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América do Norte, 1775.América do Norte, 1775.
Quando o pai de Madeline Oxley informou-a de que Adam Coats a pedira emQuando o pai de Madeline Oxley informou-a de que Adam Coats a pedira em
casamento, ela pensou que fosse um sonho. Afinal, sempre acreditara que Adam fossecasamento, ela pensou que fosse um sonho. Afinal, sempre acreditara que Adam fosse
apaixonado por Diana, sua irmã!apaixonado por Diana, sua irmã!
Feliz, Madeline viajou ao encontro de Adam. Mas ao chegar à América descobriu queFeliz, Madeline viajou ao encontro de Adam. Mas ao chegar à América descobriu que
tudo não passara de um plano maquiavélico de seu pai.tudo não passara de um plano maquiavélico de seu pai.
Desolada, Madeline resolveu voltar para casa; porém, para sua surpresa,Desolada, Madeline resolveu voltar para casa; porém, para sua surpresa,
Adam decidiu que ela deveria ficar e se casar com ele!Adam decidiu que ela deveria ficar e se casar com ele!
Mas qual seria a verdadeira razão para ele ter mudado de idéia?Mas qual seria a verdadeira razão para ele ter mudado de idéia?
Doação:Doação: Valeria®Valeria®
Digitalização:Digitalização: Joyce®Joyce®
Revisão:Revisão: Savoy®Savoy®
Título Original: Adam's Promise
Julianne MacLeanJulianne MacLean
Marcas do DestinoMarcas do Destino
Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino
PPRÓLOGORÓLOGO
Yorkshire, Inglaterra, 1775Yorkshire, Inglaterra, 1775
Madeline Oxley agasalhou-se melhor com o manto e atravessou a
charneca obscura e úmida, na volta ao seu lar. Espiou através da névoa que
escondia a pequena casa de pedra incrustada no vale, a pocilga também erguida
com fragmentos de rocha e as outras edificações. Parou, assustada.
“Oh, não podia ser!” Madeline piscou devagar e olhou novamente. Era a
mais pura verdade. Tratava-se da carruagem de seu pai estacionada no pátio.
Ele voltara.
Nervosa, sentiu a respiração acelerar-se. Não gostava de surpresas.
Nos últimos dias, com a ausência do pai, desfrutara a satisfação de ser livre. Na
verdade, o pai não a constrangia no sentido de ir e vir conforme sua própria
determinação. Ela sempre fora livre para fazer o que quisesse. Madeline pensou
em liberdade no sentido mais estrito da palavra. Com o pai fora de casa, não
tivera de preocupar-se com as costumeiras expressões de censura e
desapontamento. Um olhar que sempre a atingia como uma pancada e
normalmente na hora das refeições, quando ambos se encontravam.
Suspirou, resignada. Desceu a colina e atravessou o jardim pavimentado
com pedras arredondadas. Passou pelo galinheiro, pela cocheira e rodeou o
coche vazio parado diante da entrada. Abriu o fecho do manto e entrou em casa.
O calor das chamas fortes que crepitavam na lareira da sala de estar tocou-lhe
as faces coradas pelo frio.
Ela ouviu o ruído da porta fechar-se atrás de si. Tirou o manto, dobrou-o
e entrou na sala. O pai estava sentado diante da lareira.
— Olá, papai. Como foi a viagem a Thirsk?
Ele dobrou uma carta, guardou-a no bolso do colete e fitou-a por cima
dos óculos de aros dourados.
— Muito agradável. E muito mais proveitosa do que eu poderia imaginar.
— Que ótimo. O que aconteceu por lá? — Madeline procurou manter o
tom alegre e descontraído.
— Tenho a impressão de que um fardo foi retirado de minhas costas.
Recebi uma oferta muito generosa de um homem que eu não via há muitos
anos.
Curiosa, mas inquieta, Madeline engoliu em seco.
— Que tipo de oferta?
O pai ergueu a cabeça, como se estivesse à procura das frases corretas
para a resposta.
— Sente-se, Madeline. Precisamos trocar algumas palavras.
Madeline sentiu uma opressão no peito. Uma sensação que a
acompanhava sempre que o pai queria "trocar algumas palavras" com ela. Ainda
com o manto dobrado no braço, Madeline sentou-se na poltrona em frente à do
pai.
— São boas notícias para nós dois. — Ele recostou-se no espaldar
estofado e cruzou as pernas. — Minha filha, acredito que, apesar de tudo,
apareceu-lhe uma oportunidade para casar-se. Irrecusável, diga-se de
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Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino
passagem.
Madeline retesou-se e passou a língua nos lábios secos.
— Eu poderia saber... com quem? — ela fez a pergunta com o menor
tremor possível na voz.
O pai pigarreou e mexeu-se no assento.
— Bem, talvez nem se lembre de quem estou falando. Ele esteve aqui
há muitos anos e é um pouco mais velho.
— Eu o conheci?
— Sim.
— Não se trata do Sr. Siddall, não é?
Madeline foi incapaz de, esconder o pavor que odiava ouvir na própria
voz. Mas não poderia ser diferente, o Sr. Siddall tinha o triplo de sua idade. Da
última vez que o vira, os dentes dele já se apresentavam estragados e pretos.
Naquela altura, que Deus a perdoasse, já deviam ter caído.
— Não. Não é o Sr. Siddall — o pai respondeu. — O Sr. Siddall é um
cavalheiro da região. Ele jamais a teria pedido em casamento. Não diante da
insolência de seu comportamento, filha, depois do que aconteceu em Stanley
Hall.
O comentário do pai atingiu-a como uma bofetada. Ele nem mesmo a
defendera do escândalo que lhe destruíra qualquer oportunidade de matrimônio
com um homem decente. Na verdade, o pai piorara tudo, assumindo posição
contra a filha e acusando-a publicamente.
Madeline estava determinada a não deixá-lo perceber que as feridas
ainda machucavam. Ergueu o queixo, disposta a falar com toda a dignidade que
pôde reunir em seu coração.
— Quem, então? Se não sou boa o suficiente para o Sr. Siddall, a que
tipo de homem o senhor pretende entregar-me?
Ele suspirou com desânimo. Deixava evidente não entender por que fora
amaldiçoado com a desgraça de uma filha tão impertinente.
— Como eu já lhe disse, Madeline, você não deve lembrar-se dele. Já
faz quinze anos que ele esteve aqui. A minha "querida" filha não passava de um
bebê.
— Meu pai, há quinze anos eu tinha sete. Ele fez um gesto de pouco
caso com a mão.
— Sim, sim, não importa.
Madeline experimentou a ferroada usual, perante a antipatia que o pai
nutria por ela. Apertou as mãos no colo para lutar contra a dor que a aversão lhe
causava.
O Sr. Oxley puxou os punhos de linho.
— Parece que ele não ficou sabendo do escândalo provocado pela srta.
Madeline Oxley em Yorkshire. O que é um verdadeiro milagre, não acha?
Ela conseguiu encarar o pai com indiferença, enquanto ele continuava
com o arrazoado.
— O cavalheiro a que estou me referindo deixou Yorkshire há quatro
anos e mudou-se para a Nova Escócia. Segundo seus relatos, as mulheres são
em minoria por lá. Ele gostaria de casar-se novamente e, pelo visto, lembra-se
da pequena Madeline com muito carinho. Embora, confesso-lhe, eu não consiga
entender o porquê. Para ser bem simplista, nunca a vi parada em um lugar
tempo suficiente para que algum homem pudesse ao menos ter chance para
uma avaliação rápida. — O homem virou o rosto e fitou as chamas. — Apesar
disso, ele a pediu em casamento.
Madeline tornou a ficar tensa.
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Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino
— E o senhor aceitou?
— Claro. Até já mandei minha resposta. Minha filha, terá de partir no
próximo navio que sai de Scarborough em cinco dias. Já tomei as providências
necessárias. Para não viajar sozinha, irá na companhia de uma família de
Helmsley.
Cinco dias? Madeline sentiu vontade de vomitar. Deixaria Yorkshire para
sempre e cruzaria o oceano dentro de "cinco dias"? Tentou pensar somente no
choque que o fato representava. Era preferível a considerar a hipótese de o pai
encarar com tanta naturalidade a certeza de nunca mais ver a filha. Ou melhor,
de ele sentir-se aliviado com isso. Madeline endireitou-se e engoliu mais uma
vez em seco.
— O senhor ainda não me disse o nome dele. — Ela gostaria que o pai
falasse de uma vez e acabasse logo com aquele pesadelo.
— O nome? — O pai deu uma tossidela, revelando um pouco de
constrangimento para revelar de quem se tratava. — Ele se chama Adam
Coates.
Adam Coates? O coração de Madeline disparou sem nenhum controle.
— Mas como eu já lhe disse — o pai continuou —, não acredito que se
recorde dele. Faz muito tempo.
E como poderia não lembrar-se dele? Ela fora dominada por aquela
imagem desde o primeiro instante em que Adam Coates chegara a casa deles
montado no grande cavalo negro, havia quinze anos. Ele viera falar com Diana
Oxley, a irmã mais velha de Madeline. Na época, Diana contava dezoito
primaveras e era uma jovem deslumbrante. Madeline não passava de uma
menina de sete, voluntariosa e que, via de regra, recusava-se a ir para o quarto,
quando chegava o pretendente da irmã.
Madeline nunca vira um homem tão bonito. Ela imaginava que ele seria
capaz de ofuscar até as estrelas do céu com sua presença marcante. Adam
apeara do cavalo e fizera uma grande mesura diante dela.
— Mas quem é esta linda criança? Na certa deve ser uma princesa!
Anos mais tarde, quando ela começara a pensar nos jovens de uma
maneira romântica, o homem de seus sonhos sempre parecia ter as feições
atraentes de Adam Coates. Ele fora o príncipe encantado de suas fantasias. O
herói galante que viera salvar uma pequena princesa trancafiada em uma torre.
Todos os sons do recinto transformaram-se em borbulhas indistintas,
enquanto Madeline continuava sentada, boquiaberta e incrédula, fitando o pai,
que murmurava palavras ininteligíveis.
— E quanto a Diana? — ela finalmente voltou a si e interrompeu-o com
voz trêmula. — Por que o Sr. Coates não pediu a mão de minha irmã? Ele a
amou no passado e Diana ficou viúva.
Impaciente, o pai tirou os óculos e deixou-os no colo.
— Ele não mencionou Diana. Acredito que nem saiba de sua viuvez.
Além disso, acho melhor Diana permanecer aqui comigo.
O pai queria dizer que seria melhor Diana ficar em Yorkshire, por causa
da fortuna que ela herdara. Os joelhos de Madeline começaram a bater um de
encontro ao outro sob as saias, como se tivessem vontade própria. Adam
Coates?
— Eu pensei que ele tivesse se casado — Madeline comentou da
maneira mais casual que lhe foi possível. — Ouvi falar que até tem filhos.
— Ah, então lembra-se dele. “Perfeitamente!”, ela pensou.
— De maneira vaga — foi a resposta.
O pai pôs de novo os óculos sobre o nariz.
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Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino
— Bem, ele casou-se depois de Diana haver contraído matrimônio com
sir Edward. Logo depois, eu acho. Desposou uma jovem senhora de York que já
era mãe de um garoto. Não acredito que tenham sido felizes, mas tudo isso
pertence ao passado. Ela faleceu antes do Sr. Coates partir para a Nova
Escócia.
— Sinto muito por ele — Madeline assegurou em tom impessoal; porém
suave.
O pai levantou-se e fez sinal para ela fazer o mesmo.
— Eu sei minha filha, que depois do trágico acontecimento em Stanley
Hall, você deve ter-se resignado ao celibato. Mas é impossível desprezar uma
oferta desse porte. O Sr. Coates é um homem de sucesso. No momento, é tão
rico como qualquer aristocrata, e o mais importante é que não conhece a grave
ocorrência que abalou a opinião pública de Yorkshire. Com um pouco de sorte,
ele não ficará sabendo de nada até depois das núpcias. Deus é testemunha de
que uma jovem desonrada jamais seria pedida em casamento por alguém desta
região. Por isso peço que pense bem no que eu lhe disse e parta sem fazer
alarde. Procure dar o melhor de si na empreitada. Pelo que ouvi dizer, o mundo
parece diferente do outro lado do oceano. Talvez possa recomeçar a vida e
enfrentá-la de maneira respeitável.
— Sim, meu pai. — Madeline anuiu com polidez. O homem recuou.
— "Sim, meu pai?" E só o que tem para me dizer? Meu Deus do céu! Eu
esperava uma enorme batalha a respeito do assunto. Acredito mesmo que
nunca a ouvi dizer "sim, meu pai" durante os seus vinte e dois anos de
existência!
Madeline abaixou o olhar, evitando demonstrar o que sentia na verdade.
— Se vou mesmo tiver de partir em cinco dias, acho que será
interessante eu tornar a nossa convivência mais agradável.
O pai deixou cair os ombros.
— Penso que é um pouco tarde para isso. Agora é melhor sair e
providenciar com atenção o que pretende levar. Eu só posso dispor de dois
baús. — Ele tornou a sentar-se e dispensou-a. — O Sr. Coates quer que leve
também o equivalente a trinta e seis litros de sementes de trigo, amarelas Kent e
marrom Hampshire. Recomendou ainda que usasse os sacos como travesseiro
durante a travessia, para evitar que fiquem umedecidos no depósito de carga.
Adam Coats. Era mesmo inacreditável. Ela jamais concordaria em deixar
Yorkshire se soubesse da verdade. A mulher que Coates esperava em
Cumberland para casar-se era Diana, a irmã mais velha. Talvez fosse melhor
rasgar a mensagem.
Depois de Madeline ter deixado a sala, seu pai descansou a cabeça no
encosto alto e tamborilou com os dedos no braço da cadeira. O que faria com a
carta que se encontrava no bolso do colete?, ele perguntou a si mesmo. Decidiu
que a trancaria no compartimento secreto da gaveta de sua mesa. Conhecia a
natureza investigativa de Madeline. Ela poderia querer examinar o conteúdo da
missiva, o que estava completamente fora de questão.
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Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino
CCAPÍTULOAPÍTULO II
Colônia Britânica da Nova Escócia. Sete Semanas mais TardeColônia Britânica da Nova Escócia. Sete Semanas mais Tarde
Charlie Coates veio correndo, escorregou e quase bateu na mesa larga
de carvalho da sala de jantar.
— O navio está se aproximando da enseada! Adam Coates, sentado à
mesa, ergueu os olhos do livro que lia. Tirou os óculos sem pressa e deixou-os
ao lado dos candelabros de prata de lei.
— Calma, filho, não fique tão esbaforido. É apenas um navio.
— Mas é o navio "dela", papai!
— Sim, eu sei. — Adam não podia negar que fora acometido por um
tremor de antecipação. — Suponho que devo ir até lá e recebê-la, não é?
Adam sorriu para o filho mais novo e levantou-se.
— Eu vou atrelar a charrete! — Charlie ofereceu-se, deu um pulo e
correu para fora da casa.
Adam ficou parado ao lado da mesa, escutando o tique-taque do relógio
que se encontrava sobre o consolo da lareira.
Quantos anos haviam se passado? Vinte? Não, não era tudo isso. Para
ser mais exato, somente quinze. Não podia fingir, nem para si mesmo, que não
se lembrava do dia em que Diana o abandonara para casar-se com outro.
Nem podia esquecer-se do tempo em que estivera casado com Jane,
que Deus se apiedasse de sua alma, e de suas explosões temperamentais que
haviam tornado o matrimônio um peso insuportável. Já não era mais o mesmo
homem idealista de antes...
Olhou as roupas simples que vestia, camisa branca e calça castanho-
amarelada, e refletiu no que Diana pensaria ao vê-lo. Será que o reconheceria?
A sua aparência não mudara muito com o transcorrer dos anos, exceto
por alguns fios brancos de cabelos e pequenas rugas ao redor dos olhos. Aos
quarenta e três anos, era forte e vigoroso como qualquer homem com a metade
de sua idade. Talvez até mais enérgico. Estendeu os braços para frente e
examinou as mãos calosas e rudes. Na certa, ela não conseguiria ver a maioria
das mudanças. Pelo menos, não de imediato.
Bom Deus, qual seria a aparência de Diana naquela altura dos
acontecimentos? Ela teria sido maltratada pela passagem daquele tempo todo?
Os cabelos dourados teriam escurecido? A pele clara teria ficado bronzeada?
Não que isso importasse, Adam concluiu. Ela ainda seria a mesma
Diana. A "sua" Diana. E ele adoraria as mudanças, fossem elas quais fossem.
Imerso em uma mistura de antecipação nervosa e de euforia, Adam
Coates saiu da sala e subiu para trocar de roupa. Madeline estava com as mãos
apoiadas na amurada do convés do navio, com os pés afastados por causa do
balanço do Liberty. O vento chicoteava-lhe o manto e as saias, e borrifos
salgados esfriavam-lhe o rosto. Fechou os olhos. Inspirou o cheiro refrescante e
a umidade do mar. Escutou o barulho da quilha pesada que cortava a água
provocando ondas espumosas.
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Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino
Refletiu, sonhadora, que não devia faltar muito tempo. Não haveria mais
espera nem expectativas e a imaginação cessaria seu trabalho. Poderia
comprovar finalmente como seu coração se comportaria ao ver Adam Coates
depois de tantos anos.
Adam. Deveria chamá-lo pelo nome de batismo, quando o visse? Seria
estranho, pois ele sempre fora o Sr. Coates para ela. Nem mesmo tinha certeza
se conseguiria pronunciar-lhe o primeiro nome com a dignidade normal de uma
esposa.
Bem, ainda não era sua esposa. Mas haveria de se tornar em breve.
Dentro de muito pouco tempo. A pulsação de Madeline disparou diante do
pensamento de casar-se com o homem ideal de sua vida. Nunca pudera
esquecê-lo, embora não passasse de uma criança quando o vira pela última vez.
As gaivotas destacavam-se no céu muito azul, lançavam seus gritos
agudos e breves, desciam e rodeavam as velas enfunadas, enquanto o navio se
aproximava do cais na foz do rio Cumberland Creek. A escuna atracou com
movimentos suaves e com segurança. Dali á pouco Madeline desceu a prancha
de desembarque e atingiu a plataforma inferior. Ansiosa, perscrutou a colina
distante, onde estava situado o Forte Cumberland.
Parou um pouco e observou a tripulação retirar as bagagens. O aroma
salgado do mar era trazido pelo mesmo vento que erguia suas saias até o
tornozelo e batia em seu gracioso chapéu campestre. Ela tratou de segurar a
copa com firmeza para não perdê-lo, enquanto as fitas esvoaçavam sob o
queixo. Estreitou os olhos para a imensidão de relva que se estendia a distância,
flanqueada dos dois lados por regiões montanhosas de florestas.
Aquelas terras magníficas seriam seu lar. Pareceu-lhe quase impossível
de acreditar.
— Por aqui! Venham! — o Sr. Ripley chamou, acenando para a família.
O Sr. e a Sra. Ripley tinham sido os guardiões e acompanhantes de
Madeline durante a travessia. Ela esperava que aquela família bondosa, que
nada sabia do escândalo, viesse a tornar-se sua vizinha.
— A senhorita também, Madeline! — o Sr. Ripley dirigiu-se a ela em voz
alta.» — Siga-nos até o caminho do forte. Nós mandamos colocar suas arcas
junto com as nossas na carroça.
Madeline ergueu a barra das saias e iniciou o longo trajeto pelo
carreadouro, pisando com cuidado sobre as pedras soltas. Eles alcançaram o
alto da colina e passaram pela entrada da fortaleza.
Durante o tempo em que o Sr. Ripley ocupou-se em alugar um quarto
para a família em uma das casernas, Madeline relanceou um olhar pelo pátio.
Examinou as fisionomias dos fazendeiros e dos mercadores, perguntando a si
mesma se Adam estaria a sua espera.
Deus Todo-Poderoso! O coração batia em descompasso e Madeline
arfava. Apesar de passados quinze anos e de ela ser uma menina naquela
época, não haveria a menor possibilidade de não reconhecê-lo. Assim que o
visse, poderia declarar com certeza de quem se tratava, por causa dos olhos
dele. Os mais azuis que já vira em sua vida. Inesquecíveis. ,
— Ele já chegou? — Dóris Ripley aproximou-se e quis saber.
— Ainda não o vi — Madeline respondeu. — Talvez não saiba que o
navio chegou. Acredito que eu deveria mandar-lhe um recado.
— Encontrarei alguém para levar a mensagem — a Sra. Ripley
ofereceu-se, solícita, e olhou ao redor, à procura de ajuda.
Naquele instante, um homem alto atravessou o pátio. Vestia um
sobretudo preto bem talhado e um chapéu de três pontas, também preto. Os
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Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino
babados da camisa branca e imaculada eram visíveis no colarinho. Caminhava
com tal confiança e graça que muitas cabeças se voltaram para admirá-lo.
Mesmo de longe, Madeline não duvidou. Era Adam Coates. Ela sentiu o
sangue pulsar nas têmporas com força e pensou que fosse desmaiar. Agarrou a
manga da Sra. Ripley, antes que a outra se afastasse.
— Ele está aqui!
A Sra. Ripley fitou a entrada do forte.
— Meu Deus, Madeline... — foi tudo o que a outra disse, com voz
arfante.
Madeline lutou contra a vontade de dobrar os joelhos e largar-se no
chão, sem conseguir deixar de fitá-lo. Por tudo o que era mais sagrado, Adam
Coates era um homem magnífico e estava ainda mais bonito do que antes,
embora aquilo lhe parecesse impossível. O decorrer do tempo fora benéfico para
ele. Parecia envolto em uma aura de masculinidade confiante. Era um homem
maduro que inspirava coragem e dignidade. Madeline ajeitou e esticou o fichu,
passou as mãos no corpete apertado e provido de barbatanas, e alisou a saia de
algodão listrado.
Adam encaminhou-se até um homem que estava próximo à entrada e
perguntou-lhe qualquer coisa. O camarada apontou um polvorinho feito de chifre
de boi na direção dos passageiros que acabavam de chegar pelo Liberty. Todos
se encontravam agrupados do lado de fora da construção fortificada. Em
seguida, Adam adiantou-se a passos largos, determinado, dando mostras de
estar procurando uma pessoa em meio à multidão. Era até possível ver a
antecipação em seu olhar.
Será que a ansiedade dele era igual à de Madeline? A Sra. Ripley
cutucou Madeline algumas vezes no braço, antes de alguém fazer um
comentário sussurrado as suas costas.
— É esse o cavalheiro que vai se casar com a srta. Oxley? Santo
Deus...
Madeline não poderia repetir uma única palavra das que se seguiram ao
comentário. Não ouviu mais nada. Tudo o que podia fazer era procurar recuperar
um pouco da calma, descontrair a fisionomia aflita e preparar-se para
cumprimentá-lo.
Adam parou diante da Sra. Ripley, tirou o chapéu e segurou-o debaixo
do braço. Os cabelos negros e entremeados por alguns fios brancos estavam
amarrados para trás com uma fita. Os olhos ainda eram azuis como o céu de
outono e contornados por cílios negros. As sobrancelhas, também negras,
acentuavam a expressão de quem confiava em si mesmo.
O coração de Madeline aqueceu-se à vista de Adam Coates. Embora
ciente de que, depois de tanto tempo, Adam não passaria de um estranho, ela
teve a impressão de que jamais se afastara dele. O que, de certa forma, não
deixava de ser uma verdade. Como nunca o esquecera, Adam fazia parte de sua
vida. Adam fitou Madeline com bastante indiferença e voltou-se para a Sra.
Ripley.
— Boa tarde, minha senhora. Estou aqui para encontrar-me com uma
pessoa. Por favor, se pudesse informar-me...
Antes de ele ter a oportunidade de terminar, a Sra. Ripley abraçou a
cintura de Madeline e empurrou-a para frente.
— Sim, Sr. Coates — a bondosa senhora confirmou com um sorriso
cálido —, ela está aqui.
Adam fitou Madeline novamente, dessa vez com mais atenção. E
analisou-lhe a fisionomia por um longo tempo. Madeline sentiu-se constrangida
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Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino
na frente de tantas pessoas. Pigarreou discretamente e preparou a voz para a
frase protocolar: "Como vai, Sr. Coates?", mas nem sequer teve oportunidade de
pronunciar a primeira sílaba.
