SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 25
Descargar para leer sin conexión
Mestrado em Ensino de Música
Sociologia da Educação e Profissão Docente I
A Orquestra como Fator de Inclusão Social
Trabalho realizado por:
Carla Marques (PG 23435)
Sara Vilaça (PG 23433)
Vânia Fontão (PG 23439)
Docente: Prof. Dr.º Manuel António Silva
fevereiro 2013
3
Índice
Introdução 3
O Conceito de Inclusão Social e os seus Princípios 5
Inclusão Social através da Música 7
Multiculturalismo 9
Exemplos Concretos
El Sistema (Venezuela) e a Orquestra Geração (Portugal)
11
Conclusão 16
Referências Bibliográficas 17
Anexos i
4
Introdução
Segundo a Lei de Bases do Sistema Educativo, a educação deve ser para todos.
“Respeitar a dignidade pessoal e as diferenças culturais dos alunos valorizando os
diferentes saberes e culturas, prevenindo processos de exclusão e discriminação” (alínea
a, art. 10º Decreto-Lei º 15/2007 como citado em Pacheco, 2008, p. 46) são os
pressupostos da referida lei.
Mas qual a melhor forma de concretizar este pressuposto da constituição
Portuguesa que é também desejado a nível internacional?
No nosso entender será através das artes. As artes segundo Abeles, Hoffer e
Klotman (1995) proporcionam ao ser humano algo mais do que a sobrevivência e, é
aliás, este aspeto que o diferencia do ser irracional. A sua capacidade de pensar e
comunicar levou-o à sua evolução e ao progresso da humanidade. Contudo, muito ainda
há a fazer com o objectivo de alcançar a igualdade de direitos e oportunidades prevista
em documentos como a Declaração dos Direitos Humanos.
Segundo Reimer, (1970, p. 2) “sociólogos e antropólogos olham para as artes
pelas percepções que elas transmitem através de fenómenos sociais como a formação de
atitude, diferenças socioeconómicas na utilização das artes, crenças culturais implícitas
em cerimónias com recurso às artes, entre outros casos”. Assim é nosso propósito
evidenciar de que forma é que música, uma arte, é um caminho para a inclusão social e
encerra em si a possibilidade de encontros multiculturais.
No primeiro capítulo iremos contextualizar o conceito de Inclusão Social através
de autores como Pacheco (2000), Rodrigues (2003), Sassaki (1997), Stainback (1999) e
Santos (2007). Estando o meio escolar associado ao conceito de multiculturalismo
abordaremos, o mesmo, quanto à sua origem e implicações para o ensino. A pertinência
desta abordagem incide no facto de não raras vezes a música ser um encontro
multicultural.
Com efeito, no terceiro capítulo, é apresentada a Orquestra Simón Bolívar e o
Sistema de Orquestras Venezuelano como exemplo prático desta teoria. Abordaremos,
também, a implementação deste projecto em Portugal através da Orquestra Geração. Em
relação a esta última, tentaremos reforçar a sua componente multicultural. Como
suporte teórico deste capítulo recorremos a um documentário de Alberto Arvelo (2006),
“Tocar y Luchar”, para o primeiro caso, e uma entrevista via correio electrónico ao
5
Professor Pedro Muñoz, Cordenador Artístico e Pedagógico da Orquestra Geração, para
o segundo exemplo prático.
6
O conceito de Inclusão social e os seus princípios
A inclusão social é um tema que tem ganho destaque na sociedade,
especialmente a partir da década de oitenta do século XX, quando a ONU organizou o
ano internacional da pessoa com deficiência. e tem sido aplicado com muita profusão no
campo das políticas sociais. Segundo Sassaki (1997), o movimento de inclusão social
teve início na segunda metade dos anos oitenta nos países mais desenvolvidos, e, na
década de noventa, nos países em desenvolvimento também direccionado a pessoas sem
acesso a programas sociais, culturais ou qualquer outro programa inclusivo. O termo
“incluir” significa semanticamente estar incluído ou abrangido, fazer parte, valorizando
a pessoa. Definir a essência da inclusão social é um assunto complexo, sendo uma
matéria bastante discutida em múltiplos ramos da sociologia. Há, no entanto, uma
unanimidade entre os sociólogos que entendem que não é possível considerar alguém
incluído na sociedade se lhe forem negados direitos mínimos, integrantes da própria
cidadania: não apenas os civis e políticos, mas sobretudo, os sociais. De acordo com
Pacheco (2000, p.111), “a cidadania tem vindo a tornar-se numa área adiada que revela
a existência de uma preocupação que sempre se tem relacionado com a dimensão moral
da educação”. É importante mencionar no âmbito da cidadania que esta não se restringe
apenas a questões políticas e civis, como é tradicionalmente entendida. A cidadania
plena engloba a ideia de que o indivíduo, entre outros direitos, tem acesso à saúde, à
educação e ao trabalho decente. Neste contexto está patente a cidadania social.
É possível encontrar uma alusão ao sentido de inclusão social na Declaração
Universal dos Direitos Humanos, proclamada a 10 de dezembro de 1948, onde
encontramos, no seu primeiro artigo, a exaltação da igualdade de dignidade e direitos
entre todas as pessoas.
“Toda a pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades
estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie,
seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra
natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer
outra condição” (ONU, 1948).
Há vários conceitos e inúmeros estudos sobre o tema, havendo entre eles uma
linha que os une: a inclusão social revela um processo de conquista dos direitos por
parte de diversos problemas sociais marginalizantes como pessoas portadoras de
necessidades especiais, trabalho infantil, exploração e discriminação devido à raça,
sexo, orientação sexual, etnia, prostituição e ainda questões relacionadas com a pobreza.
De acordo com o Decreto-Lei nº 125/2011, tem, ente outras atribuições específicas
7
“Promover a coordenação das políticas de educação, ciência, qualificação e formação
profissional com as políticas relativas à promoção e difusão da língua portuguesa e
apoio à família, à inclusão social e ao emprego” (D. L nº 125/ 2011, de 29 de dezembro
alínea c). Este ponto manifesta a necessidade da promoção da inclusão.
A inclusão e os conceitos que lhe estão implícitos estão diretamente relacionados
com o conceito de exclusão social. Falar da existência de pessoas incluídas implica a
existência de pessoas excluídas. Segundo Braga (2010, p.3), a inclusão “ (...) insere-se
nos grandes movimentos contra a exclusão social (...) tendo com princípio a defesa da
justiça social, celebrando a diversidade humana”. Para enfrentar questões relacionadas
com a exclusão social foi, então, necessário criar estratégias de inclusão social. Segundo
Rodrigues (2003, p.9), “não é possível conceber uma escola inclusiva num `mar social`
de exclusão”.
Sassaki (como citado em Oliveira, Nogueira & Neves 2004, p.3) proporciona
um excelente contributo na definição de inclusão social através do seu estudo sobre o
tema: “inclusão social é um processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir,
nos seus sistemas sociais gerais, pessoas com carências especiais e simultaneamente
estas se preparam para assumir seus papéis na sociedade”. De acordo com outro autor,
Stainback (1999), este movimento ganhou um grande impulso no início da década de
noventa, com a reforma geral da educação, sendo a reestruturação da escola vista como
um objetivo fundamental na reinserção dos alunos. Apesar do termo inclusão estar
ligado a contextos dos jovens com deficiência, esse termo foi expandido, abarcando
todas as dimensões que contemplam necessidades educativas: “a participação na
construção de uma sociedade democrática em que a justiça, o respeito pelo outro e a
equidade sejam os grandes princípios de ser e estar consigo e com os outros, será
gerador de escolas verdadeiramente inclusivas” (Sanches & Teodoro, 2006, p.69).
A LBSE (Lei nº46/86) enaltece os valores e direitos fundamentais existentes na
lei portuguesa, dando ênfase aos princípios da integração socioeducativa a que o
Decreto-Lei nº 319/96 vem configurar, considerando a “escola para todos” (D.L.
319/96,preâmbulo).
O ato de incluir é oferecer a todos a oportunidade de acesso a bens e serviços,
dentro de um sistema que beneficie toda gente e não apenas os mais favorecidos.
Segundo Santos (2007, p. 50), “a concepção inclusiva representa, basicamente, uma
filosofia de aceitação que se pretende concretizar na construção de um modelo de
atendimento educativo onde todas as crianças, famílias e outros cidadãos possam ser
8
igualmente valorizados, respeitados e tratados equitativamente na escola”. A prática da
inclusão social centra-se em valores sociais dos quais se destacam a aceitação das
diferenças de cada pessoa, a valorização de cada indivíduo, a convivência e a
aprendizagem através da cooperação. O processo de inclusão é aplicado em cada
sistema social. Assim, existe a inclusão na educação, lazer, saúde, desporto, informática
e música.
A base da inclusão social é fundamentada nos conceitos de ética e justiça, e o
seu ideal é o fomento da auto-estima, o desenvolvimento das relações sociais e a
igualdade de oportunidades para todos os seres humanos, através da atuação de
atividades comunitárias e culturais. Desta forma, e como referimos anteriormente, o
conceito de inclusão social é construído na perspetiva da cidadania. No campo da
educação, “a escola poderá cumprir melhor, e de outras formas mais adequadas, a sua
função socializante e socializadora” (Santos, 2007, p.50). Um outro autor, Alarcão
(2003) fala mesmo da multidimensionalidade da escola que ocupa uma dimensão
construtiva, formativa, socializadora, democrática, multicultural e reflexiva. Segundo
Nielson (1999), o que é pretendido com a inclusão escolar é que todos os alunos tenham
direito e acesso a uma educação igual e de qualidade onde se respeite as suas
necessidades e características. A escola assume-se como uma grande representante da
inclusão social: “Ela constitui-se como espaço educativo, formativo, bem como de
convivência e utilidade social (...)” (Madureira & Leite, 2003, p.18).
Perante estas informações, é nosso objetivo analisar a representatividade das
artes como veículo de inclusão social, analisando especificamente o caso da música.
Inclusão social através da música
A arte é um dos melhores meios da aplicação do processo de inclusão social uma
vez que integra e inclui pessoas com privações (geralmente a nível financeiro) e afasta
as diferenças. De acordo com Godoy (2002) “sem fronteiras, a arte não tem limites, não
tem barreiras a não ser a do preconceito, da exclusão da injustiça”. E prossegue, “a arte
desconhece diferenças, desconhece limites e por isso mesmo nos coloca a todos em pé
de igualdade”.
A música, como forma de arte, é um agente social de grande proficiência em
questões de vivências humanas, educativas e sociais. Neste contexto, é considerada um
excelente meio de inclusão social, constituindo um importante agente de intervenção em
9
diferentes campos de ação do desenvolvimento infantil. Como meio de inclusão social,
o papel da música desempenha um papel central no “ resgate da dignidade e exercício
da cidadania de crianças, adolescentes e adultos que de alguma forma estejam exclusos
do convívio social e em situação de risco” (Salles, 2004, como citado em Oliveira,
2006, p.19).
Segundo Oliveira (2006, p.19), “a cultura é vista como um importante meio de
reconstrução da identidade sócio- cultural e a música está entre as atividades de
significativo apelo para a realização de projetos sociais”. A música liberta as pessoas e
poderá ajudá-las na orientação de boas escolhas: “A educação musical não deve visar à
formação de possíveis músicos do amanhã, mas sim à formação integral das crianças de
hoje” (Brito, 2001, p. 46). Muitos trabalhos na área têm revelado a importância da
música na construção da identidade das crianças e adolescentes mais carenciados.
Koellreutter (1997, como citado em Brito, 2001, p. 26) afirma que “a música é, em
primeiro lugar, uma contribuição para o alargamento da consciência e para a
modificação do homem e da sociedade”.
A política de inclusão social utilizando a música como meio é um requisito já
comprovado em inúmeros estudos para a diminuição da violência e o aumento da auto-
estima dos envolvidos. O educador e pedagogo Snyders (1992), defende que a música a
música é uma atividade criativa e integradora podendo contribuir como um importante
recurso pedagógico: “a música serve de motivação, eleva a auto-estima, estimula áreas
do cérebro, desenvolve a sensibilidade, a criatividade, a capacidade de concentração, o
raciocínio lógico, a sociabilização” (Snyders,1992, como citado em Melo, 2008, p. 5)
Além do desenvolvimento cognitivo e das aptidões individuais, as atividades musicais
estimulam as pessoas nas competências de relacionamento com os outros. Como meio
propício de relacionar pessoas, é capaz de incluir os alunos com mais dificuldades e
necessidades (quer físicas, económicas ou sociais) entre o resto dos companheiros.
Segundo a teoria das inteligências múltiplas de Gardner (1995), a música tem a
competência de influenciar o homem a nível físico e mental, podendo vir a contribuir
para a coerência pessoal, facilitando a integração e a inclusão social.
A música apresenta-se, então, como uma componente fundamental na
construção da cidadania onde as suas manifestações culturais são capazes de mudar
determinadas realidades sociais.
10
Multiculturalismo
Multiculturalismo é um movimento que “respeita a diversidade de modos de
vida de cada sociedade, as suas características próprias, os seus valores éticos e a sua
identidade cultural” (Lazzarin, 2006, p. 125).
O Multiculturalismo compreende uma conceção da integração que “reconhece,
por um lado, a multiplicidade dos grupos eteno-culturais (...) e por outro, a recepção (...)
dessa mesma diversidade cultural” (Savidan, 2010, p.18).
Este conceito, segundo Gonçalves e Silva (1998), surge em finais do séc. XIX,
nos Estados Unidos, e difunde-se em toda a cultura ocidental como meio de combater a
discriminação e preconceitos em relação aos grupos minoritários e a todo o espaço
escolar. O movimento tem como vanguardistas George W. Williams, Carter G.
Woodson, W. E. B. Dubois, Charles H. Wesley e St. Claire Drake que ergueram
assuntos culturais e sociais fundamentados em argumentos científicos para que os
grupos minoritários ambicionassem a igualdade pelos seus direitos. Segundo Almeida
(2007), relaciona-se com áreas do saber como ciências humanas, filosofia, antropologia,
