O documento apresenta uma entrevista com Fernando Henrique Cardoso onde ele analisa a crise política no governo Lula e as consequências para o Brasil. Em três frases, Fernando Henrique critica a ortodoxia econômica do PT que limitou o crescimento brasileiro, alerta para o risco da sociedade rejeitar todos os políticos devido à crise, e defende que o PSDB tem credenciais para liderar o país com uma agenda clara de desenvolvimento.
4. Entrevista
FOTO OBRITONEWS
2 Respeito pelo Brasil Agenda45
5. FERNANDO
O governo HENRIQUE
Lula faz CARDOSO
muito barulho
Um dos 100 mais influentes intelectuais do mundo, segundo pesquisa realizada
por nada pela revista Foreign Policy, o presidente Fernando Henrique Cardoso é um
observador meticuloso da cena política brasileira. Nesta entrevista exclusiva
para Agenda 45, ele analisa a crise em que o governo Lula submergiu a
República, a partir da constatação de que “o Brasil ainda paga o preço pela
por Wilson Teixeira Soares
demagogia do PT na oposição”.
Para ele, a turbulência que paralisa o país desde a eclosão das denúncias de
compra de parlamentares da base aliada para apoiar o governo tem raízes
históricas. “Lula sempre manifestou um solene desprezo pelo Congresso. Basta
lembrar a infeliz frase dos 300 picaretas.”
Convicto de que a única defesa que restou ao governo Lula e a seu partido é a
de tentar convencer a opinião pública de que “são todos iguais”, o presidente de
honra do PSDB alerta para o risco de a sociedade dizer “que se vayan todos”.
Fernando Henrique Cardoso tem dedicado parte de seu tempo à tarefa de
pensar uma proposta que permita ao PSDB reforçar seus laços de confiança
com a sociedade. Uma solução para desarmar a armadilha montada sobre a
relação entre taxa de câmbio, dívida interna elevada e taxas de juros altas, um
tripé que condena o país a taxas de crescimento medíocres e ao desemprego
estabilizado em nível elevado.
“Chegou o momento, como foi feito no Plano Real, de juntar competência com
técnica para solucionar os estrangulamentos que impedem o Brasil de crescer
como o Chile e a Argentina. Sem isso, diz ele, será impossível “afrouxar o
garrote dos juros da dívida interna e patrocinar uma reforma tributária que
resulte em menos impostos e maior efeito distributivo”.
Agenda45 novembro de 2005 3
6. Entrevista
Na campanha de 2002, o candidato do PT vendeu e pela credibilidade que essa experiência anterior
a ilusão de que o seu governo seria marcado pela empreste às suas propostas de governo. Haverá
implantação de programas e projetos capazes de menos espaço para vender ilusões. Em resumo,
solucionar todos os problemas brasileiros. Em seu vejo nas próximas eleições uma oportunidade de
entendimento, em que medida a frustração gerada fortalecimento da democracia e de restabele-
na população brasileira fragiliza o Poder Executivo cimento de uma agenda de desenvolvimento.
como instituição e provoca o desencanto com o
O legado da política macroeconômica construída
regime democrático?
pelo governo do PSDB foi preservado. No entanto,
Por maior que seja o dano à imagem do governo, o Brasil está deixando de aproveitar a excepcional
do Congresso e dos políticos, não sinto que haja conjuntura econômica internacional para crescer
descrença generalizada no regime democrático. com mais intensidade. A partir de que momento o
As pessoas sabem que a democracia lhes oferece governo do PT se perdeu? O que ainda pode, ou
as melhores ferramentas para mudar o que lhes deveria, ser feito para o país aproveitar essa con-
parece importante e necessário. Não querem e não juntura econômica mundial?
vão abrir mão disso de jeito nenhum. O eleitor,
O Brasil ainda paga o preço pela demagogia do
este sim, será mais exigente. E terá melhores condi-
PT na oposição. As bravatas de então levaram o
ções para fazer sua escolha. Todos os principais
PT no governo a ser ultra-ortodoxo na condução
possíveis candidatos à presidência já passaram
da política econômica. A política fiscal foi apertada
pelo teste do governo. Eles serão julgados pela
a ponto de praticamente eliminar o investimento
capacidade que tenham demonstrado de governar
público federal e comprometer serviços fundamen-
tais, a exemplo da vigilância sanitária, como agora
FOTO OBRITONEWS
se vê com o ressurgimento de focos de aftosa no
Mato Grosso do Sul. A dose de juros tem sido
cavalar. Dessa maneira, ao mesmo tempo em que
reduz investimentos (e eleva a carga tributária), o
governo aumenta o gasto financeiro. Essa é uma
combinação ruim para o crescimento. Apesar
disso, o país está crescendo. Isso porque estávamos
preparados para o crescimento (que herança
maldita, que nada) e porque tivemos a sorte de
encontrar uma situação muito boa na economia
internacional (juros baixos, preços de commodities
em alta etc). Mas a verdade é que estamos cres-
cendo à metade do que cresce a maioria dos
países emergentes. Não vou nem falar da China,
mas veja o Chile e a Argentina, crescendo entre
6% e 8%, enquanto nós crescemos entre 3% e
4%. Essa diferença de três a quatro pontos é o
4 Respeito pelo Brasil Agenda45
7. O projeto de poder do PT
“custo PT”. Custo da ultra-ortodoxia na política
econômica, custo da incapacidade de estabelecer
pode conviver com uma
regras do jogo claras para o investidor privado e fachada de democracia,
custo da incompetência e, não raro, improbidade mas corrói a alma do
na gestão da coisa pública.
