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1
QUESTÃO SOCIAL E A PERDA DO PODER FAMILIAR
Bruna SOARES¹ - RGM
Josuel Rodrigues de LIMA¹ - RGM
Maria Isabel de Araujo SANTOS¹ - RGM 072570
Rosana Ap. de OLIVEIRA1
- RGM
Profª. Ms.Marisa Antônia de SOUSA2
RESUMO
O presente artigo tem por objetivo propor uma reflexão a respeito da questão social e a perda do poder
familiar e como os fatores sociais, econômicos, culturais e emocionais se relacionam no contexto sócio
familiar, diante das modificações nos padrões familiares estabelecidos como estruturais pelo sistema
capitalista, oriundas das inovações tecnológicas e as mudanças no âmbito cultural.
Palavras-chave: Questão social, família, perda do poder familiar.
INTRODUÇÃO
O texto nos leva a refletir sobre as mudanças ocorridas no pós-guerra e o
impacto causado no contexto sócio familiar, diante de um processo de industrialização,
onde milhares de famílias deixaram o campo em busca de melhores condições de
trabalho nas cidades, o que ocasionou aglomeração sem planejamento e aumento
significativo nas expressões da questão social.
Neste contexto, famílias inteiras não conseguem mais oferecer a seus membros a
proteção e o amparo de que necessitam, não por incapacidade ou negligência, mas pela
desresponsabilização do Estado que atende majoritariamente aos interesses do capital.
Levando a famílias a adotar mecanismos de sobrevivência, uma delas é o abandono ou a
entrega de um filho que consequentemente ocasionará a perda do poder familiar.
1
Alunos do Sexto Semestre do Curso de Serviço Social da Faculdade de Gestão e Negócios do Centro
Universitário Nossa Senhora do Patrocínio. E-mail: s.social2009@yahoo.com.br
2
Orientadora da Disciplina Núcleos de Estudos Temáticos II
2
A QUESTÃO SOCIAL E A PERDA DO PODER FAMILIAR
O término da Segunda Guerra Mundial (1945) representou significativas
transformações econômicas, sociais e políticas ao cenário mundial e principalmente nos
países periféricos do Terceiro Mundo que segundo Carvalho (in Guerra3
, 1998) é onde:
(...) a pobreza assume características dramáticas. Não só pela sua presença
massiva, mas também pelos limites a sua erradicação colocados pela
transnacionalização da economia capitalista que acaba por circunscrever
esses países à periferia da produção, mercado e consumo (p. 24).
Todas essas mudanças passam a refletir no Brasil, até então de base agrícola
começa a dar espaço a uma sociedade urbano-industrial. Esse processo trouxe alterações
ao mundo do trabalho e nas relações sociais, com o êxodo rural, o aumento da
exploração de mão-de-obra e a elevada desigualdade da distribuição de renda,
ocasionou um aumento no número de famílias pobre na cidade e também no campo.
Os padrões estabelecidos à família pelo sistema capitalista ao longo da historia
vem sofrendo modificações relevantes, oriundas da inovação tecnológica e mudanças no
âmbito cultural, como por exemplo, a inserção da mulher no mercado de trabalho, o
crescimento da demanda por educação que até então era desconhecida e a substituição
do trabalhador no mercado de trabalho por maquinários (Fávero4
, 2007).
Diante dessa realidade, famílias inteiras sobrevivem em condições precárias de
saúde, habitação, educação entre outros. Com o intuito de aumentar a renda familiar
mulheres, crianças e adolescente têm sua força de trabalho explorada, exercem seus
trabalhos em ocupações insalubres, perigosas, as quais podem lhes ocasionar acidentes
com sequelas temporárias ou até mesmo permanentes.
A família passa a não garantir de forma segura a vida material de seus
membros, não consegue protegê-los do mundo exterior. A função formativa
da família esta sendo cada vez mais apropriada pelo Estado, pelo sistema
escolar e meios de comunicação (Guerra, 1998, p.90).
3
Mestre e Doutora em Serviço Social - Pesquisadora do Laboratório de Estudos da Criança/IPUSP.
4
Eunice Teresinha Fávero possui graduação em Serviço Social pela PUC/Campinas , Mestrado em
Serviço Social pela PUC/SP e doutorado em Serviço Social pela PUC/SP.
