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ATE ONDE O QUE
VOCÊ SABE SOBRE
O BEHAVIORISMO
É VERDADEIRO?RKSPONlHuNlM) AS PRINC IPAIS
C R Í T I C A S D IR KClOiNADAS
AO HKIIAV'lORlSMO OK SK1.NNKR
Nazaré Costa
oi^anim dora
Alia nu Uiheiro l*oi <o
Amlrc/a Machado
In c id i r e m i r a Soa ri s da Silva
Kercya liernardes l*inlo Bandeira
Líia IVriianda l-erreira 1'erra/
l.uciane da ('osla Harros
Ludim ar Santos Vieira
Nádia Pra/ercs Pinheiro
Simotic dos Sanlos ('o n v a
Suane Maria Marinho Sá
laviian Marques liandeira
Viviane Pereira dos Sanlos
ESETec
Até Onde O Que Você Sabe Sobre O
Behaviorismo É Verdadeiro? Respondendo As
Principais Críticas Direcionadas
Ao Behaviorismo De Skinner
Até Onde O Que Você Sabe Sobre
O Behaviorismo É Verdadeiro? Respondendo As
Principais Críticas Direcionadas
Ao Behaviorismo De Skinner
Nazaré Costa
Organizadora
Aliana Ribeiro Porto
Andreia Machado
Ingrid Ferreira Soares da Silva
Kercya Bernardes Pinto Bandeira
Lívia Fernanda Ferreira Ferraz
Luciane da Costa Barros
Ludimar Santos Vieira
Nádia Prazeres Pinheiro
Simone dos Santos Corrêa
Suane Maria Marinho Sá
Taynan Marques Bandeira
Viviane Pereira dos Santos
ESETec
Editores Associados
2004
Copyright desta edição:
ESETec Editores Associados. Santo André. 2004.
Todos os direitos reservados
Costa, Nazaré.
Até Onde O Que Você Sabe Sobre O Behaviorismo É Verdadeiro?
Respondendo As Principais Criticas Direcionadas Ao Behaviorismo De Skinner
- Org Nazaré Costa. 1*ed. Santo André. SP: ESETec Editores Associados, 2004.
80 p. 21cm
1 Behaviorismo Radical
2. Skinner
3. Comportamento Humano
ISBN- 85- 88303- 47-7
ESETec Editores Associados
Solicitação de exemplares: comercial:aesetec.com.br
Td.<11)4990-5683
Telfex: (11)4438-6866
www.esetec.com.br
“Com todas as minhas fraquezas criei um
mundo no qual todas as coisas
que faço são positivamente reforçadoras. Eu
reconstruí um mundo
no qual posso me conduzir bem "
B.F.Skjnner, 1990
Para meus sobrinhos Xfaick e Maytta que representam
os filhos que ainda não me disponibilizei ter.
Vocês são muito importantes para mim!
Agradecimentos
Aos alunos-autores que aceitaramo desafio e se dedicaram
ao livro, em especial àqueles que estiveram comigo até o fim.
Aos alunos em geral para os quais escrevo,
Ao Hugo Leonardo, que tem tomado
minhavidamais reforçadora.
Ao Olavo Galvào pela disponibilidade de lero material e
tecer comentários sobre o mesmo,
À Teca, que mais umavez confiou emmeu trabalho!
Apresentação
Mais um livro. Agora como idealizadora. orientadora e organizadora. Mais um
sonho realizado!
Este livro possui uma história longa, considerando sua idealização, mas curta
partindo do momento que os autores se engajaram no projeto - junho de 2003.
A história deve ter tido seu inicio por volta de 1997 quando fazia parte de um
grupo de estudos em Belém e propus aos componentes do mesmo responder as vinte
críticas apresentadas por Skinnerno livro Sobre o Behaviorismo. A idéia era responder as
críticas de forma clara, simples e direta para que mais pessoas tivessem acesso ao pensa­
mento skinneriano. uma vez que a leitura de Skinner, embora imprescindível para os
analistas do comportamento, nem sempre se mostra compreensível e prazerosa, sobretu­
do. para iniciantes.
Como naquelaépoca o grupo não levou o projetoà frente e continuei consideran­
do relevante executá-lo. apresentei a proposta ao Grupo de Estudos em Análise do Com­
portamento (GEAO. criado por mim em janeiro de 2003 na Universidade Federal do
Maranhão, e este. depronto, aceitou. Ogrupoé totalmente formadoporalunose ex-alunos,
sendo este um dos aspectos inovadores do livro - um livro escrito quase completamente
por alunos de graduação, na sua maioria do 6 ° semestre de Psicologia, quando iniciaram a
escrita de seus capítulos.
Como no projeto original, o objetivo do livro consiste em responder criticas
freqüentes dirigidas ao B ehav iorismo de Skinner. Por isso, a orientação dada aos autores
foi a de que redigissem seus argumentos usando ao máximo o próprio Skinner. A idéia
então é mostrar que de fato Skinner deu. no mínimo, alguma atenção a tópicos que os
críticos alegam que ele negligenciou e que os mesmos sustentam afirmações equivocadas
a respeito das proposições skinnerianas.
O livro, em última instância, busca divulgar as idéias de Skinnertais quais ele as
apresentou, como uma forma de valorização do seu trabalho tão erroneamente criticado,
embora pontos da proposta de Skinner atualmente sejam alvo de criticas pelos próprios
analistas do comportamento que se propõem a ir além do legado deixado pelo autor.
Sabe-se que o livro de Skinner Sobre o Behaviorismo teve como objetivo
exatamente responder as 2 0 criticas mais freqüentes que são feitas ao Behaviorismo
Radical. Deste modo. cabe a pergunta - O que distingue esta proposta dajá existente? A
distinção reside no fato do livro ser escrito para o público leigo e/ou iniciante em Psico­
logia. Assim, nada mais adequado para a realização desta tarefa do que contar com a
participação dos próprios alunos que tiveram e que ainda possuem dificuldades em
compreender certos textos e colocações de Skinner.
No que se refere à estrutura, o livro seguirá a seqüência das críticas que Skinner
enumera emSobreoBehaviorismo (com exceção dacritica que afirmaque o Behaviorismo
desumaniza o homem, que constituirá o último capitulo), sendo que algumas foram
agrupadas em função da possibilidade de relacioná-las. Então, ao invés do livro ser
constituído de 2 0 capítulos, como era de se esperar, ele foi dividido em 16, como mostra
o sumário. As criticas foram transformadas em questionamentos, tendo, por este motivo,
11
sido mantidas as mesmas palavras e expressões do material de Skinner. Cada uma das
criticas tomou-se o titulo dos capítulos.
Cabe ainda ressaltar que houve escolha e sorteio, quando havia coincidência de
interesse, quanto à critica a ser trabalhada pelos autores. As criticas que restaram foram
distribuídas entre os dois estagiários de clinica analitico-comportamental e eu, sendo que
ao longo do processo algumas desistências ocorreram e novas divisões de capítulos foram
feitas, considerando, sobretudo a disponibilidade para escrever um outro capítulo em um
tempo mais curto.
Como deve ser o propósito de qualquer autor ou organizador, espero que a
meta do livro seja alcançada e queele seja mais uma contribuiçãono sentido de divulgaras
proposições de Skinner, do modo como ele as defendeu, e não de maneira equivocada e
distorcida como muitos ainda apresentam em livros e em sala de aula. Considero ser uma
postura ética de um professor-formador falar de forma limitada de autores com os quais
não se identifica e não possui familiaridade, apontando isto, e não deturpando e ou
afirmando inverdades.
Estou imensamente feliz por estar tendo a oportunidade de dividir este sonho
com alunos com os quais tive o prazer de trabalhar na universidade e futuros analistas do
comportamento (espero!), além de estar iniciando os mesmos, em grande estilo, no
mundo científico - produzindo e divulgando conhecimento.
As sementes que plantei já estão produzindo frutose muitos delesjá se encon­
tram bem amadurecidos. Este é o reforço positivo mais potente para a manutenção de
meus comportamentos enquanto professora. Estou tranqüila por saber que a Análise do
Comportamento mudou a “cara" da Psicologia em São Luís e que a tendência é que seus
seguidores afetem positivamente ainda mais este ambiente.
Sazaré
Agosto de 2003
Sumário
I O B e h a v io r ism o ig n o r a a c o n s c iê n c ia , o s s e n t im e n t o s e o s est a d o s
MENTAIS, NÃO ATRIBUINDO QUALQUER PAPEL AO EU OU A CONSCIÊNCIA DO
Eli? Luciane da Costa Barros....................... .............................. ............. 15
D O B e h a v jo r is m o n e g l ig e n c ia d o n s in a to s e a r g u m e n t a q l e t o d o c o m ­
po r t a m e n t o é a d q u ir id o d u r a n t e a v id a d o in d iv íd u o ?
Lhia Fernanda Ferreira Ferraz......... ....................................................... 19
III O B e h a v io r ism o a p r es en ta o c o m p o r t a m e n t o sim p l e s m e n t e c o m o u m
c o n ju n t o d e r e spo st a s a e s t ím u l o s , d e s c r e v e n d o a pe s s o a c o m o u m
a u t ô m a t o , u m r o b ô , u m fa n t o c h e o u u m a m á q u in a ?
Sadia PrazeresPinheiro.......................................................................... 23
IV O B eh a v io r ism o NÃO ten ta e x p l ic a r o s p r o c e s s o co g n ittv o s?
Ihiane Pereira dos Sanlos.......................................................................... 27
V O B e h a v io r ism o n ã o c o n s id e r a a s in t e n ç õ e s o u o s pr o p ó s it o s ?
Nádia Prazeres Pinheiro............................................................................. 29
1 O B e h a v io r js m o n ã o c o n s e g u e e x p l ic a r a s r e a l iz a ç õ e s c r ia tiv a s - na
ARTE, POR EXEMPLO, OU NA MÚSICA, NA DE LITERATURA, NA CIÊNCIA OU NA
MATEMÁTICA?
Taynan Marques Bandeira........................................................................... 33
VII O B ehav io r is m o é n e c e s s a r ia m e n t e s u p e r f ic ia l e n ã o c o n s e g u e l id a r
c o m a s p r o f u n d e z a s d a m e n t e o u d a p e r s o n a l id a d e ?
Suane Maria Marinho S á............................................................................ jj
VTII O B e h a v io r ism o limtta- se â pr e v is ã o e a o c o n t r o l e d o c o m po r t a m en to
E NÃO APREENDE O SER, OU A NATUREZA ESSENCIAL DO HOMEM?
Andrezza M achado....................................................................................... 41
IX O B ehav io r is m o t r a b a l h a c o m a n im a is , p a r tic u la r m e n t e c o m r a to s
BRANCOS, MAS NÃO COM PESSOAS, E SUA VISÃO DO COMPORTAMENTO HUMANO
ATEM-SE, POR ISSO, ÀQUELES TRAÇOS QUE OS SERES HUMANOS E OS ANIMAIS
TÊM EM COMUM?
Ludimar Santos Vieira.................................................................................. 45
X O B e h a v io r is m o t r a s r e su l t a d o s o b t id o s n a s c o n d iç õ e s c o n t r o l a d a s
DE UM LABORATÓRIO, NÃO PODENDO SER REPRODUZIDOS NA  IDA DLÁRLA, E
AQUILO QUE ELE TEM A DLZER ACERCA DO COMPORTAMENTO HUMANO NO
MUNDO MAIS AMPLO TORN A-SE. POR ISSO UMA METACIÈNCIA NÃO COMPROVA­
DA. APEN AS CULTUANDO OS MÉTODOS DA CIÊNCI A. MAS NÃO É CIENTIFICO?
A liana Ribeiro P orto.................................................................................... 49
13
XI O Beh a v io r ism o é s u p e r s im p u s t a e in g ê n u o e s e u s fa to s s ã o o u TRIVIAIS
OU JÁ BEM CONHECIDOS, SENDO QUE SUAS REALIZAÇÕES TECNOLÓGICAS PO­
DERIAM TER SIDO OBTIDAS PELO SENSO COMUM?
Nazaré Costa, Taynan Marques Bandeira e Viviane Pereira dos Santos 51
XII O B e RWTORISMO CONSIDERA q u e SUAS ALEGAÇÕES SE APLICAM AO PRÓPRIO
CIENTISTA BEHAVKHUSTA? ASSIM SENDO. O BEHAVIORISTA DIZ APENAS AQUI­
LO QUE FOI CONDICIONADO A DIZER E QUE NÃO PODE SER VERDADEIRO?
Nazaré Costa............................... ............................................................ 55
XIII O B e h a v io r is m o só s e in t e r e s s a p e l o s p r in c íp io s g e r a is e po r is s o
NEGLIGENCIA A UN1CTDADE DO INDIVIDUAL?
IngridFerreira Soares da Silva............................................................. 57
XIV O B eh a v io r is m o é n e c e s s a r ia m e n t e a n t id e m o c r á t ic o po r q u e a r e l a ­
ç ã o e n t r e e x p e r im e n t a d o r e o s u je it o ê d e m a n ip u l a ç ã o e s e u s r e s u l ­
t a d o s p o d e m , p o r e ssa r a z ã o , s e r u s a d o s p e l o s d it a d o r e s e n ã o pe l o s
h o m e n s d e b o a v o n t a d e ?
Simone Corrêa......................................................................................... 61
XV O B e h a v io r is m o e n c a r a a s id é ia s a b s tr a ta s, t a is c o m o m o r a l id a d e e
ju s t iç a c o m o f ic ç õ e s ?
Kercya Bemardes Pinto Bandeira.......................................................... 57
XVI O B e h a v io r is m o d e s u m a m z a o h o m e m , r e d u z in d o e d e s t r u in d o o h o ­
m e m e n q u a n t o h o m e m , s e n d o in d if e r e n t e a o c a l o r e à r iq u e z a d a
v id a h u m a n a , e in c o m pa tív el c o m o g o z o d a a r t e , d a m ú s ic a , d a l it e ­
r a t u r a e c o m o a m o r a o p r ó x im o ?
Ingridi Ferreira Soares da Silva. Kercya Bemardes Pinto Bandeira
e SuaneMaria MarinhoSá...................................................................... 7]
R eferên cia s
A p ê n d ic e ......
oid
CaUTUjO[
O Behaviorismo ignora a consciência,
os sentimentos e os estados mentais, não
atribuindo qualquer papel ao eu ou a
consciência do eu?
Luciane da Costa Barros
O Behaviorismo é comumcnte mal interpretado devido à suapreocupação com
o rigorcientífico. Umdos maioresequívocos está na falsa concepçãodequeo Behaviorismo
ignora os sentimentos, a consciência e os estados mentais (Skinner, 2003).
Inicialmente, entre os anos de 1930 e 1944, os estudos de Skinner estavam
voltados para os comportamentos publicamente observáveis. Foi em 1945, ano que é
considerado o marco de inicio do Behaviorismo Radical, que Skinnerincluiu a análise da
subjetividade em seus trabalhos (Costa. 2002).
Para explicara subjetividade. Skinner(1990)recorre às contingências ambientais
que. segundo ele, atuam nos níveis filogenético. ontogenético e cultural - níveis de deter­
minação do comportamento que serão abordados nos capítulos 2 e 3.
A subjetividade é denominada, por Skinner, de eventos privados que, além de
cnghbar os comportamentos encobertos(acessíveis diretamenteapenasao próprio indiví­
duo), inclui os estímulos internos(condiçãocorporal e respostaemocional) (Skinner, 1998).
Skinner trata a subjetividade ou eventos privados do mesmo modo que os
comportamentos públicos, pois, para os behavioristas. cognição, estados mentais e
emoção são comportamentos e, como tais, são funções do ambiente - sendo ambiente
entendido como tudo que ocorre no universo que é capaz de afetar o organismo
(Skinner, 1998).
A condição corporal (dor, frio, fome) e a resposta emocional (raiva, tristeza,
alegria) são partes do universo que afetam o indivíduo. Entretanto, os estímulos internos
não são autônomos, pois estão sempre atrelados a um evento extemo antecedente. O
Behaviorismo Radical recorre sempre ao ambiente extemo para explicar o comportamen­
to. rejeitando as concepções intemafistas que recorrem ao próprio indivíduocomo tenta­
tiva de explicar o comportamento (Tourinho, 1997).
15
Em Ciência e Comportamento Humano (1998), Skinner fala da vida privada
como aquela que é construída na relação do individuo com a comunidade verbal perten­
cente ao seu meio cultural. Por isso. para compreender e analisara subjetividade é preciso
investigar o contexto ao qual está relacionada.
No processo de instalação dos eventos privados no repertório comportamontai
do indivíduo, é preciso que ele se comporte publicamente e que a comunidade verbal o
ensine a discriminar e nomear o evento privado. Por exemplo, uma criança que está
com dor de barriga provavelmente colocará amão na barriga com expressões faciais de
dor (rosto franzido). Isso permitirá que outra pessoa responda discriminativamente e
diga para ela que o que está sentindo é dor de barriga. Nesse sentido. Skinner <1998)
argumenta que todo comportamento antes de ser privado deve ser apresentado publi­
camente.
Contudo, com palavras que designam sentimentos, o aprendizado não ocorre
de maneira tão fácil, pois os comportamentos que são expressos publicamente quase
nunca coincidem com o que se passa no mundo privado. As palavras que uma pessoa
utiliza para responder o que está sentindo foram adquiridas através da comunidade
verbal, e esta não sabia exatamente o que ela estava sentindo (Skinner. 2002).
Skinner (2002) mostrou que as palavras aprendidas para expressar sentimen­
tos começaram com metáforas, como uma forma de mostrar o que se passava internamen­
te através de algo público que fosse semelhante; por exemplo, uma pessoa que se sente
traida compara tal sentimento com um punhal enfiado no peito. Houve uma transferência
do público para o privado.
Numa análise do comportamento, segundo Skinner (2002), não precisamos
utilizar os nomes que designam sentimentos se pudermos acessardiretamente os eventos
públicos que causaram tais eventos privados. Ao invés de dizer que alguém está deprimi­
do, podemos dizer que não existe nada de reforçador no ambiente desse indivíduo.
Isso não significa queo Behaviorismo não leva em consideração os sentimentos.
O que o Behaviorismo não aceita sãoos eventos privados como determinantesdo compor­
tamento; eles não são aceitos como causa pois, como foi afirmado anteriormente, existe
sempre um evento extemo antecedente (Skinner, 2003). Para ilustrar, costumamos dizer
quea raivaé o que nos motivaa “brigar”com alguém, mas ninguém fica com raiva sem que
algoextemoao sujeitotenhaocorrido antes detal eventoprivado, como umabatidadecarro,
uma ofensa proferida ou um dia com temperatura excessivamente elevada.
É fácil atribuir a causa do comportamento aos sentimentos porque estes ocor­
rem ao mesmo tempo em que estamos nos comportando ou mesmo antes de nos compor­
tarmos. formando um elo na cadeia comportamental (Skinner, 2 0 0 2 ).
Skinner (2002) esclarece outro ponto que facilita esse engano - o fato de. na
maioria das vezes, as pessoas não estarem conscientes das contingências ambientais que
estão controlando seus comportamentos.
Considerando que a crítica inclui a não-atribuição de papel à consciência, faz-se
necessário elucidar de um modo mais especifico como a consciência é vista pelo
Behaviorismo Radical.
1 Afirma-se qoe um orgamsmo dvscrômTs»ctstç áots ou -na» «trm uk» quando eic se ceroçiorta difercTWTnerr.ena
presença de cada um detaes cHnuuk» <Whotfeye Malkx. 1980*}.
: O cooccito <fcestimule nrfançador será apresentado no capitulo III.
16
C aUtia o I
Skinner (1998) aborda a consciência como a capacidade que o ser humano tem
de descrever seu comportamento, identificando a sua relação com as variáveis que o
determinam.Ter consciência ou estar consciente refere-se então ao mestno fenômeno - a
capacidade que uma pessoa tem de falar sobre o seu comportamento. Quando isso é
possível, podemos dizer que tais atos ou comportamentos são conscientes (Baum. 1999).
O comportamento de falartambém pode ser consciente ou não. Será consciente
quando a pessoa que se comportou for capaz de repetir o que foi dito (Baum. 1999).
Entretanto. Skinner (1998) revela que. na maioria das vezes, o homem é inca­
paz de reconhecer tais variáveis, pois estas podem ser sutis a ponto de não despertarem
a atenção do indivíduo. Da mesma forma, pode não haver uma razão específica para que
este indivíduo se comporte discriminativamente a ponto de tomar consciência daquela
relação. Além disso, as variáveis que nos afetam são muitas e discriminar sob controle de
qual delas estamos nos comportando não é uma tarefa fácil.
Em síntese, quando nos comportamos ou quando estamos aprendendo um com­
portamento. não nos damos conta do processo como um todo. o que tem como conseqüên­
cia a atribuição da função de originador do comportamento a um agente interno - o EU -
referindo-se ao próprio homem como responsável pelo comportamento (Skinner, 1998).
Quando as concepções intemalistas’ referem-se a um EU como o causador de
uma ação. esse EU não coincide com o organismo físico. E como se o corpo apenas se
comportasse, mas quem o dirige é o EU, e não importa se esse EU é inconsistente (que
muda de um momento pra outro), pois um único EU é capaz de comportar diferentes
ações (Skinner, 1998).
Para Skinner (1998), o conceito de EU não é essencial em uma análise do
comportamento porque ele se baseia nas variáveis ambientais. Considera o EU um mero
artifício para simplificar a relação funcional “causa e efeito’', já que trabalhar com os
dados ambientais exige uma explicação de como se dá as relações entre eles.
A concepção behaviorista de EU, que nada se assemelha às concepções
intemalistas. revela que o EU está relacionado com a cultura na qual os repertórios
comportamentais vão ser instalados em cada indivíduo a partir da sua interação com o
ambiente. De acordo com as variáveis ambientais, o indivíduo aprenderá a se comportar
de diferentes maneiras em diferentes situações (Skinner, 1998).
O que se tomará próprio de cada indivíduo será a forma como se comportará
diante de uma dada situação, visto que a história de reforçamento se diferencia de pessoa
para pessoa. Em suma. o EU não é um agente interno ao homem e causador de uma ação,
mas sim comportamentos instalados a partir da história de reforçamento do indivíduo em
interação com o meio cultural.
Podemos perceber claramente, ao longo de todo o capitulo, a ênfase que o
Behaviorismo dá ao ambiente, mas isso não torna as criticas dirigidas a ele pertinentes. O
Behaviorismo Radical atribui ao EU e a subjetividade (eventos privados) o lugar de ser
efeito do ambiente e dos comportamentos que ele produz, e não o de ser causa. Os
eventos privados podem fazer parte de uma cadeia de comportamento, mas não o deter­
minam. O estimulo que produz o comportamento é sempre ambiental externo. Logo, não
há gravidade alguma em deixar de atribuir ao EU, ou aos eventos privados, o papel de
causador do comportamento já que somos a todo o momento afetados pelo ambiente.
3 Aquelas que explicam o fenômeno comportamentai através do que ocorre no interior do indivíduo.
17
C apitulo II
O Behaviorismo negligencia dons
inatos e argumenta que todo
comportamento é adquirido durante a
vida do indivíduo?
Lívia Fernanda Ferreira Ferraz
A critica parece estar enfocando duas questões: 1) todo comportamento, para
umbehaviorista radical, éum fenômeno aprendidodurantea ontogênesee 2 )o behaviorísta,
então, não acredita na possibilidade de alguns indivíduos nascerem com aptidões, por
exemplo, para dança, música. literatura etc.
Em relação à primeira questão, pode-se argumentar que não é verdadeira na
medida em que Skinner explica os comportamentos a partir do modelo de seleção por
conseqüências, que é constituído por três niveis de determinação (Andery, 1993).
No primeiro nível, influenciado pela teoria danvinista. Skinner postula que
existem respostas que são selecionadas pelas contingências de seleção natural, ou melhor,
selecionadas filogenicamente. Deste processo surgiram os comportamentos ou dons ina­
tos. eventos que foram selecionados a partir da evolução das espécies (Andery. 1993).
