeoria De Vygotyski
Teoria De Vygotyski
 
Vygotsky
VygotskyVygotsky
Vygotsky
 
ENSINO FUNDAMENTAL 9 ANOS
ENSINO FUNDAMENTAL 9 ANOSENSINO FUNDAMENTAL 9 ANOS
ENSINO FUNDAMENTAL 9 ANOS
 
Plano de ensino6º ano história
Plano de ensino6º ano históriaPlano de ensino6º ano história
Plano de ensino6º ano história
 
Banco de questões de sociologia
Banco de questões de sociologiaBanco de questões de sociologia
Banco de questões de sociologia
 

Similar a Educação emancipatória e pensamento crítico

Possibilidade da formação da subjetividade autônoma na perspectiva de Adorno
Possibilidade da formação da subjetividade autônoma na perspectiva de AdornoPossibilidade da formação da subjetividade autônoma na perspectiva de Adorno
Possibilidade da formação da subjetividade autônoma na perspectiva de AdornoSolange Soares
 
Educacao ambiental critica
Educacao ambiental criticaEducacao ambiental critica
Educacao ambiental criticaJair Jr Silveira
 
Seminario de-metodologia-do-ensino-i-grupo-0510
Seminario de-metodologia-do-ensino-i-grupo-0510Seminario de-metodologia-do-ensino-i-grupo-0510
Seminario de-metodologia-do-ensino-i-grupo-0510Greison Ramos
 
O estranhamento causado pela def
O estranhamento causado pela defO estranhamento causado pela def
O estranhamento causado pela defJu Dias
 
Estranhamento e deficiencia
Estranhamento e deficienciaEstranhamento e deficiencia
Estranhamento e deficienciaMarily Oliveira
 
Os Valores Morais No âMbito Da Escola Capitalista
Os Valores Morais No âMbito Da Escola CapitalistaOs Valores Morais No âMbito Da Escola Capitalista
Os Valores Morais No âMbito Da Escola CapitalistaREDEM
 
Teoria Critica da Educação
Teoria Critica da EducaçãoTeoria Critica da Educação
Teoria Critica da EducaçãoSolange Soares
 
30.resumo de livros.docx
30.resumo de livros.docx30.resumo de livros.docx
30.resumo de livros.docxAlineMelo123
 
Educação Cristã Libertadora_Apostila_Natalino das neves
Educação Cristã Libertadora_Apostila_Natalino das nevesEducação Cristã Libertadora_Apostila_Natalino das neves
Educação Cristã Libertadora_Apostila_Natalino das nevesNatalino das Neves Neves
 
Educação Cristã libertadora apostila natalino das neves
Educação Cristã libertadora apostila natalino das nevesEducação Cristã libertadora apostila natalino das neves
Educação Cristã libertadora apostila natalino das nevesNatalino das Neves Neves
 
Educação cristã libertadora natalino das neves sec colombo_pr
Educação cristã libertadora natalino das neves sec colombo_prEducação cristã libertadora natalino das neves sec colombo_pr
Educação cristã libertadora natalino das neves sec colombo_prNatalino das Neves Neves
 
Adorno, Semiformação e educação
Adorno, Semiformação e educaçãoAdorno, Semiformação e educação
Adorno, Semiformação e educaçãoVanessa Zaniol
 
Paulo freire-pedagogia-do-oprimido-doc-livrocompleto
Paulo freire-pedagogia-do-oprimido-doc-livrocompletoPaulo freire-pedagogia-do-oprimido-doc-livrocompleto
Paulo freire-pedagogia-do-oprimido-doc-livrocompletoMaria do Carmo Assis CVB
 
Escola lócus de emancipação
Escola lócus de emancipaçãoEscola lócus de emancipação
Escola lócus de emancipaçãoMariclei2011
 
Saul, ana maria paulo freire e a formacao de educadores
Saul, ana maria   paulo freire e a formacao de educadoresSaul, ana maria   paulo freire e a formacao de educadores
Saul, ana maria paulo freire e a formacao de educadoresmarcaocampos
 

Similar a Educação emancipatória e pensamento crítico (20)

Adorno
AdornoAdorno
Adorno
 
Possibilidade da formação da subjetividade autônoma na perspectiva de Adorno
Possibilidade da formação da subjetividade autônoma na perspectiva de AdornoPossibilidade da formação da subjetividade autônoma na perspectiva de Adorno
Possibilidade da formação da subjetividade autônoma na perspectiva de Adorno
 
Educacao ambiental critica
Educacao ambiental criticaEducacao ambiental critica
Educacao ambiental critica
 
Seminario de-metodologia-do-ensino-i-grupo-0510
Seminario de-metodologia-do-ensino-i-grupo-0510Seminario de-metodologia-do-ensino-i-grupo-0510
Seminario de-metodologia-do-ensino-i-grupo-0510
 
O estranhamento causado pela def
O estranhamento causado pela defO estranhamento causado pela def
O estranhamento causado pela def
 
Estranhamento e deficiencia
Estranhamento e deficienciaEstranhamento e deficiencia
Estranhamento e deficiencia
 
Os Valores Morais No âMbito Da Escola Capitalista
Os Valores Morais No âMbito Da Escola CapitalistaOs Valores Morais No âMbito Da Escola Capitalista
Os Valores Morais No âMbito Da Escola Capitalista
 
Teoria Critica da Educação
Teoria Critica da EducaçãoTeoria Critica da Educação
Teoria Critica da Educação
 
30.resumo de livros.docx
30.resumo de livros.docx30.resumo de livros.docx
30.resumo de livros.docx
 
Educação Cristã Libertadora_Apostila_Natalino das neves
Educação Cristã Libertadora_Apostila_Natalino das nevesEducação Cristã Libertadora_Apostila_Natalino das neves
Educação Cristã Libertadora_Apostila_Natalino das neves
 