3
O “modelo burguês familiar” teve alterações em várias partes do mundo, uma
das alterações é o aumento das famílias chefiadas por mulher, sendo essas viúvas ou
solteiras, também se modificaram as leis de proteção à família e a mulher, como o
direito ao divórcio, a venda de anticoncepcionais e o direito ao aborto legalizado em
alguns países.
A família nuclear monogâmica se estrutura através do pai enquanto provedor do
lar, a mãe como principal responsável pela proteção do lar e da família, ocupando
apenas esse espaço. Pressupondo um contexto harmonioso, para o desenvolvimento dos
seus membros, a família nuclear se tornou para a sociedade um modelo “correto”. As
famílias que não segue esse padrão estabelecido como o correto pelo sistema capitalista
são consideradas famílias desestruturadas ou desorganizadas, que necessitam de um
enquadramento e um ordenamento legal.
Apesar da hegemonia do padrão familiar nuclear na sociedade, as alterações nas
famílias não se interrompem pelo contrário, se amplificam e efetivam cada vez mais.
Com seus arranjos diversificados, as famílias estão cotidianamente enfrentando
preconceitos e descriminalização por não se enquadrarem nos padrões idealizados pelo
poder vigente.
Baseada em pesquisas sobre a temática, Fávero (2007) afirma que existe uma
pluralidade na forma de organização e de estabelecimento dos laços familiares, esta
pluralidade se dá através da família vivida no cotidiano, que recebe refrações da
sociedade, e da realidade do contexto social a qual esta inserida, que se mantém através
de laços efetivos e de convivência. Pensar em família é considerar a família na realidade
social, na que está presente os vínculos de sobrevivência e de convivência, para além
dos vínculos consanguíneos.
Desse modo, o ato de entregar, abandonar ou retirar uma criança da mãe e do pai
tem determinações interligadas à sobrevivência e ao não acesso aos direitos
historicamente conquistados.
De acordo com a autora Fávero (2007), a perda do poder familiar não é fato
novo e nem sendo um fenômeno apenas do sistema econômico capitalista, ocorrendo
também em outros momentos históricos. No entanto, em consequência do desemprego,
a exposição constante a ambientes de alta violência urbana e a falta de recursos próprios
e públicos para atender necessidades básicas, como alimentação, saúde, educação e
4
moradia, fazem com que muitas famílias que vivenciam cotidianamente com as
manifestações da questão social, tenham determinadas atitudes de proteção para os
filhos5
.
A falta de recursos econômicos é o maior motivo para um pai ou uma mãe
entregar ou abandonar a criança. Segundo Fávero, durante a sua pesquisa não foi
verificado nenhuma suspensão de poder familiar por pessoas que tivesse condição
socioeconômica confortável e segura. No entanto, as relações de violência onde há
histórico de pobreza6
são fatores decisivos para uma suspensão de poder familiar. A
exposição dos meios de comunicação em massa, dando a impressão que tal situação só
ocorre nas famílias em situação de vulnerabilidade social e econômica decorrentes da
pobreza e privações do modo de produção capitalista, viabiliza a criminalização dessas
famílias.
Na luta pela sobrevivência a população em situação de pobreza utiliza-se de
estratégias para continuar fazendo parte da vida dos filhos, portanto é aceitável a entrega
dos filhos para outros criarem, o que não significa falta de afeto. Para Sarti (in Fávero,
2007), esse é
(...) um patrão cultural que permite uma solução conciliatória entre o valor da
maternidade e as dificuldades concretas de criar os filhos, levando as mães a
não se desligarem deles, mas manterem o vínculo através de uma circulação
temporária (p.70).
Essas “adoções temporárias”7
, geralmente ocorrem dentro da rede de
parentescos ou de vizinhos criando formas distintas de afetividade e uma alternativa de
prestar cuidados e de não romper definitivamente os vínculos familiares. De acordo com
o Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e
Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária (PNCFC)8
“as redes sociais de
5
A autora descreve no livro diversos relatos em que mães afirmam “que a criança será melhor cuidada
por pessoas que usufruem melhores condições de vida” (Fávero, 2007, p. 64).
6
Também foi constatado na pesquisa da autora que a violência física e psicológica por parte dos pais em
relação aos filhos é uma evidência cada vez mais presente e estes independem da situação econômica ou
social da família
7
Conforme o original (Fávero, 2007, p.70).
