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ARCADISMO
Profª Andriane
Arcadismo
O Arcadismo, também conhecido como
Setecentismo ou Neoclacissismo, é o
movimento que compreende a produção literária
brasileira na segunda metade do século XVIII. O
nome faz referência à Arcádia, região do sul da
Grécia que, por sua vez, foi nomeada em
referência ao semideus Arcas (filho de Zeus e
Calisto). Essa lendária região, é um lugar
imaginado, que reina a felicidade, a simplicidade e
a paz em um ambiente idílico habitado por uma
população de pastores que vivem em comunhão
com a natureza.
Denota-se, logo de início, as referências à
mitologia grega.
Representação de Arcádia do pintor romântico Friedrich
von Kaulbach.
Arcadismo
A principal característica desta escola é a exaltação da natureza e de tudo o que lhe diz
respeito. Por essa razão muitos poetas do Arcadismo adotaram pseudônimos de pastores gregos ou
latinos. Caracteriza-se ainda pelo recurso a esquemas rítmicos mais graciosos.
Numa perspectiva mais ampla, expressa a crítica da burguesia aos abusos da nobreza e do
clero praticados no Antigo Regime.
Adicionalmente os burgueses cultuam o mito do homem natural em oposição ao homem
corrompido pela sociedade, conceito originalmente expresso por Jean-Jacques Rousseau, na figura
do “bom selvagem”
Contexto histórico
Profundas mudanças no contexto histórico mundial caracterizam o período, tais como a
ascensão do Iluminismo, que pressupunha o racionalismo, o progresso e as ciências. Na América do
Norte, ocorre a Independência dos Estados Unidos, em 1776, abrindo caminho para vários
movimentos de independência ao longo de toda a América, como foi o caso do Brasil, que presenciou
inúmeras revoluções e inconfidências até a chegada da Família Real em 1808.
O movimento tem características reformistas, pois seu intuito era o de dar novos ares às artes e
ao ensino, aos hábitos e atitudes da época. A aristocracia em declínio viu sua riqueza esvair-se e dar
lugar a uma nova organização econômica liderada pelo pensamento burguês.
Contexto histórico
Europeu: marcado pela presença do Iluminismo, o início da Revolução Industrial na Inglaterra, a
ascensão da burguesia, o despotismo esclarecido (forma de governo que atendia as necessidades de
uma crescente classe burguesa, bem como aos princípios do Liberalismo econômico, que no caso
português o representante era o Marquês de Pombal e foi fortemente evidenciado na epopéia O
Uruguai , de Basílio da Gama).
Brasileiro: marcado pela mineração, o deslocamento do eixo econômico colonial do nordeste para o
sudeste, o aumento das pressões metropolitanas e a derrama, além do movimento inconfidente, que
transformou as obras dos árcades brasileiros em singulares, pois possuíam forte consciência política.
O Iluminismo foi um movimento intelectual que surgiu durante
o século XVIII na Europa, que defendia o uso da razão (luz) contra o
antigo regime (trevas) e pregava maior liberdade econômica e
política.
Este movimento promoveu mudanças políticas, econômicas e
sociais, baseadas nos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade.
O Iluminismo tinha o apoio da burguesia, pois os pensadores e
os burgueses tinham interesses comuns.
As críticas do movimento ao Antigo Regime eram em vários
aspectos como:
- Mercantilismo (práticas econômicas praticadas na Europa na
Idade Moderna);
- Absolutismo monárquico;
- Poder da igreja e as verdades reveladas pela fé.
Iluminismo
Iluminismo
Com base nos três pontos citados, podemos afirmar que o Iluminismo defendia:
- A liberdade econômica, ou seja, sem a intervenção do estado na economia.
- O Antropocentrismo, ou seja, o avanço da ciência e da razão.
- O predomínio da burguesia e seus ideais.
As ideias liberais do Iluminismo se disseminaram rapidamente pela população. Alguns reis
absolutistas, com medo de perder o governo - ou mesmo a cabeça -, passaram a aceitar algumas ideias
iluministas. (Despotas Esclarecidos)
John Locke, Voltaire, Jean-Jacques Rousseau e Denis Diderot:
livre pensadores iluministas
Iluminismo
Arcadismo no Brasil
Segundo o crítico Alfredo Bosi em seu livro História Concisa da Literatura Brasileira
(São Paulo: editora Cultrix, 2006) houve dois momentos do Arcadismo no Brasil:
a) poético: retorno à tradição clássica com a utilização dos seus modelos, e valorização
da natureza e da mitologia.
b) ideológico: influenciados pela filosofia presente no Iluminismo, que traduz a crítica da
burguesia culta aos abusos da nobreza e do clero.
Arcádia Ultramarina
Trata-se de uma sociedade literária fundada na cidade de Vila Rica (MG),
influenciada pela Arcádia italiana (fundada em 1690) e cujos membros adotavam
pseudônimos, isto é, nomes artísticos, de pastores cantados na poesia grega ou latina.
Por isso que alguns dos principais nomes do Arcadismo brasileiro publicavam suas obras
com nomes inspirados na mitologia grega e romana.
Principais características
● inspiração nos modelos clássicos greco-latinos e renascentistas, como por exemplo, em O Uruguai
(gênero épico), em Marília de Dirceu (gênero lírico) e em Cartas Chilenas (gênero satírico);
● influência da filosofia francesa;
● mitologia pagã como elemento estético;
● tensão entre o burguês culto, da cidade, contra a aristocracia;
● pastoralismo: poetas simples e humildes;
● bucolismo: busca pelos valores da natureza;
● nativismo: referências à terra e ao mundo natural;
● tom confessional;
● estado de espírito de espontaneidade dos sentimentos;
● exaltação da pureza, da ingenuidade e da beleza.
Termos em latim
O uso de expressões em latim era comum no neoclacisssimo. Elas estavam associados ao estilo
de vida simples e bucólico. Conheça algumas delas:
Inutilia truncat: "cortar o inútil", referência aos excessos cometidos pelas obras do barroco. No
arcadismo, os poetas primavam pela simplicidade.
Fugere urbem: "fugir da cidade", do escritor clássico Horácio;
Locus amoenus: "lugar ameno", um refúgio ameno em detrimento dos centros urbanos monárquicos;
Carpe diem: "aproveitar a vida", o pastor, ciente da efemeridade do tempo, convida sua amada a
aproveitar o momento presente.
Cabe ressaltar, no entanto, que os membros da Arcádia eram todos burgueses e habitantes dos
centros urbanos. Por isso a eles são atribuídos um fingimento poético, isto é, a simulação de
sentimentos fictícios.
Cláudio Manuel da Costa (1729-1789)
Também conhecido como o "guardador de rebanhos" Glauceste Satúrnio,
Cláudio Manoel nasceu na cidade de Mariana (em MG). Estudou Direito em Coimbra,
onde teve contato com as principais ideias do Iluminismo e, ao voltar para o Brasil,
fundou da Arcádia Ultramarina em Vila Rica. Era um homem muito rico e de posses que
influenciou a elite intelectual da época. Por ter participado da Inconfidência Mineira, foi
preso e encontrado enforcado na cadeia em 1789.