Educação Cristã libertadora apostila natalino das neves
Educação Cristã libertadora apostila natalino das nevesEducação Cristã libertadora apostila natalino das neves
Educação Cristã libertadora apostila natalino das neves
 
Educação cristã libertadora natalino das neves sec colombo_pr
Educação cristã libertadora natalino das neves sec colombo_prEducação cristã libertadora natalino das neves sec colombo_pr
Educação cristã libertadora natalino das neves sec colombo_pr
 
Adorno, Semiformação e educação
Adorno, Semiformação e educaçãoAdorno, Semiformação e educação
Adorno, Semiformação e educação
 
Desafios da complexidade à comunidade aprendente
Desafios da complexidade à comunidade aprendenteDesafios da complexidade à comunidade aprendente
Desafios da complexidade à comunidade aprendente
 
Metodo FreirianoRes03 31
Metodo FreirianoRes03 31Metodo FreirianoRes03 31
Metodo FreirianoRes03 31
 
Paulo freire-pedagogia-do-oprimido-doc-livrocompleto
Paulo freire-pedagogia-do-oprimido-doc-livrocompletoPaulo freire-pedagogia-do-oprimido-doc-livrocompleto
Paulo freire-pedagogia-do-oprimido-doc-livrocompleto
 
Escola lócus de emancipação
Escola lócus de emancipaçãoEscola lócus de emancipação
Escola lócus de emancipação
 
1_carvalho.pdf
1_carvalho.pdf1_carvalho.pdf
1_carvalho.pdf
 
1 carvalho
1 carvalho1 carvalho
1 carvalho
 
Saul, ana maria paulo freire e a formacao de educadores
Saul, ana maria   paulo freire e a formacao de educadoresSaul, ana maria   paulo freire e a formacao de educadores
Saul, ana maria paulo freire e a formacao de educadores
 

Último

ATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇ
ATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇ
ATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇJaineCarolaineLima
 
apostila projeto de vida 2 ano ensino médio
apostila projeto de vida 2 ano ensino médioapostila projeto de vida 2 ano ensino médio
apostila projeto de vida 2 ano ensino médiorosenilrucks
 
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxDiscurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxferreirapriscilla84
 
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Ilda Bicacro
 
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMPRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMHELENO FAVACHO
 
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdfA QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdfAna Lemos
 
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdfplanejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdfmaurocesarpaesalmeid
 
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfPROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfMarianaMoraesMathias
 
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptx
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptxSlides sobre as Funções da Linguagem.pptx
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptxMauricioOliveira258223
 
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?AnabelaGuerreiro7
 
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de..."É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...Rosalina Simão Nunes
 
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de ProfessorINTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de ProfessorEdvanirCosta
 
Análise poema país de abril (Mauel alegre)
Análise poema país de abril (Mauel alegre)Análise poema país de abril (Mauel alegre)
Análise poema país de abril (Mauel alegre)ElliotFerreira
 
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdfFicha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdfFtimaMoreira35
 
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfProjeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfHELENO FAVACHO
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdfLeloIurk1
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...IsabelPereira2010
 
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdfLeloIurk1
 

Último (20)

ATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇ
ATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇ
ATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇ
 
apostila projeto de vida 2 ano ensino médio
apostila projeto de vida 2 ano ensino médioapostila projeto de vida 2 ano ensino médio
apostila projeto de vida 2 ano ensino médio
 
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxDiscurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
 
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
 
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMPRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
 
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdfA QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdf
 
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdfplanejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
 
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfPROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
 
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptx
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptxSlides sobre as Funções da Linguagem.pptx
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptx
 
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
 
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de..."É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
 
Bullying, sai pra lá
Bullying,  sai pra láBullying,  sai pra lá
Bullying, sai pra lá
 
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de ProfessorINTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
 
Análise poema país de abril (Mauel alegre)
Análise poema país de abril (Mauel alegre)Análise poema país de abril (Mauel alegre)
Análise poema país de abril (Mauel alegre)
 
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdfFicha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
 
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfProjeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
 