“A corte, o acasalamento, a construção de ninhos e os cuidados com as crias são coisas
que os organismos fazem e. mais uma vez. presume-se que fazem por causa da maneira
porque evoluíram’’(Skinner, 2003, p. 34).
E importante ressaltar que os comportamentos selecionados por contingências
de seleção filogenética permitem a interação da espécie humana com o mundo, garantindo
sua sobrevivência (Andery, 1993). Sobre isto afirma Skinner (1998),
Eslas vantagens biológicas explicam certos reflexos em um sentido evolutivo:
os indivíduos que provavelmente mais se comportarem de maneira seme­
lhante. presumivelmente tiveram maiores probabilidades de sobreviver e
transmitir a característica adaptativa ã prole (p.60).
Mas a explicação skinneriana para a aquisição dos comportamentos não se
restringe ao primeiro nível de seleção. O segundo nível opera sobre o conjunto de respos­
19
tas no decorrer do período de vida de um indivíduo e o terceiro ocorre à medida que o
comportamento é transmitido entre indivíduos (Andery, 1993).
A explicação de comportamentos adquiridos durante a história particular do
índivíduo vem do segundo nível de seleção por conseqüência, postulado por Skinner - a
ontogénese.Neste processo, a seleção opera sobre o comportamento(ação)do indivíduo;
0 organismo se comporta gerando conseqüências, que por sua vez. controlarão a emissão
do comportamento no futuro. Skinner (1998) em seu livro Ciência e Comportamento
Humano afirma: “As conseqüências do comportamento podem retroagir sobre o organis­
mo. Quando isso acontece, podem alterar a probabilidade de o comportamento ocorrer
novamente” (p. 65).
Segundo Skinner(1998). o aumento na probabilidade de ocorrência do compor­
tamento está relacionado cora a atuação de reforçadores1, que por sua vez. funcionam
como instrumento de seleção. **Quando temos de considerar o comportamento do orga­
nismo em toda sua complexidade da vida diária, necessitamos estar constantemente
alertas para os reforços que prevalecem e que mantém o comportamento” (Skinner, 1998,
p. 109). Isto quer dizer que» durante a vida do indivíduo, existem comportamentos que
são fortalecidos por suas conseqüências, ou seja. são instalados e mantidos no repertório
comportamental do indivíduo mediante a ação de reforços (Skinner, 2003).
Além dos comportamentos inatos e dos comportamentos adquiridos pela ação
do reforço sobre o comportamento do indivíduo, existem também repertórios
comportamentais instalados e mantidos pelas práticas culturais (Andery, 1993; Skinner.
1998). Trata-se do terceiro nível de seleção por conseqüência, a cultura, que segundo
Skinner (1998) vem a ser “um conjunto particular de condições no qual um grande
número de pessoas se desenvolve e vive” (p. 468).
Este grupo ou este conjunto de contingências sociais dispõe de costumes e
relações que nunca foram experimentadas ou vistas pelo indivíduo, porém são eventos
que o afetam, permitindo a aquisição de comportamentos, seja em nível privado (pen­
samentos e sentimentos) como também públicos, como, por exemplo, o manuseio de
objetos e aprendizagem de habilidades sociais (Andery, 1993; Skinner, 1998).
Vimos, portanto, que Skinner, respaldadopelo modelo de seleçãopor conseqü­
ências. não explica a aquisição dos comportamentos partindo somente da história devida
particular do indivíduo, incluindo em sua análise tanto conseqüências filogenéticas quan­
to culturais.
E no que se refere à negligência aos dons inatos? Skinner, na verdade, não
negligencia aspectos inatos. Ele nega a existência de “dons”, eqüivalendo a comportamen­
tos que independem da relação que cada pessoa estabelece com seu ambiente.
Para Skinner, como visto no primeiro nível de seleção, existem comportamen­
tos os quais a espécie já traz em função de sua história filogenética. Deste modo, dons
inatos são os que dizem respeito a aspectos genéticos, se referindo apenas a característi­
cas anatômicas e atividades fisiológicas (respiração e digestão) presentes na espécie
humana, como também comportamentos reflexos5 (Skinner, 2003).
1 Estímulos que aumentam a probabilidade futura de um comportamento, como será mais detalhado no prmjmo
capitulo.
2 Comportamento* reflexos serão dBcandos no próximo capitulo
2 0
C afítuloII
Isio significa que. embora Skinner não desconsidere comportamentos inatos,
ele não aceita a existência de dons inatos no sentido de aptidões que explicariam compor­
tamentos como os de cantar, escrever, jogar futebol - a noção de que “a pessoa nasceu
para isto”. É correto, então, afirmar que, para Skinner, não existem dons inatos que
determinam comportamentos operantes6, supondo que tais dons explicariam completa­
mente o surgimento de alguns comportamentos.
Concluindo, talvez em função de Skinner dar mais ênfase à história pessoal, e
principalmente ao papel da cultura na instalação e manutenção dos comportamentos, é
que se pense que Skinnernegligencia o que é inato. No entanto, espera-se que os argumen­
tos apresentados sejam suficientes para que a critica possa ser revista.
Este upo de comportamento lambém sera abordado no cap«tuk> sefnmic.
2 1
CapítuloIII
O Behaviorismo apresenta o
comportamento simplesmente como
um conjunto de respostas a estímulos,
descrevendo a pessoa como um
autômato, um robô, um fantoche
ou uma máquina?
Nádia Prazeres Pinheiro
É comum nós, analistas do comportamento, escutarmos que a nossa teoria
“reduz o homem a uma máquina'’, que afirmamos que todo e qualquer comportamento
obedece à lógica estimulo-resposta - o que seria uma afronta aos seres humanos, animais
superiores e racionais, dotados de vontade própria e de livre arbítrio. “Descartes deu um
passo importante ao sugerir que parte da espontaneidade das criaturas vivas era apenas
aparente e. que. às vezes, o comportamento podia ser iniciado por uma ação externa”
(Skinner, 1998, p.51). E Skinner vai além...
Para responder a esta critica, devemos primeiramente ter claro o que são com­
portamento reflexo e comportamento operante.
No caso do reflexo, os estímulos seriam algum tipo de mudança externa que
causaria estimulação orgânica que. por sua vez. provocaria uma resposta orgânica. Suas
características são: ser inconsciente, ou seja. ocorre mesmo quando o sujeito não está
percebendo; involuntário, ocorre independente da vontade do organismo, não há como
controlá-lo ou evitar sua ocorrência por vontade própria e; pode ser previsto com
grande precisão, considerando que, na presença do estímulo, a resposta sempre ocorre­
rá (Skinner, 1998). São exemplos de comportamento reflexo, os casos da contração
pupilar frente a um estimulo luminoso, da salivação frente a um prato de comida
aparentemente apetitoso e do piscar quando algum objeto é passado na frente de nosso
rosto ou olhos.
"Os reflexos são produtos da seleção natural. Invariavelmente parecem estar
envolvidos na manutenção da saúde e na promoção da sobrevivência e da reprodução”
(Baum. 1999. p. 72). Os padrões de comportamentos reflexos são comuns a todos os
membros dc uma espécie e. por isso. podemos dizer que estão relacionados com a
füogênese. Tais padrões começaram a se modificar e a evoluir na medida em que o
organismo precisada se adaptar às mudanças do meio. já que. “só o processo evolutivo
pode fornecer um mecanismo, pelo qual o indivíduo possa adquirir respostas a configu­
rações particulares de um dado ambiente’' (Skinner, 1998. p. 60). Ora, se o ambiente no
qual os organismos estavam inseridos sofreram modificações, eles. os organismos, tam­
bém precisariam evoluirpara permitir a sua sobrevivência e a manutenção de sua espécie.
Os camaleões, por exemplo, quando em contato com um estimulo de perigo, mudam sua
corpara se esconderem e serem confundidos com o seu esconderijo. Se isso não ocorres­
se, se esse reflexo nâo estivesse presente nesse animal, ele seria presa fácil e sua espécie
poderia estar extinta. Da mesma maneira nós, os seres humanos, quando lacrimejamos
para expulsar uma partícula de poeira é uma questão de sobrevivência para manutenção
da espécie (Skinner, 1998).
Se todos os nossos comportamentos se restringissem aos reflexos, poderíamos
ser comparados às máquinas, pois nossos comportamentos sempre corresponderiam à
relação causa e efeito. Entretanto, como afirma Skinner(1998). “A maior parte do com­
portamento do organismo intacto não está sob esse tipo de controle primário” (p. 54); a
maioria dos nossos comportamentos são operantes.
O comportamento denominado operante é aquele que opera sobre o meio,
produzindo modificações no ambiente físico (natural) e no ambiente social (homens)
(Skinner, 1998). Este comportamento é explicadopelo paradigma datriplíce contingência
S*- R - Sr.Onde Sdéo estimulodiscriminativo, Ré a resposta e Sré o estímulo reforçador.
Explicando cada um: Sd é um estimulo que sinaliza a possibilidade de
reforçamento. Distinguindo-se do estimulo antecedente do reflexo, ele “não elicia a res­
posta, simplesmente altera sua probabilidade de ocorrência” (Skinner, 1998. p. 122).
Com isso. pode-se concluir o porquê de não falarmos de certezas, e sim de probabilidades
em comportamentos operantes, e que, portanto, não somos seres autômatos pois as
respostas automáticas não são maiona em nosso repertório comportamental. Assim,
podemos alterar a probabilidade de emissão de uma resposta modificando o estimulo
discriminativo com o qual o organismo entrará em contato(Skinner, 1998). R é a respos­
ta, a ação em si mesma. E S' é um estimulo conseqüente à respostaque determina a futura
freqüência de emissão da mesma (Skinner, 1998). Quando a conseqüência é um Sr. a
resposta tem uma maior probabilidade de voltara acontecer, se não for reforyadora. ela (a
resposta) terá sua probabilidade de ocorrência diminuída. Deste modo. o reforço cumpre
a funçãode fortaleceruma determinada resposta e aumentara eficiênciada mesma: e é por
isso que dizemos que o comportamento é selecionado pelas suas conseqüências, elas
"podem retroagir sobre o organismo” (Skinner. 1998, p. 65).
Ilustrando o paradigma operante. podemos recorrer ao comportamento de la­
var as mãos quando estas estão sujas. Neste caso o Sc é "as mãos sujas”, R é “lavar as
mãos” e Sré “ter as mãos limpas”. Assim, toda vez que estiver frente ao estímulo mãos
sujas, a probabilidade de lavar as mãos é maior do que a de qualqueroutra resposta, visto
que tal resposta foi anteriormente reforçada. “A história de reforçamento é que determina
os efeitos de um evento atual, as conseqüências recebidas no passado alteraram o organis­
mo de forma a ele aeir de uma dada maneira frente a um evento” (Micbeletto, 1997, p.
127).
A esta história que é construída ao longo da vida dos indivíduos e que
consiste, na verdade, na aquisição de repertórios comportameniais por
meio [principalmente] do condicionamento operante chamamos ontogénese.
24
C a p itu lo III
Desta forma, a ontogema diz respeito à história particular de cada indiví­
duo. na medida em que todo homem interage com o ambiente de maneira
singular. Sendo o comportamento operanie uma parte da ontogênese, tal­
vez a maior parte dela (Costa, 1996, p. 7-8).
Desde esse nível de determinação podemos perceber o quão único é o ser
humano (tema que será abordado no capitulo XIV), ninguém vai ter os mesmos compor­
tamentos (mesmo que sejam topograficamente semelhantes, não o serão funcionalmente)
de outra pessoa. Haverá sempre algo de novo. o que dará a dimensão de que não podemos
ser máquinas - estas são pré-programadas: nós não. estamos em constantes mudanças
(cf. Micheletto. 1997).
Partindo da própria definição de operante como o comportamento que é
selecionado por suas conseqüências, já é possível refutar a critica de que a concepção de
comportamento adotada por Skinner obedece a uma lógica mecanicista. Afinal, não se
trata de uma análise causai, na qual se busca uma causa para um efeito.
Nas palavras de Skinner (1998),
Os "íermos 'causa' e 'efeito': já não são usados em larga esrala na ciência. Lma
“causa" vem a ser “uma mudança em uma variável independente" e um “dcrto"
uma “mudança em uma variável dependente'1'. A antiga “relação de causa c
efeito" transforma-se em uma "relação funcional". Os novos termos não suge­
rem como uma causa produz o seu efeito, meramente afirmam que eventos
diferentes tendem a ocorrer ao mesmo tempo, em uma certa ordem (p. 24).
Lmaanálise funcional avalia contingências eestas são definidas como “relações
de dependência entre eventos. Elas prescrevem a probabilidade de ocorrência de um dado
evento em função da ocorrência de um outro evento” (Barros, 19%. p. 8 ).
Retomando o modelo de seleção por conseqüência, como foi visto no capitulo
anterior, o comportamento humano também é controlado pela cultura, como enfatiza
Skinner (2002),
Podemos atnbuir uma pequena parte do comportamento humano (...) ã
seleção natural e à evolução das espécies, uma parte do comportamento
humano deve ser atribuida a contingências de reforçamento. especialmente
às contingências sociais verdadeiramente complexas a que chamamos cultu­
ra (p. 41).
E complementa: o homem “se encontra controlado por seu ambiente, porém
não devemos esquecer que é um ambiente, construido em grande parte pelo próprio
homem” (Skinner, 1983a. p. 160).
Isso quer dizer que o homem é controlado pelo próprio homem: é a sociedade,
a nossa própria comunidade, que seleciona os comportamentos que devem ser emitidos.
E mais. como disse Micheletto (1997). tenho meu comportamento reforçado pelo suces­
so do meu próprio comportamento, somos “agentes controlados pelo efeito de nossa
própria ação” (p. 118). Logo. sou fantoche de mim mesmo?
Com certeza não! Nem fantoche do ambiente, nem fantoche de si mesmo, pois
anoção de comportamento implica relação. Todos os comportamentos tém uma história.
25
a história de reforçamento de cada uzn de nós. as nossas historias de vida, inseridos em
uma determinada sociedade. E é dependendo de como e quando os individuos desta
sociedade nos oferecem reforçadores oupunidores que poderemos nos comportar em um
determinado contexto. Dizer que o comportamento humano é controlado por eventos
externos não significa dizer que o homem é um autômato, um robô. um fantoche ou uma
máquina.
26
C apítvlo IV
O Behaviorismo não tenta explicar os
processos cognitivos?
Viviane Pereira dos Santos
Como discutido anteriormente, o Behaviorismo ignora a consciência, os senti­
mentos c os estados mentais como iniciadores do comportamento, excluindo qualquer
explicação interna como causa do mesmo. O Behaviorismo. em especial o skinneriano,
recebeu severas críticas por ter adotado o recorte externaiista para explicar os comporta­
mentos. abolindo da Psicologia o termo mente e seus correlatos.
Posteriormente ocorreram movimentos para trazer a mente de volta, dentre
eles o Cognitivismo: “A mente que a revolução cognitiva colocou em evidência é igual­
mente a executora das coisas. É a executora dos processos cognitivos. Ela percebe o
mundo, organiza os dados sensoriais em todos significantes e processa a informação”
(Skinner, 2002. p. 39).
Vale ressaltar que o termo mente utilizado pelos psicólogos cognitivos difere
daquele utilizado pelos filósofos antigos e pelos psicólogos estruturalistas e
funcionalistas. por não ter como ser estudada pela introspecção, uma vez que não pode
ser observ ada, apenas inferida. “Não vemos a nós próprios, por exemplo, processando
a informação. Vemos os materiais que processamos e o produto, mas não a produção”
(Skinner, 2002. p. 40).
Atualmente, tem-se usado a palavracogniçàoou a expressãoprocesso cognitivo
em lugar de menie. Conforme Stemberg (2002) o termo cogniçào refere-se ao modo como
as pessoas pensam. Neste sentido, a Psicologia Cognitiva estuda a forma das pessoas
perceberem, aprenderem, recordarem e pensarem sobre as informações, isto é, busca-se
compreender como se dá o processo do conhecimento no indivíduo.
Para os behavioristas radicais, pensar é comportamento privado determinado
por algum evento externo, logo a mente não executa nenhumpapel noprocesso de pensar.
Na verdade, o pensamento não está contido na mente nem em lugar nenhum, ele simples­
27
mente ocorre. O fato de o pensar ser um comportamento encoberto dificulta a identifica­
ção das reais causas do comportamento como exteriores ao indivíduo
Na teoria cognitiva, o desenvolvimento do mundo no qual o indivíduo está
exposto é pouco valorizado. Tal aspecto pode ser observado na área educacional na qual
professores lançam mão dos mais variados métodos e instrumentos para promover o
desenvolvimento cognitivo das crianças. Eles são instruidos para trabalharem o intelecto
dos alunos, tomando-o mais receptivo e ágil ao processar as novas informações. Já na
teoria skinneriana. é o ambiente externo que assume papel central e não as cognições.
A cognição é um processo mental e por isso é rejeitado por Skinner como
agente que determina o comportamento. “Os processos cognitivos são processos
componamentais; são coisas que as pessoas fazem” (Skinner, 2002. p. 39) e como tais
são estudados pelo Behaviorismo.
Os cognitivistas aproximaram o conceito de mente ao de cérebro e buscam
compreender fenômenos cognitivos que nele ocorrem utilizando, como analogia, progra­
mas de computador. No entanto, nem o mais avançado dos computadores poderá explicar
o comportamento humano, porque o homem não é uma máquina que pode ser programa­
da para realizarações. A própria estrutura cerebral também foi selecionada e cabe a outras
ciências e não à Psicologia saber como e porque foi selecionada (Skinner, 1990).
Não restam dúvidas que a Psicologia Cognitiva é uma abordagem que vem
conquistando cada vez mais adeptos em virtude de sua linguagem serde fãcil entendimen­
to para o público em geral, enquanto a linguagem skinneriana. por apresentar caráter
cientifico, é freqüentemente rejeitada.
O extraordinário atrativo das causas internas e a conseqüente negligência
das histórias ambientais c do ccnáno atual se devem a algo mais do que a una
prática lingüística. Sugiro que tem o encanto do arcano. do oculto, do her­
mético, do mágico - esses mistérios que mantiveram posição tâo importan­
te na história do pensamento humano. É o atrativo de um poder aparente­
mente inexplicável, num mundo que parece situar-se alem dos sentidos e do
alcance da razão (Skinner. 2003. p. 140).
O que se deve deixar claro é que Skinner procurou explicar os processos
cognitivos a partir de um recorte extemalista. Eis o ponto de divergência com as ciências
cognitivas que sustentam a idéia de que tais processos podem determinar o comporta­
mento. Desse modo. a distinção entre a Análise do Comportamento e o Cognitivismo
toma-se importante para que se compreenda que se traiam de enfoques distintos cujas
diferenças aparecem desde o plano filosófico, passam pelo teórico e se evidenciam na
prática clínica- Por isso. a integração entre os modelos cognitivista e behaviorista vem
sendo cada vez mais discutida e questionada, visto que tal união resultaria em uma
incoerência teórica (Costa, 2002).
28
Ca utujo V
O Behaviorismo não considera as
intenções ou os propósitos?
Sàdia Prazeres Pinheiro
Ao nos indagarmos sobre “O que é intenção?” ou “O que é propósito?”, a
probabilidade de ratificarmos a hipótese de que todos darão explicações pautadas numa
crença íntemalísta é alta.
Intenção, propósito, expectativa, vontade, desejo, intuito, objetivo... Dificil­
mente alguém não entende estas palavras. No conhecimento do senso comum, são elas
que desencadeiam nossos comportamentos - é por causa delas que agimos. Assim, se
“vamos à praia” é porque desejamos ir até lá; se temos a intenção de sermos bons
profissionais, buscaremos estudar para isso e o comportamento de estudar estaria sendo
causado pela nossa vontade. Porém, como este capitulo é fundamentado na filosofia
behaviorista radical, trataremos de enfocar a intenção a partir de um recorte externaiista.
Antesde tudo. precisamos retomaro paradigma da tríplice contingência.( - R-
S").poisaelaestaremos semprerecorrendo. Neste modelo, sãoasconseqüênciasreforçadoras
que alteram a probabilidade do comportamento ser emitido no futuro. O alcance de tal
conseqüência dá-se no comportamento futuro e não no que já ocorreu. A alteração não é
imediata no sentido de que ocorre sobre o comportamento presente, elaé na verdade, futura,
sendo percebida na emissão ou não de comportamentos futuros (Skinner. 1998).
Esta última afirmação necessita deum pouco mais de atenção, pois voltará a ser
trabalhada adiante. Segundo Baum (1999). "É claro que um evento futuro não pode
causar um comportamento. (...) As variáveis das quais meu comportamento depende
devem estar no passado ou no presente” (Baum. 1999. p. 98).
De acordo com Baum (1999), existem três significados para a palavra intenção;
função, causa e sentimentos.
O uso de intenção como função não é incompatível com o discurso científico.
Aoafirmarmos que a intenção daborracha é apagarerros de grafia, estamos falando de sua
29
função, o que ela faz. para que ela serve, o que ela é. Em suma. estamos nos referindo à sua
definição, à sua classe funcional, ou seja. algo que a caracteriza como borracha, algo que a
diferencia de todos os outros objetos, e que independente de sua topografia (forma. cor.
tamanho) não a faz perder ou ser excluída de sua unidade funcional. A noção de unidade
funcional é semelhante à de classe de estímulos, na qual um conjunto de estímulos
apresenta alguma propriedade comum (AVhaley e Mallot, 1980a). Mas isso se aplica
quando estamos falando de objetos. E quando falamos de comportamento, como pode­
mos interpretar intenção vista como função? O uso de intenção, neste caso. designa
efeitos ou objetivos. .Assim, quando apresento o comportamento de usar uma borracha,
a intenção do comportamento, isto é. o objetivo do comportamento é o próprio reforçador,
qual seja, o de ter algo apagado.
Logo, a intenção está presente no próprio comportamento operante. seja na
funcionalidade do objeto (trabalho que desempenha), sejano reforçador (estimulo conse­
qüente a um comportamento) de um determinado comportamento.
A segunda maneira de definirmos intenção é substituí-la como causa de um
comportamento. Deste modo, o comportamento de usar uma borracha é causado por um
desejo interno de ter algo apagado. Se agimos de alguma forma, já temos em mente um
determinado objetivo, já sabemos o que almejamos, e por isso nos comportamos. Mas.
esta assertiva vai de encontro à nossa filosofia que é anti-mentalista. não sendo possível
aceitar tal hipótese. Nossa explicação deve, portanto, residir no próprio comportamento
operante. Uma vez que ao agirmos temos nosso comportamento reforçado, o fato de
termos conseguido o reforço faz com que emitamos comportamento semelhante ao ou-
trora reforçado, ou. por outro lado, se formos punidos, teremos menor probabilidade de
emitir comportamento semelhante. Tudo depende da história de reforçamento de um
dado comportamento. “Nós nos lembramos do que fizemos antes e isso nos inclina a nos
comportarmos de modo similar ou diferente, dependendo do que é reforçado*’ (Baum.
1999, p. 103).
Ora. se. em uma determinada situação, utilizamosumabonacha para apagarerros
e tivemos o nosso comportamento reforçado pelo fato do erro ter sido apagado, o compor­
tamento de apagarteve sua probabilidade de ocorrência aumentada Logo. quandoestiver­
mos frente a um erro (S4), nos comportaremos de maneira semelhante (R). e obteremos
(provavelmente) o reforço (SO- Assim, a causa do comportamento não é interna, ele (o
comportamento) é de fato fruto de contingências ambientais: é determinado por elas.
Fica. ainda, uma questão: a de por que é comum concebermos intenção como
causa. Porque ao dizermos que o comportamento é causado, acreditamos que a causa tem
que ser anterior à emissão da resposta como no reflexo (Skinner. 2003). Então, a possi­
bilidade mais imediata é que tenha em mente o objetivo, e que essa representação mental
seria a causa. Bom. ejá que a causa tem que ser sempre anterior ao comportamento, como
o Srpoderia causar qualquercomportamento? Esseesclarecimento, quem nos dá é Skinner.
ao dizer que o efeito do Sr faz-se sentir em outras respostas* e não na resposta que o
acompanha:
Não é correto dizer que o reforçamento operante ‘reforça a resposta que o
precede'. A resposta já ocorreu e não pode ser mudada. (...) No lugar de dizer
1O termo resposta s<sxio asado como smónizno de cooiportajncine.