Os temas iniciais de sua obra giram em torno das reflexões morais e das
contradições da vida com forte inspiração nos modelos barrocos.
Posteriormente, dedicou-se à poesia bucólica e pastoril na qual a natureza
funciona como um refúgio para o poeta que busca a vida longe da cidade e reflete as
angustias e o sofrimento amoroso com sua musa inacessível Nise. Estes poemas
fazem parte do conjunto intitulado Obras (1768).
Cláudio Manoel também se dedicou à exaltação dos bandeirantes, fundadores de
inúmeras cidades da região mineradora e desbravadores do interior do país e de contar
a história da cidade de Ouro Preto no poemeto épico Vila Rica (1773).
Cláudio Manoel da
Costa, ilustrado por
Newton Resende.
Cláudio Manuel da Costa (1729-1789)
Toda a sua criação literária de Cláudio Manuel da Costa está em Obras Poéticas, obra que reúne a
produção lírica do poeta, e que dá início ao Arcadismo Brasileiro. Essa publicação marcou a fundação da
Arcádia Ultramarina, uma instituição cultural onde os poetas se reuniam para escrever e declamar seus poemas.
Soneto XCVIII
Destes penhascos fez a natureza
O berço em que nasci! Oh, quem cuidara
Que entre penhas tão duras se criara
Uma alma terna, um peito sem dureza!
O eu lírico fala de sua terra natal (observe que as pedras - elemento típico da paisagem mineira -
representam o berço do poeta) e sobre a sua própria maneira de ser (traços de personalidade). Apresenta duas
ideias opostas (antítese): afirma que nasceu em um lugar de pedras duras, mas que tem a alma terna. Os
elementos que identificam o cenário dizem respeito ao campo, à natureza e não à cidade (penhascos, pedras
duras). É o princípio do “fugere urbem” (fuga da cidade) adotado pelos árcades. A linguagem simples e clara
também é uma característica do Arcadismo.
Cláudio Manuel da Costa (1729-1789)
Poesia bucólica
Sonetos
X
Eu ponho esta sanfona, tu, Palemo,
Porás a ovelha branca, e o cajado;
E ambos ao som da flauta magoado
Podemos competir de extremo a extremo.
Principia, pastor; que eu te não temo;
Inda que sejas tão avantajado
No cântico amebeu: para louvado
Escolhamos embora o velho Alcemo.
Que esperas? Toma a flauta, principia;
Eu quero acompanhar te; os horizontes
Já se enchem de prazer, e de alegria:
Parece, que estes prados, e estas fontes
Já sabem, que é o assunto da porfia
Nise, a melhor pastora destes montes.
Poesia épica
Vila Rica
Canto VI
Levados de fervor, que o peito encerra
Vês os Paulistas, animosa gente,
Que ao Rei procuram do metal luzente
Co'as próprias mãos enriquecer o erário.
Arzão é este, é Este, o temerário,
Que da Casca os sertões tentou primeiro:
Vê qual despreza o nobre aventureiro,
Os laços e as traições, que lhe prepara
Do cruento gentio a fome avara.
Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810)
Nasceu na cidade de Porto, em Portugal, porém, filho de mãe portuguesa e
pai brasileiro, vive parte da vida no Brasil. Formado em Direito pela Universidade
de Coimbra, muda para o Brasil para trabalhar como ouvidor e juiz. Aqui, pretendia
se casar com a jovem Maria Dorotéia Joaquina de Seixas Brandão, sua musa
Marília.
No entanto, como participara da Inconfidência Mineira, é preso e levado
para o Rio de Janeiro. Quando sai da prisão, muda-se para Moçambique, na
África, onde casa com Juliana de Sousa Mascarenhas.
Tomás Antônio Gonzaga é o pastor Dirceu, pseudônimo criado pelo poeta
para seu conjunto de liras famosas intitulado Marília de Dirceu, publicadas em três
partes nos anos de 1792, 1799 e 1812. Nessa obra, Dirceu é o pastor que cultiva o
ideal da vida campestre, que vive entre ovelhas em uma choupana e aproveita o
momento presente ao lado da amada Marília.
Tomás Antônio
Gonzaga, poeta
árcade,
ilustrado por
artista
desconhecido.
Marília de Dirceu
Lira I
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado;
De tosco trato, d’expressões grosseiro,
Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal, e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Na primeira estrofe, o eu lírico faz um auto-
retrato no qual se coloca como pastor, de acordo
com as convenções arcádicas. Observe como o eu
lírico, Dirceu, faz uma série de afirmações no
sentido de estabelecer claramente a sua condição
de superioridade social: ´´não sou vaqueiro que
cuide do gado alheio, meu rosto não é grosseiro,
nem queimado pela exposição às forças da
natureza; tenho casa própria, moro nela, tenho
bens de que me sustento (vinho, legume, fruta,
azeite, leite, finas lãs)``, o que sugere tratar-se de
´´alguém``, um pastor abastado merecedor,
portanto, do amor de Marília. Aqui encontramos a
valorização dos bens materiais, conjugada com a
presença da natureza como cenário poético. Quer
dizer, a presença da ideologia burguesa, conjugada
com o bucolismo e o pastoralismo que
caracterizam o Arcadismo
Marília de Dirceu
Curiosidade: como aponta o crítico Alfredo Bosi em
seu História Concisa da Literatura Brasileira (São Paulo:
Cultrix, 2006), há uma mudança na cor dos cabelos de
Marília, que ora são negros, ora dourados, como se
pode observar nos trechos a seguir:
Os seus compridos cabelos,
que sobre as costas odeiam,
são que os de Apolo mais belos,
mas de loura cor não são.
Têm a cor da negra noite;
e com o branco do rosto
fazem, Marília, um composto
da mais formosa união.
Em outra passagem, observa-se:
Os teus olhos espelham a luz divina,
a quem a luz do sol em vão se atreve;
papoila ou rosa delicada e fina
te cobre as faces, que são da cor da neve.
Os teus cabelos sao uns fios d'ouro;
teu lindo corpo bálsamos vapora.
Marília de Dirceu
Essa oscilação, segundo o crítico, demonstraria o compromisso árcade entre o real e os
padrões de beleza do lirismo inspirado no poeta clássico Petrarca. Outra oscilação presente nos
poemas é entre o pastor bucólico e o intelectual da cidade.
Percebe-se, no entanto, uma mudança considerável no discurso do poeta, coincidindo com a
época em que o autor esteve preso e passa a refletir sobre as angústias do aprisionamento, a justiça
e o destino dos homens.
Cabe ressaltar, no entanto, que, embora o conjunto de liras seja dedicado à amada Marília, em
momento algum temos a voz da personagem idealizada. É apenas Dirceu quem discorre acerca dos
seus sentimentos. Segundo alguns críticos literários, esse fato é um reflexo da sociedade patriarcal
em que Gonzaga vivia, não permitindo que suas personagens pudessem expressar suas vozes.