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
 

Educação emancipatória e pensamento crítico

  • 1. EDUCAÇÃO PARA O PENSAR E EDUCAÇÃO EMANCIPATÓRIA Autora: QUINTAL, Tânia Maria Massaruto de. Mestranda do Programa da Pós-Graduação em Educação da Universidade Nove de Julho. São Paulo. Brasil. Orientador: LORIERI, Marcos Antonio. RESUMO O presente trabalho desenvolve a temática da educação em duas perspectivas: a necessidade de uma educação emancipatória frente às demandas sociais e as possibilidades emancipatórias de uma educação voltada ao pensar dos alunos, por meio do trabalho de iniciação filosófica com crianças. O artigo se propõe a realizar, ainda que brevemente, uma análise descritiva das relações entre educação e sociedade, utilizando como referencial teórico os estudos da Teoria Crítica, por meio do pensamento de Theodor W. Adorno. Nesta temática, Teoria Crítica e Educação, desenvolve conceitos como educação para a emancipação, racionalidade instrumental, racionalidade emancipatória e semiformação, estabelecendo uma relação entre educação, formação cultural, modo de produção capitalista e a necessidade de uma formação crítica e reflexiva dos educandos frente a esta realidade. Justificando assim, a necessidade de uma educação para o pensar como possibilidade de uma educação emancipatória, o trabalho se propõe a investigar as contribuições da filosofia para uma educação que priorize o pensar dos seus educandos. Aborda teoricamente o Programa de Educação para o Pensar- Filosofia para Crianças- de Matthew Lipman, bem como alguns conceitos de sua concepção filosófica e educacional, além das possíveis implicações para uma educação que priorize o pensar como potencial emancipatório. Palavras-chave: Teoria Crítica; Filosofia para Crianças; Educação para o pensar; Emancipação; 1. Introdução A educação não cumpre necessariamente a tarefa emancipatória. Num mundo condicionado pela racionalidade instrumental1 e permeado pelos produtos da indústria cultural2 , a educação pode estar à mercê da reprodução desta estrutura. Neste sentido, a Teoria 1 Pucci (2003, p. 24) desenvolve os elementos constitutivos da razão instrumental: “Ela é a razão no processo técnico, na operação, no saber aplicado. Reifica-se; coisifica-se. Eliminando toda dubiedade do pensar através da unidimensionalidade, ela se torna a ferramenta das ferramentas a serviço da produção material, da exploração do trabalho, dos trabalhadores. Seu objetivo é a reprodução ampliada do capital”. 2 “... a indústria cultural é a cultura totalmente convertida em mercadoria” (Maar, 2003b, p.23)
  • 2. Crítica da Escola de Frankfurt nos oferece um alerta a respeito destes rumos que os processos formativos se constituem social e culturalmente. É a partir de acontecimentos como Auschwitz que Adorno procura traçar estas críticas e discutir possíveis saídas para constituir uma educação emancipatória. A partir da discussão destas questões e considerando o contexto social no qual a educação se dá hoje, procuramos identificar e discorrer sobre práticas educativas que viabilizem a emancipação dos sujeitos, como busca de uma educação contra a barbárie, que cumpra sua função enquanto transformação do modo de existência vigente. Preocupados com o problema da racionalidade instrumental no mundo atual e com as possibilidades da educação enquanto meio de emancipação social procuramos, no presente artigo, desenvolver a referida temática considerando a necessidade de uma educação emancipatória frente às demandas sociais e às contribuições de um programa educacional voltado para o pensar dos alunos como uma possível saída para a construção de uma Educação Emancipatória. 2. Educar após Auschwitz Quando falo de educação após Auschwitz refiro-me a duas questões: primeiro, à educação infantil, sobretudo na primeira infância; e, além disto, ao esclarecimento geral, que produz um clima intelectual, cultural e social que não permite tal repetição; portanto, um clima em que os motivos que conduziram ao horror tornem-se de algum modo conscientes. (ADORNO, 2003, p. 123) A exigência que Auschwitz não se repita é a primeira de todas para a educação, dizia Adorno em seu conhecido texto Educação após Auschwitz3 . A pouca consciência do seu significado social e histórico, enquanto barbárie, e da própria necessidade de que este acontecimento não se repita, mostra o quanto ainda hoje, Auschwitz é possível. Auschwitz como regressão, situa-se não somente como genocídio de uma raça, mas também como o exemplo da perda da experiência formativa, da racionalidade instrumentalizada que cria homens “não sujeitos”, “não pessoas”. A perda da possibilidade de realizar experiências formativas resulta de uma tendência social, da própria forma como o modo de produção capitalista se reproduz e da reificação do homem, que tornando-se coisa, torna-se incapaz de desenvolver um sentido autônomo para sua vida: “O problema está em que a perda da faculdade de fazer experiências não é uma imposição exterior à sociedade, mas 3 ADORNO, T. W. Educação e emancipação. 3ª ed. São Paulo, Paz e Terra, 2003, p. 119.
  • 3. corresponde à sua configuração nuclear: ao próprio modo de produzir e reproduzir da mesma” (MAAR, 2003a, p. 65). A ocorrência de Auschwitz pode ser entendida como uma tendência social relacionada a um estado de consciência que banaliza o mal, que apreende fatos como este como naturais, inevitáveis. Daí a possibilidade de repetição. Ontem foram os judeus, amanhã serão outros. “.... Auschwitz aqui e agora” (Maar, 2003b, p. 28). O outro diferente não é compreendido, não é aceito, porque a relação com ele é privada de alteridade. Aqui se coloca o ponto de partida de Adorno para discutir os caminhos da educação, articulando-a num sentido ético: o sentido de que Auschwitz não se repita traz consigo a necessidade de pensar uma educação após ele, a necessidade de educar contra a barbárie: “... o centro de toda educação política deveria ser que Auschwitz não se repita” (ADORNO, 2003, p.137). Desenvolver este sentido ético na educação não está relacionado a uma educação moral prescritiva e impositiva. Adorno (2003, p. 124) faz uma crítica a vínculos de compromisso pautados em normas