— Não, não é ela quem estou esperando. — As sobrancelhas escuras
juntaram-se e encimaram um olhar de preocupação. — O nome da pessoa que
procuro é lady Thurston. Nós vamos nos casar.
CCAPÍTULOAPÍTULO IIII
Madeline poderia jurar que empalideceu de repente. E a tortura
continuou, inexorável e lenta. Ninguém disse uma só palavra. As suas costas,
um farfalhar desconfortável de saias, algumas tossidelas desencontradas e a
impressão de ter sido atingida por uma faca.
Ela não conseguia entender como é que ainda se mantinha em pé.
Devia ser a força do hábito, embora o enrijecimento muscular a fizesse
estremecer violentamente.
— Ela está aqui? — Adam perguntou após alguns minutos e ainda
esperançoso.
De repente, Madeline sentiu o corpo todo entorpecido e desejou que o
coração também ficasse insensível.
A Sra. Ripley agitava-se à procura de uma explicação e de uma
resposta. Sabedora de que Madeline conhecera Adam quando ele cortejara
Diana, sua irmã mais velha, a boa senhora na certa entendera que fora cometido
um erro.
—Receio dizer-lhe, senhor, que a irmã de Madeline não veio em sua
companhia.
Madeline agradeceu à Sra. Ripley a resposta diplomática e inteligente.
Adam também ficou pálido e tornou a fitar Madeline, e ela teve certeza de ter
sido reconhecida. Ele demonstrou o desapontamento na profundeza do olhar e
pela leve curvatura da postura.
— Si... sinto mu... muito, eu... — Adam gaguejou. — A senhorita é a
"irmã" de Diana? Qual é o seu nome?
Madeline endireitou os ombros diante da humilhação ofensiva e
esforçou-se para responder com voz calma e digna.
— Madeline, Sr. Coates.
Adam fitou-a por mais alguns segundos.
— Ah, sim, acho que me lembro da senhorita. — Ele hesitou de novo.
Aquele foi o silêncio mais pungente que ela já experimentara. — O que foi que
houve? Algum problema? Por que foi que a "senhorita" veio?
Aquilo não podia estar acontecendo... Oh, Deus muito amado!, ela teve
certeza de que estava a ponto de vomitar.
— Eu... Disseram-me que o senhor mandou chamar-me.
— Não. — Seguiu-se mais um intervalo interminável. — Bem, na
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Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino
verdade, tudo isso é muito constrangedor.
— Constrangedor para quem? — Madeline falou, muito séria. — Para o
senhor? Ou para as pessoas que estão paradas atrás de mim?
Felizmente os outros entenderam a sugestão e dispersaram-se aos
poucos. Inclusive a Sra. Ripley, que deu um tapinha amigável no braço de
Madeline, antes de afastar-se. Ela ficou sozinha, frente a frente com Adam
Coates, sem ter a menor idéia do que iria dizer ao homem que, havia minutos,
Madeline imaginara que se tornaria seu marido.
— Quem lhe disse que eu pedi que viesse? — ele perguntou, sem
rodeios.
— Meu pai. Ele disse que o senhor lhe escreveu uma carta.
Adam apertou os lábios até transformá-los em uma linha fina.
— Eu escrevi a ele, sim, e também mandei uma carta para Diana. Ele
não entregou a missiva para ela?
— Não que fosse do meu conhecimento. Quando seu pedido chegou,
Diana estava em Londres. Eu nunca vi a carta e nem mesmo me despedi dela.
Mal tive tempo de escrever-lhe para contar que iria viajar para cá.
Os músculos do queixo de Adam contraíram-se visivelmente diante da
fúria que, a muito custo mantinha sob controle. Ele começou a andar de um lado
para outro, na frente de Madeline.
— Eu fui muito claro quanto às minhas intenções de casar-me com
Diana. Seu pai não tinha o direito de mandá-la no lugar dela. O que ele estava
pensando?
Madeline teve de lutar arduamente para manter a dignidade, enquanto
se consumia com raiva de seu pai. E também de Adam, por humilhá-la na frente
de todos os presentes. Sem mencionar que o insensível nem mesmo se dava
conta de que estraçalhara todos os seus sonhos. E que não se detinha para
refletir que ela também poderia estar desapontada.
— Peço-lhe desculpas pelo mal-entendido, senhor. Meu pai tem a
tendência de manipular as coisas a seu bel-prazer.
— Manipular? Seu pai enviou-me a noiva errada! Madeline rangeu os
dentes, incapaz de esconder por mais tempo sua fúria.
— Sr. Coates, pode ter a mais absoluta certeza de que não foi o único a
sofrer um transtorno terrível. Acabei de passar um mês e meio em um navio
rangente e úmido, comendo farinha seca de aveia e bebendo água bolorenta! E
o senhor diz na frente de tantas pessoas que não sou a mulher que mandou
buscar. Eu não deveria aborrecer-me? Acredito que já recebi muitos insultos e
sofri numerosas frustrações para um dia só.
Adam parou de andar e fitou-a, de verdade, como se fosse a primeira
vez.
— A senhorita não achou estranho que eu pedisse a sua mão? Não lhe
ocorreu discutir com seu pai sobre o assunto? Diana e eu tivemos uma história
juntos, um passado em comum, quando a senhorita não passava de uma
criança. Aliás, ainda é uma menina.
— Eu tenho vinte e dois anos, senhor. — Madeline não conseguia
eliminar o ódio da voz.
— Sei. Vinte e dois... E quer tanto casar-se que pretendia ludibriar um
homem por isso.
— Foi meu, pai quem o enganou, não eu!
Adam não aceitou a declaração de inocência e continuou a andar de
uma lado para outro, na frente dela.
— Quer soubesse da verdade ou não, a senhorita tomou parte nisso.
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Diana era uma escolha óbvia. Meu Deus do céu, como a senhorita podia pensar
em uma coisa dessas? Casar-se com um desconhecido?
O que poderia dizer-lhe? Que vinha pensando com o coração romântico
e tolo? Que sonhara em ser sua esposa desde que era uma criança? Que
passara as últimas seis semanas fantasiando sobre a noite de núpcias em seus
braços? Que imaginara que estava destinada a ser o amor da vida de Adam
Coates? E que acreditara ha vontade dele em desposá-la, somente por que
queria ter o fato como verdadeiro?
E que fantasia maravilhosa fora aquela! O homem de seus sonhos era
cheio de alegria e adoração. Aquele homem amargo e agressivo não se parecia
em nada com o jovem do qual se lembrava.
— Meu pai assegurou-me que o senhor pedira minha mão. Não tive
motivos para duvidar da palavra dele.
Alguém nas proximidades começou a rachar lenha e a machadada
inicial fez Madeline dar um pulo. Ela sentiu como se alguém a houvesse
golpeado no coração. Adam suspirou profundamente.
— Não teve motivos? A senhorita não tem vontade própria?
Ah, aquilo já era demais.
— Para dizer-lhe a verdade, Sr. Coates, tenho, sim. E sabe qual é ela no
momento? Cutucar meu pai com uma agulha de trica bem pontuda e, se me
permite dizer, o senhor também deveria dar-lhe umas aguilhoadas.
Adam estreitou os olhos. Ela não teve certeza se era de raiva ou de
espanto. O homem com o machado bateu novamente e o som de madeira sendo
rachada cortou o silêncio que se seguiu. Madeline não deixou de fitar Adam.
— Então, o que vamos fazer? — ele perguntou, com um tom de voz um
pouco mais suave.
— Eu não sei, Sr. Coates. Como o senhor disse antes, a situação é
bastante constrangedora.
— Bem, eu não posso simplesmente deixá-la aqui.
Bom Deus, Adam Coates estava redondamente enganado se pensava
que iria fazê-la sentir-se como uma órfã indefesa que lhe fora entregue à revelia.
Ela não lhe pedira para escrever aquela carta e haveria de encontrar um meio de
sair daquela situação. Com ou sem a ajuda dele!
— Srta. Madeline, seu pai confiou-me sua segurança Adam
acrescentou. — E também é sabido que essa escuna não vai voltar para a
Inglaterra. Ela está indo para Boston e só Deus sabe quando chegará o próximo
navio.
Adam deu um passo à frente.
— Que confusão maldita — ele murmurou.
Madeline inspirou fundo e contou até dez. Teve vontade de não só
cutucar Adam com agulhas pontiagudas, mas com qualquer instrumento cortante
que tivesse à mão.
— Não perca seu tempo preocupando-se comigo, Sr. Coates. Tenho
certeza de que o Sr. e a Sra. Ripley não se incomodarão se eu permanecer aqui
com eles. Venho ensinando seus filhos a ler nessas últimas semanas.
Adam considerou o fato por um momento.
— Eles possuem terras por aqui?
— Ainda não, mas o Sr. Ripley pretende comprar alguma coisa assim
que...
— Levará algum tempo até que ele se familiarize com a região. E no
mínimo algumas semanas antes de ele encontrar o que está procurando e que
lhe agrade.
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Um mercador andrajoso passou por eles, com o cano do mosquete
apoiado no ombro. Tirou o chapéu e sorriu para Madeline com admiração. Adam
observou o homem cruzar o pátio.
— Bem, a senhorita não pode ficar aqui — ele afirmou com firmeza,
virando-se de novo para ela.
— E por que não?
— Porque é praticamente uma criança, está sozinha e seria inimaginável
para mim deixá-la desamparada no forte.
— Eu não sou uma criança — ela tornou a lembrá-lo.
Adam suspirou e sacudiu a cabeça diante do argumento. Mais uma vez,
Madeline sentiu-se um fardo, e dos mais insolentes, para variar. Quando se
despedira do pai, pensara que finalmente iria escapar daquelas atitudes
desprezíveis.
— A senhorita ficará em minha casa até decidirmos o que fazer. Será
uma boa companhia para a minha nora. Ela está em fase adiantada de gravidez.
Teve um problema e deverá guardar repouso até o final da gestação.
Os acontecimentos se atropelavam muito depressa. O engano trágico, a
humilhação e o desmoronar dos sonhos de Madeline. Não se sentia disposta a
ser empurrada de um lado para outro, antes de ter a oportunidade de raciocinar
sobre o que "ela" desejava realmente fazer.
— Sr. Coates, eu não vou ficar na sua casa.
— E por que não? — Adam perguntou, como se a afirmativa dela fosse
algo inconcebível.
— Porque... porque eu não quero.
Ah, será que não podia encontrar nada melhor para responder?,
Madeline recriminou-se. Parecia até ser a criança que ele supunha que fosse!
— O que desejamos nem sempre é o melhor para nós — ele assegurou.
— E nem o que conseguimos.
Madeline arrepiou-se com o tom paternal. Adam lembrou-lhe o pai
dando conselhos, passando sermões e chamando a atenção para as rebeldias
constantes da filha. Sempre detestara ouvir tudo aquilo do pai e não iria escutar
o mesmo tipo de discurso do homem que a rejeitara publicamente.
Naquele momento, Madeline refletiu que poderia haver um duplo sentido
nas palavras de Adam. Talvez ele estivesse se referindo ao fato de Diana ter-lhe
destruído o coração havia quinze anos, para casar-se com um baronete.
Madeline passou a língua nos lábios ressecados.
— Conforme eu lhe disse antes, ficarei com os Ripley.
— A senhorita não fará uma coisa dessas. Desde que chegou aqui,
passou a ser objeto de minha responsabilidade. Por misericórdia! A senhorita é
irmã de Diana e eu não vou deixá-la largada com qualquer um.
Madeline sentiu a frustração invadi-la como uma onda que se erguia
pronta para arrebentar. E, mais uma vez, veio-lhe à mente a primeira visita de
Adam à casa dos Oxley em Yorkshire. Lembrou-se de como ele lhe
desmanchara os cabelos e lhe mostrara um truque de mágica.
Oh, Senhor, mas com o que estaria ela sonhando? Na época, ele tinha
quatro vezes a idade dela e, nessa altura dos acontecimentos, o dobro. Fora
mesmo uma tola!
Madeline fechou os olhos, sem conter a amargura. Não poderia passar
mais nenhum minuto ao lado de Adam Coates. Não queria continuar olhando
para aquele rosto bonito e irritante. E, sobretudo, não suportava ter de atenuar a
cada minuto aquela vergonha estúpida em sua mente.
— Onde estão seus pertences?
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— O que foi que o senhor perguntou? — Madeline, perdida em
devaneios, assustou-se.
— Onde estão as suas arcas? Mandarei entregá-las em minha casa.
Ela tentou recusar, mas ele já caminhava ao encontro de alguém para
levar a bagagem. Madeline seguiu-o correndo.
— Eu preciso repetir? Não vou ficar com o senhor!
— Não estou lhe perguntando nada e nem lhe ofereço alternativas a
escolher. Por tratar-se da irmã de Diana, pretendo tomar conta da senhorita.
— Não preciso de ninguém para cuidar de mim!
Adam parou e fulminou-a com o olhar. Madeline percebeu-lhe a
convicção inabalável na expressão e as linhas ao redor da boca. Aqueles vincos
deixavam-no com a aparência de um homem constantemente carrancudo.
As pequenas rugas não existiam quinze anos antes. Ou, pelo menos,
Madeline não se recordava delas e nem de tê-las visto em seus sonhos. Ela se
empenhou ao máximo para não demonstrar nenhuma perturbação com o que
acontecia e começou a pensar que talvez fosse uma pessoa de sorte por não ter
sido obrigada a casar-se com uma pessoa tão dominadora e mal-humorada.
— Pelo visto, a senhorita continua tão teimosa como antes — Adam
comentou com rispidez.
O comentário atingiu-a como um raio. Não podia imaginar que Adam se
lembrasse de qualquer coisa sobre ela e muito menos que ela fosse obstinada.
Então veio-lhe à mente o sem-número de vezes em que ele e Diana
saíam para passeios nas charnecas, para ficarem a sós. Diana implorava para
Madeline voltar para casa. Ela, muito jovem para entender o porquê, discutia
com Diana e, invariavelmente, seguia os dois.
Era a recordação que Adam guardara dela. A irmã caçula e impertinente
de Diana. Madeline ficou parada, sem dizer nada, à espera de que ele
desistisse. Mas não foi o que aconteceu. Adam apenas reafirmou suas
intenções.
— Para ser sincero, eu desejo que venha a minha casa e seja minha
hóspede. Como também já lhe disse, minha nora está confinada ao quarto e
ficará desapontada se a senhorita não for. Além disso, minha filha e meu filho
mais novo poderão aproveitar suas instruções em aritmética e leitura. A
senhorita disse que tem experiência, não é mesmo?
— Sim, tenho — Madeline respondeu, sem tempo para refletir.
— Então estamos combinados. Tudo dará certo.
E Adam Coates saiu em busca de um cocheiro para entregar os baús.
Madeline ficou parada no meio do pátio, enfraquecida e exausta. Acontecera de
novo. Fora manipulada mais uma vez.
Sentado na carruagem leve de quatro rodas ao lado de Madeline, Adam
estalou as rédeas e começou a volta ao lar, passando por Cumberland Ridge.
Fez um esforço para não pensar em tudo o que poderia ter acontecido naquele
dia. Era óbvio que não conseguiria. Dentro dele fervilhava uma mistura de
desapontamento e raiva. Naquelas poucas semanas, desde que recebera a
carta dizendo que a "noiva" estava a caminho e que cruzaria o oceano para ficar
com ele, Adam parecia ter-se apaixonado novamente por Diana. Passara muitas
horas relembrando como ela o fizera sentir-se havia mais de quinze anos. A
simples recordação do rosto adorável deixava-o com os joelhos enfraquecidos.
Diana fora a primeira mulher que ele amara. Ambos haviam se amado com
desespero. Pretendiam ficar juntos todos os minutos de cada dia do resto de
suas vidas.
Oh, Deus, como a amara! Com toda a fúria e a paixão de sua juventude.
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Ninguém o conhecera como ela, e ele também pensara que a conhecia
profundamente. Mesmo passado tanto tempo, Adam ainda acreditava em tal
conjetura. Eles contavam tudo um para o outro, expressando cada sentimento ou
vontade. Quando a segurava nos braços, almejava ficar com ela para sempre.
Infelizmente, o "para sempre" não durara muito. Não houvera aviso de
que o fim estava próximo. Nada de discussões e nenhum deles deixou de amar
o outro. Não chegaram a tomar as resoluções normais em casos do rompimento.
Diana dissera-lhe apenas que teria de deixá-lo chorando copiosamente
encostada em seu ombro, fazendo com que ele a amasse mais do que nunca.
Com o decorrer dos anos, Adam entendera por que Diana se decidira
por aquele caminho. Não poderia ter sido diferente. Adam era o terceiro filho de
um arrendatário. Próspero, sem a menor sombra de dúvida, mas sem condições
de aproximar-se da pequena nobreza. E sem esperança de vir a tornar-se um
proprietário de t erras. Diana casar-se com um baronete. Ela escolhera com
inteligência. Qualquer jovem prudente teria feito o mesmo. -
v
Nas últimas semanas, pensar que Diana o desejava de volta deixara-o
ansioso è fizera-o sentir-se jovem novamente. Como se o afastamento entre eles
não houvesse durado mais do que um segundo. Não conseguira parar de pensar
em Diana desde que soubera do falecimento de seu marido e entendera que ela
estava livre. E quando deixava a mente retornar aos momentos gloriosos que
haviam compartilhado na juventude, era como se revivesse acontecimentos da
véspera.
Sentia-se mais velho do que nunca, sentado ao lado da irmã mais nova
de Diana, que não passava de uma criança da última vez em que a vira. Ainda
por cima, um velho patético que vinha sonhando com Diana, da maneira mais
tola possível. Diana, a mulher que sempre lhe escorregava por entre os dedos.
Era estranho. Pensara em Diana durante todos os dias daqueles últimos
quinze anos, e um provável recomeço parecera-lhe sempre algum tipo de
destino romântico. Na verdade, uma fantasia ridícula.
— Onde é a sua casa? — Madeline arrancou-o de dentro de seus
sonhos. — Está muito longe?
Adam apontou à frente deles.
— Além daquele cômoro, escondida pelas árvores.
Madeline endireitou-se. Queria ver o mais longe possível. Procurava
desvendar o que a esperava. Adam sentiu que ela estava lutando contra a
vontade de ficar em pé na charrete em movimento.
Ele advertiu a si mesmo para não pensar em Diana, pois não haveria
vantagem em torturar-se. Procurou fitar a paisagem em todas as direções.
— Uma bela vista daqui, não acha?
Madeline fitou-o com frieza. Adam sentiu-se avisado de que, se ela lhe
concedesse uma resposta, seria unicamente por tratar-se de uma jovem bem-
educada. Não seria difícil supor que ela devia estar muito aborrecida com o que
acontecera. Tinha sido uma cena lamentável diante dos companheiros de
viagem. E, para ser honesto, lamentável para ambos, pois ele agira de forma
grosseira.
Por Deus, por que se tornara tão rabugento daquele jeito?, Adam
admoestou-se. Aquilo acontecera gradualmente ao longo dos anos. E ele nem
ao menos se dera conta do fato, até estar frente a frente com alguém que
pertencia ao passado. Alguém que conhecera o homem que ele era antes.
— É aquela fazenda lá embaixo?
Pelo menos, Madeline fazia um esforço. Adam refletiu que teria de fazer
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o mesmo. Sentiu uma ponta de vergonha por sua atitude intempestiva.
— Aqueles são pântanos de água salgada. Tudo ali é protegido por
diques.
Madeline fitou em silêncio a paisagem que se descortinava como um
veludo verde e as florestas escuras que cobriam as regiões montanhosas. No
céu azul, as nuvens brancas deslocavam-se rapidamente.
— Seus filhos devem ser de muita ajuda — ela comentou.
— Eu não faria nada sem eles.
Ele virou ligeiramente a cabeça e analisou o perfil feminino. As faces
eram delicadas e os lábios, carnudos. Os olhos expressavam fascinação juvenil
diante do mundo desconhecido que a rodeava. Madeline ainda era uma criança
e, apesar disso, cruzara o oceano na expectativa de tornar-se sua esposa.
Minha esposa!
A irmã mais nova de Diana! E na certa pensara que iria enfrentar os
filhos dele como futura madrasta. Era de estarrecer. Madeline saberia que
Jacob, seu enteado, era apenas quatro anos mais jovem do que ela? Só em
pensar no assunto, um tremor de inquietação percorreu-o.
Será que ela ficara mesmo com o coração partido?, Adam perguntou-se,
com certa descrença. Mas era obrigado a admitir que a rejeitara sob o ponto de
vista romântico, ao dizer, com voz perfeitamente audível e diante de uma platéia
atenta, que Madeline não era a pessoa que ele esperava para casar-se.
Considerou a hipótese de comentar sobre o assunto. Poderia ser até uma
desculpa. Refletiu um pouco e concluiu que isso serviria apenas para agravar as
feridas de ambos. O melhor seria não dizer nada. Não valeria a pena insistir no
tema. Ela que continuasse a encantar-se com o panorama.
Pelo menos não houvera um romance verdadeiro e profundamente
arraigado entre eles. Era preciso também verificar o outro lado da moeda. O
mais provável era que Madeline ficara aliviada de não ter de casar-se com um
homem quase desconhecido e que possuía o dobro de sua idade.
Bem, o que fora feito não poderia ser desfeito. Não havia sentido em
deter-se sobre circunstâncias desagradáveis por mais tempo. Tudo aquilo seria
resolvido em breve, pois ele ainda não desistira de Diana.
Madeline recostou-se no assento e largou o corpo ao ritmo do balanço
irregular do veículo. Fitou de maneira imparcial a paisagem batida pelo vento
que deveria tornar-se seu futuro lar. Era no que sempre pensara, ansiosa por
aventuras. A realidade a fazia sentir-se ainda pior. Tinha a impressão nítida de
que seus sonhos haviam sido destroçados e remexidos diante de seus olhos,
para nunca mais serem reconstruídos. E tudo o que lhe restava seria aceitar a
situação.
Adam conduziu o veículo pela descida da encosta e penetrou na densa
floresta de pinheiros, onde tudo era quieto, sombreado e ao abrigo do vento. Um
caminhei estreito por onde a charrete passava apertada e que devia ser a
estrada. Só se ouviam os sons dos cascos do cavalo batendo no solo e o ranger
das rodas que passavam sobre ramos secos.
Um sentimento inquietante tomou conta de Madeline. O que seria dela?
Um oceano a separava do ambiente familiar das charnecas, das várzeas e dos
labirintos de pedra. Não conhecia ninguém na Nova Escócia, além de Adam e
das pessoas do navio. Nem tinha parentes na região.
Na verdade, nem mesmo possuía uma família em Yorkshire na qual
pudesse encontrar apoio. Mas lá, pelo menos, conhecia o território. Ali, naquelas
terras estranhas, poderia perder-se no meio das florestas ou ser comida por um
urso. Ah, que Deus a perdoasse!
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Ela apertou com força a bolsa cor-de-rosa e prateada entre as mãos. Em
parte de medo e em parte de raiva.
— Está sentindo alguma coisa, Srta. Oxley? — Adam surpreendeu-a
com a pergunta.
Madeline costumava considerar-se capacitada em esconder seus
sentimentos. Dali para frente, teria de empenhar-se mais na matéria.
— Estou bem, Sr. Coates.
— Pois não é o que está me parecendo. Madeline inspirou fundo, sem
saber bem o que responder.
— Eu estava apenas pensando em meu futuro e para onde irei depois
de tudo isso.
“E também em que nunca me senti mais sozinha em minha vida”.
— Acredito que o melhor para a senhorita seria voltar para Yorkshire,
onde está seu pai.
— Eu preferia não fazê-lo.
Adam ficou em silêncio por alguns minutos.
— Acha mesmo que isso seria uma decisão inteligente?
Como explicar-lhe que deixara Yorkshire por ter sido defamada por uma
calúnia improcedente e vergonhosa, e que seu pai não movera um dedo para
defendê-la? Depois daquele pequeno desastre, Madeline concluíra que o pai
estava mais do que determinado a livrar-se dela. E bastante decidido a ficar com
Diana a seu lado.