Marília de Dirceu
Cartas chilenas
Por fim, Tomás Antônio Gonzaga também ficou conhecido por suas Cartas Chilenas, compostas por 13
poemas satíricos escritos antes da Inconfidência Mineira. Novamente, Gonzaga cria personagens e pseudônimos:
aqui, Critilo assina as cartas e as envia para Doroteu. O conteúdo das "cartas" são críticas ao suposto governador do
Chile (onde vive Critilo) Fanfarrão Minésio, uma referência ao governador de Minas Gerais Luís da Cunha Meneses.
Veja um exemplo:
Amigo Doroteu, prezado amigo,
Abre os olhos, boceja, estende os braços
E limpa, das pestanas carregadas,
O pegajoso humor, que o sono ajunta.
Critilo, o teu Critilo é quem te chama;
Ergue a cabeça da engomada fronha
Acorda, se ouvir queres coisas raras.
(...)
Ah! pobre Chile, que desgraça esperas!
Quanto melhor te fora se sentisses
As pragas, que no Egito se choraram,
Do que veres que sobe ao teu governo
Carrancudo casquilho, a quem rodeiam
Os néscios, os marotos e os peraltas!
Seguido, pois, dos grandes entra o chefe
No nosso Santiago junto à noite.
A casa me recolho e cheio destas
Tristíssimas imagens, no discurso,
Mil coisas feias, sem querer, revolvo.
Por ver se a dor divirto, vou sentar-me
Na janela da sala e ao ar levanto
Os olhos já molhados. Céus, que vejo!
Não vejo estrelas que, serenas, brilhem,
Nem vejo a lua que prateia os mares:
Vejo um grande cometa, a quem os doutos
Caudato apelidaram. Este cobre
A terra toda co’ disforme rabo.
Santa Rita Durão (1722-1784)
José de Santa Rita Durão nasceu em Cata-Preta, nas proximidades de
Mariana em Minas Gerais. Estudou no Colégio dos Jesuítas no Rio de
Janeiro até os dez anos, partindo no ano seguinte para a Europa, onde se
tornaria padre agostiniano. Doutorou-se em Filosofia e Teologia pela
Universidade de Coimbra e, em seguida, lá ocupou uma cátedra de Teologia.
Durante o governo de Pombal, foi perseguido e abandonou Portugal.
Trabalhou em Roma como bibliotecário durante mais de vinte anos até a
queda de seu grande inimigo, retornando então ao país luso. Esteve ainda
na Espanha e na França. Voltando a Portugal com a "viradeira" (queda de
Pombal e restauração da cultura passadista), a sua principal atividade
passou a ser a redação de Caramuru, publicado em 1781. Morreu em
Portugal em 24 de janeiro de 1784.
Caramuru (1781)
Seu trabalho mais conhecido é o Caramuru (1781), cujo subtítulo, Poema épico do descobrimento
da Bahia, remonta ao tempo em que os primeiros europeus chegaram ao Brasil e travaram contato com
os nativos.
Caramuru é o nome dado ao português Diogo Álvares Correia que passa a viver entre os índios
Tupinambás após sobreviver a um naufrágio no litoral baiano. Considerado um herói "cultural", que
ensina as leis e as virtudes aos "bárbaros" que aqui viviam, ganha o respeito dos índios ao disparar uma
arma de fogo. Os índios, assustados, equiparam-no a Tupã e passam a respeitá-lo como uma entidade
eviada. Ele se encanta com Paraguaçu, a bela índia de pele branca. Já instalado na tribo, Diogo percebe
a possibilidade de difundir a fé cristã para os índios, doutrinando-os após ter encontrado uma gruta que
se assemelharia a uma igreja.
Caramuru (1781)
Mais adiante, Diogo ajuda a resgatar a tripulação de um barco
espanhol que havia naufragado e vê a possibilidade de retornar à
Europa através da nau francesa que viera resgatar aquela tripulação.
Parte, com Paraguaçu, deixando para trás as belas índias que haviam
se apaixonado por ele, incluindo Moema, a mais bela, que atira-se ao
mar em direção ao navio na tentativa de alcançar o seu amado. Ao
chegar na Europa, Paraguaçu é batizada de Catarina, ambos são
festejados e recebem as honras da realeza lusitana.
O poema segue a estrututura dos versos camonianos (de Camões)
e da epopeia clássica, com fortes influências da mitologia grega. Segue
também com a divisão tradicional das epopeias: proposição, invocação,
dedicatória, narração e epílogo.
Conheça um trecho do poema épico em que é narrada a morte da
índia Moema:
Moema (1866), por Victor Meireles
Canto VI
XXXVII
Copiosa multidão da nau francesa
Corre a ver o espetáculo assombrada;
E, ignorando a ocasião de estranha empresa,
Pasma da turba feminil que nada.
Uma, que às mais precede em gentileza,
Não vinha menos bela do que irada;
Era Moema, que de inveja geme,
E já vizinha à nau se apega ao leme.
XXXVIII
"- Bárbaro (a bela diz), tigre e não homem...
Porém o tigre, por cruel que brame,
Acha forças amor que enfim o domem;
Só a ti não domou, por mais que eu te ame.
Fúrias, raios, coriscos, que o ar consomem.
Como não consumis aquele infame?
Mas apagar tanto amor com tédio e asco...
Ah que o corisco és tu... raio... penhasco?
(...)
XLI
Enfim, tens coração de ver-me aflita,
Flutuar moribunda entre estas ondas;
Nem o passado amor teu peito incita
A um ai somente com que aos meus respondas!
Bárbaro, se esta fé teu peito irrita,
(Disse, vendo-o fugir), ah não te escondas!
Dispara sobre mim teu cruel raio..."
E indo a dizer o mais, cai num desmaio.
XLII
Perde o lume dos olhos, pasma e treme,
Pálida a cor, o aspecto moribundo;
Com mão já sem vigor, soltando o leme,
Entre as salsas escumas desce ao fundo.
Mas na onda do mar, que irado freme,
Tornando a aparecer desde o profundo,
- Ah! Diogo cruel! - disse com mágoa,
E, sem mais vista ser, sorveu-se n’água.
Caramuru (filme)
Basílio da Gama (1741-1795)
Foi para o Rio de Janeiro, onde estudou no Colégio dos Jesuítas e era noviço quando os
jesuítas foram expulsos do país. Exilou-se na Itália e filiou-se na Arcádia Romana, sob o
pseudônimo de Termindo Sipílio. É preso por jesuitismo, em Lisboa, e enviado para Angola,
livrando-se do exílio ao escrever um poema para a filha do Marquês de Pombal.
Em 1769 publica o poema épico O Uruguai, criticando os jesuítas e defendendo a política
do Marquês de Pombal que o transforma em oficial da Secretaria do Reino. A crítica recaía no fato
de que os jesuítas não defendiam os índios, apenas pretendiam falsamente libertá-los e usar a
mão de obra indígena para proveito próprio.
O poema narra a luta dos portugueses contra os índios das Missões (instigados pelos
jesuítas espanhóis) que se recusam a sair de suas terras, dando início aos conflitos conhecidos
como as Guerra Guaranítica (1754-56).
A crítica recai, principalmente, sobre o personagem Balda, padre jesuíta que encarna o mal.