pedagogia, sociologia, ciências políticas e história.
De acordo com Luís Fernando Lazzarin, esta nova conceção da escola depara-se
com três problemas:
“ […] a diferença, o lugar da minoria em relação à maioria, a identidade e o
seu reconhecimento”. Para essas três grandes problemáticas há pelo menos
duas leituras: uma política, que contempla a questão da conquista de direitos
políticos e sociais dentro de um Estado; outra antropológica, que evidencia
uma análise eminentemente cultural, e contempla movimentos que não têm
necessariamente uma base étnica, nacional ou política, mas um sentimento de
identidade e valores comuns.” (Lazzarin, 2006, p. 126)
O autor também refere que alguns teóricos de educação musical vêm esta
aculturação como forma de definir identidades:
“ […] o termo “multicultural” designa a característica de sociedades
formadas por múltiplas comunidades culturais, que convivem entre si. Por
“multiculturalismo” entendem-se certas abordagens de como os problemas e
conflitos, gerados pela convivência entre essas comunidades “originais”,
podem ser administrados” (Lazzarin, 2006, p. 122).
Para Térren (2004, pp. 14-15), as escolas como fator de inclusão social, “devem
desenvolver-se como espaços de oportunidades que podem fazer contrapeso frente ao
incremento da associação da diversidade com a exclusão e frente às principais fontes de
11
segregação”, ou seja, o sistema educativo deve combater as disparidades dos vários
grupos.
Multiculturalismo e inclusão social encontram-se intimamente ligados já que o
principal objetivo da multiculturalidade é a concretização da igualdade de oportunidades
educativas para todas as crianças, independentemente da sua origem étnica, social,
racial e do género. Nesta medida, a educação multicultural como fator de inclusão,
rejeita e combate todo o tipo de descriminação e desigualdade, promovendo a partilha, a
valorização e o respeito pela diversidade cultural, concedendo igualdade de
oportunidades para todos os cidadãos.
Educação multicultural é um “conjunto de estratégias organizacionais,
curriculares e pedagógicas ao nível do sistema, de escola e de classe, cujo objectivo é
promover a compreensão e tolerância entre indivíduos de origens étnicas diversas
através da mudança de percepções e atitudes com base em programas curriculares que
expressem a diversidade de culturas e estilos de vida” (Carrington como citado em
Cardoso, 1996, p. 9). A educação multicultural exige que toda a escola, em conjunto, a
nível administrativo e pedagógico, se estruture de modo a acolher a diversidade dos
seus alunos e defendendo o pluralismo dos seus alunos, famílias e comunidades. Assim,
esta educação deve passar pela escola que não pode ignorar a realidade multicultural
atual dado que tem um papel crucial a desempenhar nos “processos de integração e de
construção de uma cidadania para todos, como resposta à diversidade étnica e cultural
de quantos a frequentam” (Conselho Nacional de Educação, 2000, p. 9). Deverá,
portanto, a escola “promover uma educação para a cidadania, onde a progressiva
autonomia, responsabilidade e capacidade crítica dos alunos se construa no respeito
pelos valores fundamentais da cooperação, solidariedade e respeito mútuo” (Conselho
Nacional de Educação, 2000, p. 143).
A educação multicultural vê a escola como um sistema social que consiste em
interligar as várias partes (Banks, 2005). “A educação multicultural e intercultural
procura familiarizar as crianças com as realizações culturais, intelectuais, morais,
artísticas, religiosas de outras culturas, principalmente das culturas não dominantes”
(Maclaren, 1997, p. 16). Se as crianças se fecharem para a riqueza cultural da
humanidade, perderão a capacidade de aprender e se humanizar.
Em suma, pode dizer-se que a diversidade cultural germina a carência de
interrogar e incitar debates sobre questões de preconceitos e discriminações, de forma a
12
fomentar a luta pela igualdade dos direitos de todos, para além das diferenças culturais e
sociais.
Exemplos Concretos
El Sistema (Venezuela) e a Orquestra Geração (Portugal)1
Muitos são os estudos referentes à presença da música nas escolas como fator de
evolução e de integração do ser humano, apesar de muitas vezes ser uma área
desvalorizada nos currículos de estudo.2
No entanto, esta está presente em quase todas
as experiências diárias do ser humano.
Verifica-se que “a música e as [restantes] artes são uma das maiores
manifestações do ser humano para pensar e aspirar inquietamente a algo mais do que a
sobrevivência” (Abeles, Hoffer, & Klotman, 1995, p. 66).
Neste contexto, verificada a relevância da música, é nossa pretensão evidenciar
de que forma é que esta pode ser um fator de coesão nas sociedades. Gauthier e Tardiff
(2010, p. 28) dizem-nos que a educação depende estritamente da cultura. Assim, sendo
a música em todas as suas vertentes [é] um fator de cultura e de difusão de identidades,
por exemplo nacionais e regionais, também ela em si, encerra diversidade, sobretudo
através dos que a “fazem” (compositores e intérpretes).
O caso mais evidente de sucesso na integração através da música é o designado
o Sistema Nacional de Orquestras da Venezuela para crianças e jovens. El sistema,
designação venezuelana, envolvia em 2001 (Abreu, 2001), cerca de 110.000
crianças/adolescentes venezuelanos. Estas crianças formam cerca de 120 orquestras de
juventude, 60 orquestras de crianças e coros. O treino musical inicia-se aos 2 anos
ensinando-os a ter disciplina, que assim torna a música clássica como base cultural para
o efeito; o sistema disponibliza outras atividades como workshops em construção e
arranjo de instrumentos.
O sucesso deste projeto levou a que em 1975, José António Abreu fundasse a
Orquestra Sinfónica Simón Bolívar e a Orquestra Sinfónica Nacional de Jovens
(NSYO).
1
Para mais informações consultar os seguintes endereços eletrónicos:
http://www.fesnojiv.gob.ve/es/inicio.html e http://www.orquestra.geracao.aml.pt/ respetivamente.
2
O Decreto Lei nº 139/2012 de 5 de julho desvaloriza as áreas artísticas, como música e EVT, em termos
de carga horária.
13
Segundo Abreu, este projeto já foi descrito como “um movimento social de
dimensões massivas, que funciona usando a música como o instrumento que faz a
integração social de população venuzuelana (…)” (Abreu, 2001).
Estudos posteriores à implemetação do programa revelam que os alunos obtêm
melhores resultados em outras áreas do saber e adquirem uma vida social melhor. O
reconhecimento do sistema a nível international deu-se entre 1993-94 por parte da
UNESCO. Em 1998 UNDP cosiderou este projeto um exemplo de como combater a
pobreza (Abreu, 2001). Na Europa passou a ser mais reconhecido no ano 2000 quando a
orquestra se deslocou à Alemanha numa digressão.
Portugal não é exceção à restante Europa e deixou-se encantar por este projeto
seguindo-o.
“Trata-se da importação de uma metodologia que tornou a Orquestra
Simón Bolívar um dos exemplos internacionais mais relevantes de
utilização da música como meio de favorecimento à inclusão social. (…)
Começou por ser aplicado com uma criação de “orquestra geração” em
bairros da Amadora, Vialonga e, mais recentemente, Sacavém e
Camarate”
(http://www.emcn.edu.pt/index.php/instituicao/apresentacao/historia/
[disponível em 20/11/201]).
O projeto é uma política de descentralização da iniciação musical e começou a
funcionar desde o ano letivo 2002/2003 com a colaboração das autarquias. É uma
iniciativa da Comissão Diretiva da EMCN (Escola de Música do Conservatório
Nacional) pela mão do Prof António Wagner Dinis. Funciona com a colaboração de
maestros do Sistema Nacional das orquestras Juvenis e Infantis da Venezuela.
Como já referimos, El Sistema, é o caso de maior sucesso em todo o mundo de
um projeto de orquestra como fator de integração social. Alberto Arvelo, que também
foi aluno deste projeto, e atual diretor do Instituto de Cinematografia Venezuelano,
apresenta-nos, num documentário de 2006 – Tocar Y Luchar3
, as principais evidências
do projeto e a sua amplitude. Personalidades do meio musical como Claudio Abbado
referem-se ao projeto dizendo que “o mundo deveria usar a Venezuela como um
exemplo” (Arvelo, 2006).
O referido documentário, que é a base de investigação desta secção do trabalho
ganhou prémios como “Melhor documentário Cine Las Americas” em Houston, entre
outros. Sempre que o documentário for citado será com o nome do realizador e ano.
3
Ver Anexo 2, p. 6
14
O fundador do projeto, José António Abreu, no documentário refere-se ao
mesmo como sendo um meio de explorar o íntimo dos destinatários. De facto, os
destinatários do projeto, crianças de realidades sociais muito pobres (como evidenciam
as imagens das suas casas) encontram-se através da música clássica. “É [assim] um
encontro musical, humanitário e social e político, excecional” (Claudio Abbado em
Arvelo, 2006).
Durante o documentário também são apresentados testemunhos de seis crianças
que usufruem das maravilhas do projeto. É o caso de Lila de 15 anos, proveniente de
Paraíso (Caracas), diz que aprendeu que deve “tocar e lutar” por aquilo que ambiciona,
ou seja, pela música e um futuro melhor (Arvelo, 2006).
José António Abreu define a orquestra como “uma comunidade em que cada um
dos indivíduos da mesma trabalha em equipa com um fim comum- a correção dos erros
da sua sociedade” (Abreu em Arvelo, 2006).
Gustavo Dudamel, um dos maestros de mais sucesso da atualidade, segundo
Simon Rattle, considera-se uma prova viva do sucesso do projeto.
“ [Na maioria das vezes] pensarmos que os programas sociais dão
comida, alojamento, cuidados médicos, o que é importante para quem não
o tem. Mas, alimentar a alma da gente providencia a forma dessa gente se
alimentar, encontrando as necessidades básicas do homem. Quando as
formas de vida interior, como na Venezuela, se expressam obtém-se a
possibilidade dessas formas de vida poderem contribuir para melhorar a
sociedade de maneira infinita” (Mark Churchill, Decano do Conservatório
da nova Inglaterra em Boston em Arvelo, 2006).
Abreu acrescenta que “a música deve ser reconhecida como um elemento de
sociabilização pois transmite os mais altos valores sociais, como a solidariedade, a
harmonia, a compaixão e a capacidade de uma comunidade se unir e expressar ”
(Arvelo, 2006). Assim, na Venezuela, está em curso um projeto em que a “arte é uma
empresa para maiorias começando nas minorias” (Abreu em Arvelo, 2006).
Outra vertente do programa é a educação para crianças com necessidades
especiais. Johnny Gómez, Diretor da Divisão Especial, refere que incorpora crianças
com necessidades especiais como incapacidades visuais, auditivas e incapacidades
motoras, com dificuldades da aprendizagem, autismo, deficiências cognitivas, para
poder integrá-las na sociedade através da música.” Refere ainda que, inicialmente, não
conseguiam perceber como uma pessoa com deficiências podia integrar um
Conservatório ou o Sistema de Orquestras e que quebraram esse paradigma de que só
alguém com bom ouvido é que poderia aprender música.
15
O chefe de naipe dos contrabaixos da orquestra de Berlim, Edicson Ruíz, que
beneficiou do projeto, diz que quando entrou para a orquestra encontrou uma família e
que aos olhos do resto do mundo o projeto venezuelano prova que a música pode tocar
nas almas humanas e mudar o individuo, transformando todo o futuro através da
música. Interroga ainda, que arte pode concretizar esse objetivo de melhor forma.
Numa entrevista4
realizada no âmbito deste trabalho ao Professor Pedro Muñoz,
Coordenador artístico-pedagógico da Orquestra Geração, verifica-se que, com a criação
da Orquestra Simón Bolívar a sociedade Venezuelana melhorou. Para Pedro Muñoz esta
orquestra é:
“ [um] modelo de inclusão social pois desde a sua fundação há 38 anos abriu
as suas portas a diferentes estratos sociais da sociedade, desde os grupos mais
vulneráveis até às classes média e alta. Milhares de jovens venezuelanos
tiveram e têm esta possibilidade de estudar música a custo zero, graças ao
sistema das orquestras, transformando assim não só a suas vidas como as
suas almas!!! É um modelo de inclusão social também porque as famílias são
integradas no maravilhoso mundo da música através dos seus filhos com a
sua presença em concertos, ganhando o gosto pela música clássica (Muñoz.
2013, p.3).
Acrescenta também que:
“devia ser um exemplo para outros países (…). Centenas de países já têm o
sistema evidentemente adaptado à realidade de cada pais inclusive países do
primeiro mundo onde a música clássica está desenvolvida a sua máxima
expressão, tal é o caso da Alemanha ou Áustria” (Muñoz, 2013, p. 3).
Como já foi referido Portugal implementou este modelo de educação através da
Orquestra Geração.
Pedro Muñoz afirma existirem obstáculos na implementação do projeto,
contudo, apesar das dificuldades o projeto dispõe de alguns apoios devido à sua taxa de
sucesso que segundo o entrevistado:
“é extraordinário, mostra disso são os reconhecimentos da sociedade e as
numerosas solicitações que temos para crescer e criar novas orquestras nas
escolas do país, facto que não tem sido possível por diversas razões não só
económicas como também de logística e de recursos humanos” (Muñoz,
2013, p. 5).
“Como primeiro apoio que dispõe é a Escola de Música do Conservatório
Nacional como impulsionador e controlador do sistema pedagógico do
projeto. A seguir temos a escolas onde o projeto funciona acompanhado do
apoio das Câmaras municipais de cada zona onde funciona e, evidentemente,
como principal apoio, o ministério da educação que é responsável pela
contratação dos aproximadamente 70 professores do projeto, que atualmente
funciona na área metropolitana de Lisboa, em 12 escolas, uma em Coimbra e
três no norte do país, Amarante, Mirandela e Murça. O projeto tem também o
apoio da Fundação Gulbenkian, EDP, PT e algumas outras entidades”
(Muñoz, 2013, p. 4).
4
Ver anexo 1, pp. 2-5
16
É direcionado para alunos em idade escolar e:
“os alunos não só gostam do projeto, como o adoram pois além de terem a
oportunidade de aprender a tocar um instrumento e fazer música, têm um
convívio constante com os seus colegas, fazem concertos em diversas salas
do país, conhecem escolas de música, maestros e músicos profissionais (…)
(Muñoz, 2013, p. 4).
Quanto ao elemento fulcral do nosso trabalho Pedro Muñoz diz que:
“a orquestra, em termos sociais, tem uma integração muito importante na