— Serei franco com a senhorita — Adam anunciou. — Aqui não há
muito o que possa interessar a uma jovem solteira. Muito poucos colonizadores
podem permitir-se contratar governantas que durmam no emprego. E são muitas
as oportunidade de encontrar um trabalho que não seja tomar conta de uma
casa. Os invernos são rigorosos e longos. Se não tomarmos cuidado, os ventos
gelados que varrem os pântanos podem tirar um pedaço da nossa pele. E os
mosquitos... Bem, posso garantir-lhe que acabarão por deixá-la louca. A ferroada
deles parece penetrar como uma agulha quente. Depois o local fica inchado por
vários dias e a coceira é de causar desespero em qualquer pessoa.
— O senhor está exagerando.
Adam inclinou a cabeça na direção dela.
— Espere para ver. Em um mês estará pulando no Tantramar lamacento
para escapar deles. Algumas vezes, eles são piores do que uma nuvem negra
sobre a cabeça e...
— O senhor já fez suas considerações, mas eu não vou retornar para
casa. Ainda não sei o que farei e nem tive tempo hábil para pensar nisso. Mas
não se preocupe. Encontrarei algum meio de sustentar-me. Se não for aqui,
talvez possa ser em Halifax.
— Não há estrada até Halifax. Somente trilhas usadas pelos indígenas e
caminhos muito estreitos como este.
Madeline inspirou fundo, frustrada.
— Então, o que o senhor quer que eu faça? Que volte para casa no
próximo navio? Ir ao encontro de um pai que deseja tanto ver-me pelas costas a
ponto de enganar a nós dois para livrar-se de mim?
Adam tirou o chapéu e passou a mão nos cabelos negros amarrados na
nuca.
— Eu não sabia disso.
— O senhor disse que pediu a ele a mão de Diana. Meu pai sabe ler, Sr.
Coates.
Os cavalos relincharam e balançaram as cabeças.
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— Bem, talvez ele possa ter pensado que agora seria a vez da
senhorita. Diana já foi casada. Duvido que ele estivesse determinado a ver-se
livre de uma filha.
Madeline decidiu não corrigi-lo quanto àquele pormenor. Ele não
precisava saber da verdade. Pelo menos, Adam não estava mais insinuando que
o esquema fora articulado também por ela.
— Ainda acho que seria melhor para a senhorita voltar para Yorkshire e
ficar com seu pai — ele insistiu.
— Cumberland não é lugar para uma jovem solteira.
— Vou pensar no caso — Madeline respondeu, para encerrar o assunto.
Alguns minutos depois, ela observou um esquilo marrom oscilar um
galho de pinheiro e pular para um ramo mais alto.
— Como o senhor ficou sabendo da viuvez de Diana? — ela perguntou,
curiosa para saber como aquela situação deplorável chegara até ele.
— Às vezes as notícias acabam chegando até aqui. E durante todo esse
tempo, eu me mantive informado sobre ela.
Fizera indagações. A bela Diana. Homens sempre faziam perguntas...
Madeline observou a fisionomia madura de Adam. Mesmo depois de tudo o que
acontecera, seu coração continuava impregnado de sentimentos ingênuos. Por
isso achava difícil de acreditar que estivesse sentada ao lado dele, só os dois no
meio daquela floresta e as coxas de ambos tocando-se com freqüência. Um
arrepio impetuoso e indesejável acompanhou uma ponta de esperança. Talvez
um dia, Adam poderia esquecer Diana e olhar para a irmã rejeitada de maneira
diferente.
Madeline sentiu a pele formigar sob a roupa e esforçou-se para afastar
aquela sensação inquietante. Não queria recomeçar a alinhavar imagens fictícias
de um homem muito diverso do que ela conhecera. Aquilo somente atrairia mais
sofrimento, coisa, aliás, que precisava eliminar de sua vida.
— O senhor a amava muito? — Madeline esperava que seu tom de voz
não revelasse quanto os fatos a machucavam. Mas não pôde ceder à
necessidade de saber como ele se sentia.
Era uma urgência que precisava ser satisfeita depois de haver
percorrido aquele trajeto, durante o qual a coxa de Adam não cessava de
encostar na sua.
— Sim. Muito. — Ele estalou a língua para os cavalos.
Madeline mordeu a língua para afastar a angústia e o ciúme,
completamente despropositados, que ela não queria admitir e muito menos
sentir.
— Ainda tenho desejo de casar-me com ela — Adam continuou,
indiferente às emoções alheias. — Talvez a senhorita possa ajudar-me.
Ajudá-lo? Madeline procurou manter a tranqüilidade. Ou melhor,
mostrar-se indiferente.
— Como assim?
— A senhorita poderia dar-me o endereço dela em Londres. Eu pedirei
ao meu advogado londrino que providencie um casamento por procuração.
Dessa vez não quero correr o risco de cometer um erro.
Madeline sentiu-se muito cansada para negar ou até para pensar em
alguma alternativa. Simplesmente anuiu. Sabia que Diana ficara muito solitária
desde que o marido morrera. E assim que recebesse uma mensagem, escrita ou
dita por um enviado, de Adam Coates, ela embarcaria o mais depressa possível
rumo às águas barrentas da foz do Cumberland. No primeiro navio que zarpasse
da Inglaterra e já como esposa de Adam. Não haveria sentido em alimentar
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esperanças secretas de que nada daquilo aconteceria!, Madeline recomendou a
si mesma.
CCAPÍTULOAPÍTULO IIIIII
A carruagem que levava Madeline e Adam continuou a sacolejar atrás
do cavalo suado, atravessou a floresta e um declive suave, até alcançar uma
área onde o vento fazia a pastagem ondular em uma dança sincronizada. Um
rebanho de bovinos malhados pastava nas proximidades. Alguns animais
ergueram a cabeça e Madeline achou que eles pareciam espantados ao vê-la.
Na certa não era a mulher que estavam esperando!, Madeline caçoou de
si mesma com desânimo e virou-se para o outro lado. Que idéia mais ridícula.
À distância, sobre outra colina que se elevava acima do pântano,
Madeline viu uma casa de tijolos vermelhos, enorme e majestosa. Perguntou-se
se aquele era o lugar com que sonhara e admirou-se de ver como suas fantasias
haviam chegado perto da realidade. E a julgar pela paisagem da região, seus
sonhos tinham sido bem precisos.
Cruzaram um caminho ladeado por árvores que levava até a casa. Mal
haviam alcançado a entrada, quando um rapazote saiu correndo pela porta que
ele mesmo acabava de escancarar e veio cumprimentá-los. Pelo visto, Adam
não era o único a aguardar a vinda de Diana.
— Meu filho mais novo — Adam explicou, com jeito de quem se
desculpava.
O menino passou como um raio pelo pátio da frente. Madeline mexeu-se
no assento, pouco à vontade. Apavorava-a a ideia de ter de explicar o erro e
contar-lhe que a mulher com quem o pai esperava casar-se nem mesmo ficara
sabendo da proposta. Adam deteve o cavalo na frente da casa. O garoto
aproximou-se e tomou conta dos arreios.
— Olá, papai! — O menino fitou Madeline com timidez e esperou por
uma apresentação.
Adam desceu da charrete e deu a volta para ajudar t Madeline.
— Srta. Oxley, este é meu filho Charles.
O rapazote perdeu o entusiasmo de imediato.
— Srta. Oxley? Mas não era lady Thurston?
— Ela não veio. Houve um mal-entendido e a irmã de lady Thurston veio
em seu lugar.
— Irmã dela? — Charlie fitou Madeline com desconfiança. — A
senhorita vai casar-se com meu pai?
Madeline agradeceu a Deus por Adam ter respondido por ela.
— Não, Charles. Ela está apenas de visita. Mandarei outra carta para
lady Thurston e esclareceremos tudo. Enquanto o garoto levava o veículo e o
cavalo até a cocheira, Adam escoltou Madeline para dentro da residência. O
amplo vestíbulo central era decorado com papel de parede e tinha colunas de
cerejeira. Uma mulher idosa usando óculos dourados veio da cozinha e alisou a
saia com as mãos.
— O senhor voltou depressa, Sr. Coates.
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Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino
— Olá, Agnes. Esta é Madeline Oxley, "irmã" de Diana.
A mulher fitou Madeline, sem esconder o espanto. Depois de alguns
segundos, pareceu absorver a realidade e anuiu sua compreensão. Madeline
deu um sorriso forçado. Certamente ficaria muito mais feliz se não tivesse de
enfrentar aquelas apresentações constrangedoras.
— Madeline, esta é a Sra. Agnes Dalton, minha governanta.
— É um prazer conhecê-la.
No mesmo instante, uma garota de cabelos pretos veio correndo da
cozinha.
— Papai!
Ela jogou-se nos braços de Adam. Ele a ergueu, abraçou-a e depois a
deixou de novo no chão.
— Srta. Oxley, esta é minha filha Penélope. Penélope, esta é a srta.
Madeline Oxley.
— A senhorita é a criada de lady Thurston? — a menina perguntou. —
Papai disse que ela viria com uma aia.
Poderia haver no mundo situação mais humilhante?, Madeline se
indagou, arrasada.
— Não, Penélope — Adam interrompeu-a depressa. — Ela é a "irmã" de
lady Thurston. Houve um mal-entendido sobre o meu pedido de casamento, mas
tudo será esclarecido em breve.
Se o ouvisse pronunciar mais uma vez a palavra "irmã" naquele tom
incisivo para explicar fosse lá o que fosse, Madeline afirmou para si mesma que
voltaria para Yorkshire a nado!
— Então a senhorita será minha tia? — Penélope quis saber.
A despeito dos contratempos, Madeline não pôde deixar de sorrir para a
menina.
— Acredito que sim, Penélope.
— A senhorita também vai morar com a gente?
Madeline procurou imaginar-se vivendo naquela casa depois de Diana
chegar como esposa de Adam e madrasta daquelas crianças. Poderia continuar
partilhando o mesmo teto? Como a tia solteirona?
Madeline fitou os traços marcantes do rosto bonito de Adam e a linha do
queixo que denunciava um homem decidido. Sentiu a fragrância do sabão de
barba. Não. Definitivamente, não!
— Estou apenas de passagem.
— Mas vai ficar quanto tempo?
— Um pouco só. Não pretendo atrapalhar ninguém.
— Mas quanto?
Graças ao bom Deus, a governanta interveio e interrompeu o
interrogatório.
— Srta. Oxley deve estar extenuada por causa de uma viagem tão
longa. Espero que a travessia não tenha sido desgastante demais.
Agnes Dalton foi a primeira pessoa que não fez Madeline sentir-se um
grande fracasso humano.
— Não mais do que o esperado, senhora.
— Permita que eu lhe mostre seu quarto, senhorita. Poderá refrescar-se
e descansar um pouco. Depois a levarei para conhecer Mary.
— Minha nora — Adam explicou.
Adam Coates fitou-a com um olhar melancólico que Madeline não
conseguiu decifrar. Seria um pedido de desculpas pelas atitudes grosseiras? Ou
seria apenas desapontamento pelo fato de Diana não ter vindo? Adam anuiu
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Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino
com um gesto discreto de cabeça e Madeline compreendeu que ele repassava
seus deveres para outrem. A obrigação do anfitrião terminava naquele momento.
Madeline seguiu a Sra. Dalton até a escada e espiou por sobre o ombro
para o homem que deveria ter sido seu futuro marido.
Adam encaminhou-se para a porta e saiu, sem olhar para trás. O sol da
tarde fez o trajeto costumeiro no céu e cintilou do lado de fora da janela do
quarto. O brilho intenso ultrapassou a cortina de renda, atingiu os olhos de
Madeline e acordou-a.
Espantada, ela fitou a luz salpicada sobre o acolchoado. Era uma
claridade dourada e diferente de tudo o que já vira em Yorkshire. Madeline se fez
uma indagação e não encontrou a resposta. Como o mesmo sol poderia ter
aspectos tão diversos nas várias partes do mundo?
Sentou-se e bocejou. Admitiu que estava exausta por causa da viagem
tão longa e, sobretudo, pelo desfecho horrível e humilhante. Ela não almoçara.
Não conseguira engolir nada. Mas não pretendia assumir uma posição de amuo
pelo que acontecera. Não era pessoa de chafurdar na autocomiseração. Só
pretendera mergulhar em um sono reparador, acordar e encontrar-se pronta para
um recomeço.
Olhou ao redor do quarto. Em um dos cantos, uma bela mesa com papel
de carta, pena de ganso para escrever e um frasco de tinta. Na outra
extremidade da superfície polida, um candelabro de prata com cinco velas novas
para serem acesas ao entardecer. Na certa, aquele aposento fora preparado
para Diana.
Madeline precisava encontrar energias que a tornassem capaz de se
levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima. Pensou em Diana. Todos a
amavam e elogiavam a cada instante, em comparação às deficiências d;i irmã
mais nova.
Madeline jamais se preocupara de maneira demasiada com isso. Na
verdade, nunca se permitira ficar aborrecida por essa diferença de tratamento
entre as duas. Sempre procurara disciplinar suas emoções e mantê-las sob
controle. Podia ignorar os insultos mais afrontosos e desprezíveis com apenas
um aceno mental de sua inabalável força de vontade.
Por causa disso, na infância e na idade adulta também, apagara
qualquer interesse ou vontade de competir pelo tipo de atenção que Diana
recebia. Madeline nunca se decidira a participar do mesmo jogo e nem
pretendera fazê-lo. Ficava muito mais feliz de fazer as coisas a sua maneira.
Passava muito tempo sozinha cuidando do jardim e da horta. Diana preferia
ocupar-se com atividades sociais e encantar qualquer um que cruzasse seu
caminho.
Contudo, naquele dia, e pela primeira vez, Madeline sentiu as garras
aguçadas da inveja perfurando-lhe a alma. Adam não só não se encantara com
ela, como nem mesmo a olhara direito. Um fato era certo: Adam enxergara
através dela, como se Madeline Oxley fosse transparente. Da mesma maneira
como fizera quando fora a casa delas em Yorkshire, fazer a corte a Diana.
Madeline levantou-se com o firme propósito de não passar mais nem um
segundo sentindo pena de si mesma. Enfiou os pés calçados com meias nos
sapatos pretos de fivela e preparou-se para a aventura de descer. Já no topo da
escada larga, ouviu alguém chamá-la pelo nome. Madeline seguiu o som da voz
e chegou a um dos quartos, onde uma mulher muito jovem e bonita estava
deitada em uma cama macia e provida de dossel. Grávida. Não devia ter mais
de dezoito anos.
— A senhorita deve ser Madeline — a outra deduziu com alegria, ao vê-
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Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino
la parada na soleira da porta aberta.
— A Sra. Dalton disse-me que ainda estava dormindo. Entre, entre.
Madeline hesitou um pouco, antes de entrar. Sou Mary, esposa de
Jacob. Ele está no campo, preparando a terra para a plantação da safra da
primavera. A senhorita poderá conhecê-lo no jantar.
— Ficarei encantada com a oportunidade — Madeline respondeu e
observou a outra de maneira discreta. Um livro aberto estava apoiado no
abdômen protuberante. — Como tem passado?
— Estou bem. Tive algumas cólicas e o médico sugeriu repouso até o
nascimento do bebê, que está previsto para o próximo mês. Por favor, sente-se.
Madeline acedeu e acomodou-se em uma poltrona estofada que se
encontrava ao lado da cama.
Simpática e calorosa, Mary inclinou-se para a frente e tocou na mão de
Madeline.
— A Sra. Dalton contou-me o que aconteceu. A senhorita acreditava ter
vindo para casar-se com o Sr. Coates. Senti demais quando soube da notícia.
Deve ter sido terrível para a senhorita. Está tudo bem agora?
Madeline estremeceu, sobretudo pela surpresa. Apesar de jovem, Mary
Coates era bem inteligente.
— Oh, não se preocupe... Estou ótima. Tratou-se apenas de um
equívoco.
— Equívocos, porém, muitas vezes podem trazer transtornos, não é
verdade?
Madeline engoliu em seco, abafada pelo nó que se formara em sua
garganta.
— Concordo, mas não houve motivo para maiores contrariedades. Na
verdade, o Sr. Coates e eu éramos estranhos um para o outro. Não houve
sentimentos feridos. Antes mesmo de viajar para cá, eu deveria ter desconfiado
de que alguma coisa estava errada. Era previsível que o Sr. Coates pretendesse
casar-se com Diana. No passado, ambos foram bastante unidos. O Sr. Coates
não saía da nossa casa em Yorkshire.
Mary anuiu com gestos pausados de cabeça e recostou-se. Madeline
suspeitou de que a jovem senhora compreendia exatamente o que se passava.
Em parte, seria agradável poder confiar em Mary, mas conteve a tempo
a urgência. Se Adam viesse mesmo a casar-se com Diana, Madeline não
gostaria que ninguém soubesse de seu amor por ele. Não queria que tivessem
pena da pobre irmã solteirona de coração partido. Aquilo seria o pior dos
destinos imagináveis. Seu orgulho jamais suportaria uma coisa dessas. Madeline
levantou-se.
— Se me der licença, Sra. Coates, preciso descer. Vou ver se posso ser
útil nos preparativos do jantar. Quer que lhe prepare alguma coisa?
— Não, obrigada. A Sra. Dalton normalmente traz a bandeja com o
jantar.
Um tanto perturbada, Madeline cumprimentou-a e' saiu do quarto,
prometendo voltar depois para uma visita mais demorada ou para um jogo de
cartas. Desceu a escada com a mão apoiada no corrimão polido de carvalho que
servia de arremate para os arabescos entre os balaústres. Foi até a cozinha de
pedra nos fundos da casa e encontrou a Sra. Dalton abaixada diante de uma
lareira enorme, espalhando gordura em cima de uma galinha de aspecto
convidativo e crocante que assava no espeto. Madeline inspirou o cheiro de ave
assada e sentiu a boca cheia de água.
A Sra. Dalton limpou as mãos no avental e endireitou-se. Nisso, deparou
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com Madeline, que estava parada, indecisa.
— Olá, querida. Entre. Venha sentar-se. Madeline deu alguns passos à
frente no recinto.
— Sra. Dalton, depois de seis semanas no mar, esta cozinha tem o
aroma do paraíso. Posso ajudá-la em alguma coisa?
— Hoje, não. A senhorita acaba de chegar. Amanhã aceitarei seus
préstimos.
Elas foram interrompidas por passos firmes no assoalho de tábuas
largas que procediam do hall e pararam na porta da cozinha. Madeline
reconheceu, por instinto diga-se de passagem, o som das botas de Adam e
virou-se, com uma sensação de frio no estômago.
— Srta. Oxley, eu poderia falar-lhe por alguns minutos? — Adam Coates
pediu com voz ríspida e grave.
— Cla... claro — Madeline concordou.
Adam conduziu-a até seu gabinete privativo. Era uma sala ampla, com
papel verde-escuro nas paredes e uma lareira rodeada por estantes embutidas.
O tapete era grosso e macio. Adam parou no meio do escritório, encarou-a e
juntou as mãos nas costas.
— Compreendo que a senhorita mal teve tempo de acomodar-se. Mas
eu gostaria de mandar Jacob ao forte ainda hoje para levar a carta. Quero que a
mesma seja despachada para Halifax com o próximo viajante.
— A carta?
Distraída, Madeline fitou as feições morena de Adam. A linha de seu
queixo e o nariz reto. Ele tirara o casaco negro. Trajava uma camisa de linho
branco com pregas saindo dos ombros largos e um colete de seda azul-ma-rinho
que abraçava o contorno de seu torso.
Adam tornara-se mais encorpado. Era mais magro quando o conhecera.
Agora parecia mais forte e musculoso. Madeline recordou-se dos sonhos
românticos que a ajudaram a passar os dias intermináveis da viagem marítima.
Adam acariciava-a e beijava-a na noite de núpcias. Olhava-a com amor e desejo
inscritos naqueles incríveis olhos azuis. Ela o imaginara deitando-a na cama
larga e cobrindo-a com o próprio corpo. Os sentimentos de amor que
experimentara naquelas fantasias tinham se aparentado tão verdadeiros! E
pareciam reais, mesmo depois do desastre da chegada.
— A carta para o meu advogado em Londres — Adam explicou. — Eu
também escrevi para Diana. A senhorita disse que possui o endereço de onde
ela tem se hospedado.
Arrancada bruscamente de suas quimeras douradas, Madeline sentiu
uma dor no estômago, que lhe pareceu estar cheio de pedras que faziam
pressão para sair.
— Si... sim, eu tenho. Está em um dos meus baús. Eu ainda não os abri.
Não sei nem onde...
— Estão lá em cima, no quarto de Penélope. A senhorita estava
repousando e, quando eles chegaram, não quis incomodá-la.
— Entendi.
Perturbada por estar tão perto de Adam, Madeline teve de lembrar a si
mesma de que as imagens nítidas que tivera durante a longa travessia não
passavam de bolhas de sabão. Ela e Adam eram dois estranhos um para o
outro. Não havia nada que os pudesse unir. Nem o menor traço de intimidade e
nem mesmo de simpatia.
Nada. ' Exceto um mal-entendido pavoroso que de mal-entendimento
não tinha nem a sombra. Fora um plano cuidadosamente articulado por seu pai.
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Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino
— Eu trarei para o senhor sem demora — Madeline respondeu com a
maior calma que lhe foi possível demonstrar e virou-se para sair.
— Madeline... — Adam chamou-a com uma certa ansiedade na voz e
deu um passo à frente.
Ela parou, sem se voltar. Não queria vê-lo. Dali para frente, evitaria
qualquer motivo de sofrimento.
Também não desejava que ele lhe visse o sorriso forçado. Ou que
tivesse conhecimento de quanto ela estava desapontada e infeliz. Não queria
que ele soubesse de coisa alguma. Nem que visse absolutamente nada.
— Obrigado — Adam agradeceu de modo simples, com um traço de
remorso na voz.
Remorso? Exatamente sobre que parte dos fatos ocorridos naquele
dia?, Madeline indagou a si mesma. Ela anuiu e, apressada, saiu do escritório de
Adam com várias resoluções em mente.
Seria preciso... ignorar as esperanças e questões que se debatiam em
seu cérebro. Não podia dar atenção ao fato de ter ficado arrepiada apenas em
ouvir-lhe a voz e vê-lo em pé diante dela. Irresistível. Magnífico.
Seria preciso... parar imediatamente com as ilusões a respeito de Adam
Coates. Ou ela iria sofrer muito mais. A vergonha e a humilhação não
representariam nada diante de um coração despedaçado que ela teria de
carregar para o resto da Vida.
Seria preciso... parar de pensar em Adam Coates como uma jovenzinha
romântica. Seria preciso... afogar qualquer reação que remetesse a caprichos
imaginários e que jamais poderiam tornar-se realidade.
Seria preciso... lembrar-se dez, cem vezes ao dia, se necessário fosse,
de que Adam estava para tornar-se marido de sua irmã no mais breve intervalo
de tempo que fosse permitido pelos meios de comunicação e pela velocidade
das escunas. E, como conseqüência, tornar-se-ia seu cunhado.
Seria preciso... Se Madeline soubesse o que seria bom de fato para ela,
teria de esganar suas esperanças e jamais deixá-las aflorar de novo.
Seria preciso...
CCAPÍTULOAPÍTULO IVIV
Sentada à longa mesa de carvalho na sala de jantar, Madeline fazia um
esforço desmedido para não fitar Adam. Toda vez que arriscava uma espiadela,
a vontade de contemplá-lo sem cessar era muito frustrante.
E o pior era sua incapacidade para explicar o fato. Não queria olhar e
nem encarar Adam Coates. Usara de toda a sua força de vontade para afastar
aqueles, desejos absurdos. Calculou que seria fácil ignorá-lo def pois do que
ocorrera no forte. Adam a humilhara e a acusara de pretender enganá-lo.
Deduziu que o homem duro e frio em que Adam se transformara seria o
suficiente para afastá-la daquelas fantasias e que nada sentiria por ele.
1 Infelizmente, em vez de ficar insensível, sentia tudo. Em um momento
experimentava uma raiva enorme de Adam. No minuto seguinte, após todas as
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Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino
recriminações feitas a si mesma para permanecer indiferente, era presa de novo
em meio a sonhos inebriantes que o envolviam. Estar na presença dele naquela
noite a deixava arfante. À cabeceira da mesa, Adam conservava o garbo natural
e irresistível. As pregas impecáveis do lenço branco no pescoço eram um
contraste maravilhoso com a tez morena. As mãos grandes e firmes que
seguravam os talheres lembravam carícias. Como poderia alguém ficar
indiferente ao poder masculino que emanava de Adam? Ou a tanta beleza que
lembrava um Apoio?
