1. A Acidez do Solo - Ativa e Potencial
Um dos fatores limitantes ao desenvolvimento das culturas é a acidez do solo. Os
solos brasileiros são, em geral, solos ácidos e com baixa disponibilidade de
nutrientes necessários ao maior rendimento das lavouras. Portanto, uma prática,
que ser torna necessária, é a correção desta acidez criando condições melhores
tanto na fertilidade do solo como nas plantas. O alumínio (Al) e o manganês (Mn)
são tóxicos devido a maior solubilidade nos solos ácidos. A acidez diminui a
população de microorganismos que são responsáveis pela decomposição da
matéria orgânica.
Nas leguminosas, a fixação simbiótica é reduzida em solos com pH menor que 6,5.
Além disto, nos solos ácidos, a capacidade de troca de cátions (CTC) é baixa; o
cálcio (Ca) e o magnésio (Mg) são limitantes, bem como, a disponibilidade de
fósforo (P) e molibdênio (Mo). A acidez é medida pelo H+dissociado na solução do
solo, expressa em pH. Quanto mais baixo for o pH do solo, maior a quantidade de
H+.
A acidificação do solo ocorre de várias maneiras:
1) dissociação do gás carbônico que está presente no solo;
O H+ vai para a fase sólida do solo e libera um cátion trocável que é lixiviado com
o HCO3-;
2) reação dos fertilizantes quando aplicados no solo, como o caso dos
amoniacais NH4) e da uréia CO(NH2)2 que liberam H+ ;
Aqui o NH4 vai reagir com o solo liberando H+ que, por sua vez, libera um cátion
trocável para a solução do solo; este cátion liberado será lixiviado aumentando a
acidificação do solo;
3) hidrólise do Al³+ que libera H+;
A reação é a seguinte:
4) decomposição da matéria orgânica;
Na sua decomposição, a matéria orgânica, sob ação de bactérias, libera amônia
(NH3) que se converte em nitrato liberando H+, aumentando a acidez;
5) água das chuvas;
Pela ação das chuvas, a água lixivia o Ca e o Mg. Com isto, há uma substituição
por Al, Mn e H na solução do solo;
2. 6) erosão do solo;
Os solos que sofrem erosão podem se tornar mais ácidos;
7) secreções ácidas das raízes das plantas.
As secreções ácidas das raízes libera H+ que substitui o cátion adsorvido ao
coloide do solo; o cátion (na figura abaixo representado pelo Ca²+) pode ser
absorvido pelas raízes ou lixiviado.
A acidez do solo se divide em ATIVA e POTENCIAL.
Acidez ativa: são os íons H+ da solução do solo em concentrações baixas quando
comparados com os íons H+ adsorvidos. É expressa pelo valor do pH do solo. O
pH é determinado em água: usa-se uma relação solo:água de 1:2,5. Mede-se o
pH através da imersão de um elétrodo de vidro ligando a um potenciômetro.
Podem ser usadas, também, soluções salinas, como o KCl e CaCl2.
A acidez potencial divide-se em acidez trocável e não trocável.
A acidez trocável refere-se aos íons Al³+ e H+ retidos na superfície dos coloides
do solo. Esta quantidade de H+ trocável é pequena. Como o H+representa menos
de 5% da acidez trocável, é admitido apenas o Al³+trocável.
A acidez não trocável é o íon H+ de ligação covalente associado aos coloides em
carga negativa e aos compostos de alumínio. É a acidez que os solos apresentam
quando em pH menor que 5,5. Acima de pH 5,5 não existe mais Al³+ trocável.
A acidez potencial é a soma da acidez trocável e da acidez não trocável. É ela
que limita o crescimento das raízes e ocupa espaços nos coloides possibilitando
que os nutrientes livres na solução do solo sejam lixiviados.
As cargas elétricas dos coloides podem ser negativas ou positivas.
As cargas negativas dos coloides do solo são classificadas em cargas
permanentes e cargas dependentes do pH.
As permanentes são cargas que não aumentam ou diminuem com o pH. São
oriundas de substituições isomórficas que se verificam no interior da rede cristalina
dos argilominerais: as 2:1, expansivas e não expansivas.
