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Metacognição: Um Apoio ao Processo de Aprendizagem1
Sabe-se que em termos de realização escolar, para além da utilização de estratégias, é importante o conhecimento sobre
quando e como utilizá-las, sobre a sua utilidade, eficácia e oportunidade. A este conhecimento, bem como à faculdade de planificar,
de dirigir a compreensão e de avaliar o que foi aprendido, Flavell atribuiu a designação de metacognição2.
Alguns autores concluiram que os bons alunos são mais aptos tanto na utilização de estratégias para adquirir, organizar e
utilizar o seu conhecimento, como na regulação do seu progresso cognitivo. Deste modo, pode dizer-se que o interesse em torno
desta temática advém, por um lado, da identificação de um papel determinante na eficácia de certos comportamentos. Por
exemplo, observou-se que os sujeitos eficientes na execução de tarefas acadêmicas possuíam também competências
metacognitivas bem desenvolvidas, pois demonstraram compreender a finalidade da tarefa, planificar a sua realização, aplicar e
alterar conscientemente estratégias de estudo e avaliar o seu próprio processo de execução (Flavell & Wellman, 1977).
Apesar do termo metacognição ser relativamente recente na literatura. Entrou em voga por volta dos anos 1970, sendo
introduzido na Psicologia por Flavell ., já desde o início do século que pedagogos e psicólogos (Dewey, 1910; Huey, 1908, 1968;
Thorndike, 1917, citados em Brown, 1987) demonstraram estar conscientes de que o estudo e a leitura envolvem um tipo de
atividades agora denominadas de metacognitivas. Por exemplo, podemos encontrar nas idéias de Thorndike aspectos relacionados
com o que é atualmente considerado metacognição. Segundo este autor, ler um parágrafo é resolver um problema, pois consiste na
seleção dos elementos certos da situação e a sua colocação nas relações certas. O sujeito deve levar a cabo determinadas
atividades, como por exemplo: selecionar, dominar, enfatizar, correlacionar e organizar, sob a orientação de um objetivo ou
exigência/requisito. Cavanaugh e Perlmutter (1982) referem ainda o trabalho de Baldwin (1909), autor que utilizava os
questionários introspectivos para examinar as estratégias de estudo, como o precursor do auto conhecimento dos processos de
pensamento e resultados das realizações.
Contudo, apesar do contributo de muitos teóricos e investigadores para a compreensão da metacognição e da sua relação com a
aprendizagem (Lefebvre-Pinard & Pinard, 1985; Pressley, 1986), ocupam lugar de destaque, nesta área, os trabalhos desenvolvidos
por John Flavell, Ann Brown e colaboradores.
Demonstrou-se também que a metacognição exerce influência em áreas fundamentais da aprendizagem escolar, tais como,
na comunicação e compreensão oral e escrita e na resolução de problemas, constituindo assim, um elemento chave no processo de
aprender a aprender. (Valente, Salema, Morais & Cruz, 1989).
Segundo Brown (1978), o reconhecer a dificuldade na compreensão de uma tarefa, ou tornar-se consciente de que
não se compreendeu algo, é uma habilidade que parece distinguir os bons dos maus leitores. Os primeiros sabem
avaliar as suas dificuldades e/ou ausências de conhecimento, o que lhes permite, nomeadamente, superá-las, recorrendo, muitas
vezes, a inferências feitas a partir daquilo que sabem. Esta autora chama, assim, a atenção para a importância do conhecimento,
não só sobre aquilo que se sabe, mas também, sobre aquilo que não se sabe, evitando assim, o que designa de ignorância
secundária não saber que não se sabe.
Esclarecimento da Noção de Metacognição
Apesar de ser reconhecida a importância da metacognição no processo de aprendizagem, parece não existir ainda uma
definição unívoca. Uma breve incursão pela literatura nos leva de imediato a refletir sobre dois aspectos: por um lado, a dificuldade
em estabelecer a distinção entre o que é meta e o que é cognitivo e, por outro, parece gerar alguma confusão a utilização de um
termo singular para um problema multifacetado (Brown, 1987).