Corrupto e desleal, seduz uma índia e tem um filho com ela, Baldeta. Na aldeia moram também o
chefe da tribo Cacambo e sua mulher Lindóia, casal que representa a força do guerreiro e a beleza
e delicadeza da índia. Balda quer forçar Lindóia a se casar com Baldeta, enviando Cacambo para
as batalhas na esperança de que o índio morra para uni-la a seu filho.
José Basílio da
Gama nasceu em
1741 na cidade de
São José do Rio das
Mortes, atual
Tiradentes, em
Minas Gerais. Falece
em Lisboa no dia 31
de julho de 1795.
O Uruguai (1769)
No Canto II, Basílio da Gama relata o encontro entre os caciques Sepé Tiaraju e Cacambo com
o comandante português Gomes Freire de Andrada, ocorrido às margens do rio Uruguai (chamado
então de "Uraguai"). O comandante tenta estabelecer um acordo com os índios, sem sucesso, dando
início aos combates.
O cacique Sepé Tiaraju lidera a disputa e acaba morto. Cacambo, seu sucessor, é capturado e
descobre que o perigo estava o tempo todo na mão dos jesuítas. Os portugueses, então, permitem
que ele retorne a sua aldeia para alertar seus companheiros contra os perigos dos jesuítas. De volta,
o valente guerreiro é envenenado por Balda e Lindóia, vendo-se forçada a casar com Baldeta, comete
suicídio, deixando-se picar por uma cobra venenosa.
Segundo o crítico literário Alfredo Bosi no estudo História Concisa da Literatura Brasileira (São
Paulo: Cultrix, 2006), Basílio da Gama é o homem do fim do século XVIII "cujos valores pré-liberais
prenunciam a Revolução e se manteriam com o idealismo romântico". Assim, pode-se dizer que O
Uruguai prenuncia muitos dos aspectos que serão desenvolvidos durante o movimento do
Romantismo.
Características principais do poema
- exaltação da natureza e do "bom selvagem", atribuíndo aos jesuítas a culpa pelo envolvimento dos
índios na luta;
- rompimento da estrutura poética camoniana;
- inovação no gênero épico: versos decassílabos brancos, isto é, sem rima, sem divisão de estrofes e
divididos em apenas cinco cantos;
- ao contrário da tradição épica, o poema conta um acontecimento recente na história do país;
- inicia o poema pela narração;
- discursos permeados por ideias iluministas.
A cena da morte de Lindóia mostra as características típicas do movimento árcade:
Canto IV
(...)
Cansada de viver, tinha escolhido
Para morrer a mísera Lindóia.
Lá reclinada, como que dormia,
Na branda relva e nas mimosas flores,
Tinha a face na mão, e a mão no tronco
De um fúnebre cipreste, que espalhava
Melancólica sombra. Mais de perto
Descobrem que se enrola no seu corpo
Verde serpente, e lhe passeia, e cinge
Pescoço e braços, e lhe lambe o seio.
Fogem de a ver assim, sobressaltados,
E param cheios de temor ao longe;
E nem se atrevem a chamá-la, e temem
Que desperte assustada, e irrite o
monstro,
E fuja, e apresse no fugir a morte.
Porém o destro Caitutu, que treme
Do perigo da irmã, sem mais demora
Dobrou as pontas do arco, e quis três
vezes
Soltar o tiro, e vacilou três vezes
Entre a ira e o temor. Enfim sacode
O arco e faz voar a aguda seta,
Que toca o peito de Lindóia, e fere
A serpente na testa, e a boca e os
dentes
Deixou cravados no vizinho tronco.
Açouta o campo co’a ligeira cauda
O irado monstro, e em tortuosos giros
Se enrosca no cipreste, e verte envolto
Em negro sangue o lívido veneno.
Leva nos braços a infeliz Lindóia
O desgraçado irmão, que ao despertá-
la
Conhece, com que dor! no frio rosto
Os sinais do veneno, e vê ferido
Pelo dente sutil o brando peito.
Os olhos, em que Amor reinava, um
dia,
Cheios de morte; e muda aquela língua
Que ao surdo vento e aos ecos tantas
vezes
Contou a larga história de seus
males.
Nos olhos Caitutu não sofre o
pranto,
E rompe em profundíssimos
suspiros,
Lendo na testa da fronteira gruta
De sua mão já trêmula gravado
O alheio crime e a voluntária morte.
E por todas as partes repetido
O suspirado nome de Cacambo.
Inda conserva o pálido semblante
Um não sei quê de magoado e triste,
Que os corações mais duros
enternece
Tanto era bela no seu rosto a morte!
Quem foi Sepé Tiaraju?
Importante personagem na história do país, o Sepé Tiaraju é
retratado em O Uruguai como um guerreiro defensor de seu território na
tentativa de impedir que os portugueses se apropriassem de suas terras
e de seus gados. Morto em batalha, quando lutava contra a decisão que
dava as terras aos portugueses, o índio é considerado um herói
nacional, sendo nomeado "herói guarani missioneiro rio-grandense", e
também santo popular por alguma religiões brasileiras.
Desenho representando o índio guerreiro Sepé Tiaraju
Resumo
O Arcadismo: século XVIII
CONTEXTO HISTÓRICO
- Iluminismo;
- Lutas pela independência do Brasil.
CARACTERÍSTICAS
- Modelo greco-romano e renascentista;
- Mitologia pagã;
- Pastoralismo, nativismo, bucolismo;
- Expressões em latim.
PRINCIPAIS AUTORES
- Claudio Manoel da Costa;
- Tomás Antônio Gonzaga;
- Basílio da Gama;
- Santa Rita Durão.
Trecho do filme "Os inconfidentes" (1972)
Cláudio Manuel Da Costa e Tomás Antônio Gonzaga
recitam seus poemas.
Resumo
Quinhentismo
Trata-se de uma denominação comum, de todas as manifestações da literatura que ocorreram
durante o séc. XVI no Brasil. Na realidade não passaram da inserção da cultura da Europa em nossas
terras.
– O destaque é para o Padre José de Anchieta (representante da literatura jesuíta ou de catequese);
– Outra personalidade marcante é Pero Vaz de Caminha (o escrivão da frota de Pedro Álvares de
Cabral);
– A literatura da época é considerada a literatura de Informação, sendo bastante descritiva em relação
às condições geográficas e culturais.
Barroco
Esta escola é marcada por inserir a poesia camoniana e por seus conflitos. Perdura pelo século
XVII e início do século XVIII.
– Contradições e conflitos espirituais são marcantes;
– As obras relatam o as angústias tratadas pelo mundo material em oposição ao espiritual;
– Aleijadinho marca este período com suas esculturas;
– Autores marcantes: Bento Teixeira (com a Prosopopeia), Gregório de Matos (Boca de Inferno), e
Padre Antônio Vieira (com Sermão da Sexagésima e Sermão de Santo Antônio ou dos Peixes).
Arcadismo
O Arcadismo é também considerado Neoclassicismo e marca o século XVIII.