30
C A PínxoV
que ura homem se comporta por causa das conseqüências que seguem o seu
comportamento, diremos simplesmente que ele se comporta por causa das
conseqüências que seguiram um comportamento semelhante no passado
(Skinner. 1998. p. 97).
Destarte, o estímulo reforçador pode sim, controlar a emissão de respostas.
Um outro motivo quejustifica a confusão é que ao nos comportarmos seguindo
a nossa intenção, esta cessa (Baum. 1999). Por exemplo, se desejamos ter um erro
apagado (intenção), o apagamos e, por conseguir êxito em nosso propósito, paramos de
apagar. A intenção seria vista como a causa do comportamento, uma vez que a intenção
não existe mais. ou seja. o comportamento cessou porque a causa não estámais operando.
Faz-se uma relação entre o fim do comportamento com a obtenção do objetivo, conse­
guindo este. aquele é dado como não mais necessário. Deste modo. o parar de apagar é
devido ajá ter apagado o erro, portanto "rendo o propósito já realizado, não apagamos
mais o erro'’;e tal fato é concebido como se a vontade interna é que estivesse determinan­
do o nosso comportamento. Novamente podemos esclarecer essa situação, agora recor­
rendo ao encadeamento de respostas. Se uma resposta deixa de ser emitida, é devido à
aparição do reforço, e este. por sua vez. produz uma mudança no meio e serve como
estimulo discriminativo para outra resposta (Whaley e Mallot, 1980b). Da seguinte
maneira:
Erro -> Apagar o erro -> Erro apagado -> Escrever outra palavra
S* R S e S* R
A terceira forma de entendermos a intenção é como sentimento. Ao expressar,
por exemplo, que estamos com vontade de comprar uma nova peça de roupa e. então,
concluirmos que temos a intenção de comprá-la estamos relatando uma vontade, um
sentimento. "Se eu sei o que eu quero, isso significa que algum sentimento interno está se
comunicando comigo" (Baum. 1999. p. 103). Porém, uma vez mais. estamos nos referin­
do a mentalismos.
Baum (1999) descreve “dicas” que iriam nortear nossos auto-relatos (fala para
si mesmo). Isso quer dizer que sempre que emitimos um auto-relato. este comportamen­
to está baseado tanto em eventos privados quanto em eventos públicos, além de situa­
ções passadas, na nossa história de vida. e não fundamentado no futuro.
Auto-relatos. incluindo palavras como pretender, supor, acreditar, pensar,
parecem estar ditando algo futuro, falando do futuro, esclarecendo o que o sujeito irá
fazer, mas na verdade estão se referindo a conseqüências passadas que dizem da proba­
bilidade de uma resposta ser emitida e, por conseguinte, ser reforçada (Skinner, 1984).
Por exemplo, ao afirmarmos que “pretendemos comer uma isca de peixe”, estamos nos
referindo não ao futuro, como pode parecer, mas sim ao passado, pois. em algum momen­
to passado, em circunstâncias parecidas com as atuais, comemos a isca de peixe e foi
reforçador. Logo.já que os contextos são semelhantes, agora, a isca aluariacomoreforçador
para o comportamento de comê-la. nossas chances de obter reforço ao emitirmos tal
comportamento é maior do que com qualquer outro. Essa explicação é pertinente e
cientifica. pois envolve apenas eventosnaturais. Assimcomo escreve Baum. “Aexplica­
ção cientifica para a ação aparentemente intencional e para os auto-relatos sobre inten­
31
ções sentidas baseia-se nas circunstâncias presentes associadas ao reforço passado em
circunstâncias similares, ambas naturais e passíveis de descobertas" (Baum. 1999, p.
104>.
Um sentimento pode agir como“dica" deum auto-relalo, como foi dito anteri­
ormente - sentimento entendido como ato de sentir. Portanto, se sentimos fome. dizemos
que temos a intenção de comer, se sentimos frio, temos o desejo de termos conosco um
agasalho. E. se dizemos sentir vontade de fazer alguma coisa, se há realmente algum
sentimento envolvido na nossa intenção, seja um sentimento de persistência, euforia,
raiva, medo etc., ele não é o agente do nosso comportamento, estando apenas presente
como subproduto de contingências. Em outras palavras, os sentimentos resultam de
condicionamento clássico, por emparelhamento de uma resposta pública com um evento
privado (Baum. 1999).
Então, ao sentirmos vontade de fazeralgo, não estaremos nos referindo a uma
intenção interna, mas sim a nossa própria história de reforçamento. “Uma pessoa dis­
posta a agir porque foi reforçada para tanto pode sentir a condição de seu corpo nesse
momento e chamar-lhe “propósito sentido*, mas o que o Behaviorismo rejeita é a eficácia
causai desse sentimento” (Skinner. 2003, p. 190-191).
Podemos achar suficiente como explicação para umajovem querer freqüentar
uma academia de ginástica o fato de ela poder encontrar lá rapazes bonitos . Pode ser,
entretanto, que ela faça isso inconscientemente, ou seja. não percebendo que seu compor­
tamento está sendo controlado por tal contingência de reforço. Assim, dizemos que sua
intenção é essa. qual seja, o reforçador de estar observando rapazes bonitos. Portanto,
"Uma pessoa pode afirmar seu propósito ou intenção... Ela não pode fazer isso. eviden­
temente. se ela não estivesse ‘consciente’ das ligações causais.,. Ainda assim as contin­
gências são efetivas mesmo quando uma pessoa não consegue descrevê-las" (Skinner,
1984, p. 267).
A facilidade em darjustificativas internas ao invés de fazer uma análise fúnci'
onal (pois nem sempre sabemos das relações entre as contingências que controlam nosso
comportamento) é um dos motivos pelos quais dizemos que nosso comportamento é
movido por uma intenção interna. E este, por ser um comportamento reforçado e difun­
dido na nossa sociedade, ganha cada vez mais importância e força.
Após esta exposição fica claro que o Behaviorismo Radical não desconsidera a
intenção; apenas a explica de maneira diferente, de acordo com o enfoque extemalista. A
intenção pode, desta forma, ser a função de um objeto, o reforçador de um determinado
comportamento, explicada por reforçadores passados e ou história de vida; não sendo
necessário recorrer-se a explicações internas, subjetivas, metafísicas ou fantasiosas.
32
C aíttllo VI
O Behaviorismo não consegue explicar
as realizações criativas -
na arte, por exemplo, ou na música,
na literatura,
na ciência ou na matemática?
Taynan Marques Bandeira
É comum a criatividade ser reconhecida pelo senso comum e conceituada por
diversos autores como produto de algo intemo. como se fosse intrínseca ao indivíduo.
Entretanto, o recorte extemalista de Skinner rejeita a causalidade interna e enfatiza que
todos os comportamentos são determinados a partir das variáveis ambientais externas,
comojá foi argumentado em capítulos anteriores. Devido a este posicionamento, muitos
autores o criticam dizendo que sua teoria não explica as realizações criativas. Mas é
utilizando esse recorte que Skinner, não só considera a existência de comportamentos
criativos, como os explica em algumas obras:A Tecnologia do Ensino, Ciência e Compor­
tamento Humano e Sobre o Behaviorismo.
De acordo com Skinner (2003), a criatividade sempre foi considerada como
algo difícil de ser explicado até o surgimento do conceito de comportamento operante,
porque asjustificativas para explicá-la. até então, eram mentalístas. Para mostrar que a
criatividade consiste em um comportamento, e que. dessa forma, é selecionado por
suas conseqüências, Skinner contrapõe o processo de condicionamento operante e o
processo de evolução descrito por Darwin. Skinner (2003) afirma que, na história das
espécies (proposta por Darwin), os traços acidentais originados de mutações foram
selecionados em virtude de uma maior sobrevivência da espécie; então, do mesmo
modo. acontece com as variações comportamentais que são selecionadas em virtude de
suas conseqüências reforçadoras.
O conceito de seleção é mais uma vez a chave. As mutações na teoria
genética e evolutiva, são casuais e as topografias das respostas selecionadas
pelo reforço são. se não aleatórias, pelo menos não necessariamente relaci­
onadas com as contingências em que serão selecionadas. E o pensamento
criador preocupa-se grandemente com a produção de 'mutações'. Escrito­
33
res. artistas, compositores, matemáticos, cientistas e inventores estão fa­
miliarizados com as formas explícitas de tomar mais provável a ocorrência
de comportamento original (Skinner. 2003, p. 101).
Assim, toma-se claro que a originalidade não está ligada a processos internos,
como enfatizam os mentalistas. Os comportamentos criativos são, como qualquer outro
comportamento, selecionados pelas suas conseqüências.
A seleção por conseqüências invariavelmente implica história. Ao longo do
tempo, resultados bem-sucedidos (reforço) tomam algumas ações mais pro­
váveis, C resultados malsucedidos (não reforço ou punição) tornam outras
ações menos prováveis (Baum. 1999, p. 101).
Skinner (1998) faz a distinção entre o que se pode chamar de idéias originais e
não-originais. As respostasnão-originais são aquelasprovenientes da imitação ou gover­
nadas pocregras1. Já as respostas originais são aquelas que resultam da manipulação das
variáveis, ou seja, modeladas pelas contingências. “Artistas, compositores e poetas às
vezes seguem regras (imitar o trabalho dos outros, por exemplo, é uma forma de seguir
regras), mas atribui-se mérito maior ao comportamento devido a exposição pessoal a um
ambiente- (Skinner, 2003, p. 110-U1).
Baum(1999), um behaviorista radical contemporâneo, argumenta que o objeti­
vo da atividade de qualquer artista seja ele pintor, escritor, compositor, ou cientista, é
buscar a novidade, algo que nunca tenha sido visto ou criado antes. Nesse sentido, cada
trabalho criado se constitui como único e novo, não só para a comunidade, mas também
para seu próprio aoervo. Entretanto, ninguém cria um trabalho a partir do nada. pois
mesmo cada trabalho tendo seu aspecto singular, está relacionado com realizações ante­
riores e origina-se de uma história de vida particular. É perfeitamente passível de verifica­
ção que. embora a compositora Marisa Monte não faça duas músicas exatamente iguais,
suas composições parecem umas cora as outras, mais do que se fosse realizada uma
comparação entre uma música dela com as de Gal Costa, por exemplo.
Então, cada trabalho novo é feito com base nos anteriores e depende das conse­
qüências. pois mesmo não sendo possível sustentar empiricamente. pode-se levantar a
hipótese de que se Marisa Monte não tivesse tido conseqüências reforçadoras para suas
composições, provavelmente nâo teria continuado a compor. “Os trabalhos anteriores
estabelecem um contexto no qual o trabalho novo pode se parecercom eles. mas não tanto
que pareça ‘aquela coisa velha"’ (Baum. 1999, p. 102).
E quanto mais o indivíduo tem a oportunidade de comportar-se. nesse caso.
compor cada vez mais. maior será a probabilidade de reforçamento e conseqüentemente
serão instalados comportamentos criativos, pois '‘as grandes sinfonias de Mozart são
uma seleção de um número maior, os grandes Picassos são só uma parte do produto dc
uma vida de pintura” (Skinner, 1972. p. 172). Assim. Skinner (1972) afirma que o
importante é evocar comportamentos porque só assim serão emitidas respostas, que se
fossem de outro modo, nâo apareceriam.
Para Skinner, a cultura desempenha um pape’ fundamental na instalação de
comportamentos criativos. Isto fica evidente quando sustenta que “em igualdade de
' Regras são estímulos veifcats que especificam ooonngêncMS (Jonas. 199TV
34
C apitulo VI
condições, a cultura terá maior probabilidade de descobrir um artista original, se induz
muita gente a pintar quadros ou de produzir um grande compositor, se induz muita gente
a compor "(Skinner, 1972. p. 171-172).
Diante disso, torna-se claro que Skinner consegue explicarasrealizações criati­
vas sem recorrer a argumentos mentalistas. E ainda enfatiza que as pessoas podem ser
instruídaspara aprenderem a ser criativas, ou seja, podem ter um ambiente favorável para
o aprendizado de comportamentos criam os. “Por definição, não se pode ensinar com­
portamento original, pois não seria original ser ensinado, mas podemos ensinar ao estu­
dante a arranjar ambientes que maximizem a probabilidade de que ocorram respostas
originais" (Skinner, 1972, p. 169). Isso por sua vez desestmtura a concepção mentalista.
que é determinista ao afirmar que a criatividade é umdom e. conseqüentemente, quem faz
trabalhos originais e apresenta respostas criativas os faz porque nasceu com esse traço
iniemo.
De acordo com Skinner, quando se atribui a “criatividade” a um dom interno,
retira-se a responsabilidade de realmente criar contingências ambientais favoráveis ao
desenvolvimento de tais comportamentos criativos.
O professor que acredita que o estudante cria uma obra de arte através do
exercício de alguma faculdade interior e caprichosa não investigará as con­
dições sob as quais o estudante de fato faz um trabalho criativo. Será também
menos capaz de explicar este trabalho quando ocorrer e não tenderá a
induzir os estudantes a se comportarem criativamente (Skinner, 1972. p.
160-161).
Nesse sentido, os comportamentos inovadores são aprendidos pelo indivíduo,
como qualquer outro comportamento. De acordo com Skinner (2002), mesmo algumas
variações comportamentais ocorrendo de maneira acidental, os indivíduos podem apren­
der a ser criativos porque o seu comportamento (criativo) é selecionado pelas conseqüên­
cias reforçadoras que o sucedem. Isso significa que a “criatividade" é determinada pelas
contingências ambientais, de modo que o comportamento criativo está relacionado à
história de reforçamento de cada indivíduo. Assim, quanto mais alguém é exposto a
situações problemas que lhe suscitem variações comportamentais. as quais são
selecionadas a partir das conseqüências reforçadoras. provavelmente maiores serão os
comportamentos criativos.
35
C aH tujO VÍF
O Behaviorismo é necessariamente
superficial e não consegue lidar com as
profundezas da mente ou da
personalidade?
Suane Maria Marinho Sá
Sabemos da repercussão que o anti-mentalismo nas obras de Skinner provoca
nas pessoas. No entanto, essa já foi uma critica abordada anteriormente, e. portanto, me
deterei. apenas, nas questões que envolvem a personalidade.
Todosjá ouvimos falar, provavelmente em muitas situações, em“personalidade”.
Poucas palavras são tão fascinantes para as pessoas em geral quanto este termo. Como a
maioriados temas em Psicologia,o sensocomum"usa e abusa"dotermopersonalidade, que
exerce grande encantosobre os leigos. Frase como “Maria Eduarda não tempersonalidade",
“meu filho tem uma personalidade forte", ”é da minha personalidade ser assim", “ele agiu
assim devido à sua personalidade psicopata" são freqüentemente proferidas no cotidiano.
A palavra personalidade é. portanto, usada de diferentes maneiras, seja para
atribuirhabilidades sociais aalguém (“perspicaz*’, “veloz"), seja para se referirá caracte­
rística considerada central de uma pessoa ("inteligente", “tímido”, “nervoso"), ou ainda
empregada para anunciar a presença de alguém importante ou ilustre (“vamos receber
uma personalidade vinda do exterior)~(Fíall. 1984).
Mas o que é personalidade? A palavra personalidade se origina do latim
“persona" (“soar através"), o mesmo que pessoal, e é definida por “aqueles traços
relativamente duradouros de um indivíduo que explicam por suas maneiras características
de se comportar" (Stratton e Hayes. 2001. p. 175). Desse modo, personalidade refere-se
à maneira relativamente constante de perceber, pensar, sentir e agir do indivíduo, envol­
vendo. assim, todos esses aspectos de forma a se integrarem e organizarem, conferindo
peculiaridade e singularidade ao sujeito. De modo geral, os teóricos da personalidade
atribuem um papel decisivo aos processos motivacionais. vendo nestes a chave para a
compreensão da conduta humana. Sendo assim, muitas vezes o emprego da palavra
personalidade refere-se a uma propriedade comum, algo que está dentro da pessoa, que é
estável e que determina o que ela irá fazer em uma situação especifica (HalL 1984).
37
No entanto, esta caracterização da personalidade nos leva comumente a uma
série de questionamentos e dúvidas - se tenho uma personalidade, como ela se constitui?
Como posso mudar meu jeito de agir se minha personalidade já faz parte da minha
“estrutura”? Por que ajo assim, por que penso assim, por que sinto desse modo e não de
outro? Se a personalidade é, por assim dizer, imutável, então seria, ao meu ver, inútil a
função e o trabalho do psicólogo.
E os comportamentalístas, o que entendem por personalidade?
Skinner (2003), em Sobre o Behaviorismo, define a personalidade como "um
repertório de comportamento partilhado por um conjunto organizado de contingências"’
(p.130). Em outras palavras. Skinner nos fala que a personalidade é um conjunto de
comportamentos de um indivíduo, adquirido a partir de sua história de reforçamento
diferencial. Mas o que percebemos comumente é que pessoas são substituídas por “suas”
personalidades. Assim, muitos padrões de comportamentos são substituídos por “tra­
ços de personalidades”.
Na medida em que as variáveis externas não são referidas ou ignoradas desco­
nhecidas. sua função é atribuída a um agente originador dentro do organismo. As vari­
áveis ambientais e históricas que controlam as respostas são frequentemente desconhe­
cidas dos indivíduos. Conseqüentemente, as pessoas voltam-se para o seu interior
(personalidade, eu. selj) em busca de explicações para a origem de suas ações, como
visto no capitulo I. A personalidade é freqüentemente utilizada como uma causa hipo­
tética de ação, “se não podemos mostrar o que é responsável pelo comportamento do
homem, dizemos que ele mesmo é o responsável pelo comportamento” (Skinner, 2003,
p. 130).
Para Skinner, o uso do termo “personalidade” refere-se aos padrões
comportamentais e não as suas causas ou. especificamente, aos papéis que a pessoa
adota.
O que. então, dizer das brilhantes análisesjá feitas a respeito da causalidade da
personalidade? O que fazer com o fato de que. por toda a nossa história, sábios como
Platão. Aristóteles. Nietzsche. Maquiavel e os mais contemporâneos, como Fneud. Jung
e Mc Dougall. tentaram construirjustamente um conhecimento sobre a personalidade em
que esta é tida como a grande motívadora dos nossos comportamentos? Teriam sido
buscas e estudos em vão? Skinner (1990) nos fala que. infelizmente, sim. mas que nem
tudo está perdido. Muito mais útil seria a análise do comportamento, seja através da
clarificação das contingências de reforçamento. seja através do planejamento de ambien­
tes melhores.
A Análise do Comportamento entende a personalidade como um repertório
comportamental. adquirido a partir das contingências de reforço, ao qual o indivíduo foi
submetido ao longo de sua história. Assim, nos constituímos diferentes devido a diferen­
ças nas situações às quais fomos e somos expostos. As pessoas são intituladas como
“tímidas”, “extrovertidas”,“inteligentes”, “autoritárias”, “zangadas”, “desorganizadas”,
“agressivas” por causa de contingências que as envohem (Skinner. 1998), Tímido, inte­
ligente. desorganizado e agressivo são apenas rótulos para uma categoria de comporta­
mentos apresentados em um dado contexto e não a causa destes. “As diferenças na
experiência entre o ‘ignorante' e o ‘estudado’,o 'ingênuo’e o ‘sofisticado’,ou o 'inocen­
te' e o ‘vivo’ se referem principalmente a diferenças em histórias de reforço” (Skinner.
1998. p. 213).
38
CaUTUjOVII
Mas o que é sustentado por nossa sociedade é que um único organismo é
controlado por vários agentes psiquicos e que seu comportamento é resultante de suas
múltiplas tendências. E é dessa maneira que a grande “descoberta invenção” de Freud é
usada e se faz presente: id. ego e superego. Tais conceitos são freqüentemente usados
como criaturas que vivem eternamente em conflitos violentos, cujas derrotas e vitórias
produzem comportamentos ajustados ou não no indivíduo no qual residem e no qual o
mesmo tem que se haver, uma vez que se tratam de forças sobre as quais não se tem
controle algum (Skinner. 2003).
Não seria o id - ''velho Adão da teologiajudaico-cristão” - caracterizado por
Freud como egoísta, agressivo, preocupado com as privações básicas e que constante­
mente se encontra em conflito com os interesses de outrem - resultante da filogènese
responsável por nossos comportamentos de procura de alimento, água. contato sexual e
outros reforçadores primários1? Nào seria o superego - a “consciênciajudaico-cristà” -
definido por Freud como o agente punitivo que é. em grande parte, inconsciente e que está
geralmente representando os interesses de outras pessoas e que se opõe inevitavelmente
ao id - produto das práticas culturais punitivas de uma sociedade que tenta eliminar o
comportamento egoísta gerado pelos reforçadores primários? Nào seria boa parte do
superego inconsciente simplesmente porque a comunidade verbal não instruí as pessoas
observá-lo ou descrevê-lo? E o ego - visto por Freud como o agente que. além de tentar
alcançar um acordo entre o ide o superego. também lida com asexigências do ambiente -
nào sena o produto da ontogênese. do reforço e das contingências punitivas da vida diária
organizadas por outras pessoas? Portanto, não é muito mais fácil e óbvio observar que o
ator de todo esse impasse é o organismo, que se tomou uma pessoa com repertórios
diferentes e possivelmente divergentes, como resultado de contingências diversas e tal­
vez conflitantes? (Skinner, 1998: Skinner, 2003).
Skinner (1998) aponta ainda que. sob diferentes situações, diferentes “perso­
nalidades" podem se manifestar, chamando, mais uma vez. a atenção para a recusa de
explicações em termos da personalidade como agente causador e a importância da busca
pelas verdadeiras causas do comportamento. Assim, em um mesmo organismo podemos
encontrar um homem de negócio, agressivo e irritado e um pai. amoroso e calmo. A
personalidade de alguém pode ser muito diferente antes e depois do almoço. "O herói
pode lutar para esconder o covarde que habita a mesma pele” (Skinner. 1998. p. 312).
Existe ainda o fato de que a personalidade pode se restringir a uma ocasião
especifica estimulo discriminafivo - em que os comportamentos que são eficientes ao
conseguir reforço em uma dada situação não os são em outra (Skinner, 1998). Desse
modo. a personalidade de um garoto no seio de sua familia pode ser muito diferente da
personalidade na presença de sua namorada. Padrões variados de respostas podem ocor­
rerjunto dos amigos ou de pessoas desconhecidas, diante de reforçadores ou não, estando
na condição de aluno ou de professor, sob o efeito do álcool ou não. estando na universi­
dade ou na igreja, numa roda de amigos ou numa reunião importante de trabalho (Marçal.
2001). Aqui. o que ocorre é que os organismos possuem sistemas de respostas que são
adequadas para diferentes conjuntos de circunstâncias, de acordo com a sua história de
vida. No entanto, podem ocorrer situações conflitantes nas quais a pessoa se depara com
Traia-se daqueles rdbrçadores “que não dependem de coodicioraaiemo prévio para ter poderreforçador'’(HalL
19~5. p 6» ssnn. os reforçadores primários estão rvtacionados com aqueias conseqüências <p<c satisfazem as
neces>KÍ*k-s bioiògKas de toda» as formas de vtda aaunal. Ex: comida, bebida, esumdaçao sexual.
39
dois desses conjuntos ao mesmo tempo como, por exemplo, quando um rapaz recebe a
visita da namorada no trabalho, ou quando se encontra simultaneamente na presença do
chefe e do subordinado (Marçai, 2 0 0 1 ).
É hora de começarmos a olhar para fora. Há anos as pessoas, incluindo os
cientistas, têm se preocupado com a vida mental, mas está mais do que na hora de
começarmos a revelar algum interesse por uma análise mais precisa do papel do meio
sobre os nossos comportamentos. “À medida que a pertinência da história ambiental se
tomou mais clara, questões práticas começaram a ser propostas, não sobre sentimentos
e estados mentais, mas acerca do meio ambiente, e as repostas se vêm revelando cada vez
mais úteis” (Skinner, 2003, p. 148).
