O documento discute o modelo neoliberal e a resistência dos trabalhadores em educação no Brasil. Primeiro, apresenta os conceitos de capitalismo e neoliberalismo segundo a perspectiva marxista. Em seguida, analisa a implementação do neoliberalismo no Brasil e Rio Grande do Sul e a resistência dos trabalhadores em educação. Por fim, aborda os temas da gestão democrática e avaliação externa na educação.
2. O modelo neoliberal e a resistência
dos Trabalhadores em Educação:
uma história de lutas
3. Alexandre Reinaldo Protásio
O modelo neoliberal e a resistência
dos Trabalhadores em Educação:
uma história de lutas
6º Núcleo do CPERS/Sindicato
2009
5. SUMÁRIO
S S
Apresentação.......................................................................................................................P 06
1. Capitalismo e Neoliberalismo ....................................................................................P 09
.
.
2. Neoliberalismo no Brasil e no Rio Grande do Sul ................................................P 17
.
3. Resistência dos Trabalhadores em Educação ......................................................P 21
.
4. Gestão Democrática e Avaliação Externa .............................................................P 30
.
Considerações Finais........................................................................................................P 37
.
Bibliografia ...........................................................................................................................P 38
.
6. O MODElO NEOliBERAl E A RESiSTêNCiA DOS TRABAlhADORES EM EDuCAçãO: uMA hiSTóRiA DE luTAS
A
APRESENTAÇÃO
A
Desde 2005, o atual grupo dirigente do 6º Núcleo do CPERS/Sindi-
cato tem se preocupado com a formação sindical, política e pedagógica
da Categoria. Desenvolvemos inúmeros debates, promovemos encontros
e cursos abertos para todos os Trabalhadores em Educação. Os temas
variaram: inclusão/exclusão no espaço da escola; crise e educação am-
biental; mídia e as relações de poder; previdência e carreiras públicas;
avaliação externa e meritocracia, entre outros. Em 2007, ainda na gestão
anterior (herança do atual grupo), a Direção desenvolveu um audacioso
Curso de Funcionários, com diversos encontros aos sábados, extensa
carga-horária e temática ampla (com aulas de inclusão digital).
Nosso objetivo central sempre foi contribuir com fontes teóricas
e trocas de experiências pedagógicas que servissem de estímulo para os
educadores desempenharem suas funções com mais afinco e qualidade.
Em tempos de mobilização contra um adversário obstinado, como o Gov-
erno Yeda, não podemos considerar a formação política uma perda de
tempo. Pelo contrário, o estudo e o debate democrático nos oferecem os
parâmetros teóricos necessários para avaliarmos a conjuntura, a correla-
6
7. AlEXANDRE REiNAlDO PROTáSiO
ção de forças, e, assim, podermos pensar as alternativas possíveis.
Como poderemos acreditar que é possível reverter o quadro de
ataques contra a educação pública, se não conhecemos a história de re-
sistência e luta da categoria? O que a primeira greve do CPERS, em 1979,
nos ensina para aplicarmos em 2009, trinta anos depois? Quais lições de-
vemos aprender ao nos depararmos com nossos erros e acertos, do pas-
sado e do presente? Que importância as greves, enquanto instrumentos
de pressão política, adquiriram em nossas conquistas (como 13º salário,
Planos de Carreira, unidocência, etc.)?
Além disso, como enfrentar o inimigo se não compreendemos seu
discurso, propostas e instrumentos de luta? Qual o papel da avaliação
externa e dos mecanismos de medição e de premiação instituídos ou
em vias de aplicação pelo Governo Yeda? Como se deu o debate sobre a
Gestão Democrática nas últimas décadas? Como fugir das armadilhas do
modelo neoliberal de escola: qual poderá ser a influência dos rankings de
escolas boas e ruins em nosso trabalho como educadores?
A presente publicação, com humildade e abertura, busca mini-
mizar essa carência concreta dos trabalhadores. Não temos a pretensão
de esgotar os questionamentos, divergências e possíveis alternativas
através deste documento limitado. Deve ser encarado como um ponto de
partida para discussões mais profundas e para proposições mais ousadas
de mobilização e luta. A história não serve para ser repetida, mas para
ser aprimorada, depurada dos erros coletivos e individuais.
A Comissão de Formação Política e Sindical.
6º Núcleo do CPERS-Sindicato
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8. O MODElO NEOliBERAl E A RESiSTêNCiA DOS TRABAlhADORES EM EDuCAçãO: uMA hiSTóRiA DE luTAS
No momento em que a matriz política mais
ampla à qual se vincula essa concepção –
o projeto neoliberal de educação e sociedade–
ameaça se tornar hegemônica,
é urgente e importante que os educadores e educadoras ligados às
tradições mais democráticas se dediquem não apenas
a uma crítica dos pressupostos dessa visão de qualidade,
mas que, sobretudo, reafirmem e renovem seu compromisso
com noções de qualidade que estejam relacionadas com
considerações sobre o poder, sobre distribuição desigual de recursos
e processos de dominação e subjugação.
É preciso que se aprofunde a discussão
sobre uma noção de qualidade que seja política e não técnica,
sociológica e não gerencial, crítica e não pragmática.
(Tomas Tadeu da Silva. Escola S.A., 1996).
8
9. 1
AlEXANDRE REiNAlDO PROTáSiO
CAPITAlISMO E NEOlIbERAlISMO
1
“A história de toda sociedade existente até hoje tem sido a história das
lutas de classe” (Marx, 1978: 93). Dessa forma Marx e Engels começam o Manifesto
Comunista, um dos escritos mais lidos do mundo e que representa a síntese
do pensamento materialista dialético. Essa exposição serve para apresentar a
concepção da história elaborada e difundida por Marx e Engels: independente
do formato ou da denominação dadas às classes sociais em movimento, são as
contradições e antagonismos entre explorados e exploradores que determinam
a dinâmica das diversas formações sociais que já existiram.
Essa formação social e suas classes formam um tipo de Estado, um
tipo de ideologia adequada para seu tempo e, naturalmente, os germens de sua
superação histórica: “A sociedade moderna burguesa, surgida das ruínas da
sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classe. Apenas estabeleceu
novas classes, novas concepções de opressão, novas formas de luta em lugar das
velhas” (idem: 94).
O conceito de classe social está na base do sistema marxiano para
explicar a realidade, formando com a propriedade privada e a divisão social do
trabalho o tripé da teoria do capitalismo moderno. Para Marx (1998) a formação
da classe social ocorre da seguinte forma:
Os indivíduos isolados só formam uma classe na medida em que devem
travar uma luta contra uma outra classe; quanto ao mais, eles se comportam
como inimigos na concorrência. Por outro lado, a classe torna-se, por sua
vez, independente em relação aos indivíduos, de maneira que estes têm suas
condições de vida estabelecidas antecipadamente, recebem de sua classe, já
delineada, sua posição na vida e ao mesmo tempo seu desenvolvimento pessoal
(Marx, 1998: 61).
A nota explica o sucesso da cooptação ideológica que os setores da
burguesia e da classe média realizam sobre os intelectuais e lideranças oriundas
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10. O MODElO NEOliBERAl E A RESiSTêNCiA DOS TRABAlhADORES EM EDuCAçãO: uMA hiSTóRiA DE luTAS
da classe trabalhadora. Os limites impostos ao proletariado, enquanto classe,
frustram essas lideranças que muitas vezes ambicionam postos sociais que
seus vínculos com os trabalhadores antecipadamente não lhes possibilitam.
A cooptação política e ideológica, como veremos, é um dos mecanismos
políticos mais eficientes na luta de classes, sendo amplamente utilizada pelo
neoliberalismo.
Para Marx, a história dos seres humanos está em “conexão com a
história da indústria e das trocas” (Marx, 1998: 24). E se a história da indústria
e das trocas é a narrativa dos seres humanos no seu processo de dominação
entre si e da natureza, é, portanto, uma história das relações de produção,
dos meios produtivos, do modo de produção como um todo e das evoluções/
revoluções tecnológicas, sendo que a própria tecnologia, enquanto expressão das
experiências e tradições humanas acumuladas, é a manifestação física, visível,
da história da humanidade. Cada nova ferramenta, mais eficiente que a anterior,
cada instrumento aperfeiçoado, cada máquina desenvolvida, traz cristalizada a
superação da humanidade.
O capitalismo é, portanto, o sistema baseado na reprodução do capital
através de dois fundamentos: pela propriedade privada dos meios de produção
(terra, indústrias, etc.) e pela exploração (mental e física) da força de trabalho
assalariado. Estes são os elementos concretos da produção material da vida
moderna (inaugurada com as Revoluções industrial e Francesa, entre os
séculos XVi e XViii). A mais-valia (o trabalho excedente não remunerado) e as
especulações financeira (capital volátil) e imobiliária são formas de acumulação
de riquezas nesta sociedade.
Como esse processo de exploração não é visível ao trabalhador?