sociedade onde se desenvolve (…). É de sublinhar que este projeto é
integrado por uma série de crianças, filhos de emigrantes cabo-verdianos,
angolanos e outros, portanto no repertório que faz a orquestra geração, além
do clássico tradicional, incluímos uma série de peças que fazem parte da
identidade cultural de cada uma destas nacionalidades” (Muñoz, 2013, p. 4).
Outra dimensão da música implícita no projeto “Orquestra Geração”
é a multiculturalidade, também dimensão sociológica como já vimos. Desta
forma o projeto abraça crianças de meios desfavorecidos de diferentes
origens culturais – desde filhos de emigrantes cabo-verdianos, a angolanos e
os próprios portugueses, tal como nos indica Muñoz:
“A orquestra em termos sociais tem uma integração muito importante na
sociedade onde se desenvolve, no bairro onde habitam os seus elementos, nas
famílias em que nela participam. É de sublinhar que este projeto é integrado
por uma série de crianças filhos de emigrantes cabo-verdianos, angolanos e
outros, portanto, no repertório que faz a orquestra geração além do clássico
tradicional incluímos uma série de peças que fazem parte da identidade
cultural de cada uma destas nacionalidades. O orgulho das famílias mostra
um dos principais sucessos deste projeto” (Muñoz, 2013, p. 4).
17
Conclusão
Os pressupostos da inclusão social radicam na necessidade de se conciliar o
desenvolvimento económico e social do indivíduo, apelando ao confronto contra
qualquer tipo de descriminação, quer de etnia, sexo, idade ou religião.
Consequentemente assume-se a construção de uma comunidade mais equitativa.
Também o multiculturalismo abarca esta dimensão inclusiva, proporcionando a
convivência de diferentes culturas e tradições. Esta conceção social é o objetivo do
Sistema de Orquestras Venezuelano que torna a música um veículo cognitivo, cultural e
humanizante (segundo Abreu, 2001). Assim, está em curso, na Venezuela, um projeto
em que a “arte é uma empresa para maiorias começando nas minorias” (Abreu em
Arvelo, 2006) como crianças com necessidades especiais e provenientes de realidades
socioeconómicas desfavorecidas. Através da disciplina da orquestra, as crianças são
educadas em valores musicais, humanitários e sociais.
A proficuidade deste projeto social é de tal forma amplo que foi adotado por
outros países como Portugal com a criação da Orquestra Geração funcionando na área
metropolitana de Lisboa com doze escolas, uma em Coimbra e três no Norte do País.
Outra dimensão deste projeto é a sua componente multicultural tal como nos
indica o Professor Pedro Muñoz. Este refere que a escolha do repertório “vai desde a
música clássica tradicional até uma série de peças que fazem parte da identidade
cultural de cada uma destas nacionalidades” (cabo-verdianos e angolanos por exemplo)
(2013, p. 4).
Assim, verifica-se o poder da música e da orquestra como “um instrumento social
de largo espectro e profunda proficuidade no cerne da alma e das vivências humanas,
espirituais, educativas e sociais” (Silva, 2010, p. 7).
18
Referências Bibliográficas:
Alarcão, I. (2003). Professores Reflexivos em uma Escola Reflexiva. São Paulo: Cortez.
Abeles, H., Hoffer, C. R., & Klotman, R. H. (1995). Foundations of Music Education. New York:
Schirmer Books.
Banks, J. A. & Banks, C. A. M. (2005). Multicultural Education - Issues and Perspectives (5ª
Edição ed.). United States Of America: Wiley Jossey - Bass Education.
Braga, C. (2010). Perturbações do Espectro do Autismo e Inclusão: atitudes e representações
dos pais, professores e educadores de infância. (Tese de Mestrado não publicada)
Universidade do Minho, Braga.
Brito, T.A. (2001). Koellreutter educador. O humano como objetivo da educação musical. São
Paulo: Editora Fundação Peirópolis Ltda.
Cardoso, C. M. (1996). Educação Multicultural - Percursos para Práticas Reflexivas (1ª Edição
ed.). Lisboa: Texto editora, LDA.
Educação, C. N. (15 de Setembro 2000). Educação Intercultural e Cidadania. Lisboa: Edição do
Conselho Nacional de Educação - Ministério da Educação. Rodrigues, D. (Org.) (2003).
Perspectivas sobre Inclusão. Da Educação à Sociedade. Porto: Porto Editora. p. 9.
Gardner, H. (1995) Inteligências Múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre: Artes Médicas.
Gauthier. C. & Tardif, Maurice (2010). A pedagogia – Teorias e práticas da Antiguidade aos
nossos dias. Petrópolis: Editora Vozes
Gonçalves, L. A. O. & Silva, P. B. G (1998). O Jogo das diferenças: o multiculturalismo e seus
contextos. Belo Horizonte: Autêntica.
Madureira, I. P. & Leite, T. S. (2003). Necessidades Educativas Especiais. Lisboa: Universidade
Aberta.
Mclaren, P. (1997). A Vida nas Escolas: Uma introdução à pedagogia crítica nos fundamentos
da educação. Porto Alegre: Artes médicas.
Melo, L. R. C. (2008). A música: Um caminho para o desenvolvimento do deficiente intelectual.
Universidade Estadual de Londrina.
Muñoz, P. (2013) Entrevista Concedida por e-mail . 5 de fevereiro de 2013. (Anexo II, pp. 2-5)
Nielsen L. B. (1999) - Necessidades educativas especiais na sala de aula – Um guia para
professores: Porto Editora.
Lazzarin, L. F. (2006). A dimensão multicultural da nova filosofia da educação musical. Revista
da ABEM, Porto Alegre, V. 14, março, 2006.
Oliveira, L., Nogueira, C., Neves, M. (2004). Assistência e inclusão social das pessoas portadoras
de deficiência: a complexidade da questão. VIII Congresso Luso- Brasileiro de Ciências
Sociais. Coimbra: FEUC.
Oliveira, I. (2006). A questão ética frente às diferenças: a problemática da ética da diferença e
da exclusão social: um olhar dusseliano. Rio de Janeiro: Ed. Vozes.
Pacheco, J. A. (2008). Estrutura Curricular do sistema educativo português.In J. A. Pacheco.
Organização Curricular Portuguesa. (pp:11-52). Porto: Porto Editora.
Pacheco, J. A. (2000, Julho/ Dezembro). A educação para a cidadania: o espaço
curricularmente adiado. Revista Teias. Rio de Janeiro.
19
Reimer, B. (1970). A Philosophy pf Music Education. New Jersey: Prentice-Hall .
Rodrigues, D. (2003). Perspectivas sobre Inclusão. Da Educação à Sociedade. Porto: Porto
Editora.
Sanches,I. & Teodoro, A. (2006). Da integração à inclusão escolar: cruzando perspectivas e
conceitos. Revista Lusófona da Educação.
Santos, B. R. (2007). Comunidade Escolar e Inclusão - Quando Todos Ensinam e Aprendem com
Todos. Lisboa: Horizontes Pedagógicos.
Salles, I. (1999). Educação Popular: uma perspectiva, um modo de atuar. Paraíba: Editora
Universitária/UFPB.
Sassaki, R. (1997) Inclusão construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: Editora WVA.
Savidan, P. (Julho de 2010). O Multiculturalismo. Portugal: Publicações Europa América, LDA.
Silva, E. (2010). A Orquestra como instrumento dinamizador de meios desfavorecidos. (Tese de
Mestrado não publicada). Universidade de Aveiro, Aveiro
Snyders, G. (1992). A escola pode ensinar as alegrias da música?. São Paulo: Cortez.
Stainback, S. & Stainback, W. (1999). Inclusão: um guia para educadores. Trad. Magda França
Lopes. Porto Alegre: Artes Médicas
Terrén, E. (2004). Incorporación o asimilación. La escuela como espacio de inclusión social,
Madrid: Catarata.
Referências da Internet:
Abreu, J. A. (2001). The Right Livelihood award – for outstanding vision and work on behalf of
our planet and its people. Recuperado em 27/12/2012 de
http://www.rightlivelihood.org/abreu.html
http://www.emcn.edu.pt/index.php/instituicao/apresentacao/historia/ [disponível em
20/11/201]
Almeida, C. M. G. (2007). Diversidade Cultural e Formação de Professores: um estudo com
Licenciandos. In: XVII CONGRESSO DA ANPPOM, São Paulo, UNESP,
2007. Recuperado em 01/01/2013 Disponível em:
http://www.anppom.com.br/anais/anaiscongresso_anppom_2007
Declaração Universal dos Direitos Humanos, Artigo II, de 10 de Dezembro de 1948.
Recuperado em 20/02/2013. Disponível em: www.forma-te.com/.../16859-direitos-
humanos.html.
Godoy, A. (2002) A. Arte jornada para as estrelas. Anais V Congresso Nacional de Arte-
Educação na Escola para todos. Brasília. Recuperado em 20/02/2013. Disponível em:
http://www.arteducacao.pro.br/Artigos/anais.htm
Referências Videográficas:
Arvelo, A. (2006) [documentário DVD]. Tocar Y Luchar. Venezuela: FESNOJIV
20
Referências Legislativas
Decreto Lei no 125/2011, de 29 de Dezembro.
Decreto Lei nº 319/96, de 30 de Julho.
LBSE, Lei nº 46/86
i
Anexos
ii
Anexo 1
Entrevista ao Professor Pedro Muñoz
iii
Mestrado em Ensino Música
Sociologia da Educação e Profissão Docente
Professor Doutor Manuel António Ferreira da Silva
Trabalho de Grupo:
Entrevista sobre a Orquestra como meio de Inclusão Social ao Professor Pedro Muñoz:
1. Tendo usufruído do sistema de orquestras venezuelano, qual a sua opinião sobre o
mesmo?
O sistema de Orquestras da Venezuela é uma revolução musical não só neste país se não a nível
internacional. Hoje em dia é reconhecido como tal por eminentes personalidades da música a
nível mundial, Sir Simon Ratle, Plácido Domingo, Claudio Abbado e muitíssimos outros que têm
conhecido e trabalhado com as orquestras da Venezuela. O futuro da música passa
indiscutivelmente pelas orquestra da Venezuela, pois a forma como é desenvolvido o
trabalhado e a intensidade do mesmo fazem dele um modelo único e com resultados
espantosos, hoje em dia reconhecido a nível internacional através de diversos músicos
venezuelanos, tal é o caso do jovem Gustavo Dudamel maestro de Los Angeles Philarmonic ,
Edicson Ruiz contrabaixista da Filarmónica de Berlim ou Diego Matheuz director do Teatro La
Fenice de Veneza.
Mais Informações do sistema da Venezuela em: http://www.fesnojiv.gob.ve/es/inicio.html
2. Considera a Orquestra Simon Bolivar um exemplo de inclusão social? Porquê?
Absolutamente é um modelo de inclusão social pois desde a sua fundação há 38 anos abriu as
suas portas a diferentes estratos sociais da sociedade, desde os grupos mais vulneráveis até às
classes média e alta. Milhares de jovens venezuelanos tiveram e têm esta possibilidade de
estudar música a custo zero, graças ao sistema das orquestras, transformando assim não só a
suas vidas como as suas almas!!! É um modelo de inclusão social também porque as famílias são
integradas no maravilhoso mundo da música através dos seus filhos com a sua presença em
concertos, ganhando o gosto pela música clássica. As famílias são orgulhosas dos seus filhos
músicos.
3. Acha que deve ser um exemplo para outros países?
Não só acho que devia ser um exemplo para outros países pois de facto já o sistema está
implantado em muitos países da América do sul, América Central e Europa. Centenas de países
já têm o sistema evidentemente adaptado à realidade de cada país inclusive países do primeiro
mundo onde a música clássica está desenvolvida a sua máxima expressão, tal é o caso da
Alemanha ou Áustria.
iv
4. Em que medida surgiu o projeto da Orquestra Geração?
O projeto Geração surgiu em Portugal em 2007 na medida de criar a possibilidade, a alunos dos
subúrbios da área metropolitana de Lisboa, de estudar música a custo zero e sem necessidade
de transportar-se ao centro da cidade.
4.1 Em que consiste?
Informações e pormenores do projeto Geração no site da orquestra Geração....
http://www.orquestra.geracao.aml.pt/
4.2 Que tipos de obstáculos surgem na implementação do projeto?
Os obstáculos que se impõem são normalmente aqueles que todo novo projeto tem quando se
quer aplicar numa sociedade, quebrando até certo ponto com a tradição e os mecanismos
tradicionais do ensino da música. Por exemplo afirmações de como será possível que uma
criança se possa sentar numa orquestra sem saber ler música e sem ter tido aulas de
instrumentos individuais??? Pois é... Às vezes convencer alguns professores de que este sistema
pode funcionar pois o sistema de estudo dele próprio foi completamente diferente a este, não
[quer dizer] melhor nem pior mas sim Diferente...uma das mais-valias que têm o sistema de
Venezuela é que o 100% dos seus professores são formados no próprio sistema e conhecem
todos os aspetos positivos mas também os erros que foram cometidos e serviram para melhorar
o próprio sistema…
4.3 Que mecanismos de apoio o projeto dispõe?
Como primeiro apoio que dispõe é a Escola de Música do Conservatório Nacional como
impulsionador e controlador do sistema pedagógico do projeto. A seguir temos a escolas onde o
projeto funciona acompanhado do apoio das Câmaras municipais de cada zona onde funciona e,
evidentemente, como principal apoio, o ministério da educação que é responsável pela
contratação dos aproximadamente 70 professores do projeto, que atualmente funciona na área
metropolitana de Lisboa, em 12 escolas, uma em Coimbra e três no norte do país, Amarante,
Mirandela e Murça. O projeto tem também o apoio da Fundação Gulbenkian, EDP, PT e algumas
outras entidades.
4.4 É direcionado para que género de alunos?
O projeto está direcionado para alunos em idade escolar até o secundário.
4.5 Os alunos gostam?
Os alunos não só gostam do projeto, como o adoram pois além de terem a oportunidade de
aprender a tocar um instrumento e fazer música, têm um convívio constante com os seus
colegas, fazem concertos em diversas salas do país, conhecem escolas de música, maestros e
músicos profissionais, enfim, uma série de atividades sumamente variadas.
4.6 Pode ser considerado um bom exemplo de inclusão social? Porquê?
4.7 Qual o maior benefício da orquestra em termos sociais (realização humana dos
alunos)?
A orquestra em termos sociais tem uma integração muito importante na sociedade onde se
desenvolve, no bairro onde habitam os seus elementos, nas famílias em que nela participam. É
de sublinhar que este projeto é integrado por uma série de crianças filhos de emigrantes cabo-
verdianos, angolanos e outros, portanto, no repertório que faz a orquestra geração além do
clássico tradicional incluímos uma série de peças que fazem parte da identidade cultural de cada
uma destas nacionalidades. O orgulho das famílias mostra um dos principais sucessos deste
projeto.
v
4.8 Qual a taxa de sucesso do projeto?
A taxa de sucesso do projeto é extraordinário, mostra disso são os reconhecimentos da
sociedade e as numerosas solicitudes que temos para crescer e criar novas orquestras nas
escolas do país, facto que não têm sido possível por diversas razões não só económicas como
também de logística e de recursos humano.
Obrigada pela colaboração
Carla Marques
Sara Vilaça
Vânia Fontão
vi
Anexo 2
Arvelo, A. (2006) [documentário DVD]. Tocar Y Luchar. Venezuela: FESNOJIV

