1. Varicela - que pintinhas tão
chatinhas!
A varicela é uma doença infecciosa, altamente contagiosa, causada por um vírus, o
Vírus Varicela Zóster (VZV), pertencente à família Herpes vírus.
É uma doença da infância, atingindo preferencialmente crianças entre os 2 e os 10
anos, podendo, contudo, surgir em pessoas susceptíveis (não imunes) de qualquer idade.
Ocorre predominantemente no fim do inverno ou início da primavera, sendo frequente o
aparecimento de surtos.
A transmissão pode fazer-se de duas formas: por contacto directo com as lesões cutâneas ou
indirectamente, através do ar contaminado com secreções respiratórias (espirros, tosse,
gotículas de saliva) de indivíduos infectados. O risco de transmissão começa cerca de dois dias
antes do aparecimento das lesões cutâneas e só termina quando todas as lesões se encontram
em fase de crosta. Assim, se o seu filho contrair varicela, só deverá permitir que volte ao
infantário quando todas as lesões estiverem "secas". O risco é mais elevado em situações de
contacto íntimo ou de permanência em ambientes fechados (creches, salas de aula, salas de
espera de consultórios, enfermarias...). Se ocorrer um contacto intrafamiliar a probabilidade
de vir a desenvolver a doença é muito grande (cerca de 80% a 90%), pelo que o aparecimento
de um caso numa família implica, em geral, o contágio de todos os membros não imunes.
O período de incubação, isto é, o tempo entre o contacto com a pessoa infectada e o
aparecimento da doença, pode ir de 10 a 21 dias.
Embora em alguns indivíduos a doença possa manifestar-se de forma muito discreta,
passando por vezes mesmo despercebida, não deixa de ser igualmente transmissível. Além
disso, como o período de contágio começa antes do aparecimento das lesões, a transmissão
pode ocorrer através de uma pessoa aparentemente saudável que só posteriormente
desenvolveu a doença.
Por vezes, os pais têm tendência a afastar os seus filhos do contacto com outras
crianças com varicela. A verdade é que, tratando-se de crianças saudáveis, o melhor será
mesmo permitir o contágio. Regra geral, é sempre preferível que tenham a doença ainda na
infância. Assim ficarão protegidos, não correndo o risco de contrair a doença na adolescência
ou idade adulta, altura em que as complicações são mais frequentes e, habitualmente, mais
grave. Atenção, no entanto, se o seu filho apresentar o sistema imune comprometido ou
defesas diminuídas (SIDA, neoplasia), se estiver a fazer tratamento prolongado com
corticosteróides ou se tiver menos de 3 meses, nestes casos deve evitar todo e qualquer
contacto.
2. Sintomas:
A febre baixa é frequentemente o primeiro sintoma de varicela, podendo associar-se a
dor de cabeça, dor de garganta, dor de barriga, cansaço e diminuição do apetite. Cerca de dois
dias depois aparecem pequenas manchas vermelhas, normalmente na face, tronco e couro
cabeludo, que podem espalhar-se para o resto do corpo. Provocam muita comichão e
transformam-se rapidamente (em poucas horas) em "bolhinhas" cheias de líquido. Estas
bolhas vão-se rompendo e secando, formando crostas em alguns dias (1-3 dias). À medida que
se vão formando crostas, novas manchinhas aparecem, de modo que, numa mesma área de
pele, podem encontrar-se manchas, bolhas e crostas. Habitualmente só deixam de aparecer
novas lesões ao fim de 5 dias.
Tratamento:
Regra geral, o tratamento da varicela é sintomático, de modo a minimizar os sintomas
e desconforto delas decorrentes.
Um banho de água morna, com óleo emoliente, pode proporcionar algum alívio, mas tenha
sempre o cuidado de secar sem esfregar. Não aplique pomadas nem talco. As lesões infectadas
devem ser desinfectadas.
Tenha também cuidado com a exposição solar. As áreas de pele atingidas são mais susceptíveis
a queimaduras solares, além de que o sol pode realçar lesões residuais.
E também essencial cortar as unhas. Não se esqueça que as lesões "agredidas" têm maior
probabilidade de infectar e, consequentemente, deixar cicatrizes.
O paracetamol pode ser utilizado quer para baixar a febre, quer para aliviar o desconforto,
especialmente nos primeiros dias. Mas, cuidado: nunca deve dar ácido acetilsalicílico ou
derivados (como Aspirina®, Aspegic®) a crianças com varicela. A sua utilização pode conduzir
ao desenvolvimento de uma reacção grave - a síndrome de Reye.
Complicações:
A varicela é uma doença tipicamente benigna, autolimitada, que, na maioria das vezes,
evolui sem complicações. No entanto, estas podem surgir:
- Ainfecção bacteriana secundária das lesões cutâneas é a complicação mais frequente,
podendo implicar a utilização de antibióticos;
- Também a disseminação do vírus para o pulmão, embora pouco frequente, pode ocorrer,
levando ao desenvolvimento de pneumonia, com febre, tosse e dificuldade respiratória. O
risco é maior quando a doença é exuberante e em crianças com patologia pulmonar
subjacente.
Vacina:
A vacina da varicela é uma vacina de vírus vivo atenuado.
Em crianças com idade compreendida entre os 12 meses e os 12 anos está indicada
uma dose única. A partir dos 13 anos devem efectuar-se duas doses com intervalo
de 4-8 semanas. Pode ser administrada juntamente com outras vacinas, embora
em locais diferentes.
Não existem vacinas 100% eficazes, mas alguns estudos chegam a apontar uma
taxa de eficácia na ordem dos 80% a 90% para a vacina da varicela, isto é, em 10
crianças vacinadas, 8 ou 9 estarão completamente protegidas de doença grave. De
acordo com estudos efectuados em países onde a vacina já foi introduzida há
alguns anos, essa protecção parece durar mais de 15 anos.