Os conceitos de mais-valia e mercadoria no capitalismo são acobertados por
profundos mecanismos de controle ideológicos que mascaram a realidade,
reduzindo o trabalho à mercadoria alienável, desumanizando-o. Marx lembra
um fato histórico que ilustra com maior clareza esse processo de alienação do
ser humano e sua redução a simples força de trabalho:
quando os grandes proprietários territoriais ingleses expulsaram seus
dependentes que consumiam uma parte da produção excedente de suas terras
e, além disso, seus arrendatários livraram-se dos pequenos camponeses sem
terra, etc – grande massa de força de trabalho vivo duplamente livre foi lançada
no mercado de trabalho: livre das velhas relações de dependência, servidão ou
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11. AlEXANDRE REiNAlDO PROTáSiO
prestação de serviço e livre, também, de todos os bens e propriedades pessoais,
de toda forma real e objetiva de existência, livre de toda a propriedade (Marx,
1991: 104).
Faz-senecessárioesclarecerque,aomencionarmosoconceito“riqueza”,
estamos nos referindo ao grande capital, aos privilégios megacorporativos, que
colocam de joelhos até mesmo os governos de nações ricas. Basta lembrarmos
como as indústrias bélica e petrolífera empurraram o maior exército do mundo
(EuA) na empreitada de invadir e ocupar o Afeganistão e o iraque (2003), um
verdadeiro atoleiro para os estadunidenses. Seu poder obrigou o Governo Bush
a mentir sobre a existência de armas de destruição em massa no iraque, mesmo
quando seu próprio serviço secreto afirmava o contrário.
É um equívoco típico da classe média acreditar que a condição de
profissional liberal (não-assalariado) ou de trabalhador não-braçal (intelectual,
como pensam parte dos professores) afastam qualquer possibilidade de
proletarização, imaginando estar incluídos no restrito círculo dos privilegiados
pelo capitalismo. O usufruto de alguns direitos (fora do alcance da maioria), como
direito à previdência e a certa estabilidade no emprego, não passam da ínfima
parte de toda a riqueza e “direitos” disponíveis para pouquíssimos indivíduos no
mundo.
O Estado de bem-estar social das décadas de 50 e 60 (pós-guerra) foi
a tentativa, até certo ponto com sucesso, de atenuar as desigualdades sociais
através de legislações de proteção ao trabalho, de parte das riquezas naturais
e de promoção de uma proto-cidadania (incipiente em vários aspectos).
Contudo, mesmo esse modelo de Estado estava inserido em um quadro político
e econômico que não o caracterizava como uma concessão da burguesia, mas
fruto concreto da luta de classes.
O Welfare State estava mergulhado no contexto da Guerra Fria,
onde de um lado figuravam a união Soviética (uRSS) e o leste Europeu,
e do outro, os EuA e os países do capitalismo central (o chamado mundo
ocidental). Pressionado por um poderoso movimento operário e pelo espectro
do comunismo no leste, o capitalismo viu-se obrigado a desenvolver políticas
mais amplas e “democráticas”, no sentido de defender sua força de trabalho da
sanha exploradora das burguesias nacionais. Ao mesmo tempo, os partidos de
origem proletária, como o Partido Socialista francês, o Trabalhismo inglês e a
Social-democracia alemã, eram gradativamente cooptados para a administração
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do Estado capitalista e do status quo. A democracia representativa foi um
instrumento eficiente nesse processo.
Nos países do mundo subdesenvolvido, esse período histórico foi
relativamente diferenciado. Sociedades atrasadas e autoritárias, como as
latino-americanas, desenvolveram movimentos populares e sindicais menos
autônomos (graças ao populismo de Estado), mas também provocaram reações
violentas (armadas) que já não encontravam similar no Velho Mundo. A extrema
elitização das sociedades de industrialização tardia e os curtos períodos de
democracia plena geraram igualmente um processo de institucionalização
tardia dos partidos operários (que demoraram para conquistar a legalidade),
uma transformação que havia ocorrido com a esquerda europeia na década
de 30. Apesar das restrições políticas e econômicas profundas, os países
subdesenvolvidos também se utilizaram de mecanismos distributivos de caráter
marcadamente assistencialistas, objetivando diminuir as pressões sobre o tecido
social.
Mesmo com esses instrumentos de coerção e coesão social, que
constroem consensos “por cima”, os Estados ocidentais e mesmo os socialistas
não conseguiram evitar o afloramento das contradições elementares do sistema.
Sindicatos e movimentos sociais empreenderam lutas contínuas no sentido de
conquistar mais direitos, ampliando-os (o que foi possível por um curto período),
ou para defendê-los contra as crises cíclicas do capitalismo. Parte dessa
energia política, como já dissemos, foi canalizada para a vitória em eleições e a
administração do Estado.
Nas décadas de 70 e 80 temos o esgotamento de um modelo econômico
que acumulava debilidades estruturais e necessitava consumir maiores
quantidades de recursos naturais e financeiros das sociedades, principalmente
as subdesenvolvidas. Os investimentos estatais não eram suficientes para saciar
a selvageria do sistema, seria preciso avançar sobre a parcela das riquezas
nacionais que estava conservada no formato de políticas públicas, previdência
e, até mesmo, direitos trabalhistas e salários. Na esteira desse processo ganha
importância os conceitos neoliberais de Estado mínimo e desregulamentação
dos mercados, a expressão política de um capitalismo voraz e, cada vez mais,
fora de controle estatal ou social.
Segundo Perry Anderson (1995), o neoliberalismo nasceu logo depois
da ii Guerra Mundial, como reação teórica ao Estado de bem-estar. Sua origem
foi o texto O Caminho da Servidão (1944), de Friedrich hayek. Era um ataque
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13. AlEXANDRE REiNAlDO PROTáSiO
virulento contra “qualquer limitação dos mecanismos de mercado por parte do
Estado, denunciadas como ameaça letal à liberdade, não somente econômica,
mas também política” (idem: 9). Em 1947, hayek convocou pensadores que
compartilhavam de sua ideologia para uma reunião em Mont Pèlerin, na Suíça.
Estava criada a Sociedade de Mont Pèlerin, organização dedicada ao combate do
keynesianismo e do solidarismo, objetivando construir outro tipo de capitalismo,
mais livre de regras.
Portanto, a crise do capitalismo “em 1973, quando todo o mundo
capitalista avançado caiu numa longa e profunda recessão, combinando, pela
primeira vez, baixas taxas de crescimento com altas taxas de inflação” (idem: 10),
ofereceu a oportunidade para a propagação das idéias de Mont Pèlerin. Segundo
hayek, as raízes da crise “estavam localizadas no poder excessivo e nefasto dos
sindicatos e, de maneira mais geral, no movimento operário, que havia corroído
as bases da acumulação capitalista com suas pressões reivindicativas sobre os
salários e com sua pressão parasitária para que o Estado aumentasse cada vez
mais os gastos sociais” (ibidem).
Antes mesmo da derrocada da uRSS, portanto, o neoliberalismo
avançava retirando direitos dos trabalhadores dos países centrais, privatizando
serviços públicos (telefonia, educação, saúde, transportes, etc.) e carreando
enormes quantidades de recursos públicos para o sistema financeiro e as
multinacionais. O capitalismo buscava sair da estagnação econômica através de
um novo ciclo de expansão, desta vez sobre serviços que eram monopólios do
Estado, de fato, a última fronteira para o capital.
James Petras (1999), intelectual estadunidense, dividiu o ciclo
neoliberal em três marés de governos: “Na maior parte dos países a primeira
maré iniciou mais ou menos durante a transição das ditaduras militares para
os governos eleitos no início dos anos 80. A segunda maré iniciou no final da
década. uma possível (e mais problemática) terceira maré iniciou em meados
dos anos 90” (idem: 94). A primeira maré começou a implementar a agenda do
livre mercado, o que gerou sérias crises econômicas. Na América latina seus
representantes foram Carlos Andrés Perez, na Venezuela; Raúl Alfonsín, na
Argentina; Sanguinetti, no uruguai; José Sarney, no Brasil; Jaime Paz Zamora,
na Bolívia; Alan García, no Peru; e Miguel de la Madrid, no México.
A segunda maré, conforme Petras, foi eleita com discurso contrário às
consequências das políticas da primeira maré, mas logo aprofundaram a agenda
neoliberal dos seus antecessores: Caldera, na Venezuela; Menem, na Argentina;
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lacalle, no uruguai; Collor e FhC, no Brasil; Sanchez lozado, na Bolívia; Salinas,
no México; e Fujimori, no Peru. A terceira maré combinaria dois elementos
importantes, que a diferenciam da segunda: uma forte oposição popular e de
diversos setores produtivos organizou protestos e projetos relativamente
alternativos ao modelo neoliberal. É verdade que parte dessa oposição acabou
assimilando elementos do ideário de Mont Pèlerin, principalmente no que se
refere às garantias de propriedade privada, livre mercado e ajuste fiscal.
Para Garrido (1999), o neoliberalismo “é uma doutrina que, em nome
do Capitalismo do século XXi, pretende reordenar a economia mundial, mas
que de fato está sustentando uma verdadeira guerra econômica das grandes
empresas transnacionais contra a maioria da população” (idem: 10). uma
“guerra” que sustenta invasões de países, o sucateamento dos Estados nos
países subdesenvolvidos e a generalização da miséria em níveis alarmantes.
Mesmo os trabalhadores dos países desenvolvidos não estão a salvo da onda
conservadora que está assolando o mundo desde a década de 80.