Más contenido relacionado

La actualidad más candente

Educação para a cidadania possibilidades e limites
Educação para a cidadania possibilidades e limitesEducação para a cidadania possibilidades e limites
Educação para a cidadania possibilidades e limites
Elicio Lima
 
Turismo Inclusivo em Hoteis: Casos Praticos Internacionais
Turismo Inclusivo em Hoteis: Casos Praticos InternacionaisTurismo Inclusivo em Hoteis: Casos Praticos Internacionais
Turismo Inclusivo em Hoteis: Casos Praticos Internacionais
Scott Rains
 
Diretrizes. educação em direitos humanos
Diretrizes. educação em direitos humanosDiretrizes. educação em direitos humanos
Diretrizes. educação em direitos humanos
N C
 
consumo e escassez de agua
consumo e escassez de aguaconsumo e escassez de agua
consumo e escassez de agua
guest78ae68
 
Apresentação Civismo Cidadania Escolas PúBlicas
Apresentação Civismo Cidadania Escolas PúBlicasApresentação Civismo Cidadania Escolas PúBlicas
Apresentação Civismo Cidadania Escolas PúBlicas
GutoTaubate2011
 
Educação e direitos humanos Aula 7b - enfoques metodológicos no ensino e apre...
Educação e direitos humanos Aula 7b - enfoques metodológicos no ensino e apre...Educação e direitos humanos Aula 7b - enfoques metodológicos no ensino e apre...
Educação e direitos humanos Aula 7b - enfoques metodológicos no ensino e apre...
Cleide Magáli dos Santos
 
GestãO DemocráTica Na EducaçãO
GestãO DemocráTica Na EducaçãOGestãO DemocráTica Na EducaçãO
GestãO DemocráTica Na EducaçãO
Jucianee
 

La actualidad más candente (20)

Educação para a cidadania possibilidades e limites
Educação para a cidadania possibilidades e limitesEducação para a cidadania possibilidades e limites
Educação para a cidadania possibilidades e limites
 
Mapa conceitual direitos humanos
Mapa conceitual  direitos humanosMapa conceitual  direitos humanos
Mapa conceitual direitos humanos
 
Conselho escolar e os direitos humanos
Conselho escolar e os direitos humanosConselho escolar e os direitos humanos
Conselho escolar e os direitos humanos
 
Artigo assistente scial na escola
Artigo assistente scial na escolaArtigo assistente scial na escola
Artigo assistente scial na escola
 
Projetos Escola Sem Partido e Escola Livre - Carta aberta do coordenador do f...
Projetos Escola Sem Partido e Escola Livre - Carta aberta do coordenador do f...Projetos Escola Sem Partido e Escola Livre - Carta aberta do coordenador do f...
Projetos Escola Sem Partido e Escola Livre - Carta aberta do coordenador do f...
 
Artigogadotti final
Artigogadotti finalArtigogadotti final
Artigogadotti final
 
Turismo Inclusivo em Hoteis: Casos Praticos Internacionais
Turismo Inclusivo em Hoteis: Casos Praticos InternacionaisTurismo Inclusivo em Hoteis: Casos Praticos Internacionais
Turismo Inclusivo em Hoteis: Casos Praticos Internacionais
 
Diretrizes. educação em direitos humanos
Diretrizes. educação em direitos humanosDiretrizes. educação em direitos humanos
Diretrizes. educação em direitos humanos
 
consumo e escassez de agua
consumo e escassez de aguaconsumo e escassez de agua
consumo e escassez de agua
 
Inclusão Social
Inclusão SocialInclusão Social
Inclusão Social
 
Cidadania
CidadaniaCidadania
Cidadania
 
Temas transversais
Temas transversaisTemas transversais
Temas transversais
 
Políticas públicas para a educação gerontológica no df
Políticas públicas para a educação gerontológica no dfPolíticas públicas para a educação gerontológica no df
Políticas públicas para a educação gerontológica no df
 
Araucaria sidney 4
Araucaria sidney 4Araucaria sidney 4
Araucaria sidney 4
 
Livro educação-social-funções-e-contextos
Livro educação-social-funções-e-contextosLivro educação-social-funções-e-contextos
Livro educação-social-funções-e-contextos
 
Memória e verdade em sala de aula: prática pedagógica em Educação em Direitos...
Memória e verdade em sala de aula: prática pedagógica em Educação em Direitos...Memória e verdade em sala de aula: prática pedagógica em Educação em Direitos...
Memória e verdade em sala de aula: prática pedagógica em Educação em Direitos...
 
Políticas Sociais e Educação
Políticas Sociais e EducaçãoPolíticas Sociais e Educação
Políticas Sociais e Educação
 
Apresentação Civismo Cidadania Escolas PúBlicas
Apresentação Civismo Cidadania Escolas PúBlicasApresentação Civismo Cidadania Escolas PúBlicas
Apresentação Civismo Cidadania Escolas PúBlicas
 
Educação e direitos humanos Aula 7b - enfoques metodológicos no ensino e apre...
Educação e direitos humanos Aula 7b - enfoques metodológicos no ensino e apre...Educação e direitos humanos Aula 7b - enfoques metodológicos no ensino e apre...
Educação e direitos humanos Aula 7b - enfoques metodológicos no ensino e apre...
 
