O romance Til, de José de Alencar, publicado em 1872, narra a história de Berta, uma jovem órfã criada por uma escrava liberta. Ao longo da trama, são revelados segredos do passado que envolvem a origem nobre de Berta. A obra descreve detalhes da vida no interior paulista do século XIX e discute temas como a escravidão e o tratamento dispensado aos mais pobres.
2. Romance Regionalista
“Como no caso do romance
histórico, não é a realidade, a
verdade em si, que atrai o
romancista, e sim o tema que
possibilite dar larga fantasia, ao
seu estilo épico e ao desejo de
lançar os fundamentos de uma
literatura nacional.”
(http://netopedia.tripod.com/arte/alencar.htm)
Planalto Paulista do século XIX
3. Romance - Novela
Til seguiu o formato do
Folhetim, gênero
segredos característico do século XIX.
Publicado inicialmente no
jornal “A República”, entre
novembro de 1871 e março
de 1872.
intertextualidade com as tragédias gregas
4. Estratégia narrativa
Os capítulos são curtos e terminam num momento de climax.
O autor cria clima de suspense e
ações sombrias.
O enredo é composto por muitas
aventuras e momentos de tensão
O que era o folhetim?
“Estas histórias de leitura rápida eram publicadas todos os dias nos jornais em espaços determinados e
destinados ao entretenimento; era o Folhetim, gênero [que], ocasionou a criação de inúmeros jornais diários,
encontrou amplo espaço de publicação na capital do Império, e no interior do país.
A leitura das publicações de romances de folhetim e muitos outros costumes influenciaram de uma maneira
marcante a formação da identidade nacional brasileira, que assimilava os modelos europeus e os adaptava ao
nosso cotidiano, em um momento de construção do estilo de vida que estava sendo adotado pelo povo
brasileiro.”
5. O narrador
A narração do romance é feita
em terceira pessoa.
O narrador é ONISCIENTE:
ele conhece, sabe todos os pensamentos e
planos dos personagens e os revela ao
leitor. Não é um personagem e nem um
simples espectador.
6. O estilo do autor
O estilo de Alencar em Til não é “O viço da saúde rebentava-lhes no
encarnado das faces, mais
diferente daquele já experimentado em
aveludadas que a açucena
outras obras como Iracema: é escarlate recém aberta ali
carregado de sentimentalismo, com os orvalhos da noite.
muitas descrições e uso exagerado de fresco sorriso dos
adjetivos. lábios, como nos olhos
límpidos e brilhantes,
Uso de neologismos e palavras brotava-lhes a seiva d’alma.
regionais. Ela, pequena, esbelta, ligeira,
buliçosa, saltitava sobre
a relva, gárrula e
A leitura provoca no leitor sentimentos cintilante do prazer de pular e
controversos: conformismo, piedade, correr; saciando-se na delícia
indignação, raiva e até mesmo o inefável de se difundir pela criação e
paradoxo da satisfação por uma sentir-se flor no regaço daquela
vingança. natureza luxuriante.” (Til, cap. I)
7. Estrutura da obra
Apresentação
das personagens e das
tramas.
(31 capítulos)
A obra é dividida
em duas partes
Revelações e
desembaraços das
tramas apresentadas
(31 capítulos)
8. O espaço
Tudo acontece em um lugar chamado Santa
Bárbara, próximo a Campinas no estado de
São Paulo, mas o romance faz referência
também à cidade de Itu;
à Vila de Piracicaba e à fazenda do Limoeiro.
A floresta, assim como o bar à beira da
estrada,o Bacorinho e o lugar chamado Ave-
Maria são recursos particulares dentro do
romance.
“Cerca de uma légua abaixo da confluência do Atibaia com o Piracicaba, e à margem
deste último rio, estava situada a fazenda das Palmas.
Ficava no seio de uma bela floresta virgem, porventura a mais vasta e frondosa, das que
então contava a província de São Paulo, e foram convertidas a ferro e fogo em campos de
cultura. Daquela que borda as margens do Piracicaba, e vai morrer nos campos de Itu,
ainda restam grandes matas, cortadas de roças e cafezais” ( ALENCAR, José. Til. Capítulo IV)
9. O tempo
“O tempo predominante é o
PSICOLÓGICO.