– Como característica marcante está a ascensão da burguesia e de seus valores políticos e culturais;
– A escola barroca é deixada de lado e então, o foco passa a ser no objetivismo e na razão;
– A linguagem literária é bem simples;
– Os ideais de uma vida no campo são marcantes – vida bucólica tanto em relação à natureza e à mulher
amada;
– Autores: Cláudio Manoel da Costa (Obra poética), Santa Rita Durão (Caramuru), Basílio da Gama (O
Uruguai), Tomás Antonio Gonzaga (Cartas Chilenas e Marília de Dirceu).

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Arcadismo

  • 2. Arcadismo O Arcadismo, também conhecido como Setecentismo ou Neoclacissismo, é o movimento que compreende a produção literária brasileira na segunda metade do século XVIII. O nome faz referência à Arcádia, região do sul da Grécia que, por sua vez, foi nomeada em referência ao semideus Arcas (filho de Zeus e Calisto). Essa lendária região, é um lugar imaginado, que reina a felicidade, a simplicidade e a paz em um ambiente idílico habitado por uma população de pastores que vivem em comunhão com a natureza. Denota-se, logo de início, as referências à mitologia grega. Representação de Arcádia do pintor romântico Friedrich von Kaulbach.
  • 3. Arcadismo A principal característica desta escola é a exaltação da natureza e de tudo o que lhe diz respeito. Por essa razão muitos poetas do Arcadismo adotaram pseudônimos de pastores gregos ou latinos. Caracteriza-se ainda pelo recurso a esquemas rítmicos mais graciosos. Numa perspectiva mais ampla, expressa a crítica da burguesia aos abusos da nobreza e do clero praticados no Antigo Regime. Adicionalmente os burgueses cultuam o mito do homem natural em oposição ao homem corrompido pela sociedade, conceito originalmente expresso por Jean-Jacques Rousseau, na figura do “bom selvagem”
  • 4. Contexto histórico Profundas mudanças no contexto histórico mundial caracterizam o período, tais como a ascensão do Iluminismo, que pressupunha o racionalismo, o progresso e as ciências. Na América do Norte, ocorre a Independência dos Estados Unidos, em 1776, abrindo caminho para vários movimentos de independência ao longo de toda a América, como foi o caso do Brasil, que presenciou inúmeras revoluções e inconfidências até a chegada da Família Real em 1808. O movimento tem características reformistas, pois seu intuito era o de dar novos ares às artes e ao ensino, aos hábitos e atitudes da época. A aristocracia em declínio viu sua riqueza esvair-se e dar lugar a uma nova organização econômica liderada pelo pensamento burguês.
  • 5. Contexto histórico Europeu: marcado pela presença do Iluminismo, o início da Revolução Industrial na Inglaterra, a ascensão da burguesia, o despotismo esclarecido (forma de governo que atendia as necessidades de uma crescente classe burguesa, bem como aos princípios do Liberalismo econômico, que no caso português o representante era o Marquês de Pombal e foi fortemente evidenciado na epopéia O Uruguai , de Basílio da Gama). Brasileiro: marcado pela mineração, o deslocamento do eixo econômico colonial do nordeste para o sudeste, o aumento das pressões metropolitanas e a derrama, além do movimento inconfidente, que transformou as obras dos árcades brasileiros em singulares, pois possuíam forte consciência política.
  • 6. O Iluminismo foi um movimento intelectual que surgiu durante o século XVIII na Europa, que defendia o uso da razão (luz) contra o antigo regime (trevas) e pregava maior liberdade econômica e política. Este movimento promoveu mudanças políticas, econômicas e sociais, baseadas nos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. O Iluminismo tinha o apoio da burguesia, pois os pensadores e os burgueses tinham interesses comuns. As críticas do movimento ao Antigo Regime eram em vários aspectos como: - Mercantilismo (práticas econômicas praticadas na Europa na Idade Moderna); - Absolutismo monárquico; - Poder da igreja e as verdades reveladas pela fé. Iluminismo
  • 7. Iluminismo Com base nos três pontos citados, podemos afirmar que o Iluminismo defendia: - A liberdade econômica, ou seja, sem a intervenção do estado na economia. - O Antropocentrismo, ou seja, o avanço da ciência e da razão. - O predomínio da burguesia e seus ideais. As ideias liberais do Iluminismo se disseminaram rapidamente pela população. Alguns reis absolutistas, com medo de perder o governo - ou mesmo a cabeça -, passaram a aceitar algumas ideias iluministas. (Despotas Esclarecidos) John Locke, Voltaire, Jean-Jacques Rousseau e Denis Diderot: livre pensadores iluministas
  • 9. Arcadismo no Brasil Segundo o crítico Alfredo Bosi em seu livro História Concisa da Literatura Brasileira (São Paulo: editora Cultrix, 2006) houve dois momentos do Arcadismo no Brasil: a) poético: retorno à tradição clássica com a utilização dos seus modelos, e valorização da natureza e da mitologia. b) ideológico: influenciados pela filosofia presente no Iluminismo, que traduz a crítica da burguesia culta aos abusos da nobreza e do clero.
  • 10. Arcádia Ultramarina Trata-se de uma sociedade literária fundada na cidade de Vila Rica (MG), influenciada pela Arcádia italiana (fundada em 1690) e cujos membros adotavam pseudônimos, isto é, nomes artísticos, de pastores cantados na poesia grega ou latina. Por isso que alguns dos principais nomes do Arcadismo brasileiro publicavam suas obras com nomes inspirados na mitologia grega e romana.
  • 11. Principais características ● inspiração nos modelos clássicos greco-latinos e renascentistas, como por exemplo, em O Uruguai (gênero épico), em Marília de Dirceu (gênero lírico) e em Cartas Chilenas (gênero satírico); ● influência da filosofia francesa; ● mitologia pagã como elemento estético; ● tensão entre o burguês culto, da cidade, contra a aristocracia; ● pastoralismo: poetas simples e humildes; ● bucolismo: busca pelos valores da natureza; ● nativismo: referências à terra e ao mundo natural; ● tom confessional; ● estado de espírito de espontaneidade dos sentimentos; ● exaltação da pureza, da ingenuidade e da beleza.
  • 12. Termos em latim O uso de expressões em latim era comum no neoclacisssimo. Elas estavam associados ao estilo de vida simples e bucólico. Conheça algumas delas: Inutilia truncat: "cortar o inútil", referência aos excessos cometidos pelas obras do barroco. No arcadismo, os poetas primavam pela simplicidade. Fugere urbem: "fugir da cidade", do escritor clássico Horácio; Locus amoenus: "lugar ameno", um refúgio ameno em detrimento dos centros urbanos monárquicos; Carpe diem: "aproveitar a vida", o pastor, ciente da efemeridade do tempo, convida sua amada a aproveitar o momento presente. Cabe ressaltar, no entanto, que os membros da Arcádia eram todos burgueses e habitantes dos centros urbanos. Por isso a eles são atribuídos um fingimento poético, isto é, a simulação de sentimentos fictícios.