GestãO DemocráTica Na EducaçãO
GestãO DemocráTica Na EducaçãOGestãO DemocráTica Na EducaçãO
GestãO DemocráTica Na EducaçãO
 

Destacado

A analise harmonica
A analise harmonicaA analise harmonica
A analise harmonica
reprimeiro
 
A fórmula da magia
A fórmula da magiaA fórmula da magia
A fórmula da magia
HOME
 
Feitiço para a prosperidade financeira tattwa
Feitiço para a prosperidade financeira tattwaFeitiço para a prosperidade financeira tattwa
Feitiço para a prosperidade financeira tattwa
HOME
 
Magias bruxas ancestrais por sigilos de tatwas ourobo.blogspot.com
Magias  bruxas ancestrais por sigilos de tatwas   ourobo.blogspot.comMagias  bruxas ancestrais por sigilos de tatwas   ourobo.blogspot.com
Magias bruxas ancestrais por sigilos de tatwas ourobo.blogspot.com
HOME
 
Koellreutter introducão a estética e a composicão musical contemporânea
Koellreutter introducão a estética e a composicão musical contemporâneaKoellreutter introducão a estética e a composicão musical contemporânea
Koellreutter introducão a estética e a composicão musical contemporânea
felipemeliat
 
Encanto para a fortuna
Encanto para a fortunaEncanto para a fortuna
Encanto para a fortuna
HOME
 

Destacado (7)

Harmonia
HarmoniaHarmonia
Harmonia
 
A analise harmonica
A analise harmonicaA analise harmonica
A analise harmonica
 
A fórmula da magia
A fórmula da magiaA fórmula da magia
A fórmula da magia
 
Feitiço para a prosperidade financeira tattwa
Feitiço para a prosperidade financeira tattwaFeitiço para a prosperidade financeira tattwa
Feitiço para a prosperidade financeira tattwa
 
Magias bruxas ancestrais por sigilos de tatwas ourobo.blogspot.com
Magias  bruxas ancestrais por sigilos de tatwas   ourobo.blogspot.comMagias  bruxas ancestrais por sigilos de tatwas   ourobo.blogspot.com
Magias bruxas ancestrais por sigilos de tatwas ourobo.blogspot.com
 
Koellreutter introducão a estética e a composicão musical contemporânea
Koellreutter introducão a estética e a composicão musical contemporâneaKoellreutter introducão a estética e a composicão musical contemporânea
Koellreutter introducão a estética e a composicão musical contemporânea
 
Encanto para a fortuna
Encanto para a fortunaEncanto para a fortuna
Encanto para a fortuna
 

Similar a Trabalho final grupo

A INCLUSÃO ESCOLAR BRASILEIRA E ALGUMAS DAS CONTRIBUIÇÕES INTERNACIONAIS Cl...
A INCLUSÃO ESCOLAR BRASILEIRA  E ALGUMAS DAS CONTRIBUIÇÕES INTERNACIONAIS  Cl...A INCLUSÃO ESCOLAR BRASILEIRA  E ALGUMAS DAS CONTRIBUIÇÕES INTERNACIONAIS  Cl...
A INCLUSÃO ESCOLAR BRASILEIRA E ALGUMAS DAS CONTRIBUIÇÕES INTERNACIONAIS Cl...
christianceapcursos
 
Ppi educaãƒâ§ãƒâ£o inclusiva-2
Ppi  educaãƒâ§ãƒâ£o inclusiva-2Ppi  educaãƒâ§ãƒâ£o inclusiva-2
Ppi educaãƒâ§ãƒâ£o inclusiva-2
Sannarah Pinheiro
 
Texto j uventudes, democracia e direitos humanos para ram em 2011, de Otávio ...
Texto j uventudes, democracia e direitos humanos para ram em 2011, de Otávio ...Texto j uventudes, democracia e direitos humanos para ram em 2011, de Otávio ...
Texto j uventudes, democracia e direitos humanos para ram em 2011, de Otávio ...
Otavio Luiz Machado
 
Direitos humanos congresso
Direitos humanos congressoDireitos humanos congresso
Direitos humanos congresso
Wilson Melo
 

Similar a Trabalho final grupo (20)

EDUCAÇÃO, DIVERSIDADE, TRABALHO E JUSTIÇA SOCIAL.
EDUCAÇÃO, DIVERSIDADE, TRABALHO E JUSTIÇA SOCIAL.EDUCAÇÃO, DIVERSIDADE, TRABALHO E JUSTIÇA SOCIAL.
EDUCAÇÃO, DIVERSIDADE, TRABALHO E JUSTIÇA SOCIAL.
 
Reunião pedagógica 03 06 2016
Reunião pedagógica 03 06 2016Reunião pedagógica 03 06 2016
Reunião pedagógica 03 06 2016
 
Sociologia iv
Sociologia ivSociologia iv
Sociologia iv
 
TÓPICOS EM EDUCAÇÃO II: Resumo do 2º bimestre multicuralismo
TÓPICOS EM EDUCAÇÃO II: Resumo do 2º bimestre multicuralismoTÓPICOS EM EDUCAÇÃO II: Resumo do 2º bimestre multicuralismo
TÓPICOS EM EDUCAÇÃO II: Resumo do 2º bimestre multicuralismo
 
Cidadania_GuiaProfessor_10ano.pdf
Cidadania_GuiaProfessor_10ano.pdfCidadania_GuiaProfessor_10ano.pdf
Cidadania_GuiaProfessor_10ano.pdf
 
Portfólio Gestão do Projeto Educativo
Portfólio Gestão do Projeto Educativo Portfólio Gestão do Projeto Educativo
Portfólio Gestão do Projeto Educativo
 
A INCLUSÃO ESCOLAR BRASILEIRA E ALGUMAS DAS CONTRIBUIÇÕES INTERNACIONAIS Cl...
A INCLUSÃO ESCOLAR BRASILEIRA  E ALGUMAS DAS CONTRIBUIÇÕES INTERNACIONAIS  Cl...A INCLUSÃO ESCOLAR BRASILEIRA  E ALGUMAS DAS CONTRIBUIÇÕES INTERNACIONAIS  Cl...
A INCLUSÃO ESCOLAR BRASILEIRA E ALGUMAS DAS CONTRIBUIÇÕES INTERNACIONAIS Cl...
 
Ppi educaãƒâ§ãƒâ£o inclusiva-2
Ppi  educaãƒâ§ãƒâ£o inclusiva-2Ppi  educaãƒâ§ãƒâ£o inclusiva-2
Ppi educaãƒâ§ãƒâ£o inclusiva-2
 
Livro etica e_cidadania
Livro etica e_cidadaniaLivro etica e_cidadania
Livro etica e_cidadania
 
Etica e cidadania
Etica e cidadaniaEtica e cidadania
Etica e cidadania
 
Ética e Cidadania
Ética e CidadaniaÉtica e Cidadania
Ética e Cidadania
 
Sociologia
SociologiaSociologia
Sociologia
 
Educacao ed1
Educacao ed1Educacao ed1
Educacao ed1
 
Direitos humanos
Direitos humanosDireitos humanos
Direitos humanos
 
Fichamento patrícia
Fichamento patríciaFichamento patrícia
Fichamento patrícia
 
A História da Ed. Física no Mundo - Aula 02.pdf
A História da Ed. Física no Mundo - Aula 02.pdfA História da Ed. Física no Mundo - Aula 02.pdf
A História da Ed. Física no Mundo - Aula 02.pdf
 
PROJETO EDUCAÇÃO: DIVERSIDADE CULTURAL
PROJETO EDUCAÇÃO: DIVERSIDADE CULTURALPROJETO EDUCAÇÃO: DIVERSIDADE CULTURAL
PROJETO EDUCAÇÃO: DIVERSIDADE CULTURAL
 
Texto j uventudes, democracia e direitos humanos para ram em 2011, de Otávio ...
Texto j uventudes, democracia e direitos humanos para ram em 2011, de Otávio ...Texto j uventudes, democracia e direitos humanos para ram em 2011, de Otávio ...
Texto j uventudes, democracia e direitos humanos para ram em 2011, de Otávio ...
 
Slides oficina
Slides oficinaSlides oficina
Slides oficina
 
Direitos humanos congresso
Direitos humanos congressoDireitos humanos congresso
Direitos humanos congresso
 

