O documento apresenta dois períodos históricos importantes: o Renascimento e o Barroco. No Renascimento, destaca Filippo Brunelleschi e sua criação da perspectiva na arquitetura, permitindo representar edifícios de forma realista. No Barroco, enfatiza o uso de luz, sombra e curvas para dar movimento na arquitetura e arte.
1. Montes Claros - Outubro de 2012 – Ano 01 Nº02
Renascimento e
Barroco
F RMA
2. O Corredor que te liga às tradições
norte mineiras.
Venha Conhecer o Corredor Cultural de Montes Claros - MG
3. Editorial Aieska Santana
Caros leitores, esta edição A perspectiva
da Forma apresenta dois
períodos históricos
importantes. O Renascimento
e o Barroco, contendo duas
matérias de cada tempo. Uma
referente a arquitetura e a
segunda sobre arte.
O Renascimento foi um João Feliciano
período do século XV ao XVI,
marcado pela valorização do
Movimento na
homem e surgimento da Arquitetura
perspectiva criada por
grandes artista que se
sentiam filhos dos Romanos, A Morte da Virgem
por isso o nome.
O Barroco foi o movimento,
ânsia de novidade, amor pelo
infinito e pelo não finito, pelos
contrastes e pela audaciosa Júlia Marques
mistura de todas as artes,
durante o século XVII e XVIII, Davi
houve a utilização de luz,
sombra e curvas para dar
movimento tanto na A Morte da Virgem
arquitetura quanto na arte.
Professora de
História da Arte e
Arquitetura III e
Orientadora da
Revista
Viviane Marques
Faculdades Integradas Pitágoras
3º período de Arquitetura e Urbanismo
Coordenadora Paula Alcântara
4. Índex
RENASCIMENTO
Davi
04
A perspectiva
13
BARROCO
A Morte da Virgem
20
Movimento na
Arquitetura
29
5. “Vou te esperar na
minha humilde
residência”
- Davi de Michel
Galleria dell’Accademia – Florença - Itália
6. Davi, Deus e
Por Júlia Marques
Michelangelo
Foto da cúpula da basílica de santa Maria del Fiore
O PERÍODO greco-romana.
No entanto, as
HISTÓRICO conquistas
No marco temporal artísticas culturais e
sociais inspiradas
demarcado entre os no pensamento de
séculos XV e XVI, recuperar a razão
definido pelos humana como
historiadores como propulsão de
Renascimento, as decisão ocorrem em
cidades do norte da meio a grandes
Itália – como convulsões. Até
Florença, Gênova, mesmo a Igreja
Pisa, Milão e Veneza impôs assuntos
– concentraram o celestiais entre os
epicentro do mundanos,
renascer de uma exercendo papel
cultura baseada na dirigente na nova
harmonia clássica ordem civilizatória.
04
7. É em meio a esse período individualidade e de seu
que Michelangelo
Buonarroti foi um filho papel no mundo,
exemplar de seu tempo. contribuiu com sua atitude
e seu talento para elevar o
Sua genialidade absorveu, artista da vulgaridade
não sem angústias, todas artesanal rumo à
as aspirações e valorização social acima
contradições do homem de mecenatos e servidão
daquele período.
Consciente de sua
Autorretrato de Michelangelo.
Michelangelo
05
8. mudou para Florença.
O ARTISTA Francesca morreu quando
ele tinha apenas seis
anos.
Talvez a dolorosa perda
tenha despertado em
Michelangelo a vontade de
dar forma à beleza de um
modo que o levaria, não
sem contradoções nem
angústias espirituais, a
produzir algumas das
Michelangelo, o segundo obras mais sublimes da
historia da arte.
de cinco filhos, nasceu em
Michelangelo exemplifica
Caprese, em seis de
mais plenamente que
março de 1475. Seu pai
qualquer outro artista o
era Ludovico di Leonardo
conceito de genialidade
di Buonarroti Simone, um
como inspiração divina,
podestade, e sua mãe
um poder sobre-humano
Francesca di Neri di
concedido a poucos e
Miniato del Sera.
raros indivíduos, e que
Pouco depois de seu atua através deles.
nascimento a família se
Florença – Cidade onde o artista nasceu.