  • 13. Cláudio Manuel da Costa (1729-1789) Também conhecido como o "guardador de rebanhos" Glauceste Satúrnio, Cláudio Manoel nasceu na cidade de Mariana (em MG). Estudou Direito em Coimbra, onde teve contato com as principais ideias do Iluminismo e, ao voltar para o Brasil, fundou da Arcádia Ultramarina em Vila Rica. Era um homem muito rico e de posses que influenciou a elite intelectual da época. Por ter participado da Inconfidência Mineira, foi preso e encontrado enforcado na cadeia em 1789. Os temas iniciais de sua obra giram em torno das reflexões morais e das contradições da vida com forte inspiração nos modelos barrocos. Posteriormente, dedicou-se à poesia bucólica e pastoril na qual a natureza funciona como um refúgio para o poeta que busca a vida longe da cidade e reflete as angustias e o sofrimento amoroso com sua musa inacessível Nise. Estes poemas fazem parte do conjunto intitulado Obras (1768). Cláudio Manoel também se dedicou à exaltação dos bandeirantes, fundadores de inúmeras cidades da região mineradora e desbravadores do interior do país e de contar a história da cidade de Ouro Preto no poemeto épico Vila Rica (1773). Cláudio Manoel da Costa, ilustrado por Newton Resende.
  • 14. Cláudio Manuel da Costa (1729-1789) Toda a sua criação literária de Cláudio Manuel da Costa está em Obras Poéticas, obra que reúne a produção lírica do poeta, e que dá início ao Arcadismo Brasileiro. Essa publicação marcou a fundação da Arcádia Ultramarina, uma instituição cultural onde os poetas se reuniam para escrever e declamar seus poemas. Soneto XCVIII Destes penhascos fez a natureza O berço em que nasci! Oh, quem cuidara Que entre penhas tão duras se criara Uma alma terna, um peito sem dureza! O eu lírico fala de sua terra natal (observe que as pedras - elemento típico da paisagem mineira - representam o berço do poeta) e sobre a sua própria maneira de ser (traços de personalidade). Apresenta duas ideias opostas (antítese): afirma que nasceu em um lugar de pedras duras, mas que tem a alma terna. Os elementos que identificam o cenário dizem respeito ao campo, à natureza e não à cidade (penhascos, pedras duras). É o princípio do “fugere urbem” (fuga da cidade) adotado pelos árcades. A linguagem simples e clara também é uma característica do Arcadismo.
  • 15. Cláudio Manuel da Costa (1729-1789) Poesia bucólica Sonetos X Eu ponho esta sanfona, tu, Palemo, Porás a ovelha branca, e o cajado; E ambos ao som da flauta magoado Podemos competir de extremo a extremo. Principia, pastor; que eu te não temo; Inda que sejas tão avantajado No cântico amebeu: para louvado Escolhamos embora o velho Alcemo. Que esperas? Toma a flauta, principia; Eu quero acompanhar te; os horizontes Já se enchem de prazer, e de alegria: Parece, que estes prados, e estas fontes Já sabem, que é o assunto da porfia Nise, a melhor pastora destes montes. Poesia épica Vila Rica Canto VI Levados de fervor, que o peito encerra Vês os Paulistas, animosa gente, Que ao Rei procuram do metal luzente Co'as próprias mãos enriquecer o erário. Arzão é este, é Este, o temerário, Que da Casca os sertões tentou primeiro: Vê qual despreza o nobre aventureiro, Os laços e as traições, que lhe prepara Do cruento gentio a fome avara.
  • 16. Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810) Nasceu na cidade de Porto, em Portugal, porém, filho de mãe portuguesa e pai brasileiro, vive parte da vida no Brasil. Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, muda para o Brasil para trabalhar como ouvidor e juiz. Aqui, pretendia se casar com a jovem Maria Dorotéia Joaquina de Seixas Brandão, sua musa Marília. No entanto, como participara da Inconfidência Mineira, é preso e levado para o Rio de Janeiro. Quando sai da prisão, muda-se para Moçambique, na África, onde casa com Juliana de Sousa Mascarenhas. Tomás Antônio Gonzaga é o pastor Dirceu, pseudônimo criado pelo poeta para seu conjunto de liras famosas intitulado Marília de Dirceu, publicadas em três partes nos anos de 1792, 1799 e 1812. Nessa obra, Dirceu é o pastor que cultiva o ideal da vida campestre, que vive entre ovelhas em uma choupana e aproveita o momento presente ao lado da amada Marília. Tomás Antônio Gonzaga, poeta árcade, ilustrado por artista desconhecido.
  • 17. Marília de Dirceu Lira I Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, Que viva de guardar alheio gado; De tosco trato, d’expressões grosseiro, Dos frios gelos, e dos sóis queimado. Tenho próprio casal, e nele assisto; Dá-me vinho, legume, fruta, azeite; Das brancas ovelhinhas tiro o leite, E mais as finas lãs, de que me visto. Graças, Marília bela, Graças à minha Estrela! Na primeira estrofe, o eu lírico faz um auto- retrato no qual se coloca como pastor, de acordo com as convenções arcádicas. Observe como o eu lírico, Dirceu, faz uma série de afirmações no sentido de estabelecer claramente a sua condição de superioridade social: ´´não sou vaqueiro que cuide do gado alheio, meu rosto não é grosseiro, nem queimado pela exposição às forças da natureza; tenho casa própria, moro nela, tenho bens de que me sustento (vinho, legume, fruta, azeite, leite, finas lãs)``, o que sugere tratar-se de ´´alguém``, um pastor abastado merecedor, portanto, do amor de Marília. Aqui encontramos a valorização dos bens materiais, conjugada com a presença da natureza como cenário poético. Quer dizer, a presença da ideologia burguesa, conjugada com o bucolismo e o pastoralismo que caracterizam o Arcadismo
  • 18. Marília de Dirceu Curiosidade: como aponta o crítico Alfredo Bosi em seu História Concisa da Literatura Brasileira (São Paulo: Cultrix, 2006), há uma mudança na cor dos cabelos de Marília, que ora são negros, ora dourados, como se pode observar nos trechos a seguir: Os seus compridos cabelos, que sobre as costas odeiam, são que os de Apolo mais belos, mas de loura cor não são. Têm a cor da negra noite; e com o branco do rosto fazem, Marília, um composto da mais formosa união. Em outra passagem, observa-se: Os teus olhos espelham a luz divina, a quem a luz do sol em vão se atreve; papoila ou rosa delicada e fina te cobre as faces, que são da cor da neve. Os teus cabelos sao uns fios d'ouro; teu lindo corpo bálsamos vapora.
  • 19. Marília de Dirceu Essa oscilação, segundo o crítico, demonstraria o compromisso árcade entre o real e os padrões de beleza do lirismo inspirado no poeta clássico Petrarca. Outra oscilação presente nos poemas é entre o pastor bucólico e o intelectual da cidade. Percebe-se, no entanto, uma mudança considerável no discurso do poeta, coincidindo com a época em que o autor esteve preso e passa a refletir sobre as angústias do aprisionamento, a justiça e o destino dos homens. Cabe ressaltar, no entanto, que, embora o conjunto de liras seja dedicado à amada Marília, em momento algum temos a voz da personagem idealizada. É apenas Dirceu quem discorre acerca dos seus sentimentos. Segundo alguns críticos literários, esse fato é um reflexo da sociedade patriarcal em que Gonzaga vivia, não permitindo que suas personagens pudessem expressar suas vozes.