Por fim, pode-se afirmar que o primeiro efeito do neoliberalismo é
“reconfigurar o terreno da luta social, reconcentrar o poder político e reconcentrar
a riqueza no topo da pirâmide. O discurso do desenvolvimento socioeconômico
é uma questão periférica” (idem: 107). Em nome da estabilização econômica,
trilhões de dólares foram transferidos dos Estados para a iniciativa privada,
política verificada nos países do capitalismo central, no Brasil e, inclusive, no Rio
Grande do Sul (desde o início da década de 90). Essa reconfiguração do sistema,
como nos diz Petras, não hesitou em atacar fortemente os sindicatos dos setores
privados e do serviço público, as causas do atraso econômico na concepção de
hayek.
A queda do Muro de Berlim, em 1989, e a derrocada do chamado
“socialismo real” (uRSS e leste Europeu), em 1990, abriram caminho para
outro momento de expansão do mercado internacional, pois centenas de milhões
de pessoas foram, repentinamente, “integradas” no processo de restauração
do capitalismo nesses países. Parte considerável da propriedade estatal foi
privatizada nos primeiros anos da abertura econômica e as conquistas sociais
dessas sociedades desapareceram. A década de 90 foi de grave crise econômica
para os trabalhadores do leste europeu e do Mundo, mas de incrível expansão
para os negócios das multinacionais.
Do ponto de vista ideológico, foi a oportunidade que faltava aos
intelectuais neoliberais para decretarem o fim das utopias emancipatórias e a
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15. AlEXANDRE REiNAlDO PROTáSiO
vitória incontestável do capitalismo. O fim da uRSS, referência para os partidos
de orientação comunista em todo o Mundo, de fato gerou uma debandada geral
de intelectuais e organizações para a trincheira da economia de mercado. Ao
estilo do que fizera anos antes a social-democracia no lado ocidental, grupos
mais ortodoxos do leste também sucumbiram ao Consenso de Washington
(1989). Os casos mais emblemáticos dos efeitos ideológicos da extinção da uRSS
estão na transformação do “Partidão”, o PCB, em PPS (1992) e do PCi (itália),
partido fundado por Antonio Gramsci, em PD (Partido Democrático). Os seus
respectivos líderes adotaram os conceitos de “radicalidade democrática” e de
“republicanismo”, derivativos do Estado de direito burguês, no lugar de “luta de
classes” e “socialismo”.
A humanidade interconectada como nunca pelos mercados e os meios
de comunicação (a partir da década de 90 passamos a assistir guerras em tempo
real), começa a ser dominada pelo chamado “pensamento único”. Segundo
essa ideologia, só havia restado uma forma racional de administrar o Estado,
a neoliberal, e apenas a lógica do livre mercado e da concorrência desregrada.
A regulação estatal, a estabilidade dos funcionários públicos e o protecionismo
econômico tinham deixado os Estados e as empresas “acomodados”, era urgente
um choque de gestão para aumentar a eficiência das economias, principalmente
no mundo subdesenvolvido.
Em 1989, John Williamson, economista do International Institute for
Economy (Washington, EuA), cunhou a expressão “Consenso de Washington”
para designar um conjunto de medidas de flexibilização e estabilização das
economias, principalmente para a América latina. Essas medidas surgiam como
consenso nos debates do referido instituto estadunidense. As recomendações
transformaram-se em regras canônicas do neoliberalismo (Williamson, 1990):
1) Disciplina fiscal: redução do déficit público e dos gastos públicos;
2) Prioridade dos gastos públicos para educação básica (fundamental),
saúde e infraestrutura;
3) Reforma tributária, com aumento da base contribuinte;
4) liberalização financeira: fim das restrições às instituições financeiras
internacionais atuarem nos mercados nacionais; afastamento do Estado
do setor;
5) Taxa de câmbio competitiva;
6) liberalização do comércio exterior: redução de alíquotas de importação
e estímulos à exportação;
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7) Eliminação de restrições ao capital externo, permitindo investimento
estrangeiro direto;
8) Privatização: venda de empresas estatais;
9) Desregulação: redução da legislação de controle do processo econômico
e das relações trabalhistas;
10) Garantia de propriedade intelectual e científica.
O receituário do Banco Mundial e do FMi, sintetizado nas
recomendações do Consenso de Washington, foi utilizado por todos os países da
América latina, mas com intensidades diferentes. A experiência argentina foi
a mais trágica, pois as reformas neoliberais atingiram, inclusive, a previdência
pública. A grave crise de 2001 colocou 40% dos argentinos abaixo da linha de
pobreza e dizimou economicamente a classe média. O Governo Federal argentino
teve que decretar a moratória da dívida externa e retomar das mãos da iniciativa
privada os fundos de previdência.
Em todo o mundo, os resultados dessa política foram crises
de especulação (sistêmicas é correto, mas intensificadas pela crescente
desregulamentação dos mercados), que geraram quebradeiras e desemprego
crescente. Sem a proteção de uma ampla rede estatal de assistência, milhões
de indivíduos foram condenados à miséria extrema. No Brasil, similar ao que
ocorreu na Argentina, os efeitos do neoliberalismo também foram nefastos aos
trabalhadores e às instituições públicas, visto que 40 milhões de brasileiros
viviam abaixo da linha de pobreza na década de 90.
Mais recentemente, a crise no centro do capitalismo, principalmente
EuA e Europa, comprovou que o modelo neoliberal (baseado no trinômio
flexibilização – desregulamentação - especulação) não oferece nenhum futuro
possível para a humanidade. A atual onda de desempregos em todo o mundo
reflete a opção do capital pelas altas taxas de lucro em detrimento do bem-estar
das famílias e dos próprios trabalhadores.
Para ladislau Dowbor (2009), a conta da irresponsabilidade e da
roda especulativa estadunidense será paga pelos países mais pobres e pelos
trabalhadores assalariados. Pois, segundo Dowbor, “não se trata apenas de um
sistema bom que entrou em crise por movimentos conjunturais: a financeirização
dos processos econômicos vem há décadas se alimentando da apropriação dos
ganhos da produtividade que a revolução tecnológica em curso permite, de
forma radicalmente desequilibradas”. Os 20% mais ricos do Mundo se apropriam
de 82,7% da riqueza mundial, enquanto dois terços da população global detêm
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17. AlEXANDRE REiNAlDO PROTáSiO
apenas 6% da riqueza. A crise está aprofundando o abismo social e econômico
entre as classes sociais.
NEOlIbERAlISMO NO bRASIl E NO RIO GRANdE dO SUl
2
2
No Brasil, as políticas neoliberais de Collor e FhC levaram à abertura
indiscriminada da economia, expondo o mercado interno à concorrência
desleal de produtos asiáticos e aos subsidiados pelos países centrais. Além
disso, conduziram à privatização de empresas estatais mal-administradas, mas
com importância estratégica para o país, como a Vale do Rio Doce. A política
de controle do câmbio e de altas taxas de juros (a Selic atingiu 45% no ano de
1999) provocaram um processo acelerado de desindustrialização do Brasil e
de transformação da nossa economia num paraíso ao gosto dos especuladores
internacionais. Essas opções políticas levaram o país à bancarrota em todas as
crises mundiais durante a década de 90 e nos primeiros anos do século XXi.
Não fosse o modelo adotado pelo Brasil, a desenvoltura da economia
nas duas últimas décadas do século XX teria proporcionado uma participação de
5,1% da renda nacional na renda mundial em 1999. Contudo, no auge das políticas
neoliberais, a renda nacional foi equivalente a apenas 2,8% da renda mundial,
retroagindo aos anos 80. Nesse mesmo ano, a renda nacional per capita foi o
equivalente a 36,1% da renda per capita do centro capitalista, como mostra o
quadro abaixo (os anos assinalados marcam a implantação do modelo neoliberal
no Brasil):
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Evolução da relação da renda per capita nacional em relação à renda per capita do
centro capitalista, 1950 -1999.
1950 28,10%
1960 29,20%
1970 32,50%
1980 36,10%
1990 27,20%
1999 26,80%
Fonte: Pochmann, 2007: 38
Segundo Pochmann, caso não houvesse uma ruptura nesse movimento,
em 2000 a renda per capita nacional teria sido equivalente a 42% da renda por
habitante dos países ricos: “Mas, com a situação de estagnação da renda per
capita pós-1980, a renda média dos brasileiros foi apenas 27% da renda média
dos habitantes dos países ricos no ano de 1999, regredindo a uma situação
próxima à de 1940” (ibidem). Essa regressão fantástica revela os malefícios
do neoliberalismo para o mercado de trabalho e a renda nacional, um atraso
equivalente a 60 anos de nossa história.
O desemprego não ficou restrito a uma região do país, mas, desde 1980,
tem sido um fenômeno de massa, reproduzido em todos os cantos do país. Dos
13,6 milhões de pessoas que ingressaram no mercado de trabalho nos anos 90,
apenas 8,5 milhões obtiveram acesso a algum posto de trabalho. Essa situação
deixou um enorme passivo de desempregados para o século XXi:
Evolução da taxa de desemprego urbana e por grandes regiões geográficas, 1989
e 1998 (em %):
Região 1989 1998
Norte 3,1% 10,5%
Nordeste 3,2% 7,4%
Sudeste 3,2% 11,2%
Sul 2,4% 7,7%
Centro-Oeste 2,6% 9,2%
Brasil 3,03% 9,39%
Fonte: Pochmann, 2007: 103
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19. AlEXANDRE REiNAlDO PROTáSiO
As políticas neoliberais, principalmente no final do primeiro mandato
de FhC, colocaram o país na condição de dependente dos receituários do Banco
Mundial e do Fundo Monetário internacional (FMi). infelizmente, a doutrina
neoliberal não ficou restrita ao Governo Federal, mas produziu seguidores fiéis
nos Estados e municípios.