Madeline teve a esperança ridícula de que ele se transformasse em um
velho decrépito, careca e com dentes estragados. Dessa forma seria muito mais
fácil seguir todas as determinações que estabelecera para si mesma.
Ela abaixou os olhos para o prato e deu uma tossidela. O som fez
alguém dar um pulo. A família estava presente, exceto Mary. Madeline refletiu,
pouco à vontade, se aquele silêncio era normal durante as refeições dos Coates.
— Por que todo mundo está tão quieto? — Penélope perguntou.
Madeline limpou os lábios discretamente com o guardanapo de tecido
adamascado, curiosa para ouvir a resposta de Adam.
— Estávamos com fome, Penélope — ele respondeu com voz calma e
profunda. — Só isso.
— Mas nós sempre estamos com fome no jantar.
— Talvez por contarmos com a presença de uma visita e procurarmos
mostrar-lhe o melhor de nosso comportamento.
— Isso quer dizer que teremos de ficar quietos? — Penélope fitou
Madeline com seu olhar doce, sorriu e voltou a comer em silêncio.
— Penélope... — A advertência chegava tarde.
Os ruídos tomaram conta novamente do recinto. Os talheres batiam nos
pratos de porcelana, o relógio tiquetaqueava alto. Madeline compreendia que
todos estavam cientes da confusão havida entre ela e Diana. Além disso,
houvera bastante tempo para os Coates discutirem o assunto, murmurar e
formular julgamentos sobre ela. A noiva trocada.
Enganada pelo pai. Repudiada pelo ex-futuro marido. Humilhada diante
de todos. O que mais faltava acontecer? Estariam eles convencidos de que
Madeline fora envolvida na manipulação? Ou acreditavam que ela fosse uma
mentirosa e interesseira? Ou simpatizavam com ela, da mesma forma como
Mary demonstrara, por suspeitar da verdade indecorosa?
Madeline limpou mais uma vez os lábios com o guardanapo e resolveu
que já era tempo de manter uma conversa educada.
— Jacob, Mary me disse que o senhor esteve trabalhando no campo
hoje. O que costuma plantar nesta época do ano?
O jovem dó outro lado da mesa, que usava colete azul-claro, deixou o
garfo sobre a superfície coberta com a toalha, antes de responder.
— Terminei de plantar batatas no campo mais alto, Srta. Oxley. Depois
fui até a fazenda do Sr. Cárter para ajudá-lo na sua plantação.
Madeline observou a falta de semelhança entre Adam e seu enteado.
Jacob tinha feições claras e cabelos loiros, enquanto os outros filhos possuíam
cabelos negros. Talvez a única analogia fossem os olhos azuis, assim mesmo
sem a profundidade dos de Adam.
De repente, ela sentiu curiosidade a respeito da mãe de Jacob, a
falecida esposa de Adam. Teria sido loira e bonita como Diana? E Madeline
lembrou-se da própria aparência. Cabelos castanhos, da cor dos pêlos de um
rato, sem graça, cacheados, e a pele cheia de sardas. Pela primeira vez em sua
vida, desejou ter sido abençoada com beleza parecida à da irmã. O tipo de
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Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino
beleza que fazia os homens virarem a cabeça e ficarem sem fala quando a viam.
— O senhor espera uma boa colheita? — Madeline perguntou a Jacob,
para afastar aqueles pensamentos frívolos e tolos.
Ela nunca dera muita importância à aparência e sempre dera muito mais
valor à qualidade do caráter. Além do mais, não adiantaria sonhar com o que
jamais poderia acontecer.
— Grande o suficiente para durar o inverno todo. Madeline sorriu-lhe e,
com o canto dos olhos, notou Adam usar o guardanapo para limpar a boca e
largá-lo sobre a mesa. Sinal de que terminara de comer.
— Nós cultivamos batatas suficientes para preencher as nossas
necessidades. Não as comercializamos.
Madeline suspeitou de que Adam mostrava cortesia por causa das
crianças, e não por ela. Decidiu não se intimidar mais com os silêncios
prolongados do dono da casa. Ela o enfrentaria e perguntaria o que tivesse
vontade de saber sobre a Nova Escócia. Sua agricultura, suas barragens, ou até
mesmo o provocaria para ele admitir que fora grosseiro naquele dia. E diria tudo
o que lhe agradasse dizer.
— E o que o senhor produz para vender? — Madeline perguntou. —
Milho?
— Não. Com o milho acontece o mesmo que com as batatas. Só
produzimos o que podemos consumir. As terras aqui são mais apropriadas para
pastagem.
Adam pegou o copo e desviou o olhar. Era um aviso de que terminara
não só a refeição, mas também a conversa. Ela não evitou a vontade de
pressioná-lo.
— Criação de animais? E feno?
— Ah, sim, Srta. Oxley. Feno.
Para surpresa de Madeline, Adam voltou sua atenção para o jantar. Era
evidente que o Sr. Coates não tinha a menor intenção de conversar e nem
mesmo de olhar para ela. Gostaria de poder encarar aquilo com indiferença. Mas
a maneira como Adam olhava ao redor do recinto e o modo como cerrava as
sobrancelhas escuras fez Madeline aborrecer-se e refletir no que se ocultava por
trás daqueles gestos.
Adam Coates ressentia-se com a presença de Madeline Oxley naquela
casa. Ele a considerava culpada pelo fato de Diana não se encontrar ali, ao lado
dele à mesa, e não podia deixar de ficar enraivecido por isso. Adam somente se
sentia obrigado a velar pelo bem-estar e pela segurança de Madeline, por ela ser
irmã de Diana. Afinal, ele na certa não pretendia comprometer o futuro por causa
de uma quase estranha. E como ela mesma, Adam devia estar considerando a
hipótese de que Madeline Oxley acabaria por tornar-se tia das crianças. Por tudo
isso, Adam esforçava-se para não entrar em maiores atritos do que os já criados.
Adam continuou em silêncio até o final da refeição, o que possibilitou a
Madeline pensar no que deveria fazer. Não poderia morar em uma casa onde
não era bem-vinda. Já vivera naquelas condições por muito tempo no lar de seu
pai. E o que era mais delicado, não poderia ficar ali, de braços cruzados como
uma espectadora quase invisível, enquanto Diana chegava e começava uma
vida feliz ao lado de Adam e de seus filhos.
Ela decidiu, com firmeza ainda maior de propósitos, que iria procurar, o
mais cedo possível, uma solução para o impasse. Quando Diana chegasse para
reivindicar o prêmio, Madeline estaria longe havia muito tempo.
No dia seguinte, dentro do celeiro, Adam pôs um saco pesado de grãos
sobre o ombro e levou-o para a carroça. Largou-o no estrado com raiva e
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Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino
recriminou-se mentalmente por ter sido tão rude com Madeline nas últimas vinte
e quatro horas.
O que estaria acontecendo com ele? Em geral, era mais amável com as
pessoas e, em particular, com as mulheres. Costumava encantá-las e fazê-las
felizes. Sempre pressupunha que elas fossem honestas e sinceras, baseando-se
em sua mãe, que descansava na paz do Senhor, que fora uma mulher bondosa
e correta. Mas essa convicção era anterior ao rompimento com Diana e ao
casamento com Jane.
Jane ensinara-lhe que nem todas as mulheres eram o que pareciam ser
e que se tornava imprescindível tomar muito cuidado. No começo, não muito
depois de Diana ter-se casado com sir Edward, Jane se mostrara uma fortaleza
de compreensão, sabedoria e sensibilidade. Viúva recente e com um filho,
Jacob, para cuidar, ela dividira seu leito com Adam. E fora assim que eles
haviam encontrado conforto para aqueles dias difíceis.
Quando descobriram que ela estava grávida, Adam casara-se com ela.
E foi somente depois da certidão ter sido assinada e de estarem vivendo como
marido e mulher, que ela revelara sua verdadeira natureza.
Em conseqüência disso, Adam chegava ao ponto de imaginar o pior a
respeito de uma jovem ingênua que confiara no pai e atravessara o oceano para
casar-se com o suposto pretendente. O que um homem honrado deveria fazer,
seria pedir-lhe perdão por aquela situação embaraçosa e assegurar-se de que
Madeline teria todo o carinho e conforto merecidos.
Ainda por cima, ela era irmã de Diana e, se tudo transcorresse da
maneira esperada, ele e Madeline tornar-se-iam cunhados. Era preciso garantir o
amparo e a segurança de Madeline. E também não causaria danos a ninguém,
se ele cultivasse alguma amizade por ela.
Bateu a palma das mãos uma na outra para tirar a poeira e ouviu um
pigarrear as suas costas. Virou-se. Madeline estava na entrada. Usava um
vestido bonito listrado de azul e branco e trazia uma echarpe branca de renda
em volta do decote. A touca graciosa, também de renda, era amarrada com um
belo laço azul.
E Adam, naquele exato momento, reparou nela com atenção pela
primeira vez desde que ela chegara. Deu-se conta de que Madeline crescera e
se transformara em uma jovem adorável. Era difícil acreditar que estivesse
olhando para a menina sardenta da qual se lembrava.
Adam piscou algumas vezes e, sem saber por que, comparou as duas
irmãs. Madeline não tinha o mesmo tipo de beleza estonteante de sua irmã mais
velha. Isso era indiscutível e qualquer um que não fosse cego poderia atestar a
veracidade do fato.
Madeline, contudo, apresentava-se como um enigma. Desafiador. Adam
acabava de descobrir que os olhos castánho-escuros eram profundos e
perspicazes e que a jovem recém-chegada merecia um estudo mais acurado. E
a descoberta era quase uma contradição. Sob a aparência ingênua e suave da
juventude, escondia-se uma força de vontade firme e inabalável que se revelava
gradualmente. Além da teimosia que lhe fora possível comprovar de início. Adam
leu exatamente aquelas nuanças do temperamento como se começasse a
decifrar Madeline. Ele poderia jurar que acertara em suas deduções. Adam
limpou as mãos na calça e aproximou-se.
— Precisa de alguma coisa, Madeline? — perguntou, solícito.
Ela ergueu o queixo e preparou-se para falar, como se estivesse
preparada para uma descompostura por ter-lhe interrompido o trabalho. Teria ele
sido tão grosseiro com ela? Com uma agulhada de arrependimento, Adam
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Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino
reconheceu a verdade do fato e prometeu a si mesmo que tentaria ser menos
grosseiro.
— Eu gostaria de ir até o forte — Madeline anunciou.
— Por quê? Esqueceu alguma coisa? — Droga, ele fora ríspido de novo!
Madeline deu a impressão de fazer um esforço enorme para formular
uma resposta, para falar de maneira clara e concisa e não retrair-se diante do
tom áspero.
— Não. Eu gostaria de falar com o Sr. e a Sra. Ripley. Ou, se alguém for
até lá, poderia mandar uma mensagem para eles.
Adam encostou o ombro no batente da porta.
— Ninguém pretende ir ao forte. Pelo menos, que eu esteja sabendo.
— Então, nesse caso, eu mesma gostaria de pegar um cavalo.
Madeline ergueu ainda mais o queixo, desafiando-o a negar, e Adam
ficou impressionado com a tenacidade da jovem. Entretanto não havia a menor
possibilidade de permitir que ela cavalgasse sozinha naquele ermo.
— Não posso deixá-la fazer isso.
— E por que não? Não vou me perder. Tenho certeza de que me lembro
perfeitamente do caminho.
Adam afastou-se, levantou mais um saco de sementes e jogou-o por
cima do ombro.
— Lembrar-se não é o suficiente. Alguns trechos são bastante escuros e
podem enganar uma pessoa que desconheça a região. Eu mesmo teria de levá-
la até lá, mas, como pode ver, estou ocupado.
Adam jogou o fardo na traseira da carroça e Madeline assustou-se com
o barulho forte.
— Então diga-me quando poderá fazê-lo.
— Que tal depois de amanhã? — Adam abaixou-se para pegar outro
saco.
Madeline nada disse e Adam teve a nítida impressão de que a resposta
não lhe agradara. Ele sentiu o olhar determinado e fixo em seus menores
movimentos, enquanto levantava o volume e carregava-o até o lugar onde
deixara os outros.
— Eu gostaria de ir antes — Madeline alegou. Adam deixou cair o fardo
sobre a pilha, aproximou-se de Madeline de novo e tornou a encostar-se na
entrada. Coçou, com o polegar, o queixo que estava com a barba por fazer.
— Por que essa pressa toda?
— Preciso perguntar ao Sr. e à Sra. Ripley se podereis trabalhar com
eles, antes de que contratem outra pessoa.'
Adam distraiu-se por alguns instantes com as mechas finas e cacheadas
que tocavam os ombros delicados de Madeline. Ele deduziu que o vento as
fizera escapar dos grampos e da touca. Procurou não desviar o olhar, o que o
levaria a avaliar o decote.
Adam sentiu-se desconfortável ao perceber que havia um decote e, sob
o mesmo, um corpo que lhe despertava a curiosidade. E que não deveria ter
notado nada daquilo na jovem que ele conhecera menina.
Fez um esforço para voltar à atenção de onde não a deveria ter
desviado: o conjunto de circunstâncias que Adam tinha em mãos e o fato de
Madeline querer trabalhar para os Ripley. O que deveria fazer?
Adam já enviara uma proposta de casamento para Diana que, se dessa
vez o destino fosse generoso, deveria chegar antes da semeadura do outono. O
que ela diria ao saber que o marido nem ao menos tentara impedir que a irmã
caçula saísse de sua casa? A obrigação dele era mantê-la em segurança e bem
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Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino
cuidada.
— Não há necessidade de sair daqui. — Adam empenhou-se ao máximo
para mostrar-se hospitaleiro e simpático. —A senhorita é mais do que bem-vinda
paia ficar conosco por quanto tempo desejar.
— Obrigada, mas eu não quero.
— Não?
— Não.
Oh, Senhor, ela era uma verdadeira muralha!
— Srta. Oxley, lembre-se de que se encontra em uma terra estranha.
Peço-lhe desculpas por minha atitude intempestiva de ontem. E digo-lhe isso
com sinceridade. Não vejo motivos para essa teimosia e...
— Eu não estou sendo teimosa. Apenas quero ter a oportunidade de
trilhar meu próprio caminho.
Droga, ele a insultara.
— Vamos começar de novo. Seus planos foram trans-t ornados e em
parte a culpa é minha pelo fato da senhorita estar aqui.
Madeline piscou algumas vezes.
— Em parte a culpa é sua? Ontem o senhor achava que eu era
responsável por não ter opinião própria.
Adam admitiu que merecia a reprimenda e ergueu as mãos, fingindo
rendição.
— A senhorita tem razão. Sinto muito.
De repente, Adam sentiu-se sem jeito e atrapalhado por estar falando
com Madeline naqueles termos. Era uma situação inusitada. Aquela era a
menina que os seguia como um cachorrinho abandonado, sempre que Diana e
ele queriam ficar a sós. As coisas haviam mudado bastante. E ele certamente
não estava lidando com nenhuma criaturinha perdida.
— Por que a senhorita não quer ficar? — Adam perguntou, com
esperança de voltar o barco para águas mais tranqüilas. — Se pretende mesmo
sustentar-se, eu poderia contratá-la como governanta.
— Não quero um emprego por caridade.
— Não se trata disso. Penélope e Charlie precisam mais do que a Sra.
Dalton pode proporcionar-lhes. De fato, eu vinha considerando a hipótese de
procurar uma pessoa adequada...
“Oh, céus, ele estava divagando. Perdera o jeito de verdade! Madeline
sacudiu a cabeça em negativa”.
— Perdão, mas eu não posso aceitar.
— Importa-se de dizer-me por quê?
Depois de algum tempo, Madeline suspirou. A sensação de fracasso
aumentou por ela ser forçada a revelar mais do que gostaria.
— Se Diana aceitar a sua proposta e vier a casar-se com o senhor, é
preferível eu ficar em outro lugar.
Adam estranhou a expressão contraída e a maneira como ela torcia os
lábios carnudos. Não acreditou que Diana fosse o motivo por que Madeline não
quisesse ficar.
— Houve algum problema entre as duas?
— Não. Eu apenas não quero ser dependente dela. Adam pôs as mãos
na cintura.
— Posso entender perfeitamente que a senhorita não queira ficar em
posição subserviente diante de sua irmã. Mas isso não ocorreria de maneira
alguma. A senhorita faria parte da família, o que é muito lógico nesse caso.
O diálogo não prosseguiu e um silêncio opressivo seguiu-se. Ambos
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Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino
estavam parados na entrada do celeiro o encaravam-se como dois oponentes.
Madeline achou dificuldade em encontrar uma refutação para o que parecia
"muito lógico".
Por alguns instantes, Adam pensou que havia conseguido persuadi-la.
Porém isso foi antes de Madeline endireitar os ombros e assumir uma expressão
severa.
— Eu lhe agradeço muito pela oferta generosa, mas prefiro encontrar
alguma coisa para fazer por minha conta. Eu gostaria de ir até o forte amanhã.
Adam teve de concordar. Percebeu que não adiantaria argumentar, pois
Madeline não desistiria de seu intento. Observou-a dar-lhe as costas e voltar
para a casa com passadas rápidas e seguras.
Mais uma vez ele viu a menina de Yorkshire, que nunca aceitara fazer o
que lhe mandavam, agia conforme a sua vontade. De volta àqueles dias,
lembrou-se de quanto o deixava frustrado aquela obstinação em não permitir que
ele ficasse a sós com Diana. Exata-mente como acontecia naquele momento,
quando ele queria manter Madeline em sua casa e em segurança, e ela se
negava a lhe obedecer.
Com uma diferença fundamental: Adam experimentava uma sensação
de simpatia por aquela jovem que havia muito deixara de ser uma menina.
Madeline tornara-se uma mulher e ele não pôde deixar de admirá-la. Sobretudo
por ela ter opinião própria e não ceder um milímetro, quando o assunto era fazer
o que desejava e o que achava correto.
CCAPÍTULOAPÍTULO VV
Depois do jantar, Madeline sentou-se na sala de visitas ao lado da
lareira e entreteve-se em consertar uma das toucas de Penélope, enquanto as
crianças jogavam cartas. Há uma certa altura, apareceram na sua linha de visão
um par de botas pretas, brilhantes, e duas pernas musculosas cobertas pelo
tecido castanho da calça. Ela ergueu a cabeça. Adam fitava-a com fisionomia
apreensiva.
— Posso? — Ele apontou uma cadeira em frente.
— Claro. Fique à vontade.
Adam sentou-se e cruzou uma das longas pernas sobre a outra. O fogo
estalou e crepitou. As crianças caíram na gargalhada por algum motivo que os
adultos ignoravam.
— Quero desculpar-me novamente — Adam declarou, com voz suave —
pela maneira como a tratei ontem no forte e também pela maneira como as
coisas se desenrolaram.
Oh, como ela gostaria de poder evitar aquela conversa! Madeline deu
um ponto com a agulha e a linha na touca de renda que se encontrava em seu
colo. Não pretendia passar pela experiência de ouvir amabilidades de Adam
Coates. Até aquele momento, conseguira sobreviver aos percalços. Primeiro fora
acusada de enganá-lo. Depois tivera de aguentar os silêncios e as reticências
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Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino
geladas. Conseguira convencer-se da sorte que havia tido em não casar com
Adam e estava contente por isso. Não queria retornar à angústia dos
sentimentos anteriores.
— A culpa não foi sua.
— Não, mas eu me sinto responsável. Se eu não tivesse mandado a
proposta, a senhorita não estaria agora entre estranhos.
Madeline estava consciente de que precisaria tomar cuidado para não
romper o próprio envoltório de serenidade.
— O senhor não é um estranho para mim. Não totalmente, na verdade.
Eu já o conhecia... embora tenha decorrido um grande período de afastamento.
— É verdade — Adam concordou com o cenho franzido. — Faz muito
anos, não é mesmo? Quem poderia imaginar que eles passariam tão depressa?
Madeline ergueu a agulha acima da cabeça, ajeitou a linha que se
enrolara e voltou a dar um ponto no tecido.
— Tem razão. Parece que foi ontem que o senhor apareceu à nossa
porta pela primeira vez. O velho senhor vestia uma capa longa e negra.
O brilho das chamas refletiu-se no rosto de Adam, enquanto ele a
contemplava com olhar pensativo. Madeline sentiu a pulsação acelerar-se e
rezou para não enrubescer.
— Refresque minha memória — ele pediu com interesse. — Nós
conversávamos bastante um com o outro?
Madeline deu algumas tossidelas. Seria para ganhar tempo?
— Não muito. Eu era uma menina e o senhor não tinha nada para falar
comigo.
— Mas, pelo que eu me lembro, tinha idade suficiente para gostar de um
truque de mágica.
Um entusiasmo sorrateiro começou a tomar conta de Madeline. Não
poderia supor que Adam se lembrasse de alguma coisa além da presença
importuna da irmã mais nova de Diana. A garota birrenta que se intrometia nos
momentos particulares do casal e que se recusava a ir embora quando lhe
pediam.
— O senhor costumava fazer desaparecer uma moeda. E depois a
recuperava, tirando-a de trás do pote de manteiga.
Adam sorriu.
— Eu faço a mesma mágica para Penélope. Só que, em vez do pote de
manteiga, recupero a moeda do nariz dela.
Madeline deu risada e a pulsação acelerada cedeu um pouco.
— A senhorita tinha a idade de Penélope na época.
— Isso mesmo!
— Olhar para a senhorita agora faz com que eu me lembre daquele
tempo. — Adam fitou-a por um momento demorado. — Ontem à noite, a
senhorita mostrou curiosidade sobre o que ocorre na fazenda. Ou estava apenas
procurando um pretexto para conversar?
— Alguém tinha de fazê-lo — Madeline afirmou, com um leve humor, o
que o fez sorrir. — Mas não posso negar que estivesse curiosa.
— Se quiser, amanhã, quando formos ao forte, poderei mostrar-lhe a
região. E o mínimo que posso fazer, depois do que aconteceu.
Madeline sentiu que seu humor melhorava gradualmente.
— Eu gostaria muito. Vamos visitar algumas barragens? Tenho
interesse de ver como funcionam.
Adam anuiu e pareceu satisfeito com o entusiasmo de Madeline.
— A senhorita gosta de cavalgar?
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Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino
— Mais do que qualquer outra coisa.
— Então, eu a levarei até o pântano pela manhã.
Madeline aceitou, animada, e a conversa voltou para Yorkshire.
Madeline deu-lhe notícias sobre pessoas que ele conhecera e Adam perguntou
sobre o conde que fora seu patrão. Ele também quis saber como os
arrendatários estavam enfrentando o aumento dos aluguéis.
O momento de se recolherem chegou uma hora mais tarde. As crianças
subiram e Adam ficou mais um pouco, para apagar as velas. Madeline subiu a
escada, revigorada pela primeira conversa amistosa com Adam e ansiosa pela
perspectiva do passeio matinal já programado. Sentiu um arrepio e uma doce
perturbação. Não diferente daquela que experimentara a bordo do navio, quando
eles se aproximavam da costa.
Ela parou no patamar que dividia a escada pela metade e apertou o
corrimão com força. Aquela sensação nervosa e incontrolável não era um bom
sinal. Talvez devesse não ter aceito o convite de Adam. Teria sido melhor fingir
desinteresse e pedir que ele a levasse direto ao forte.
Mas aquilo teria sido uma grande mentira. Ela queria tanto dar o passeio
que esquecera momentaneamente a resolução firme de proteger seu coração
vulnerável. Só lhe restava esperar que o coitado não fosse atingido.
Na manhã seguinte, antes de descer para o desjejum, Madeline passou
pela porta aberta do quarto de Mary. A jovem estava deitada na cama e seus
cachos loiros espalhavam-se sobre o travesseiro. Ela fitava com solenidade a
vidraça brilhante da janela, como se disso dependesse sua vida. Virou a cabeça
de imediato ao ouvir os passos de Madeline na entrada.
— Madeline. Estou tão contente que esteja aqui. Entre, por favor. — Ela
tentou sentar-se.
— Eu não a perturbarei em seu descanso? Tive a impressão de ver
melancolia em sua expressão.
— Eu? Nada disso? Estava pensando em Jacob e no nosso bebê.
Espero que tudo corra bem.
Madeline sentou-se ao lado da cama e segurou a mão de Mary.
— Tenho certeza de que tudo dará certo.