06
9. Esse dualismo confere um
MICHELANGELO E A pathos extraordinário às suas
ESCULTURA figuras: calmas em seu
exterior parecem agitadas
Parte da obra ‘A Criação de Adão’ de Michelangelo, no teto da
por uma avassaladora
Buonarroti era, energia psíquica que não
Sistina. O que retrata bem a relação do artista com sua fé.
essencialmente, um escultor encontra um verdadeiro alívio
– mais especificamente um na ação física.
entalhador de estátuas de
mármore. A arte, para ele,
não era uma ciência, mas sim A ENCOMENDA
“a criação de homens”,
análogas à criação divina.
Somente a “liberação” de Michelangelo vinha de uma
corpos reais e tridimensionais estadia de muitos anos em
a partir da matéria Roma e ficara fortemente
insubmissa era capaz de impressionado com os corpos
satisfazer o impulsor musculosos e cheios de
existente em seu interior. emoção da escultura
A fé de Michelangelo na helenística. Sua escala
imagem do homem como heroica sua beleza e poder
veículo supremo de sobre-humanos e o volume
expressão deu-lhe um sentido proeminente de suas formas
de afinidade com a escultura tornaram-se parte do estilo
clássica que não seria de Michelangelo e, através
superado por nenhum outro dele, parte da arte do
artista do Renascimento. No Renascimento em geral.
entanto, como neoplatônico, Em 1501, de volta a Florença,
ele via o corpo humano como Michelangelo começou a
a prisão terrestre da alma – esculpir para a praça de
certamente nobre, mas Signoria seu célebre Davi, o
sempre uma prisão. Gigante como foi chamada a
escultura de mármore devido
a sua dimensão grandiosa,
com 434 cm.
07
10. TINHA UMA PEDRA disse: "Irei combater com
ele", tomou o cajado e
NO CAMINHO escolheu na torrente cinco
Para a realização de Davi, pedras bem lisas, metendo-
as numa sacola; depois com
Michelangelo recebeu uma a funda na mão, avançou
enorme bloco de mármore contra o filisteu.
que já havia sido golpeado
O gigante, vendo Davi tão
por outros escultores – um
pequeno, gritou-lhe: "Serei
deles foi Agostino di Ducio,
que, quarenta anos antes,
eu algum cão para vires
em 1463, recebera a
contra mim armado com um
incumbência de esculpir um
pau?”. Davi respondeu: "Tu
profeta para uma catedral,
vens contra mim com
mas não chegou a concluí-
espada, lança e escudo e
lo. Com essa pedra já
eu avanço em nome do
golpeada, Michelangelo
Senhor. Hoje o Senhor vai
aceitou o desafio de
entregar-te nas minhas
transformá-la numa das
mãos e toda a terra saberá
mais belas estátuas da
que há um Deus em Israel".
Então Davi tirou uma pedra
história da arte.
da sacola e arremessou-a
com a funda. A pedra foi
O DAVI DA INSPIRAÇÃO cravar-se na fronte do
filisteu e o gigante caiu por
Davi era um jovem que terra. Davi correu e,
vivia em Israel, e seu país tirando-lhe a espada,
encontrava-se em guerra cortou-lhe a cabeça de
contra os Filisteus, Golias.
comandado pelo gigante
Golias.
Dirigindo-se ao exército de
Israel, Golias
dizia: "Escolhei entre vós
um homem que ouse lutar
comigo. Se ele me matar,
seremos vossos escravos;
mas se eu o matar, sereis
nossos escravos". E
ninguém ousava lutar com
ele.
Então Davi apresentou-se e Parte da escultura de Davi.