8
O Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência
Familiar e Comunitária é um marco nas políticas públicas no Brasil, que rompe com a cultura da
institucionalização de crianças e adolescentes e fortalece o paradigma da proteção integral e da
5
apoio são uma frente importante para o trabalho (...) de proteção, defesa e garantia dos
direitos das crianças e adolescentes á convivencia familiar e comunitária” (2006, p. 25).
É importante ressaltar que existem situações que a permanência da criança ou do
adolescente na família de origem ou substituta, é questionável considerando o fato que
existem mães, pais e familiares que não desejam efetivamente cuidar dos filhos, desta
forma os submetem a negligência, abuso sexual, maus tratos físicos e psicológicos,
deixando sequelas que os marcaram por toda a vida. Fávero (2007) afirma que não
foram encontrados fatos que possibilitassem comprovar “que todos os sujeitos
cuidariam de seus filhos ou ficariam com eles se contassem com uma estrutura familiar,
habitacional, comunitária e de trabalho estável” (p. 73).
Para a autora, a falta de um conhecimento aprofundado sobre o contexto sócio-
familiar e comunitário das famílias que enfrentaram ou vivenciam o processo de
destituição do poder familiar contribui para a existência de preconceitos e conceitos
equivocados, pois “(...) sobre as mulheres que entregam seus filhos e acerca de suas
famílias, se conhecem pouco porque as escutam pouco e lhes perguntam mal” (Gilberti
in Fávero, 2007, p. 32).
Em relação ao descuido e abandono dos pais para com os filhos, as medidas
protetivas9
depois de esgotadas todas as demais possibilidade e “analisadas as condições
das famílias para a superação das violações e o provimento de proteção e cuidados”
(PNCFC, 2006, p.39) é a colocação da criança em família substituta10
após a destituição
do poder familiar, e, nos casos em que somente envolvem situação econômica,
primeiramente se aciona o Poder Executivo:
(...) o Estado é responsável pela proteção das crianças e adolescentes,
incluindo o desenvolvimento de programas e projetos e estratégias que
possam levar à constituição de novos vínculos familiares e comunitários
(PNCFC, 2006, p.16).
preservação dos vínculos familiares e comunitários preconizados pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente. Aprovado em assembléia pelo Conanda e CNAS em dezembro de 2006. (MDS)
9
As medidas de proteção, segundo o artigo 98 do ECA, devem ser aplicadas quando os direitos estiverem
ameaçados ou violados “ por ação ou omissão da sociedade ou do Estado, por falta, omissão ou abuso dos
pais ou responsavéis (...)”.
10
O ECA assegura ato da criança e adolescente o direito de ser cria do no seio de sua família (art.19).
Quando não há possibilidade de permanência em sua família de origem, a família substituta é o caminho
para garantir à criança uma família (art.39).
6
E para que crie, segundo o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA)11
,
(...) programas de auxílio, de forma que a criança não seja retirada da família
e da comunidade de origem em razão da falta de condições materiais que lhe
possibilitem crescer e se desenvolver com dignidade (art.23).
Neste caso, ressaltamos a importância da rede socioassistencial e de serviços
públicos, como escolas, serviços de saúde, CRAS, CREAS e dos Conselhos Tutelares,
os responsáveis por verificar, avaliar e fazer o encaminhamento se necessário ao
Ministério Público e Varas da Infância e da Juventude. E a participação da sociedade
nos Conselhos, Conferências e fóruns de discussão, a fim de controlar, propor e
denunciar a não materialização do ECA e demais mecanismos de proteção à família.
As Varas da Infância e Juventude são de natureza Jurídica com a função de
aplicar a lei, só que cotidianamente acabam tendo que lidar com questões de ordem
estrutural, compensando a ausência de políticas públicas e programas de auxílio para as
famílias. E por não se tratar de uma política ou programa que faça parte da assistência
social12
, os serviços prestados acabam tendo um caráter assistencialista.
Na busca pela verdade, o Judicário procura ter discrição nas ações que envolvem
a destituição da perda familiar, assim para atingir tal objetivo e legitimar alguma
decisão, as Varas da Infância e Juventude contam com diversos especialistas, como por
exemplo, o profissionail do Serviço Social. Que ao longo dos tempos vem auxiliando as
decisões judiciais, pelo seu conhecimento das particularidades da questão social.