prescritas de fora, que representam na verdade uma heteronomia, um tornar-se dependente de mandamentos exteriores que não são refletidos e assumidos autonomamente pelo sujeito. Assim o sentido ético posto à discussão educacional parece estar mais relacionado às reflexões sobre as condições sociais e psicológicas que geram a barbárie e ao papel que a educação, enquanto processo de formação, pode desempenhar. Auschwitz é o símbolo da semiformação4 , a formação que se tornou prejudicada, danificada. Ultrapassa a tragédia dos campos de extermínio e representa a perda da experiência formativa, da capacidade de fazer experiências humanizadoras: “... o verdadeiro anti-semita é definido pela completa incapacidade de fazer experiências, por ser inteiramente inacessível” (ADORNO, 2003, p.48). Maar (2003a, p. 66-67) descreve o fenômeno da semicultura5 como travamento da experiência, desenvolvendo-se apenas o momento afirmativo da cultura, ou seja, a adaptação à realidade, o recebimento passivo de conteúdos culturais já dados, e não o momento de negatividade, de resistência. Com isso, o momento da contradição, da crítica não se desenvolve e a educação cumpre seu papel enquanto semiformação, reproduzindo o sistema 4 Sobre o conceito de semiformação, retomamos Adorno (1996, p. 388): “... A formação cultural agora se converte em uma semiformação socializada, na onipresença do espírito alienado, que segundo sua gênese e seu sentido, não antecede a formação cultural, mas a sucede (...) Símbolo de uma consciência que renunciou a autodeterminação, prende-se, de maneira obstinada, a elementos culturais aprovados”. 5 Semicultura e semiformação são termos usados pelos comentadores de Adorno ganhando o mesmo sentido, ou seja, o travamento da experiência formativa autêntica.
  • 4. social-político-econômico, e com isso, os motivos que levam ao horror e que tornam Auschwitz possível. Indivíduos que aderem cegamente a coletivos, perdendo a individualidade e a dimensão autônoma de suas vidas, como em Auschwitz, representam a consolidação da semiformação, ou seja, a adequação acrítica frente à realidade. Mas também, como alerta Adorno, representam o processo de reificação, a consciência que se torna coisa, o homem que deixa de ser sujeito e se torna objeto. ... Mencionei o conceito de consciência coisificada. Esta é sobretudo uma consciência que se defende em relação a qualquer vir-a-ser, frente a qualquer apreensão do próprio condicionamento, impondo como sendo absoluto o que existe de um determinado modo. (ADORNO, 2003, p. 132) Neste trecho Adorno nos mostra a necessidade de atentar para a conversão de uma relação humana em “coisa”: pessoas que se tornam coisas, deixam de ser seres autodeterminados, conseguem tornar os outros iguais a coisas. Explica-se então o estado da consciência no qual ela se torna indiferente à dor do outro. Não há o estabelecimento de uma relação de alteridade, de diferenciação, de autonomia, porque as consciências são uniformizadas. ...O elogiado objetivo de “ser duro” de uma tal educação significa indiferença contra a dor em geral. No que, inclusive, nem se diferencia tanto a dor do outro e a dor de si próprio. Quem é severo consigo mesmo adquire o direito de ser severo também com os outros, vingando-se da dor cujas manifestações precisou ocultar e reprimir. Tanto é necessário tornar consciente esse mecanismo quanto se impõe a promoção de uma educação que não premia a dor e a capacidade de suportá-la, como acontecia antigamente. (ADORNO, 2003, p. 128-129) Contudo, como bem descreve Adorno, este estado de consciência resulta de uma formação, de um modo determinado de formação, não de uma natureza inata, pois o homem é social e historicamente determinado. Assim, fica claro o papel que educação pode cumprir enquanto forma de combater a semiformação, resgatando a cultura em seu aspecto de resistência. É aqui que está à necessidade de se pensar uma “Educação após Auschwitz”. Para Adorno (2003, p. 125) “... O único poder efetivo contra o princípio de Auschwitz seria autonomia, para usar a expressão kantiana; o poder para a reflexão, a autodeterminação, a não-participação”. Esta seria uma saída para a educação: a produção de uma consciência
  • 5. verdadeira. Cabe então resgatar a educação enquanto racionalidade, mas não a racionalidade instrumental, criticada pelos teóricos críticos, e sim a racionalidade esclarecida. 3. Racionalidade Emancipatória Kant, ao responder a pergunta “O que é esclarecimento?”, defende a necessidade do homem fazer uso público de sua razão, num processo de “emancipação intelectual”, por meio da superação da ignorância e do desenvolvimento de um pensar por conta própria, ou seja, criticando o pensamento que se faz pela inculcação: Esclarecimento [Aufklärung] é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento [Aufklärung]. (KANT, 2005, p. 63-64) Fazer uso público da razão é o que o homem faz enquanto sábio, falando em seu próprio nome, discordando, expondo seus pensamentos publicamente, em todos os espaços sociais, de forma autônoma. Para Kant, o uso público da razão é decorrente do esclarecimento e da racionalidade que libertam o homem de tudo que o prendia e o fazia ser menor, se este ser menor não estivesse no homem mesmo, que por falta de coragem, torna-se incapaz de fazer uso deste esclarecimento em prol de sua emancipação. Kant vê no homem a responsabilidade de sua libertação na medida em que este tem coragem de fazer uso da própria razão. A razão representa para o filósofo uma possibilidade de emancipação humana. A afirmação da dimensão instrumental da razão representa a negação da razão emancipatória. É neste momento que residem às preocupações da Teoria Crítica: o resgate da razão enquanto esclarecimento e emancipação: ... Embora privilegiem, inclusive a partir de um momento histórico próprio, a crítica da razão instrumental, o momento da negação, contudo, como pano de fundo, e em diversos momentos de seus escritos fazem aparecer a negação da negação, ou seja, a reafirmação da Razão Emancipatória de Kant (PUCCI, 2003, p.29)