No RS, o discípulo mais aplicado do neoliberalismo privatista foi o
Governo Britto (1994-1998). O mandato de Britto ocorreu concomitante ao
primeiro Governo FhC e, alinhado com este, adotou integralmente a agenda
de redução do Estado: realizou o Programa de Demissões Voluntárias (PDV’s)
nos serviços públicos; privatizou a CRT e parte da CEEE; pedagiou as estradas
gaúchas; extinguiu pequenas empresas estatais; aprovou na Assembleia
legislativa um novo Plano de Carreira, reduzindo direitos, o que felizmente
não foi implantado pelo Governo Olívio; ampliou o Fundopem, que destinou
milhões para as grandes empresas; entre outras medidas. Foram anos de baixo
crescimento do PiB gaúcho e de aumento do desemprego em todos os setores
econômicos.
No campo das políticas de financiamento da Educação, o Governo Britto
implantou mecanismos de avaliação de desempenho, os Contratos de Gestão
e as Parcerias Público-Privadas. Através dos Contratos de Gestão, o Governo
definia metas para as empresas estatais, escolas e autarquias, responsabilizando
funcionários e chefias pelos resultados das políticas aplicadas. A avaliação desse
desempenho condicionaria o repasse das verbas públicas. As parcerias público-
privadas tinham como objetivo devolver encargos que, historicamente assumidos
pelo Estado, não seriam mais sua obrigação (entre elas a própria Educação).
Fora dos programas dos governos, o modelo neoliberal de gestão
continuou forte entre o empresariado, a elite rural e demais setores
conservadores do RS. A “Agenda 2020” (a partir de 2006), foi organizada pela
Farsul (Federação da Agricultura do Estado do RS), Famurs (Federação das
Associações de Municípios do RS), Fecomércio (Federação do Comércio do RS),
Fiergs (Federação das indústrias do Estado do RS), Força Sindical, Federasul
(Federação das Associações Comerciais e de Serviço do RS), Fundação Maurício
Sirotsky Sobrinho, Fórum da liberdade, instituto Gerdau, Rotary Club, Sindilojas
(Sindicato dos lojistas), undime (união Nacional dos Dirigentes Muncipais de
Educação), entre outros. Agregou os principais elementos do discurso privatista
das décadas de 80 e 90. Algumas propostas (disponíveis no site):
1) Criar previdência complementar pública não estatal (gerida pelos
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20. O MODElO NEOliBERAl E A RESiSTêNCiA DOS TRABAlhADORES EM EDuCAçãO: uMA hiSTóRiA DE luTAS
servidores). É importante desvincular para evitar que o Estado use o
dinheiro da previdência dentro do caixa único para cobrir déficits em
outras áreas (ação imediata);
2) Aumento do tempo de serviço para todos os setores (públicos);
3) Estudar a retirada do Estado da produção de bens e serviços de
mercado: avaliação econômica da possibilidade de privatização de
estatais (CEEE, Banrisul, Corsan);
4) Remuneração, de 100% dos professores, com parte determinada em
função dos resultados educacionais;
5) Aumento da média salarial do Magistério em articulação com o
crescimento do PiB gaúcho. No caso do Magistério Público, da
arrecadação tributária do Estado e dos municípios;
6) incentivo à produtividade (nos departamentos e unidades da
administração, o que inclui as escolas);
7) Migração de parte da gestão dos órgãos prestadores de serviços
não exclusivos de Estado (nas áreas da arte e cultura, pesquisa,
meio ambiente, esportes, assistência social, educação e saúde) para
entidades públicas de direito privado, cujo protótipo são as Fundações,
veladas pelo Ministério Público - chamadas Organizações Sociais
(OSCiPs);
8) Estabelecer metas temporais de transição para iniciativa privada (via
contrato de gestão) de serviços públicos e demandas respondidas pelo
Estado – Parceria Público-Privada.
9) Municipalização da Educação infantil: como o Estado não recebe nada
do Fundeb pelas crianças na pré-escola, a municipalização, mesmo
que parcial, traria uma economia. Ao absorverem os alunos da rede
estadual, as prefeituras aumentariam a participação no fundo.
Como perceberemos, a Agenda 2020 oferecerá o manancial para a
segunda onda neoliberal no RS, representada pelo Governo Yeda. O fato dessa
agenda de reformas administrativas ter sido elaborada pelos setores mais
conservadores do Estado, determinará a relação do Governo tucano com os
movimentos sociais e categorias do serviço público. Nesse sentido, as mudanças
nos Planos de Carreira dos Trabalhadores em Educação (60% da folha de
pagamento do Executivo) são as prioridades do atual governo.
20
21. 3
AlEXANDRE REiNAlDO PROTáSiO
A RESISTêNCIA dOS TRAbAlhAdORES EM EdUCAÇÃO
3
Desde a década de 80, o CPERS resiste ao modelo neoliberal e suas
políticas de redução de direitos. Foram várias campanhas, mobilizações e greves,
cada qual respondendo a ameaças imediatas ou buscando resolver distorções
salariais graves. Nossa categoria tem história de resistência, enfrentamos todos
os governos que tentaram retirar direitos conquistados ou organizamos lutas
por avanços nos raros momentos em que a correlação de forças era favorável
aos trabalhadores (como no período 1998 – 2002).
O Plano de Carreira do Magistério foi instituído em 1974, no Governo
de Euclides Triches (1971-1975, Governo Militar), que nomeou uma Comissão
Especial para construir um anteprojeto de lei. O processo de negociação
ocorreu entre o Governo, mediado pelo Cel. Mauro Costa Rodrigues (Secretário
de Educação e Cultura), e os associados representados pelo CPERS. Existe
consenso em considerar a instituição do Plano de Carreira uma concessão
do governo militar, mas também é correto afirmar que essa medida refletiu a
necessidade dos educadores de uma carreira organizada.
A primeira greve do CPERS ocorreu em 1979, durante o Governo de
José Amaral de Souza (1979-1983, Governo Militar), e foi deflagrada dia 04 de
abril na sede do Clube dos Caixeiros Viajantes, com duração de 13 dias, o que
garantiu a nomeação de 20 mil concursados e 70% de reajuste parcelado. Foi a
primeira greve de categoria do Estado e a segunda do país após o Golpe Militar
de 1964, fato que demonstra o pioneirismo e a capacidade de resistência dos
educadores gaúchos.
Em 1980, realizaram-se mais 21 dias de greve, conquistando percentuais
de reajuste e um vencimento-base equivalente a 2,5 salários mínimos da época.
Além disso, conquistamos os 25% do orçamento para a educação e representação
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22. O MODElO NEOliBERAl E A RESiSTêNCiA DOS TRABAlhADORES EM EDuCAçãO: uMA hiSTóRiA DE luTAS
do CPERS no Conselho Estadual de Educação (CEEd). Esse processo de
rupturas e negociações geraram o chamado Acordo/80. Ao longo dos primeiros
anos da década de 80, o Centro participou da luta pela aposentadoria aos 25 anos
de serviço e dos fóruns nacionais de trabalhadores e das lutas por democracia,
como as Diretas Já. Nesse ano, o CPERS realizou a sua maior assembleia geral,
com 24 mil associados no Gigantinho.
No ano de 1985, sob o Governo Jair Soares (1983-1987, PDS), o CPERS
fez sua primeira grande greve, com 60 dias de duração, objetivando assegurar
o pagamento do 13º salário, a conquista das eleições para direções de escola e
a destinação de 35% da receita estadual para a pasta da Educação. Também
ficou acertado que a partir de novembro de 1986, o Governo começaria a pagar
os 2,5 salários mínimos. A luta por eleições nas escolas demonstra igualmente
que colocamos a questão da democracia como elemento fundante do projeto
pedagógico cidadão e solidário que, cotidianamente, buscamos desenvolver nas
unidades escolares.
Durante o processo constituinte, em 1987, o Governo Pedro Simon
(1987-1990, PMDB), contrariando as promessas de seu próprio partido, não paga
os 2,5 salários mínimos, o que originou a greve de 1987, com 96 dias (a maior
da história do Centro de Professores), além disso, garantimos a permanência
do Plano de Carreira e o emprego dos contratados. Em 1988, o CPERS lançou
a campanha “De olho na Constituinte” e deflagrou greve de nove dias. Como
resultado, sua direção, ao lado dos associados, conquistou reajuste salarial, o
pagamento do difícil acesso e um cronograma para regularização das promoções
em atraso. Como resultado colateral, o governo também instituiu a unidocência
para os professores das séries iniciais.
No ano de 1989, ocorre a segunda greve no Governo Simon, prolongando-
se por 42 dias. As conquistas continuaram: reajuste salarial, publicação e
pagamento das alterações dos níveis, nomeação de três mil professores e o
pagamento da unidocência. A assembleia de 06 de outubro de 1989 aprovou a
transformação do Centro de Professores em CPERS-Sindicato, o que possibilitou
a participação dos funcionários de escola e a unidade dos Trabalhadores em
Educação. Em 1990, numa greve de 57 dias, a Entidade cobrou o cumprimento
de promessas feitas pelo Governo do PMDB em greves anteriores.