Os sujeitos encaminhados aos “serviços” das Varas da Infância e Juventude
majoritariamente são migrantes, residem em lugares de grande precariedade, pessoas
solteiras de recorte feminino, ou com arranjos familiares instáveis e diversificados. Sem
acesso aos direitos humanos essa população sofre as sequelas consequentes da
reestruturação imposta pelo ajuste neoliberal, desde a década de 1990, não que esta
população já não era excluída, significa que com a reestruturação produtiva aumenta-se
o desemprego e a precarização ainda maior das condições de trabalho.
11
Estatuto da Criança e do Adolescente, lei n° 8069 aprovado em 13 de julho de 1990.
12
Segundo Yasbek é um conjunto de ações extremamente diversificado que têm como alvo prioritário a
situação de espoliação e pobreza de um segmento também diversificado e cada vez maior das classes
subalternas que, em geral, situa-se na chamada linha de pobreza que alcança mais da metade das famílias
brasileira (in Fávero, 2007, p.68)
7
A pobreza está inserida num quadro de extrema violência social, pobreza aqui
entendida como um conjunto de ausências referente à renda, trabalho, saúde, moradia e
rede de apoio. Em condição de privação coletiva, essa população base da pirâmide
social brasileira esta inserida “num estado de não ter”, como pontua (Sposati, in Fávero,
2007). Em toda sua trajetória de vida essa população foi atingida pela precarização das
relações de não inserção a cidade, ao trabalho e até mesmo de relações com suas
próprias famílias, essa é uma realidade das formas de sobrevivência dos sujeitos que
perdem o poder familiar.
Conforme estudos realizados com as famílias em processo de destituição do
poder familiar, a autora Fávero constata que há baixo nível de escolaridades dos pais,
sendo o desemprego o maior indicador, sobretudo entre as mulheres, as que trabalham
em serviços com menores rendimentos, atuam majoritariamente no serviço doméstico.
As precárias condições de trabalho com baixa remuneração e a falta dele revela a
insuficiência das políticas sociais para compensar as necessidades humanas, o
“aviltamento do trabalho, o desemprego, a debilidade da saúde, o desconforto, a
moradia precária e insalubre, a alimentação insuficiente, a ignorância, a fadiga, a
resignação” (Yasbek in Fávero, 2007, p. 93) expressa às condições limites de exclusão
desta população. Esta situação é consequência direta das relações sociais vigente,
violência que percorre todo o cotidiano destes sujeitos.
Essa população em situação de vulnerabilidade social e econômica sem direito a
cidade abrigam-se em moradias precárias sem acesso aos seus direitos e a justiça, seus
filhos acabam abandonando a escola muito cedo, despossuída de qualificação
profissional. Essa segregação é consequente da privação dos espaços públicos que
bloqueia o acesso ao emprego, muito menos oportunidades educacionais e culturais, que
produz assim insegurança e espoliação social.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, consideramos que a grande incidência da perda do poder
familiar está intrinsecamente ligada as precárias condições de saúde, habitação,
educação e de trabalho, reflexo das expressões da questão social oriundas da relação de
dominação capital x trabalho.
8
Daí vem à necessidade de um conhecimento aprofundado sobre os contextos
familiares e comunitários das famílias que enfrentam cotidianamente uma sociedade
violadora de direitos que encontram na entrega do filho a única maneira de superar a
fome, o frio, o desespero.
A atuação profissional do assistente social está voltada na perspectiva de romper
com a visão focalista e fragmentada em relação a essas famílias e das situações que elas
vivenciam compreendendo que por detrás de cada vínculo rompido existe uma família
em situação de desproteção social. Compreendendo o contexto social, econômico,
político e cultural, a atuação profissional dever garantir os direitos de proteção familiar,
há essas famílias que sofrem os impactos do modo de (re)produção capitalista, da falta
de oportunidade, ausência do Estado, perda de proteção, diferentes formas de
abandonos, negligência e manifestação de violência que geram por sua vez
rompimentos de vínculos, a perda do poder familiar, violação de direitos e exclusão.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei Orgânica da Assistência Social. Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993
e alterada recentemente pela lei nº 12.435, de 6 de julho de 2011.
_______. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À
FOME. Disponível em: http:<www.mds.gov.br>. Acesso em: 19 de outubro de 2011.
_______. Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Criança e
Adolescente à Convivência Familiar e Comunitária. Brasília, 2006.
_______. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei Federal nº 8069 de 13 de julho
de 1990.
FÁVERO, Eunice Teresinha. Questão social e perda do poder familiar. Série: temas,
5. São Paulo: Veras Editora, 2007.
GUERRA. Viviane Nogueira de Azevedo. Violência de pais contra filhos: a tragédia
revisitada. 3. ed. ver. e ampl. São Paulo: Cortez, 1998.