Vimos que, de um modo geral, a Psicologia e outras áreas do saber concebem
comumente a personalidade como o conjunto total das características próprias do indiví­
duo que, integradas, estabelecem a forma pela qual ele reage costumeiramente ao meio.
Não seria justamente o contrário? A Análise Comportamental concebe o ser humano a
partir das diversas relações existentes entre o indivíduo e o seu ambiente, levando em
consideração a história da espécie, a história do indivíduo e a cultura na qual ele se insere.
Assim, aquilo que costumeiramente chamamos de personalidade refere-se aos padrões de
comportamentos adquiridos e mantidos por contingências. Não admitir essa idéia é. ao
meu ver, recusar a própria natureza humana.
Apergunta que ficou é a seguinte, seremos superficiais, então, somente por não
atribuirmos causa aos eventos privados? Skinner nos fala que “se excluirmos o significa­
do pejorativo de ‘superficial' como carente de penetração e o sentido honorífico de
profundo’como perspicaz e entranhado, então há uma ponta de verdade na alegarão de
que a análise behaviorista é superficial e nâo atinge as profundezas da mente ou da
personalidade” (Skinner, 2003, p. 191). Aqueles que dizem ser a ciência do comporta­
mento simplista, limitada e superficial por não lidar com as profundezas da mente ou da
personalidade, usualmente revelam-se ultra-simplistas, uma vez que as explicações
imemalistas são atraentesjustamente porque parecem ser muito mais simples do que os
fatos que se dizem explicarem. Assim, os behavioristas (e nós futuros) somos facilmente
acusados de superficiais porque é muito difícil acreditar que um principio tão simples
possa ter amplas conseqüências em nossas vidas (Skinner, 2003).
Portanto, os behavioristas não varrem o problema dos eventos mentais e da
personalidade, especificamente falando, para debaixo do tapete, abandonando o papel
causai da mente sem nada colocar-lhe no lugar. Se isso acontecesse, poderiam sim. ser
superficiaisno sentidocriticável do termo. Skinner(2003)nosfalaque ninguém é capazde
daruma explicaçãocompletamenteadequadado queé apersonalidade, por serum dosmais
complexos assuntos do campo psicológico. No entanto, por mais deficiente que possa ser
a explicação dos comportamentalistas. devemos lembrar-nos de que. sob um enfoque
comportamental. “as explicações mentalistas nada explicam” (Skinner. 2003, p. 190).
40
C A m ix o YTII
O Behaviorismo limita-se à previsão e
ao controle do comportamento e não
apreende o ser, ou a natureza essencial
do homem?
Andreza de Souza Machado
Antes de argumentar se o Behaviorismo apreende ou não a essência humana,
faz-se necessário esclarecer o que seria essa essência. Na verdade, a essência humana
adquire diferentes concepções para variados filósofos. Então, devidoa sua complexidade,
resolvemos tratá-la sob a visão de um único filósofo, o alemão Husserl (o pai da
Fenomenologia. ciência que estuda o fenômeno), que costuma emprestar sua teoria,
inchisive o conceito de essência, para muitas correntes filosóficas e psicológicas.
E possível encontrarem qualquerdicionário de filosofia a definição de essência
como a natureza de uma coisa e a definição de natureza como um conjunto de caracterís­
ticas ou propriedades inatas que definem um ser. Nesse caso, qual seria a natureza ou a
essência humana? “A natureza humana designa o que estaria presente em todo homem,
comum a todos os homens" (Russ. 1994. p. 196). Resta saber agora, à luz da teoria de
Husserl. que característica é esta que o Behaviorismo negligenciaria.
Em toda sua teoria. Husserl prioriza o sujeito consciente, ou seja. aquele que
possui uma consciência que rem como função primordiaJ. dar significado à realidade. A
consciência funciona como sujeito do conhecimento, o que significa o mundo a que o
homem é exposto (idealmente, materialmente ou culturalmente). Eo que são essas signi­
ficações alcançadas pela consciência? Nada mais do que essências. Assim, a essência é o
sentido, o significado de algo que está sempre para uma dada consciência (Chauí, 1999).
Nota-se que a consciência ê o ato de dar sentido, de constituiressências. E esse
ato de dar sentido é a sua própria essência - toda consciência é consciência de alguma
coisa, isto é. está sempre voltada intencionalmente para algo. A intencionalidade é a
essência da consciência (Chauí. 1999). Em simplespalavras, o homem tem uma consciên­
cia que doa sentido e significado aos estímulos aos quais está exposto. Nada lhe escapa,
já que tudo são fenômenos. Dessa forma, tudo que aparece à consciência recebe dela um
significado, uma essência.
41
Então, chegando ao ponto central da critica, o que seria a essência humana?
Qual o significado e sentido maior do homem? Poder-se-ia concluir que é a própria
consciência. A essência do homem seria o ato de doar sentido ao mundo, o estar voltado
para as coisas, apreendendo-as. significando-as.
Considerando que a essênciada natureza humana seria a consciência, ficaclaro
que o Behaviorismo Radical apreende esta essência, comojá foi visto no capítulo Ideste
livro. Porém, também fica claro que o conceito de consciência para Skinner e Husserl é
diferente, cabendo então responder, sob um ponto de vista comportamental. se esta
orientação nega que o homem signifique o mundo.
Partindo de um dos pressupostos fundamentais da proposta compor-
tamentalista. sabe-se que o comportamento humano é explicado a partirda relação que o
mesmo estabelece com o mundo. Nesse caso. como poderia negligenciar a possibilidade
do homem significar o mundo? Adivergência está em outorgar esse papel à consciência,
a qual comandaria o homem dentro do qual faz moradia.
Poisbem. se não é a consciência aquela que dá significadoao mundo, como este
significado é concebido? Para responder tal questão, faz-se necessário introduzir o tema
do comportamento verbal1, termo utilizado por Skinner para se referir à linguagem.
Desde que nascemos estamos inseridos num contexto social (família, escola,
trabalho etc.) que utiliza uma linguagem para se referir a coisas, situações e até sentimen­
tos. Não é díficil concluir que. se existeuma palavra para o fenômeno“x", éporque tenho
um significado para este fenômeno. Por exemplo, eu conheço o significado de "papel'', o
que me possibilita reconhecer enomear qualquer papel, independente òe suatextura, cor,
tempo, ou lugar em que se encontra. Isso acontece porque o papel tem uma essência,
enquanto significadoúnico que o diferencia de qualquer outra coisa que não ele, indepen­
dente de diferenças ou detalhes outros (Camon. 1993).
Pergunta-se~Essa essênciaeu mesma criei? A minha consciência, que é voltada
para o mundo, concebeu, sozinha, esse significado? O Behaviorismo Radical nega essa
suposição, pois como disse antes estamos inseridos num ambiente social, no qual as
pessoas se comportam verbalmente, passando esses significados de geração para geração.
E, esse significado está nas conseqüências da verbalização, no caso, nas contingências
(Skinner, 2003).
Baum (1999) explica a noção de significado argumentando que "Perguntarqual
o significado de um termo é perguntar qual o contexto e quais as conseqüências de sua
ocorrência*’(p. 144). Em outras palavras, qualquer essência (sentido, significado)de algo
provem dahistória de reforçamento do indivíduo, que aprendeu a significar as coisas com
uma comunidade verbal que reforçava ou punia, a partir de acertos e erros. Visto isso. a
essência enquanto sentido dos fenômenos (o que aparece ao homem segundo Husserl) é
algo aprendido pelo indivíduo, sendo assim explicado por sua história de reforçamento
(Baum. 1999).
Vê-se que para a Fenomenologia. o significado está inteiramente dependente de
uma consciência que se volta para o mundo e constitui essa essência. Uma essência que
10 comportuncraal verba] é definido por Sknner {1978a)como um operante que tem «uas coaseqúêncút; mediadas
por um ouvinte O que significa dizer que o comportamento age primeko sofcre o ambiente social. Ao solicixara
alguém que íectae a janeia. meu comportamento afeta o comportamento de outra pessoa c. ê esta. que por sua t ez
ahera. o ambtente fisteo cfaetasoeniie.no caso. fcchaado ajanela* sentfe esse um exemplo de componaunenso vot»L
42
C aTTTUjO v m
independe das contingências ou fatos que giram em torno do tal fenômeno (Chauí. 1999).
Jáo Behaviorismo. precisamente Skinner, afirma queo significado está nas contingências.
O indivíduo apreende o sentido do que lhe aparece na sua relação com o mundo, no qual
existe uma comunidade verbal que o condiciona a aprender tais significados (Skinner,
2003). Acho que todos já ouviram falar da história das crianças-lobo. De fato. se a
essência independesse das contingências, aquelas crianças teriam aprendido, sozinhas,
com suas consciências, a essência (a qual conhecemos, e a qual não muda. pois é idêntica
a ela mesma) das coisas que as cercavam.
Conclui-se. então, que o Behaviorismo Radical dá ao homem o papel de cons­
tituir essências, na medida em que interage com o mundo, dando sentido e sendo afetado
pelo mesmo. Logo. trata-se de uma ação transformadora constante do homem sobre o
meio e do meio sobre o homem (Costa. 1996).
Já sabemos que a essência do homem enquanto a consciência não é negligenci­
ada pelo Behaviorismo Radical, mas somente é vista sob uma outra perspectiva, a de
estar voltado para algo. discriminando ou respondendo diferentemente a um estimulo,
antes despercebido; o contrário de estar inconsciente ou não tratar diferentemente um
estimulo determinado. Por exemplo, no momento estamos conscientes do artigo que
estamos escrevendo, a cada linha tentamos escrever num formato que o leitor possa
entender e gostar. Ao mesmo tempo, não estamos conscientes do que está sendo tratado
no jornal da TV que uma outra pessoa está assistindo no quarto ao lado (não estamos
voltados para esse fenômeno). Assim, quando respondemos a um estímulo X em detri­
mento de outro, estamos consciente de X e inconsciente do outro.
Mas onde entra a previsão e o controle do comportamento nessa interação do
homem com o ambiente? Sabemos que o objetivo de toda ciência é prevere controlaralgo
e, a Análise do Comportamento, como ciência que é, também se propõe à previsão e ao
controle do comportamento (Costa. 1997).
Ora. pesquisando o que controla, por exemplo, o comportamento de uma
mulher no que diz respeito a continuar casada com um homem que a espanca, a Análise
do Comportamento vai buscar no ambiente dessa mulher o que reforça seu comporta­
mento: que estimulo é esse “que é mais forte*’do que o sofrimento de ser agredida pelo
marido. Fazendo um estudo objetivo, acabaremos descobrindo as variáveis controladoras
do seu comportamento, o que facilitará o estabelecimento de previsões de futuros com­
portamentos desta mulher.
Concluindo, se a essência do homem é voltar-se para o mundo, dando-lhe
significado, e o estudo da previsão e do controle do comportamento explica essa relação
homem-meio (sentidos que o homem dá á sua vivência, estímulos que determinam sua
própria maneira de se comportar, inclusive o de dar sentido ao que lhe aparece), não
notamos o que está sendo negligenciado no estudo sobre o homem, de acordo com o
enfoque behaviorista.
Poroutro lado. Husserl concede, ainda, aohomem, a qualidadedetranscendencia.
Transcender seria ultrapassar o dominio da experiência, chegando ao domínio espiritual
(Russ. 1994). Essa qualidade é bem compatível com a própria fundamentação da
Fenomenologiaque se contrapõe ao naturalismo(pensamento que nãoadmiteo espírito), o
qual segundo Husserl é a “representação da existência da totalidade do ser (consciência,
idéia, etc) à imagem da natureza (e da coisa material)“ (Russ. 1994, p. 195).
43
Nesse caso. acredita-se que a essência pura somente seria alcançada através de
uma redução que o sujeito transcendente faria. Colocando tudo entre parênteses, o que
significa nos abstermos de toda certeza e de idéias prc-concebidas que o mundo material
nos oferece, passaremos do fenômeno (aquilo que aparece na experiência) à essência
(sentido puro do ser, do fenômeno) (Russ, 1994).
Com um mínimo de conhecimento sobre o Behaviorismo, fica claro que se a
essência humana fora transcendência, com todacertezao Behaviorismo a negligencia,já
que não admite explicações metafísicas (cf. Michelleto. 1997). No Behaviorismo Radi­
cal, comojá foi dito. tudo é explicado na experiência, levando em conta as circunstâncias
e conseqüências do ato humano. É através da interação homem e ambiente que os
behaviorístas encontram toda fundamentação e explicação para qualquer fenômeno hu­
mano.
Então, afinal de contas, o Behaviorismo Radica] negligencia ou não a natureza
ou essência humana? Se esta for tomada como a consciência, a resposta é não. por tudo
que já foi explanado. Mas se admitirmos a transcendência como essência humana, a
resposta é sim.já que o Behaviorismo jam ais aceitaria uma explicação metafísica para o
comportamento humano, colocando em segundo plano a interação homem-ambiente.
44
CAríTVLOIX
O Behaviorismo trabalha com animais,
particularmente com ratos brancos,
mas não com pessoas, e sua
visão do comportamento
humano atem-se, por isso,
àqueles traços que os seres humanos
e os animais têm em comum?
Ludimar Santos lieira
A Análise Experimental do Comportamento (A.E.C) tem desempenhado uma
importante função, qual seja, a de contribuir com seus dados de pesquisas para o desen­
volvimento de uma ciência que tem como objeto de estudo o comportamento. A este
respeito Gomide e Weber (1998), ressaltam:
Pretcndc-sc na análise experimenuü do comportamento encontrar as rela­
ções funcionais entre variáveis comportamentais e ambientais, através da
experimentação, estabelecendo regras gerais, a fim de permitir a elaboração
dc um modelo de seu objeto de estudo, o comportamento dos organismos (p.
21)
Com os avanços advindos das conquistas em A.E.C, o número de espécies
animais estudadas em laboratório foi ampliado, incluindo-se ai os seres humanos, consi­
derando as diferenças e grau de complexidade em relaçãoàs demais espécies. Cabe regis­
trar que os experimentos realizados com espécies mais simples não invalidaram os resul­
tados obtidos mas. sim, serviram para confirmar aspectos comuns no comportamento de
humanos e nào humanos, bem como outros aspectos exclusivos apenas à nossa espécie.
Neste sentido Skinner (2003>afirma:
Há excelentes razões para começar com casos simples e só passar adiante
quando o poder da anáiise o permitir Se isto significa, como parece signifi­
car que >e comece com animais, a ênfase é indubitavelmente dada àqueles
traços que pessoas e animais possuem em comum- Todavia, algo se lucra, de
 ez que só desta maneira, podemos ter certeza daquilo que é unicamente
humano <p. 193).
Ademais, é fato que as pesquisas produzidas em laboratório com sujeitos
humanos ou não. objetivam fornecer maior precisão quanto à fidedignidade nos resulta­
dos quando comparadas com resultados de estudos realizados num ambiente natural, por
estecontercomplexascontingências(variáveis)que fugiriamaocontroledoexperinventador
(Skinner, 2003).
Os experimentos envolvendo humanos foram feitos inicialmente com sujeitos
"retardados" e psicóticos, para mais tarde incluírem crianças e adultos considerados
normais. Há que se ponderar as dificuldades encontradas com relação à presença do
experímentador e as diferentes histórias de vida de cada sujeito submetido à experiência.
Deste modo. ainda assim, em um ambiente de fácil controle os resultados com sujeitos
considerados anormais1 foram tidos como satisfatórios (Skinner, 2003).
Considerando a complexidade do comportamento humano, fez-se necessário
utilizar em um primeiro momento espécies mais simples que serviram para delimitar e ao
mesmo tempo dar mostras das semelhanças comportamentais em relação à nossa espécie.
Portanto, as pesquisas com não humanos ainda fornecem algumas vantagens destacadas
assim pelo próprio Skinner (1984).
O pesquisador precisa de um organismo facilmente disponível e de manuten­
ção barata. Ele precisa submetê-lo a regimes diários, freqüentemente por
longos períodos de tempo, confiná-lo em ambientes facilmente controla­
dos. e expô-lo a contingências complexas de reforço. Quase necessariamen­
te tais organismos são mais simples do que os homens. Ainda assim, com
muitas poucas exceções, aqueles que estudara os organismos estão principal­
mente interessados no comportamento humano. Muito poucas pessoas es­
tão interessadas no rato e no pombo em si (p. 250».
As pesquisas com não humanos, tanto no que se refere às conquistas no campo
das ciências biomédicas nas suas diversas ramificações, bem como em relação a A.E.C são
essenciais ao desenvolvimento de qualquer estudo científico com vistas à descoberta e o
aperfeiçoamentode conhecimentos úteisà humanidade. Sobre isto. Skinner(1984) defen­
de a pesquisa animal considerando que:
Apesar de ás vezes dizerem que a pesquisa cm animais inferiores toma
impossível descobrir o que é caracteristicamente humano, é só estudando o
comportamento dos animais inferiores que podemos dizer o que é caracte-
risticamcnte humano. As dimensões daquilo que parecia ser humano foram
sendo progressivamente reduzidas quando começamos a entender melhor os
organismos inferiores. Aquilo que sobrevive, claro, é da maior importância,
isso precisa ser investigado com seres humanos. Não há evidência de que a
pesquisa com animais inferiores contamine a pesquisa com homens ou que
aqueles que estudam os animais não tém nada de importante a dizer a respei­
to dos homens (p. 250).
1Lm analtsu do componsunenío aào unkza o tenne patológico pan comportamento estranho ou dato anorroL
se tal comportamento ocorre é porque o mesmo possui uma fuaaoaaJidade ou um »aJorde sobrevivência (Maios.
1999).
46
CatttvloLX
Levando-se em consideração as pesquisas sobre o comportamento humano.
Gomide e Weber (1998) afirmam que A.E.C é "uma maneira para se estudar o comporta­
mento humano e sua interação com o meio ambiente. Não pretende ser uma simplificação
do que ocorre no nosso cotidiano (chamado ambiente natural), mas um modelo (...)
(p. 141r . Portanto, a A.E.C vem ser mais um modelo da ciência do comportamento
também chamada .Análisedo Comportamento “que se caracteriza porser uma investiga­
ção acerca da relação entre o organismo e meio que se fundamenta no Behaviorismo
Radical e utiliza vários métodospara estudar tal relação, onde a A.E.C é apenas um deles”
(Costa. 1997, p. 9).
Desta forma, os experimentos avançaram das espécies mais simples até chegar
aos humanos com o intuito de oferecer explicações sobre a complexidade de nosso
comportamento ou parte dele. levando-se em conta que os processos básicos do
comportamento foram lançados e ampliados para as espécies em estudo, conforme seus
limites evolutivos. Deste modo. mais uma vez Skinner (1984) diz:
É um fato que os métodos inicialmente desenvolvidos para o estudo de
organismos inferiores, bem como os conceitos e os princípios nascidos desse
estudo, foram aplicados com êxito ao comportamento humano, tanto numa
análise básica como em muitas aplicações tecnológicas (p. 251).
Enfim, anaves das suas conquistas, a A.E.C vem resistindo às criticas de
céticos que insistem em refutar leis e conceitos reafirmados experimentalmente, assim
sendo, este modelo experimental vem se afirmando e ampliando suas buscas como uma
possibilidade de fundamentar uma psicologia cientifica voltada para uma melhorcompre­
ensão do comportamento humano, fruto da interação de complexas contingências
filogenéricas. omogenéricas e culturais.
Toma-se evidente, então, pelo que vem sendo exposto ao longo deste livro e
especialmente neste capitulo que o Behaviorismo Radical não apenas preocupa-se com o
que é especifico do ser humano, como também, ao longo do desenvolvimento da ciência
que se propôs fundamentar, experimentos com humanos foram e ainda são desenvolvi­
dos. enfocando por exemplo o comportamento verbal que só póde ser desenvolvimento
a partir da cultura, o que é considerado por Skinner (1978b) exclusivo do homem. Além
disso, embora Skinner (2003) tenha defendido a utilização de não humanos em experi­
mentos. o autor nunca negou as diferenças entre comportamento humano e não humano
e a maior complexidade do primeiro.
47
C a pt t l l o X
O Behaviorismo traz resultados obtidos
nas condições controladas
de um laboratório, não podendo ser re­
produzidos na vida diária,
e aquilo que ele tem a dizer acerca do
comportamento humano no mundo mais
amplo torna-se, por isso, uma
metaciência não comprovada? Apenas
cultua os métodos da ciência, mas não é
científico?
Aliana Ribeiro Porto
Há duas criticas voltadas a Skinner e ao Behaviorismo Radical que sereferem às
questões da cientificidade do mctodo skinneriano. A primeira afirma sero Behaviorismo
uma metaciência não comprovada, e a segunda rotula Skinner como não cientifico, limi­
tando-se a competir com as ciências.
Inicialmente é necessárioesclarecerqueo Behaviorismo Radical nãoé umaciên­
cia. e sim a filosofia dc uma ciência do comportamento (Skinner, 2003). Neste sentido,
enquanto filosofia, o Behaviorismo Radical sepropõe a dar suporte à ciência do comporta­
mento a partir de suas reflexões, diferenciando-se do Behaviorismo Clássico de Watson.
Apesarde não se propor a fazer do Behaviorismo Radical uma ciência, Skinner
é cientifico e ressalta a importância da ciência reafirmando seu valor para a sobrevivência
da humanidade. Ele reconhece os problemas ligados à ciência acrescentando que o ataque
a ela não se faz injustamente, uma vez que vem se desenvolvendo de forma desigual
(Skinner, 1998).
Contrariando o que os críticos alegam, por que podemos defender a posição de
que Skinner é científico? Em primeiro lugar porque é nítido, em praticamente todas suas
obras, que Skinner constrói seu pensamento a partir de características da ciência, tais
como. definição precisa do fenômeno a ser estudado, ênfase sobre fatos e linguagem
49
rigorosa (cf. Bock. Furtado e Teixeira. 1999; cf. Skinner. 1998). Além disso. Skinner
também foi um analista experimental do comportamento, tendo realizado inúmeros expe­
rimentos em laboratório - todos conduzidos de acordo com os padrões da ciência(obser­
vação, controle do ambiente experimental, manipulação controlada de variáveis).
Para Skinner, a ciência é de suma importância na vida do homem e vem suprir a
necessidade da humanidade, na medida em que acredita que a mesma é capaz de levar as
pessoas "para além de sua experiência pessoal e da deficiente amostragem da natureza,
deficiência inevitável na duração de uma só vida" (Skinner, 2003, p. 109). Segundo ele. a
ciência também seria capaz de colocar os indivíduos sob controle de condições que não
poderiam desempenhar qualquerpapel a fim deformar-lhe emanter-lhe o comportamento.
Com seus experimentos, como qualquer cientista. Skinnerbuscava descobriras
leis gerais que regem os comportamentos dos organismos, mesmo em situações mais
simples. Deste modo. Skinner tinha a intenção de postular princípios gerais sobre o
comportamento humano que servissem à ciência e. conseqüentemente, à humanidade.
Nas palavras de Andery e cols. (1999), “A ciência caracteriza-se [exatamente) por ser a
tentativa do homem entender e explicar racionalmente a natureza, buscando formularleis
que. em última instância, permitam a atuação humana" (p. 13).
Durante o seu trabalho Skinner postulou, então, os princípios comportamentais
O que seriam estes princípios? São leis que regem os comportamentos dos organismos,
formando, dessa maneira, seu repertório comportamental. Segundo Skinner **ao aprender
as leis da Ciência, uma pessoa se toma apta a comportar-se de forma eficaz nas contin­
gências de um mundo extraordinariamente complexo"' (Skinner, 2003, p. 109). Percebe-
se. então, a importância dada por Skinner a uma ciência que contribuísse para o cresci­
mento e bem-estar da humanidade. Lma ciência que não reduzisse o homem a uma tàbula
rasa. mas o compreendesse enquanto um ser multideterminado. não podendo ser reduzi­
do apenas a seu aspecto biológico (Micheletto. 1997).
