Iya Senzaruban descreve sua experiência de ter se tornado uma mãe-de-santo no candomblé aos 14 anos e depois ter adotado o vegetarianismo após uma experiência espiritual no Sri Lanka. Ela fala sobre como conciliou suas crenças espirituais e adotou um "candomblé vegetariano", substituindo ingredientes de origem animal nos rituais e na alimentação. Iya também discute como usa técnicas alternativas como acupuntura e cromoterapia em seu trabalho espiritual e de saúde.
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudo
Candomblé vegetariano
1. andomblé Vegetariano
• Publicado por Alexandre de Oxalá - Baba Alaíyé em 16 setembro 2010 às 11:49
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Iya Senzaruban
Candomblé Vegetariano
30 de novembro de 2009
O universo do candomblé está presente na
vida de Iya Senzaruban desde muito cedo. Nascida numa família de cultura tradicional do
candomblé, ela é filha de um ekede e de um ogã. Foi iniciada nesta senda espiritual aos 7
anos e aos 14 anos tornou-se mãe-de-santo. Desde o início dos anos 90 estuda técnicas da
medicina alternativa como a aromaterapia, acupuntura, fitoterapia, auriculoterapia,
cromoterapia e cristais. No Sri Lanka entrou no culto a Krishna e Shiva e acabou descobrindo
uma forma para substituir, em sua alimentação e nos rituais, os animais e ingredientes de
origem animal. Vegetariana há 25 anos, atuante na área de saúde, ela é também responsável
pelo Grupo Ile Iya Tundé, entidade filantrópica que atua há 22 anos em Itanhaém, no estado
de São Paulo e que ministra cursos e atividades para a comunidade. Sua experiência na
renovação do candomblé está sendo relatada no livro que escreve e pretende publicar sob o
título de Candomblé Vegetariano. Nesta entrevista à jornalista Cynthia Schneider, da ANDA,
Yia Senzaruban fala sobre sua experiência lactovegetariana, sua dedicação ao candomblé,
sua caminhada espiritual e a sintonia entre natureza e espiritualidade.
ANDA – Como foi sua experiência de ter se tornado mãe-de-santo tão jovem e depois ter
optado pelo vegetarianismo?
2. Iya Senzaruban – Eu já nasci dentro do santo. Fui iniciada aos 7 anos e aos 14 já era mãe-de-
santo. Depois disso andei em vários lugares, mas no Sri Lanka foi uma experiência relevante
por causa do vegetarianismo e também porque eu me iniciei como devota de Krishna. E isto
tudo criou uma incompatibilidade, pois os devotos de Krishna e Shiva não comem carne de
jeito nenhum. Eles comem alguns produtos lácteos e derivados como o queijo, porque a vaca
é considerada sagrada. Mas não comem ovo, nenhum outro produto animal sem ser derivado
do leite. Desde pequena eu não gostava de comer carne, então optar pelo vegetarianismo foi
fácil. Difícil foi conciliar as coisas. Eu levei muitos anos para poder encaixar as duas coisas,
que eu considerava muito bonitas. Além disso eu já tinha muita gente que contava comigo
pela minha situação religiosa. Não poderia abandonar tudo no meio do caminho.
ANDA – Como foi esta transição para um candomblé vegetariano?
Iya Senzaruban – Eu estou escrevendo um livro a respeito do candomblé vegetariano e
também dou cursos e palestras sobre isto. Assim como eu, tem muita gente que é do santo,
que é do candomblé e que não gosta da matança e se sente meio acuada. Tem gente que
adora, gosta, ama os orixás, admira o ritual que é muito bonito, muito completo, mas na hora
de participar de uma matança, “o bicho pega”. A proposta do vegetarianismo no candomblé é
fazer de uma outra forma, sem prejudicar o tipo de energia que a gente trabalha, sem mudar
muito. As mudanças são muito poucas. Não são eliminados os elementos da natureza, que é
o que o candomblé trabalha, as forças da natureza. No livro que estou escrevendo apresento
as mudanças que vão desde a comida de santo, que não usa nem camarão ou ovo, nada de
origem animal. Mas demorou muito tempo para chegar nisso. Passei a vida inteira dentro de
um certo contexto. Hoje já é mais fácil. Mas ainda tem adaptações a fazer, tem hora que eu
tenho que buscar outras soluções. Também não dá para buscar a mesma energia, porque a
energia de sangue é muito pesada. Ela traz muita proteção mas ao mesmo tempo traz muita
sujeira espiritual. Hoje em dia eu procuro ter uma limpeza espiritual e conseguir a mesma
coisa sem ter que fazer uma matança: livrar as pessoas de problemas, principalmente na área
de saúde, de doenças graves. Como eu também sou terapeuta, vejo muito por este lado, de
saúde física, moral, espiritual e psicológica. Meu trabalho como mãe-de-santo é bem voltado
para a saúde.
ANDA – Você também trabalha com outras técnicas de terapias como a cromoterapia e
acupuntura. Como isto ajuda no seu trabalho?
Iya Senzaruban – Hoje em dia os pais-de-santo estão muito mais cultos. É uma nova época
dentro do candomblé. As pessoas estão buscando mais conhecimento, trabalham em outras
coisas, não dependem mais financeiramente do candomblé como eram os antigos pais-de-
santo, que só viviam para isso. Então ficava muito restrito. Toda religião precisa evoluir, senão
fica estagnada e morre.
ANDA – Dentro do contexto religioso é mais difícil a aceitação da mudança?