9
YASBEK, Maria Carmelita. Classes subalternas e assistência social. São Paulo:
Cortez, 1996.

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A qs e a perda do poder familiar fávero

  • 1. 1 QUESTÃO SOCIAL E A PERDA DO PODER FAMILIAR Bruna SOARES¹ - RGM Josuel Rodrigues de LIMA¹ - RGM Maria Isabel de Araujo SANTOS¹ - RGM 072570 Rosana Ap. de OLIVEIRA1 - RGM Profª. Ms.Marisa Antônia de SOUSA2 RESUMO O presente artigo tem por objetivo propor uma reflexão a respeito da questão social e a perda do poder familiar e como os fatores sociais, econômicos, culturais e emocionais se relacionam no contexto sócio familiar, diante das modificações nos padrões familiares estabelecidos como estruturais pelo sistema capitalista, oriundas das inovações tecnológicas e as mudanças no âmbito cultural. Palavras-chave: Questão social, família, perda do poder familiar. INTRODUÇÃO O texto nos leva a refletir sobre as mudanças ocorridas no pós-guerra e o impacto causado no contexto sócio familiar, diante de um processo de industrialização, onde milhares de famílias deixaram o campo em busca de melhores condições de trabalho nas cidades, o que ocasionou aglomeração sem planejamento e aumento significativo nas expressões da questão social. Neste contexto, famílias inteiras não conseguem mais oferecer a seus membros a proteção e o amparo de que necessitam, não por incapacidade ou negligência, mas pela desresponsabilização do Estado que atende majoritariamente aos interesses do capital. Levando a famílias a adotar mecanismos de sobrevivência, uma delas é o abandono ou a entrega de um filho que consequentemente ocasionará a perda do poder familiar. 1 Alunos do Sexto Semestre do Curso de Serviço Social da Faculdade de Gestão e Negócios do Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio. E-mail: s.social2009@yahoo.com.br 2 Orientadora da Disciplina Núcleos de Estudos Temáticos II
  • 2. 2 A QUESTÃO SOCIAL E A PERDA DO PODER FAMILIAR O término da Segunda Guerra Mundial (1945) representou significativas transformações econômicas, sociais e políticas ao cenário mundial e principalmente nos países periféricos do Terceiro Mundo que segundo Carvalho (in Guerra3 , 1998) é onde: (...) a pobreza assume características dramáticas. Não só pela sua presença massiva, mas também pelos limites a sua erradicação colocados pela transnacionalização da economia capitalista que acaba por circunscrever esses países à periferia da produção, mercado e consumo (p. 24). Todas essas mudanças passam a refletir no Brasil, até então de base agrícola começa a dar espaço a uma sociedade urbano-industrial. Esse processo trouxe alterações ao mundo do trabalho e nas relações sociais, com o êxodo rural, o aumento da exploração de mão-de-obra e a elevada desigualdade da distribuição de renda, ocasionou um aumento no número de famílias pobre na cidade e também no campo. Os padrões estabelecidos à família pelo sistema capitalista ao longo da historia vem sofrendo modificações relevantes, oriundas da inovação tecnológica e mudanças no âmbito cultural, como por exemplo, a inserção da mulher no mercado de trabalho, o crescimento da demanda por educação que até então era desconhecida e a substituição do trabalhador no mercado de trabalho por maquinários (Fávero4 , 2007). Diante dessa realidade, famílias inteiras sobrevivem em condições precárias de saúde, habitação, educação entre outros. Com o intuito de aumentar a renda familiar mulheres, crianças e adolescente têm sua força de trabalho explorada, exercem seus trabalhos em ocupações insalubres, perigosas, as quais podem lhes ocasionar acidentes com sequelas temporárias ou até mesmo permanentes. A família passa a não garantir de forma segura a vida material de seus membros, não consegue protegê-los do mundo exterior. A função formativa da família esta sendo cada vez mais apropriada pelo Estado, pelo sistema escolar e meios de comunicação (Guerra, 1998, p.90). 3 Mestre e Doutora em Serviço Social - Pesquisadora do Laboratório de Estudos da Criança/IPUSP. 4 Eunice Teresinha Fávero possui graduação em Serviço Social pela PUC/Campinas , Mestrado em Serviço Social pela PUC/SP e doutorado em Serviço Social pela PUC/SP.