Um domínio onde este problema parece estar acentuado é no da leitura e, por conseguinte, do estudo. De acordo com
Flavell (1976), o auto-questionamento sobre um texto pode funcionar não apenas para aumentar o seu conhecimento (função
cognitiva), mas também para o monitorizar (função metacognitiva). Esta afirmação demonstra a inter-relação das funções cognitivas
e metacognitivas, isto é, uma determinada atividade pode ser vista como uma estratégia (olhar para os pontos principais), possuir
uma função de monitorização (uma atividade metacognitiva), e ser uma reflexão sobre o conhecimento (também uma atividade
metacognitiva) (Brown, 1987).
As experiências metacognitivas prendem-se com o foro afetivo e consistem em impressões ou percepções conscientes que
podem ocorrer antes, durante ou após a realização de uma tarefa. Geralmente, relacionam-se com a percepção do grau de sucesso
que se está a ter e ocorrem em situações que estimulam o pensar cuidadoso e altamente consciente, fornecendo oportunidades
para pensamentos e sentimentos acerca do próprio pensamento.
Deste modo, podemos falar em experiência metacognitiva, sempre que é experienciada uma dificuldade, uma falta de
compreensão, um sentimento de que algo está correndo mal (Ex.: se alguém tem subitamente o sentimento de ansiedade, porque
não está a compreender algo, mas que necessita e quer compreender, este sentimento poderia ser denominado de experiência
metacognitiva). Estas experiências são importantes, pois é, sobretudo, através delas que o aprendiz pode avaliar as suas
dificuldades e, consequentemente, desenvolver meios de as superar.

1

Resumo a partir do artigo: Metacognição: Um Apoio ao Processo de Aprendizagem Célia Ribeiro. Psicologia: Reflexão e Crítica, 2003, 16(1), pp. 109116
2
Etimologicamente, a palavra metacognição significa para além da cognição, isto é, a faculdade de conhecer o próprio ato de conhecer, ou, por outras
palavras, consciencializar, analisar e avaliar como se conhece.
Podemos assim considerar, tal como Flavell (1987), que o conhecimento metacognitivo e as experiências metacognitivas estão
interligados, na medida que o conhecimento permite interpretar as experiências e agir sobre elas. Estas, por sua vez, contribuem
para o desenvolvimento e a modificação desse conhecimento.

Conceitos fundamentais no desenvolvimento da inteligência e da capacidade de aprendizagem3
Hereditariedade: herdamos um organismo que amadurece em contato com o meio ambiente, uma série de
estruturas biológicas que favorecem o aparecimento das estruturas mentais. Como conseqüência inferimos que a qualidade
da estimulação interferirá no processo de desenvolvimento da inteligência.
Adaptação: possibilita ao indivíduo responder aos desafios do ambiente físico e social. Dois processos compõem a
adaptação, ou seja, a assimilação (uso de uma estrutura mental já formada) e a acomodação (processo que implica a
modificação de estruturas já desenvolvidas para resolver uma nova situação).
Os esquemas: constituem a nossa estrutura básica. Podem ser simples, como por exemplo, uma resposta
específica a um estímulo-sugar o dedo quando ele encosta nos lábios, ou, complexos, como o modo de solucionarmos
problemas matemáticos. Os esquemas estão em constante desenvolvimento e permitem que o indivíduo se adapte aos
desafios ambientais.
Equilibração das estruturas cognitivas: o desenvolvimento consiste em uma passagem constante de um estado de
equilíbrio para um estado de desequilíbrio. É um processo de auto regulação interna. O desequilíbrio é fundamental, pois, o
sujeito buscará novamente o reequilíbrio, com a satisfação da necessidade, daquilo que ocasionou o desequilíbrio.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Acomoda%C3%A7%C3%A3o_(Piaget)

CONCEPÇÕES EPISTEMOLÓGICAS DE CONHECIMENTO
“A epistemologia tem grande importância para a educação, já que a questão de como são
formados os conhecimentos está profundamente vinculada à questão de ensino.
Os métodos de ensino dependem sempre de concepções epistemológicas, que em alguns casos
são explícitas e em outros não, mas que estão sempre presentes.” Juan delval
INATISMO / APRIORISMO: Para os teóricos Inatistas, como Chomsky, as crianças já nascem com tudo que precisam na sua
estrutura biológica para se desenvolver. Nada é aprendido no ambiente, e sim apenas disparado por este. No modelo apriorista o
professor acredita que o aluno não precisa muito de sua mediação, pois a aprendizagem depende de um processo maturacional.