Na seqüência das lutas que ocorreram na década anterior, conduzidas
pelas direções, desencadeou-se a primeira greve dos anos 90 contra a proposta
do Governo Sinval Guazzelli (1990-1991, PMDB) de instituir um abono, ao invés de
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23. AlEXANDRE REiNAlDO PROTáSiO
reajuste salarial, para os Trabalhadores em Educação. Esta foi a segunda maior
greve da história do CPERS: 74 dias sem atividades nas escolas. A mobilização
foi um ensaio importante para os embates que ocorreriam nos anos posteriores,
durante o governo do PDT.
A partir de 1992, a sociedade e o Sindicato tiveram que enfrentar o
calendário rotativo de Alceu Collares (1991-1995, PDT). O CPERS denunciou
os prejuízos pedagógicos da política educacional que Neuza Canabarro,
então Secretária da Educação, e Collares defendiam para o Rio Grande do
Sul. A participação da comunidade escolar reforçou o combate pela volta
da normalidade ao ensino gaúcho. O Governo do PDT suspende as eleições
de diretores, nomeando interventores com a missão de reprimir as críticas,
suspende a cedência dos diretores de Núcleo (fato repetido por Yeda e Mariza)
e promove um dos maiores achatamentos salariais da história da educação
gaúcha. A Categoria também participou das atividades pelo Fora Collor e pela
ética na política nacional.
A década de 90 foi de grandes revezes para o movimento sindical em
todo o Mundo. Caíram as taxas de sindicalização e muitas direções capitularam ao
ideário neoliberal. Além disso, como já afirmamos, parte da esquerda sindicalista
viu seus referenciais teóricos serem desafiados pela história. O “pensamento
único”, em sua ofensiva, estava conseguindo convencer a sociedade e os próprios
trabalhadores que o argumento de hayek e da Sociedade de Mont Pèlerin
estavam corretos: os sindicatos eram fontes de acomodação e peso morto para
as economias.
Diante desse quadro no RS, ao longo da década, mais de 20 mil
trabalhadores abandonaram o setor da educação, em busca de profissões mais
rentáveis ou por estarem exauridos, num contínuo stress físico e mental. O
modelo de escola e de Estado adotado provocou o esgotamento dos servidores
públicos e aumentou a pauperização da população (desemprego, precarização,
etc.), obrigando muitos sindicatos a adotarem perspectivas mais abrangentes
de movimento (indo além das questões corporativas). Assim nasceu o chamado
Sindicato Cidadão, concepção que passou a dominar o sindicalismo brasileiro,
incluindo o CPERS-Sindicato.
Mesmo submetido aos entraves do período neoliberal, o CPERS
continuou organizando atividades que tiveram, com maior ou menor eficácia, a
capacidade de manter a educação como uma política pública prioritária para a
sociedade. Entre 1993 e 1995, ainda durante o Governo Alceu Collares, o sindicato
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24. O MODElO NEOliBERAl E A RESiSTêNCiA DOS TRABAlhADORES EM EDuCAçãO: uMA hiSTóRiA DE luTAS
desencadeou o “Movimento Resgate da Qualidade do Ensino”, em companhia
da comunidade escolar. A necessidade de ampliar o campo de alianças com
os outros setores do mundo do trabalho fez com que setores da Entidade
considerassem a filiação numa central sindical, principalmente à CuT.
A CuT, nascida em 1983 no ABC paulista, congregou diversos ramos
profissionais numa estrutura democrática e combativa. Por conta da CuT
apresentar as posições mais radicalizadas no espectro do sindicalismo da
década de 90, foi que setores expressivos de nossa categoria resistiram à filiação.
Em tempos de crise de identidade, o “radicalismo” da CuT era o produto da
resistência à avalanche neoliberal que tentava destruir as organizações sindicais
brasileiras. Depois de longo debate e profundas divergências (longe de estarem
superadas), o CPERS-Sindicato, reunido no i Congresso (1996), decidiu filiar-se
à CuT.
O Governo Antonio Britto (1995-1999, PMDB), como relatamos, foi
destrutivo para o patrimônio e os serviços públicos do Estado. Entre 1997 e
1998, os militantes realizaram diversas paralisações e reduções de período nas
escolas, pois foram intensificadas as lutas contra a municipalização do ensino,
em defesa do Plano de Carreira do Magistério e pelo cumprimento da chamada
lei Britto. O movimento sindical, os partidos de esquerda e o nosso Sindicato
organizam a ocupação da Assembleia legislativa contra a privatização da CRT.
O ii Congresso do CPERS (1998) define a resistência através de caravanas
por todo o Estado, divulgando a campanha “Luta para Mudar”. Em 1999, o
Sindicato participa da Greve Geral de 10 de novembro, atividade que fazia parte
do cronograma nacional de denúncia da política do Governo FhC.
A atuação dos trabalhadores acumulou forças políticas e sociais que
deram o troco eleitoral ao modelo neoliberal do Governo Britto. Com campanha
apresentando um programa oposto ao adotado pelo PMDB, o PT elegeu o
candidato Olívio Dutra (1999-2003). Contudo, ao contrário do que previam os
setores mais conservadores, o Sindicato realizou uma grande greve no Governo
do PT (2000). Foram 32 dias de greve que conquistaram o retorno do Plano de
Carreira, retirado durante o Governo Britto, reajuste salarial e do vale-refeição,
pagamento das promoções atrasadas e o início da elaboração do Plano de
Carreira dos funcionários de escola.
O Sindicato deu provas de que, mesmo em um governo formado
por partidos tradicionalmente aliados às lutas dos trabalhadores, não poderia
abrir mão das suas bandeiras históricas. A greve de 2000, com a participação,
24
25. AlEXANDRE REiNAlDO PROTáSiO
inclusive, de setores da base que nunca acompanharam esse tipo de movimento
(ao contrário, boicotavam), foi uma demonstração tácita da independência de
classe do CPERS-Sindicato. Além disso, havia o sentimento de que o período
oferecia condições para avanços significativos no campo da política educacional
e dos direitos, como atestam a Constituinte Escolar e a garantia dos Planos de
Carreira.
Em 2001, a direção e os associados realizaram a “Marcha sobre o Rio
Grande”, o que assegurou reajuste salarial, o fim da sobreposição dos níveis
para os professores, a incorporação de parte do abono, a criação de um gatilho
contra a inflação e a instituição do Plano de Carreira dos funcionários de escola.
Os movimentos sociais entraram num processo de reação à década neoliberal,
ocorreram diversas atividades de denúncia e que propunham um novo Mundo
possível: a Marcha Nacional em Defesa da Educação (CNTE), o i Fórum Social
Mundial (Porto Alegre), o Fórum Mundial de Educação e o iV Congresso do
CPERS-Sindicato. A sociedade civil brasileira começava a dar os primeiros
sinais de desagrado às políticas da Era FhC.
O modelo privatista da década anterior desencadeou crescente adesão
de amplos setores da classe trabalhadora e da classe média às alternativas
desenvolvimentistas que se apresentavam, como a defendida pela candidatura
lula. O ii Fórum Social Mundial, o Plebiscito Nacional contra a AlCA e contra
as mudanças na ClT (Consolidação das leis do Trabalho), colocaram em relevo
as diferenças entre os projetos em disputa na sociedade brasileira.
Os movimentos sociais, escaldados pelos revezes do período
neoliberal, também passaram por um processo de transformações importantes
neste início de século XXi. Segundo Gohn (2003: 16-7), os novos movimentos
sociais apresentam as seguintes características: a) tentam construir um “novo
padrão civilizatório, orientado para o ser humano e não para o mercado”; b)
reivindicam “ética na política e, ao mesmo tempo, [exercem] vigilância sobre
a atuação estatal/governamental”; c) os novos movimentos têm “coberto áreas
do cotidiano de difícil penetração por outras entidades ou instituições do tipo
partidos políticos, sindicatos ou igrejas”; d) “atualmente, ter autonomia não é ser
contra tudo e todos, estar isolado ou de costas para o Estado, atuando à margem
do instituído”.
Para Gohn, os movimentos compreenderam que o conceito e a prática
da autonomia política possuem um número maior de possibilidades e facetas. Ter
autonomia, atualmente, significa (idem): a) ter projetos e pensar os interesses
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26. O MODElO NEOliBERAl E A RESiSTêNCiA DOS TRABAlhADORES EM EDuCAçãO: uMA hiSTóRiA DE luTAS
dos grupos envolvidos com autodeterminação; b) planejamento estratégico,
com crítica, mas também com propostas de resolução dos problemas; c) ser
flexível para incluir os que estão excluídos e desejam participar; d) tentar
dar universalidade aos programas particulares (construir hegemonia, nos
termos gramscianos); e) priorizar a cidadania; f) ter pessoal capacitado para
negociações, fóruns e nas relações com o poder público. De formas diferentes,
os movimentos sociais assimilaram o programa da cidadania e promoveram
debates, manifestações, cartilhas com direitos, estatutos e a mobilização de
amplos setores sociais.
No embalo das vitórias de lula (2002) e do crescimento das alternativas
populares em todo o continente, o CPERS enfrentou as políticas do Governo
Rigotto (2003-2007, PMDB) de retirada de direitos previdenciários (iPE), de
contrato de gestão nas escolas e de municipalização (que são retomadas após o
Governo Olívio). Em 2004 e 2006, a categoria entra duas vezes em greve e garante
reajuste no salário e no vale-refeição, o compromisso por parte do Governo de
pagar as promoções em atraso, a inclusão dos cônjuges como dependentes
do iPE, a realização de concurso público e as nomeações de professores e
funcionários.