  • 3. 3 O “modelo burguês familiar” teve alterações em várias partes do mundo, uma das alterações é o aumento das famílias chefiadas por mulher, sendo essas viúvas ou solteiras, também se modificaram as leis de proteção à família e a mulher, como o direito ao divórcio, a venda de anticoncepcionais e o direito ao aborto legalizado em alguns países. A família nuclear monogâmica se estrutura através do pai enquanto provedor do lar, a mãe como principal responsável pela proteção do lar e da família, ocupando apenas esse espaço. Pressupondo um contexto harmonioso, para o desenvolvimento dos seus membros, a família nuclear se tornou para a sociedade um modelo “correto”. As famílias que não segue esse padrão estabelecido como o correto pelo sistema capitalista são consideradas famílias desestruturadas ou desorganizadas, que necessitam de um enquadramento e um ordenamento legal. Apesar da hegemonia do padrão familiar nuclear na sociedade, as alterações nas famílias não se interrompem pelo contrário, se amplificam e efetivam cada vez mais. Com seus arranjos diversificados, as famílias estão cotidianamente enfrentando preconceitos e descriminalização por não se enquadrarem nos padrões idealizados pelo poder vigente. Baseada em pesquisas sobre a temática, Fávero (2007) afirma que existe uma pluralidade na forma de organização e de estabelecimento dos laços familiares, esta pluralidade se dá através da família vivida no cotidiano, que recebe refrações da sociedade, e da realidade do contexto social a qual esta inserida, que se mantém através de laços efetivos e de convivência. Pensar em família é considerar a família na realidade social, na que está presente os vínculos de sobrevivência e de convivência, para além dos vínculos consanguíneos. Desse modo, o ato de entregar, abandonar ou retirar uma criança da mãe e do pai tem determinações interligadas à sobrevivência e ao não acesso aos direitos historicamente conquistados. De acordo com a autora Fávero (2007), a perda do poder familiar não é fato novo e nem sendo um fenômeno apenas do sistema econômico capitalista, ocorrendo também em outros momentos históricos. No entanto, em consequência do desemprego, a exposição constante a ambientes de alta violência urbana e a falta de recursos próprios e públicos para atender necessidades básicas, como alimentação, saúde, educação e
  • 4. 4 moradia, fazem com que muitas famílias que vivenciam cotidianamente com as manifestações da questão social, tenham determinadas atitudes de proteção para os filhos5 . A falta de recursos econômicos é o maior motivo para um pai ou uma mãe entregar ou abandonar a criança. Segundo Fávero, durante a sua pesquisa não foi verificado nenhuma suspensão de poder familiar por pessoas que tivesse condição socioeconômica confortável e segura. No entanto, as relações de violência onde há histórico de pobreza6 são fatores decisivos para uma suspensão de poder familiar. A exposição dos meios de comunicação em massa, dando a impressão que tal situação só ocorre nas famílias em situação de vulnerabilidade social e econômica decorrentes da pobreza e privações do modo de produção capitalista, viabiliza a criminalização dessas famílias. Na luta pela sobrevivência a população em situação de pobreza utiliza-se de estratégias para continuar fazendo parte da vida dos filhos, portanto é aceitável a entrega dos filhos para outros criarem, o que não significa falta de afeto. Para Sarti (in Fávero, 2007), esse é (...) um patrão cultural que permite uma solução conciliatória entre o valor da maternidade e as dificuldades concretas de criar os filhos, levando as mães a não se desligarem deles, mas manterem o vínculo através de uma circulação temporária (p.70). Essas “adoções temporárias”7 , geralmente ocorrem dentro da rede de parentescos ou de vizinhos criando formas distintas de afetividade e uma alternativa de prestar cuidados e de não romper definitivamente os vínculos familiares. De acordo com o Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária (PNCFC)8 “as redes sociais de 5 A autora descreve no livro diversos relatos em que mães afirmam “que a criança será melhor cuidada por pessoas que usufruem melhores condições de vida” (Fávero, 2007, p. 64). 6 Também foi constatado na pesquisa da autora que a violência física e psicológica por parte dos pais em relação aos filhos é uma evidência cada vez mais presente e estes independem da situação econômica ou social da família 7 Conforme o original (Fávero, 2007, p.70). 8 O Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária é um marco nas políticas públicas no Brasil, que rompe com a cultura da institucionalização de crianças e adolescentes e fortalece o paradigma da proteção integral e da