  • 6. A Teoria Crítica denuncia o irracionalismo da sociedade capitalista, por meio da crítica que faz à razão instrumental e à indústria cultural que a viabiliza, mas anuncia as possibilidades da razão. Temos então dois momentos: o primeiro, da afirmação da razão alienada, instrumentalizada e o segundo, o resgate da razão crítica, tentando resistir à dominação e à repressão da barbárie do sistema. O esclarecimento racional seria meio de tornar consciente e combater a razão instrumental. A razão com seu caráter emancipatório é a saída. Trata-se de resgatar a potencialidade crítica do esclarecimento. 4. Educação e Emancipação Para situar a educação na perspectiva emancipatória por meio do legado da Teoria Crítica, buscamos identificar o que Adorno, um de seus representantes, entende por educação6 . Façamos nossas as suas palavras: A seguir, e assumindo o risco, gostaria de apresentar a minha concepção inicial de educação. Evidentemente não a assim chamada modelagem de pessoas, porque não temos o direito de modelar pessoas a partir do seu exterior; mas também não a mera transmissão de conhecimentos (...) mas a produção de uma consciência verdadeira. Isto seria inclusive da maior importância política. Isto é: uma democracia com o dever de não apenas funcionar, mas operar conforme seu conceito demanda pessoas emancipadas. Uma democracia efetiva só pode ser imaginada enquanto uma sociedade de quem é emancipado (ADORNO, 2003, p.141-142, grifo do autor) Emancipação significa o mesmo que conscientização, racionalidade (ADORNO, 2003, p.143). Daí as relações entre razão, consciência crítica e formação cultural. Mais uma vez a educação assume no pensamento de Adorno, um papel político: além de combater os princípios que possibilitaram Auschwitz, a educação só tem sentido enquanto produção de uma consciência verdadeira, em relação a um projeto de sociedade democrática. Retomando as palavras de Adorno (2003, p. 121): “... A educação tem sentido unicamente como educação dirigida a uma auto-reflexão crítica”. 6 É importante ressaltar que os processos educacionais, para a Teoria Crítica, estão relacionados à formação e à cultura, não se limitando às instituições de ensino, mas englobam a forma como os produtos simbólicos são disseminados, mercantilizados e com isso, determinam estes processos.
  • 7. Educação/formação cultural pela auto-reflexão crítica significa para Adorno a busca da autonomia, da autodeterminação kantiana, do homem enquanto sábio fazendo uso público de sua razão, superando os limites da liberdade trazidos pela barbárie, pela semicultura. O homem enquanto sábio se torna cidadão do mundo, supera a dimensão do privado, do doméstico, do paroquial, das normas e imposições mil. E isso é plenamente educativo, formativo. Existe, pois, um potencial pedagógico inestimável no esclarecimento. A educação é antes de tudo esclarecimento. (PUCCI, 2003, p. 47). A auto-reflexão crítica é elemento fundamental para uma educação emancipatória, no sentido de esclarecimento frente aos mecanismos de manipulação ideológica, de deturpação em relação às situações de opressão dadas pelo modo de produção dominante. Segundo Adorno uma educação emancipatória necessita alcançar o objetivo de “desbarbarizar”. A principal tarefa da educação é, então, a “desbarbarização” por meio do esclarecimento crítico e da educação enquanto processo de emancipação. A barbárie é o contrário da formação cultural, é a continuidade do potencial autoritário: ... a barbárie des-educa, de-forma e está profundamente presente nas relações sociais dominantes. É preciso re-educar. E o básico no atual processo de re-educação chama-se “desbarbarização”: restabelecer as condições de autonomia, de consciência e de liberdade do indivíduo, do sujeito, do ambiente social. E a escola tem um papel fundamental nesse processo (PUCCI, 2003, p. 50, grifo do autor). A desbarbarização é elemento para resgatar a experiência formativa, por meio da reconstrução da individualidade dos sujeitos na experiência com os outros (alteridade) sendo fonte impulsionadora de resistência. A educação para Adorno seria impotente e até mesmo ideológica se desconsiderasse o objetivo de adaptação e não proporcionasse ao homem meios para se orientar no mundo, mas ao mesmo tempo, se esta educação se reduz a formar homens ajustados socialmente, adaptados e conformados, ela não cumpre sua tarefa de resistência. Frente ao duplo papel da escola, adaptação e resistência, a educação por meio dela deveria enfatizar muito mais a resistência, pois a adaptação é imposta pelo próprio contexto social, cultural, econômico: “... A educação por meio da família, na medida em que é consciente, por meio da escola, da universidade teria neste momento de conformismo onipresente muito mais a tarefa de fortalecer a resistência do que fortalecer a adaptação.” (ADORNO, 2003, p. 144).
  • 8. É importante buscar transpor a possibilidade de emancipação em situações formativas concretas. Contudo, cabe uma ressalva: que a educação emancipatória não se torne um chavão, um mero discurso retórico. Por isso é necessário cuidado. A importância das contribuições da Teoria Crítica para pensarmos em propostas educacionais anuncia a necessidade de refletirmos sobre ao papel que a escola, enquanto instituição de formação proporciona ao pensamento, resgatando a função social da educação. Isso porque em todo o momento a discussão entre razão, razão crítica, pensamento crítico, formação cultural, permeia as considerações da Teoria Crítica. Como possibilitar em nossas propostas educacionais o pensamento crítico? Como viabilizar em práticas formativas concretas uma educação enquanto projeto de experiência formativa no sentido de resistência? Como viabilizar a experiência da auto-reflexão? A escola deve, portanto, ter compromisso com a constituição das estruturas mentais, com a formação de sujeitos capazes de operar formalmente para que se criem as condições necessárias à tomada de consciência e, de forma articulada com a prática, se dê a ruptura com o caráter ideológico, mistificador de uma racionalidade que desumaniza (PRESTES, 2003, p. 98) Torna-se importante pensarmos em como a educação pode veicular através de suas práticas, uma formação para a emancipação. Como a escola pode contribuir para um pensamento mais crítico, consciente e coerente? É preciso antes de tudo que a educação forme os sujeitos para o pensar. 