08
11. A OBRA
O Davi que Michelangelo esculpe
entre 1501 e 1504 é uma figura ereta,
quase não ocupa espaço a perna
oblíqua diverge do eixo que cai a
prumo da cabeça ao pé e é o princípio
da sucessão de concisos ímpetos de
movimento: a busca flexão do pulso, o
súbito volver da cabeça, o braço
dobrado em direção ao ombro. O
movimento da figura não se expande
no espaço, encerra-se nos atos
contrapostos dos membros.
Michelangelo sabia da dificuldade de
esculpir uma pedra já golpeada, mas
era uma condição que o artista
aceitava prazerosamente porque lhe
permitia concentrar na imagem o
máximo de energia, ou melhor,
conceber a figura do herói no
momento da concentração da
vontade em vista da ação a cumprir
(com efeito, enquanto olha ao longe
com as sobrancelhas franzidas como
se fixasse a mira, solta a funda que
traz envolvida em torno do corpo). O
artista não representa a ação, mas o
seu móvel moral, a tensão interior
que precede o ímpeto do gesto.
O Davi de Michelangelo, com seu
semblante franzido e olhar
inocentemente descarado, encarna a
cólera justa do homem heroico,
imagem da qual os cidadãos de
Florença republicana, ameaçada por
todos os lados, tanto necessitavam.
Cabe lembrar que, para compor este
Davi viril, Michelangelo inspirou-se na
figura de Hércules, tal como parecem
sugerir os proeminentes músculos e
as veias visíveis da mão direita.
Mão direita de Davi Semblante de Davi
12. A escultura sendo admirada.
Através da aparente calma
Com essa escultura, o genial
emanada pela expressão de
artista italiano conquistou
Davi, percebe-se a tensão
respeito e a consagração
interior pela postura do torso
como um dos grandes mestres
ligeiramente inclinada e pela
de seu tempo. Cabe ressaltar
cabeça voltada para o lado,
que a qualidade de Davi
oferecendo o perfil ao
impressionou até mesmo o
espectador. O herói bíblico
contemporâneo Leonardo da
não mostra sinais do combate
Vinci, que ficou admirado com
vitorioso nem demonstra
a “retórica muscular” da
arrogância.
estátua de mármore.
Transmite, isto sim, uma força
viril, que nasce da juventude e
sustenta a beleza, o que a
torna incomparável.
10
13. GIGANTE DO POVO
Réplica de bronze da escultura de Davi feita a pedidos da população
Davi encontra-se
atualmente na Galleria
dell’Accademia, em
Florença, para onde a
escultura foi transferida a
fim de protegê-la das
intempéries.
A população exigiu que o
seu “gigante” ao menos
continuasse presente sob
forma de uma cópia. Para
atender a esse pedido,
encontra-se uma réplica
exposta na Praça de
Signoria.
11
14.
15. Renascimento e a
Perspectiva
A ARQUITETURA, MODO
DE REPRESENTAÇÃO
São os indivíduos que fazem a
história: era assim que se pensava
durante o Renascimento. A
arquitetura nasceu na Florença, da
década de 20 do século XV, por obra
e graça de um único, genial e
obstinado indivíduo: Filippo
Escultura de Filippo Brunelleschi
Brunelleschi. No entanto, embora a
criação tivesse um caráter pessoal, o
seu valor era coletivo.
A arquitetura possui como meio de
comunicação entre os arquitetos, o
desenho. Um grande número de
técnicas usadas atualmente para o
desenho de arquitetura remonta o
início do século XV. Os mestres do
Renascimento já usavam o trio planta,
corte, fachada e algumas técnicas de
perspectiva, além de se utilizarem
fundamentalmente da maquete.