  • 5. 5 apoio são uma frente importante para o trabalho (...) de proteção, defesa e garantia dos direitos das crianças e adolescentes á convivencia familiar e comunitária” (2006, p. 25). É importante ressaltar que existem situações que a permanência da criança ou do adolescente na família de origem ou substituta, é questionável considerando o fato que existem mães, pais e familiares que não desejam efetivamente cuidar dos filhos, desta forma os submetem a negligência, abuso sexual, maus tratos físicos e psicológicos, deixando sequelas que os marcaram por toda a vida. Fávero (2007) afirma que não foram encontrados fatos que possibilitassem comprovar “que todos os sujeitos cuidariam de seus filhos ou ficariam com eles se contassem com uma estrutura familiar, habitacional, comunitária e de trabalho estável” (p. 73). Para a autora, a falta de um conhecimento aprofundado sobre o contexto sócio- familiar e comunitário das famílias que enfrentaram ou vivenciam o processo de destituição do poder familiar contribui para a existência de preconceitos e conceitos equivocados, pois “(...) sobre as mulheres que entregam seus filhos e acerca de suas famílias, se conhecem pouco porque as escutam pouco e lhes perguntam mal” (Gilberti in Fávero, 2007, p. 32). Em relação ao descuido e abandono dos pais para com os filhos, as medidas protetivas9 depois de esgotadas todas as demais possibilidade e “analisadas as condições das famílias para a superação das violações e o provimento de proteção e cuidados” (PNCFC, 2006, p.39) é a colocação da criança em família substituta10 após a destituição do poder familiar, e, nos casos em que somente envolvem situação econômica, primeiramente se aciona o Poder Executivo: (...) o Estado é responsável pela proteção das crianças e adolescentes, incluindo o desenvolvimento de programas e projetos e estratégias que possam levar à constituição de novos vínculos familiares e comunitários (PNCFC, 2006, p.16). preservação dos vínculos familiares e comunitários preconizados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Aprovado em assembléia pelo Conanda e CNAS em dezembro de 2006. (MDS) 9 As medidas de proteção, segundo o artigo 98 do ECA, devem ser aplicadas quando os direitos estiverem ameaçados ou violados “ por ação ou omissão da sociedade ou do Estado, por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsavéis (...)”. 10 O ECA assegura ato da criança e adolescente o direito de ser cria do no seio de sua família (art.19). Quando não há possibilidade de permanência em sua família de origem, a família substituta é o caminho para garantir à criança uma família (art.39).
  • 6. 6 E para que crie, segundo o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA)11 , (...) programas de auxílio, de forma que a criança não seja retirada da família e da comunidade de origem em razão da falta de condições materiais que lhe possibilitem crescer e se desenvolver com dignidade (art.23). Neste caso, ressaltamos a importância da rede socioassistencial e de serviços públicos, como escolas, serviços de saúde, CRAS, CREAS e dos Conselhos Tutelares, os responsáveis por verificar, avaliar e fazer o encaminhamento se necessário ao Ministério Público e Varas da Infância e da Juventude. E a participação da sociedade nos Conselhos, Conferências e fóruns de discussão, a fim de controlar, propor e denunciar a não materialização do ECA e demais mecanismos de proteção à família. As Varas da Infância e Juventude são de natureza Jurídica com a função de aplicar a lei, só que cotidianamente acabam tendo que lidar com questões de ordem estrutural, compensando a ausência de políticas públicas e programas de auxílio para as famílias. E por não se tratar de uma política ou programa que faça parte da assistência social12 , os serviços prestados acabam tendo um caráter assistencialista. Na busca pela verdade, o Judicário procura ter discrição nas ações que envolvem a destituição da perda familiar, assim para atingir tal objetivo e legitimar alguma decisão, as Varas da Infância e Juventude contam com diversos especialistas, como por exemplo, o profissionail do Serviço Social. Que ao longo dos tempos vem auxiliando as decisões judiciais, pelo seu conhecimento das particularidades da questão social. Os sujeitos encaminhados aos “serviços” das Varas da Infância e Juventude majoritariamente são migrantes, residem em lugares de grande precariedade, pessoas solteiras de recorte feminino, ou com arranjos familiares instáveis e diversificados. Sem acesso aos direitos humanos essa população sofre as sequelas consequentes da reestruturação imposta pelo ajuste neoliberal, desde a década de 1990, não que esta população já não era excluída, significa que com a reestruturação produtiva aumenta-se o desemprego e a precarização ainda maior das condições de trabalho. 11 Estatuto da Criança e do Adolescente, lei n° 8069 aprovado em 13 de julho de 1990. 12 Segundo Yasbek é um conjunto de ações extremamente diversificado que têm como alvo prioritário a situação de espoliação e pobreza de um segmento também diversificado e cada vez maior das classes subalternas que, em geral, situa-se na chamada linha de pobreza que alcança mais da metade das famílias brasileira (in Fávero, 2007, p.68)