Trabalho final grupo

  • 1. Mestrado em Ensino de Música Sociologia da Educação e Profissão Docente I A Orquestra como Fator de Inclusão Social Trabalho realizado por: Carla Marques (PG 23435) Sara Vilaça (PG 23433) Vânia Fontão (PG 23439) Docente: Prof. Dr.º Manuel António Silva fevereiro 2013
  • 2. 3 Índice Introdução 3 O Conceito de Inclusão Social e os seus Princípios 5 Inclusão Social através da Música 7 Multiculturalismo 9 Exemplos Concretos El Sistema (Venezuela) e a Orquestra Geração (Portugal) 11 Conclusão 16 Referências Bibliográficas 17 Anexos i
  • 3. 4 Introdução Segundo a Lei de Bases do Sistema Educativo, a educação deve ser para todos. “Respeitar a dignidade pessoal e as diferenças culturais dos alunos valorizando os diferentes saberes e culturas, prevenindo processos de exclusão e discriminação” (alínea a, art. 10º Decreto-Lei º 15/2007 como citado em Pacheco, 2008, p. 46) são os pressupostos da referida lei. Mas qual a melhor forma de concretizar este pressuposto da constituição Portuguesa que é também desejado a nível internacional? No nosso entender será através das artes. As artes segundo Abeles, Hoffer e Klotman (1995) proporcionam ao ser humano algo mais do que a sobrevivência e, é aliás, este aspeto que o diferencia do ser irracional. A sua capacidade de pensar e comunicar levou-o à sua evolução e ao progresso da humanidade. Contudo, muito ainda há a fazer com o objectivo de alcançar a igualdade de direitos e oportunidades prevista em documentos como a Declaração dos Direitos Humanos. Segundo Reimer, (1970, p. 2) “sociólogos e antropólogos olham para as artes pelas percepções que elas transmitem através de fenómenos sociais como a formação de atitude, diferenças socioeconómicas na utilização das artes, crenças culturais implícitas em cerimónias com recurso às artes, entre outros casos”. Assim é nosso propósito evidenciar de que forma é que música, uma arte, é um caminho para a inclusão social e encerra em si a possibilidade de encontros multiculturais. No primeiro capítulo iremos contextualizar o conceito de Inclusão Social através de autores como Pacheco (2000), Rodrigues (2003), Sassaki (1997), Stainback (1999) e Santos (2007). Estando o meio escolar associado ao conceito de multiculturalismo abordaremos, o mesmo, quanto à sua origem e implicações para o ensino. A pertinência desta abordagem incide no facto de não raras vezes a música ser um encontro multicultural. Com efeito, no terceiro capítulo, é apresentada a Orquestra Simón Bolívar e o Sistema de Orquestras Venezuelano como exemplo prático desta teoria. Abordaremos, também, a implementação deste projecto em Portugal através da Orquestra Geração. Em relação a esta última, tentaremos reforçar a sua componente multicultural. Como suporte teórico deste capítulo recorremos a um documentário de Alberto Arvelo (2006), “Tocar y Luchar”, para o primeiro caso, e uma entrevista via correio electrónico ao
  • 4. 5 Professor Pedro Muñoz, Cordenador Artístico e Pedagógico da Orquestra Geração, para o segundo exemplo prático.
  • 5. 6 O conceito de Inclusão social e os seus princípios A inclusão social é um tema que tem ganho destaque na sociedade, especialmente a partir da década de oitenta do século XX, quando a ONU organizou o ano internacional da pessoa com deficiência. e tem sido aplicado com muita profusão no campo das políticas sociais. Segundo Sassaki (1997), o movimento de inclusão social teve início na segunda metade dos anos oitenta nos países mais desenvolvidos, e, na década de noventa, nos países em desenvolvimento também direccionado a pessoas sem acesso a programas sociais, culturais ou qualquer outro programa inclusivo. O termo “incluir” significa semanticamente estar incluído ou abrangido, fazer parte, valorizando a pessoa. Definir a essência da inclusão social é um assunto complexo, sendo uma matéria bastante discutida em múltiplos ramos da sociologia. Há, no entanto, uma unanimidade entre os sociólogos que entendem que não é possível considerar alguém incluído na sociedade se lhe forem negados direitos mínimos, integrantes da própria cidadania: não apenas os civis e políticos, mas sobretudo, os sociais. De acordo com Pacheco (2000, p.111), “a cidadania tem vindo a tornar-se numa área adiada que revela a existência de uma preocupação que sempre se tem relacionado com a dimensão moral da educação”. É importante mencionar no âmbito da cidadania que esta não se restringe apenas a questões políticas e civis, como é tradicionalmente entendida. A cidadania plena engloba a ideia de que o indivíduo, entre outros direitos, tem acesso à saúde, à educação e ao trabalho decente. Neste contexto está patente a cidadania social. É possível encontrar uma alusão ao sentido de inclusão social na Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada a 10 de dezembro de 1948, onde encontramos, no seu primeiro artigo, a exaltação da igualdade de dignidade e direitos entre todas as pessoas. “Toda a pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição” (ONU, 1948). Há vários conceitos e inúmeros estudos sobre o tema, havendo entre eles uma linha que os une: a inclusão social revela um processo de conquista dos direitos por parte de diversos problemas sociais marginalizantes como pessoas portadoras de necessidades especiais, trabalho infantil, exploração e discriminação devido à raça, sexo, orientação sexual, etnia, prostituição e ainda questões relacionadas com a pobreza. De acordo com o Decreto-Lei nº 125/2011, tem, ente outras atribuições específicas
  • 6. 7 “Promover a coordenação das políticas de educação, ciência, qualificação e formação profissional com as políticas relativas à promoção e difusão da língua portuguesa e apoio à família, à inclusão social e ao emprego” (D. L nº 125/ 2011, de 29 de dezembro alínea c). Este ponto manifesta a necessidade da promoção da inclusão. A inclusão e os conceitos que lhe estão implícitos estão diretamente relacionados com o conceito de exclusão social. Falar da existência de pessoas incluídas implica a existência de pessoas excluídas. Segundo Braga (2010, p.3), a inclusão “ (...) insere-se nos grandes movimentos contra a exclusão social (...) tendo com princípio a defesa da justiça social, celebrando a diversidade humana”. Para enfrentar questões relacionadas com a exclusão social foi, então, necessário criar estratégias de inclusão social. Segundo Rodrigues (2003, p.9), “não é possível conceber uma escola inclusiva num `mar social` de exclusão”. Sassaki (como citado em Oliveira, Nogueira & Neves 2004, p.3) proporciona um excelente contributo na definição de inclusão social através do seu estudo sobre o tema: “inclusão social é um processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir, nos seus sistemas sociais gerais, pessoas com carências especiais e simultaneamente estas se preparam para assumir seus papéis na sociedade”. De acordo com outro autor, Stainback (1999), este movimento ganhou um grande impulso no início da década de noventa, com a reforma geral da educação, sendo a reestruturação da escola vista como um objetivo fundamental na reinserção dos alunos. Apesar do termo inclusão estar ligado a contextos dos jovens com deficiência, esse termo foi expandido, abarcando todas as dimensões que contemplam necessidades educativas: “a participação na construção de uma sociedade democrática em que a justiça, o respeito pelo outro e a equidade sejam os grandes princípios de ser e estar consigo e com os outros, será gerador de escolas verdadeiramente inclusivas” (Sanches & Teodoro, 2006, p.69). A LBSE (Lei nº46/86) enaltece os valores e direitos fundamentais existentes na lei portuguesa, dando ênfase aos princípios da integração socioeducativa a que o Decreto-Lei nº 319/96 vem configurar, considerando a “escola para todos” (D.L. 319/96,preâmbulo). O ato de incluir é oferecer a todos a oportunidade de acesso a bens e serviços, dentro de um sistema que beneficie toda gente e não apenas os mais favorecidos. Segundo Santos (2007, p. 50), “a concepção inclusiva representa, basicamente, uma filosofia de aceitação que se pretende concretizar na construção de um modelo de atendimento educativo onde todas as crianças, famílias e outros cidadãos possam ser
  • 7. 8 igualmente valorizados, respeitados e tratados equitativamente na escola”. A prática da inclusão social centra-se em valores sociais dos quais se destacam a aceitação das diferenças de cada pessoa, a valorização de cada indivíduo, a convivência e a aprendizagem através da cooperação. O processo de inclusão é aplicado em cada sistema social. Assim, existe a inclusão na educação, lazer, saúde, desporto, informática e música. A base da inclusão social é fundamentada nos conceitos de ética e justiça, e o seu ideal é o fomento da auto-estima, o desenvolvimento das relações sociais e a igualdade de oportunidades para todos os seres humanos, através da atuação de atividades comunitárias e culturais. Desta forma, e como referimos anteriormente, o conceito de inclusão social é construído na perspetiva da cidadania. No campo da educação, “a escola poderá cumprir melhor, e de outras formas mais adequadas, a sua função socializante e socializadora” (Santos, 2007, p.50). Um outro autor, Alarcão (2003) fala mesmo da multidimensionalidade da escola que ocupa uma dimensão construtiva, formativa, socializadora, democrática, multicultural e reflexiva. Segundo Nielson (1999), o que é pretendido com a inclusão escolar é que todos os alunos tenham direito e acesso a uma educação igual e de qualidade onde se respeite as suas necessidades e características. A escola assume-se como uma grande representante da inclusão social: “Ela constitui-se como espaço educativo, formativo, bem como de convivência e utilidade social (...)” (Madureira & Leite, 2003, p.18). Perante estas informações, é nosso objetivo analisar a representatividade das artes como veículo de inclusão social, analisando especificamente o caso da música. Inclusão social através da música A arte é um dos melhores meios da aplicação do processo de inclusão social uma vez que integra e inclui pessoas com privações (geralmente a nível financeiro) e afasta as diferenças. De acordo com Godoy (2002) “sem fronteiras, a arte não tem limites, não tem barreiras a não ser a do preconceito, da exclusão da injustiça”. E prossegue, “a arte desconhece diferenças, desconhece limites e por isso mesmo nos coloca a todos em pé de igualdade”. A música, como forma de arte, é um agente social de grande proficiência em questões de vivências humanas, educativas e sociais. Neste contexto, é considerada um excelente meio de inclusão social, constituindo um importante agente de intervenção em
  • 8. 9 diferentes campos de ação do desenvolvimento infantil. Como meio de inclusão social, o papel da música desempenha um papel central no “ resgate da dignidade e exercício da cidadania de crianças, adolescentes e adultos que de alguma forma estejam exclusos do convívio social e em situação de risco” (Salles, 2004, como citado em Oliveira, 2006, p.19). Segundo Oliveira (2006, p.19), “a cultura é vista como um importante meio de reconstrução da identidade sócio- cultural e a música está entre as atividades de significativo apelo para a realização de projetos sociais”. A música liberta as pessoas e poderá ajudá-las na orientação de boas escolhas: “A educação musical não deve visar à formação de possíveis músicos do amanhã, mas sim à formação integral das crianças de hoje” (Brito, 2001, p. 46). Muitos trabalhos na área têm revelado a importância da música na construção da identidade das crianças e adolescentes mais carenciados. Koellreutter (1997, como citado em Brito, 2001, p. 26) afirma que “a música é, em primeiro lugar, uma contribuição para o alargamento da consciência e para a modificação do homem e da sociedade”. A política de inclusão social utilizando a música como meio é um requisito já comprovado em inúmeros estudos para a diminuição da violência e o aumento da auto- estima dos envolvidos. O educador e pedagogo Snyders (1992), defende que a música a música é uma atividade criativa e integradora podendo contribuir como um importante recurso pedagógico: “a música serve de motivação, eleva a auto-estima, estimula áreas do cérebro, desenvolve a sensibilidade, a criatividade, a capacidade de concentração, o raciocínio lógico, a sociabilização” (Snyders,1992, como citado em Melo, 2008, p. 5) Além do desenvolvimento cognitivo e das aptidões individuais, as atividades musicais estimulam as pessoas nas competências de relacionamento com os outros. Como meio propício de relacionar pessoas, é capaz de incluir os alunos com mais dificuldades e necessidades (quer físicas, económicas ou sociais) entre o resto dos companheiros. Segundo a teoria das inteligências múltiplas de Gardner (1995), a música tem a competência de influenciar o homem a nível físico e mental, podendo vir a contribuir para a coerência pessoal, facilitando a integração e a inclusão social. A música apresenta-se, então, como uma componente fundamental na construção da cidadania onde as suas manifestações culturais são capazes de mudar determinadas realidades sociais.
  • 9. 10 Multiculturalismo Multiculturalismo é um movimento que “respeita a diversidade de modos de vida de cada sociedade, as suas características próprias, os seus valores éticos e a sua identidade cultural” (Lazzarin, 2006, p. 125). O Multiculturalismo compreende uma conceção da integração que “reconhece, por um lado, a multiplicidade dos grupos eteno-culturais (...) e por outro, a recepção (...) dessa mesma diversidade cultural” (Savidan, 2010, p.18). Este conceito, segundo Gonçalves e Silva (1998), surge em finais do séc. XIX, nos Estados Unidos, e difunde-se em toda a cultura ocidental como meio de combater a discriminação e preconceitos em relação aos grupos minoritários e a todo o espaço escolar. O movimento tem como vanguardistas George W. Williams, Carter G. Woodson, W. E. B. Dubois, Charles H. Wesley e St. Claire Drake que ergueram assuntos culturais e sociais fundamentados em argumentos científicos para que os grupos minoritários ambicionassem a igualdade pelos seus direitos. Segundo Almeida (2007), relaciona-se com áreas do saber como ciências humanas, filosofia, antropologia, pedagogia, sociologia, ciências políticas e história. De acordo com Luís Fernando Lazzarin, esta nova conceção da escola depara-se com três problemas: “ […] a diferença, o lugar da minoria em relação à maioria, a identidade e o seu reconhecimento”. Para essas três grandes problemáticas há pelo menos duas leituras: uma política, que contempla a questão da conquista de direitos políticos e sociais dentro de um Estado; outra antropológica, que evidencia uma análise eminentemente cultural, e contempla movimentos que não têm necessariamente uma base étnica, nacional ou política, mas um sentimento de identidade e valores comuns.” (Lazzarin, 2006, p. 126) O autor também refere que alguns teóricos de educação musical vêm esta aculturação como forma de definir identidades: “ […] o termo “multicultural” designa a característica de sociedades formadas por múltiplas comunidades culturais, que convivem entre si. Por “multiculturalismo” entendem-se certas abordagens de como os problemas e conflitos, gerados pela convivência entre essas comunidades “originais”, podem ser administrados” (Lazzarin, 2006, p. 122). Para Térren (2004, pp. 14-15), as escolas como fator de inclusão social, “devem desenvolver-se como espaços de oportunidades que podem fazer contrapeso frente ao incremento da associação da diversidade com a exclusão e frente às principais fontes de