  • 21. Cartas chilenas Por fim, Tomás Antônio Gonzaga também ficou conhecido por suas Cartas Chilenas, compostas por 13 poemas satíricos escritos antes da Inconfidência Mineira. Novamente, Gonzaga cria personagens e pseudônimos: aqui, Critilo assina as cartas e as envia para Doroteu. O conteúdo das "cartas" são críticas ao suposto governador do Chile (onde vive Critilo) Fanfarrão Minésio, uma referência ao governador de Minas Gerais Luís da Cunha Meneses. Veja um exemplo: Amigo Doroteu, prezado amigo, Abre os olhos, boceja, estende os braços E limpa, das pestanas carregadas, O pegajoso humor, que o sono ajunta. Critilo, o teu Critilo é quem te chama; Ergue a cabeça da engomada fronha Acorda, se ouvir queres coisas raras. (...) Ah! pobre Chile, que desgraça esperas! Quanto melhor te fora se sentisses As pragas, que no Egito se choraram, Do que veres que sobe ao teu governo Carrancudo casquilho, a quem rodeiam Os néscios, os marotos e os peraltas! Seguido, pois, dos grandes entra o chefe No nosso Santiago junto à noite. A casa me recolho e cheio destas Tristíssimas imagens, no discurso, Mil coisas feias, sem querer, revolvo. Por ver se a dor divirto, vou sentar-me Na janela da sala e ao ar levanto Os olhos já molhados. Céus, que vejo! Não vejo estrelas que, serenas, brilhem, Nem vejo a lua que prateia os mares: Vejo um grande cometa, a quem os doutos Caudato apelidaram. Este cobre A terra toda co’ disforme rabo.
  • 22. Santa Rita Durão (1722-1784) José de Santa Rita Durão nasceu em Cata-Preta, nas proximidades de Mariana em Minas Gerais. Estudou no Colégio dos Jesuítas no Rio de Janeiro até os dez anos, partindo no ano seguinte para a Europa, onde se tornaria padre agostiniano. Doutorou-se em Filosofia e Teologia pela Universidade de Coimbra e, em seguida, lá ocupou uma cátedra de Teologia. Durante o governo de Pombal, foi perseguido e abandonou Portugal. Trabalhou em Roma como bibliotecário durante mais de vinte anos até a queda de seu grande inimigo, retornando então ao país luso. Esteve ainda na Espanha e na França. Voltando a Portugal com a "viradeira" (queda de Pombal e restauração da cultura passadista), a sua principal atividade passou a ser a redação de Caramuru, publicado em 1781. Morreu em Portugal em 24 de janeiro de 1784.
  • 23. Caramuru (1781) Seu trabalho mais conhecido é o Caramuru (1781), cujo subtítulo, Poema épico do descobrimento da Bahia, remonta ao tempo em que os primeiros europeus chegaram ao Brasil e travaram contato com os nativos. Caramuru é o nome dado ao português Diogo Álvares Correia que passa a viver entre os índios Tupinambás após sobreviver a um naufrágio no litoral baiano. Considerado um herói "cultural", que ensina as leis e as virtudes aos "bárbaros" que aqui viviam, ganha o respeito dos índios ao disparar uma arma de fogo. Os índios, assustados, equiparam-no a Tupã e passam a respeitá-lo como uma entidade eviada. Ele se encanta com Paraguaçu, a bela índia de pele branca. Já instalado na tribo, Diogo percebe a possibilidade de difundir a fé cristã para os índios, doutrinando-os após ter encontrado uma gruta que se assemelharia a uma igreja.
  • 24. Caramuru (1781) Mais adiante, Diogo ajuda a resgatar a tripulação de um barco espanhol que havia naufragado e vê a possibilidade de retornar à Europa através da nau francesa que viera resgatar aquela tripulação. Parte, com Paraguaçu, deixando para trás as belas índias que haviam se apaixonado por ele, incluindo Moema, a mais bela, que atira-se ao mar em direção ao navio na tentativa de alcançar o seu amado. Ao chegar na Europa, Paraguaçu é batizada de Catarina, ambos são festejados e recebem as honras da realeza lusitana. O poema segue a estrututura dos versos camonianos (de Camões) e da epopeia clássica, com fortes influências da mitologia grega. Segue também com a divisão tradicional das epopeias: proposição, invocação, dedicatória, narração e epílogo. Conheça um trecho do poema épico em que é narrada a morte da índia Moema: Moema (1866), por Victor Meireles
  • 25. Canto VI XXXVII Copiosa multidão da nau francesa Corre a ver o espetáculo assombrada; E, ignorando a ocasião de estranha empresa, Pasma da turba feminil que nada. Uma, que às mais precede em gentileza, Não vinha menos bela do que irada; Era Moema, que de inveja geme, E já vizinha à nau se apega ao leme. XXXVIII "- Bárbaro (a bela diz), tigre e não homem... Porém o tigre, por cruel que brame, Acha forças amor que enfim o domem; Só a ti não domou, por mais que eu te ame. Fúrias, raios, coriscos, que o ar consomem. Como não consumis aquele infame? Mas apagar tanto amor com tédio e asco... Ah que o corisco és tu... raio... penhasco? (...) XLI Enfim, tens coração de ver-me aflita, Flutuar moribunda entre estas ondas; Nem o passado amor teu peito incita A um ai somente com que aos meus respondas! Bárbaro, se esta fé teu peito irrita, (Disse, vendo-o fugir), ah não te escondas! Dispara sobre mim teu cruel raio..." E indo a dizer o mais, cai num desmaio. XLII Perde o lume dos olhos, pasma e treme, Pálida a cor, o aspecto moribundo; Com mão já sem vigor, soltando o leme, Entre as salsas escumas desce ao fundo. Mas na onda do mar, que irado freme, Tornando a aparecer desde o profundo, - Ah! Diogo cruel! - disse com mágoa, E, sem mais vista ser, sorveu-se n’água.
  • 27. Basílio da Gama (1741-1795) Foi para o Rio de Janeiro, onde estudou no Colégio dos Jesuítas e era noviço quando os jesuítas foram expulsos do país. Exilou-se na Itália e filiou-se na Arcádia Romana, sob o pseudônimo de Termindo Sipílio. É preso por jesuitismo, em Lisboa, e enviado para Angola, livrando-se do exílio ao escrever um poema para a filha do Marquês de Pombal. Em 1769 publica o poema épico O Uruguai, criticando os jesuítas e defendendo a política do Marquês de Pombal que o transforma em oficial da Secretaria do Reino. A crítica recaía no fato de que os jesuítas não defendiam os índios, apenas pretendiam falsamente libertá-los e usar a mão de obra indígena para proveito próprio. O poema narra a luta dos portugueses contra os índios das Missões (instigados pelos jesuítas espanhóis) que se recusam a sair de suas terras, dando início aos conflitos conhecidos como as Guerra Guaranítica (1754-56). A crítica recai, principalmente, sobre o personagem Balda, padre jesuíta que encarna o mal. Corrupto e desleal, seduz uma índia e tem um filho com ela, Baldeta. Na aldeia moram também o chefe da tribo Cacambo e sua mulher Lindóia, casal que representa a força do guerreiro e a beleza e delicadeza da índia. Balda quer forçar Lindóia a se casar com Baldeta, enviando Cacambo para as batalhas na esperança de que o índio morra para uni-la a seu filho. José Basílio da Gama nasceu em 1741 na cidade de São José do Rio das Mortes, atual Tiradentes, em Minas Gerais. Falece em Lisboa no dia 31 de julho de 1795.