Iya Senzaruban – A respeito da matança, eu acho que os meus filhos-de-santo que já têm
casa vão aproveitar muito mais esta situação renovada e talvez daqui a 10 anos a gente tenha
alguma resposta. Isso porque há uma restrição muito séria a respeito disso. Mas aos poucos
eu acredito que a gente vai atingindo as pessoas. Afinal, alguém tem que começar, né?
3. ANDA – Dá para perceber o quanto você está sendo pioneira.
Iya Senzaruban – Isso é porque eu sou filha de Iansã, e Iansã arrebenta tudo. Ela é a minha
guerreira, ela derruba mesmo os tabus, os preconceitos. Mas fora a situação de matança, os
pais-de-santo têm menos tradicionalismo hoje. Eles são abertos a outras coisas, à busca das
raízes, das ervas, de estudos sobre determinados orixás que a maioria não conhecia ainda,
mas com uma mente diferente, porque já têm mais cultura. A maioria hoje tem terceiro grau
completo e isso faz alguma diferença.
ANDA – Como você relaciona o vegetarianismo e a espiritualidade sob este enfoque
profissional na área de saúde?
Iya Senzaruban – Matar os animais é algo que espiritualmente não faz bem, pois você está
tirando a vida e depois comendo cadáveres. Não é nada sadio espiritualmente falando. Além
disso, principalmente o frango e os animais que se compram em supermercados estão cheios
de hormônios. Um frango hoje em dia, de um pintinho para um frango demora três dias. Isso é
um absurdo. Imagine o que isto não causa dentro do organismo da pessoa. E ainda afeta a
psique, porque são drogas injetadas por tabela. Não adianta você não fumar, não beber, não
tomar psicotrópicos e acabar consumindo por tabela quando consome a carne. O efeito é o
mesmo. Isso faz também com que cada vez mais as pessoas tenham câncer e outras
doenças. O vegetarianismo, ao contrário, é muito bom. É certo que muitas verduras são
contaminadas, mas mesmo assim já não faz tanto mal, pois não atinge a aura da pessoa. E
com isso ainda tem tantas opções, como os grãos. Eu mesma como muito poucas verduras. O
que como mais são legumes, tubérculos, grãos e doces. Inclusive, quando eu dou aulas sobre
a comida vegetariana, apresento excelentes opções simples e tão mais baratas! Com um quilo
de carne dá para fazer um almoço para quatro pessoas. Com o mesmo dinheiro de um quilo
de carne, na cozinha vegetariana, dá para fazer o almoço, o jantar e outro almoço no dia
seguinte para quatro pessoas. O vegetarianismo é um estilo de vida para o bolso, para a
saúde mental, espiritual e psicológica, pois tudo está ligado. Se você come um alimento
saudável, vai ser uma pessoa saudável mentalmente também. Te dá ânimo para fazer
exercícios, você se torna uma pessoa mais doce. Geralmente quem é vegetariano não bebe,
não fuma, é uma consequência sine qua non. Vai limpando o seu corpo. E ainda tem mais: a
pele fica bonita, o cabelo também, não tem barriga, não tem celulite…
ANDA – Há quanto tempo você adotou o vegetarianismo no seu trabalho? E como as pessoas
percebem o seu engajamento por esta opção?
Iya Senzaruban – Eu já sou vegetariana há 25 anos e levo o candomblé vegetariano há quase
17 anos. As pessoas, principalmente as mais jovens, se interessam mais. Eu vejo também
que quem mais se interessa pelo vegetarianismo é o tipo de pessoa mais intelectual,
geralmente artistas, profissionais que se destacam em várias áreas. Eu percebo bem que eles
têm uma consciência muito maior. Fora isto há outros grupos que já levam isto como uma
realidade. Há alguns colegas meus, na medicina, que também têm trabalhos nesta área. Mas
é muito diferente falar para uma pessoa que ganha um salário por mês – e que não são
poucas, infelizmente é a realidade majoritária no nosso país – aí é muito difícil de atingir. Eu
tenho esta sorte de conseguir atingir muita gente neste nível, por exemplo, ensinando a fazer
a farofa multimistura para a alimentação ficar mais completa. Ensino a fritar a casca de batata,
usar a casca de banana, trabalho já há muito tempo com isso. Porque muita gente acha que
4. só a carne alimenta, eles têm esta educação falha. Eu consigo atingir também este público,
mas é muito difícil encontrar quem se proponha a trabalhar assim. Eu percebo que o
vegetarianismo é uma coisa mais elitizada, sim: financeira e culturalmente. O vegetariano é a
pessoa que teve uma cultura mais elevada e que tem dinheiro. Mas com o meu trabalho como
mãe-de-santo eu consigo atingir outras classes mais sofridas, de gente que vive com um
salário, paga o aluguel e ainda tem três ou quatro filhos. Esta é uma área de atuação maior.
Também tenho uma entidade filantrópica, o Grupo Ilê Iya Tundê, que fica em Itanhaém e já
tem 22 anos, que me permite ir ensinando. Lá também ensinamos terapias, danças, capoeira
e culturas de origem afro, além de cursos profissionais. Tem muitos outros grupos de várias
crenças que inclusive utilizam este espaço para fazer entrega de mantimentos e outras
atividades para a comunidade.
ANDA – O que pretende o candomblé vegetariano?
Iya Senzaruban – Eu sou uma mãe-de-santo e não estou aqui para questionar a situação de
ninguém. Nasci numa situação tradicionalíssima e não posso negar de onde eu vim. Para
algumas pessoas isso é o que serve. Para mim não serve mais. A minha função, assim como
para quem se sente nesta situação, é encontrar uma nova forma de louvar os orixás sem
ofender os outros seres vivos. Eu acho que é uma demonstração de boa vontade para com
Deus.