  • 10. 11 segregação”, ou seja, o sistema educativo deve combater as disparidades dos vários grupos. Multiculturalismo e inclusão social encontram-se intimamente ligados já que o principal objetivo da multiculturalidade é a concretização da igualdade de oportunidades educativas para todas as crianças, independentemente da sua origem étnica, social, racial e do género. Nesta medida, a educação multicultural como fator de inclusão, rejeita e combate todo o tipo de descriminação e desigualdade, promovendo a partilha, a valorização e o respeito pela diversidade cultural, concedendo igualdade de oportunidades para todos os cidadãos. Educação multicultural é um “conjunto de estratégias organizacionais, curriculares e pedagógicas ao nível do sistema, de escola e de classe, cujo objectivo é promover a compreensão e tolerância entre indivíduos de origens étnicas diversas através da mudança de percepções e atitudes com base em programas curriculares que expressem a diversidade de culturas e estilos de vida” (Carrington como citado em Cardoso, 1996, p. 9). A educação multicultural exige que toda a escola, em conjunto, a nível administrativo e pedagógico, se estruture de modo a acolher a diversidade dos seus alunos e defendendo o pluralismo dos seus alunos, famílias e comunidades. Assim, esta educação deve passar pela escola que não pode ignorar a realidade multicultural atual dado que tem um papel crucial a desempenhar nos “processos de integração e de construção de uma cidadania para todos, como resposta à diversidade étnica e cultural de quantos a frequentam” (Conselho Nacional de Educação, 2000, p. 9). Deverá, portanto, a escola “promover uma educação para a cidadania, onde a progressiva autonomia, responsabilidade e capacidade crítica dos alunos se construa no respeito pelos valores fundamentais da cooperação, solidariedade e respeito mútuo” (Conselho Nacional de Educação, 2000, p. 143). A educação multicultural vê a escola como um sistema social que consiste em interligar as várias partes (Banks, 2005). “A educação multicultural e intercultural procura familiarizar as crianças com as realizações culturais, intelectuais, morais, artísticas, religiosas de outras culturas, principalmente das culturas não dominantes” (Maclaren, 1997, p. 16). Se as crianças se fecharem para a riqueza cultural da humanidade, perderão a capacidade de aprender e se humanizar. Em suma, pode dizer-se que a diversidade cultural germina a carência de interrogar e incitar debates sobre questões de preconceitos e discriminações, de forma a
  • 11. 12 fomentar a luta pela igualdade dos direitos de todos, para além das diferenças culturais e sociais. Exemplos Concretos El Sistema (Venezuela) e a Orquestra Geração (Portugal)1 Muitos são os estudos referentes à presença da música nas escolas como fator de evolução e de integração do ser humano, apesar de muitas vezes ser uma área desvalorizada nos currículos de estudo.2 No entanto, esta está presente em quase todas as experiências diárias do ser humano. Verifica-se que “a música e as [restantes] artes são uma das maiores manifestações do ser humano para pensar e aspirar inquietamente a algo mais do que a sobrevivência” (Abeles, Hoffer, & Klotman, 1995, p. 66). Neste contexto, verificada a relevância da música, é nossa pretensão evidenciar de que forma é que esta pode ser um fator de coesão nas sociedades. Gauthier e Tardiff (2010, p. 28) dizem-nos que a educação depende estritamente da cultura. Assim, sendo a música em todas as suas vertentes [é] um fator de cultura e de difusão de identidades, por exemplo nacionais e regionais, também ela em si, encerra diversidade, sobretudo através dos que a “fazem” (compositores e intérpretes). O caso mais evidente de sucesso na integração através da música é o designado o Sistema Nacional de Orquestras da Venezuela para crianças e jovens. El sistema, designação venezuelana, envolvia em 2001 (Abreu, 2001), cerca de 110.000 crianças/adolescentes venezuelanos. Estas crianças formam cerca de 120 orquestras de juventude, 60 orquestras de crianças e coros. O treino musical inicia-se aos 2 anos ensinando-os a ter disciplina, que assim torna a música clássica como base cultural para o efeito; o sistema disponibliza outras atividades como workshops em construção e arranjo de instrumentos. O sucesso deste projeto levou a que em 1975, José António Abreu fundasse a Orquestra Sinfónica Simón Bolívar e a Orquestra Sinfónica Nacional de Jovens (NSYO). 1 Para mais informações consultar os seguintes endereços eletrónicos: http://www.fesnojiv.gob.ve/es/inicio.html e http://www.orquestra.geracao.aml.pt/ respetivamente. 2 O Decreto Lei nº 139/2012 de 5 de julho desvaloriza as áreas artísticas, como música e EVT, em termos de carga horária.
  • 12. 13 Segundo Abreu, este projeto já foi descrito como “um movimento social de dimensões massivas, que funciona usando a música como o instrumento que faz a integração social de população venuzuelana (…)” (Abreu, 2001). Estudos posteriores à implemetação do programa revelam que os alunos obtêm melhores resultados em outras áreas do saber e adquirem uma vida social melhor. O reconhecimento do sistema a nível international deu-se entre 1993-94 por parte da UNESCO. Em 1998 UNDP cosiderou este projeto um exemplo de como combater a pobreza (Abreu, 2001). Na Europa passou a ser mais reconhecido no ano 2000 quando a orquestra se deslocou à Alemanha numa digressão. Portugal não é exceção à restante Europa e deixou-se encantar por este projeto seguindo-o. “Trata-se da importação de uma metodologia que tornou a Orquestra Simón Bolívar um dos exemplos internacionais mais relevantes de utilização da música como meio de favorecimento à inclusão social. (…) Começou por ser aplicado com uma criação de “orquestra geração” em bairros da Amadora, Vialonga e, mais recentemente, Sacavém e Camarate” (http://www.emcn.edu.pt/index.php/instituicao/apresentacao/historia/ [disponível em 20/11/201]). O projeto é uma política de descentralização da iniciação musical e começou a funcionar desde o ano letivo 2002/2003 com a colaboração das autarquias. É uma iniciativa da Comissão Diretiva da EMCN (Escola de Música do Conservatório Nacional) pela mão do Prof António Wagner Dinis. Funciona com a colaboração de maestros do Sistema Nacional das orquestras Juvenis e Infantis da Venezuela. Como já referimos, El Sistema, é o caso de maior sucesso em todo o mundo de um projeto de orquestra como fator de integração social. Alberto Arvelo, que também foi aluno deste projeto, e atual diretor do Instituto de Cinematografia Venezuelano, apresenta-nos, num documentário de 2006 – Tocar Y Luchar3 , as principais evidências do projeto e a sua amplitude. Personalidades do meio musical como Claudio Abbado referem-se ao projeto dizendo que “o mundo deveria usar a Venezuela como um exemplo” (Arvelo, 2006). O referido documentário, que é a base de investigação desta secção do trabalho ganhou prémios como “Melhor documentário Cine Las Americas” em Houston, entre outros. Sempre que o documentário for citado será com o nome do realizador e ano. 3 Ver Anexo 2, p. 6
  • 13. 14 O fundador do projeto, José António Abreu, no documentário refere-se ao mesmo como sendo um meio de explorar o íntimo dos destinatários. De facto, os destinatários do projeto, crianças de realidades sociais muito pobres (como evidenciam as imagens das suas casas) encontram-se através da música clássica. “É [assim] um encontro musical, humanitário e social e político, excecional” (Claudio Abbado em Arvelo, 2006). Durante o documentário também são apresentados testemunhos de seis crianças que usufruem das maravilhas do projeto. É o caso de Lila de 15 anos, proveniente de Paraíso (Caracas), diz que aprendeu que deve “tocar e lutar” por aquilo que ambiciona, ou seja, pela música e um futuro melhor (Arvelo, 2006). José António Abreu define a orquestra como “uma comunidade em que cada um dos indivíduos da mesma trabalha em equipa com um fim comum- a correção dos erros da sua sociedade” (Abreu em Arvelo, 2006). Gustavo Dudamel, um dos maestros de mais sucesso da atualidade, segundo Simon Rattle, considera-se uma prova viva do sucesso do projeto. “ [Na maioria das vezes] pensarmos que os programas sociais dão comida, alojamento, cuidados médicos, o que é importante para quem não o tem. Mas, alimentar a alma da gente providencia a forma dessa gente se alimentar, encontrando as necessidades básicas do homem. Quando as formas de vida interior, como na Venezuela, se expressam obtém-se a possibilidade dessas formas de vida poderem contribuir para melhorar a sociedade de maneira infinita” (Mark Churchill, Decano do Conservatório da nova Inglaterra em Boston em Arvelo, 2006). Abreu acrescenta que “a música deve ser reconhecida como um elemento de sociabilização pois transmite os mais altos valores sociais, como a solidariedade, a harmonia, a compaixão e a capacidade de uma comunidade se unir e expressar ” (Arvelo, 2006). Assim, na Venezuela, está em curso um projeto em que a “arte é uma empresa para maiorias começando nas minorias” (Abreu em Arvelo, 2006). Outra vertente do programa é a educação para crianças com necessidades especiais. Johnny Gómez, Diretor da Divisão Especial, refere que incorpora crianças com necessidades especiais como incapacidades visuais, auditivas e incapacidades motoras, com dificuldades da aprendizagem, autismo, deficiências cognitivas, para poder integrá-las na sociedade através da música.” Refere ainda que, inicialmente, não conseguiam perceber como uma pessoa com deficiências podia integrar um Conservatório ou o Sistema de Orquestras e que quebraram esse paradigma de que só alguém com bom ouvido é que poderia aprender música.
  • 14. 15 O chefe de naipe dos contrabaixos da orquestra de Berlim, Edicson Ruíz, que beneficiou do projeto, diz que quando entrou para a orquestra encontrou uma família e que aos olhos do resto do mundo o projeto venezuelano prova que a música pode tocar nas almas humanas e mudar o individuo, transformando todo o futuro através da música. Interroga ainda, que arte pode concretizar esse objetivo de melhor forma. Numa entrevista4 realizada no âmbito deste trabalho ao Professor Pedro Muñoz, Coordenador artístico-pedagógico da Orquestra Geração, verifica-se que, com a criação da Orquestra Simón Bolívar a sociedade Venezuelana melhorou. Para Pedro Muñoz esta orquestra é: “ [um] modelo de inclusão social pois desde a sua fundação há 38 anos abriu as suas portas a diferentes estratos sociais da sociedade, desde os grupos mais vulneráveis até às classes média e alta. Milhares de jovens venezuelanos tiveram e têm esta possibilidade de estudar música a custo zero, graças ao sistema das orquestras, transformando assim não só a suas vidas como as suas almas!!! É um modelo de inclusão social também porque as famílias são integradas no maravilhoso mundo da música através dos seus filhos com a sua presença em concertos, ganhando o gosto pela música clássica (Muñoz. 2013, p.3). Acrescenta também que: “devia ser um exemplo para outros países (…). Centenas de países já têm o sistema evidentemente adaptado à realidade de cada pais inclusive países do primeiro mundo onde a música clássica está desenvolvida a sua máxima expressão, tal é o caso da Alemanha ou Áustria” (Muñoz, 2013, p. 3). Como já foi referido Portugal implementou este modelo de educação através da Orquestra Geração. Pedro Muñoz afirma existirem obstáculos na implementação do projeto, contudo, apesar das dificuldades o projeto dispõe de alguns apoios devido à sua taxa de sucesso que segundo o entrevistado: “é extraordinário, mostra disso são os reconhecimentos da sociedade e as numerosas solicitações que temos para crescer e criar novas orquestras nas escolas do país, facto que não tem sido possível por diversas razões não só económicas como também de logística e de recursos humanos” (Muñoz, 2013, p. 5). “Como primeiro apoio que dispõe é a Escola de Música do Conservatório Nacional como impulsionador e controlador do sistema pedagógico do projeto. A seguir temos a escolas onde o projeto funciona acompanhado do apoio das Câmaras municipais de cada zona onde funciona e, evidentemente, como principal apoio, o ministério da educação que é responsável pela contratação dos aproximadamente 70 professores do projeto, que atualmente funciona na área metropolitana de Lisboa, em 12 escolas, uma em Coimbra e três no norte do país, Amarante, Mirandela e Murça. O projeto tem também o apoio da Fundação Gulbenkian, EDP, PT e algumas outras entidades” (Muñoz, 2013, p. 4). 4 Ver anexo 1, pp. 2-5