— Espero que o médico pense da mesma forma. Ele ordenou-me que
permanecesse na cama até o bebê nascer. Algumas vezes... meu Deus... eu
penso que vou ficar louca. Ele permitiu-me dar uma volta no quarto somente
duas vezes ao dia, para exercitar as pernas. E isso é tudo o que posso fazer.
Acho que só essa criança consegue impedir que eu saia correndo por essa porta
para encontrar-me com Jacob e sentir o calor de seus braços. Ele me faz muita
falta, Madeline. Às vezes chego a imaginar que eu seria capaz de explodir em
mil pedaços de tanta aflição. Mas fico aqui, sozinha neste quarto, olhando para
estas mesmas quatro paredes dia após dia, sem fazer nada a não ser ficar
preocupada com o bebê. Ah, eu queria tanto que ele já tivesse chegado!
Madeline sentiu pena de Mary. Na verdade, Mary era muito jovem e
inexperiente. E tantas coisas podiam dar errado em um parto. Ela apertou a mão
de Mary, procurando confortá-la.
— Tenho certeza de uma coisa. Quando segurar seu filho nos braços
pela primeira vez, tudo mais será esquecido.
— A senhorita deve estar certa. — O olhar de Mary iluminou-se um
pouco, mas Madeline sabia que a jovem estava ansiosa.
— Bem, está gostando da Nova Escócia? — Mary perguntou, mudando
subitamente de assunto. — Ou está ansiosa para voltar para casa?
— Não, não tenho vontade de voltar. Nada me espera lá. Sou mais um
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marcas do destino - julianne maclean

  • 1. América do Norte, 1775.América do Norte, 1775. Quando o pai de Madeline Oxley informou-a de que Adam Coats a pedira emQuando o pai de Madeline Oxley informou-a de que Adam Coats a pedira em casamento, ela pensou que fosse um sonho. Afinal, sempre acreditara que Adam fossecasamento, ela pensou que fosse um sonho. Afinal, sempre acreditara que Adam fosse apaixonado por Diana, sua irmã!apaixonado por Diana, sua irmã! Feliz, Madeline viajou ao encontro de Adam. Mas ao chegar à América descobriu queFeliz, Madeline viajou ao encontro de Adam. Mas ao chegar à América descobriu que tudo não passara de um plano maquiavélico de seu pai.tudo não passara de um plano maquiavélico de seu pai. Desolada, Madeline resolveu voltar para casa; porém, para sua surpresa,Desolada, Madeline resolveu voltar para casa; porém, para sua surpresa, Adam decidiu que ela deveria ficar e se casar com ele!Adam decidiu que ela deveria ficar e se casar com ele! Mas qual seria a verdadeira razão para ele ter mudado de idéia?Mas qual seria a verdadeira razão para ele ter mudado de idéia? Doação:Doação: Valeria®Valeria® Digitalização:Digitalização: Joyce®Joyce® Revisão:Revisão: Savoy®Savoy® Título Original: Adam's Promise Julianne MacLeanJulianne MacLean Marcas do DestinoMarcas do Destino
  • 2. Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino PPRÓLOGORÓLOGO Yorkshire, Inglaterra, 1775Yorkshire, Inglaterra, 1775 Madeline Oxley agasalhou-se melhor com o manto e atravessou a charneca obscura e úmida, na volta ao seu lar. Espiou através da névoa que escondia a pequena casa de pedra incrustada no vale, a pocilga também erguida com fragmentos de rocha e as outras edificações. Parou, assustada. “Oh, não podia ser!” Madeline piscou devagar e olhou novamente. Era a mais pura verdade. Tratava-se da carruagem de seu pai estacionada no pátio. Ele voltara. Nervosa, sentiu a respiração acelerar-se. Não gostava de surpresas. Nos últimos dias, com a ausência do pai, desfrutara a satisfação de ser livre. Na verdade, o pai não a constrangia no sentido de ir e vir conforme sua própria determinação. Ela sempre fora livre para fazer o que quisesse. Madeline pensou em liberdade no sentido mais estrito da palavra. Com o pai fora de casa, não tivera de preocupar-se com as costumeiras expressões de censura e desapontamento. Um olhar que sempre a atingia como uma pancada e normalmente na hora das refeições, quando ambos se encontravam. Suspirou, resignada. Desceu a colina e atravessou o jardim pavimentado com pedras arredondadas. Passou pelo galinheiro, pela cocheira e rodeou o coche vazio parado diante da entrada. Abriu o fecho do manto e entrou em casa. O calor das chamas fortes que crepitavam na lareira da sala de estar tocou-lhe as faces coradas pelo frio. Ela ouviu o ruído da porta fechar-se atrás de si. Tirou o manto, dobrou-o e entrou na sala. O pai estava sentado diante da lareira. — Olá, papai. Como foi a viagem a Thirsk? Ele dobrou uma carta, guardou-a no bolso do colete e fitou-a por cima dos óculos de aros dourados. — Muito agradável. E muito mais proveitosa do que eu poderia imaginar. — Que ótimo. O que aconteceu por lá? — Madeline procurou manter o tom alegre e descontraído. — Tenho a impressão de que um fardo foi retirado de minhas costas. Recebi uma oferta muito generosa de um homem que eu não via há muitos anos. Curiosa, mas inquieta, Madeline engoliu em seco. — Que tipo de oferta? O pai ergueu a cabeça, como se estivesse à procura das frases corretas para a resposta. — Sente-se, Madeline. Precisamos trocar algumas palavras. Madeline sentiu uma opressão no peito. Uma sensação que a acompanhava sempre que o pai queria "trocar algumas palavras" com ela. Ainda com o manto dobrado no braço, Madeline sentou-se na poltrona em frente à do pai. — São boas notícias para nós dois. — Ele recostou-se no espaldar estofado e cruzou as pernas. — Minha filha, acredito que, apesar de tudo, apareceu-lhe uma oportunidade para casar-se. Irrecusável, diga-se de 2
  • 3. Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino passagem. Madeline retesou-se e passou a língua nos lábios secos. — Eu poderia saber... com quem? — ela fez a pergunta com o menor tremor possível na voz. O pai pigarreou e mexeu-se no assento. — Bem, talvez nem se lembre de quem estou falando. Ele esteve aqui há muitos anos e é um pouco mais velho. — Eu o conheci? — Sim. — Não se trata do Sr. Siddall, não é? Madeline foi incapaz de, esconder o pavor que odiava ouvir na própria voz. Mas não poderia ser diferente, o Sr. Siddall tinha o triplo de sua idade. Da última vez que o vira, os dentes dele já se apresentavam estragados e pretos. Naquela altura, que Deus a perdoasse, já deviam ter caído. — Não. Não é o Sr. Siddall — o pai respondeu. — O Sr. Siddall é um cavalheiro da região. Ele jamais a teria pedido em casamento. Não diante da insolência de seu comportamento, filha, depois do que aconteceu em Stanley Hall. O comentário do pai atingiu-a como uma bofetada. Ele nem mesmo a defendera do escândalo que lhe destruíra qualquer oportunidade de matrimônio com um homem decente. Na verdade, o pai piorara tudo, assumindo posição contra a filha e acusando-a publicamente. Madeline estava determinada a não deixá-lo perceber que as feridas ainda machucavam. Ergueu o queixo, disposta a falar com toda a dignidade que pôde reunir em seu coração. — Quem, então? Se não sou boa o suficiente para o Sr. Siddall, a que tipo de homem o senhor pretende entregar-me? Ele suspirou com desânimo. Deixava evidente não entender por que fora amaldiçoado com a desgraça de uma filha tão impertinente. — Como eu já lhe disse, Madeline, você não deve lembrar-se dele. Já faz quinze anos que ele esteve aqui. A minha "querida" filha não passava de um bebê. — Meu pai, há quinze anos eu tinha sete. Ele fez um gesto de pouco caso com a mão. — Sim, sim, não importa. Madeline experimentou a ferroada usual, perante a antipatia que o pai nutria por ela. Apertou as mãos no colo para lutar contra a dor que a aversão lhe causava. O Sr. Oxley puxou os punhos de linho. — Parece que ele não ficou sabendo do escândalo provocado pela srta. Madeline Oxley em Yorkshire. O que é um verdadeiro milagre, não acha? Ela conseguiu encarar o pai com indiferença, enquanto ele continuava com o arrazoado. — O cavalheiro a que estou me referindo deixou Yorkshire há quatro anos e mudou-se para a Nova Escócia. Segundo seus relatos, as mulheres são em minoria por lá. Ele gostaria de casar-se novamente e, pelo visto, lembra-se da pequena Madeline com muito carinho. Embora, confesso-lhe, eu não consiga entender o porquê. Para ser bem simplista, nunca a vi parada em um lugar tempo suficiente para que algum homem pudesse ao menos ter chance para uma avaliação rápida. — O homem virou o rosto e fitou as chamas. — Apesar disso, ele a pediu em casamento. Madeline tornou a ficar tensa. 3
  • 4. Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino — E o senhor aceitou? — Claro. Até já mandei minha resposta. Minha filha, terá de partir no próximo navio que sai de Scarborough em cinco dias. Já tomei as providências necessárias. Para não viajar sozinha, irá na companhia de uma família de Helmsley. Cinco dias? Madeline sentiu vontade de vomitar. Deixaria Yorkshire para sempre e cruzaria o oceano dentro de "cinco dias"? Tentou pensar somente no choque que o fato representava. Era preferível a considerar a hipótese de o pai encarar com tanta naturalidade a certeza de nunca mais ver a filha. Ou melhor, de ele sentir-se aliviado com isso. Madeline endireitou-se e engoliu mais uma vez em seco. — O senhor ainda não me disse o nome dele. — Ela gostaria que o pai falasse de uma vez e acabasse logo com aquele pesadelo. — O nome? — O pai deu uma tossidela, revelando um pouco de constrangimento para revelar de quem se tratava. — Ele se chama Adam Coates. Adam Coates? O coração de Madeline disparou sem nenhum controle. — Mas como eu já lhe disse — o pai continuou —, não acredito que se recorde dele. Faz muito tempo. E como poderia não lembrar-se dele? Ela fora dominada por aquela imagem desde o primeiro instante em que Adam Coates chegara a casa deles montado no grande cavalo negro, havia quinze anos. Ele viera falar com Diana Oxley, a irmã mais velha de Madeline. Na época, Diana contava dezoito primaveras e era uma jovem deslumbrante. Madeline não passava de uma menina de sete, voluntariosa e que, via de regra, recusava-se a ir para o quarto, quando chegava o pretendente da irmã. Madeline nunca vira um homem tão bonito. Ela imaginava que ele seria capaz de ofuscar até as estrelas do céu com sua presença marcante. Adam apeara do cavalo e fizera uma grande mesura diante dela. — Mas quem é esta linda criança? Na certa deve ser uma princesa! Anos mais tarde, quando ela começara a pensar nos jovens de uma maneira romântica, o homem de seus sonhos sempre parecia ter as feições atraentes de Adam Coates. Ele fora o príncipe encantado de suas fantasias. O herói galante que viera salvar uma pequena princesa trancafiada em uma torre. Todos os sons do recinto transformaram-se em borbulhas indistintas, enquanto Madeline continuava sentada, boquiaberta e incrédula, fitando o pai, que murmurava palavras ininteligíveis. — E quanto a Diana? — ela finalmente voltou a si e interrompeu-o com voz trêmula. — Por que o Sr. Coates não pediu a mão de minha irmã? Ele a amou no passado e Diana ficou viúva. Impaciente, o pai tirou os óculos e deixou-os no colo. — Ele não mencionou Diana. Acredito que nem saiba de sua viuvez. Além disso, acho melhor Diana permanecer aqui comigo. O pai queria dizer que seria melhor Diana ficar em Yorkshire, por causa da fortuna que ela herdara. Os joelhos de Madeline começaram a bater um de encontro ao outro sob as saias, como se tivessem vontade própria. Adam Coates? — Eu pensei que ele tivesse se casado — Madeline comentou da maneira mais casual que lhe foi possível. — Ouvi falar que até tem filhos. — Ah, então lembra-se dele. “Perfeitamente!”, ela pensou. — De maneira vaga — foi a resposta. O pai pôs de novo os óculos sobre o nariz. 4
  • 5. Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino — Bem, ele casou-se depois de Diana haver contraído matrimônio com sir Edward. Logo depois, eu acho. Desposou uma jovem senhora de York que já era mãe de um garoto. Não acredito que tenham sido felizes, mas tudo isso pertence ao passado. Ela faleceu antes do Sr. Coates partir para a Nova Escócia. — Sinto muito por ele — Madeline assegurou em tom impessoal; porém suave. O pai levantou-se e fez sinal para ela fazer o mesmo. — Eu sei minha filha, que depois do trágico acontecimento em Stanley Hall, você deve ter-se resignado ao celibato. Mas é impossível desprezar uma oferta desse porte. O Sr. Coates é um homem de sucesso. No momento, é tão rico como qualquer aristocrata, e o mais importante é que não conhece a grave ocorrência que abalou a opinião pública de Yorkshire. Com um pouco de sorte, ele não ficará sabendo de nada até depois das núpcias. Deus é testemunha de que uma jovem desonrada jamais seria pedida em casamento por alguém desta região. Por isso peço que pense bem no que eu lhe disse e parta sem fazer alarde. Procure dar o melhor de si na empreitada. Pelo que ouvi dizer, o mundo parece diferente do outro lado do oceano. Talvez possa recomeçar a vida e enfrentá-la de maneira respeitável. — Sim, meu pai. — Madeline anuiu com polidez. O homem recuou. — "Sim, meu pai?" E só o que tem para me dizer? Meu Deus do céu! Eu esperava uma enorme batalha a respeito do assunto. Acredito mesmo que nunca a ouvi dizer "sim, meu pai" durante os seus vinte e dois anos de existência! Madeline abaixou o olhar, evitando demonstrar o que sentia na verdade. — Se vou mesmo tiver de partir em cinco dias, acho que será interessante eu tornar a nossa convivência mais agradável. O pai deixou cair os ombros. — Penso que é um pouco tarde para isso. Agora é melhor sair e providenciar com atenção o que pretende levar. Eu só posso dispor de dois baús. — Ele tornou a sentar-se e dispensou-a. — O Sr. Coates quer que leve também o equivalente a trinta e seis litros de sementes de trigo, amarelas Kent e marrom Hampshire. Recomendou ainda que usasse os sacos como travesseiro durante a travessia, para evitar que fiquem umedecidos no depósito de carga. Adam Coats. Era mesmo inacreditável. Ela jamais concordaria em deixar Yorkshire se soubesse da verdade. A mulher que Coates esperava em Cumberland para casar-se era Diana, a irmã mais velha. Talvez fosse melhor rasgar a mensagem. Depois de Madeline ter deixado a sala, seu pai descansou a cabeça no encosto alto e tamborilou com os dedos no braço da cadeira. O que faria com a carta que se encontrava no bolso do colete?, ele perguntou a si mesmo. Decidiu que a trancaria no compartimento secreto da gaveta de sua mesa. Conhecia a natureza investigativa de Madeline. Ela poderia querer examinar o conteúdo da missiva, o que estava completamente fora de questão. 5
  • 6. Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino CCAPÍTULOAPÍTULO II Colônia Britânica da Nova Escócia. Sete Semanas mais TardeColônia Britânica da Nova Escócia. Sete Semanas mais Tarde Charlie Coates veio correndo, escorregou e quase bateu na mesa larga de carvalho da sala de jantar. — O navio está se aproximando da enseada! Adam Coates, sentado à mesa, ergueu os olhos do livro que lia. Tirou os óculos sem pressa e deixou-os ao lado dos candelabros de prata de lei. — Calma, filho, não fique tão esbaforido. É apenas um navio. — Mas é o navio "dela", papai! — Sim, eu sei. — Adam não podia negar que fora acometido por um tremor de antecipação. — Suponho que devo ir até lá e recebê-la, não é? Adam sorriu para o filho mais novo e levantou-se. — Eu vou atrelar a charrete! — Charlie ofereceu-se, deu um pulo e correu para fora da casa. Adam ficou parado ao lado da mesa, escutando o tique-taque do relógio que se encontrava sobre o consolo da lareira. Quantos anos haviam se passado? Vinte? Não, não era tudo isso. Para ser mais exato, somente quinze. Não podia fingir, nem para si mesmo, que não se lembrava do dia em que Diana o abandonara para casar-se com outro. Nem podia esquecer-se do tempo em que estivera casado com Jane, que Deus se apiedasse de sua alma, e de suas explosões temperamentais que haviam tornado o matrimônio um peso insuportável. Já não era mais o mesmo homem idealista de antes... Olhou as roupas simples que vestia, camisa branca e calça castanho- amarelada, e refletiu no que Diana pensaria ao vê-lo. Será que o reconheceria? A sua aparência não mudara muito com o transcorrer dos anos, exceto por alguns fios brancos de cabelos e pequenas rugas ao redor dos olhos. Aos quarenta e três anos, era forte e vigoroso como qualquer homem com a metade de sua idade. Talvez até mais enérgico. Estendeu os braços para frente e examinou as mãos calosas e rudes. Na certa, ela não conseguiria ver a maioria das mudanças. Pelo menos, não de imediato. Bom Deus, qual seria a aparência de Diana naquela altura dos acontecimentos? Ela teria sido maltratada pela passagem daquele tempo todo? Os cabelos dourados teriam escurecido? A pele clara teria ficado bronzeada? Não que isso importasse, Adam concluiu. Ela ainda seria a mesma Diana. A "sua" Diana. E ele adoraria as mudanças, fossem elas quais fossem. Imerso em uma mistura de antecipação nervosa e de euforia, Adam Coates saiu da sala e subiu para trocar de roupa. Madeline estava com as mãos apoiadas na amurada do convés do navio, com os pés afastados por causa do balanço do Liberty. O vento chicoteava-lhe o manto e as saias, e borrifos salgados esfriavam-lhe o rosto. Fechou os olhos. Inspirou o cheiro refrescante e a umidade do mar. Escutou o barulho da quilha pesada que cortava a água provocando ondas espumosas. 6
  • 7. Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino Refletiu, sonhadora, que não devia faltar muito tempo. Não haveria mais espera nem expectativas e a imaginação cessaria seu trabalho. Poderia comprovar finalmente como seu coração se comportaria ao ver Adam Coates depois de tantos anos. Adam. Deveria chamá-lo pelo nome de batismo, quando o visse? Seria estranho, pois ele sempre fora o Sr. Coates para ela. Nem mesmo tinha certeza se conseguiria pronunciar-lhe o primeiro nome com a dignidade normal de uma esposa. Bem, ainda não era sua esposa. Mas haveria de se tornar em breve. Dentro de muito pouco tempo. A pulsação de Madeline disparou diante do pensamento de casar-se com o homem ideal de sua vida. Nunca pudera esquecê-lo, embora não passasse de uma criança quando o vira pela última vez. As gaivotas destacavam-se no céu muito azul, lançavam seus gritos agudos e breves, desciam e rodeavam as velas enfunadas, enquanto o navio se aproximava do cais na foz do rio Cumberland Creek. A escuna atracou com movimentos suaves e com segurança. Dali á pouco Madeline desceu a prancha de desembarque e atingiu a plataforma inferior. Ansiosa, perscrutou a colina distante, onde estava situado o Forte Cumberland. Parou um pouco e observou a tripulação retirar as bagagens. O aroma salgado do mar era trazido pelo mesmo vento que erguia suas saias até o tornozelo e batia em seu gracioso chapéu campestre. Ela tratou de segurar a copa com firmeza para não perdê-lo, enquanto as fitas esvoaçavam sob o queixo. Estreitou os olhos para a imensidão de relva que se estendia a distância, flanqueada dos dois lados por regiões montanhosas de florestas. Aquelas terras magníficas seriam seu lar. Pareceu-lhe quase impossível de acreditar. — Por aqui! Venham! — o Sr. Ripley chamou, acenando para a família. O Sr. e a Sra. Ripley tinham sido os guardiões e acompanhantes de Madeline durante a travessia. Ela esperava que aquela família bondosa, que nada sabia do escândalo, viesse a tornar-se sua vizinha. — A senhorita também, Madeline! — o Sr. Ripley dirigiu-se a ela em voz alta.» — Siga-nos até o caminho do forte. Nós mandamos colocar suas arcas junto com as nossas na carroça. Madeline ergueu a barra das saias e iniciou o longo trajeto pelo carreadouro, pisando com cuidado sobre as pedras soltas. Eles alcançaram o alto da colina e passaram pela entrada da fortaleza. Durante o tempo em que o Sr. Ripley ocupou-se em alugar um quarto para a família em uma das casernas, Madeline relanceou um olhar pelo pátio. Examinou as fisionomias dos fazendeiros e dos mercadores, perguntando a si mesma se Adam estaria a sua espera. Deus Todo-Poderoso! O coração batia em descompasso e Madeline arfava. Apesar de passados quinze anos e de ela ser uma menina naquela época, não haveria a menor possibilidade de não reconhecê-lo. Assim que o visse, poderia declarar com certeza de quem se tratava, por causa dos olhos dele. Os mais azuis que já vira em sua vida. Inesquecíveis. , — Ele já chegou? — Dóris Ripley aproximou-se e quis saber. — Ainda não o vi — Madeline respondeu. — Talvez não saiba que o navio chegou. Acredito que eu deveria mandar-lhe um recado. — Encontrarei alguém para levar a mensagem — a Sra. Ripley ofereceu-se, solícita, e olhou ao redor, à procura de ajuda. Naquele instante, um homem alto atravessou o pátio. Vestia um sobretudo preto bem talhado e um chapéu de três pontas, também preto. Os 7
  • 8. Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino babados da camisa branca e imaculada eram visíveis no colarinho. Caminhava com tal confiança e graça que muitas cabeças se voltaram para admirá-lo. Mesmo de longe, Madeline não duvidou. Era Adam Coates. Ela sentiu o sangue pulsar nas têmporas com força e pensou que fosse desmaiar. Agarrou a manga da Sra. Ripley, antes que a outra se afastasse. — Ele está aqui! A Sra. Ripley fitou a entrada do forte. — Meu Deus, Madeline... — foi tudo o que a outra disse, com voz arfante. Madeline lutou contra a vontade de dobrar os joelhos e largar-se no chão, sem conseguir deixar de fitá-lo. Por tudo o que era mais sagrado, Adam Coates era um homem magnífico e estava ainda mais bonito do que antes, embora aquilo lhe parecesse impossível. O decorrer do tempo fora benéfico para ele. Parecia envolto em uma aura de masculinidade confiante. Era um homem maduro que inspirava coragem e dignidade. Madeline ajeitou e esticou o fichu, passou as mãos no corpete apertado e provido de barbatanas, e alisou a saia de algodão listrado. Adam encaminhou-se até um homem que estava próximo à entrada e perguntou-lhe qualquer coisa. O camarada apontou um polvorinho feito de chifre de boi na direção dos passageiros que acabavam de chegar pelo Liberty. Todos se encontravam agrupados do lado de fora da construção fortificada. Em seguida, Adam adiantou-se a passos largos, determinado, dando mostras de estar procurando uma pessoa em meio à multidão. Era até possível ver a antecipação em seu olhar. Será que a ansiedade dele era igual à de Madeline? A Sra. Ripley cutucou Madeline algumas vezes no braço, antes de alguém fazer um comentário sussurrado as suas costas. — É esse o cavalheiro que vai se casar com a srta. Oxley? Santo Deus... Madeline não poderia repetir uma única palavra das que se seguiram ao comentário. Não ouviu mais nada. Tudo o que podia fazer era procurar recuperar um pouco da calma, descontrair a fisionomia aflita e preparar-se para cumprimentá-lo. Adam parou diante da Sra. Ripley, tirou o chapéu e segurou-o debaixo do braço. Os cabelos negros e entremeados por alguns fios brancos estavam amarrados para trás com uma fita. Os olhos ainda eram azuis como o céu de outono e contornados por cílios negros. As sobrancelhas, também negras, acentuavam a expressão de quem confiava em si mesmo. O coração de Madeline aqueceu-se à vista de Adam Coates. Embora ciente de que, depois de tanto tempo, Adam não passaria de um estranho, ela teve a impressão de que jamais se afastara dele. O que, de certa forma, não deixava de ser uma verdade. Como nunca o esquecera, Adam fazia parte de sua vida. Adam fitou Madeline com bastante indiferença e voltou-se para a Sra. Ripley. — Boa tarde, minha senhora. Estou aqui para encontrar-me com uma pessoa. Por favor, se pudesse informar-me... Antes de ele ter a oportunidade de terminar, a Sra. Ripley abraçou a cintura de Madeline e empurrou-a para frente. — Sim, Sr. Coates — a bondosa senhora confirmou com um sorriso cálido —, ela está aqui. Adam fitou Madeline novamente, dessa vez com mais atenção. E analisou-lhe a fisionomia por um longo tempo. Madeline sentiu-se constrangida 8