A critica a Skinner que postula serem seus experimentos de laboratório impos­
síveis de se reproduzir fora dele também não se sustenta, uma vez que percebemos, na
história da Terapia Analitico-Comportamental. que os experimentos controlados em
laboratório foram e são usados, até os dias atuais, para criar técnicas que melhorem os
resultados da terapia. Acrescentando-se a isto. a aplicação da .Análise do Comportamen­
to não se restringe ao contexto clinico, ocorrendo na sociedade em geral como, por
exemplo, na saúde, na educação e no planejamento da cultura.
A partir desta discussão podemos observar e concluir que as criticas voltadas
a Skinnerafirmando serem seus experimentos longe da realidade cotidiana não devem ser
consideradas. Observamos, em toda a obra de Skinner, a sua preocupação em estarperto
da realidade humana e de suas experiências - como este livro pretende mostrar- o que faz
da Análise do Comportamentoe de sua filosofia, o Behaviorismo Radical, uma teorização
sobre o mundo com qual os homens interagem.
50
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Comportamentalismo: Respostas às Críticas de Skinner

  • 1. ATE ONDE O QUE VOCÊ SABE SOBRE O BEHAVIORISMO É VERDADEIRO?RKSPONlHuNlM) AS PRINC IPAIS C R Í T I C A S D IR KClOiNADAS AO HKIIAV'lORlSMO OK SK1.NNKR Nazaré Costa oi^anim dora Alia nu Uiheiro l*oi <o Amlrc/a Machado In c id i r e m i r a Soa ri s da Silva Kercya liernardes l*inlo Bandeira Líia IVriianda l-erreira 1'erra/ l.uciane da ('osla Harros Ludim ar Santos Vieira Nádia Pra/ercs Pinheiro Simotic dos Sanlos ('o n v a Suane Maria Marinho Sá laviian Marques liandeira Viviane Pereira dos Sanlos ESETec
  • 2. Até Onde O Que Você Sabe Sobre O Behaviorismo É Verdadeiro? Respondendo As Principais Críticas Direcionadas Ao Behaviorismo De Skinner
  • 3. Até Onde O Que Você Sabe Sobre O Behaviorismo É Verdadeiro? Respondendo As Principais Críticas Direcionadas Ao Behaviorismo De Skinner Nazaré Costa Organizadora Aliana Ribeiro Porto Andreia Machado Ingrid Ferreira Soares da Silva Kercya Bernardes Pinto Bandeira Lívia Fernanda Ferreira Ferraz Luciane da Costa Barros Ludimar Santos Vieira Nádia Prazeres Pinheiro Simone dos Santos Corrêa Suane Maria Marinho Sá Taynan Marques Bandeira Viviane Pereira dos Santos ESETec Editores Associados 2004
  • 4. Copyright desta edição: ESETec Editores Associados. Santo André. 2004. Todos os direitos reservados Costa, Nazaré. Até Onde O Que Você Sabe Sobre O Behaviorismo É Verdadeiro? Respondendo As Principais Criticas Direcionadas Ao Behaviorismo De Skinner - Org Nazaré Costa. 1*ed. Santo André. SP: ESETec Editores Associados, 2004. 80 p. 21cm 1 Behaviorismo Radical 2. Skinner 3. Comportamento Humano ISBN- 85- 88303- 47-7 ESETec Editores Associados Solicitação de exemplares: comercial:aesetec.com.br Td.<11)4990-5683 Telfex: (11)4438-6866 www.esetec.com.br
  • 5. “Com todas as minhas fraquezas criei um mundo no qual todas as coisas que faço são positivamente reforçadoras. Eu reconstruí um mundo no qual posso me conduzir bem " B.F.Skjnner, 1990
  • 6. Para meus sobrinhos Xfaick e Maytta que representam os filhos que ainda não me disponibilizei ter. Vocês são muito importantes para mim!
  • 7. Agradecimentos Aos alunos-autores que aceitaramo desafio e se dedicaram ao livro, em especial àqueles que estiveram comigo até o fim. Aos alunos em geral para os quais escrevo, Ao Hugo Leonardo, que tem tomado minhavidamais reforçadora. Ao Olavo Galvào pela disponibilidade de lero material e tecer comentários sobre o mesmo, À Teca, que mais umavez confiou emmeu trabalho!
  • 8. Apresentação Mais um livro. Agora como idealizadora. orientadora e organizadora. Mais um sonho realizado! Este livro possui uma história longa, considerando sua idealização, mas curta partindo do momento que os autores se engajaram no projeto - junho de 2003. A história deve ter tido seu inicio por volta de 1997 quando fazia parte de um grupo de estudos em Belém e propus aos componentes do mesmo responder as vinte críticas apresentadas por Skinnerno livro Sobre o Behaviorismo. A idéia era responder as críticas de forma clara, simples e direta para que mais pessoas tivessem acesso ao pensa­ mento skinneriano. uma vez que a leitura de Skinner, embora imprescindível para os analistas do comportamento, nem sempre se mostra compreensível e prazerosa, sobretu­ do. para iniciantes. Como naquelaépoca o grupo não levou o projetoà frente e continuei consideran­ do relevante executá-lo. apresentei a proposta ao Grupo de Estudos em Análise do Com­ portamento (GEAO. criado por mim em janeiro de 2003 na Universidade Federal do Maranhão, e este. depronto, aceitou. Ogrupoé totalmente formadoporalunose ex-alunos, sendo este um dos aspectos inovadores do livro - um livro escrito quase completamente por alunos de graduação, na sua maioria do 6 ° semestre de Psicologia, quando iniciaram a escrita de seus capítulos. Como no projeto original, o objetivo do livro consiste em responder criticas freqüentes dirigidas ao B ehav iorismo de Skinner. Por isso, a orientação dada aos autores foi a de que redigissem seus argumentos usando ao máximo o próprio Skinner. A idéia então é mostrar que de fato Skinner deu. no mínimo, alguma atenção a tópicos que os críticos alegam que ele negligenciou e que os mesmos sustentam afirmações equivocadas a respeito das proposições skinnerianas. O livro, em última instância, busca divulgar as idéias de Skinnertais quais ele as apresentou, como uma forma de valorização do seu trabalho tão erroneamente criticado, embora pontos da proposta de Skinner atualmente sejam alvo de criticas pelos próprios analistas do comportamento que se propõem a ir além do legado deixado pelo autor. Sabe-se que o livro de Skinner Sobre o Behaviorismo teve como objetivo exatamente responder as 2 0 criticas mais freqüentes que são feitas ao Behaviorismo Radical. Deste modo. cabe a pergunta - O que distingue esta proposta dajá existente? A distinção reside no fato do livro ser escrito para o público leigo e/ou iniciante em Psico­ logia. Assim, nada mais adequado para a realização desta tarefa do que contar com a participação dos próprios alunos que tiveram e que ainda possuem dificuldades em compreender certos textos e colocações de Skinner. No que se refere à estrutura, o livro seguirá a seqüência das críticas que Skinner enumera emSobreoBehaviorismo (com exceção dacritica que afirmaque o Behaviorismo desumaniza o homem, que constituirá o último capitulo), sendo que algumas foram agrupadas em função da possibilidade de relacioná-las. Então, ao invés do livro ser constituído de 2 0 capítulos, como era de se esperar, ele foi dividido em 16, como mostra o sumário. As criticas foram transformadas em questionamentos, tendo, por este motivo, 11
  • 9. sido mantidas as mesmas palavras e expressões do material de Skinner. Cada uma das criticas tomou-se o titulo dos capítulos. Cabe ainda ressaltar que houve escolha e sorteio, quando havia coincidência de interesse, quanto à critica a ser trabalhada pelos autores. As criticas que restaram foram distribuídas entre os dois estagiários de clinica analitico-comportamental e eu, sendo que ao longo do processo algumas desistências ocorreram e novas divisões de capítulos foram feitas, considerando, sobretudo a disponibilidade para escrever um outro capítulo em um tempo mais curto. Como deve ser o propósito de qualquer autor ou organizador, espero que a meta do livro seja alcançada e queele seja mais uma contribuiçãono sentido de divulgaras proposições de Skinner, do modo como ele as defendeu, e não de maneira equivocada e distorcida como muitos ainda apresentam em livros e em sala de aula. Considero ser uma postura ética de um professor-formador falar de forma limitada de autores com os quais não se identifica e não possui familiaridade, apontando isto, e não deturpando e ou afirmando inverdades. Estou imensamente feliz por estar tendo a oportunidade de dividir este sonho com alunos com os quais tive o prazer de trabalhar na universidade e futuros analistas do comportamento (espero!), além de estar iniciando os mesmos, em grande estilo, no mundo científico - produzindo e divulgando conhecimento. As sementes que plantei já estão produzindo frutose muitos delesjá se encon­ tram bem amadurecidos. Este é o reforço positivo mais potente para a manutenção de meus comportamentos enquanto professora. Estou tranqüila por saber que a Análise do Comportamento mudou a “cara" da Psicologia em São Luís e que a tendência é que seus seguidores afetem positivamente ainda mais este ambiente. Sazaré Agosto de 2003
  • 10. Sumário I O B e h a v io r ism o ig n o r a a c o n s c iê n c ia , o s s e n t im e n t o s e o s est a d o s MENTAIS, NÃO ATRIBUINDO QUALQUER PAPEL AO EU OU A CONSCIÊNCIA DO Eli? Luciane da Costa Barros....................... .............................. ............. 15 D O B e h a v jo r is m o n e g l ig e n c ia d o n s in a to s e a r g u m e n t a q l e t o d o c o m ­ po r t a m e n t o é a d q u ir id o d u r a n t e a v id a d o in d iv íd u o ? Lhia Fernanda Ferreira Ferraz......... ....................................................... 19 III O B e h a v io r ism o a p r es en ta o c o m p o r t a m e n t o sim p l e s m e n t e c o m o u m c o n ju n t o d e r e spo st a s a e s t ím u l o s , d e s c r e v e n d o a pe s s o a c o m o u m a u t ô m a t o , u m r o b ô , u m fa n t o c h e o u u m a m á q u in a ? Sadia PrazeresPinheiro.......................................................................... 23 IV O B eh a v io r ism o NÃO ten ta e x p l ic a r o s p r o c e s s o co g n ittv o s? Ihiane Pereira dos Sanlos.......................................................................... 27 V O B e h a v io r ism o n ã o c o n s id e r a a s in t e n ç õ e s o u o s pr o p ó s it o s ? Nádia Prazeres Pinheiro............................................................................. 29 1 O B e h a v io r js m o n ã o c o n s e g u e e x p l ic a r a s r e a l iz a ç õ e s c r ia tiv a s - na ARTE, POR EXEMPLO, OU NA MÚSICA, NA DE LITERATURA, NA CIÊNCIA OU NA MATEMÁTICA? Taynan Marques Bandeira........................................................................... 33 VII O B ehav io r is m o é n e c e s s a r ia m e n t e s u p e r f ic ia l e n ã o c o n s e g u e l id a r c o m a s p r o f u n d e z a s d a m e n t e o u d a p e r s o n a l id a d e ? Suane Maria Marinho S á............................................................................ jj VTII O B e h a v io r ism o limtta- se â pr e v is ã o e a o c o n t r o l e d o c o m po r t a m en to E NÃO APREENDE O SER, OU A NATUREZA ESSENCIAL DO HOMEM? Andrezza M achado....................................................................................... 41 IX O B ehav io r is m o t r a b a l h a c o m a n im a is , p a r tic u la r m e n t e c o m r a to s BRANCOS, MAS NÃO COM PESSOAS, E SUA VISÃO DO COMPORTAMENTO HUMANO ATEM-SE, POR ISSO, ÀQUELES TRAÇOS QUE OS SERES HUMANOS E OS ANIMAIS TÊM EM COMUM? Ludimar Santos Vieira.................................................................................. 45 X O B e h a v io r is m o t r a s r e su l t a d o s o b t id o s n a s c o n d iç õ e s c o n t r o l a d a s DE UM LABORATÓRIO, NÃO PODENDO SER REPRODUZIDOS NA IDA DLÁRLA, E AQUILO QUE ELE TEM A DLZER ACERCA DO COMPORTAMENTO HUMANO NO MUNDO MAIS AMPLO TORN A-SE. POR ISSO UMA METACIÈNCIA NÃO COMPROVA­ DA. APEN AS CULTUANDO OS MÉTODOS DA CIÊNCI A. MAS NÃO É CIENTIFICO? A liana Ribeiro P orto.................................................................................... 49 13
  • 11. XI O Beh a v io r ism o é s u p e r s im p u s t a e in g ê n u o e s e u s fa to s s ã o o u TRIVIAIS OU JÁ BEM CONHECIDOS, SENDO QUE SUAS REALIZAÇÕES TECNOLÓGICAS PO­ DERIAM TER SIDO OBTIDAS PELO SENSO COMUM? Nazaré Costa, Taynan Marques Bandeira e Viviane Pereira dos Santos 51 XII O B e RWTORISMO CONSIDERA q u e SUAS ALEGAÇÕES SE APLICAM AO PRÓPRIO CIENTISTA BEHAVKHUSTA? ASSIM SENDO. O BEHAVIORISTA DIZ APENAS AQUI­ LO QUE FOI CONDICIONADO A DIZER E QUE NÃO PODE SER VERDADEIRO? Nazaré Costa............................... ............................................................ 55 XIII O B e h a v io r is m o só s e in t e r e s s a p e l o s p r in c íp io s g e r a is e po r is s o NEGLIGENCIA A UN1CTDADE DO INDIVIDUAL? IngridFerreira Soares da Silva............................................................. 57 XIV O B eh a v io r is m o é n e c e s s a r ia m e n t e a n t id e m o c r á t ic o po r q u e a r e l a ­ ç ã o e n t r e e x p e r im e n t a d o r e o s u je it o ê d e m a n ip u l a ç ã o e s e u s r e s u l ­ t a d o s p o d e m , p o r e ssa r a z ã o , s e r u s a d o s p e l o s d it a d o r e s e n ã o pe l o s h o m e n s d e b o a v o n t a d e ? Simone Corrêa......................................................................................... 61 XV O B e h a v io r is m o e n c a r a a s id é ia s a b s tr a ta s, t a is c o m o m o r a l id a d e e ju s t iç a c o m o f ic ç õ e s ? Kercya Bemardes Pinto Bandeira.......................................................... 57 XVI O B e h a v io r is m o d e s u m a m z a o h o m e m , r e d u z in d o e d e s t r u in d o o h o ­ m e m e n q u a n t o h o m e m , s e n d o in d if e r e n t e a o c a l o r e à r iq u e z a d a v id a h u m a n a , e in c o m pa tív el c o m o g o z o d a a r t e , d a m ú s ic a , d a l it e ­ r a t u r a e c o m o a m o r a o p r ó x im o ? Ingridi Ferreira Soares da Silva. Kercya Bemardes Pinto Bandeira e SuaneMaria MarinhoSá...................................................................... 7] R eferên cia s A p ê n d ic e ...... oid
  • 12. CaUTUjO[ O Behaviorismo ignora a consciência, os sentimentos e os estados mentais, não atribuindo qualquer papel ao eu ou a consciência do eu? Luciane da Costa Barros O Behaviorismo é comumcnte mal interpretado devido à suapreocupação com o rigorcientífico. Umdos maioresequívocos está na falsa concepçãodequeo Behaviorismo ignora os sentimentos, a consciência e os estados mentais (Skinner, 2003). Inicialmente, entre os anos de 1930 e 1944, os estudos de Skinner estavam voltados para os comportamentos publicamente observáveis. Foi em 1945, ano que é considerado o marco de inicio do Behaviorismo Radical, que Skinnerincluiu a análise da subjetividade em seus trabalhos (Costa. 2002). Para explicara subjetividade. Skinner(1990)recorre às contingências ambientais que. segundo ele, atuam nos níveis filogenético. ontogenético e cultural - níveis de deter­ minação do comportamento que serão abordados nos capítulos 2 e 3. A subjetividade é denominada, por Skinner, de eventos privados que, além de cnghbar os comportamentos encobertos(acessíveis diretamenteapenasao próprio indiví­ duo), inclui os estímulos internos(condiçãocorporal e respostaemocional) (Skinner, 1998). Skinner trata a subjetividade ou eventos privados do mesmo modo que os comportamentos públicos, pois, para os behavioristas. cognição, estados mentais e emoção são comportamentos e, como tais, são funções do ambiente - sendo ambiente entendido como tudo que ocorre no universo que é capaz de afetar o organismo (Skinner, 1998). A condição corporal (dor, frio, fome) e a resposta emocional (raiva, tristeza, alegria) são partes do universo que afetam o indivíduo. Entretanto, os estímulos internos não são autônomos, pois estão sempre atrelados a um evento extemo antecedente. O Behaviorismo Radical recorre sempre ao ambiente extemo para explicar o comportamen­ to. rejeitando as concepções intemafistas que recorrem ao próprio indivíduocomo tenta­ tiva de explicar o comportamento (Tourinho, 1997). 15
  • 13. Em Ciência e Comportamento Humano (1998), Skinner fala da vida privada como aquela que é construída na relação do individuo com a comunidade verbal perten­ cente ao seu meio cultural. Por isso. para compreender e analisara subjetividade é preciso investigar o contexto ao qual está relacionada. No processo de instalação dos eventos privados no repertório comportamontai do indivíduo, é preciso que ele se comporte publicamente e que a comunidade verbal o ensine a discriminar e nomear o evento privado. Por exemplo, uma criança que está com dor de barriga provavelmente colocará amão na barriga com expressões faciais de dor (rosto franzido). Isso permitirá que outra pessoa responda discriminativamente e diga para ela que o que está sentindo é dor de barriga. Nesse sentido. Skinner <1998) argumenta que todo comportamento antes de ser privado deve ser apresentado publi­ camente. Contudo, com palavras que designam sentimentos, o aprendizado não ocorre de maneira tão fácil, pois os comportamentos que são expressos publicamente quase nunca coincidem com o que se passa no mundo privado. As palavras que uma pessoa utiliza para responder o que está sentindo foram adquiridas através da comunidade verbal, e esta não sabia exatamente o que ela estava sentindo (Skinner. 2002). Skinner (2002) mostrou que as palavras aprendidas para expressar sentimen­ tos começaram com metáforas, como uma forma de mostrar o que se passava internamen­ te através de algo público que fosse semelhante; por exemplo, uma pessoa que se sente traida compara tal sentimento com um punhal enfiado no peito. Houve uma transferência do público para o privado. Numa análise do comportamento, segundo Skinner (2002), não precisamos utilizar os nomes que designam sentimentos se pudermos acessardiretamente os eventos públicos que causaram tais eventos privados. Ao invés de dizer que alguém está deprimi­ do, podemos dizer que não existe nada de reforçador no ambiente desse indivíduo. Isso não significa queo Behaviorismo não leva em consideração os sentimentos. O que o Behaviorismo não aceita sãoos eventos privados como determinantesdo compor­ tamento; eles não são aceitos como causa pois, como foi afirmado anteriormente, existe sempre um evento extemo antecedente (Skinner, 2003). Para ilustrar, costumamos dizer quea raivaé o que nos motivaa “brigar”com alguém, mas ninguém fica com raiva sem que algoextemoao sujeitotenhaocorrido antes detal eventoprivado, como umabatidadecarro, uma ofensa proferida ou um dia com temperatura excessivamente elevada. É fácil atribuir a causa do comportamento aos sentimentos porque estes ocor­ rem ao mesmo tempo em que estamos nos comportando ou mesmo antes de nos compor­ tarmos. formando um elo na cadeia comportamental (Skinner, 2 0 0 2 ). Skinner (2002) esclarece outro ponto que facilita esse engano - o fato de. na maioria das vezes, as pessoas não estarem conscientes das contingências ambientais que estão controlando seus comportamentos. Considerando que a crítica inclui a não-atribuição de papel à consciência, faz-se necessário elucidar de um modo mais especifico como a consciência é vista pelo Behaviorismo Radical. 1 Afirma-se qoe um orgamsmo dvscrômTs»ctstç áots ou -na» «trm uk» quando eic se ceroçiorta difercTWTnerr.ena presença de cada um detaes cHnuuk» <Whotfeye Malkx. 1980*}. : O cooccito <fcestimule nrfançador será apresentado no capitulo III. 16
  • 14. C aUtia o I Skinner (1998) aborda a consciência como a capacidade que o ser humano tem de descrever seu comportamento, identificando a sua relação com as variáveis que o determinam.Ter consciência ou estar consciente refere-se então ao mestno fenômeno - a capacidade que uma pessoa tem de falar sobre o seu comportamento. Quando isso é possível, podemos dizer que tais atos ou comportamentos são conscientes (Baum. 1999). O comportamento de falartambém pode ser consciente ou não. Será consciente quando a pessoa que se comportou for capaz de repetir o que foi dito (Baum. 1999). Entretanto. Skinner (1998) revela que. na maioria das vezes, o homem é inca­ paz de reconhecer tais variáveis, pois estas podem ser sutis a ponto de não despertarem a atenção do indivíduo. Da mesma forma, pode não haver uma razão específica para que este indivíduo se comporte discriminativamente a ponto de tomar consciência daquela relação. Além disso, as variáveis que nos afetam são muitas e discriminar sob controle de qual delas estamos nos comportando não é uma tarefa fácil. Em síntese, quando nos comportamos ou quando estamos aprendendo um com­ portamento. não nos damos conta do processo como um todo. o que tem como conseqüên­ cia a atribuição da função de originador do comportamento a um agente interno - o EU - referindo-se ao próprio homem como responsável pelo comportamento (Skinner, 1998). Quando as concepções intemalistas’ referem-se a um EU como o causador de uma ação. esse EU não coincide com o organismo físico. E como se o corpo apenas se comportasse, mas quem o dirige é o EU, e não importa se esse EU é inconsistente (que muda de um momento pra outro), pois um único EU é capaz de comportar diferentes ações (Skinner, 1998). Para Skinner (1998), o conceito de EU não é essencial em uma análise do comportamento porque ele se baseia nas variáveis ambientais. Considera o EU um mero artifício para simplificar a relação funcional “causa e efeito’', já que trabalhar com os dados ambientais exige uma explicação de como se dá as relações entre eles. A concepção behaviorista de EU, que nada se assemelha às concepções intemalistas. revela que o EU está relacionado com a cultura na qual os repertórios comportamentais vão ser instalados em cada indivíduo a partir da sua interação com o ambiente. De acordo com as variáveis ambientais, o indivíduo aprenderá a se comportar de diferentes maneiras em diferentes situações (Skinner, 1998). O que se tomará próprio de cada indivíduo será a forma como se comportará diante de uma dada situação, visto que a história de reforçamento se diferencia de pessoa para pessoa. Em suma. o EU não é um agente interno ao homem e causador de uma ação, mas sim comportamentos instalados a partir da história de reforçamento do indivíduo em interação com o meio cultural. Podemos perceber claramente, ao longo de todo o capitulo, a ênfase que o Behaviorismo dá ao ambiente, mas isso não torna as criticas dirigidas a ele pertinentes. O Behaviorismo Radical atribui ao EU e a subjetividade (eventos privados) o lugar de ser efeito do ambiente e dos comportamentos que ele produz, e não o de ser causa. Os eventos privados podem fazer parte de uma cadeia de comportamento, mas não o deter­ minam. O estimulo que produz o comportamento é sempre ambiental externo. Logo, não há gravidade alguma em deixar de atribuir ao EU, ou aos eventos privados, o papel de causador do comportamento já que somos a todo o momento afetados pelo ambiente. 3 Aquelas que explicam o fenômeno comportamentai através do que ocorre no interior do indivíduo. 17
  • 15. C apitulo II O Behaviorismo negligencia dons inatos e argumenta que todo comportamento é adquirido durante a vida do indivíduo? Lívia Fernanda Ferreira Ferraz A critica parece estar enfocando duas questões: 1) todo comportamento, para umbehaviorista radical, éum fenômeno aprendidodurantea ontogênesee 2 )o behaviorísta, então, não acredita na possibilidade de alguns indivíduos nascerem com aptidões, por exemplo, para dança, música. literatura etc. Em relação à primeira questão, pode-se argumentar que não é verdadeira na medida em que Skinner explica os comportamentos a partir do modelo de seleção por conseqüências, que é constituído por três niveis de determinação (Andery, 1993). No primeiro nível, influenciado pela teoria danvinista. Skinner postula que existem respostas que são selecionadas pelas contingências de seleção natural, ou melhor, selecionadas filogenicamente. Deste processo surgiram os comportamentos ou dons ina­ tos. eventos que foram selecionados a partir da evolução das espécies (Andery. 1993). “A corte, o acasalamento, a construção de ninhos e os cuidados com as crias são coisas que os organismos fazem e. mais uma vez. presume-se que fazem por causa da maneira porque evoluíram’’(Skinner, 2003, p. 34). E importante ressaltar que os comportamentos selecionados por contingências de seleção filogenética permitem a interação da espécie humana com o mundo, garantindo sua sobrevivência (Andery, 1993). Sobre isto afirma Skinner (1998), Eslas vantagens biológicas explicam certos reflexos em um sentido evolutivo: os indivíduos que provavelmente mais se comportarem de maneira seme­ lhante. presumivelmente tiveram maiores probabilidades de sobreviver e transmitir a característica adaptativa ã prole (p.60). Mas a explicação skinneriana para a aquisição dos comportamentos não se restringe ao primeiro nível de seleção. O segundo nível opera sobre o conjunto de respos­ 19