O aluno já vem com o conhecimento. O professor interfere o mínimo possível. É o regime laisse-faire: deixa fazer que ele
encontrará seu caminho. Um grande problema desse modelo é que o professor não acredita na superação das dificuldades do
aluno, pois ele nasceu com suas estruturas prontas.
EMPIRISTA / AMBIENTALISTAS: Para os teóricos Empiristas, como Skinner, as crianças nascem como tábulas rasas, que vão
aprendendo tudo do ambiente por processos de imitação ou reforço. No modelo empirista o professor usa a metodologia do falar,
explicar e o aluno ouvir. O aluno apenas escuta a explicação verbal do conteúdo. Após o professor passa alguns exercícios para
fixação daquilo que ele explicou. Exercícios que exigem apenas a reprodução de conteúdos. Nessa sala de aula nada de novo
acontece. Os alunos irão apenas repetir verdades prontas e acabadas.
INTERACIONISTAS / SÓCIO-INTERACIONISTAS: Para os teóricos Construcionistas, tendo como ícone Piaget, o desenvolvimento é
construído a partir de uma interação entre o desenvolvimento biológico e as aquisições da criança com o meio. Trata da relação
dialética do conhecimento – interação sujeito e objeto. O conhecimento é obra da ação interiorizada do sujeito no
interacionismo o conhecimento não tem origem no sujeito, nem no objeto, mas nas relações de interação que o sujeito
estabelece com o objeto de seu interesse. A aprendizagem é um processo ativo em que o sujeito pensa, coordena suas ações,
constrói e reconstrói esquemas de assimilação. A escola tem papel importante para o desenvolvimento do sujeito, pois pode
oferecer interações significativas e quanto maior for a interação do sujeito com o mundo, melhor será o desenvolvimento de seu
conhecimento.

Recortes a partir de textos: Jean Piaget (Seis Estudos de Psicologia 24 – 65) , Fernando Becker (Da Ação à Operação: o Caminho da Aprendizagem
22 - 31); Fernando Becker (Aprendizagem e Conhecimento Escolar 7 - 23);
3

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Esta afirmação demonstra a inter-relação das funções cognitivas e metacognitivas, isto é, uma determinada atividade pode ser vista como uma estratégia (olhar para os pontos principais), possuir uma função de monitorização (uma atividade metacognitiva), e ser uma reflexão sobre o conhecimento (também uma atividade metacognitiva) (Brown, 1987). As experiências metacognitivas prendem-se com o foro afetivo e consistem em impressões ou percepções conscientes que podem ocorrer antes, durante ou após a realização de uma tarefa. Geralmente, relacionam-se com a percepção do grau de sucesso que se está a ter e ocorrem em situações que estimulam o pensar cuidadoso e altamente consciente, fornecendo oportunidades para pensamentos e sentimentos acerca do próprio pensamento. Deste modo, podemos falar em experiência metacognitiva, sempre que é experienciada uma dificuldade, uma falta de compreensão, um sentimento de que algo está correndo mal (Ex.: se alguém tem subitamente o sentimento de ansiedade, porque não está a compreender algo, mas que necessita e quer compreender, este sentimento poderia ser denominado de experiência metacognitiva). Estas experiências são importantes, pois é, sobretudo, através delas que o aprendiz pode avaliar as suas dificuldades e, consequentemente, desenvolver meios de as superar. 1 Resumo a partir do artigo: Metacognição: Um Apoio ao Processo de Aprendizagem Célia Ribeiro. Psicologia: Reflexão e Crítica, 2003, 16(1), pp. 109116 2 Etimologicamente, a palavra metacognição significa para além da cognição, isto é, a faculdade de conhecer o próprio ato de conhecer, ou, por outras palavras, consciencializar, analisar e avaliar como se conhece.