  • 9. Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino na frente de tantas pessoas. Pigarreou discretamente e preparou a voz para a frase protocolar: "Como vai, Sr. Coates?", mas nem sequer teve oportunidade de pronunciar a primeira sílaba. — Não, não é ela quem estou esperando. — As sobrancelhas escuras juntaram-se e encimaram um olhar de preocupação. — O nome da pessoa que procuro é lady Thurston. Nós vamos nos casar. CCAPÍTULOAPÍTULO IIII Madeline poderia jurar que empalideceu de repente. E a tortura continuou, inexorável e lenta. Ninguém disse uma só palavra. As suas costas, um farfalhar desconfortável de saias, algumas tossidelas desencontradas e a impressão de ter sido atingida por uma faca. Ela não conseguia entender como é que ainda se mantinha em pé. Devia ser a força do hábito, embora o enrijecimento muscular a fizesse estremecer violentamente. — Ela está aqui? — Adam perguntou após alguns minutos e ainda esperançoso. De repente, Madeline sentiu o corpo todo entorpecido e desejou que o coração também ficasse insensível. A Sra. Ripley agitava-se à procura de uma explicação e de uma resposta. Sabedora de que Madeline conhecera Adam quando ele cortejara Diana, sua irmã mais velha, a boa senhora na certa entendera que fora cometido um erro. —Receio dizer-lhe, senhor, que a irmã de Madeline não veio em sua companhia. Madeline agradeceu à Sra. Ripley a resposta diplomática e inteligente. Adam também ficou pálido e tornou a fitar Madeline, e ela teve certeza de ter sido reconhecida. Ele demonstrou o desapontamento na profundeza do olhar e pela leve curvatura da postura. — Si... sinto mu... muito, eu... — Adam gaguejou. — A senhorita é a "irmã" de Diana? Qual é o seu nome? Madeline endireitou os ombros diante da humilhação ofensiva e esforçou-se para responder com voz calma e digna. — Madeline, Sr. Coates. Adam fitou-a por mais alguns segundos. — Ah, sim, acho que me lembro da senhorita. — Ele hesitou de novo. Aquele foi o silêncio mais pungente que ela já experimentara. — O que foi que houve? Algum problema? Por que foi que a "senhorita" veio? Aquilo não podia estar acontecendo... Oh, Deus muito amado!, ela teve certeza de que estava a ponto de vomitar. — Eu... Disseram-me que o senhor mandou chamar-me. — Não. — Seguiu-se mais um intervalo interminável. — Bem, na 9
  • 10. Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino verdade, tudo isso é muito constrangedor. — Constrangedor para quem? — Madeline falou, muito séria. — Para o senhor? Ou para as pessoas que estão paradas atrás de mim? Felizmente os outros entenderam a sugestão e dispersaram-se aos poucos. Inclusive a Sra. Ripley, que deu um tapinha amigável no braço de Madeline, antes de afastar-se. Ela ficou sozinha, frente a frente com Adam Coates, sem ter a menor idéia do que iria dizer ao homem que, havia minutos, Madeline imaginara que se tornaria seu marido. — Quem lhe disse que eu pedi que viesse? — ele perguntou, sem rodeios. — Meu pai. Ele disse que o senhor lhe escreveu uma carta. Adam apertou os lábios até transformá-los em uma linha fina. — Eu escrevi a ele, sim, e também mandei uma carta para Diana. Ele não entregou a missiva para ela? — Não que fosse do meu conhecimento. Quando seu pedido chegou, Diana estava em Londres. Eu nunca vi a carta e nem mesmo me despedi dela. Mal tive tempo de escrever-lhe para contar que iria viajar para cá. Os músculos do queixo de Adam contraíram-se visivelmente diante da fúria que, a muito custo mantinha sob controle. Ele começou a andar de um lado para outro, na frente de Madeline. — Eu fui muito claro quanto às minhas intenções de casar-me com Diana. Seu pai não tinha o direito de mandá-la no lugar dela. O que ele estava pensando? Madeline teve de lutar arduamente para manter a dignidade, enquanto se consumia com raiva de seu pai. E também de Adam, por humilhá-la na frente de todos os presentes. Sem mencionar que o insensível nem mesmo se dava conta de que estraçalhara todos os seus sonhos. E que não se detinha para refletir que ela também poderia estar desapontada. — Peço-lhe desculpas pelo mal-entendido, senhor. Meu pai tem a tendência de manipular as coisas a seu bel-prazer. — Manipular? Seu pai enviou-me a noiva errada! Madeline rangeu os dentes, incapaz de esconder por mais tempo sua fúria. — Sr. Coates, pode ter a mais absoluta certeza de que não foi o único a sofrer um transtorno terrível. Acabei de passar um mês e meio em um navio rangente e úmido, comendo farinha seca de aveia e bebendo água bolorenta! E o senhor diz na frente de tantas pessoas que não sou a mulher que mandou buscar. Eu não deveria aborrecer-me? Acredito que já recebi muitos insultos e sofri numerosas frustrações para um dia só. Adam parou de andar e fitou-a, de verdade, como se fosse a primeira vez. — A senhorita não achou estranho que eu pedisse a sua mão? Não lhe ocorreu discutir com seu pai sobre o assunto? Diana e eu tivemos uma história juntos, um passado em comum, quando a senhorita não passava de uma criança. Aliás, ainda é uma menina. — Eu tenho vinte e dois anos, senhor. — Madeline não conseguia eliminar o ódio da voz. — Sei. Vinte e dois... E quer tanto casar-se que pretendia ludibriar um homem por isso. — Foi meu, pai quem o enganou, não eu! Adam não aceitou a declaração de inocência e continuou a andar de uma lado para outro, na frente dela. — Quer soubesse da verdade ou não, a senhorita tomou parte nisso. 10
  • 11. Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino Diana era uma escolha óbvia. Meu Deus do céu, como a senhorita podia pensar em uma coisa dessas? Casar-se com um desconhecido? O que poderia dizer-lhe? Que vinha pensando com o coração romântico e tolo? Que sonhara em ser sua esposa desde que era uma criança? Que passara as últimas seis semanas fantasiando sobre a noite de núpcias em seus braços? Que imaginara que estava destinada a ser o amor da vida de Adam Coates? E que acreditara ha vontade dele em desposá-la, somente por que queria ter o fato como verdadeiro? E que fantasia maravilhosa fora aquela! O homem de seus sonhos era cheio de alegria e adoração. Aquele homem amargo e agressivo não se parecia em nada com o jovem do qual se lembrava. — Meu pai assegurou-me que o senhor pedira minha mão. Não tive motivos para duvidar da palavra dele. Alguém nas proximidades começou a rachar lenha e a machadada inicial fez Madeline dar um pulo. Ela sentiu como se alguém a houvesse golpeado no coração. Adam suspirou profundamente. — Não teve motivos? A senhorita não tem vontade própria? Ah, aquilo já era demais. — Para dizer-lhe a verdade, Sr. Coates, tenho, sim. E sabe qual é ela no momento? Cutucar meu pai com uma agulha de trica bem pontuda e, se me permite dizer, o senhor também deveria dar-lhe umas aguilhoadas. Adam estreitou os olhos. Ela não teve certeza se era de raiva ou de espanto. O homem com o machado bateu novamente e o som de madeira sendo rachada cortou o silêncio que se seguiu. Madeline não deixou de fitar Adam. — Então, o que vamos fazer? — ele perguntou, com um tom de voz um pouco mais suave. — Eu não sei, Sr. Coates. Como o senhor disse antes, a situação é bastante constrangedora. — Bem, eu não posso simplesmente deixá-la aqui. Bom Deus, Adam Coates estava redondamente enganado se pensava que iria fazê-la sentir-se como uma órfã indefesa que lhe fora entregue à revelia. Ela não lhe pedira para escrever aquela carta e haveria de encontrar um meio de sair daquela situação. Com ou sem a ajuda dele! — Srta. Madeline, seu pai confiou-me sua segurança Adam acrescentou. — E também é sabido que essa escuna não vai voltar para a Inglaterra. Ela está indo para Boston e só Deus sabe quando chegará o próximo navio. Adam deu um passo à frente. — Que confusão maldita — ele murmurou. Madeline inspirou fundo e contou até dez. Teve vontade de não só cutucar Adam com agulhas pontiagudas, mas com qualquer instrumento cortante que tivesse à mão. — Não perca seu tempo preocupando-se comigo, Sr. Coates. Tenho certeza de que o Sr. e a Sra. Ripley não se incomodarão se eu permanecer aqui com eles. Venho ensinando seus filhos a ler nessas últimas semanas. Adam considerou o fato por um momento. — Eles possuem terras por aqui? — Ainda não, mas o Sr. Ripley pretende comprar alguma coisa assim que... — Levará algum tempo até que ele se familiarize com a região. E no mínimo algumas semanas antes de ele encontrar o que está procurando e que lhe agrade. 11
  • 12. Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino Um mercador andrajoso passou por eles, com o cano do mosquete apoiado no ombro. Tirou o chapéu e sorriu para Madeline com admiração. Adam observou o homem cruzar o pátio. — Bem, a senhorita não pode ficar aqui — ele afirmou com firmeza, virando-se de novo para ela. — E por que não? — Porque é praticamente uma criança, está sozinha e seria inimaginável para mim deixá-la desamparada no forte. — Eu não sou uma criança — ela tornou a lembrá-lo. Adam suspirou e sacudiu a cabeça diante do argumento. Mais uma vez, Madeline sentiu-se um fardo, e dos mais insolentes, para variar. Quando se despedira do pai, pensara que finalmente iria escapar daquelas atitudes desprezíveis. — A senhorita ficará em minha casa até decidirmos o que fazer. Será uma boa companhia para a minha nora. Ela está em fase adiantada de gravidez. Teve um problema e deverá guardar repouso até o final da gestação. Os acontecimentos se atropelavam muito depressa. O engano trágico, a humilhação e o desmoronar dos sonhos de Madeline. Não se sentia disposta a ser empurrada de um lado para outro, antes de ter a oportunidade de raciocinar sobre o que "ela" desejava realmente fazer. — Sr. Coates, eu não vou ficar na sua casa. — E por que não? — Adam perguntou, como se a afirmativa dela fosse algo inconcebível. — Porque... porque eu não quero. Ah, será que não podia encontrar nada melhor para responder?, Madeline recriminou-se. Parecia até ser a criança que ele supunha que fosse! — O que desejamos nem sempre é o melhor para nós — ele assegurou. — E nem o que conseguimos. Madeline arrepiou-se com o tom paternal. Adam lembrou-lhe o pai dando conselhos, passando sermões e chamando a atenção para as rebeldias constantes da filha. Sempre detestara ouvir tudo aquilo do pai e não iria escutar o mesmo tipo de discurso do homem que a rejeitara publicamente. Naquele momento, Madeline refletiu que poderia haver um duplo sentido nas palavras de Adam. Talvez ele estivesse se referindo ao fato de Diana ter-lhe destruído o coração havia quinze anos, para casar-se com um baronete. Madeline passou a língua nos lábios ressecados. — Conforme eu lhe disse antes, ficarei com os Ripley. — A senhorita não fará uma coisa dessas. Desde que chegou aqui, passou a ser objeto de minha responsabilidade. Por misericórdia! A senhorita é irmã de Diana e eu não vou deixá-la largada com qualquer um. Madeline sentiu a frustração invadi-la como uma onda que se erguia pronta para arrebentar. E, mais uma vez, veio-lhe à mente a primeira visita de Adam à casa dos Oxley em Yorkshire. Lembrou-se de como ele lhe desmanchara os cabelos e lhe mostrara um truque de mágica. Oh, Senhor, mas com o que estaria ela sonhando? Na época, ele tinha quatro vezes a idade dela e, nessa altura dos acontecimentos, o dobro. Fora mesmo uma tola! Madeline fechou os olhos, sem conter a amargura. Não poderia passar mais nenhum minuto ao lado de Adam Coates. Não queria continuar olhando para aquele rosto bonito e irritante. E, sobretudo, não suportava ter de atenuar a cada minuto aquela vergonha estúpida em sua mente. — Onde estão seus pertences? 12
  • 13. Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino — O que foi que o senhor perguntou? — Madeline, perdida em devaneios, assustou-se. — Onde estão as suas arcas? Mandarei entregá-las em minha casa. Ela tentou recusar, mas ele já caminhava ao encontro de alguém para levar a bagagem. Madeline seguiu-o correndo. — Eu preciso repetir? Não vou ficar com o senhor! — Não estou lhe perguntando nada e nem lhe ofereço alternativas a escolher. Por tratar-se da irmã de Diana, pretendo tomar conta da senhorita. — Não preciso de ninguém para cuidar de mim! Adam parou e fulminou-a com o olhar. Madeline percebeu-lhe a convicção inabalável na expressão e as linhas ao redor da boca. Aqueles vincos deixavam-no com a aparência de um homem constantemente carrancudo. As pequenas rugas não existiam quinze anos antes. Ou, pelo menos, Madeline não se recordava delas e nem de tê-las visto em seus sonhos. Ela se empenhou ao máximo para não demonstrar nenhuma perturbação com o que acontecia e começou a pensar que talvez fosse uma pessoa de sorte por não ter sido obrigada a casar-se com uma pessoa tão dominadora e mal-humorada. — Pelo visto, a senhorita continua tão teimosa como antes — Adam comentou com rispidez. O comentário atingiu-a como um raio. Não podia imaginar que Adam se lembrasse de qualquer coisa sobre ela e muito menos que ela fosse obstinada. Então veio-lhe à mente o sem-número de vezes em que ele e Diana saíam para passeios nas charnecas, para ficarem a sós. Diana implorava para Madeline voltar para casa. Ela, muito jovem para entender o porquê, discutia com Diana e, invariavelmente, seguia os dois. Era a recordação que Adam guardara dela. A irmã caçula e impertinente de Diana. Madeline ficou parada, sem dizer nada, à espera de que ele desistisse. Mas não foi o que aconteceu. Adam apenas reafirmou suas intenções. — Para ser sincero, eu desejo que venha a minha casa e seja minha hóspede. Como também já lhe disse, minha nora está confinada ao quarto e ficará desapontada se a senhorita não for. Além disso, minha filha e meu filho mais novo poderão aproveitar suas instruções em aritmética e leitura. A senhorita disse que tem experiência, não é mesmo? — Sim, tenho — Madeline respondeu, sem tempo para refletir. — Então estamos combinados. Tudo dará certo. E Adam Coates saiu em busca de um cocheiro para entregar os baús. Madeline ficou parada no meio do pátio, enfraquecida e exausta. Acontecera de novo. Fora manipulada mais uma vez. Sentado na carruagem leve de quatro rodas ao lado de Madeline, Adam estalou as rédeas e começou a volta ao lar, passando por Cumberland Ridge. Fez um esforço para não pensar em tudo o que poderia ter acontecido naquele dia. Era óbvio que não conseguiria. Dentro dele fervilhava uma mistura de desapontamento e raiva. Naquelas poucas semanas, desde que recebera a carta dizendo que a "noiva" estava a caminho e que cruzaria o oceano para ficar com ele, Adam parecia ter-se apaixonado novamente por Diana. Passara muitas horas relembrando como ela o fizera sentir-se havia mais de quinze anos. A simples recordação do rosto adorável deixava-o com os joelhos enfraquecidos. Diana fora a primeira mulher que ele amara. Ambos haviam se amado com desespero. Pretendiam ficar juntos todos os minutos de cada dia do resto de suas vidas. Oh, Deus, como a amara! Com toda a fúria e a paixão de sua juventude. 13
  • 14. Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino Ninguém o conhecera como ela, e ele também pensara que a conhecia profundamente. Mesmo passado tanto tempo, Adam ainda acreditava em tal conjetura. Eles contavam tudo um para o outro, expressando cada sentimento ou vontade. Quando a segurava nos braços, almejava ficar com ela para sempre. Infelizmente, o "para sempre" não durara muito. Não houvera aviso de que o fim estava próximo. Nada de discussões e nenhum deles deixou de amar o outro. Não chegaram a tomar as resoluções normais em casos do rompimento. Diana dissera-lhe apenas que teria de deixá-lo chorando copiosamente encostada em seu ombro, fazendo com que ele a amasse mais do que nunca. Com o decorrer dos anos, Adam entendera por que Diana se decidira por aquele caminho. Não poderia ter sido diferente. Adam era o terceiro filho de um arrendatário. Próspero, sem a menor sombra de dúvida, mas sem condições de aproximar-se da pequena nobreza. E sem esperança de vir a tornar-se um proprietário de t erras. Diana casar-se com um baronete. Ela escolhera com inteligência. Qualquer jovem prudente teria feito o mesmo. - v Nas últimas semanas, pensar que Diana o desejava de volta deixara-o ansioso è fizera-o sentir-se jovem novamente. Como se o afastamento entre eles não houvesse durado mais do que um segundo. Não conseguira parar de pensar em Diana desde que soubera do falecimento de seu marido e entendera que ela estava livre. E quando deixava a mente retornar aos momentos gloriosos que haviam compartilhado na juventude, era como se revivesse acontecimentos da véspera. Sentia-se mais velho do que nunca, sentado ao lado da irmã mais nova de Diana, que não passava de uma criança da última vez em que a vira. Ainda por cima, um velho patético que vinha sonhando com Diana, da maneira mais tola possível. Diana, a mulher que sempre lhe escorregava por entre os dedos. Era estranho. Pensara em Diana durante todos os dias daqueles últimos quinze anos, e um provável recomeço parecera-lhe sempre algum tipo de destino romântico. Na verdade, uma fantasia ridícula. — Onde é a sua casa? — Madeline arrancou-o de dentro de seus sonhos. — Está muito longe? Adam apontou à frente deles. — Além daquele cômoro, escondida pelas árvores. Madeline endireitou-se. Queria ver o mais longe possível. Procurava desvendar o que a esperava. Adam sentiu que ela estava lutando contra a vontade de ficar em pé na charrete em movimento. Ele advertiu a si mesmo para não pensar em Diana, pois não haveria vantagem em torturar-se. Procurou fitar a paisagem em todas as direções. — Uma bela vista daqui, não acha? Madeline fitou-o com frieza. Adam sentiu-se avisado de que, se ela lhe concedesse uma resposta, seria unicamente por tratar-se de uma jovem bem- educada. Não seria difícil supor que ela devia estar muito aborrecida com o que acontecera. Tinha sido uma cena lamentável diante dos companheiros de viagem. E, para ser honesto, lamentável para ambos, pois ele agira de forma grosseira. Por Deus, por que se tornara tão rabugento daquele jeito?, Adam admoestou-se. Aquilo acontecera gradualmente ao longo dos anos. E ele nem ao menos se dera conta do fato, até estar frente a frente com alguém que pertencia ao passado. Alguém que conhecera o homem que ele era antes. — É aquela fazenda lá embaixo? Pelo menos, Madeline fazia um esforço. Adam refletiu que teria de fazer 14
  • 15. Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino o mesmo. Sentiu uma ponta de vergonha por sua atitude intempestiva. — Aqueles são pântanos de água salgada. Tudo ali é protegido por diques. Madeline fitou em silêncio a paisagem que se descortinava como um veludo verde e as florestas escuras que cobriam as regiões montanhosas. No céu azul, as nuvens brancas deslocavam-se rapidamente. — Seus filhos devem ser de muita ajuda — ela comentou. — Eu não faria nada sem eles. Ele virou ligeiramente a cabeça e analisou o perfil feminino. As faces eram delicadas e os lábios, carnudos. Os olhos expressavam fascinação juvenil diante do mundo desconhecido que a rodeava. Madeline ainda era uma criança e, apesar disso, cruzara o oceano na expectativa de tornar-se sua esposa. Minha esposa! A irmã mais nova de Diana! E na certa pensara que iria enfrentar os filhos dele como futura madrasta. Era de estarrecer. Madeline saberia que Jacob, seu enteado, era apenas quatro anos mais jovem do que ela? Só em pensar no assunto, um tremor de inquietação percorreu-o. Será que ela ficara mesmo com o coração partido?, Adam perguntou-se, com certa descrença. Mas era obrigado a admitir que a rejeitara sob o ponto de vista romântico, ao dizer, com voz perfeitamente audível e diante de uma platéia atenta, que Madeline não era a pessoa que ele esperava para casar-se. Considerou a hipótese de comentar sobre o assunto. Poderia ser até uma desculpa. Refletiu um pouco e concluiu que isso serviria apenas para agravar as feridas de ambos. O melhor seria não dizer nada. Não valeria a pena insistir no tema. Ela que continuasse a encantar-se com o panorama. Pelo menos não houvera um romance verdadeiro e profundamente arraigado entre eles. Era preciso também verificar o outro lado da moeda. O mais provável era que Madeline ficara aliviada de não ter de casar-se com um homem quase desconhecido e que possuía o dobro de sua idade. Bem, o que fora feito não poderia ser desfeito. Não havia sentido em deter-se sobre circunstâncias desagradáveis por mais tempo. Tudo aquilo seria resolvido em breve, pois ele ainda não desistira de Diana. Madeline recostou-se no assento e largou o corpo ao ritmo do balanço irregular do veículo. Fitou de maneira imparcial a paisagem batida pelo vento que deveria tornar-se seu futuro lar. Era no que sempre pensara, ansiosa por aventuras. A realidade a fazia sentir-se ainda pior. Tinha a impressão nítida de que seus sonhos haviam sido destroçados e remexidos diante de seus olhos, para nunca mais serem reconstruídos. E tudo o que lhe restava seria aceitar a situação. Adam conduziu o veículo pela descida da encosta e penetrou na densa floresta de pinheiros, onde tudo era quieto, sombreado e ao abrigo do vento. Um caminhei estreito por onde a charrete passava apertada e que devia ser a estrada. Só se ouviam os sons dos cascos do cavalo batendo no solo e o ranger das rodas que passavam sobre ramos secos. Um sentimento inquietante tomou conta de Madeline. O que seria dela? Um oceano a separava do ambiente familiar das charnecas, das várzeas e dos labirintos de pedra. Não conhecia ninguém na Nova Escócia, além de Adam e das pessoas do navio. Nem tinha parentes na região. Na verdade, nem mesmo possuía uma família em Yorkshire na qual pudesse encontrar apoio. Mas lá, pelo menos, conhecia o território. Ali, naquelas terras estranhas, poderia perder-se no meio das florestas ou ser comida por um urso. Ah, que Deus a perdoasse! 15
  • 16. Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino Ela apertou com força a bolsa cor-de-rosa e prateada entre as mãos. Em parte de medo e em parte de raiva. — Está sentindo alguma coisa, Srta. Oxley? — Adam surpreendeu-a com a pergunta. Madeline costumava considerar-se capacitada em esconder seus sentimentos. Dali para frente, teria de empenhar-se mais na matéria. — Estou bem, Sr. Coates. — Pois não é o que está me parecendo. Madeline inspirou fundo, sem saber bem o que responder. — Eu estava apenas pensando em meu futuro e para onde irei depois de tudo isso. “E também em que nunca me senti mais sozinha em minha vida”. — Acredito que o melhor para a senhorita seria voltar para Yorkshire, onde está seu pai. — Eu preferia não fazê-lo. Adam ficou em silêncio por alguns minutos. — Acha mesmo que isso seria uma decisão inteligente? Como explicar-lhe que deixara Yorkshire por ter sido defamada por uma calúnia improcedente e vergonhosa, e que seu pai não movera um dedo para defendê-la? Depois daquele pequeno desastre, Madeline concluíra que o pai estava mais do que determinado a livrar-se dela. E bastante decidido a ficar com Diana a seu lado. — Serei franco com a senhorita — Adam anunciou. — Aqui não há muito o que possa interessar a uma jovem solteira. Muito poucos colonizadores podem permitir-se contratar governantas que durmam no emprego. E são muitas as oportunidade de encontrar um trabalho que não seja tomar conta de uma casa. Os invernos são rigorosos e longos. Se não tomarmos cuidado, os ventos gelados que varrem os pântanos podem tirar um pedaço da nossa pele. E os mosquitos... Bem, posso garantir-lhe que acabarão por deixá-la louca. A ferroada deles parece penetrar como uma agulha quente. Depois o local fica inchado por vários dias e a coceira é de causar desespero em qualquer pessoa. — O senhor está exagerando. Adam inclinou a cabeça na direção dela. — Espere para ver. Em um mês estará pulando no Tantramar lamacento para escapar deles. Algumas vezes, eles são piores do que uma nuvem negra sobre a cabeça e... — O senhor já fez suas considerações, mas eu não vou retornar para casa. Ainda não sei o que farei e nem tive tempo hábil para pensar nisso. Mas não se preocupe. Encontrarei algum meio de sustentar-me. Se não for aqui, talvez possa ser em Halifax. — Não há estrada até Halifax. Somente trilhas usadas pelos indígenas e caminhos muito estreitos como este. Madeline inspirou fundo, frustrada. — Então, o que o senhor quer que eu faça? Que volte para casa no próximo navio? Ir ao encontro de um pai que deseja tanto ver-me pelas costas a ponto de enganar a nós dois para livrar-se de mim? Adam tirou o chapéu e passou a mão nos cabelos negros amarrados na nuca. — Eu não sabia disso. — O senhor disse que pediu a ele a mão de Diana. Meu pai sabe ler, Sr. Coates. Os cavalos relincharam e balançaram as cabeças. 16