Depois de um governo opaco, como o Governo Rigotto, e de uma
estratégia eleitoral equivocada por parte do PMDB (que esperava tirar o PT do
segundo turno das eleições de 2006), a candidatura Yeda Crusius ganha terreno
e conquista o governo do Estado. Com o discurso da crise financeira, o governo
do PSDB (que ocupou a vaga de vice entre os anos 1995-1999 e 2003-2007), retoma
a agenda do Governo Britto de enxugamento da máquina estatal.
Os primeiros enfrentamentos da Entidade com o Governo Yeda não
tardaram e estão em processo acelerado. Sustentado ideologicamente na Agenda
2020 (ver acima), o Governo Estadual apresentou um conjunto de 12 Programas
Estruturantes para reformar a máquina do Estado. Os programas seguem um
modelo de gestão que privilegia os resultados e não o processo. Veja a descrição
de alguns programas (disponíveis no site do Governo do Estado):
1) O Programa Estruturante “Governo de Resultados”: contempla um
conjunto articulado de ações de gestão, capacitação de servidores,
reorganização e qualificação das estruturas e dos serviços prestados,
utilizando instrumentos de contratualização que garantam a
qualidade dos resultados a serem entregues para os usuários diretos
dos serviços e para o público-alvo das políticas públicas;
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27. AlEXANDRE REiNAlDO PROTáSiO
2) Ajuste Fiscal: Ações de racionalização de processos e controle de
gastos do Programa que permitem “fazer mais com menos”, enquanto
o aperfeiçoamento dos instrumentos de gestão tributária permite
aumentar a receita e combater a sonegação;
3) O Programa Estruturante “Boa Escola para Todos”: identificado com
o movimento nacional Compromisso Todos Pela Educação, criado
em 2006, com a participação de educadores, iniciativa privada,
comunicadores e gestores públicos da educação, com o objetivo de
garantir o direito de todas as crianças e jovens brasileiros à educação
básica pública de qualidade. Está identificado ainda com as metas para
a educação da Agenda 2020 – O Rio Grande Que Queremos (ver acima
as propostas da Agenda para a educação);
4) Programa Professor Nota 10: valorização dos professores por meio
do aperfeiçoamento dos processos de seleção do magistério,
garantindo a admissão dos candidatos melhor preparados, e, ainda, do
aperfeiçoamento do sistema de progressão funcional, articulando-o à
elevação da qualidade da educação:
- Novo modelo de concurso para o magistério elaborado;
- Novo modelo de avaliação de desempenho dos professores no estágio
probatório elaborado;
- Novo modelo de carreira do magistério implantado;
- Nova legislação para gestão educacional implantada.
O empréstimo do Banco Mundial para o Governo do Estado (uS$ 1,1
bilhão) está condicionado às reformas estruturais apontadas pela Agenda 2020
e pelo Consenso de Washington. Para tanto, o Governo Yeda terá que investir
contra as carreiras dos servidores públicos e os direitos previdenciários. O
ajuste fiscal, que retirou recursos dos serviços públicos, faz parte das exigências
de reestruturação administrativa e financeira do capitalismo internacional.
O ajuste fiscal (o propalado “déficit zero”), comemorado pelo Governo
Yeda, tem grande impacto nas políticas públicas. A Educação, por exemplo, terá
apenas 26,8% do orçamento estadual, quando a lei obriga 35%. Somente nessa
área o governo “poupará” R$ 1,2 bilhões (Bohn Gass, 2008). O mesmo processo
acontecerá com a Saúde e demais secretarias de Estado. Ao lado dessas medidas,
o Governo, em especial a Secretaria da Educação (Mariza Abreu), desencadeia
políticas de repressão aos educadores e persegue a liberdade sindical.
Reunidos no Gigantinho, dia 14 de novembro de 2008, os educadores
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definiram que entrariam em greve por tempo indeterminado. A assembleia foi
representativa, pois estavam presentes dez mil professores e funcionários de
todas as regiões do Estado. um estrondoso sucesso, se considerarmos todas
as tentativas de intimidação realizadas pelo Governo Estadual. Além disso, a
Categoria foi corajosa ao enfrentar algumas direções de escola que fizeram o
papel de pelotão de choque da Secretaria da Educação.
Dias antes da assembleia geral, precisamente 28 de outubro (Dia do
Funcionário Público), o Governo do Estado emitiu o decreto nº 45.959, ameaçando
os trabalhadores militantes com o corte de ponto e, no final do documento, com
falta injustificada. As greves sempre terminam com um processo de negociação
que visa a estabelecer o novo calendário escolar e a reposição dos dias não
trabalhados. Nossa militância sempre realizou cada paralisação ou greve
sabendo que iria recuperar conteúdos e dias letivos, pois esse é o compromisso
histórico dos educadores gaúchos. Por isso, a ameaça do corte de ponto tinha o
objetivo de intimidar os insatisfeitos e esvaziar a assembleia. Não deu certo, pelo
contrário, ajudou a indignar ainda mais.
O segundo movimento equivocado do Governo Yeda combinou duas
medidas: a) os subsídios para os secretários, o que garantiria altos salários
para quem já ganhava muito bem; b) o envio para a Assembleia legislativa do
projeto que criaria um piso de R$ 950,00, incluindo todos os avanços da carreira,
ou seja, um teto, congelando os salários dos professores. Essa atitude mostrou
profundo desrespeito com os educadores e a sociedade gaúcha, pois reajustaria
os altos salários e congelaria as menores remunerações do Poder Executivo, os
Trabalhadores em Educação. Ao mesmo tempo, o governo estadual entrou com
uma ADi contra o Piso Salarial Profissional Nacional (mais justo e vantajoso
para os trabalhadores) e prometeu revisar o Plano de Carreira dos professores
logo no início de 2009.
Em poucas semanas, o Governo Yeda sincronizou diversos ataques
contra o Sindicato e a Base, alguns tentando desmobilizar a assembleia, outros
efetivamente retirando direitos históricos dos educadores. A greve, portanto,
foi defensiva, para não perder, em pleno final do ano letivo de 2008, as poucas
garantias salariais e de carreira que ainda conservamos.
Após uma vigília de doze horas na frente do Palácio Piratini (dia 19
de novembro de 2008), a Categoria e o Comando de greve conseguiram uma
audiência com o Governo do Estado, que foi representado pela Secretária
de Educação, Mariza Abreu. A escolha da Secretária como interlocutora do
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29. AlEXANDRE REiNAlDO PROTáSiO
governo foi equivocada, visto que a mesma não dialoga tranquilamente com os
educadores. E, de fato, Mariza trabalhou para fracassar a audiência.
O movimento grevista desencadeou um profundo debate com a
Assembleia legislativa, explicando, para cada deputado, os problemas do
projeto de piso estadual e coletando assinaturas através da Carta-compromisso,
instrumento do Comando para angariar apoios. O legislativo comprometeu-se
em não votar qualquer projeto que retire direitos dos educadores durante os
meses de janeiro e fevereiro de 2009, quando nossa Entidade está desmobilizada.
A reivindicação era pela retirada do projeto, mas considerou-se um importante
avanço o compromisso dos deputados estaduais com os Trabalhadores em
Educação. Os legisladores fizeram a sua parte, negociaram com o CPERS-
Sindicato.
A audiência com Mariza foi diferente. Como ex-membro do magistério
e da direção estadual do CPERS, a Secretária utilizou seu conhecimento para
dificultar a discussão com o Comando e, propositadamente, inviabilizar qualquer
possibilidade de acordo. Em nenhum momento a representante do governo
verbalizou a necessidade de iniciar um processo de negociação visando ao fim
do movimento. A titular da pasta preferiu apostar no conflito e na destruição do
Sindicato, como diversas vezes manifestou em discursos.
Ao afirmar que descontaria os dias parados dos baixos salários dos
educadores, a Secretária, autorizada pela Governadora, fechou a porta para
qualquer tentativa de diálogo com o Sindicato. O compromisso dos grevistas,
enquanto movimento responsável, era terminar o ano letivo, recuperando os
dias perdidos. Contudo, não era possível sair do movimento paredista sem um
processo de negociação com o Governo do Estado.
Cabe referência especial ao papel da mídia na “blindagem” dos
governos neoliberais. Os grandes veículos de comunicação, principalmente o
Grupo RBS, buscam naturalizar as medidas administrativas desses governos e
minimizam as críticas dos setores descontentes. De diferentes formas, a mídia
transformou-se na principal aliada dos partidos conservadores, o que nos remete
ao debate da democratização das comunicações em todos os níveis. No Governo
Yeda a blindagem da mídia tem sido flagrante.
Atualmente, o CPERS está organizando a categoria para enfrentar o
debate sobre os Planos de Carreira, o próximo ataque do Governo Yeda. O Piso
Salarial Profissional Nacional (PSPN), construído a partir da negociação da
Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) no Congresso
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Nacional e da mobilização da militância em todos os Estados, requer carreiras
adequadas e garantidoras de estímulo à formação continuada.