Por Aieska Santana 13
16. A perspectiva. Falava-se
muito dela no século XV; e foi
ainda Filippo Brunelleschi
quem a demonstrou na prática
e lhe estabeleceu as regras de
aplicação. Em substância,
tratava-se de uma técnica que,
segundo regras científicas,
permitia fixar sobre as duas
dimensões de uma superfície o
aspecto da realidade
tridimensional. Ela permitia
“projectar” uma obra de arte,
mostrando com um desenho o
seu aspecto definitivo. Tecnica Renascentista de Perspectiva
OS INTERIORES: A PERSPECTIVA ESPACIAL
Os espaços interiores dos
por Brunelleschi, em Florença,
representa perfeitamente esse
edifícios também
aspecto da perspectiva em seu
correspondem aos novos
interior. Aparentemente, a
critérios da perspectiva.
Igreja adotou os esquemas
Assim, deixou de se construir
medievais: planta de cruz
uma sucessão de tramos, cada
latina, três naves, cúpula ao
um deles dotado de
centro. Mas nada separa um
autonomia, mas sim uma linha
tramo do outro; entretanto, as
de paredes articuladas
arquitraves contínuas por cima
segundo as regras das ordens
dos arcos evidenciam a
arquitetônicas nas quais as
confluência de todas as linhas
linhas horizontais – que são
horizontais para um único
dominantes – convergem para
ponto, o ponto de fuga.
um ponto único.
A Igreja do Santo Spírito, feita
14
18. Paralelamente, Albert
Alberti analisa o modo de estabelece a diferença entre o
representar a arquitetura, desenho do pintor e o
distinguindo-se em duas desenho do arquiteto: o pintor
maneiras: a pictoria (dotada se esforça em ressaltar e
de cores, luzes e sombras) e a volumetria dos objetos numa
“lineamenta” (dotada de linhas tela plana mediante o
e ângulos), que renunciava sombreamento dos objetos, a
aos efeitos pictorios, passo que o arquiteto, ao
marcados apenas por linhas evitar esses artifícios,
geométricas. É importante representa o relevo pó meio
observar no discurso de do desenho da planta e
Alberti que através dos elevação das fachadas,
modelos (maquetes), o servindo-se de ângulos reais e
arquiteto podia acrescentar, linhas invariáveis. Albert
diminuir e renovar cada distingue o arquiteto dos
elemento da obra, bem como mestres de oficio, advertindo
examinar e saber o modo e as ser a Arquitetura fruto da
despesas implícitas na sua “lineamenta” (“disegno”,
execução. As maquetes projeto) e “matéria”
seccionadas ao meio, (estrutura, materiais
permitiam a visualização da construtivos). Esse raciocínio
estrutura (larguras, alturas e matemático dignificou a
espessuras das paredes) Arquitetura ao contexto das
assim como amplitude e Artes Liberais, em oposição à
qualidade do conjunto, nele Artes Mecânicas, e distinguiu
explicitando-se os ornamentos definitivamente o arquiteto
destinados a adornar o dos tradicionais mestres de
edifício e suas respectivas oficio de raiz medieval,
quantidades, números questão central do
requeridos de colunas, Renascimento,
capitéis, bases, cornijas, magistralmente encabeçada
pisos, estátuas. Isto por Albert.
demonstra a grande
importância que se teve e
continua se tendo essa forma
de representação volumétrica
da arquitetura e a visualização
de um futuro edifício.
Visualização pelo aparelho renascentista
16
19. CARTA DE RAFAEL PERSPECTIVA
Seria a formação do núcleo
Pouco mais de trinta anos central da representação do
depois do Tratado de Albert, desenho de arquitetura.
Rafael deu mais uma definição
A arquitetura, desde o
do que deveria ser desenho
Renascimento, vive através
de arquitetura: em sua
dos seus desenhos e estes
conhecida carta ao papa Leão
são uma obra independente
X, em 1519: o desenho de
da construção. As evoluções
edifícios pertinente ao
sobre as técnicas de
arquiteto se divide em três
representação foram
partes. Primeiro o desenho
incorporando diferentes
plano (planta), segundo a
transformações, na busca
parede de fora com seus
pela visualização ideal da
ornamentos (fachada) e
futura obra.
terceiro a parede de dentro,
também com seus
ornamentos (corte).
17
20.