  • 17. Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino — Bem, talvez ele possa ter pensado que agora seria a vez da senhorita. Diana já foi casada. Duvido que ele estivesse determinado a ver-se livre de uma filha. Madeline decidiu não corrigi-lo quanto àquele pormenor. Ele não precisava saber da verdade. Pelo menos, Adam não estava mais insinuando que o esquema fora articulado também por ela. — Ainda acho que seria melhor para a senhorita voltar para Yorkshire e ficar com seu pai — ele insistiu. — Cumberland não é lugar para uma jovem solteira. — Vou pensar no caso — Madeline respondeu, para encerrar o assunto. Alguns minutos depois, ela observou um esquilo marrom oscilar um galho de pinheiro e pular para um ramo mais alto. — Como o senhor ficou sabendo da viuvez de Diana? — ela perguntou, curiosa para saber como aquela situação deplorável chegara até ele. — Às vezes as notícias acabam chegando até aqui. E durante todo esse tempo, eu me mantive informado sobre ela. Fizera indagações. A bela Diana. Homens sempre faziam perguntas... Madeline observou a fisionomia madura de Adam. Mesmo depois de tudo o que acontecera, seu coração continuava impregnado de sentimentos ingênuos. Por isso achava difícil de acreditar que estivesse sentada ao lado dele, só os dois no meio daquela floresta e as coxas de ambos tocando-se com freqüência. Um arrepio impetuoso e indesejável acompanhou uma ponta de esperança. Talvez um dia, Adam poderia esquecer Diana e olhar para a irmã rejeitada de maneira diferente. Madeline sentiu a pele formigar sob a roupa e esforçou-se para afastar aquela sensação inquietante. Não queria recomeçar a alinhavar imagens fictícias de um homem muito diverso do que ela conhecera. Aquilo somente atrairia mais sofrimento, coisa, aliás, que precisava eliminar de sua vida. — O senhor a amava muito? — Madeline esperava que seu tom de voz não revelasse quanto os fatos a machucavam. Mas não pôde ceder à necessidade de saber como ele se sentia. Era uma urgência que precisava ser satisfeita depois de haver percorrido aquele trajeto, durante o qual a coxa de Adam não cessava de encostar na sua. — Sim. Muito. — Ele estalou a língua para os cavalos. Madeline mordeu a língua para afastar a angústia e o ciúme, completamente despropositados, que ela não queria admitir e muito menos sentir. — Ainda tenho desejo de casar-me com ela — Adam continuou, indiferente às emoções alheias. — Talvez a senhorita possa ajudar-me. Ajudá-lo? Madeline procurou manter a tranqüilidade. Ou melhor, mostrar-se indiferente. — Como assim? — A senhorita poderia dar-me o endereço dela em Londres. Eu pedirei ao meu advogado londrino que providencie um casamento por procuração. Dessa vez não quero correr o risco de cometer um erro. Madeline sentiu-se muito cansada para negar ou até para pensar em alguma alternativa. Simplesmente anuiu. Sabia que Diana ficara muito solitária desde que o marido morrera. E assim que recebesse uma mensagem, escrita ou dita por um enviado, de Adam Coates, ela embarcaria o mais depressa possível rumo às águas barrentas da foz do Cumberland. No primeiro navio que zarpasse da Inglaterra e já como esposa de Adam. Não haveria sentido em alimentar 17
  • 18. Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino esperanças secretas de que nada daquilo aconteceria!, Madeline recomendou a si mesma. CCAPÍTULOAPÍTULO IIIIII A carruagem que levava Madeline e Adam continuou a sacolejar atrás do cavalo suado, atravessou a floresta e um declive suave, até alcançar uma área onde o vento fazia a pastagem ondular em uma dança sincronizada. Um rebanho de bovinos malhados pastava nas proximidades. Alguns animais ergueram a cabeça e Madeline achou que eles pareciam espantados ao vê-la. Na certa não era a mulher que estavam esperando!, Madeline caçoou de si mesma com desânimo e virou-se para o outro lado. Que idéia mais ridícula. À distância, sobre outra colina que se elevava acima do pântano, Madeline viu uma casa de tijolos vermelhos, enorme e majestosa. Perguntou-se se aquele era o lugar com que sonhara e admirou-se de ver como suas fantasias haviam chegado perto da realidade. E a julgar pela paisagem da região, seus sonhos tinham sido bem precisos. Cruzaram um caminho ladeado por árvores que levava até a casa. Mal haviam alcançado a entrada, quando um rapazote saiu correndo pela porta que ele mesmo acabava de escancarar e veio cumprimentá-los. Pelo visto, Adam não era o único a aguardar a vinda de Diana. — Meu filho mais novo — Adam explicou, com jeito de quem se desculpava. O menino passou como um raio pelo pátio da frente. Madeline mexeu-se no assento, pouco à vontade. Apavorava-a a ideia de ter de explicar o erro e contar-lhe que a mulher com quem o pai esperava casar-se nem mesmo ficara sabendo da proposta. Adam deteve o cavalo na frente da casa. O garoto aproximou-se e tomou conta dos arreios. — Olá, papai! — O menino fitou Madeline com timidez e esperou por uma apresentação. Adam desceu da charrete e deu a volta para ajudar t Madeline. — Srta. Oxley, este é meu filho Charles. O rapazote perdeu o entusiasmo de imediato. — Srta. Oxley? Mas não era lady Thurston? — Ela não veio. Houve um mal-entendido e a irmã de lady Thurston veio em seu lugar. — Irmã dela? — Charlie fitou Madeline com desconfiança. — A senhorita vai casar-se com meu pai? Madeline agradeceu a Deus por Adam ter respondido por ela. — Não, Charles. Ela está apenas de visita. Mandarei outra carta para lady Thurston e esclareceremos tudo. Enquanto o garoto levava o veículo e o cavalo até a cocheira, Adam escoltou Madeline para dentro da residência. O amplo vestíbulo central era decorado com papel de parede e tinha colunas de cerejeira. Uma mulher idosa usando óculos dourados veio da cozinha e alisou a saia com as mãos. — O senhor voltou depressa, Sr. Coates. 18
  • 19. Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino — Olá, Agnes. Esta é Madeline Oxley, "irmã" de Diana. A mulher fitou Madeline, sem esconder o espanto. Depois de alguns segundos, pareceu absorver a realidade e anuiu sua compreensão. Madeline deu um sorriso forçado. Certamente ficaria muito mais feliz se não tivesse de enfrentar aquelas apresentações constrangedoras. — Madeline, esta é a Sra. Agnes Dalton, minha governanta. — É um prazer conhecê-la. No mesmo instante, uma garota de cabelos pretos veio correndo da cozinha. — Papai! Ela jogou-se nos braços de Adam. Ele a ergueu, abraçou-a e depois a deixou de novo no chão. — Srta. Oxley, esta é minha filha Penélope. Penélope, esta é a srta. Madeline Oxley. — A senhorita é a criada de lady Thurston? — a menina perguntou. — Papai disse que ela viria com uma aia. Poderia haver no mundo situação mais humilhante?, Madeline se indagou, arrasada. — Não, Penélope — Adam interrompeu-a depressa. — Ela é a "irmã" de lady Thurston. Houve um mal-entendido sobre o meu pedido de casamento, mas tudo será esclarecido em breve. Se o ouvisse pronunciar mais uma vez a palavra "irmã" naquele tom incisivo para explicar fosse lá o que fosse, Madeline afirmou para si mesma que voltaria para Yorkshire a nado! — Então a senhorita será minha tia? — Penélope quis saber. A despeito dos contratempos, Madeline não pôde deixar de sorrir para a menina. — Acredito que sim, Penélope. — A senhorita também vai morar com a gente? Madeline procurou imaginar-se vivendo naquela casa depois de Diana chegar como esposa de Adam e madrasta daquelas crianças. Poderia continuar partilhando o mesmo teto? Como a tia solteirona? Madeline fitou os traços marcantes do rosto bonito de Adam e a linha do queixo que denunciava um homem decidido. Sentiu a fragrância do sabão de barba. Não. Definitivamente, não! — Estou apenas de passagem. — Mas vai ficar quanto tempo? — Um pouco só. Não pretendo atrapalhar ninguém. — Mas quanto? Graças ao bom Deus, a governanta interveio e interrompeu o interrogatório. — Srta. Oxley deve estar extenuada por causa de uma viagem tão longa. Espero que a travessia não tenha sido desgastante demais. Agnes Dalton foi a primeira pessoa que não fez Madeline sentir-se um grande fracasso humano. — Não mais do que o esperado, senhora. — Permita que eu lhe mostre seu quarto, senhorita. Poderá refrescar-se e descansar um pouco. Depois a levarei para conhecer Mary. — Minha nora — Adam explicou. Adam Coates fitou-a com um olhar melancólico que Madeline não conseguiu decifrar. Seria um pedido de desculpas pelas atitudes grosseiras? Ou seria apenas desapontamento pelo fato de Diana não ter vindo? Adam anuiu 19
  • 20. Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino com um gesto discreto de cabeça e Madeline compreendeu que ele repassava seus deveres para outrem. A obrigação do anfitrião terminava naquele momento. Madeline seguiu a Sra. Dalton até a escada e espiou por sobre o ombro para o homem que deveria ter sido seu futuro marido. Adam encaminhou-se para a porta e saiu, sem olhar para trás. O sol da tarde fez o trajeto costumeiro no céu e cintilou do lado de fora da janela do quarto. O brilho intenso ultrapassou a cortina de renda, atingiu os olhos de Madeline e acordou-a. Espantada, ela fitou a luz salpicada sobre o acolchoado. Era uma claridade dourada e diferente de tudo o que já vira em Yorkshire. Madeline se fez uma indagação e não encontrou a resposta. Como o mesmo sol poderia ter aspectos tão diversos nas várias partes do mundo? Sentou-se e bocejou. Admitiu que estava exausta por causa da viagem tão longa e, sobretudo, pelo desfecho horrível e humilhante. Ela não almoçara. Não conseguira engolir nada. Mas não pretendia assumir uma posição de amuo pelo que acontecera. Não era pessoa de chafurdar na autocomiseração. Só pretendera mergulhar em um sono reparador, acordar e encontrar-se pronta para um recomeço. Olhou ao redor do quarto. Em um dos cantos, uma bela mesa com papel de carta, pena de ganso para escrever e um frasco de tinta. Na outra extremidade da superfície polida, um candelabro de prata com cinco velas novas para serem acesas ao entardecer. Na certa, aquele aposento fora preparado para Diana. Madeline precisava encontrar energias que a tornassem capaz de se levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima. Pensou em Diana. Todos a amavam e elogiavam a cada instante, em comparação às deficiências d;i irmã mais nova. Madeline jamais se preocupara de maneira demasiada com isso. Na verdade, nunca se permitira ficar aborrecida por essa diferença de tratamento entre as duas. Sempre procurara disciplinar suas emoções e mantê-las sob controle. Podia ignorar os insultos mais afrontosos e desprezíveis com apenas um aceno mental de sua inabalável força de vontade. Por causa disso, na infância e na idade adulta também, apagara qualquer interesse ou vontade de competir pelo tipo de atenção que Diana recebia. Madeline nunca se decidira a participar do mesmo jogo e nem pretendera fazê-lo. Ficava muito mais feliz de fazer as coisas a sua maneira. Passava muito tempo sozinha cuidando do jardim e da horta. Diana preferia ocupar-se com atividades sociais e encantar qualquer um que cruzasse seu caminho. Contudo, naquele dia, e pela primeira vez, Madeline sentiu as garras aguçadas da inveja perfurando-lhe a alma. Adam não só não se encantara com ela, como nem mesmo a olhara direito. Um fato era certo: Adam enxergara através dela, como se Madeline Oxley fosse transparente. Da mesma maneira como fizera quando fora a casa delas em Yorkshire, fazer a corte a Diana. Madeline levantou-se com o firme propósito de não passar mais nem um segundo sentindo pena de si mesma. Enfiou os pés calçados com meias nos sapatos pretos de fivela e preparou-se para a aventura de descer. Já no topo da escada larga, ouviu alguém chamá-la pelo nome. Madeline seguiu o som da voz e chegou a um dos quartos, onde uma mulher muito jovem e bonita estava deitada em uma cama macia e provida de dossel. Grávida. Não devia ter mais de dezoito anos. — A senhorita deve ser Madeline — a outra deduziu com alegria, ao vê- 20
  • 21. Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino la parada na soleira da porta aberta. — A Sra. Dalton disse-me que ainda estava dormindo. Entre, entre. Madeline hesitou um pouco, antes de entrar. Sou Mary, esposa de Jacob. Ele está no campo, preparando a terra para a plantação da safra da primavera. A senhorita poderá conhecê-lo no jantar. — Ficarei encantada com a oportunidade — Madeline respondeu e observou a outra de maneira discreta. Um livro aberto estava apoiado no abdômen protuberante. — Como tem passado? — Estou bem. Tive algumas cólicas e o médico sugeriu repouso até o nascimento do bebê, que está previsto para o próximo mês. Por favor, sente-se. Madeline acedeu e acomodou-se em uma poltrona estofada que se encontrava ao lado da cama. Simpática e calorosa, Mary inclinou-se para a frente e tocou na mão de Madeline. — A Sra. Dalton contou-me o que aconteceu. A senhorita acreditava ter vindo para casar-se com o Sr. Coates. Senti demais quando soube da notícia. Deve ter sido terrível para a senhorita. Está tudo bem agora? Madeline estremeceu, sobretudo pela surpresa. Apesar de jovem, Mary Coates era bem inteligente. — Oh, não se preocupe... Estou ótima. Tratou-se apenas de um equívoco. — Equívocos, porém, muitas vezes podem trazer transtornos, não é verdade? Madeline engoliu em seco, abafada pelo nó que se formara em sua garganta. — Concordo, mas não houve motivo para maiores contrariedades. Na verdade, o Sr. Coates e eu éramos estranhos um para o outro. Não houve sentimentos feridos. Antes mesmo de viajar para cá, eu deveria ter desconfiado de que alguma coisa estava errada. Era previsível que o Sr. Coates pretendesse casar-se com Diana. No passado, ambos foram bastante unidos. O Sr. Coates não saía da nossa casa em Yorkshire. Mary anuiu com gestos pausados de cabeça e recostou-se. Madeline suspeitou de que a jovem senhora compreendia exatamente o que se passava. Em parte, seria agradável poder confiar em Mary, mas conteve a tempo a urgência. Se Adam viesse mesmo a casar-se com Diana, Madeline não gostaria que ninguém soubesse de seu amor por ele. Não queria que tivessem pena da pobre irmã solteirona de coração partido. Aquilo seria o pior dos destinos imagináveis. Seu orgulho jamais suportaria uma coisa dessas. Madeline levantou-se. — Se me der licença, Sra. Coates, preciso descer. Vou ver se posso ser útil nos preparativos do jantar. Quer que lhe prepare alguma coisa? — Não, obrigada. A Sra. Dalton normalmente traz a bandeja com o jantar. Um tanto perturbada, Madeline cumprimentou-a e' saiu do quarto, prometendo voltar depois para uma visita mais demorada ou para um jogo de cartas. Desceu a escada com a mão apoiada no corrimão polido de carvalho que servia de arremate para os arabescos entre os balaústres. Foi até a cozinha de pedra nos fundos da casa e encontrou a Sra. Dalton abaixada diante de uma lareira enorme, espalhando gordura em cima de uma galinha de aspecto convidativo e crocante que assava no espeto. Madeline inspirou o cheiro de ave assada e sentiu a boca cheia de água. A Sra. Dalton limpou as mãos no avental e endireitou-se. Nisso, deparou 21
  • 22. Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino com Madeline, que estava parada, indecisa. — Olá, querida. Entre. Venha sentar-se. Madeline deu alguns passos à frente no recinto. — Sra. Dalton, depois de seis semanas no mar, esta cozinha tem o aroma do paraíso. Posso ajudá-la em alguma coisa? — Hoje, não. A senhorita acaba de chegar. Amanhã aceitarei seus préstimos. Elas foram interrompidas por passos firmes no assoalho de tábuas largas que procediam do hall e pararam na porta da cozinha. Madeline reconheceu, por instinto diga-se de passagem, o som das botas de Adam e virou-se, com uma sensação de frio no estômago. — Srta. Oxley, eu poderia falar-lhe por alguns minutos? — Adam Coates pediu com voz ríspida e grave. — Cla... claro — Madeline concordou. Adam conduziu-a até seu gabinete privativo. Era uma sala ampla, com papel verde-escuro nas paredes e uma lareira rodeada por estantes embutidas. O tapete era grosso e macio. Adam parou no meio do escritório, encarou-a e juntou as mãos nas costas. — Compreendo que a senhorita mal teve tempo de acomodar-se. Mas eu gostaria de mandar Jacob ao forte ainda hoje para levar a carta. Quero que a mesma seja despachada para Halifax com o próximo viajante. — A carta? Distraída, Madeline fitou as feições morena de Adam. A linha de seu queixo e o nariz reto. Ele tirara o casaco negro. Trajava uma camisa de linho branco com pregas saindo dos ombros largos e um colete de seda azul-ma-rinho que abraçava o contorno de seu torso. Adam tornara-se mais encorpado. Era mais magro quando o conhecera. Agora parecia mais forte e musculoso. Madeline recordou-se dos sonhos românticos que a ajudaram a passar os dias intermináveis da viagem marítima. Adam acariciava-a e beijava-a na noite de núpcias. Olhava-a com amor e desejo inscritos naqueles incríveis olhos azuis. Ela o imaginara deitando-a na cama larga e cobrindo-a com o próprio corpo. Os sentimentos de amor que experimentara naquelas fantasias tinham se aparentado tão verdadeiros! E pareciam reais, mesmo depois do desastre da chegada. — A carta para o meu advogado em Londres — Adam explicou. — Eu também escrevi para Diana. A senhorita disse que possui o endereço de onde ela tem se hospedado. Arrancada bruscamente de suas quimeras douradas, Madeline sentiu uma dor no estômago, que lhe pareceu estar cheio de pedras que faziam pressão para sair. — Si... sim, eu tenho. Está em um dos meus baús. Eu ainda não os abri. Não sei nem onde... — Estão lá em cima, no quarto de Penélope. A senhorita estava repousando e, quando eles chegaram, não quis incomodá-la. — Entendi. Perturbada por estar tão perto de Adam, Madeline teve de lembrar a si mesma de que as imagens nítidas que tivera durante a longa travessia não passavam de bolhas de sabão. Ela e Adam eram dois estranhos um para o outro. Não havia nada que os pudesse unir. Nem o menor traço de intimidade e nem mesmo de simpatia. Nada. ' Exceto um mal-entendido pavoroso que de mal-entendimento não tinha nem a sombra. Fora um plano cuidadosamente articulado por seu pai. 22
  • 23. Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino — Eu trarei para o senhor sem demora — Madeline respondeu com a maior calma que lhe foi possível demonstrar e virou-se para sair. — Madeline... — Adam chamou-a com uma certa ansiedade na voz e deu um passo à frente. Ela parou, sem se voltar. Não queria vê-lo. Dali para frente, evitaria qualquer motivo de sofrimento. Também não desejava que ele lhe visse o sorriso forçado. Ou que tivesse conhecimento de quanto ela estava desapontada e infeliz. Não queria que ele soubesse de coisa alguma. Nem que visse absolutamente nada. — Obrigado — Adam agradeceu de modo simples, com um traço de remorso na voz. Remorso? Exatamente sobre que parte dos fatos ocorridos naquele dia?, Madeline indagou a si mesma. Ela anuiu e, apressada, saiu do escritório de Adam com várias resoluções em mente. Seria preciso... ignorar as esperanças e questões que se debatiam em seu cérebro. Não podia dar atenção ao fato de ter ficado arrepiada apenas em ouvir-lhe a voz e vê-lo em pé diante dela. Irresistível. Magnífico. Seria preciso... parar imediatamente com as ilusões a respeito de Adam Coates. Ou ela iria sofrer muito mais. A vergonha e a humilhação não representariam nada diante de um coração despedaçado que ela teria de carregar para o resto da Vida. Seria preciso... parar de pensar em Adam Coates como uma jovenzinha romântica. Seria preciso... afogar qualquer reação que remetesse a caprichos imaginários e que jamais poderiam tornar-se realidade. Seria preciso... lembrar-se dez, cem vezes ao dia, se necessário fosse, de que Adam estava para tornar-se marido de sua irmã no mais breve intervalo de tempo que fosse permitido pelos meios de comunicação e pela velocidade das escunas. E, como conseqüência, tornar-se-ia seu cunhado. Seria preciso... Se Madeline soubesse o que seria bom de fato para ela, teria de esganar suas esperanças e jamais deixá-las aflorar de novo. Seria preciso... CCAPÍTULOAPÍTULO IVIV Sentada à longa mesa de carvalho na sala de jantar, Madeline fazia um esforço desmedido para não fitar Adam. Toda vez que arriscava uma espiadela, a vontade de contemplá-lo sem cessar era muito frustrante. E o pior era sua incapacidade para explicar o fato. Não queria olhar e nem encarar Adam Coates. Usara de toda a sua força de vontade para afastar aqueles, desejos absurdos. Calculou que seria fácil ignorá-lo def pois do que ocorrera no forte. Adam a humilhara e a acusara de pretender enganá-lo. Deduziu que o homem duro e frio em que Adam se transformara seria o suficiente para afastá-la daquelas fantasias e que nada sentiria por ele. 1 Infelizmente, em vez de ficar insensível, sentia tudo. Em um momento experimentava uma raiva enorme de Adam. No minuto seguinte, após todas as 23