  • 2. Podemos assim considerar, tal como Flavell (1987), que o conhecimento metacognitivo e as experiências metacognitivas estão interligados, na medida que o conhecimento permite interpretar as experiências e agir sobre elas. Estas, por sua vez, contribuem para o desenvolvimento e a modificação desse conhecimento. Conceitos fundamentais no desenvolvimento da inteligência e da capacidade de aprendizagem3 Hereditariedade: herdamos um organismo que amadurece em contato com o meio ambiente, uma série de estruturas biológicas que favorecem o aparecimento das estruturas mentais. Como conseqüência inferimos que a qualidade da estimulação interferirá no processo de desenvolvimento da inteligência. Adaptação: possibilita ao indivíduo responder aos desafios do ambiente físico e social. Dois processos compõem a adaptação, ou seja, a assimilação (uso de uma estrutura mental já formada) e a acomodação (processo que implica a modificação de estruturas já desenvolvidas para resolver uma nova situação). Os esquemas: constituem a nossa estrutura básica. Podem ser simples, como por exemplo, uma resposta específica a um estímulo-sugar o dedo quando ele encosta nos lábios, ou, complexos, como o modo de solucionarmos problemas matemáticos. Os esquemas estão em constante desenvolvimento e permitem que o indivíduo se adapte aos desafios ambientais. Equilibração das estruturas cognitivas: o desenvolvimento consiste em uma passagem constante de um estado de equilíbrio para um estado de desequilíbrio. É um processo de auto regulação interna. O desequilíbrio é fundamental, pois, o sujeito buscará novamente o reequilíbrio, com a satisfação da necessidade, daquilo que ocasionou o desequilíbrio. http://pt.wikipedia.org/wiki/Acomoda%C3%A7%C3%A3o_(Piaget) CONCEPÇÕES EPISTEMOLÓGICAS DE CONHECIMENTO “A epistemologia tem grande importância para a educação, já que a questão de como são formados os conhecimentos está profundamente vinculada à questão de ensino. Os métodos de ensino dependem sempre de concepções epistemológicas, que em alguns casos são explícitas e em outros não, mas que estão sempre presentes.” Juan delval INATISMO / APRIORISMO: Para os teóricos Inatistas, como Chomsky, as crianças já nascem com tudo que precisam na sua estrutura biológica para se desenvolver. Nada é aprendido no ambiente, e sim apenas disparado por este. No modelo apriorista o professor acredita que o aluno não precisa muito de sua mediação, pois a aprendizagem depende de um processo maturacional. O aluno já vem com o conhecimento. O professor interfere o mínimo possível. É o regime laisse-faire: deixa fazer que ele encontrará seu caminho. Um grande problema desse modelo é que o professor não acredita na superação das dificuldades do aluno, pois ele nasceu com suas estruturas prontas. EMPIRISTA / AMBIENTALISTAS: Para os teóricos Empiristas, como Skinner, as crianças nascem como tábulas rasas, que vão aprendendo tudo do ambiente por processos de imitação ou reforço. No modelo empirista o professor usa a metodologia do falar, explicar e o aluno ouvir. O aluno apenas escuta a explicação verbal do conteúdo. Após o professor passa alguns exercícios para fixação daquilo que ele explicou. Exercícios que exigem apenas a reprodução de conteúdos. Nessa sala de aula nada de novo acontece. Os alunos irão apenas repetir verdades prontas e acabadas. INTERACIONISTAS / SÓCIO-INTERACIONISTAS: Para os teóricos Construcionistas, tendo como ícone Piaget, o desenvolvimento é construído a partir de uma interação entre o desenvolvimento biológico e as aquisições da criança com o meio. Trata da relação dialética do conhecimento – interação sujeito e objeto. O conhecimento é obra da ação interiorizada do sujeito no interacionismo o conhecimento não tem origem no sujeito, nem no objeto, mas nas relações de interação que o sujeito estabelece com o objeto de seu interesse. A aprendizagem é um processo ativo em que o sujeito pensa, coordena suas ações, constrói e reconstrói esquemas de assimilação. A escola tem papel importante para o desenvolvimento do sujeito, pois pode oferecer interações significativas e quanto maior for a interação do sujeito com o mundo, melhor será o desenvolvimento de seu conhecimento. Recortes a partir de textos: Jean Piaget (Seis Estudos de Psicologia 24 – 65) , Fernando Becker (Da Ação à Operação: o Caminho da Aprendizagem 22 - 31); Fernando Becker (Aprendizagem e Conhecimento Escolar 7 - 23); 3