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Fenómenos de evolução fonética
   Adição:
        Prótese – no início da palavra (i aí)
        Epêntese – no meio da palavra (meo  meio)
        Paragoge – no fim da palavra (ante  antes)
   Queda:
        Aférese – no início da palavra (avantagem  vantagem)
        Síncope – no meio da palavra (vinrá  virá)
        Apócope – no fim da palavra (faze  faz)
   Permuta:
        Metátese – mudança de um fonema dentro da palavra (semper  sempre;
         tromento  tormento)
        Assimilação – um fonema torna outro semelhante ou igual a si (nostru  nosso;
         fantesia  fantasia)
        Dissimilação – dois fonemas iguais tornam-se diferentes (liliu  lírio)
        Vocalização – transformação de consoante em vogal (actu  auto; octo 
         oito)
        Sonorização – uma consoante surda torna-se sonora (napu  nabo; lupum 
         lobo; totum  todo; lacum  lago)
        Nasalação – som oral torna-se nasal (manu  mão; mi  mim)
        Desnasalação – som nasal torna-se oral (luna  lua)
        Palatalização – grupo consonântico passa a palatal (clave  chave; cl, pl, fl
          ch; cl, gl  lh; ni  nh; li  lh)
        Contracção
             o Crase – aglutinação de duas vogais em uma (tenere  teer  ter)
             o Sinérese – aglutinação de duas vogais num ditongo (rege  ree  rei)


                    Fenómenos de evolução fonética
   Salarium (pagamento ao soldado para comprar a sua ração de sal)  Salário (o
    soldo, honorário, ordenado)
   Solitarium (solitário, sozinho, isolado)  Solteiro (pessoa que ainda não casou)
   Ventura (as coisas que hão-de vir)  Ventura (desejo que o que virá seja propício)
   Parvus (pequeno, criança)  Parvo (demasiado infantil, não se comporta
    adequadamente)
Compreensão da Cena do Frade (Auto da Barca do Inferno)
 Tipos de cómico:
      de situação: “Tai-rai-rai-ra-rão, ta-ri-ri-rão,/ta-rai-rai-rai-rão, tai-ri-ri-rão,/tão-tão;
        ta-rim-rim-rão Huha!/Que é isso, padre? Que vai lá?/Deo gratias! Som
        cortesão./Sabês também o tordião?/Porque não? Como ora sei!” (vv. 384-390)
      de carácter: “Juro a Deos que nom t’entendo!/E est’hábito no me val?/Gentil
        padre mundanal,/a Berzebu vos encomendo!” (vv. 405-408)
      de linguagem: “Furtaste o trinchão, frade?” (v. 482)

 Figuras de estilo:
      Ironia – dizer o contrário do que se pensa – “Que cousa tão preciosa!” (v. 400)
      Antítese – apresentação de ideias contraditórias – “Devoto padre marido” (v.
        431)
      Eufemismo – expressar de uma forma mais suave uma ideia mais desagradável
        – “Pera aquele fogo ardente” (v. 403)
      Comparação – “Aqui estou tão bem guardado/como a palha n’albarda.” (vv.
        455-456) – com esta comparação, destaca-se o facto de o frade, naquele
        momento, assim “guardado”, se sentir totalmente protegido, escondido (tal
        como a palha na albarda), acentuando assim, o seu medo e a sua cobardia.

 Elementos cénicos: moça (a Florença, que também embarca, uma vez que também
  pecou de forma consciente – ao contrário do Pajem da cena do Fidalgo, que não
  cometeu qualquer pecado, dado que era vítima da tirania do seu senhor), broquel
  (peq. escudo), espada, casco (capacete), simbolizam a vida cortesã e de luxúria,
  pouco adequada a um membro de Clero.

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  • 1. Fenómenos de evolução fonética  Adição:  Prótese – no início da palavra (i aí)  Epêntese – no meio da palavra (meo  meio)  Paragoge – no fim da palavra (ante  antes)  Queda:  Aférese – no início da palavra (avantagem  vantagem)  Síncope – no meio da palavra (vinrá  virá)  Apócope – no fim da palavra (faze  faz)  Permuta:  Metátese – mudança de um fonema dentro da palavra (semper  sempre; tromento  tormento)  Assimilação – um fonema torna outro semelhante ou igual a si (nostru  nosso; fantesia  fantasia)  Dissimilação – dois fonemas iguais tornam-se diferentes (liliu  lírio)  Vocalização – transformação de consoante em vogal (actu  auto; octo  oito)  Sonorização – uma consoante surda torna-se sonora (napu  nabo; lupum  lobo; totum  todo; lacum  lago)  Nasalação – som oral torna-se nasal (manu  mão; mi  mim)  Desnasalação – som nasal torna-se oral (luna  lua)  Palatalização – grupo consonântico passa a palatal (clave  chave; cl, pl, fl  ch; cl, gl  lh; ni  nh; li  lh)  Contracção o Crase – aglutinação de duas vogais em uma (tenere  teer  ter) o Sinérese – aglutinação de duas vogais num ditongo (rege  ree  rei) Fenómenos de evolução fonética  Salarium (pagamento ao soldado para comprar a sua ração de sal)  Salário (o soldo, honorário, ordenado)  Solitarium (solitário, sozinho, isolado)  Solteiro (pessoa que ainda não casou)  Ventura (as coisas que hão-de vir)  Ventura (desejo que o que virá seja propício)  Parvus (pequeno, criança)  Parvo (demasiado infantil, não se comporta adequadamente)
  • 2. Compreensão da Cena do Frade (Auto da Barca do Inferno)  Tipos de cómico:  de situação: “Tai-rai-rai-ra-rão, ta-ri-ri-rão,/ta-rai-rai-rai-rão, tai-ri-ri-rão,/tão-tão; ta-rim-rim-rão Huha!/Que é isso, padre? Que vai lá?/Deo gratias! Som cortesão./Sabês também o tordião?/Porque não? Como ora sei!” (vv. 384-390)  de carácter: “Juro a Deos que nom t’entendo!/E est’hábito no me val?/Gentil padre mundanal,/a Berzebu vos encomendo!” (vv. 405-408)  de linguagem: “Furtaste o trinchão, frade?” (v. 482)  Figuras de estilo:  Ironia – dizer o contrário do que se pensa – “Que cousa tão preciosa!” (v. 400)  Antítese – apresentação de ideias contraditórias – “Devoto padre marido” (v. 431)  Eufemismo – expressar de uma forma mais suave uma ideia mais desagradável – “Pera aquele fogo ardente” (v. 403)  Comparação – “Aqui estou tão bem guardado/como a palha n’albarda.” (vv. 455-456) – com esta comparação, destaca-se o facto de o frade, naquele momento, assim “guardado”, se sentir totalmente protegido, escondido (tal como a palha na albarda), acentuando assim, o seu medo e a sua cobardia.  Elementos cénicos: moça (a Florença, que também embarca, uma vez que também pecou de forma consciente – ao contrário do Pajem da cena do Fidalgo, que não cometeu qualquer pecado, dado que era vítima da tirania do seu senhor), broquel (peq. escudo), espada, casco (capacete), simbolizam a vida cortesã e de luxúria, pouco adequada a um membro de Clero.