As cargas dependentes de pH variam com o pH do solo, aumentando e
diminuindo à medida que o pH aumenta ou diminui. Ocorre nos solos com
argila 1:1 e com óxidos de ferro e de alumínio, no complexo coloidal.
As cargas positivas dos coloides do solo ocorrem em quantidades menores
que as negativas. São responsáveis pela adsorção de ânions. São sempre
dependentes do pH, aumentando à medida que ele diminui.
Adsorção e troca de íons.
O processo de adsorção e troca de íons é o resultado da interação entre as fases
líquida e sólida dos coloides do solo. É um processo reversível em que os íons da
solução do solo são adsorvidos pelos coloides; e, neste processo, deslocam outros
íons adsorvidos e de carga elétrica igual. Pela adsorção, os nutrientes
permanecem no solo em forma disponível para as plantas; esta retenção é
extremamente forte, o que impede que sejam lixiviados. As cargas elétricas dos
coloides do solo são responsáveis pela adsorção de íons. Os íons na solução do
solo estão em equilíbrio com os íons adsorvidos aos coloides: isto é, a fase
líquida está em equilíbrio com a fase sólida. Quando há uma retirada de íons da
3. solução do solo, há uma retirada de íons adsorvidos aos coloides com a finalidade
de manter o equilíbrio entre as duas fases.
A Capacidade de Troca de Cátions - CTC - é a medida do poder de adsorção e
troca de cátions do solo: é a quantidade de cátions que um solo é capaz de reter
por unidade de peso, e é expressa em cmolc/dm³ ou mmolc/dm³. A CTC varia com
o pH do solo por causa da existência de um número grande de cargas negativas
dependentes de pH, na superfície dos coloides. A CTC efetiva é determinada em
função do pH do solo. A CTC potencial é determinada com uma solução
tampão a pH 7,0. Nos solos ácidos, a CTC efetiva é inferior à CTC potencial. As
CTC's são estimadas pela soma de bases trocáveis, ou seja, os íons adsorvidos,
como Ca²+, Mg²+, K+, Na+, H + Al³.
Por que somente estes cátions são levados em consideração quando o solo
tem mais outros cátions trocáveis? Porque os outros cátions existentes no solo
estão em teores muito pequenos, e, por isto, não são considerados. A CTC varia
de solo para solo dependendo do tipo e quantidade de argila, e da matéria
orgânica. Para diminuir a acidez do solo não basta, somente, eliminar os íons
H+ da solução do solo; é necessário adicionar uma quantidade de corretivo
suficiente para corrigir uma porção significativa da acidez potencial e elevar o pH a
um nível desejado.
Aqui o íon de Ca²+ do calcário substituiu dois íons de H+; a concentração de íons
hidrogênio diminui, e o pH aumenta.
A acidez ativa é apenas uma estimativa da acidez do solo. É preciso conhecer,
também, a acidez potencial para uma melhor recomendação de calagem. Faixas
de pH entre 4,5-5,8 não constituem problemas para as plantas: o problema é o Al³
trocável, que em pH inferior a 5,5 começa a aparecer a toxidez de alumínio para as
plantas. Um solo pode precisar de 2,5 t/ha de calcário enquanto outro solo
necessita de 4 t/ha, ambos apresentando o mesmo pH. Para determinar a
necessidade de calagem é necessário conhecer a acidez total do solo; isto é, não
somente a concentração de H+ na solução do solo (que é a acidez ativa expressa
em pH), mas a quantidade de íons H+ que estão ligados às cargas negativas do
solo: estes íons servem como acidez de reserva. O corretivo neutraliza o H+da
solução do solo; para manter o equilíbrio, um íon de H+ , que estava ligado aos
coloides (acidez potencial ou de reserva) é deslocado para a solução do solo
repondo o íon H+ neutralizado, e, com isto, mantendo o valor do pH. Para
aumentar o pH do solo é preciso esgotar parte dos íons H+ da solução do solo, e
aumentar a concentração de íons OH-. Esta resistência na variação do valor do pH
é chamada "Poder Tampão do Solo". O poder tampão será tanto maior quanto
mais elevado o teor de matéria orgânica, de argilominerais, e de óxidos de ferro e
alumínio, que são fontes de Al³ + e H+para a solução do solo. Os solos arenosos,
pela pobreza em matéria orgânica, possuem baixo poder tampão.