5. Educação para o Pensar A discussão sobre uma “Educação após Auschwitz” indica a necessidade que temos hoje de educar para o pensar. Auschwitz como conseqüência da perda da experiência formativa materializa a importância de refletirmos sobre uma educação após ele e esta só é possível, se possibilitar o pensar, enquanto esclarecimento e criticidade. É fato, então, a necessidade que temos hoje de educar para o pensar bem, ou seja, não qualquer forma de pensar, mas uma forma rigorosa, profunda, radical, sistemática. Adorno já nos alertava que não basta uma racionalidade, mas sim uma racionalidade crítica. Daí a indicação de uma educação voltada para o pensar bem. Isso se deve principalmente se considerarmos a necessidade de formar cidadãos autônomos e críticos, e também se considerarmos a função social da escola, como espaço de democratização do conhecimento e de intervenção na estrutura social a fim de modificá-la.
  • 9. A escola hoje, frente ao mundo permeado pela racionalidade instrumental, deve preocupar-se mais em formar sujeitos que façam perguntas, que saibam problematizar, do que sujeitos que tenham respostas prontas e automatizadas. Talvez, o problema maior da escola, ao longo de sua história, esteja no enfoque em “dar respostas”, ao invés de fortalecer o pensar dos alunos para construí-las por si mesmos a partir de perguntas e que lhes sejam significativas. ... O que deve ser evitado, na visão educacional que defendemos, é que as novas gerações sejam levadas, simplesmente, a adotar as respostas já prontas. Elas não apenas têm o direito de proceder a um exame rigoroso e crítico a respeito dessas respostas, o que envolve conhecê-las, mas também o direito de ajuizar e opinar sobre elas e sobre alternativas para tais respostas. Todos os seres humanos têm direito de decidir nos rumos das suas vidas. Também crianças e jovens têm esse direito, como lhes cabe o direito de aprender a dominar o uso das ferramentas intelectuais que lhes possibilitem as decisões. Têm direito de ser educados para a autonomia. (LORIERI, 2002, p. 43, grifo do autor) Educação para o pensar é a expressão que aponta esforços educativos intencionais para proporcionar aos educandos, a construção de um pensar bem, ou seja, a produzirem pensamentos (entendimentos, explicações, significados, conhecimentos) críticos, rigorosos, reflexivos, contextualizados, abrangentes, capazes de se submeter a constante crítica e principalmente, autônomos no sentido apontado por Lipman:. ... no sentido em que os pensadores autônomos são aqueles que „pensam por si mesmos‟, que não repetem simplesmente o que outras pessoas dizem ou pensam, mas que fazem seus próprios julgamentos a partir das provas, que formam sua própria visão de mundo e desenvolvem suas próprias concepções acerca do tipo de indivíduo que querem ser e o tipo de mundo que gostariam que fosse. (LIPMAN, 2001, p. 36) Matthew Lipman idealizou e construiu um programa de educação voltado ao pensar, levando a prática da investigação filosófica à educação das crianças e jovens7 . Antes de tudo, diria Lipman, é preciso que a escola fortaleça nas crianças a capacidade de pensar, na verdade, esta deveria ser sua principal tarefa (LIPMAN, 2001, p.11). O objetivo principal de Lipman, por meio da educação filosófica, é desenvolver nas crianças e jovens a capacidade de pensar bem, formular e construir conceitos, realizar julgamentos razoáveis e que estes sejam úteis e significativos às suas vidas. 7 Programa Filosofia para crianças - Educação para o pensar
  • 10. A expressão Educação para o Pensar remonta a essa preocupação, ou seja, a de consolidar por meio do processo educacional, formas de pensar que não sejam superficiais, acríticas, descuidadas, incoerentes e sim que sejam complexas, sistemáticas, criativas, críticas, coerentes e consistentes, o que Lipman denomina como um pensamento de ordem superior. Ele indica as propriedades dessa maneira de pensar como sendo, acima de tudo, conceitualmente rica, coerentemente organizada e persistentemente investigativa (LIPMAN, 2001, p. 37). Riqueza de conceitos, coerência, organização e curiosidade são características fundamentais deste pensar. O pensamento de ordem superior representa para Lipman a excelência do desempenho cognitivo e esta conta tanto com a racionalidade, quanto com a criticidade e com a criatividade. Ele o denomina também de pensar complexo que ... é, portanto, o pensamento que está ciente da suas próprias suposições e implicações, assim como está consciente das razões e provas que sustentam esta ou aquela conclusão. O pensamento complexo leva em consideração a sua própria metodologia, seus próprios procedimentos, sua própria perspectiva e pontos de vista. O pensamento complexo está preparado para reconhecer os fatores que são responsáveis pelas tendências, preconceitos e auto-ilusões. Ele inclui pensar sobre procedimentos ao mesmo tempo em que pensa sobre seu tema principal. (LIPMAN, 2001, p. 42, grifo do autor) Lipman (2001) define o pensamento de ordem superior como a composição do pensar crítico (orientado por critérios e razões) com o pensar criativo (orientado pelo contexto). Não há pensamento crítico sem julgamento criativo, assim como não há pensamento criativo, sem julgamento crítico (LIPMAN, 2001, p.39). Podemos acrescentar que o pensamento de ordem superior não equivale somente ao pensamento crítico, mas à fusão dos pensamentos crítico e criativo. Isto é particularmente evidente quando os aspectos críticos e criativos sustentam e reforçam um ao outro, como no caso onde o pensador crítico inventa novas premissas ou novos critérios, ou quando o pensador criativo dá uma nova orientação a um costume ou tradição artística. E o pensamento de ordem superior inclui o pensamento flexível, rico em recursos. Rico em recursos no sentido de que ele tem idéia de onde procurar os recursos de que necessita, e flexível no sentido de que é capaz de movimentar-se livremente dispondo destes recursos a fim de que sejam totalmente eficazes (LIPMAN, 2001, p. 38-39) A concepção de Educação para o Pensar de Lipman supõe que pensamento crítico pode ser incentivado por meio da atividade criativa e inversamente, que a criatividade pode