  • 24. Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino recriminações feitas a si mesma para permanecer indiferente, era presa de novo em meio a sonhos inebriantes que o envolviam. Estar na presença dele naquela noite a deixava arfante. À cabeceira da mesa, Adam conservava o garbo natural e irresistível. As pregas impecáveis do lenço branco no pescoço eram um contraste maravilhoso com a tez morena. As mãos grandes e firmes que seguravam os talheres lembravam carícias. Como poderia alguém ficar indiferente ao poder masculino que emanava de Adam? Ou a tanta beleza que lembrava um Apoio? Madeline teve a esperança ridícula de que ele se transformasse em um velho decrépito, careca e com dentes estragados. Dessa forma seria muito mais fácil seguir todas as determinações que estabelecera para si mesma. Ela abaixou os olhos para o prato e deu uma tossidela. O som fez alguém dar um pulo. A família estava presente, exceto Mary. Madeline refletiu, pouco à vontade, se aquele silêncio era normal durante as refeições dos Coates. — Por que todo mundo está tão quieto? — Penélope perguntou. Madeline limpou os lábios discretamente com o guardanapo de tecido adamascado, curiosa para ouvir a resposta de Adam. — Estávamos com fome, Penélope — ele respondeu com voz calma e profunda. — Só isso. — Mas nós sempre estamos com fome no jantar. — Talvez por contarmos com a presença de uma visita e procurarmos mostrar-lhe o melhor de nosso comportamento. — Isso quer dizer que teremos de ficar quietos? — Penélope fitou Madeline com seu olhar doce, sorriu e voltou a comer em silêncio. — Penélope... — A advertência chegava tarde. Os ruídos tomaram conta novamente do recinto. Os talheres batiam nos pratos de porcelana, o relógio tiquetaqueava alto. Madeline compreendia que todos estavam cientes da confusão havida entre ela e Diana. Além disso, houvera bastante tempo para os Coates discutirem o assunto, murmurar e formular julgamentos sobre ela. A noiva trocada. Enganada pelo pai. Repudiada pelo ex-futuro marido. Humilhada diante de todos. O que mais faltava acontecer? Estariam eles convencidos de que Madeline fora envolvida na manipulação? Ou acreditavam que ela fosse uma mentirosa e interesseira? Ou simpatizavam com ela, da mesma forma como Mary demonstrara, por suspeitar da verdade indecorosa? Madeline limpou mais uma vez os lábios com o guardanapo e resolveu que já era tempo de manter uma conversa educada. — Jacob, Mary me disse que o senhor esteve trabalhando no campo hoje. O que costuma plantar nesta época do ano? O jovem dó outro lado da mesa, que usava colete azul-claro, deixou o garfo sobre a superfície coberta com a toalha, antes de responder. — Terminei de plantar batatas no campo mais alto, Srta. Oxley. Depois fui até a fazenda do Sr. Cárter para ajudá-lo na sua plantação. Madeline observou a falta de semelhança entre Adam e seu enteado. Jacob tinha feições claras e cabelos loiros, enquanto os outros filhos possuíam cabelos negros. Talvez a única analogia fossem os olhos azuis, assim mesmo sem a profundidade dos de Adam. De repente, ela sentiu curiosidade a respeito da mãe de Jacob, a falecida esposa de Adam. Teria sido loira e bonita como Diana? E Madeline lembrou-se da própria aparência. Cabelos castanhos, da cor dos pêlos de um rato, sem graça, cacheados, e a pele cheia de sardas. Pela primeira vez em sua vida, desejou ter sido abençoada com beleza parecida à da irmã. O tipo de 24
  • 25. Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino beleza que fazia os homens virarem a cabeça e ficarem sem fala quando a viam. — O senhor espera uma boa colheita? — Madeline perguntou a Jacob, para afastar aqueles pensamentos frívolos e tolos. Ela nunca dera muita importância à aparência e sempre dera muito mais valor à qualidade do caráter. Além do mais, não adiantaria sonhar com o que jamais poderia acontecer. — Grande o suficiente para durar o inverno todo. Madeline sorriu-lhe e, com o canto dos olhos, notou Adam usar o guardanapo para limpar a boca e largá-lo sobre a mesa. Sinal de que terminara de comer. — Nós cultivamos batatas suficientes para preencher as nossas necessidades. Não as comercializamos. Madeline suspeitou de que Adam mostrava cortesia por causa das crianças, e não por ela. Decidiu não se intimidar mais com os silêncios prolongados do dono da casa. Ela o enfrentaria e perguntaria o que tivesse vontade de saber sobre a Nova Escócia. Sua agricultura, suas barragens, ou até mesmo o provocaria para ele admitir que fora grosseiro naquele dia. E diria tudo o que lhe agradasse dizer. — E o que o senhor produz para vender? — Madeline perguntou. — Milho? — Não. Com o milho acontece o mesmo que com as batatas. Só produzimos o que podemos consumir. As terras aqui são mais apropriadas para pastagem. Adam pegou o copo e desviou o olhar. Era um aviso de que terminara não só a refeição, mas também a conversa. Ela não evitou a vontade de pressioná-lo. — Criação de animais? E feno? — Ah, sim, Srta. Oxley. Feno. Para surpresa de Madeline, Adam voltou sua atenção para o jantar. Era evidente que o Sr. Coates não tinha a menor intenção de conversar e nem mesmo de olhar para ela. Gostaria de poder encarar aquilo com indiferença. Mas a maneira como Adam olhava ao redor do recinto e o modo como cerrava as sobrancelhas escuras fez Madeline aborrecer-se e refletir no que se ocultava por trás daqueles gestos. Adam Coates ressentia-se com a presença de Madeline Oxley naquela casa. Ele a considerava culpada pelo fato de Diana não se encontrar ali, ao lado dele à mesa, e não podia deixar de ficar enraivecido por isso. Adam somente se sentia obrigado a velar pelo bem-estar e pela segurança de Madeline, por ela ser irmã de Diana. Afinal, ele na certa não pretendia comprometer o futuro por causa de uma quase estranha. E como ela mesma, Adam devia estar considerando a hipótese de que Madeline Oxley acabaria por tornar-se tia das crianças. Por tudo isso, Adam esforçava-se para não entrar em maiores atritos do que os já criados. Adam continuou em silêncio até o final da refeição, o que possibilitou a Madeline pensar no que deveria fazer. Não poderia morar em uma casa onde não era bem-vinda. Já vivera naquelas condições por muito tempo no lar de seu pai. E o que era mais delicado, não poderia ficar ali, de braços cruzados como uma espectadora quase invisível, enquanto Diana chegava e começava uma vida feliz ao lado de Adam e de seus filhos. Ela decidiu, com firmeza ainda maior de propósitos, que iria procurar, o mais cedo possível, uma solução para o impasse. Quando Diana chegasse para reivindicar o prêmio, Madeline estaria longe havia muito tempo. No dia seguinte, dentro do celeiro, Adam pôs um saco pesado de grãos sobre o ombro e levou-o para a carroça. Largou-o no estrado com raiva e 25
  • 26. Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino recriminou-se mentalmente por ter sido tão rude com Madeline nas últimas vinte e quatro horas. O que estaria acontecendo com ele? Em geral, era mais amável com as pessoas e, em particular, com as mulheres. Costumava encantá-las e fazê-las felizes. Sempre pressupunha que elas fossem honestas e sinceras, baseando-se em sua mãe, que descansava na paz do Senhor, que fora uma mulher bondosa e correta. Mas essa convicção era anterior ao rompimento com Diana e ao casamento com Jane. Jane ensinara-lhe que nem todas as mulheres eram o que pareciam ser e que se tornava imprescindível tomar muito cuidado. No começo, não muito depois de Diana ter-se casado com sir Edward, Jane se mostrara uma fortaleza de compreensão, sabedoria e sensibilidade. Viúva recente e com um filho, Jacob, para cuidar, ela dividira seu leito com Adam. E fora assim que eles haviam encontrado conforto para aqueles dias difíceis. Quando descobriram que ela estava grávida, Adam casara-se com ela. E foi somente depois da certidão ter sido assinada e de estarem vivendo como marido e mulher, que ela revelara sua verdadeira natureza. Em conseqüência disso, Adam chegava ao ponto de imaginar o pior a respeito de uma jovem ingênua que confiara no pai e atravessara o oceano para casar-se com o suposto pretendente. O que um homem honrado deveria fazer, seria pedir-lhe perdão por aquela situação embaraçosa e assegurar-se de que Madeline teria todo o carinho e conforto merecidos. Ainda por cima, ela era irmã de Diana e, se tudo transcorresse da maneira esperada, ele e Madeline tornar-se-iam cunhados. Era preciso garantir o amparo e a segurança de Madeline. E também não causaria danos a ninguém, se ele cultivasse alguma amizade por ela. Bateu a palma das mãos uma na outra para tirar a poeira e ouviu um pigarrear as suas costas. Virou-se. Madeline estava na entrada. Usava um vestido bonito listrado de azul e branco e trazia uma echarpe branca de renda em volta do decote. A touca graciosa, também de renda, era amarrada com um belo laço azul. E Adam, naquele exato momento, reparou nela com atenção pela primeira vez desde que ela chegara. Deu-se conta de que Madeline crescera e se transformara em uma jovem adorável. Era difícil acreditar que estivesse olhando para a menina sardenta da qual se lembrava. Adam piscou algumas vezes e, sem saber por que, comparou as duas irmãs. Madeline não tinha o mesmo tipo de beleza estonteante de sua irmã mais velha. Isso era indiscutível e qualquer um que não fosse cego poderia atestar a veracidade do fato. Madeline, contudo, apresentava-se como um enigma. Desafiador. Adam acabava de descobrir que os olhos castánho-escuros eram profundos e perspicazes e que a jovem recém-chegada merecia um estudo mais acurado. E a descoberta era quase uma contradição. Sob a aparência ingênua e suave da juventude, escondia-se uma força de vontade firme e inabalável que se revelava gradualmente. Além da teimosia que lhe fora possível comprovar de início. Adam leu exatamente aquelas nuanças do temperamento como se começasse a decifrar Madeline. Ele poderia jurar que acertara em suas deduções. Adam limpou as mãos na calça e aproximou-se. — Precisa de alguma coisa, Madeline? — perguntou, solícito. Ela ergueu o queixo e preparou-se para falar, como se estivesse preparada para uma descompostura por ter-lhe interrompido o trabalho. Teria ele sido tão grosseiro com ela? Com uma agulhada de arrependimento, Adam 26
  • 27. Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino reconheceu a verdade do fato e prometeu a si mesmo que tentaria ser menos grosseiro. — Eu gostaria de ir até o forte — Madeline anunciou. — Por quê? Esqueceu alguma coisa? — Droga, ele fora ríspido de novo! Madeline deu a impressão de fazer um esforço enorme para formular uma resposta, para falar de maneira clara e concisa e não retrair-se diante do tom áspero. — Não. Eu gostaria de falar com o Sr. e a Sra. Ripley. Ou, se alguém for até lá, poderia mandar uma mensagem para eles. Adam encostou o ombro no batente da porta. — Ninguém pretende ir ao forte. Pelo menos, que eu esteja sabendo. — Então, nesse caso, eu mesma gostaria de pegar um cavalo. Madeline ergueu ainda mais o queixo, desafiando-o a negar, e Adam ficou impressionado com a tenacidade da jovem. Entretanto não havia a menor possibilidade de permitir que ela cavalgasse sozinha naquele ermo. — Não posso deixá-la fazer isso. — E por que não? Não vou me perder. Tenho certeza de que me lembro perfeitamente do caminho. Adam afastou-se, levantou mais um saco de sementes e jogou-o por cima do ombro. — Lembrar-se não é o suficiente. Alguns trechos são bastante escuros e podem enganar uma pessoa que desconheça a região. Eu mesmo teria de levá- la até lá, mas, como pode ver, estou ocupado. Adam jogou o fardo na traseira da carroça e Madeline assustou-se com o barulho forte. — Então diga-me quando poderá fazê-lo. — Que tal depois de amanhã? — Adam abaixou-se para pegar outro saco. Madeline nada disse e Adam teve a nítida impressão de que a resposta não lhe agradara. Ele sentiu o olhar determinado e fixo em seus menores movimentos, enquanto levantava o volume e carregava-o até o lugar onde deixara os outros. — Eu gostaria de ir antes — Madeline alegou. Adam deixou cair o fardo sobre a pilha, aproximou-se de Madeline de novo e tornou a encostar-se na entrada. Coçou, com o polegar, o queixo que estava com a barba por fazer. — Por que essa pressa toda? — Preciso perguntar ao Sr. e à Sra. Ripley se podereis trabalhar com eles, antes de que contratem outra pessoa.' Adam distraiu-se por alguns instantes com as mechas finas e cacheadas que tocavam os ombros delicados de Madeline. Ele deduziu que o vento as fizera escapar dos grampos e da touca. Procurou não desviar o olhar, o que o levaria a avaliar o decote. Adam sentiu-se desconfortável ao perceber que havia um decote e, sob o mesmo, um corpo que lhe despertava a curiosidade. E que não deveria ter notado nada daquilo na jovem que ele conhecera menina. Fez um esforço para voltar à atenção de onde não a deveria ter desviado: o conjunto de circunstâncias que Adam tinha em mãos e o fato de Madeline querer trabalhar para os Ripley. O que deveria fazer? Adam já enviara uma proposta de casamento para Diana que, se dessa vez o destino fosse generoso, deveria chegar antes da semeadura do outono. O que ela diria ao saber que o marido nem ao menos tentara impedir que a irmã caçula saísse de sua casa? A obrigação dele era mantê-la em segurança e bem 27
  • 28. Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino cuidada. — Não há necessidade de sair daqui. — Adam empenhou-se ao máximo para mostrar-se hospitaleiro e simpático. —A senhorita é mais do que bem-vinda paia ficar conosco por quanto tempo desejar. — Obrigada, mas eu não quero. — Não? — Não. Oh, Senhor, ela era uma verdadeira muralha! — Srta. Oxley, lembre-se de que se encontra em uma terra estranha. Peço-lhe desculpas por minha atitude intempestiva de ontem. E digo-lhe isso com sinceridade. Não vejo motivos para essa teimosia e... — Eu não estou sendo teimosa. Apenas quero ter a oportunidade de trilhar meu próprio caminho. Droga, ele a insultara. — Vamos começar de novo. Seus planos foram trans-t ornados e em parte a culpa é minha pelo fato da senhorita estar aqui. Madeline piscou algumas vezes. — Em parte a culpa é sua? Ontem o senhor achava que eu era responsável por não ter opinião própria. Adam admitiu que merecia a reprimenda e ergueu as mãos, fingindo rendição. — A senhorita tem razão. Sinto muito. De repente, Adam sentiu-se sem jeito e atrapalhado por estar falando com Madeline naqueles termos. Era uma situação inusitada. Aquela era a menina que os seguia como um cachorrinho abandonado, sempre que Diana e ele queriam ficar a sós. As coisas haviam mudado bastante. E ele certamente não estava lidando com nenhuma criaturinha perdida. — Por que a senhorita não quer ficar? — Adam perguntou, com esperança de voltar o barco para águas mais tranqüilas. — Se pretende mesmo sustentar-se, eu poderia contratá-la como governanta. — Não quero um emprego por caridade. — Não se trata disso. Penélope e Charlie precisam mais do que a Sra. Dalton pode proporcionar-lhes. De fato, eu vinha considerando a hipótese de procurar uma pessoa adequada... “Oh, céus, ele estava divagando. Perdera o jeito de verdade! Madeline sacudiu a cabeça em negativa”. — Perdão, mas eu não posso aceitar. — Importa-se de dizer-me por quê? Depois de algum tempo, Madeline suspirou. A sensação de fracasso aumentou por ela ser forçada a revelar mais do que gostaria. — Se Diana aceitar a sua proposta e vier a casar-se com o senhor, é preferível eu ficar em outro lugar. Adam estranhou a expressão contraída e a maneira como ela torcia os lábios carnudos. Não acreditou que Diana fosse o motivo por que Madeline não quisesse ficar. — Houve algum problema entre as duas? — Não. Eu apenas não quero ser dependente dela. Adam pôs as mãos na cintura. — Posso entender perfeitamente que a senhorita não queira ficar em posição subserviente diante de sua irmã. Mas isso não ocorreria de maneira alguma. A senhorita faria parte da família, o que é muito lógico nesse caso. O diálogo não prosseguiu e um silêncio opressivo seguiu-se. Ambos 28
  • 29. Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino estavam parados na entrada do celeiro o encaravam-se como dois oponentes. Madeline achou dificuldade em encontrar uma refutação para o que parecia "muito lógico". Por alguns instantes, Adam pensou que havia conseguido persuadi-la. Porém isso foi antes de Madeline endireitar os ombros e assumir uma expressão severa. — Eu lhe agradeço muito pela oferta generosa, mas prefiro encontrar alguma coisa para fazer por minha conta. Eu gostaria de ir até o forte amanhã. Adam teve de concordar. Percebeu que não adiantaria argumentar, pois Madeline não desistiria de seu intento. Observou-a dar-lhe as costas e voltar para a casa com passadas rápidas e seguras. Mais uma vez ele viu a menina de Yorkshire, que nunca aceitara fazer o que lhe mandavam, agia conforme a sua vontade. De volta àqueles dias, lembrou-se de quanto o deixava frustrado aquela obstinação em não permitir que ele ficasse a sós com Diana. Exata-mente como acontecia naquele momento, quando ele queria manter Madeline em sua casa e em segurança, e ela se negava a lhe obedecer. Com uma diferença fundamental: Adam experimentava uma sensação de simpatia por aquela jovem que havia muito deixara de ser uma menina. Madeline tornara-se uma mulher e ele não pôde deixar de admirá-la. Sobretudo por ela ter opinião própria e não ceder um milímetro, quando o assunto era fazer o que desejava e o que achava correto. CCAPÍTULOAPÍTULO VV Depois do jantar, Madeline sentou-se na sala de visitas ao lado da lareira e entreteve-se em consertar uma das toucas de Penélope, enquanto as crianças jogavam cartas. Há uma certa altura, apareceram na sua linha de visão um par de botas pretas, brilhantes, e duas pernas musculosas cobertas pelo tecido castanho da calça. Ela ergueu a cabeça. Adam fitava-a com fisionomia apreensiva. — Posso? — Ele apontou uma cadeira em frente. — Claro. Fique à vontade. Adam sentou-se e cruzou uma das longas pernas sobre a outra. O fogo estalou e crepitou. As crianças caíram na gargalhada por algum motivo que os adultos ignoravam. — Quero desculpar-me novamente — Adam declarou, com voz suave — pela maneira como a tratei ontem no forte e também pela maneira como as coisas se desenrolaram. Oh, como ela gostaria de poder evitar aquela conversa! Madeline deu um ponto com a agulha e a linha na touca de renda que se encontrava em seu colo. Não pretendia passar pela experiência de ouvir amabilidades de Adam Coates. Até aquele momento, conseguira sobreviver aos percalços. Primeiro fora acusada de enganá-lo. Depois tivera de aguentar os silêncios e as reticências 29
  • 30. Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino geladas. Conseguira convencer-se da sorte que havia tido em não casar com Adam e estava contente por isso. Não queria retornar à angústia dos sentimentos anteriores. — A culpa não foi sua. — Não, mas eu me sinto responsável. Se eu não tivesse mandado a proposta, a senhorita não estaria agora entre estranhos. Madeline estava consciente de que precisaria tomar cuidado para não romper o próprio envoltório de serenidade. — O senhor não é um estranho para mim. Não totalmente, na verdade. Eu já o conhecia... embora tenha decorrido um grande período de afastamento. — É verdade — Adam concordou com o cenho franzido. — Faz muito anos, não é mesmo? Quem poderia imaginar que eles passariam tão depressa? Madeline ergueu a agulha acima da cabeça, ajeitou a linha que se enrolara e voltou a dar um ponto no tecido. — Tem razão. Parece que foi ontem que o senhor apareceu à nossa porta pela primeira vez. O velho senhor vestia uma capa longa e negra. O brilho das chamas refletiu-se no rosto de Adam, enquanto ele a contemplava com olhar pensativo. Madeline sentiu a pulsação acelerar-se e rezou para não enrubescer. — Refresque minha memória — ele pediu com interesse. — Nós conversávamos bastante um com o outro? Madeline deu algumas tossidelas. Seria para ganhar tempo? — Não muito. Eu era uma menina e o senhor não tinha nada para falar comigo. — Mas, pelo que eu me lembro, tinha idade suficiente para gostar de um truque de mágica. Um entusiasmo sorrateiro começou a tomar conta de Madeline. Não poderia supor que Adam se lembrasse de alguma coisa além da presença importuna da irmã mais nova de Diana. A garota birrenta que se intrometia nos momentos particulares do casal e que se recusava a ir embora quando lhe pediam. — O senhor costumava fazer desaparecer uma moeda. E depois a recuperava, tirando-a de trás do pote de manteiga. Adam sorriu. — Eu faço a mesma mágica para Penélope. Só que, em vez do pote de manteiga, recupero a moeda do nariz dela. Madeline deu risada e a pulsação acelerada cedeu um pouco. — A senhorita tinha a idade de Penélope na época. — Isso mesmo! — Olhar para a senhorita agora faz com que eu me lembre daquele tempo. — Adam fitou-a por um momento demorado. — Ontem à noite, a senhorita mostrou curiosidade sobre o que ocorre na fazenda. Ou estava apenas procurando um pretexto para conversar? — Alguém tinha de fazê-lo — Madeline afirmou, com um leve humor, o que o fez sorrir. — Mas não posso negar que estivesse curiosa. — Se quiser, amanhã, quando formos ao forte, poderei mostrar-lhe a região. E o mínimo que posso fazer, depois do que aconteceu. Madeline sentiu que seu humor melhorava gradualmente. — Eu gostaria muito. Vamos visitar algumas barragens? Tenho interesse de ver como funcionam. Adam anuiu e pareceu satisfeito com o entusiasmo de Madeline. — A senhorita gosta de cavalgar? 30
  • 31. Julianne MacLeanJulianne MacLean – Clássicos Históricos Especial 180– Clássicos Históricos Especial 180 – Marcas do Destino– Marcas do Destino — Mais do que qualquer outra coisa. — Então, eu a levarei até o pântano pela manhã. Madeline aceitou, animada, e a conversa voltou para Yorkshire. Madeline deu-lhe notícias sobre pessoas que ele conhecera e Adam perguntou sobre o conde que fora seu patrão. Ele também quis saber como os arrendatários estavam enfrentando o aumento dos aluguéis. O momento de se recolherem chegou uma hora mais tarde. As crianças subiram e Adam ficou mais um pouco, para apagar as velas. Madeline subiu a escada, revigorada pela primeira conversa amistosa com Adam e ansiosa pela perspectiva do passeio matinal já programado. Sentiu um arrepio e uma doce perturbação. Não diferente daquela que experimentara a bordo do navio, quando eles se aproximavam da costa. Ela parou no patamar que dividia a escada pela metade e apertou o corrimão com força. Aquela sensação nervosa e incontrolável não era um bom sinal. Talvez devesse não ter aceito o convite de Adam. Teria sido melhor fingir desinteresse e pedir que ele a levasse direto ao forte. Mas aquilo teria sido uma grande mentira. Ela queria tanto dar o passeio que esquecera momentaneamente a resolução firme de proteger seu coração vulnerável. Só lhe restava esperar que o coitado não fosse atingido. Na manhã seguinte, antes de descer para o desjejum, Madeline passou pela porta aberta do quarto de Mary. A jovem estava deitada na cama e seus cachos loiros espalhavam-se sobre o travesseiro. Ela fitava com solenidade a vidraça brilhante da janela, como se disso dependesse sua vida. Virou a cabeça de imediato ao ouvir os passos de Madeline na entrada. — Madeline. Estou tão contente que esteja aqui. Entre, por favor. — Ela tentou sentar-se. — Eu não a perturbarei em seu descanso? Tive a impressão de ver melancolia em sua expressão. — Eu? Nada disso? Estava pensando em Jacob e no nosso bebê. Espero que tudo corra bem. Madeline sentou-se ao lado da cama e segurou a mão de Mary. — Tenho certeza de que tudo dará certo. — Espero que o médico pense da mesma forma. Ele ordenou-me que permanecesse na cama até o bebê nascer. Algumas vezes... meu Deus... eu penso que vou ficar louca. Ele permitiu-me dar uma volta no quarto somente duas vezes ao dia, para exercitar as pernas. E isso é tudo o que posso fazer. Acho que só essa criança consegue impedir que eu saia correndo por essa porta para encontrar-me com Jacob e sentir o calor de seus braços. Ele me faz muita falta, Madeline. Às vezes chego a imaginar que eu seria capaz de explodir em mil pedaços de tanta aflição. Mas fico aqui, sozinha neste quarto, olhando para estas mesmas quatro paredes dia após dia, sem fazer nada a não ser ficar preocupada com o bebê. Ah, eu queria tanto que ele já tivesse chegado! Madeline sentiu pena de Mary. Na verdade, Mary era muito jovem e inexperiente. E tantas coisas podiam dar errado em um parto. Ela apertou a mão de Mary, procurando confortá-la. — Tenho certeza de uma coisa. Quando segurar seu filho nos braços pela primeira vez, tudo mais será esquecido. — A senhorita deve estar certa. — O olhar de Mary iluminou-se um pouco, mas Madeline sabia que a jovem estava ansiosa. — Bem, está gostando da Nova Escócia? — Mary perguntou, mudando subitamente de assunto. — Ou está ansiosa para voltar para casa? — Não, não tenho vontade de voltar. Nada me espera lá. Sou mais um 31