  • 16. tas no decorrer do período de vida de um indivíduo e o terceiro ocorre à medida que o comportamento é transmitido entre indivíduos (Andery, 1993). A explicação de comportamentos adquiridos durante a história particular do índivíduo vem do segundo nível de seleção por conseqüência, postulado por Skinner - a ontogénese.Neste processo, a seleção opera sobre o comportamento(ação)do indivíduo; 0 organismo se comporta gerando conseqüências, que por sua vez. controlarão a emissão do comportamento no futuro. Skinner (1998) em seu livro Ciência e Comportamento Humano afirma: “As conseqüências do comportamento podem retroagir sobre o organis­ mo. Quando isso acontece, podem alterar a probabilidade de o comportamento ocorrer novamente” (p. 65). Segundo Skinner(1998). o aumento na probabilidade de ocorrência do compor­ tamento está relacionado cora a atuação de reforçadores1, que por sua vez. funcionam como instrumento de seleção. **Quando temos de considerar o comportamento do orga­ nismo em toda sua complexidade da vida diária, necessitamos estar constantemente alertas para os reforços que prevalecem e que mantém o comportamento” (Skinner, 1998, p. 109). Isto quer dizer que» durante a vida do indivíduo, existem comportamentos que são fortalecidos por suas conseqüências, ou seja. são instalados e mantidos no repertório comportamental do indivíduo mediante a ação de reforços (Skinner, 2003). Além dos comportamentos inatos e dos comportamentos adquiridos pela ação do reforço sobre o comportamento do indivíduo, existem também repertórios comportamentais instalados e mantidos pelas práticas culturais (Andery, 1993; Skinner. 1998). Trata-se do terceiro nível de seleção por conseqüência, a cultura, que segundo Skinner (1998) vem a ser “um conjunto particular de condições no qual um grande número de pessoas se desenvolve e vive” (p. 468). Este grupo ou este conjunto de contingências sociais dispõe de costumes e relações que nunca foram experimentadas ou vistas pelo indivíduo, porém são eventos que o afetam, permitindo a aquisição de comportamentos, seja em nível privado (pen­ samentos e sentimentos) como também públicos, como, por exemplo, o manuseio de objetos e aprendizagem de habilidades sociais (Andery, 1993; Skinner, 1998). Vimos, portanto, que Skinner, respaldadopelo modelo de seleçãopor conseqü­ ências. não explica a aquisição dos comportamentos partindo somente da história devida particular do indivíduo, incluindo em sua análise tanto conseqüências filogenéticas quan­ to culturais. E no que se refere à negligência aos dons inatos? Skinner, na verdade, não negligencia aspectos inatos. Ele nega a existência de “dons”, eqüivalendo a comportamen­ tos que independem da relação que cada pessoa estabelece com seu ambiente. Para Skinner, como visto no primeiro nível de seleção, existem comportamen­ tos os quais a espécie já traz em função de sua história filogenética. Deste modo, dons inatos são os que dizem respeito a aspectos genéticos, se referindo apenas a característi­ cas anatômicas e atividades fisiológicas (respiração e digestão) presentes na espécie humana, como também comportamentos reflexos5 (Skinner, 2003). 1 Estímulos que aumentam a probabilidade futura de um comportamento, como será mais detalhado no prmjmo capitulo. 2 Comportamento* reflexos serão dBcandos no próximo capitulo 2 0
  • 17. C afítuloII Isio significa que. embora Skinner não desconsidere comportamentos inatos, ele não aceita a existência de dons inatos no sentido de aptidões que explicariam compor­ tamentos como os de cantar, escrever, jogar futebol - a noção de que “a pessoa nasceu para isto”. É correto, então, afirmar que, para Skinner, não existem dons inatos que determinam comportamentos operantes6, supondo que tais dons explicariam completa­ mente o surgimento de alguns comportamentos. Concluindo, talvez em função de Skinner dar mais ênfase à história pessoal, e principalmente ao papel da cultura na instalação e manutenção dos comportamentos, é que se pense que Skinnernegligencia o que é inato. No entanto, espera-se que os argumen­ tos apresentados sejam suficientes para que a critica possa ser revista. Este upo de comportamento lambém sera abordado no cap«tuk> sefnmic. 2 1
  • 18. CapítuloIII O Behaviorismo apresenta o comportamento simplesmente como um conjunto de respostas a estímulos, descrevendo a pessoa como um autômato, um robô, um fantoche ou uma máquina? Nádia Prazeres Pinheiro É comum nós, analistas do comportamento, escutarmos que a nossa teoria “reduz o homem a uma máquina'’, que afirmamos que todo e qualquer comportamento obedece à lógica estimulo-resposta - o que seria uma afronta aos seres humanos, animais superiores e racionais, dotados de vontade própria e de livre arbítrio. “Descartes deu um passo importante ao sugerir que parte da espontaneidade das criaturas vivas era apenas aparente e. que. às vezes, o comportamento podia ser iniciado por uma ação externa” (Skinner, 1998, p.51). E Skinner vai além... Para responder a esta critica, devemos primeiramente ter claro o que são com­ portamento reflexo e comportamento operante. No caso do reflexo, os estímulos seriam algum tipo de mudança externa que causaria estimulação orgânica que. por sua vez. provocaria uma resposta orgânica. Suas características são: ser inconsciente, ou seja. ocorre mesmo quando o sujeito não está percebendo; involuntário, ocorre independente da vontade do organismo, não há como controlá-lo ou evitar sua ocorrência por vontade própria e; pode ser previsto com grande precisão, considerando que, na presença do estímulo, a resposta sempre ocorre­ rá (Skinner, 1998). São exemplos de comportamento reflexo, os casos da contração pupilar frente a um estimulo luminoso, da salivação frente a um prato de comida aparentemente apetitoso e do piscar quando algum objeto é passado na frente de nosso rosto ou olhos. "Os reflexos são produtos da seleção natural. Invariavelmente parecem estar envolvidos na manutenção da saúde e na promoção da sobrevivência e da reprodução” (Baum. 1999. p. 72). Os padrões de comportamentos reflexos são comuns a todos os membros dc uma espécie e. por isso. podemos dizer que estão relacionados com a füogênese. Tais padrões começaram a se modificar e a evoluir na medida em que o organismo precisada se adaptar às mudanças do meio. já que. “só o processo evolutivo
  • 19. pode fornecer um mecanismo, pelo qual o indivíduo possa adquirir respostas a configu­ rações particulares de um dado ambiente’' (Skinner, 1998. p. 60). Ora, se o ambiente no qual os organismos estavam inseridos sofreram modificações, eles. os organismos, tam­ bém precisariam evoluirpara permitir a sua sobrevivência e a manutenção de sua espécie. Os camaleões, por exemplo, quando em contato com um estimulo de perigo, mudam sua corpara se esconderem e serem confundidos com o seu esconderijo. Se isso não ocorres­ se, se esse reflexo nâo estivesse presente nesse animal, ele seria presa fácil e sua espécie poderia estar extinta. Da mesma maneira nós, os seres humanos, quando lacrimejamos para expulsar uma partícula de poeira é uma questão de sobrevivência para manutenção da espécie (Skinner, 1998). Se todos os nossos comportamentos se restringissem aos reflexos, poderíamos ser comparados às máquinas, pois nossos comportamentos sempre corresponderiam à relação causa e efeito. Entretanto, como afirma Skinner(1998). “A maior parte do com­ portamento do organismo intacto não está sob esse tipo de controle primário” (p. 54); a maioria dos nossos comportamentos são operantes. O comportamento denominado operante é aquele que opera sobre o meio, produzindo modificações no ambiente físico (natural) e no ambiente social (homens) (Skinner, 1998). Este comportamento é explicadopelo paradigma datriplíce contingência S*- R - Sr.Onde Sdéo estimulodiscriminativo, Ré a resposta e Sré o estímulo reforçador. Explicando cada um: Sd é um estimulo que sinaliza a possibilidade de reforçamento. Distinguindo-se do estimulo antecedente do reflexo, ele “não elicia a res­ posta, simplesmente altera sua probabilidade de ocorrência” (Skinner, 1998. p. 122). Com isso. pode-se concluir o porquê de não falarmos de certezas, e sim de probabilidades em comportamentos operantes, e que, portanto, não somos seres autômatos pois as respostas automáticas não são maiona em nosso repertório comportamental. Assim, podemos alterar a probabilidade de emissão de uma resposta modificando o estimulo discriminativo com o qual o organismo entrará em contato(Skinner, 1998). R é a respos­ ta, a ação em si mesma. E S' é um estimulo conseqüente à respostaque determina a futura freqüência de emissão da mesma (Skinner, 1998). Quando a conseqüência é um Sr. a resposta tem uma maior probabilidade de voltara acontecer, se não for reforyadora. ela (a resposta) terá sua probabilidade de ocorrência diminuída. Deste modo. o reforço cumpre a funçãode fortaleceruma determinada resposta e aumentara eficiênciada mesma: e é por isso que dizemos que o comportamento é selecionado pelas suas conseqüências, elas "podem retroagir sobre o organismo” (Skinner. 1998, p. 65). Ilustrando o paradigma operante. podemos recorrer ao comportamento de la­ var as mãos quando estas estão sujas. Neste caso o Sc é "as mãos sujas”, R é “lavar as mãos” e Sré “ter as mãos limpas”. Assim, toda vez que estiver frente ao estímulo mãos sujas, a probabilidade de lavar as mãos é maior do que a de qualqueroutra resposta, visto que tal resposta foi anteriormente reforçada. “A história de reforçamento é que determina os efeitos de um evento atual, as conseqüências recebidas no passado alteraram o organis­ mo de forma a ele aeir de uma dada maneira frente a um evento” (Micbeletto, 1997, p. 127). A esta história que é construída ao longo da vida dos indivíduos e que consiste, na verdade, na aquisição de repertórios comportameniais por meio [principalmente] do condicionamento operante chamamos ontogénese. 24
  • 20. C a p itu lo III Desta forma, a ontogema diz respeito à história particular de cada indiví­ duo. na medida em que todo homem interage com o ambiente de maneira singular. Sendo o comportamento operanie uma parte da ontogênese, tal­ vez a maior parte dela (Costa, 1996, p. 7-8). Desde esse nível de determinação podemos perceber o quão único é o ser humano (tema que será abordado no capitulo XIV), ninguém vai ter os mesmos compor­ tamentos (mesmo que sejam topograficamente semelhantes, não o serão funcionalmente) de outra pessoa. Haverá sempre algo de novo. o que dará a dimensão de que não podemos ser máquinas - estas são pré-programadas: nós não. estamos em constantes mudanças (cf. Micheletto. 1997). Partindo da própria definição de operante como o comportamento que é selecionado por suas conseqüências, já é possível refutar a critica de que a concepção de comportamento adotada por Skinner obedece a uma lógica mecanicista. Afinal, não se trata de uma análise causai, na qual se busca uma causa para um efeito. Nas palavras de Skinner (1998), Os "íermos 'causa' e 'efeito': já não são usados em larga esrala na ciência. Lma “causa" vem a ser “uma mudança em uma variável independente" e um “dcrto" uma “mudança em uma variável dependente'1'. A antiga “relação de causa c efeito" transforma-se em uma "relação funcional". Os novos termos não suge­ rem como uma causa produz o seu efeito, meramente afirmam que eventos diferentes tendem a ocorrer ao mesmo tempo, em uma certa ordem (p. 24). Lmaanálise funcional avalia contingências eestas são definidas como “relações de dependência entre eventos. Elas prescrevem a probabilidade de ocorrência de um dado evento em função da ocorrência de um outro evento” (Barros, 19%. p. 8 ). Retomando o modelo de seleção por conseqüência, como foi visto no capitulo anterior, o comportamento humano também é controlado pela cultura, como enfatiza Skinner (2002), Podemos atnbuir uma pequena parte do comportamento humano (...) ã seleção natural e à evolução das espécies, uma parte do comportamento humano deve ser atribuida a contingências de reforçamento. especialmente às contingências sociais verdadeiramente complexas a que chamamos cultu­ ra (p. 41). E complementa: o homem “se encontra controlado por seu ambiente, porém não devemos esquecer que é um ambiente, construido em grande parte pelo próprio homem” (Skinner, 1983a. p. 160). Isso quer dizer que o homem é controlado pelo próprio homem: é a sociedade, a nossa própria comunidade, que seleciona os comportamentos que devem ser emitidos. E mais. como disse Micheletto (1997). tenho meu comportamento reforçado pelo suces­ so do meu próprio comportamento, somos “agentes controlados pelo efeito de nossa própria ação” (p. 118). Logo. sou fantoche de mim mesmo? Com certeza não! Nem fantoche do ambiente, nem fantoche de si mesmo, pois anoção de comportamento implica relação. Todos os comportamentos tém uma história. 25
  • 21. a história de reforçamento de cada uzn de nós. as nossas historias de vida, inseridos em uma determinada sociedade. E é dependendo de como e quando os individuos desta sociedade nos oferecem reforçadores oupunidores que poderemos nos comportar em um determinado contexto. Dizer que o comportamento humano é controlado por eventos externos não significa dizer que o homem é um autômato, um robô. um fantoche ou uma máquina. 26
  • 22. C apítvlo IV O Behaviorismo não tenta explicar os processos cognitivos? Viviane Pereira dos Santos Como discutido anteriormente, o Behaviorismo ignora a consciência, os senti­ mentos c os estados mentais como iniciadores do comportamento, excluindo qualquer explicação interna como causa do mesmo. O Behaviorismo. em especial o skinneriano, recebeu severas críticas por ter adotado o recorte externaiista para explicar os comporta­ mentos. abolindo da Psicologia o termo mente e seus correlatos. Posteriormente ocorreram movimentos para trazer a mente de volta, dentre eles o Cognitivismo: “A mente que a revolução cognitiva colocou em evidência é igual­ mente a executora das coisas. É a executora dos processos cognitivos. Ela percebe o mundo, organiza os dados sensoriais em todos significantes e processa a informação” (Skinner, 2002. p. 39). Vale ressaltar que o termo mente utilizado pelos psicólogos cognitivos difere daquele utilizado pelos filósofos antigos e pelos psicólogos estruturalistas e funcionalistas. por não ter como ser estudada pela introspecção, uma vez que não pode ser observ ada, apenas inferida. “Não vemos a nós próprios, por exemplo, processando a informação. Vemos os materiais que processamos e o produto, mas não a produção” (Skinner, 2002. p. 40). Atualmente, tem-se usado a palavracogniçàoou a expressãoprocesso cognitivo em lugar de menie. Conforme Stemberg (2002) o termo cogniçào refere-se ao modo como as pessoas pensam. Neste sentido, a Psicologia Cognitiva estuda a forma das pessoas perceberem, aprenderem, recordarem e pensarem sobre as informações, isto é, busca-se compreender como se dá o processo do conhecimento no indivíduo. Para os behavioristas radicais, pensar é comportamento privado determinado por algum evento externo, logo a mente não executa nenhumpapel noprocesso de pensar. Na verdade, o pensamento não está contido na mente nem em lugar nenhum, ele simples­ 27
  • 23. mente ocorre. O fato de o pensar ser um comportamento encoberto dificulta a identifica­ ção das reais causas do comportamento como exteriores ao indivíduo Na teoria cognitiva, o desenvolvimento do mundo no qual o indivíduo está exposto é pouco valorizado. Tal aspecto pode ser observado na área educacional na qual professores lançam mão dos mais variados métodos e instrumentos para promover o desenvolvimento cognitivo das crianças. Eles são instruidos para trabalharem o intelecto dos alunos, tomando-o mais receptivo e ágil ao processar as novas informações. Já na teoria skinneriana. é o ambiente externo que assume papel central e não as cognições. A cognição é um processo mental e por isso é rejeitado por Skinner como agente que determina o comportamento. “Os processos cognitivos são processos componamentais; são coisas que as pessoas fazem” (Skinner, 2002. p. 39) e como tais são estudados pelo Behaviorismo. Os cognitivistas aproximaram o conceito de mente ao de cérebro e buscam compreender fenômenos cognitivos que nele ocorrem utilizando, como analogia, progra­ mas de computador. No entanto, nem o mais avançado dos computadores poderá explicar o comportamento humano, porque o homem não é uma máquina que pode ser programa­ da para realizarações. A própria estrutura cerebral também foi selecionada e cabe a outras ciências e não à Psicologia saber como e porque foi selecionada (Skinner, 1990). Não restam dúvidas que a Psicologia Cognitiva é uma abordagem que vem conquistando cada vez mais adeptos em virtude de sua linguagem serde fãcil entendimen­ to para o público em geral, enquanto a linguagem skinneriana. por apresentar caráter cientifico, é freqüentemente rejeitada. O extraordinário atrativo das causas internas e a conseqüente negligência das histórias ambientais c do ccnáno atual se devem a algo mais do que a una prática lingüística. Sugiro que tem o encanto do arcano. do oculto, do her­ mético, do mágico - esses mistérios que mantiveram posição tâo importan­ te na história do pensamento humano. É o atrativo de um poder aparente­ mente inexplicável, num mundo que parece situar-se alem dos sentidos e do alcance da razão (Skinner. 2003. p. 140). O que se deve deixar claro é que Skinner procurou explicar os processos cognitivos a partir de um recorte extemalista. Eis o ponto de divergência com as ciências cognitivas que sustentam a idéia de que tais processos podem determinar o comporta­ mento. Desse modo. a distinção entre a Análise do Comportamento e o Cognitivismo toma-se importante para que se compreenda que se traiam de enfoques distintos cujas diferenças aparecem desde o plano filosófico, passam pelo teórico e se evidenciam na prática clínica- Por isso. a integração entre os modelos cognitivista e behaviorista vem sendo cada vez mais discutida e questionada, visto que tal união resultaria em uma incoerência teórica (Costa, 2002). 28
  • 24. Ca utujo V O Behaviorismo não considera as intenções ou os propósitos? Sàdia Prazeres Pinheiro Ao nos indagarmos sobre “O que é intenção?” ou “O que é propósito?”, a probabilidade de ratificarmos a hipótese de que todos darão explicações pautadas numa crença íntemalísta é alta. Intenção, propósito, expectativa, vontade, desejo, intuito, objetivo... Dificil­ mente alguém não entende estas palavras. No conhecimento do senso comum, são elas que desencadeiam nossos comportamentos - é por causa delas que agimos. Assim, se “vamos à praia” é porque desejamos ir até lá; se temos a intenção de sermos bons profissionais, buscaremos estudar para isso e o comportamento de estudar estaria sendo causado pela nossa vontade. Porém, como este capitulo é fundamentado na filosofia behaviorista radical, trataremos de enfocar a intenção a partir de um recorte externaiista. Antesde tudo. precisamos retomaro paradigma da tríplice contingência.( - R- S").poisaelaestaremos semprerecorrendo. Neste modelo, sãoasconseqüênciasreforçadoras que alteram a probabilidade do comportamento ser emitido no futuro. O alcance de tal conseqüência dá-se no comportamento futuro e não no que já ocorreu. A alteração não é imediata no sentido de que ocorre sobre o comportamento presente, elaé na verdade, futura, sendo percebida na emissão ou não de comportamentos futuros (Skinner. 1998). Esta última afirmação necessita deum pouco mais de atenção, pois voltará a ser trabalhada adiante. Segundo Baum (1999). "É claro que um evento futuro não pode causar um comportamento. (...) As variáveis das quais meu comportamento depende devem estar no passado ou no presente” (Baum. 1999. p. 98). De acordo com Baum (1999), existem três significados para a palavra intenção; função, causa e sentimentos. O uso de intenção como função não é incompatível com o discurso científico. Aoafirmarmos que a intenção daborracha é apagarerros de grafia, estamos falando de sua 29
  • 25. função, o que ela faz. para que ela serve, o que ela é. Em suma. estamos nos referindo à sua definição, à sua classe funcional, ou seja. algo que a caracteriza como borracha, algo que a diferencia de todos os outros objetos, e que independente de sua topografia (forma. cor. tamanho) não a faz perder ou ser excluída de sua unidade funcional. A noção de unidade funcional é semelhante à de classe de estímulos, na qual um conjunto de estímulos apresenta alguma propriedade comum (AVhaley e Mallot, 1980a). Mas isso se aplica quando estamos falando de objetos. E quando falamos de comportamento, como pode­ mos interpretar intenção vista como função? O uso de intenção, neste caso. designa efeitos ou objetivos. .Assim, quando apresento o comportamento de usar uma borracha, a intenção do comportamento, isto é. o objetivo do comportamento é o próprio reforçador, qual seja, o de ter algo apagado. Logo, a intenção está presente no próprio comportamento operante. seja na funcionalidade do objeto (trabalho que desempenha), sejano reforçador (estimulo conse­ qüente a um comportamento) de um determinado comportamento. A segunda maneira de definirmos intenção é substituí-la como causa de um comportamento. Deste modo, o comportamento de usar uma borracha é causado por um desejo interno de ter algo apagado. Se agimos de alguma forma, já temos em mente um determinado objetivo, já sabemos o que almejamos, e por isso nos comportamos. Mas. esta assertiva vai de encontro à nossa filosofia que é anti-mentalista. não sendo possível aceitar tal hipótese. Nossa explicação deve, portanto, residir no próprio comportamento operante. Uma vez que ao agirmos temos nosso comportamento reforçado, o fato de termos conseguido o reforço faz com que emitamos comportamento semelhante ao ou- trora reforçado, ou. por outro lado, se formos punidos, teremos menor probabilidade de emitir comportamento semelhante. Tudo depende da história de reforçamento de um dado comportamento. “Nós nos lembramos do que fizemos antes e isso nos inclina a nos comportarmos de modo similar ou diferente, dependendo do que é reforçado*’ (Baum. 1999, p. 103). Ora. se. em uma determinada situação, utilizamosumabonacha para apagarerros e tivemos o nosso comportamento reforçado pelo fato do erro ter sido apagado, o compor­ tamento de apagarteve sua probabilidade de ocorrência aumentada Logo. quandoestiver­ mos frente a um erro (S4), nos comportaremos de maneira semelhante (R). e obteremos (provavelmente) o reforço (SO- Assim, a causa do comportamento não é interna, ele (o comportamento) é de fato fruto de contingências ambientais: é determinado por elas. Fica. ainda, uma questão: a de por que é comum concebermos intenção como causa. Porque ao dizermos que o comportamento é causado, acreditamos que a causa tem que ser anterior à emissão da resposta como no reflexo (Skinner. 2003). Então, a possi­ bilidade mais imediata é que tenha em mente o objetivo, e que essa representação mental seria a causa. Bom. ejá que a causa tem que ser sempre anterior ao comportamento, como o Srpoderia causar qualquercomportamento? Esseesclarecimento, quem nos dá é Skinner. ao dizer que o efeito do Sr faz-se sentir em outras respostas* e não na resposta que o acompanha: Não é correto dizer que o reforçamento operante ‘reforça a resposta que o precede'. A resposta já ocorreu e não pode ser mudada. (...) No lugar de dizer 1O termo resposta s<sxio asado como smónizno de cooiportajncine. 30