21. Inspirada nas ideias do maior arquiteto
brasileiro. Produtos licenciados pela
Fundação Oscar Niemeyer em edição
limitada.
22. A Morte de Nossa Senhora
Interpretada por Caravaggio
Por João Feliciano e Júlia Marques
O PERÍODO HISTÓRICO política ou intelectual. Naturalmente as
conexões entre todos esses aspectos
Barroco é o termo que já vem sendo existiam, mas ainda não chegamos a
compreendê-las plenamente.
utilizado a quase um século pelos
historiadores da arte, para designar o Até que o façamos vamos considerar o
estilo do período que vai de 1600 a estilo Barroco como uma entre outras
1750. Seu significado original – características básicas, ou seja, um
“irregular, contorcido, grotesco” – está catolicismo recém-fortalecido, o Estado
hoje, em grande parte, esquecido. Há absolutista e o novo papel da ciência
também um consenso geral quanto ao que distinguem o período 1600-1750
fato do novo estilo ter-se originado em de tudo que houvera anteriormente.
Roma, por volta de 1600. O que
continua sendo uma questão
contraditória é o impulso que o teria
originado.
Os príncipes da Igreja que apoiaram o
desenvolvimento da arte barroca eram
mais conhecidos por seu fausto
mundano do que por seu espírito
piedoso.
A arte barroca não foi simplesmente o
resultado de uma evolução religiosa,
cúpula de karlskirche, Vienna
20
23. Autorretrato de Caravaggio
CARAVAGGIO, FAÍSCA BARROCA
A princípio, os artistas disponíveis
Ao reunir artistas de várias
eram maneiristas tardios e
procedências e encarregá-los de medíocres, mas a campanha logo
tarefas desafiadoras, Roma acabou atraiu mestres jovens e ambiciosos.
se tornando o local de origem do Foram eles que criaram o novo
Barroco, exatamente como estilo. O mais notável dentre eles era
acontecera com o Alto Renascimento um pintor de gênio, chamado
um século antes. O papado voltou a Caravaggio, devido à sua cidade
patrocinar a produção de obras de natal próximo a Milão, que pintou
arte em grande escala, com o várias telas monumentais para a
objetivo de transformar Roma na Igreja de San Luigi dei Francesi.
mais bela cidade de todo o mundo
cristão.
21
24. O PINTOR DE GÊNIO
Em 1571, no povoado chamado
Caravaggio, próximo de Milão, nascia
Michelangelo Merisi. Foi um homem
violento em uma época violenta.
Caravaggio teve a valentia de pintar e
transformou-se em um dos maiores
pintores de seu tempo, inscrevendo seu
nome na história da arte.
Foi no contexto do Barroco que
Michelangelo Merisi mostrou-se ao mundo
em sua curta e tumultuada vida. Como
Caravaggio presenteou a história da arte
universal com uma obra tão influente
quanto incompreendida em seu tempo;
uma obra sustentada na verdade tal como
ele a via e tão radical e estrema que seus
contemporâneos não puderam ignorá-la.
Autorretrato do artista
Os pais de Caravaggio foram Fermo Merisi e
Lucia Aratori. Seu pai era arquiteto-decorador de
Francesco Sforza, duque de Milão, e Marquês de
Caravaggio.
Aos vinte anos aproximadamente estabeleceu-se
em Roma. Ali permaneceu até 1606, quando,
tendo matado um jovem em uma rixa de jogo,
fugiu para Nápoles, para Malta, para a Sicília e
depois de novo para Nápoles. O artista morreu
enquanto voltava a Roma, perdoado pelo papa.