Além de não cumprir o PSPN, o Governo do Estado quer “achatar” os
coeficientes entre os níveis, reduzindo pela metade a diferença de 100% entre a
formação de nível médio (A1) e a pós-graduação (A6). Com relação aos Agentes
Educacionais, o Governo Yeda vai mais longe: como não considera uma atividade
profissional com direito à carreira, tem como meta a terceirização desses
serviços na escola pública (daí a importância de discutirmos os contratos com
4
as OSCiPs).
GESTÃO dEMOCRÁTICA E AvAlIAÇÃO ExTERNA
4
A eleição para diretores de escola, representa, ao lado da aposentadoria
especial aos 25 anos de contribuição (reivindicada desde 1946), uma das lutas
mais antigas dos Trabalhadores em Educação. As eleições foram autorizadas em
1966, através de um decreto estadual, contudo, com o Golpe Militar e a decretação
do Ato institucional nº 5 (13 de dezembro de 1968) foram suspensas.
Somente a partir de 1980, após a primeira greve da Categoria, é que
o governo cogita o retorno da democracia na escola gaúcha (o que ocorreu
com a lei 8.025, em 1985). Esta lei estabelecia o procedimento para escolha dos
diretores: listra tríplice enviada à Secretaria da Educação, a qual cabia decidir
o nomeado. O mandato correspondia a três anos e a idade mínima para o voto
estudantil era 14 anos.
Com o processo de Constituinte em 1989, no RS, os educadores
promoveram um amplo debate com a sociedade e, no espírito da Constituição
de 1988, asseguraram a inclusão da democracia escolar no documento. Como
resultado, o Governo Sinval Guazelli implantou a lei 9.233/91. A referida lei
estabelecia eleição direta e uninominal por chapas, sendo que essas deveriam
30
31. AlEXANDRE REiNAlDO PROTáSiO
corresponder ao regimento de cada unidade escolar. No espírito da lei anterior,
o Governo regulamentou os Conselhos Escolares (lei 9.232/91), atribuindo-os
de funções consultivas, deliberativas e fiscalizadoras, o que tornou-os órgãos
importantes no espaço escolar.
O Governo Collares operou uma nova modificação na gestão
democrática das escolas. A lei 9.263, instituída em 5 de junho de 1991, alterou a
legislação anterior, mantendo a eleição direta, mas abolindo as chapas; também
diminuiu a idade mínima (de 14 para 12 anos). As disputas de projeto entre o
CPERS-Sindicato e o Governo levaram Collares a arguir a inconstitucionalidade
das leis 9.233/91 e 9.263/91, tendo como base o Art. 84 da Constituição Federal,
segundo o qual é da competência do Poder Executivo nomear cargos de
confiança.
O Supremo Tribunal Federal (STF), em 1999, julgou procedente a
ADi nº 578-2, decisão que foi publicada somente em 18 de maio de 2001. Esse
resultado garantiu ao Governo do Estado a possibilidade de indicar e nomear
os diretores de escola, condição que ainda está em vigor e reforça a noção de
que a democracia escolar no Rio Grande do Sul é uma conquista política da
comunidade organizada.
Em 1995, o Governo Britto enviou ao parlamento o projeto de “Gestão
Democrática do Ensino Público” (10.576/95), com um texto diferente do que foi
negociado com o CPERS-Sindicato. A lei garantiu a eleição direta e uninominal,
sendo que o educador, para concorrer à direção, deveria passar por um curso de
qualificação da Secretaria da Educação, ficando habilitado para desempenhar
sua funções. A proposta do Governo Yeda de formação dos gestores (o Pró-
gestão) resgata essa concepção do período Britto e avança para a possibilidade
de concursos públicos para esse cargo.
No ano de 1997, a segunda eleição após a lei 10.576/95 (a primeira
não seguiu completamente a lei), ocorreu a realização de provas de seleção aos
“pré-candidatos”. A base para o estudo foram diversos cadernos publicados
pela Secretaria da Educação. Nesses documentos estavam inscritas as teses
de gestão neoliberais do Governo Britto, sendo um instrumento de cooptação
dos possíveis gestores das escolas. As eleições tiveram a propaganda eleitoral
proibida, não podendo haver debates, e o Vice-diretor voltava a ser indicado pelo
Diretor eleito, assim como o Assistente Financeiro.
Em 1998, o Governo Britto instituiu a lei 11.126/98, criando o “Plano de
Desenvolvimento e Valorização do Ensino Público Estadual”. O Plano estabeleceu
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32. O MODElO NEOliBERAl E A RESiSTêNCiA DOS TRABAlhADORES EM EDuCAçãO: uMA hiSTóRiA DE luTAS
a parceria e colaboração com a iniciativa privada e o Programa de Avaliação da
Produtividade Docente. O referido Programa introduzia mecanismos de incentivo
à atividade profissional e metas anuais a serem atingidas pelos membros do
Magistério. A lei 10.576/95 já determinava a avaliação externa e a divulgação dos
resultados a toda a comunidade. As iniciativas de avaliação institucional gaúchas
acompanhavam as orientações do MEC (Governo FhC).
Similar ao que ocorreu no Governo Britto, a Secretaria da Educação
sob o comando de Mariza Abreu, contratou instituições privadas para a realização
das provas, o que denota o interesse apenas pelos resultados. E, a exemplo do
que ocorreu no Programa de Avaliação da Produtividade Docente, o Governo
Yeda enxerga os resultados das provas de avaliação sem considerar a situação
econômica, pedagógica e social das escolas e comunidades avaliadas. O objetivo
é estabelecer rankings, metas gerais e gerar dados numéricos para traçar
comparativos entre escolas, regiões e trabalhadores (ver adiante).
O Governo Olívio foi palco de um grande debate político e teórico sobre
a democracia no ambiente escolar. Nas primeiras semanas de 1999, o Governo
promulga a lei 11.304/99, alterando a lei 10.576/95. Os candidatos a diretor
não participariam de provas de pré-seleção, somente após a eleição estariam
obrigados a frequentar cursos de gestão escolar. Nesse ano, em abril, o Governo
Olívio desencadeou a Constituinte Escolar que, entre várias discussões, apreciou
as diversas propostas sobre a democracia.
Em agosto de 1999, o Governo apresentou o Projeto de lei (172/99)
construído por representantes do CPERS-Sindicato, Secretaria da Educação,
Associação dos Conselhos de Pais e Mestres (ACPM) e a união Gaúcha de
Estudantes Secundaristas (uGES): eleição direta uninominal e por chapas;
estabelecimento do formato da propaganda eleitoral; curso de qualificação para
os eleitos; mandato de três anos, com apenas uma recondução; proporcionalidade
na votação; idade mínima de 12 anos para votar; Conselho Escolar como
corresponsável pela gestão das finanças. A oposição fez com que o Governo
retirasse o projeto, reapresentando-o somente em 2001 (Pl 171/01).
A oposição apresentou dois Substitutivos: o primeiro, da então Deputada
iara Wortmann (PMDB) e ex-Secretária da Educação do Governo Britto, foi
retirado em favor do segundo, uma proposta do Deputado Vilson Covatti (ex-
PPB, atual PP). O chamado Substitutivo nº 2 modificava o conteúdo do projeto
apresentado pelo Governo Olívio: alterou a expressão “dotados de autonomia
na gestão administrativa, financeira e pedagógica” (escolas) por “relativamente
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33. AlEXANDRE REiNAlDO PROTáSiO
autônomo” (texto da lei 10.576/95); o projeto original definia que os vice-diretores
também teriam mandato, sendo eleitos em chapa, a alteração garantiu que seria
cargo de confiança; o texto original acabava com a avaliação externa, a oposição
manteve o que foi estabelecido no Governo Britto; mandato igualmente de três
anos, mas o governo perde no tema da recondução (propunha uma), ficando
a proposta da oposição (reconduções ilimitadas); o voto proporcional entre os
segmentos da Comunidade Escolar foi modificado para voto universal (proposta
da ACPM incorporada pelo Substitutivo); quanto à proposição dos Conselhos
Escolares como entidades civis de direito privado (tema polêmico mesmo entre
o movimento), a oposição manteve a lei 10.576/95; o curso de qualificação para
gestores, aprovado por governistas e oposição; o instrumento de premiação
por inovação ou qualidade de ensino foi retirado por acordo entre oposição e
governo.
Diante dessas profundas alterações, que visavam perpetuar as
concepções neoliberais de Estado e de Educação do governo anterior (Britto),
o governador Olívio Dutra vetou a lei aprovada pela Assembleia. No dia 27
de novembro de 2001, a oposição (maioria na Assembleia) derrubou o veto e
promulgou a lei 11.695 de Gestão Democrática do Ensino Público, alterando
a lei 10.576/95. O fato da derrubada reforça a necessidade dos trabalhadores
garantirem sua representação nos parlamentos, pois as propostas construídas
com a participação do Sindicato não contaram com os votos suficientes na
Assembleia legislativa.
A atual lei garante processos eleitorais democráticos nas escolas,
mas permite a (re)produção de distorções tão sérias quanto as que ocorrem
nos pleitos municipais, estaduais e nacionais. As reconduções infinitas e o voto
universal produziram perpetuações, estimularam relações de compadrio e
populismos de todos os tipos. Esses fatos históricos mantêm o debate aceso e
estimulam a Categoria a pensar maneiras de aperfeiçoar a legislação existente,
rompendo com esquemas consagrados pela política tradicional.