  • 11. ser alimentada pelo desenvolvimento da criticidade. Cabe à educação desenvolver e aprimorar os aspectos de criticidade, criatividade, coerência, lógica e curiosidade nos alunos. “Fazer com que os alunos filosofem é um exemplo de como o pensamento de ordem superior pode ser estimulado em uma sala de aula, fazendo uso da comunidade de investigação” (LIPMAN, 2001, p. 38). Para Lipman, o trabalho com filosofia desde a educação das crianças é um meio de desenvolver habilidades cognitivas e alcançar o pensamento de ordem superior. O pensamento de ordem superior é viabilizado através do diálogo que se instaura nas comunidades de investigação filosófica: “A comunidade de investigação, especialmente quando utiliza o diálogo, é o contexto social mais apropriado para a geração do pensamento de ordem superior” (LIPMAN, 2001, p. 40). As comunidades de investigação se realizam como uma proposta na qual os alunos: problematizam questões; levantam hipóteses, argumentos, idéias; constroem e desconstroem conceitos; formulam juízos; discutem critérios de verdade. A importância desta prática não está no acerto do raciocínio ou na criação do conhecimento convencional, mas sim no próprio fazer, no processo de investigação que o grupo de alunos se propõe a realizar. A comunidade de investigação só se define como tal porque conta com a colaboração de todos, combinando o diálogo, o pensamento crítico e autocorretivo, a responsabilidade e o respeito pelo grupo. A racionalidade é para Lipman um meio para um pensar melhor e também para desenvolver atitudes razoáveis: “Ser razoável não significa fazer uso da racionalidade pura; é a racionalidade temperada pelo julgamento” (LIPMAN, 2001, p. 21). Formar cidadãos razoáveis é uma necessidade para uma sociedade democrática. Lipman indica uma prática educativa em que os alunos possam questionar situações, temas e conceitos que se apresentam como problemáticos, a fim de estimulá-los e realizarem julgamentos, baseados nos critérios da racionalidade e da deliberação. Estes julgamentos, são orientadores da ação, estão relacionados a critérios que possam guiar e enriquecer a vida destes alunos. ... Objetivo do processo educativo é o de ajudar-nos a formar melhores julgamentos a fim de que possamos modificar nossas vidas de maneira mais criteriosa. Julgamentos não são fins em si mesmos. Nós não experienciamos obras de arte a fim de julgá-las; julgamos estas a fim de sermos capazes de ter experiências estéticas enriquecedoras. Fazer julgamentos morais não é um fim em si mesmo; é um meio de melhorara a qualidade de vida. (LIPMAN , 2001, p.37)
  • 12. Podemos dizer que Educação para o Pensar para Lipman fundamenta-se na necessidade do uso da racionalidade, na capacidade de pensar bem, comunicar o pensamento, fazer julgamentos relevantes, identificar e discernir valores: “... A educação pode ser vista como um grande laboratório da racionalidade, mas é mais realista vê-la como um contexto no qual pessoas jovens aprendam a usar a razão para que possam crescer e se tornarem cidadãos, companheiros e pais capazes de raciocinar” (LIPMAN, 2001, p.33). 6. Educação para o Pensar e Educação Emancipatória: considerações finais “... Após Auschwitz é preciso elaborar o passado e criticar o presente prejudicado, evitando que este perdure e, assim, que aquele se repita” (MAAR, 2003b, p.11). É preciso retomar o passado, traçar o presente e projetar o futuro. É preciso superar a perda da capacidade humana de realizar experiências formativas e a condição de objeto a que o homem se reduziu num mundo instrumentalizado pelo capital: para isso é necessário discutir a educação nesta ótica política que abarca a necessidade da emancipação e do resgate do homem enquanto sujeito capaz de produzir um mundo humanizado por ele. Expor sobre Auschwitz e uma educação após ele, através do pensamento de Adorno, significou neste artigo, advertir sobre os caminhos que a educação tem percorrido em nossa sociedade, pautada pelas regras e ditames da razão, que no seu ápice, se tornou irracional, a ponto de levar “... quem projeta um sistema ferroviário para conduzir as vítimas a Auschwitz com maior rapidez e fluência, a esquecer o que acontece com estas vítimas em Auschwitz” (ADORNO, 2003, p.133). O conhecimento e a razão, vistos neste contexto, não são necessariamente meios de emancipação. É preciso compreender como a racionalidade e o conhecimento, reproduzidos pelos processos educativos, podem ser formativos, no sentido de adquirirem configurações não “coisificadas” e “não coisificantes”, deixando estes de estarem a serviço da reprodução desenfreada da injustiça social e da barbárie. É preciso combater a apropriação irrefletida de conhecimentos técnicos desvinculados de finalidades humanizadoras. Este foi o sentido que buscamos neste artigo ao expor sobre as idéias de Adorno a respeito de uma Educação após Auschwitz e sobre a necessidade de sua superação por meio de uma educação emancipatória, esclarecida, formativa, voltada ao pensar bem. E é no pensamento crítico e no esclarecimento das formas irracionais através das quais a racionalidade se configurou enquanto instrumento, que podemos encontrar possíveis saídas