22
25. AS CARACTERÍSTICAS
responsabilidades. Isso significa:
DE SUAS OBRAS excluir a busca do “belo”, visar o
verdadeiro; renunciar à invenção,
A pintura de Michelangelo Merisi, o restringir-se aos fatos; não pôr em
Caravaggio (1571-1610), foi prática um ideal dado, mas procurar
considerada pelos críticos do ansiosamente uma saída ideal na
Seiscentos antitética à pintura de práxis comprometida da pintura;
Annibale, outro artista de sua época contrapor o valor moral dessa práxis
(1560-1609): este volta-se para o ao valor intelectual das teorias.
ideal, Caravaggio, para o real. Trata-
se de uma esquematização, que não
corresponde àquela que foi, de fato,
a posição dos dois artistas. É,
contudo importante que, mesmo
esquematizando, a crítica da época
tenha reconhecido: primeiro, que
Annibale e Caravaggio eram os dois
grandes protagonistas da pintura do
século; segundo, que ambos se
opunham nitidamente à cultura
humanística romana; terceiro, que o
idealismo de um e o realismo de
outro eram duas tendências
divergentes, mas em relação
dialética e quase de recíproca
integração ou complementaridade.
Os dois polos, enfim, do mesmo
problema.
A sua vida foi desesperada e
violenta; mas uma extrema tensão
moral e religiosa confere à sua
pintura uma carga revolucionária.
O seu realismo nasce da ética Detalhe da obra ‘A morte da virgem’.
religiosa instaurada por Carlo Caravaggio estava convencido de
Borromeo na sua diocese lombarda: que deveria pintar a natureza tal
não consiste em observar e copiar a como a via independentemente da
natureza, mas em aceitar a dura impressão causada ao expectador.
realidade dos fatos, em desdenhar Sob essa perspectiva, o artista
as convenções, em dizer toda a sentiu um impulso de liberdade que
verdade em assumir as máximas o levava a pintar o que desejasse.
23
26. MODELOS MUNDANOS Os seus quadros contem um “cristianismo
laico” isento de dogmas teológicos, que
atrai tanto os protestantes como os
A obra de Caravaggio dá uma forma católicos.
discreta e comovedora a uma atitude Suas vivências como artista de rua
compartilhada por certos grandes santos contribuíram para a criação dos rostos
da contrarreforma: a de que os mistérios maliciosos, ardilosos e descarados de seus
da Fé são revelados não por especulação personagens. Como demonstraram
intelectual, mas espontaneamente, por análises radiográficas feitas em suas
uma experiência interior, aberta a todos os obras.
homens.
Imagens de parte filme “Caravaggio” onde
representa como o artista pintou a obra.
24
27. Cena do filme semelhante ao quadro.
não passaram pelo crivo
O pintor considerava que
eclesiástico, o que o obrigou a
introduzir uma ideia pré-concebida realizar muitas novas versões com
no quadro falsificava sua as devidas correções. Suas
veracidade. Essa ideia imagens de Cristo, da Virgem e
revolucionária causou escândalo dos santos representados como
entre os academicistas e na Igreja. seres próximos do plano terreno
Caravaggio não se limitava a provocaram o assombro da Igreja.
mostrar em suas telas o sofrimento Pudera: para produzir as imagens,
idealizado dos mártires cristãos. o artista utilizava modelos
Expunha com toda a crueza a inspirados na rua e, em especial,
brutalidade e a proximidade da dor. em bairros indecorosos da cidade,
O artista violentou cujos gestos e olhares refletiam
sistematicamente o princípio de sem recato o desespero da luta
decoro na pintura proclamado cotidiana pela sobrevivência em
pelos ideológicos da um ambiente dominado pela
Contrarreforma. Para estes, os miséria. Desse modo, os quadros
personagens divinos deveriam ser encomendados pelos ricos
retratados com os atributos burgueses para as igrejas
sagrados e não com elementos costumavam ser recusados pelos
que os vulgarizassem aos olhos do religiosos e, em seguida, eram
expectador. comprados por amantes da arte.
Apesar da boa vontade de seu
protetor, o cardial Del Monte,
diversos quadros de Caravaggio
25
28. A OBRA POLÊMICA
Parte da obra de Caravaggio.