O narrador utiliza disfarces físicos e
mudança de nomes em seus
personagens.
De acordo com a chegada de cada
personagem na trama, o tempo é
manejado pelo narrador que torna o
tempo passado sempre presente”.
(por Vera Silva)
10. Personagens
Berta, Inhá ou Til é a protagonista, filha bastarda de um
fazendeiro com uma pobre moça da vila (Besita-morta
por vingança). Til foi criada por nhá Tudinha. Altruísta,
preocupa-se com todos, é caridosa e não se afasta das
pessoas marginalizadas. A dualidade dessa personagem fica
explícita no modo como é chamada: Miguel a trata por
“Inhá”, e Brás a trata por “Til”.
Miguel é filho de nhá Tudinha, irmão de criação de Berta e secretamente
apaixonado por ela. Sendo pobre, Miguel ascende socialmente através do
estudo, e une-se a Linda que sempre fora apaixonada por ele, mas via seu
amor impedido pela diferença social.
11. Linda : menina educada aos moldes da corte, mas mesmo assim,
junto ao irmão Afonso faz amizade com Berta e Miguel, jovens de
outra classe social.
Afonso, irmão de Linda.Conquistador e apaixonado por Til sem
saber que ela é sua irmã ilegítima, fruto de uma aventura de
seu pai com Besita (mãe de Til).
Luís Galvão é rico fazendeiro, pai de Linda e Afonso, mas que no
passado viveu aventuras amorosas .Seduziu Besita recém- casada com
Barroso. Dessa aventura, nasceu a protagonista da história: Til.
D. Ermelinda – esposa de Luís Galvão, muito elegante e educada,
mas não muito bela. Ao descobrir sobre o passado de seu marido
se entristece, mas quando ele confessa (no final do romance) ela o
apoia a reconhecer Berta como filha.
12. Jão Fera: espécie de capanga de Luís Galvão
desde sua juventude ; era apaixonado pela mãe
de Til.Jurou vingar a morte dela (Besita), e
salvou a vida de Berta ainda bebê.
Brás : um sobrinho (epilético e retardado mental) de Luis Galvão; na
casa grande sua presença era desprezada. Apaixonou-se por Berta que
nunca o destratou e tentava ensiná-lo a ler, escrever e rezar. O apelido
de Berta (Til) surgiu numa dessas aulas.
Zana: negra que trabalhava para a mãe de Til e presenciou
os fatos que levaram ao assassinato.Enlouqueceu e todos os
dias repetia suas ações no dia da morte da patroa.
Barroso ou Ribeiro – casou-se com Besita, mas na noite de núpcias a
abandonou e ficou muito tempo longe; quando voltou, viu sua esposa com
um bebê, e planejou se vingar: mataria Luís Galvão, Besita e Berta;
assassinou esposa, mas Jão Fera conseguiu salvar o bebê ( Berta).
13. Tema do romance
Til foi publicado em um momento
(1872) em que ferviam discussões
sobre a exploração do chamado
"elemento servil" e em que a
literatura buscava fundamentar-se
em elementos genuínos.
Alencar discute o tratamento
dispensado aos escravos e à
escravidão no romance , gênero que,
para ele, devia constituir uma
"fotografia da sociedade".
(SILVA, Hebe Cristina da Marcia A. de
Abreu Ms UNICAMP 2005
Título:Imagens da escravidão : uma leitura de escritos politicos e
ficcionais de Jose de Alencar)
14. Contexto histórico
No ano de publicação da obra, o
Brasil estava às voltas com a
aprovação da Lei do Ventre Livre
(1871), que garantia a liberdade
a filhos de escravos nascidos no
Brasil.
15. Verossimilhança
A valorização do interior do
país e da vida bucólica
surgem como respostas a um
país onde as cidades já
começavam a ganhar maior
importância, como Alencar
nos mostra ao citar
Campinas, Itu e outras
referências como o Rio
Piracicaba .
16. Heroísmo fantástico
A ação das personagens é carregada de coragem e
idealismo exagerados, o que contribui
para o caráter fantástico:
Jão Fera, por exemplo, consegue vencer uma manada
de Caitetus com Berta sobre os ombros e
ainda salva o Pai-Quicé;
Em outra passagem, ele se entrega à prisão
e consegue sair livre.