  • 26. C A PínxoV que ura homem se comporta por causa das conseqüências que seguem o seu comportamento, diremos simplesmente que ele se comporta por causa das conseqüências que seguiram um comportamento semelhante no passado (Skinner. 1998. p. 97). Destarte, o estímulo reforçador pode sim, controlar a emissão de respostas. Um outro motivo quejustifica a confusão é que ao nos comportarmos seguindo a nossa intenção, esta cessa (Baum. 1999). Por exemplo, se desejamos ter um erro apagado (intenção), o apagamos e, por conseguir êxito em nosso propósito, paramos de apagar. A intenção seria vista como a causa do comportamento, uma vez que a intenção não existe mais. ou seja. o comportamento cessou porque a causa não estámais operando. Faz-se uma relação entre o fim do comportamento com a obtenção do objetivo, conse­ guindo este. aquele é dado como não mais necessário. Deste modo. o parar de apagar é devido ajá ter apagado o erro, portanto "rendo o propósito já realizado, não apagamos mais o erro'’;e tal fato é concebido como se a vontade interna é que estivesse determinan­ do o nosso comportamento. Novamente podemos esclarecer essa situação, agora recor­ rendo ao encadeamento de respostas. Se uma resposta deixa de ser emitida, é devido à aparição do reforço, e este. por sua vez. produz uma mudança no meio e serve como estimulo discriminativo para outra resposta (Whaley e Mallot, 1980b). Da seguinte maneira: Erro -> Apagar o erro -> Erro apagado -> Escrever outra palavra S* R S e S* R A terceira forma de entendermos a intenção é como sentimento. Ao expressar, por exemplo, que estamos com vontade de comprar uma nova peça de roupa e. então, concluirmos que temos a intenção de comprá-la estamos relatando uma vontade, um sentimento. "Se eu sei o que eu quero, isso significa que algum sentimento interno está se comunicando comigo" (Baum. 1999. p. 103). Porém, uma vez mais. estamos nos referin­ do a mentalismos. Baum (1999) descreve “dicas” que iriam nortear nossos auto-relatos (fala para si mesmo). Isso quer dizer que sempre que emitimos um auto-relato. este comportamen­ to está baseado tanto em eventos privados quanto em eventos públicos, além de situa­ ções passadas, na nossa história de vida. e não fundamentado no futuro. Auto-relatos. incluindo palavras como pretender, supor, acreditar, pensar, parecem estar ditando algo futuro, falando do futuro, esclarecendo o que o sujeito irá fazer, mas na verdade estão se referindo a conseqüências passadas que dizem da proba­ bilidade de uma resposta ser emitida e, por conseguinte, ser reforçada (Skinner, 1984). Por exemplo, ao afirmarmos que “pretendemos comer uma isca de peixe”, estamos nos referindo não ao futuro, como pode parecer, mas sim ao passado, pois. em algum momen­ to passado, em circunstâncias parecidas com as atuais, comemos a isca de peixe e foi reforçador. Logo.já que os contextos são semelhantes, agora, a isca aluariacomoreforçador para o comportamento de comê-la. nossas chances de obter reforço ao emitirmos tal comportamento é maior do que com qualquer outro. Essa explicação é pertinente e cientifica. pois envolve apenas eventosnaturais. Assimcomo escreve Baum. “Aexplica­ ção cientifica para a ação aparentemente intencional e para os auto-relatos sobre inten­ 31
  • 27. ções sentidas baseia-se nas circunstâncias presentes associadas ao reforço passado em circunstâncias similares, ambas naturais e passíveis de descobertas" (Baum. 1999, p. 104>. Um sentimento pode agir como“dica" deum auto-relalo, como foi dito anteri­ ormente - sentimento entendido como ato de sentir. Portanto, se sentimos fome. dizemos que temos a intenção de comer, se sentimos frio, temos o desejo de termos conosco um agasalho. E. se dizemos sentir vontade de fazer alguma coisa, se há realmente algum sentimento envolvido na nossa intenção, seja um sentimento de persistência, euforia, raiva, medo etc., ele não é o agente do nosso comportamento, estando apenas presente como subproduto de contingências. Em outras palavras, os sentimentos resultam de condicionamento clássico, por emparelhamento de uma resposta pública com um evento privado (Baum. 1999). Então, ao sentirmos vontade de fazeralgo, não estaremos nos referindo a uma intenção interna, mas sim a nossa própria história de reforçamento. “Uma pessoa dis­ posta a agir porque foi reforçada para tanto pode sentir a condição de seu corpo nesse momento e chamar-lhe “propósito sentido*, mas o que o Behaviorismo rejeita é a eficácia causai desse sentimento” (Skinner. 2003, p. 190-191). Podemos achar suficiente como explicação para umajovem querer freqüentar uma academia de ginástica o fato de ela poder encontrar lá rapazes bonitos . Pode ser, entretanto, que ela faça isso inconscientemente, ou seja. não percebendo que seu compor­ tamento está sendo controlado por tal contingência de reforço. Assim, dizemos que sua intenção é essa. qual seja, o reforçador de estar observando rapazes bonitos. Portanto, "Uma pessoa pode afirmar seu propósito ou intenção... Ela não pode fazer isso. eviden­ temente. se ela não estivesse ‘consciente’ das ligações causais.,. Ainda assim as contin­ gências são efetivas mesmo quando uma pessoa não consegue descrevê-las" (Skinner, 1984, p. 267). A facilidade em darjustificativas internas ao invés de fazer uma análise fúnci' onal (pois nem sempre sabemos das relações entre as contingências que controlam nosso comportamento) é um dos motivos pelos quais dizemos que nosso comportamento é movido por uma intenção interna. E este, por ser um comportamento reforçado e difun­ dido na nossa sociedade, ganha cada vez mais importância e força. Após esta exposição fica claro que o Behaviorismo Radical não desconsidera a intenção; apenas a explica de maneira diferente, de acordo com o enfoque extemalista. A intenção pode, desta forma, ser a função de um objeto, o reforçador de um determinado comportamento, explicada por reforçadores passados e ou história de vida; não sendo necessário recorrer-se a explicações internas, subjetivas, metafísicas ou fantasiosas. 32
  • 28. C aíttllo VI O Behaviorismo não consegue explicar as realizações criativas - na arte, por exemplo, ou na música, na literatura, na ciência ou na matemática? Taynan Marques Bandeira É comum a criatividade ser reconhecida pelo senso comum e conceituada por diversos autores como produto de algo intemo. como se fosse intrínseca ao indivíduo. Entretanto, o recorte extemalista de Skinner rejeita a causalidade interna e enfatiza que todos os comportamentos são determinados a partir das variáveis ambientais externas, comojá foi argumentado em capítulos anteriores. Devido a este posicionamento, muitos autores o criticam dizendo que sua teoria não explica as realizações criativas. Mas é utilizando esse recorte que Skinner, não só considera a existência de comportamentos criativos, como os explica em algumas obras:A Tecnologia do Ensino, Ciência e Compor­ tamento Humano e Sobre o Behaviorismo. De acordo com Skinner (2003), a criatividade sempre foi considerada como algo difícil de ser explicado até o surgimento do conceito de comportamento operante, porque asjustificativas para explicá-la. até então, eram mentalístas. Para mostrar que a criatividade consiste em um comportamento, e que. dessa forma, é selecionado por suas conseqüências, Skinner contrapõe o processo de condicionamento operante e o processo de evolução descrito por Darwin. Skinner (2003) afirma que, na história das espécies (proposta por Darwin), os traços acidentais originados de mutações foram selecionados em virtude de uma maior sobrevivência da espécie; então, do mesmo modo. acontece com as variações comportamentais que são selecionadas em virtude de suas conseqüências reforçadoras. O conceito de seleção é mais uma vez a chave. As mutações na teoria genética e evolutiva, são casuais e as topografias das respostas selecionadas pelo reforço são. se não aleatórias, pelo menos não necessariamente relaci­ onadas com as contingências em que serão selecionadas. E o pensamento criador preocupa-se grandemente com a produção de 'mutações'. Escrito­ 33
  • 29. res. artistas, compositores, matemáticos, cientistas e inventores estão fa­ miliarizados com as formas explícitas de tomar mais provável a ocorrência de comportamento original (Skinner. 2003, p. 101). Assim, toma-se claro que a originalidade não está ligada a processos internos, como enfatizam os mentalistas. Os comportamentos criativos são, como qualquer outro comportamento, selecionados pelas suas conseqüências. A seleção por conseqüências invariavelmente implica história. Ao longo do tempo, resultados bem-sucedidos (reforço) tomam algumas ações mais pro­ váveis, C resultados malsucedidos (não reforço ou punição) tornam outras ações menos prováveis (Baum. 1999, p. 101). Skinner (1998) faz a distinção entre o que se pode chamar de idéias originais e não-originais. As respostasnão-originais são aquelasprovenientes da imitação ou gover­ nadas pocregras1. Já as respostas originais são aquelas que resultam da manipulação das variáveis, ou seja, modeladas pelas contingências. “Artistas, compositores e poetas às vezes seguem regras (imitar o trabalho dos outros, por exemplo, é uma forma de seguir regras), mas atribui-se mérito maior ao comportamento devido a exposição pessoal a um ambiente- (Skinner, 2003, p. 110-U1). Baum(1999), um behaviorista radical contemporâneo, argumenta que o objeti­ vo da atividade de qualquer artista seja ele pintor, escritor, compositor, ou cientista, é buscar a novidade, algo que nunca tenha sido visto ou criado antes. Nesse sentido, cada trabalho criado se constitui como único e novo, não só para a comunidade, mas também para seu próprio aoervo. Entretanto, ninguém cria um trabalho a partir do nada. pois mesmo cada trabalho tendo seu aspecto singular, está relacionado com realizações ante­ riores e origina-se de uma história de vida particular. É perfeitamente passível de verifica­ ção que. embora a compositora Marisa Monte não faça duas músicas exatamente iguais, suas composições parecem umas cora as outras, mais do que se fosse realizada uma comparação entre uma música dela com as de Gal Costa, por exemplo. Então, cada trabalho novo é feito com base nos anteriores e depende das conse­ qüências. pois mesmo não sendo possível sustentar empiricamente. pode-se levantar a hipótese de que se Marisa Monte não tivesse tido conseqüências reforçadoras para suas composições, provavelmente nâo teria continuado a compor. “Os trabalhos anteriores estabelecem um contexto no qual o trabalho novo pode se parecercom eles. mas não tanto que pareça ‘aquela coisa velha"’ (Baum. 1999, p. 102). E quanto mais o indivíduo tem a oportunidade de comportar-se. nesse caso. compor cada vez mais. maior será a probabilidade de reforçamento e conseqüentemente serão instalados comportamentos criativos, pois '‘as grandes sinfonias de Mozart são uma seleção de um número maior, os grandes Picassos são só uma parte do produto dc uma vida de pintura” (Skinner, 1972. p. 172). Assim. Skinner (1972) afirma que o importante é evocar comportamentos porque só assim serão emitidas respostas, que se fossem de outro modo, nâo apareceriam. Para Skinner, a cultura desempenha um pape’ fundamental na instalação de comportamentos criativos. Isto fica evidente quando sustenta que “em igualdade de ' Regras são estímulos veifcats que especificam ooonngêncMS (Jonas. 199TV 34
  • 30. C apitulo VI condições, a cultura terá maior probabilidade de descobrir um artista original, se induz muita gente a pintar quadros ou de produzir um grande compositor, se induz muita gente a compor "(Skinner, 1972. p. 171-172). Diante disso, torna-se claro que Skinner consegue explicarasrealizações criati­ vas sem recorrer a argumentos mentalistas. E ainda enfatiza que as pessoas podem ser instruídaspara aprenderem a ser criativas, ou seja, podem ter um ambiente favorável para o aprendizado de comportamentos criam os. “Por definição, não se pode ensinar com­ portamento original, pois não seria original ser ensinado, mas podemos ensinar ao estu­ dante a arranjar ambientes que maximizem a probabilidade de que ocorram respostas originais" (Skinner, 1972, p. 169). Isso por sua vez desestmtura a concepção mentalista. que é determinista ao afirmar que a criatividade é umdom e. conseqüentemente, quem faz trabalhos originais e apresenta respostas criativas os faz porque nasceu com esse traço iniemo. De acordo com Skinner, quando se atribui a “criatividade” a um dom interno, retira-se a responsabilidade de realmente criar contingências ambientais favoráveis ao desenvolvimento de tais comportamentos criativos. O professor que acredita que o estudante cria uma obra de arte através do exercício de alguma faculdade interior e caprichosa não investigará as con­ dições sob as quais o estudante de fato faz um trabalho criativo. Será também menos capaz de explicar este trabalho quando ocorrer e não tenderá a induzir os estudantes a se comportarem criativamente (Skinner, 1972. p. 160-161). Nesse sentido, os comportamentos inovadores são aprendidos pelo indivíduo, como qualquer outro comportamento. De acordo com Skinner (2002), mesmo algumas variações comportamentais ocorrendo de maneira acidental, os indivíduos podem apren­ der a ser criativos porque o seu comportamento (criativo) é selecionado pelas conseqüên­ cias reforçadoras que o sucedem. Isso significa que a “criatividade" é determinada pelas contingências ambientais, de modo que o comportamento criativo está relacionado à história de reforçamento de cada indivíduo. Assim, quanto mais alguém é exposto a situações problemas que lhe suscitem variações comportamentais. as quais são selecionadas a partir das conseqüências reforçadoras. provavelmente maiores serão os comportamentos criativos. 35
  • 31. C aH tujO VÍF O Behaviorismo é necessariamente superficial e não consegue lidar com as profundezas da mente ou da personalidade? Suane Maria Marinho Sá Sabemos da repercussão que o anti-mentalismo nas obras de Skinner provoca nas pessoas. No entanto, essa já foi uma critica abordada anteriormente, e. portanto, me deterei. apenas, nas questões que envolvem a personalidade. Todosjá ouvimos falar, provavelmente em muitas situações, em“personalidade”. Poucas palavras são tão fascinantes para as pessoas em geral quanto este termo. Como a maioriados temas em Psicologia,o sensocomum"usa e abusa"dotermopersonalidade, que exerce grande encantosobre os leigos. Frase como “Maria Eduarda não tempersonalidade", “meu filho tem uma personalidade forte", ”é da minha personalidade ser assim", “ele agiu assim devido à sua personalidade psicopata" são freqüentemente proferidas no cotidiano. A palavra personalidade é. portanto, usada de diferentes maneiras, seja para atribuirhabilidades sociais aalguém (“perspicaz*’, “veloz"), seja para se referirá caracte­ rística considerada central de uma pessoa ("inteligente", “tímido”, “nervoso"), ou ainda empregada para anunciar a presença de alguém importante ou ilustre (“vamos receber uma personalidade vinda do exterior)~(Fíall. 1984). Mas o que é personalidade? A palavra personalidade se origina do latim “persona" (“soar através"), o mesmo que pessoal, e é definida por “aqueles traços relativamente duradouros de um indivíduo que explicam por suas maneiras características de se comportar" (Stratton e Hayes. 2001. p. 175). Desse modo, personalidade refere-se à maneira relativamente constante de perceber, pensar, sentir e agir do indivíduo, envol­ vendo. assim, todos esses aspectos de forma a se integrarem e organizarem, conferindo peculiaridade e singularidade ao sujeito. De modo geral, os teóricos da personalidade atribuem um papel decisivo aos processos motivacionais. vendo nestes a chave para a compreensão da conduta humana. Sendo assim, muitas vezes o emprego da palavra personalidade refere-se a uma propriedade comum, algo que está dentro da pessoa, que é estável e que determina o que ela irá fazer em uma situação especifica (HalL 1984). 37
  • 32. No entanto, esta caracterização da personalidade nos leva comumente a uma série de questionamentos e dúvidas - se tenho uma personalidade, como ela se constitui? Como posso mudar meu jeito de agir se minha personalidade já faz parte da minha “estrutura”? Por que ajo assim, por que penso assim, por que sinto desse modo e não de outro? Se a personalidade é, por assim dizer, imutável, então seria, ao meu ver, inútil a função e o trabalho do psicólogo. E os comportamentalístas, o que entendem por personalidade? Skinner (2003), em Sobre o Behaviorismo, define a personalidade como "um repertório de comportamento partilhado por um conjunto organizado de contingências"’ (p.130). Em outras palavras. Skinner nos fala que a personalidade é um conjunto de comportamentos de um indivíduo, adquirido a partir de sua história de reforçamento diferencial. Mas o que percebemos comumente é que pessoas são substituídas por “suas” personalidades. Assim, muitos padrões de comportamentos são substituídos por “tra­ ços de personalidades”. Na medida em que as variáveis externas não são referidas ou ignoradas desco­ nhecidas. sua função é atribuída a um agente originador dentro do organismo. As vari­ áveis ambientais e históricas que controlam as respostas são frequentemente desconhe­ cidas dos indivíduos. Conseqüentemente, as pessoas voltam-se para o seu interior (personalidade, eu. selj) em busca de explicações para a origem de suas ações, como visto no capitulo I. A personalidade é freqüentemente utilizada como uma causa hipo­ tética de ação, “se não podemos mostrar o que é responsável pelo comportamento do homem, dizemos que ele mesmo é o responsável pelo comportamento” (Skinner, 2003, p. 130). Para Skinner, o uso do termo “personalidade” refere-se aos padrões comportamentais e não as suas causas ou. especificamente, aos papéis que a pessoa adota. O que. então, dizer das brilhantes análisesjá feitas a respeito da causalidade da personalidade? O que fazer com o fato de que. por toda a nossa história, sábios como Platão. Aristóteles. Nietzsche. Maquiavel e os mais contemporâneos, como Fneud. Jung e Mc Dougall. tentaram construirjustamente um conhecimento sobre a personalidade em que esta é tida como a grande motívadora dos nossos comportamentos? Teriam sido buscas e estudos em vão? Skinner (1990) nos fala que. infelizmente, sim. mas que nem tudo está perdido. Muito mais útil seria a análise do comportamento, seja através da clarificação das contingências de reforçamento. seja através do planejamento de ambien­ tes melhores. A Análise do Comportamento entende a personalidade como um repertório comportamental. adquirido a partir das contingências de reforço, ao qual o indivíduo foi submetido ao longo de sua história. Assim, nos constituímos diferentes devido a diferen­ ças nas situações às quais fomos e somos expostos. As pessoas são intituladas como “tímidas”, “extrovertidas”,“inteligentes”, “autoritárias”, “zangadas”, “desorganizadas”, “agressivas” por causa de contingências que as envohem (Skinner. 1998), Tímido, inte­ ligente. desorganizado e agressivo são apenas rótulos para uma categoria de comporta­ mentos apresentados em um dado contexto e não a causa destes. “As diferenças na experiência entre o ‘ignorante' e o ‘estudado’,o 'ingênuo’e o ‘sofisticado’,ou o 'inocen­ te' e o ‘vivo’ se referem principalmente a diferenças em histórias de reforço” (Skinner. 1998. p. 213). 38
  • 33. CaUTUjOVII Mas o que é sustentado por nossa sociedade é que um único organismo é controlado por vários agentes psiquicos e que seu comportamento é resultante de suas múltiplas tendências. E é dessa maneira que a grande “descoberta invenção” de Freud é usada e se faz presente: id. ego e superego. Tais conceitos são freqüentemente usados como criaturas que vivem eternamente em conflitos violentos, cujas derrotas e vitórias produzem comportamentos ajustados ou não no indivíduo no qual residem e no qual o mesmo tem que se haver, uma vez que se tratam de forças sobre as quais não se tem controle algum (Skinner. 2003). Não seria o id - ''velho Adão da teologiajudaico-cristão” - caracterizado por Freud como egoísta, agressivo, preocupado com as privações básicas e que constante­ mente se encontra em conflito com os interesses de outrem - resultante da filogènese responsável por nossos comportamentos de procura de alimento, água. contato sexual e outros reforçadores primários1? Nào seria o superego - a “consciênciajudaico-cristà” - definido por Freud como o agente punitivo que é. em grande parte, inconsciente e que está geralmente representando os interesses de outras pessoas e que se opõe inevitavelmente ao id - produto das práticas culturais punitivas de uma sociedade que tenta eliminar o comportamento egoísta gerado pelos reforçadores primários? Nào seria boa parte do superego inconsciente simplesmente porque a comunidade verbal não instruí as pessoas observá-lo ou descrevê-lo? E o ego - visto por Freud como o agente que. além de tentar alcançar um acordo entre o ide o superego. também lida com asexigências do ambiente - nào sena o produto da ontogênese. do reforço e das contingências punitivas da vida diária organizadas por outras pessoas? Portanto, não é muito mais fácil e óbvio observar que o ator de todo esse impasse é o organismo, que se tomou uma pessoa com repertórios diferentes e possivelmente divergentes, como resultado de contingências diversas e tal­ vez conflitantes? (Skinner, 1998: Skinner, 2003). Skinner (1998) aponta ainda que. sob diferentes situações, diferentes “perso­ nalidades" podem se manifestar, chamando, mais uma vez. a atenção para a recusa de explicações em termos da personalidade como agente causador e a importância da busca pelas verdadeiras causas do comportamento. Assim, em um mesmo organismo podemos encontrar um homem de negócio, agressivo e irritado e um pai. amoroso e calmo. A personalidade de alguém pode ser muito diferente antes e depois do almoço. "O herói pode lutar para esconder o covarde que habita a mesma pele” (Skinner. 1998. p. 312). Existe ainda o fato de que a personalidade pode se restringir a uma ocasião especifica estimulo discriminafivo - em que os comportamentos que são eficientes ao conseguir reforço em uma dada situação não os são em outra (Skinner, 1998). Desse modo. a personalidade de um garoto no seio de sua familia pode ser muito diferente da personalidade na presença de sua namorada. Padrões variados de respostas podem ocor­ rerjunto dos amigos ou de pessoas desconhecidas, diante de reforçadores ou não, estando na condição de aluno ou de professor, sob o efeito do álcool ou não. estando na universi­ dade ou na igreja, numa roda de amigos ou numa reunião importante de trabalho (Marçal. 2001). Aqui. o que ocorre é que os organismos possuem sistemas de respostas que são adequadas para diferentes conjuntos de circunstâncias, de acordo com a sua história de vida. No entanto, podem ocorrer situações conflitantes nas quais a pessoa se depara com Traia-se daqueles rdbrçadores “que não dependem de coodicioraaiemo prévio para ter poderreforçador'’(HalL 19~5. p 6» ssnn. os reforçadores primários estão rvtacionados com aqueias conseqüências <p<c satisfazem as neces>KÍ*k-s bioiògKas de toda» as formas de vtda aaunal. Ex: comida, bebida, esumdaçao sexual. 39