A morte da Virgem é o maior quadro de apontou o historiador da arte Roberto
altar realizado por Caravaggio e um dos
Longhi.
mais escandalosos. Foi encomendado
por Laerzio Cheribuni para a Igreja de Na humilde habitação ornamentada por
Santa Maria della Scala. Os carmelitas, uma cortina vermelha, os onze
porém, não aceitaram o quadro por discípulos e Maria Madalena estão
considerá-lo ofensivo. Os motivos para a dispostos em volta da Virgem que acaba
recusa foram variados: Maria fora de morrer e cujo corpo ainda não foi
representada como uma cortesã; seus preparado para o túmulo. Cada um dos
pés apareciam descalços; e seu ventre presentes, como em A deposição no
inchado originou o rumor de que se túmulo, está envolto nos próprios
tratava do cadáver de uma mulher pensamentos.
afogada. Ao mesmo tempo, vincula-se aos
Caravaggio deveria se ater a tratar da demais pelo sentimento comum de dor
“morte ou trânsito” da Virgem. Porém, o diante da perda definitiva, uma variada e
artista dessacralizou mais uma vez o complexa gama de expressões revela a
episódio e procurou refletir a morte com intensa dor e silenciosa contemplação
a angustiante experiência de quem do corpo inerte que põe o homem
perde um ente querido. No quadro não defronte do mistério da morte.
há presença divina; apenas a dor O excesso de crueza, desconsolo e
humana está presente no pobre verdade da cena horrorizou a quem era
ambiente. Caravaggio procurou mostrar permitida a passagem para outra vida.
o pranto pela “morte de uma mulher do
povo, bem conhecida do bairro”, como 26
29. Obra ‘A morte da virgem’ de Caravaggio.
olhos do espectador até o rosto da jovem
Caravaggio estabeleceu um extraordinário Virgem morta. Para esse ponto convergem
movimento visual que conduz o expectador as linhas compositivas do quadro,
ao interior do quadro. Duas linhas em reforçadas pelo tecido de forte vermelho
diagonal, pontuadas pelos focos de luz, que caí do teto da estadia.
evocam uma cruz, como o artista fez em A
Acertou o historiador Ernst Gombrich
crucificação de São Pedro.
quando observou que a luz cegante de
Com poderosa plasticidade a luz derrama- Caravaggio “ressalta com sólida dignidade
se a partir do ângulo superior esquerdo e o que poucos de seus contemporâneos
abre caminho entre as sombras. Ilumina, eram capazes de apreciar”.
em especial, o corpo da Virgem, tornando
brilhante seu vestido vermelho e
conferindo-lhe um ilusório impulso de vida.
A luz também alcança Madalena e guia os
27
30.
31. Movimento na Arquitetura
Barroco e Atualidade
Palácio Carignano – Guarin Guarini Galaxy Soho – Zaha Hadid
estavam presentes determinadas
A arquitetura barroca, apesar de
características: a procura do
possuir características variantes de movimento, quer real (por uma
região, possui a mesma designação ondulada, uma fonte, de onde a água
por um núcleo comum. jorra em forma sempre nova), quer
Esse núcleo comum foi, nos sugerido (um personagem retratado
primeiros tempos, identificado como durante uma ação violenta ou sob um
o arbítrio, a falta de lógica, o exagero. esforço); a tentativa de representar ou
Foi mesmo por isto que a arte do de sugerir, o infinito (uma alameda
século XVII se chamou barroca. que se perde no horizonte, um fresco
Por João Feliciano
Tornando, esse termo em quase que simula a abóboda celeste, um
todas as línguas europeias, um jogo de espelhos que altera e torna
sinônimo de extravagante, anormal, irreconhecíveis as perspectivas); a
irregular. importância dada às luzes e aos
Foi na segunda metade do século efeitos luminosos na percepção final
passado que o termo barroco e na própria concepção da obra de
recebeu um significado mais objetivo. arte; o gosto pelo teatral, pelo
O crítico suíço Heinrich Wölfflin e cenográfico, pelo faustoso; a
seus seguidores referiram-se sempre à tendência para não respeitar os
arte do século XVII e dos princípios limites das disciplinas, isto é, para
do século XVIII, definiram como misturar a arquitetura, a escultura e a
barroca aquelas obras em que pintura.