  • 15. 16 É direcionado para alunos em idade escolar e: “os alunos não só gostam do projeto, como o adoram pois além de terem a oportunidade de aprender a tocar um instrumento e fazer música, têm um convívio constante com os seus colegas, fazem concertos em diversas salas do país, conhecem escolas de música, maestros e músicos profissionais (…) (Muñoz, 2013, p. 4). Quanto ao elemento fulcral do nosso trabalho Pedro Muñoz diz que: “a orquestra, em termos sociais, tem uma integração muito importante na sociedade onde se desenvolve (…). É de sublinhar que este projeto é integrado por uma série de crianças, filhos de emigrantes cabo-verdianos, angolanos e outros, portanto no repertório que faz a orquestra geração, além do clássico tradicional, incluímos uma série de peças que fazem parte da identidade cultural de cada uma destas nacionalidades” (Muñoz, 2013, p. 4). Outra dimensão da música implícita no projeto “Orquestra Geração” é a multiculturalidade, também dimensão sociológica como já vimos. Desta forma o projeto abraça crianças de meios desfavorecidos de diferentes origens culturais – desde filhos de emigrantes cabo-verdianos, a angolanos e os próprios portugueses, tal como nos indica Muñoz: “A orquestra em termos sociais tem uma integração muito importante na sociedade onde se desenvolve, no bairro onde habitam os seus elementos, nas famílias em que nela participam. É de sublinhar que este projeto é integrado por uma série de crianças filhos de emigrantes cabo-verdianos, angolanos e outros, portanto, no repertório que faz a orquestra geração além do clássico tradicional incluímos uma série de peças que fazem parte da identidade cultural de cada uma destas nacionalidades. O orgulho das famílias mostra um dos principais sucessos deste projeto” (Muñoz, 2013, p. 4).
  • 16. 17 Conclusão Os pressupostos da inclusão social radicam na necessidade de se conciliar o desenvolvimento económico e social do indivíduo, apelando ao confronto contra qualquer tipo de descriminação, quer de etnia, sexo, idade ou religião. Consequentemente assume-se a construção de uma comunidade mais equitativa. Também o multiculturalismo abarca esta dimensão inclusiva, proporcionando a convivência de diferentes culturas e tradições. Esta conceção social é o objetivo do Sistema de Orquestras Venezuelano que torna a música um veículo cognitivo, cultural e humanizante (segundo Abreu, 2001). Assim, está em curso, na Venezuela, um projeto em que a “arte é uma empresa para maiorias começando nas minorias” (Abreu em Arvelo, 2006) como crianças com necessidades especiais e provenientes de realidades socioeconómicas desfavorecidas. Através da disciplina da orquestra, as crianças são educadas em valores musicais, humanitários e sociais. A proficuidade deste projeto social é de tal forma amplo que foi adotado por outros países como Portugal com a criação da Orquestra Geração funcionando na área metropolitana de Lisboa com doze escolas, uma em Coimbra e três no Norte do País. Outra dimensão deste projeto é a sua componente multicultural tal como nos indica o Professor Pedro Muñoz. Este refere que a escolha do repertório “vai desde a música clássica tradicional até uma série de peças que fazem parte da identidade cultural de cada uma destas nacionalidades” (cabo-verdianos e angolanos por exemplo) (2013, p. 4). Assim, verifica-se o poder da música e da orquestra como “um instrumento social de largo espectro e profunda proficuidade no cerne da alma e das vivências humanas, espirituais, educativas e sociais” (Silva, 2010, p. 7).
  • 17. 18 Referências Bibliográficas: Alarcão, I. (2003). Professores Reflexivos em uma Escola Reflexiva. São Paulo: Cortez. Abeles, H., Hoffer, C. R., & Klotman, R. H. (1995). Foundations of Music Education. New York: Schirmer Books. Banks, J. A. & Banks, C. A. M. (2005). Multicultural Education - Issues and Perspectives (5ª Edição ed.). United States Of America: Wiley Jossey - Bass Education. Braga, C. (2010). Perturbações do Espectro do Autismo e Inclusão: atitudes e representações dos pais, professores e educadores de infância. (Tese de Mestrado não publicada) Universidade do Minho, Braga. Brito, T.A. (2001). Koellreutter educador. O humano como objetivo da educação musical. São Paulo: Editora Fundação Peirópolis Ltda. Cardoso, C. M. (1996). Educação Multicultural - Percursos para Práticas Reflexivas (1ª Edição ed.). Lisboa: Texto editora, LDA. Educação, C. N. (15 de Setembro 2000). Educação Intercultural e Cidadania. Lisboa: Edição do Conselho Nacional de Educação - Ministério da Educação. Rodrigues, D. (Org.) (2003). Perspectivas sobre Inclusão. Da Educação à Sociedade. Porto: Porto Editora. p. 9. Gardner, H. (1995) Inteligências Múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre: Artes Médicas. Gauthier. C. & Tardif, Maurice (2010). A pedagogia – Teorias e práticas da Antiguidade aos nossos dias. Petrópolis: Editora Vozes Gonçalves, L. A. O. & Silva, P. B. G (1998). O Jogo das diferenças: o multiculturalismo e seus contextos. Belo Horizonte: Autêntica. Madureira, I. P. & Leite, T. S. (2003). Necessidades Educativas Especiais. Lisboa: Universidade Aberta. Mclaren, P. (1997). A Vida nas Escolas: Uma introdução à pedagogia crítica nos fundamentos da educação. Porto Alegre: Artes médicas. Melo, L. R. C. (2008). A música: Um caminho para o desenvolvimento do deficiente intelectual. Universidade Estadual de Londrina. Muñoz, P. (2013) Entrevista Concedida por e-mail . 5 de fevereiro de 2013. (Anexo II, pp. 2-5) Nielsen L. B. (1999) - Necessidades educativas especiais na sala de aula – Um guia para professores: Porto Editora. Lazzarin, L. F. (2006). A dimensão multicultural da nova filosofia da educação musical. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 14, março, 2006. Oliveira, L., Nogueira, C., Neves, M. (2004). Assistência e inclusão social das pessoas portadoras de deficiência: a complexidade da questão. VIII Congresso Luso- Brasileiro de Ciências Sociais. Coimbra: FEUC. Oliveira, I. (2006). A questão ética frente às diferenças: a problemática da ética da diferença e da exclusão social: um olhar dusseliano. Rio de Janeiro: Ed. Vozes. Pacheco, J. A. (2008). Estrutura Curricular do sistema educativo português.In J. A. Pacheco. Organização Curricular Portuguesa. (pp:11-52). Porto: Porto Editora. Pacheco, J. A. (2000, Julho/ Dezembro). A educação para a cidadania: o espaço curricularmente adiado. Revista Teias. Rio de Janeiro.
  • 18. 19 Reimer, B. (1970). A Philosophy pf Music Education. New Jersey: Prentice-Hall . Rodrigues, D. (2003). Perspectivas sobre Inclusão. Da Educação à Sociedade. Porto: Porto Editora. Sanches,I. & Teodoro, A. (2006). Da integração à inclusão escolar: cruzando perspectivas e conceitos. Revista Lusófona da Educação. Santos, B. R. (2007). Comunidade Escolar e Inclusão - Quando Todos Ensinam e Aprendem com Todos. Lisboa: Horizontes Pedagógicos. Salles, I. (1999). Educação Popular: uma perspectiva, um modo de atuar. Paraíba: Editora Universitária/UFPB. Sassaki, R. (1997) Inclusão construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: Editora WVA. Savidan, P. (Julho de 2010). O Multiculturalismo. Portugal: Publicações Europa América, LDA. Silva, E. (2010). A Orquestra como instrumento dinamizador de meios desfavorecidos. (Tese de Mestrado não publicada). Universidade de Aveiro, Aveiro Snyders, G. (1992). A escola pode ensinar as alegrias da música?. São Paulo: Cortez. Stainback, S. & Stainback, W. (1999). Inclusão: um guia para educadores. Trad. Magda França Lopes. Porto Alegre: Artes Médicas Terrén, E. (2004). Incorporación o asimilación. La escuela como espacio de inclusión social, Madrid: Catarata. Referências da Internet: Abreu, J. A. (2001). The Right Livelihood award – for outstanding vision and work on behalf of our planet and its people. Recuperado em 27/12/2012 de http://www.rightlivelihood.org/abreu.html http://www.emcn.edu.pt/index.php/instituicao/apresentacao/historia/ [disponível em 20/11/201] Almeida, C. M. G. (2007). Diversidade Cultural e Formação de Professores: um estudo com Licenciandos. In: XVII CONGRESSO DA ANPPOM, São Paulo, UNESP, 2007. Recuperado em 01/01/2013 Disponível em: http://www.anppom.com.br/anais/anaiscongresso_anppom_2007 Declaração Universal dos Direitos Humanos, Artigo II, de 10 de Dezembro de 1948. Recuperado em 20/02/2013. Disponível em: www.forma-te.com/.../16859-direitos- humanos.html. Godoy, A. (2002) A. Arte jornada para as estrelas. Anais V Congresso Nacional de Arte- Educação na Escola para todos. Brasília. Recuperado em 20/02/2013. Disponível em: http://www.arteducacao.pro.br/Artigos/anais.htm Referências Videográficas: Arvelo, A. (2006) [documentário DVD]. Tocar Y Luchar. Venezuela: FESNOJIV
  • 19. 20 Referências Legislativas Decreto Lei no 125/2011, de 29 de Dezembro. Decreto Lei nº 319/96, de 30 de Julho. LBSE, Lei nº 46/86
  • 21. ii Anexo 1 Entrevista ao Professor Pedro Muñoz
  • 22. iii Mestrado em Ensino Música Sociologia da Educação e Profissão Docente Professor Doutor Manuel António Ferreira da Silva Trabalho de Grupo: Entrevista sobre a Orquestra como meio de Inclusão Social ao Professor Pedro Muñoz: 1. Tendo usufruído do sistema de orquestras venezuelano, qual a sua opinião sobre o mesmo? O sistema de Orquestras da Venezuela é uma revolução musical não só neste país se não a nível internacional. Hoje em dia é reconhecido como tal por eminentes personalidades da música a nível mundial, Sir Simon Ratle, Plácido Domingo, Claudio Abbado e muitíssimos outros que têm conhecido e trabalhado com as orquestras da Venezuela. O futuro da música passa indiscutivelmente pelas orquestra da Venezuela, pois a forma como é desenvolvido o trabalhado e a intensidade do mesmo fazem dele um modelo único e com resultados espantosos, hoje em dia reconhecido a nível internacional através de diversos músicos venezuelanos, tal é o caso do jovem Gustavo Dudamel maestro de Los Angeles Philarmonic , Edicson Ruiz contrabaixista da Filarmónica de Berlim ou Diego Matheuz director do Teatro La Fenice de Veneza. Mais Informações do sistema da Venezuela em: http://www.fesnojiv.gob.ve/es/inicio.html 2. Considera a Orquestra Simon Bolivar um exemplo de inclusão social? Porquê? Absolutamente é um modelo de inclusão social pois desde a sua fundação há 38 anos abriu as suas portas a diferentes estratos sociais da sociedade, desde os grupos mais vulneráveis até às classes média e alta. Milhares de jovens venezuelanos tiveram e têm esta possibilidade de estudar música a custo zero, graças ao sistema das orquestras, transformando assim não só a suas vidas como as suas almas!!! É um modelo de inclusão social também porque as famílias são integradas no maravilhoso mundo da música através dos seus filhos com a sua presença em concertos, ganhando o gosto pela música clássica. As famílias são orgulhosas dos seus filhos músicos. 3. Acha que deve ser um exemplo para outros países? Não só acho que devia ser um exemplo para outros países pois de facto já o sistema está implantado em muitos países da América do sul, América Central e Europa. Centenas de países já têm o sistema evidentemente adaptado à realidade de cada país inclusive países do primeiro mundo onde a música clássica está desenvolvida a sua máxima expressão, tal é o caso da Alemanha ou Áustria.
  • 23. iv 4. Em que medida surgiu o projeto da Orquestra Geração? O projeto Geração surgiu em Portugal em 2007 na medida de criar a possibilidade, a alunos dos subúrbios da área metropolitana de Lisboa, de estudar música a custo zero e sem necessidade de transportar-se ao centro da cidade. 4.1 Em que consiste? Informações e pormenores do projeto Geração no site da orquestra Geração.... http://www.orquestra.geracao.aml.pt/ 4.2 Que tipos de obstáculos surgem na implementação do projeto? Os obstáculos que se impõem são normalmente aqueles que todo novo projeto tem quando se quer aplicar numa sociedade, quebrando até certo ponto com a tradição e os mecanismos tradicionais do ensino da música. Por exemplo afirmações de como será possível que uma criança se possa sentar numa orquestra sem saber ler música e sem ter tido aulas de instrumentos individuais??? Pois é... Às vezes convencer alguns professores de que este sistema pode funcionar pois o sistema de estudo dele próprio foi completamente diferente a este, não [quer dizer] melhor nem pior mas sim Diferente...uma das mais-valias que têm o sistema de Venezuela é que o 100% dos seus professores são formados no próprio sistema e conhecem todos os aspetos positivos mas também os erros que foram cometidos e serviram para melhorar o próprio sistema… 4.3 Que mecanismos de apoio o projeto dispõe? Como primeiro apoio que dispõe é a Escola de Música do Conservatório Nacional como impulsionador e controlador do sistema pedagógico do projeto. A seguir temos a escolas onde o projeto funciona acompanhado do apoio das Câmaras municipais de cada zona onde funciona e, evidentemente, como principal apoio, o ministério da educação que é responsável pela contratação dos aproximadamente 70 professores do projeto, que atualmente funciona na área metropolitana de Lisboa, em 12 escolas, uma em Coimbra e três no norte do país, Amarante, Mirandela e Murça. O projeto tem também o apoio da Fundação Gulbenkian, EDP, PT e algumas outras entidades. 4.4 É direcionado para que género de alunos? O projeto está direcionado para alunos em idade escolar até o secundário. 4.5 Os alunos gostam? Os alunos não só gostam do projeto, como o adoram pois além de terem a oportunidade de aprender a tocar um instrumento e fazer música, têm um convívio constante com os seus colegas, fazem concertos em diversas salas do país, conhecem escolas de música, maestros e músicos profissionais, enfim, uma série de atividades sumamente variadas. 4.6 Pode ser considerado um bom exemplo de inclusão social? Porquê? 4.7 Qual o maior benefício da orquestra em termos sociais (realização humana dos alunos)? A orquestra em termos sociais tem uma integração muito importante na sociedade onde se desenvolve, no bairro onde habitam os seus elementos, nas famílias em que nela participam. É de sublinhar que este projeto é integrado por uma série de crianças filhos de emigrantes cabo- verdianos, angolanos e outros, portanto, no repertório que faz a orquestra geração além do clássico tradicional incluímos uma série de peças que fazem parte da identidade cultural de cada uma destas nacionalidades. O orgulho das famílias mostra um dos principais sucessos deste projeto.
  • 24. v 4.8 Qual a taxa de sucesso do projeto? A taxa de sucesso do projeto é extraordinário, mostra disso são os reconhecimentos da sociedade e as numerosas solicitudes que temos para crescer e criar novas orquestras nas escolas do país, facto que não têm sido possível por diversas razões não só económicas como também de logística e de recursos humano. Obrigada pela colaboração Carla Marques Sara Vilaça Vânia Fontão
  • 25. vi Anexo 2 Arvelo, A. (2006) [documentário DVD]. Tocar Y Luchar. Venezuela: FESNOJIV