  • 7. 7 A pobreza está inserida num quadro de extrema violência social, pobreza aqui entendida como um conjunto de ausências referente à renda, trabalho, saúde, moradia e rede de apoio. Em condição de privação coletiva, essa população base da pirâmide social brasileira esta inserida “num estado de não ter”, como pontua (Sposati, in Fávero, 2007). Em toda sua trajetória de vida essa população foi atingida pela precarização das relações de não inserção a cidade, ao trabalho e até mesmo de relações com suas próprias famílias, essa é uma realidade das formas de sobrevivência dos sujeitos que perdem o poder familiar. Conforme estudos realizados com as famílias em processo de destituição do poder familiar, a autora Fávero constata que há baixo nível de escolaridades dos pais, sendo o desemprego o maior indicador, sobretudo entre as mulheres, as que trabalham em serviços com menores rendimentos, atuam majoritariamente no serviço doméstico. As precárias condições de trabalho com baixa remuneração e a falta dele revela a insuficiência das políticas sociais para compensar as necessidades humanas, o “aviltamento do trabalho, o desemprego, a debilidade da saúde, o desconforto, a moradia precária e insalubre, a alimentação insuficiente, a ignorância, a fadiga, a resignação” (Yasbek in Fávero, 2007, p. 93) expressa às condições limites de exclusão desta população. Esta situação é consequência direta das relações sociais vigente, violência que percorre todo o cotidiano destes sujeitos. Essa população em situação de vulnerabilidade social e econômica sem direito a cidade abrigam-se em moradias precárias sem acesso aos seus direitos e a justiça, seus filhos acabam abandonando a escola muito cedo, despossuída de qualificação profissional. Essa segregação é consequente da privação dos espaços públicos que bloqueia o acesso ao emprego, muito menos oportunidades educacionais e culturais, que produz assim insegurança e espoliação social. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do exposto, consideramos que a grande incidência da perda do poder familiar está intrinsecamente ligada as precárias condições de saúde, habitação, educação e de trabalho, reflexo das expressões da questão social oriundas da relação de dominação capital x trabalho.
  • 8. 8 Daí vem à necessidade de um conhecimento aprofundado sobre os contextos familiares e comunitários das famílias que enfrentam cotidianamente uma sociedade violadora de direitos que encontram na entrega do filho a única maneira de superar a fome, o frio, o desespero. A atuação profissional do assistente social está voltada na perspectiva de romper com a visão focalista e fragmentada em relação a essas famílias e das situações que elas vivenciam compreendendo que por detrás de cada vínculo rompido existe uma família em situação de desproteção social. Compreendendo o contexto social, econômico, político e cultural, a atuação profissional dever garantir os direitos de proteção familiar, há essas famílias que sofrem os impactos do modo de (re)produção capitalista, da falta de oportunidade, ausência do Estado, perda de proteção, diferentes formas de abandonos, negligência e manifestação de violência que geram por sua vez rompimentos de vínculos, a perda do poder familiar, violação de direitos e exclusão. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei Orgânica da Assistência Social. Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993 e alterada recentemente pela lei nº 12.435, de 6 de julho de 2011. _______. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME. Disponível em: http:<www.mds.gov.br>. Acesso em: 19 de outubro de 2011. _______. Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Criança e Adolescente à Convivência Familiar e Comunitária. Brasília, 2006. _______. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei Federal nº 8069 de 13 de julho de 1990. FÁVERO, Eunice Teresinha. Questão social e perda do poder familiar. Série: temas, 5. São Paulo: Veras Editora, 2007. GUERRA. Viviane Nogueira de Azevedo. Violência de pais contra filhos: a tragédia revisitada. 3. ed. ver. e ampl. São Paulo: Cortez, 1998.
  • 9. 9 YASBEK, Maria Carmelita. Classes subalternas e assistência social. São Paulo: Cortez, 1996.