O Governo Yeda apresenta propostas requentadas para a gestão das
escolas. O Pró-gestão, segundo o site da Secretaria da Educação, tem por objetivos
“promover e desenvolver lideranças baseadas na gestão democrática da escola
pública, descentralizar os momentos de aprendizagem mediante a modalidade
de educação à distância e proporcionar oportunidade de estudos, atualização
e intervenção nas práticas do cotidiano das organizações educacionais a um
grande número de gestores”. O Pró-gestão poderá transformar-se em um novo
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pré-requisito para as candidaturas de diretores, como ocorreu no Governo
Britto.
O PRADEM (Programa de Apoio ao Ensino Estadual no Município) do
Governo Yeda retoma com força os processos de municipalização dos Governos
Britto e Rigotto. Conforme apresentação do site da Secretaria, o PRADEM “tem
por objetivo promover a integração no gerenciamento de recursos humanos e
esforços com vistas à expansão e melhoria do Ensino Fundamental e à qualidade
do Sistema Educacional, através do provimento de professores para regência
de classe”. Esse provimento será efetuado pelo município nas instalações das
escolas estaduais municipalizadas. uma das consequências dessa política será o
excesso de professores e funcionários nas Coordenadorias onde estão as escolas
municipalizadas funcionando com pessoal das prefeituras.
O SAERS (Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do RS),
no estilo do que fizeram os Governos Britto e FhC, foi elaborado através da
contratação de uma instituição terceirizada, o Centro de Políticas Públicas
e Avaliação da Educação (CAEd), uma fundação de direito privado ligada à
universidade Federal de Juiz de Fora (MG). O projeto básico, disponível no site
da Secretaria, define que a contratada (CAEd) tem como obrigação elaborar e
analisar os resultados, apresentando relatórios do perfil do aluno, dos professores
e dos diretores/supervisores, das condições de infraestrutura das escolas e
relatório das “variáveis que interferem nos resultados dos alunos”. O Relatório
Final do SAERS deverá conter as conclusões finais e recomendações do Centro
de Avaliação mineiro. As escolas gaúchas são avaliadas por pesquisadores,
bolsistas e educadores que, através de números e equações, buscam determinar
a qualidade de instituições que não conhecem, visto que os dados e provas são
enviados para Minas Gerais.
Para compreendermos como a avaliação externa se encaixa no modelo
neoliberal, precisamos avançar um pouco mais no debate sobre o modelo de
escola defendido pelos capitalistas. No plano educacional, as políticas neoliberais
se destacam pelo discurso da eficiência e da qualidade total, fato facilmente
observável no atual governo. Segundo Tomaz Tadeu da Silva (1996), professor
da uFRGS, bastante preciso em sua caracterização, o neoliberalismo utilizou-se
de “estratégias retóricas” para desconstituir o serviço público (e, claro, a escola
pública). Abaixo e na íntegra (Silva, 1996: 167-8):
1) Deslocamento das causas – o eixo de análise do social é deslocado
do questionamento das relações de poder e de desigualdade para o
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35. AlEXANDRE REiNAlDO PROTáSiO
gerenciamento eficaz e eficiente dos recursos;
2) Culpabilização das vítimas – a miséria e a pobreza resultam das escolhas
e decisões inadequadas por parte dos miseráveis e dos pobres;
3) Despolitização e naturalização do social – as condições estruturais
e sociais são vistas como naturais e inevitáveis e abstraídas de sua
conexão com relações de poder e subjugação;
4) Demonização do público e santificação do privado – o mercado e o privado
são tomados como modelos de tudo que é bom e eficiente, enquanto
o estatal e público são vistos como exemplares de tudo que é ruim e
ineficiente;
5) Apagamento da memória e da história – a tendência a reprimir e a
silenciar as raízes históricas – as histórias de subjugação e resistência –
da presente situação;
6) Recontextualização – as categorias e o léxico das lutas democráticas são
seletivamente reciclados e reincorporados, depois, obviamente, de terem
seu conteúdo anterior devidamente higienizado.
Como o público é ruim e precisa ser, nas palavras de Silva, “higienizado”,
nada mais adequado do que a ideologia/discurso da Qualidade Total. Camuflada
sob o manto da “técnica”, pretensamente neutra e desideologizada, a qualidade
pela ótica neoliberal é profundamente política, pois defende a “colonização da
educação pelas perspectivas e pelos interesses empresariais e gerenciais”
(idem: 170). Segundo essa visão, a escola deve estar “subordinada aos objetivos
do capital, mas deve, além disso, estar organizada de acordo com a forma de
organização capitalista do trabalho” (idem: 172).
A redução dos problemas educacionais ao simples mau funcionamento
ou mau gerenciamento financeiro, patrimonial ou pedagógico das unidades
escolares, encobre as verdadeiras raízes das dificuldades da escola pública:
“suprime, esconde e silencia o fato de que a qualidade de um bem social como
a educação está estreitamente ligada a desigualdades sociais organizadas em
torno da classe social, do gênero e da raça, entre outros eixos” (idem: 173).
Somente uma escola que leva em consideração a natureza relacional da educação
(mediações sociais, econômicas, culturais, etc.) poderá debater a distribuição da
riqueza nesta sociedade, pois esta é a função social das instituições de ensino.
Além disso, ao contrário do discurso aparentemente descentralizador e
autonomista da “Qualidade Total”, os governos que utilizam dos instrumentos de
avaliação e medição do aprendizado buscam a centralização dos procedimentos
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e dados estatísticos e a padronização dos conteúdos (listas, matrizes ou
parâmetros curriculares) e metodologias. Daí a necessidade de oferecer, num
espectro político-pedagógico muito limitado, três “pacotes pedagógicos” para
serem supostamente escolhidos pelas escolas (instituto Ayrton Senna, Alfa &
Beto e Geempa).
Os rankings de escolas boas e ruins, não servem apenas para
“testagem padronizada de resultados de aprendizagem, mas também [para]
controle padronizado do desempenho da força de trabalho docente” (idem:
178). E nesse sentido, as medições operam transformações profundas na psique
dos Trabalhadores em Educação, que passam a exercer um “autocontrole
compulsório” e regulação das práticas educacionais. Palestrando em Rio Grande
(2008), a Secretária Mariza Abreu fez referência ao efeito do controle da produção
nos docentes: cada educador fiscalizaria o colega, cobrando mais empenho e
resultados positivos. Para Tadeu, o efeito dessa política tem “consistido mais em
diminuir a qualidade substantiva da educação do que em aumentá-la, na medida
em que a força de trabalho docente, que já tem seu trabalho intensificado, vê-
se obrigada a gastar um tempo imenso em atender a requisitos formais e em
preparar os(as) alunos(as) para testes padronizados” (idem: 185).
Por fim, somos convidados a participar de uma batalha social que
contrapõe dois projetos distintos de sociedade e de escola: de um lado, a escola
“tecnocrática, instrumental, pragmática, performativa, gerencial, que se espelha
nos objetivos e processos de trabalho da grande empresa capitalista”; do outro,
uma instituição de ensino “democrática, substantiva, fundamentada em uma
história de luta e de teoria e prática contra uma escola excludente, discriminadora
e produtora de divisões” (idem: 187). Em outras palavras, de um lado está o
Governo Yeda com propostas como SAERS, Pró-gestão e remuneração docente
por desempenho discente; do outro, o CPERS-Sindicato defendendo o acúmulo
histórico (teorias e experiências) do movimento educacional gaúcho, que sempre
garantiu a qualidade da escola, mesmo quando os governos pareciam boicotar
este importante serviço público.
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37. C
AlEXANDRE REiNAlDO PROTáSiO
C
CONSIdERAÇõES fINAIS
O Governo Yeda reflete a opção por um modelo socioeconômico que
quebrou financeiramente o Brasil e a economia de diversos países pelo Mundo
na década de 90 e princípio do século XXi. Suas medidas administrativas,
buscando o “déficit zero”, retiram bilhões dos serviços públicos e comprometem
a qualidade da educação, saúde e segurança garantidas pelo Estado. Essa política
tem sustentação nas elites econômicas e políticas gaúchas e estão previstas na
Agenda 2020 (2006) e no Consenso de Washington (1989).
Precisa-se encarar o Governo Yeda como herdeiro das políticas
neoliberais dos seus antecessores: Governo FhC, Britto e Rigotto. Não existe
novidade, “novo jeito de governar”, mas o aprofundamento de concepções de
Estado e de sociedade já experimentadas no Mundo, Brasil e RS. Caracterizamos
esse governo como a segunda onda neoliberal no RS, sendo que a primeira
privatizou empresas públicas e “preparou o terreno” para este estágio. Neste
processo de preparação podemos contabilizar: a inclusão da avaliação externa
na concepção de gestão democrática (que abre a possibilidade da elaboração de
rankings de escolas) e o voto universal para direções de escola (que estimulou o
paternalismo e relações de compadrio).
A Categoria pode resistir a esse processo? A história de lutas
(paralisações, greves, campanhas publicitárias, etc.), descrita com zelo neste
documento, comprova que nosso sindicato tem uma longa trajetória de
enfrentamentos com governos que tentaram retirar direitos dos Trabalhadores
em Educação. Resgatar a história do CPERS, desde a primeira greve em 1979,
objetiva, justamente, fortalecer nossa Entidade no processo de mobilização
contra as políticas neoliberais do Governo Yeda. Podemos e devemos, mais uma
vez, defender a Educação Pública dos gaúchos.
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bIblIOGRAfIA
B
B
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