17. Til x Iracema
Em ambos , a personagem protagonista é uma mulher
Til, a protagonista e ótima
representação de heroína
romântica: sofredora,
corajosa, decidida, mas ao
mesmo tempo dócil, meiga e
sonhadora.
Porém, o que chama mais
atenção na menina não é sua
beleza (como em Iracema),
mas sim sua caridade, seus
valores e sua dedicação para
com os excluídos.
18. a visão da mulher
Til é sempre comparada a flor, e seu
amadurecimento corresponde ao desabrochar
dessa flor. Repare:
No capítulo I:
"Eram dois, ele e ela, ambos na flor
da beleza e mocidade“
No capítulo XXXI:
“Como as flores que nascem
nos despenhadeiros e algares, onde não penetram
os esplendores da natureza, a alma de Berta fora
criada para perfumar os abismos da
miséria, que se cavam nas almas, subvertidas
pela desgraça.”
19. a nova mulher Alencariana
No Romantismo, a figura feminina é uma subversão da tradição de passividade, e
as personagens femininas são ambíguas, com dualidades de caráter, que as fazem
equilibrar a antítese entre a mulher anjo e a mulher demônio (ambas idealizadas).
Berta desfaz o modelo
tradicional , e inova o
comportamento feminino
porque decide ficar sozinha
e não se casar, o que mostra
uma mulher que segue as
próprias escolhas e faz o
próprio destino (diferente
do que ocorreu com Besita,
sua mãe ).
20. a dualidade romântica Til
Berta
mulher
anjo frágil
menina
demônio forte
“ Aquela alma tem facetas como o diamante; iria-se e acende uma cor ou outra,
conforme o raio de luz que a fere. Contradição viva, seu gênio é o ser e o não ser.
Busquem nela a graça da moça e (...) a imagem da mulher despontará em toda sua
esplêndida fascinação. A antítese banal do anjo-demônio torna-se realidade nela, em
quem se cambiam no sorriso ou no olhar a serenidade celeste com os
fulvos lampejos da paixão(...)” cap. III
21. Personagens dinâmicas
Luís
Galvão
Jão Fera
jovem pai de
facínora nobre inconsequente família
assassino salvador
vingativo defensor
Miguel
indeciso determinado
22. a descrição regional
A obra descreve a
vida do caipira do
interior de São Paulo linguístico cultural
no século XIX em
vários aspectos:
social comportamental
23. aspecto linguístico
o vocabulário regional e as fala do
caipira e do escravo.
Observe o modo de falar de um escravo:
“- Branco está de orelha em pé; pois
olha, Monjolo é negro de bem; quando
ele dá sua palavra e aperta dedo
mindinho, está acabado, é como rabo de “Dirigiu-se ao tronco e arrancou a faca,
macaco: quebra, mas não solta galho, depois de esmagar a cabeça da urutu.
por nada desta vida, nem que arrebente.” - Que diabo é isso? perguntou o embuçado.
(cap.IV) - Não vê? retorquiu Jão limpando nas
ramas a folha da faca.
- Agora penetro porque o diabo do ruço
pinchou-me!”(cap.VI)
25. as diferenças de classes da época
aspecto social (escravos, capangas, pobres e ricos
donos de terras).
26. aspecto comportamental
o namoro da época, a educação e os
segredos de família.
“Afonso, este namorava Berta às escâncaras, com o recacho e brinco próprios de seu
gênio. Essa mesma sinceridade e desplante de seu afeto eram véu para ocultá-lo a
olhos suspicazes. Quem o via sempre a gracejar com a menina, acreditava que isso não
passava de travessura de moço folgazão sem tinta de malícia.
Linda, quando os olhos de Miguel pousavam-lhe na face, corava e sentia o tímido
coração bater apressado. Não raro, o instinto de delicadeza que recebera de sua mãe,
advertia-lhe da distância que separava dela o moço pobre e de mesquinha condição.”
(cap XII)
27. Romance Aberto
o desfecho O leitor pode continuar imaginando uma
sequência mesmo após o final do romance.
Após a revelação, Luís
Galvão quis assumir-lhe
a paternidade, mas Til
não aceitou.
“Não, Miguel.
Lá todos são felizes!
Meu lugar é aqui, onde
todos sofrem.”
(cap.XXXI)