  • 13. emancipatórias. A racionalidade esclarecida é a arma de luta contra a racionalidade instrumentalizada. A crítica se dirige à racionalidade, mas ela mesma é a possibilidade de mudança. Por isso falar de emancipação na proposta aqui descrita implica necessariamente em resgatar a razão e o pensar na educação: “... Ele não criticava a racionalidade, mas seu déficit nos termos da experiência formativa dialética, que nada mais seria para Adorno do que a própria razão. Trata-se de advertir a razão contra si mesma em nome de si mesma” (MAAR, 2003b, p. 20) A necessidade de construção de uma educação emancipatória canaliza fundamentalmente ao resgate do potencial racional do homem, de sua autonomia, de seu pensamento crítico e por isso à importância de se refletir sobre as possíveis relações entre Educação para o Pensar e Educação Emancipatória. Educação Emancipatória para Adorno comporta necessariamente o pensamento crítico, a auto-reflexão crítica. Ela é o esclarecimento intelectual, social, cultural que pode impedir a barbárie e tornar conscientes os mecanismos de sujeição e reificação. É uma educação que impede a formação de consciências homogêneas e coisificadas. O esclarecimento racional é meio de fortalecer a resistência. Emancipação é para o autor o mesmo que conscientização, racionalidade crítica. Educação para o pensar em Lipman tem a intenção de desenvolver nos sujeitos o pensamento de ordem superior sendo este a simbiose do pensamento crítico e criativo. Pensamento crítico para Lipman remonta à idéia de pensar com critérios, realizando julgamentos razoáveis que orientem ações razoáveis. Há aqui uma grande ênfase na racionalidade, na razão, como meio de fortalecer julgamentos e ações razoáveis. Para Adorno a racionalidade é saída para uma educação emancipatória, na medida em que esta racionalidade proporciona aos sujeitos a possibilidade de realizar experiências, experiências formativas. Sobre o conceito de racionalidade ou de consciência ele diz: Em geral este conceito é aprendido de um modo excessivamente estreito, como capacidade formal de pensar (...) Mas aquilo que caracteriza propriamente a consciência é o pensar em relação à realidade, ao conteúdo- a relação entre as formas e estruturas de pensamento do sujeito e aquilo que este não é. Este sentido mais profundo de consciência ou faculdade de pensar não é apenas o desenvolvimento lógico formal, mas ele corresponde literalmente à capacidade de fazer experiências. Eu diria que pensar é o mesmo que fazer experiências intelectuais. Nesta medida e nos termos que procuramos expor, a educação para a experiência é idêntica à educação para a emancipação (ADORNO, 2003, p.151)
  • 14. A Educação Emancipatória deve combater a experiência fragmentada, o pensamento unidimensional e domesticador, que leva o indivíduo a aderir a um coletivo cegamente, como aqueles que aceitaram o anti-semitismo e seu horror. Deve possibilitar ao homem resgatar-se enquanto pessoa-sujeito, ser de construção, relação, determinado, mas também determinante. A emancipação só é possível pelo esclarecimento e pelo pensamento crítico. Não há emancipação quando há doação, quando se dita para o outro e não o deixa dizer. E é neste sentido que encontramos na proposta de Lipman alternativas que nos parecem materializações de uma educação em que o aluno, engajado num processo de investigação em uma comunidade solidária, aprende a pensar dialógica, filosófica e criticamente, ganhando voz, e com isso autonomia, ao mesmo tempo em que respeita o outro, o diferente, lidando positivamente desde bem pequeno com situações de alteridade. Há diferenças nas concepções de Adorno e Lipman quanto à relação entre racionalidade e educação, assim como diferenças no papel que cada um atribui à educação no conjunto social e na própria forma de concebê-lo. Diferenças estas naturais se considerarmos as bases epistemológicas e políticas de cada um. Lipman não fala de uma educação emancipatória nestes termos, propõe mudanças nas práticas formativas visando formar sujeitos pensantes e críticos para viverem plenamente uma democracia social. Adorno não tem uma proposta educacional específica, como o programa de Lipman, mas faz um estudo e crítica sobre os processos formativos na sociedade capitalista de sua época, visando encontrar saídas para superar as condições materiais objetivas desiguais. Adorno propõe a superação da sociedade capitalista. Lipman não propõe este caminho. Neste artigo não objetivamos esmiuçar tais questões, apenas aproximar as relações que possam existir no que se refere às idéias de emancipação e educação para o pensar, procurando ressaltar as contribuições que uma educação que prioriza este fim pode oferecer na formação de sujeitos pensantes, livres, autônomos e sendo assim, emancipados. Referências Bibliográficas ADORNO, T. W. Educação e emancipação. Trad. Wolfgang Leo Maar. 3ªed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003. _____. Teoria da Semicultura. Tradução de Newton Ramos-de-Oliveira, Bruno Pucci e Cláudia B. M. de Abreu. Publicado na Revista "Educação e Sociedade". Campinas: n. 56, ano XVII, dezembro de 1996, pág. 388-411
  • 15. _________.; HORKHEIMER, M. Dialética do Esclarecimento. Trad. Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2006. CASTRO, E. A.; RAMOS-DE-OLIVEIRA, P. (org). Educando para o pensar. São Paulo: Pioneira Thomson Learnig, 2002. KANT, I. Resposta à pergunta: Que é “Esclarecimento”? (Aufklärung). In: Immanuel Kant: textos seletos. Tradução Raimundo Vier e Floriano de Sousa Fernandes. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2005. KOHAN. W. O. Filosofia para crianças. Rio de Janeiro, DP&A, 2000. LIPMAN, M. O pensar na educação. Tradução Ann Mary Fighiera Perpétuo. 3. ed. Petrópolis, RJ, Vozes, 2001. ________; OSCANYAN, F. S.; SHARP, A. M. Filosofia na sala de aula. Tradução Ana Luiza Fernandes Falcone. São Paulo, Nova Alexandria, 2001. LORIERI. M. A. Filosofia: fundamentos e métodos. São Paulo; Cortez, 2002. MAAR, W. L.“Educação crítica, formação cultural e emancipação política na Escola de Frankfurt”. In PUCCI, Bruno (org). Teoria Crítica e Educação: a questão da formação cultural na Escola de Frankfurt. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003a. ________. “Á guisa de introdução: Adorno e a experiência formativa”. In: ADORNO, T. W. Educação e emancipação. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003b. PRESTES, N. H. “A razão, a Teoria Crítica e a Educação”. In PUCCI, Bruno (org). Teoria Crítica e Educação: a questão da formação cultural na Escola de Frankfurt. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003. PUCCI, B. “Teoria Crítica e Educação”. In PUCCI, Bruno (org). Teoria Crítica e Educação: a questão da formação cultural na Escola de Frankfurt. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003. RAMOS-DE-OLIVEIRA, P. Filosofia para a formação da criança. São Paulo; Pioneira Thomson Learning, 2004. ZUIN, A. A.; PUCCI, B.; RAMOS- DE- OLVEIRA, N. Adorno-o poder educativo do pensamento crítico. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.