  • 34. dois desses conjuntos ao mesmo tempo como, por exemplo, quando um rapaz recebe a visita da namorada no trabalho, ou quando se encontra simultaneamente na presença do chefe e do subordinado (Marçai, 2 0 0 1 ). É hora de começarmos a olhar para fora. Há anos as pessoas, incluindo os cientistas, têm se preocupado com a vida mental, mas está mais do que na hora de começarmos a revelar algum interesse por uma análise mais precisa do papel do meio sobre os nossos comportamentos. “À medida que a pertinência da história ambiental se tomou mais clara, questões práticas começaram a ser propostas, não sobre sentimentos e estados mentais, mas acerca do meio ambiente, e as repostas se vêm revelando cada vez mais úteis” (Skinner, 2003, p. 148). Vimos que, de um modo geral, a Psicologia e outras áreas do saber concebem comumente a personalidade como o conjunto total das características próprias do indiví­ duo que, integradas, estabelecem a forma pela qual ele reage costumeiramente ao meio. Não seria justamente o contrário? A Análise Comportamental concebe o ser humano a partir das diversas relações existentes entre o indivíduo e o seu ambiente, levando em consideração a história da espécie, a história do indivíduo e a cultura na qual ele se insere. Assim, aquilo que costumeiramente chamamos de personalidade refere-se aos padrões de comportamentos adquiridos e mantidos por contingências. Não admitir essa idéia é. ao meu ver, recusar a própria natureza humana. Apergunta que ficou é a seguinte, seremos superficiais, então, somente por não atribuirmos causa aos eventos privados? Skinner nos fala que “se excluirmos o significa­ do pejorativo de ‘superficial' como carente de penetração e o sentido honorífico de profundo’como perspicaz e entranhado, então há uma ponta de verdade na alegarão de que a análise behaviorista é superficial e nâo atinge as profundezas da mente ou da personalidade” (Skinner, 2003, p. 191). Aqueles que dizem ser a ciência do comporta­ mento simplista, limitada e superficial por não lidar com as profundezas da mente ou da personalidade, usualmente revelam-se ultra-simplistas, uma vez que as explicações imemalistas são atraentesjustamente porque parecem ser muito mais simples do que os fatos que se dizem explicarem. Assim, os behavioristas (e nós futuros) somos facilmente acusados de superficiais porque é muito difícil acreditar que um principio tão simples possa ter amplas conseqüências em nossas vidas (Skinner, 2003). Portanto, os behavioristas não varrem o problema dos eventos mentais e da personalidade, especificamente falando, para debaixo do tapete, abandonando o papel causai da mente sem nada colocar-lhe no lugar. Se isso acontecesse, poderiam sim. ser superficiaisno sentidocriticável do termo. Skinner(2003)nosfalaque ninguém é capazde daruma explicaçãocompletamenteadequadado queé apersonalidade, por serum dosmais complexos assuntos do campo psicológico. No entanto, por mais deficiente que possa ser a explicação dos comportamentalistas. devemos lembrar-nos de que. sob um enfoque comportamental. “as explicações mentalistas nada explicam” (Skinner. 2003, p. 190). 40
  • 35. C A m ix o YTII O Behaviorismo limita-se à previsão e ao controle do comportamento e não apreende o ser, ou a natureza essencial do homem? Andreza de Souza Machado Antes de argumentar se o Behaviorismo apreende ou não a essência humana, faz-se necessário esclarecer o que seria essa essência. Na verdade, a essência humana adquire diferentes concepções para variados filósofos. Então, devidoa sua complexidade, resolvemos tratá-la sob a visão de um único filósofo, o alemão Husserl (o pai da Fenomenologia. ciência que estuda o fenômeno), que costuma emprestar sua teoria, inchisive o conceito de essência, para muitas correntes filosóficas e psicológicas. E possível encontrarem qualquerdicionário de filosofia a definição de essência como a natureza de uma coisa e a definição de natureza como um conjunto de caracterís­ ticas ou propriedades inatas que definem um ser. Nesse caso, qual seria a natureza ou a essência humana? “A natureza humana designa o que estaria presente em todo homem, comum a todos os homens" (Russ. 1994. p. 196). Resta saber agora, à luz da teoria de Husserl. que característica é esta que o Behaviorismo negligenciaria. Em toda sua teoria. Husserl prioriza o sujeito consciente, ou seja. aquele que possui uma consciência que rem como função primordiaJ. dar significado à realidade. A consciência funciona como sujeito do conhecimento, o que significa o mundo a que o homem é exposto (idealmente, materialmente ou culturalmente). Eo que são essas signi­ ficações alcançadas pela consciência? Nada mais do que essências. Assim, a essência é o sentido, o significado de algo que está sempre para uma dada consciência (Chauí, 1999). Nota-se que a consciência ê o ato de dar sentido, de constituiressências. E esse ato de dar sentido é a sua própria essência - toda consciência é consciência de alguma coisa, isto é. está sempre voltada intencionalmente para algo. A intencionalidade é a essência da consciência (Chauí. 1999). Em simplespalavras, o homem tem uma consciên­ cia que doa sentido e significado aos estímulos aos quais está exposto. Nada lhe escapa, já que tudo são fenômenos. Dessa forma, tudo que aparece à consciência recebe dela um significado, uma essência. 41
  • 36. Então, chegando ao ponto central da critica, o que seria a essência humana? Qual o significado e sentido maior do homem? Poder-se-ia concluir que é a própria consciência. A essência do homem seria o ato de doar sentido ao mundo, o estar voltado para as coisas, apreendendo-as. significando-as. Considerando que a essênciada natureza humana seria a consciência, ficaclaro que o Behaviorismo Radical apreende esta essência, comojá foi visto no capítulo Ideste livro. Porém, também fica claro que o conceito de consciência para Skinner e Husserl é diferente, cabendo então responder, sob um ponto de vista comportamental. se esta orientação nega que o homem signifique o mundo. Partindo de um dos pressupostos fundamentais da proposta compor- tamentalista. sabe-se que o comportamento humano é explicado a partirda relação que o mesmo estabelece com o mundo. Nesse caso. como poderia negligenciar a possibilidade do homem significar o mundo? Adivergência está em outorgar esse papel à consciência, a qual comandaria o homem dentro do qual faz moradia. Poisbem. se não é a consciência aquela que dá significadoao mundo, como este significado é concebido? Para responder tal questão, faz-se necessário introduzir o tema do comportamento verbal1, termo utilizado por Skinner para se referir à linguagem. Desde que nascemos estamos inseridos num contexto social (família, escola, trabalho etc.) que utiliza uma linguagem para se referir a coisas, situações e até sentimen­ tos. Não é díficil concluir que. se existeuma palavra para o fenômeno“x", éporque tenho um significado para este fenômeno. Por exemplo, eu conheço o significado de "papel'', o que me possibilita reconhecer enomear qualquer papel, independente òe suatextura, cor, tempo, ou lugar em que se encontra. Isso acontece porque o papel tem uma essência, enquanto significadoúnico que o diferencia de qualquer outra coisa que não ele, indepen­ dente de diferenças ou detalhes outros (Camon. 1993). Pergunta-se~Essa essênciaeu mesma criei? A minha consciência, que é voltada para o mundo, concebeu, sozinha, esse significado? O Behaviorismo Radical nega essa suposição, pois como disse antes estamos inseridos num ambiente social, no qual as pessoas se comportam verbalmente, passando esses significados de geração para geração. E, esse significado está nas conseqüências da verbalização, no caso, nas contingências (Skinner, 2003). Baum (1999) explica a noção de significado argumentando que "Perguntarqual o significado de um termo é perguntar qual o contexto e quais as conseqüências de sua ocorrência*’(p. 144). Em outras palavras, qualquer essência (sentido, significado)de algo provem dahistória de reforçamento do indivíduo, que aprendeu a significar as coisas com uma comunidade verbal que reforçava ou punia, a partir de acertos e erros. Visto isso. a essência enquanto sentido dos fenômenos (o que aparece ao homem segundo Husserl) é algo aprendido pelo indivíduo, sendo assim explicado por sua história de reforçamento (Baum. 1999). Vê-se que para a Fenomenologia. o significado está inteiramente dependente de uma consciência que se volta para o mundo e constitui essa essência. Uma essência que 10 comportuncraal verba] é definido por Sknner {1978a)como um operante que tem «uas coaseqúêncút; mediadas por um ouvinte O que significa dizer que o comportamento age primeko sofcre o ambiente social. Ao solicixara alguém que íectae a janeia. meu comportamento afeta o comportamento de outra pessoa c. ê esta. que por sua t ez ahera. o ambtente fisteo cfaetasoeniie.no caso. fcchaado ajanela* sentfe esse um exemplo de componaunenso vot»L 42
  • 37. C aTTTUjO v m independe das contingências ou fatos que giram em torno do tal fenômeno (Chauí. 1999). Jáo Behaviorismo. precisamente Skinner, afirma queo significado está nas contingências. O indivíduo apreende o sentido do que lhe aparece na sua relação com o mundo, no qual existe uma comunidade verbal que o condiciona a aprender tais significados (Skinner, 2003). Acho que todos já ouviram falar da história das crianças-lobo. De fato. se a essência independesse das contingências, aquelas crianças teriam aprendido, sozinhas, com suas consciências, a essência (a qual conhecemos, e a qual não muda. pois é idêntica a ela mesma) das coisas que as cercavam. Conclui-se. então, que o Behaviorismo Radical dá ao homem o papel de cons­ tituir essências, na medida em que interage com o mundo, dando sentido e sendo afetado pelo mesmo. Logo. trata-se de uma ação transformadora constante do homem sobre o meio e do meio sobre o homem (Costa. 1996). Já sabemos que a essência do homem enquanto a consciência não é negligenci­ ada pelo Behaviorismo Radical, mas somente é vista sob uma outra perspectiva, a de estar voltado para algo. discriminando ou respondendo diferentemente a um estimulo, antes despercebido; o contrário de estar inconsciente ou não tratar diferentemente um estimulo determinado. Por exemplo, no momento estamos conscientes do artigo que estamos escrevendo, a cada linha tentamos escrever num formato que o leitor possa entender e gostar. Ao mesmo tempo, não estamos conscientes do que está sendo tratado no jornal da TV que uma outra pessoa está assistindo no quarto ao lado (não estamos voltados para esse fenômeno). Assim, quando respondemos a um estímulo X em detri­ mento de outro, estamos consciente de X e inconsciente do outro. Mas onde entra a previsão e o controle do comportamento nessa interação do homem com o ambiente? Sabemos que o objetivo de toda ciência é prevere controlaralgo e, a Análise do Comportamento, como ciência que é, também se propõe à previsão e ao controle do comportamento (Costa. 1997). Ora. pesquisando o que controla, por exemplo, o comportamento de uma mulher no que diz respeito a continuar casada com um homem que a espanca, a Análise do Comportamento vai buscar no ambiente dessa mulher o que reforça seu comporta­ mento: que estimulo é esse “que é mais forte*’do que o sofrimento de ser agredida pelo marido. Fazendo um estudo objetivo, acabaremos descobrindo as variáveis controladoras do seu comportamento, o que facilitará o estabelecimento de previsões de futuros com­ portamentos desta mulher. Concluindo, se a essência do homem é voltar-se para o mundo, dando-lhe significado, e o estudo da previsão e do controle do comportamento explica essa relação homem-meio (sentidos que o homem dá á sua vivência, estímulos que determinam sua própria maneira de se comportar, inclusive o de dar sentido ao que lhe aparece), não notamos o que está sendo negligenciado no estudo sobre o homem, de acordo com o enfoque behaviorista. Poroutro lado. Husserl concede, ainda, aohomem, a qualidadedetranscendencia. Transcender seria ultrapassar o dominio da experiência, chegando ao domínio espiritual (Russ. 1994). Essa qualidade é bem compatível com a própria fundamentação da Fenomenologiaque se contrapõe ao naturalismo(pensamento que nãoadmiteo espírito), o qual segundo Husserl é a “representação da existência da totalidade do ser (consciência, idéia, etc) à imagem da natureza (e da coisa material)“ (Russ. 1994, p. 195). 43
  • 38. Nesse caso. acredita-se que a essência pura somente seria alcançada através de uma redução que o sujeito transcendente faria. Colocando tudo entre parênteses, o que significa nos abstermos de toda certeza e de idéias prc-concebidas que o mundo material nos oferece, passaremos do fenômeno (aquilo que aparece na experiência) à essência (sentido puro do ser, do fenômeno) (Russ, 1994). Com um mínimo de conhecimento sobre o Behaviorismo, fica claro que se a essência humana fora transcendência, com todacertezao Behaviorismo a negligencia,já que não admite explicações metafísicas (cf. Michelleto. 1997). No Behaviorismo Radi­ cal, comojá foi dito. tudo é explicado na experiência, levando em conta as circunstâncias e conseqüências do ato humano. É através da interação homem e ambiente que os behaviorístas encontram toda fundamentação e explicação para qualquer fenômeno hu­ mano. Então, afinal de contas, o Behaviorismo Radica] negligencia ou não a natureza ou essência humana? Se esta for tomada como a consciência, a resposta é não. por tudo que já foi explanado. Mas se admitirmos a transcendência como essência humana, a resposta é sim.já que o Behaviorismo jam ais aceitaria uma explicação metafísica para o comportamento humano, colocando em segundo plano a interação homem-ambiente. 44
  • 39. CAríTVLOIX O Behaviorismo trabalha com animais, particularmente com ratos brancos, mas não com pessoas, e sua visão do comportamento humano atem-se, por isso, àqueles traços que os seres humanos e os animais têm em comum? Ludimar Santos lieira A Análise Experimental do Comportamento (A.E.C) tem desempenhado uma importante função, qual seja, a de contribuir com seus dados de pesquisas para o desen­ volvimento de uma ciência que tem como objeto de estudo o comportamento. A este respeito Gomide e Weber (1998), ressaltam: Pretcndc-sc na análise experimenuü do comportamento encontrar as rela­ ções funcionais entre variáveis comportamentais e ambientais, através da experimentação, estabelecendo regras gerais, a fim de permitir a elaboração dc um modelo de seu objeto de estudo, o comportamento dos organismos (p. 21) Com os avanços advindos das conquistas em A.E.C, o número de espécies animais estudadas em laboratório foi ampliado, incluindo-se ai os seres humanos, consi­ derando as diferenças e grau de complexidade em relaçãoàs demais espécies. Cabe regis­ trar que os experimentos realizados com espécies mais simples não invalidaram os resul­ tados obtidos mas. sim, serviram para confirmar aspectos comuns no comportamento de humanos e nào humanos, bem como outros aspectos exclusivos apenas à nossa espécie. Neste sentido Skinner (2003>afirma: Há excelentes razões para começar com casos simples e só passar adiante quando o poder da anáiise o permitir Se isto significa, como parece signifi­ car que >e comece com animais, a ênfase é indubitavelmente dada àqueles traços que pessoas e animais possuem em comum- Todavia, algo se lucra, de ez que só desta maneira, podemos ter certeza daquilo que é unicamente humano <p. 193).
  • 40. Ademais, é fato que as pesquisas produzidas em laboratório com sujeitos humanos ou não. objetivam fornecer maior precisão quanto à fidedignidade nos resulta­ dos quando comparadas com resultados de estudos realizados num ambiente natural, por estecontercomplexascontingências(variáveis)que fugiriamaocontroledoexperinventador (Skinner, 2003). Os experimentos envolvendo humanos foram feitos inicialmente com sujeitos "retardados" e psicóticos, para mais tarde incluírem crianças e adultos considerados normais. Há que se ponderar as dificuldades encontradas com relação à presença do experímentador e as diferentes histórias de vida de cada sujeito submetido à experiência. Deste modo. ainda assim, em um ambiente de fácil controle os resultados com sujeitos considerados anormais1 foram tidos como satisfatórios (Skinner, 2003). Considerando a complexidade do comportamento humano, fez-se necessário utilizar em um primeiro momento espécies mais simples que serviram para delimitar e ao mesmo tempo dar mostras das semelhanças comportamentais em relação à nossa espécie. Portanto, as pesquisas com não humanos ainda fornecem algumas vantagens destacadas assim pelo próprio Skinner (1984). O pesquisador precisa de um organismo facilmente disponível e de manuten­ ção barata. Ele precisa submetê-lo a regimes diários, freqüentemente por longos períodos de tempo, confiná-lo em ambientes facilmente controla­ dos. e expô-lo a contingências complexas de reforço. Quase necessariamen­ te tais organismos são mais simples do que os homens. Ainda assim, com muitas poucas exceções, aqueles que estudara os organismos estão principal­ mente interessados no comportamento humano. Muito poucas pessoas es­ tão interessadas no rato e no pombo em si (p. 250». As pesquisas com não humanos, tanto no que se refere às conquistas no campo das ciências biomédicas nas suas diversas ramificações, bem como em relação a A.E.C são essenciais ao desenvolvimento de qualquer estudo científico com vistas à descoberta e o aperfeiçoamentode conhecimentos úteisà humanidade. Sobre isto. Skinner(1984) defen­ de a pesquisa animal considerando que: Apesar de ás vezes dizerem que a pesquisa cm animais inferiores toma impossível descobrir o que é caracteristicamente humano, é só estudando o comportamento dos animais inferiores que podemos dizer o que é caracte- risticamcnte humano. As dimensões daquilo que parecia ser humano foram sendo progressivamente reduzidas quando começamos a entender melhor os organismos inferiores. Aquilo que sobrevive, claro, é da maior importância, isso precisa ser investigado com seres humanos. Não há evidência de que a pesquisa com animais inferiores contamine a pesquisa com homens ou que aqueles que estudam os animais não tém nada de importante a dizer a respei­ to dos homens (p. 250). 1Lm analtsu do componsunenío aào unkza o tenne patológico pan comportamento estranho ou dato anorroL se tal comportamento ocorre é porque o mesmo possui uma fuaaoaaJidade ou um »aJorde sobrevivência (Maios. 1999). 46
  • 41. CatttvloLX Levando-se em consideração as pesquisas sobre o comportamento humano. Gomide e Weber (1998) afirmam que A.E.C é "uma maneira para se estudar o comporta­ mento humano e sua interação com o meio ambiente. Não pretende ser uma simplificação do que ocorre no nosso cotidiano (chamado ambiente natural), mas um modelo (...) (p. 141r . Portanto, a A.E.C vem ser mais um modelo da ciência do comportamento também chamada .Análisedo Comportamento “que se caracteriza porser uma investiga­ ção acerca da relação entre o organismo e meio que se fundamenta no Behaviorismo Radical e utiliza vários métodospara estudar tal relação, onde a A.E.C é apenas um deles” (Costa. 1997, p. 9). Desta forma, os experimentos avançaram das espécies mais simples até chegar aos humanos com o intuito de oferecer explicações sobre a complexidade de nosso comportamento ou parte dele. levando-se em conta que os processos básicos do comportamento foram lançados e ampliados para as espécies em estudo, conforme seus limites evolutivos. Deste modo. mais uma vez Skinner (1984) diz: É um fato que os métodos inicialmente desenvolvidos para o estudo de organismos inferiores, bem como os conceitos e os princípios nascidos desse estudo, foram aplicados com êxito ao comportamento humano, tanto numa análise básica como em muitas aplicações tecnológicas (p. 251). Enfim, anaves das suas conquistas, a A.E.C vem resistindo às criticas de céticos que insistem em refutar leis e conceitos reafirmados experimentalmente, assim sendo, este modelo experimental vem se afirmando e ampliando suas buscas como uma possibilidade de fundamentar uma psicologia cientifica voltada para uma melhorcompre­ ensão do comportamento humano, fruto da interação de complexas contingências filogenéricas. omogenéricas e culturais. Toma-se evidente, então, pelo que vem sendo exposto ao longo deste livro e especialmente neste capitulo que o Behaviorismo Radical não apenas preocupa-se com o que é especifico do ser humano, como também, ao longo do desenvolvimento da ciência que se propôs fundamentar, experimentos com humanos foram e ainda são desenvolvi­ dos. enfocando por exemplo o comportamento verbal que só póde ser desenvolvimento a partir da cultura, o que é considerado por Skinner (1978b) exclusivo do homem. Além disso, embora Skinner (2003) tenha defendido a utilização de não humanos em experi­ mentos. o autor nunca negou as diferenças entre comportamento humano e não humano e a maior complexidade do primeiro. 47
  • 42. C a pt t l l o X O Behaviorismo traz resultados obtidos nas condições controladas de um laboratório, não podendo ser re­ produzidos na vida diária, e aquilo que ele tem a dizer acerca do comportamento humano no mundo mais amplo torna-se, por isso, uma metaciência não comprovada? Apenas cultua os métodos da ciência, mas não é científico? Aliana Ribeiro Porto Há duas criticas voltadas a Skinner e ao Behaviorismo Radical que sereferem às questões da cientificidade do mctodo skinneriano. A primeira afirma sero Behaviorismo uma metaciência não comprovada, e a segunda rotula Skinner como não cientifico, limi­ tando-se a competir com as ciências. Inicialmente é necessárioesclarecerqueo Behaviorismo Radical nãoé umaciên­ cia. e sim a filosofia dc uma ciência do comportamento (Skinner, 2003). Neste sentido, enquanto filosofia, o Behaviorismo Radical sepropõe a dar suporte à ciência do comporta­ mento a partir de suas reflexões, diferenciando-se do Behaviorismo Clássico de Watson. Apesarde não se propor a fazer do Behaviorismo Radical uma ciência, Skinner é cientifico e ressalta a importância da ciência reafirmando seu valor para a sobrevivência da humanidade. Ele reconhece os problemas ligados à ciência acrescentando que o ataque a ela não se faz injustamente, uma vez que vem se desenvolvendo de forma desigual (Skinner, 1998). Contrariando o que os críticos alegam, por que podemos defender a posição de que Skinner é científico? Em primeiro lugar porque é nítido, em praticamente todas suas obras, que Skinner constrói seu pensamento a partir de características da ciência, tais como. definição precisa do fenômeno a ser estudado, ênfase sobre fatos e linguagem 49
  • 43. rigorosa (cf. Bock. Furtado e Teixeira. 1999; cf. Skinner. 1998). Além disso. Skinner também foi um analista experimental do comportamento, tendo realizado inúmeros expe­ rimentos em laboratório - todos conduzidos de acordo com os padrões da ciência(obser­ vação, controle do ambiente experimental, manipulação controlada de variáveis). Para Skinner, a ciência é de suma importância na vida do homem e vem suprir a necessidade da humanidade, na medida em que acredita que a mesma é capaz de levar as pessoas "para além de sua experiência pessoal e da deficiente amostragem da natureza, deficiência inevitável na duração de uma só vida" (Skinner, 2003, p. 109). Segundo ele. a ciência também seria capaz de colocar os indivíduos sob controle de condições que não poderiam desempenhar qualquerpapel a fim deformar-lhe emanter-lhe o comportamento. Com seus experimentos, como qualquer cientista. Skinnerbuscava descobriras leis gerais que regem os comportamentos dos organismos, mesmo em situações mais simples. Deste modo. Skinner tinha a intenção de postular princípios gerais sobre o comportamento humano que servissem à ciência e. conseqüentemente, à humanidade. Nas palavras de Andery e cols. (1999), “A ciência caracteriza-se [exatamente) por ser a tentativa do homem entender e explicar racionalmente a natureza, buscando formularleis que. em última instância, permitam a atuação humana" (p. 13). Durante o seu trabalho Skinner postulou, então, os princípios comportamentais O que seriam estes princípios? São leis que regem os comportamentos dos organismos, formando, dessa maneira, seu repertório comportamental. Segundo Skinner **ao aprender as leis da Ciência, uma pessoa se toma apta a comportar-se de forma eficaz nas contin­ gências de um mundo extraordinariamente complexo"' (Skinner, 2003, p. 109). Percebe- se. então, a importância dada por Skinner a uma ciência que contribuísse para o cresci­ mento e bem-estar da humanidade. Lma ciência que não reduzisse o homem a uma tàbula rasa. mas o compreendesse enquanto um ser multideterminado. não podendo ser reduzi­ do apenas a seu aspecto biológico (Micheletto. 1997). A critica a Skinner que postula serem seus experimentos de laboratório impos­ síveis de se reproduzir fora dele também não se sustenta, uma vez que percebemos, na história da Terapia Analitico-Comportamental. que os experimentos controlados em laboratório foram e são usados, até os dias atuais, para criar técnicas que melhorem os resultados da terapia. Acrescentando-se a isto. a aplicação da .Análise do Comportamen­ to não se restringe ao contexto clinico, ocorrendo na sociedade em geral como, por exemplo, na saúde, na educação e no planejamento da cultura. A partir desta discussão podemos observar e concluir que as criticas voltadas a Skinnerafirmando serem seus experimentos longe da realidade cotidiana não devem ser consideradas. Observamos, em toda a obra de Skinner, a sua preocupação em estarperto da realidade humana e de suas experiências - como este livro pretende mostrar- o que faz da Análise do Comportamentoe de sua filosofia, o Behaviorismo Radical, uma teorização sobre o mundo com qual os homens interagem. 50