29
32. OS ELEMENTOS QUE PROPORCIONAM
MOVIMENTO
O movimento na arquitetura extremidades, serviam para
articular, para unir
barroca tornou-se presente
harmoniosamente, dois pontos
principalmente pelas curvas. Por
situados a alturas diferentes.
seu turno, uma vez descoberto,
Estas volutas eram apostas
o motivo da ondulação não
principalmente sobre fachadas
ficou limitado às paredes. A
das igrejas e foram usadas com
ideia de das movimento a um
tanta frequência que eram
elemento seguindo curvas mais
praticamente uma regra,
ou menos regulares tornou-se
constituindo hoje o meio mais
num tema dominante de toda a
simples e acessível para
arte barroca. Existiam
reconhecer uma fachada
ondulações nos interiores, nas
barroca.
fachadas e até mesmo colunas
onduladas. A função do orelhão, apesar de
sua forma bizarra, não é
O gosto pela curva permanece,
meramente decorativa: é,
mesmo quando não se chega
sobretudo, dinâmica,
aos extremos como os referidos.
construtiva.
No entanto, as volutas e
orelhões, elementos em forma
de fita encurvada e enrolada nas
Orelhão – Palácio Carignano
Volutas – Igreja de Santa
Maria da Saúde - Veneza
30
33. O MOVIMENTO NA
ARQUITETURA ATUAL
Após seu surgimento na era
barroca, o movimento nas
construções tornou-se presente
em vários estilos
arquitetônicos. Servindo até
como referência de estilos de
determinados arquitetos.
Atualmente, o profissional de
arquitetura que possui o
movimento como algo
essencial em seus projetos é a
arquiteta Israelense Zaha
Hadid.
Nascida em Bagdá,
no ano de 1950, Zaha Hadid
formou-se em arquitetura na
cidade de Londres, na
Architetural Association em
1977.
34. IDEIAS E TRABALHO
Numa primeira fase, edifício, mas como o tempo do
percurso de um visitante que
prevalecem a fragmentação e o
procede à descoberta gradual
reagrupamento dinâmico dos
dos espaços, dos quais não é
fragmentos no projeto, onde
possível ter uma visão de
campos de fluxo e de forças de
conjunto. Emerge o convite a se
diferentes intensidades geram
fazer percorrer, com uma
uma expressão arquitetônica
sensação de surpresa similar
marcada por movimento e
àquela que se tem em um
fluidez. Na experiência espacial
contexto natural, posto que cada
é interessante observar a relação
passo revela vistas inesperadas e
com o tempo, compreendido
distintas.
não como a duração de um
32
Conjunto Residencial Spittelau
35. Interior do Hotel Puerta America – Quarto Total White
A própria Hadid declara que uma dimensão tridimensional
inédita, relacionada não mais ao
procura propiciar espaços
movimento das linhas, mas ao
públicos capazes de levar prazer
das massas. São massas
e acrescentar alguma coisa a
produzidas com uma
nossa vida. Isso sugere uma
gestualidade que articula o solo,
constante reinvenção das formas
fende-o, releva-o e deforma-o
do espaço de vida, colocando
para produzir formas plásticas,
em discussão a percepção que
espacialidades curvas e
temos delas e o modo como as
superfícies flexíveis. Figuras
habitamos. Conduz a um
côncavas e convexas que
produto urbano em grande
dialogam entre si e parecem se
medida mais permeável, que
originar da observação de
não tem mais nada a ver com a
fenômenos naturais, como o
cidade do espaço privado contra
derretimento das geleiras ou o
o espaço público.
movimento da lava de um
A paisagem está sempre e cada vulcão.
vez mais no centro de um novo
interesse projetual, que explora
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37. BIBLIOGRAFIA
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ao Futurismo. tradução KATINSZKY, Wilma de. Vol. 3. São Paulo:
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