  • 28. O Uruguai (1769) No Canto II, Basílio da Gama relata o encontro entre os caciques Sepé Tiaraju e Cacambo com o comandante português Gomes Freire de Andrada, ocorrido às margens do rio Uruguai (chamado então de "Uraguai"). O comandante tenta estabelecer um acordo com os índios, sem sucesso, dando início aos combates. O cacique Sepé Tiaraju lidera a disputa e acaba morto. Cacambo, seu sucessor, é capturado e descobre que o perigo estava o tempo todo na mão dos jesuítas. Os portugueses, então, permitem que ele retorne a sua aldeia para alertar seus companheiros contra os perigos dos jesuítas. De volta, o valente guerreiro é envenenado por Balda e Lindóia, vendo-se forçada a casar com Baldeta, comete suicídio, deixando-se picar por uma cobra venenosa. Segundo o crítico literário Alfredo Bosi no estudo História Concisa da Literatura Brasileira (São Paulo: Cultrix, 2006), Basílio da Gama é o homem do fim do século XVIII "cujos valores pré-liberais prenunciam a Revolução e se manteriam com o idealismo romântico". Assim, pode-se dizer que O Uruguai prenuncia muitos dos aspectos que serão desenvolvidos durante o movimento do Romantismo.
  • 29. Características principais do poema - exaltação da natureza e do "bom selvagem", atribuíndo aos jesuítas a culpa pelo envolvimento dos índios na luta; - rompimento da estrutura poética camoniana; - inovação no gênero épico: versos decassílabos brancos, isto é, sem rima, sem divisão de estrofes e divididos em apenas cinco cantos; - ao contrário da tradição épica, o poema conta um acontecimento recente na história do país; - inicia o poema pela narração; - discursos permeados por ideias iluministas.
  • 30. A cena da morte de Lindóia mostra as características típicas do movimento árcade: Canto IV (...) Cansada de viver, tinha escolhido Para morrer a mísera Lindóia. Lá reclinada, como que dormia, Na branda relva e nas mimosas flores, Tinha a face na mão, e a mão no tronco De um fúnebre cipreste, que espalhava Melancólica sombra. Mais de perto Descobrem que se enrola no seu corpo Verde serpente, e lhe passeia, e cinge Pescoço e braços, e lhe lambe o seio. Fogem de a ver assim, sobressaltados, E param cheios de temor ao longe; E nem se atrevem a chamá-la, e temem Que desperte assustada, e irrite o monstro, E fuja, e apresse no fugir a morte. Porém o destro Caitutu, que treme Do perigo da irmã, sem mais demora Dobrou as pontas do arco, e quis três vezes Soltar o tiro, e vacilou três vezes Entre a ira e o temor. Enfim sacode O arco e faz voar a aguda seta, Que toca o peito de Lindóia, e fere A serpente na testa, e a boca e os dentes Deixou cravados no vizinho tronco. Açouta o campo co’a ligeira cauda O irado monstro, e em tortuosos giros Se enrosca no cipreste, e verte envolto Em negro sangue o lívido veneno. Leva nos braços a infeliz Lindóia O desgraçado irmão, que ao despertá- la Conhece, com que dor! no frio rosto Os sinais do veneno, e vê ferido Pelo dente sutil o brando peito. Os olhos, em que Amor reinava, um dia, Cheios de morte; e muda aquela língua Que ao surdo vento e aos ecos tantas vezes Contou a larga história de seus males. Nos olhos Caitutu não sofre o pranto, E rompe em profundíssimos suspiros, Lendo na testa da fronteira gruta De sua mão já trêmula gravado O alheio crime e a voluntária morte. E por todas as partes repetido O suspirado nome de Cacambo. Inda conserva o pálido semblante Um não sei quê de magoado e triste, Que os corações mais duros enternece Tanto era bela no seu rosto a morte!
  • 31. Quem foi Sepé Tiaraju? Importante personagem na história do país, o Sepé Tiaraju é retratado em O Uruguai como um guerreiro defensor de seu território na tentativa de impedir que os portugueses se apropriassem de suas terras e de seus gados. Morto em batalha, quando lutava contra a decisão que dava as terras aos portugueses, o índio é considerado um herói nacional, sendo nomeado "herói guarani missioneiro rio-grandense", e também santo popular por alguma religiões brasileiras. Desenho representando o índio guerreiro Sepé Tiaraju
  • 32. Resumo O Arcadismo: século XVIII CONTEXTO HISTÓRICO - Iluminismo; - Lutas pela independência do Brasil. CARACTERÍSTICAS - Modelo greco-romano e renascentista; - Mitologia pagã; - Pastoralismo, nativismo, bucolismo; - Expressões em latim. PRINCIPAIS AUTORES - Claudio Manoel da Costa; - Tomás Antônio Gonzaga; - Basílio da Gama; - Santa Rita Durão.
  • 33. Trecho do filme "Os inconfidentes" (1972) Cláudio Manuel Da Costa e Tomás Antônio Gonzaga recitam seus poemas.
  • 35. Quinhentismo Trata-se de uma denominação comum, de todas as manifestações da literatura que ocorreram durante o séc. XVI no Brasil. Na realidade não passaram da inserção da cultura da Europa em nossas terras. – O destaque é para o Padre José de Anchieta (representante da literatura jesuíta ou de catequese); – Outra personalidade marcante é Pero Vaz de Caminha (o escrivão da frota de Pedro Álvares de Cabral); – A literatura da época é considerada a literatura de Informação, sendo bastante descritiva em relação às condições geográficas e culturais.
  • 36. Barroco Esta escola é marcada por inserir a poesia camoniana e por seus conflitos. Perdura pelo século XVII e início do século XVIII. – Contradições e conflitos espirituais são marcantes; – As obras relatam o as angústias tratadas pelo mundo material em oposição ao espiritual; – Aleijadinho marca este período com suas esculturas; – Autores marcantes: Bento Teixeira (com a Prosopopeia), Gregório de Matos (Boca de Inferno), e Padre Antônio Vieira (com Sermão da Sexagésima e Sermão de Santo Antônio ou dos Peixes).
  • 37. Arcadismo O Arcadismo é também considerado Neoclassicismo e marca o século XVIII. – Como característica marcante está a ascensão da burguesia e de seus valores políticos e culturais; – A escola barroca é deixada de lado e então, o foco passa a ser no objetivismo e na razão; – A linguagem literária é bem simples; – Os ideais de uma vida no campo são marcantes – vida bucólica tanto em relação à natureza e à mulher amada; – Autores: Cláudio Manoel da Costa (Obra poética), Santa Rita Durão (Caramuru), Basílio da Gama (O Uruguai), Tomás Antonio Gonzaga (Cartas Chilenas e Marília de Dirceu).