sistema democrático
A administração Lula promoveu o aparelhamento
da máquina administrativa do estado pelo PT. Essa
opção, consentida pelo presidente Lula, objetivava Lula sempre manifestou um solene desprezo pelo
criar as bases para o controle do Estado com vistas Congresso. Basta lembrar a infeliz frase dos 300
à implantação de um projeto de poder autoritário picaretas. Como deputado, foi um parlamentar
e de longo curso? Ou os petistas estavam apenas apagado, de um só mandato. O Congresso e os
ávidos de poder? partidos são instituições fundamentais da demo-
Há um pouco desses dois ingredientes no projeto cracia. O presidente tem a responsabilidade de
de poder do PT: de um lado, ganas de ascender organizar a maioria para governar, mas também
socialmente não pelo mérito, mas pelas oportu- tem o dever, como democrata e chefe de estado,
nidades grandes ou pequenas que o poder ofe- de contribuir para fortalecer a legitimidade dos
rece; de outro, uma concepção autoritária da po- partidos e do Congresso. Não pode tratar parla-
lítica, que a vê como conquista e concentração mentar como mercadoria e fazer do parlamento
dos instrumentos de poder do estado e fortaleci- um balcão. Para não enveredar por esse caminho
mento de estruturas verticais de mando sobre in- sem volta, é preciso fazer alianças com os maiores
divíduos e organizações. É um projeto que pode partidos, de preferência antes das eleições e em
conviver com uma fachada de democracia formal, torno de um programa comum. Foi o que eu fiz.
mas que corrói a alma do sistema democrático. Por inexperiência ou circunstância, não me cabe
Isso, por várias razões: porque não se funda na julgar, Lula infelizmente fez o inverso. O pior é que
persuasão, mas principalmente no temor, em leal- o fez sem necessidade: meu governo tinha uma
dades pessoais e no interesse; porque enxerga no agenda de reformas para aprovar. Qual é de fato
pluralismo da sociedade e no equilíbrio de poderes a agenda de reformas do governo Lula?
antes um defeito que uma virtude; porque, enfim, Até que ponto a crise criada pelo governo do PT
confunde o estado com o partido, em benefício atingiu, deleteriamente, o Congresso? E qual o
deste e em prejuízo da sociedade. prazo necessário para o Poder Legislativo purificar-
Salvo melhor juízo, o governo do PT deu teste- se dos pecados veniais e mortais que cometeu e
munhos inequívocos de puerilidade no relacio- que contra ele foram perpetrados?
namento com o Congresso Nacional. Para o O pior da crise é que a única defesa que restou ao
senhor, em que medida o despreparo do presi- governo e seu partido é tentar convencer a opinião
dente e de seu círculo mais íntimo de conselheiros pública de que “são todos iguais”, governo, aliados
paralisou o Poder Legislativo, sujou-lhe a imagem e oposição. O risco é a sociedade dizer “que se
e gerou, na sociedade, o sentimento de que a vayan todos”. A oposição e, creio eu, a maioria do
classe política, como um todo, não é confiável? Congresso estão fazendo o que precisa ser feito
Agenda45 novembro de 2005 5
8. Entrevista
para não cair nessa armadilha. E o que precisa alta; de outro, porque o câmbio flutuante, os acor-
ser feito não é só cassar alguns mandatos. O Brasil dos comerciais e as reformas estruturais introdu-
quer saber o que de fato aconteceu. Já se sabe zidas em meu governo fortaleceram a economia
que foram movimentados dezenas ou centenas de brasileira. Se alguma coisa esse governo tem feito
milhões de dinheiro sujo. Sabe-se, pelo menos em é tirar o fôlego de longo prazo das exportações,
parte, quem recebeu. Falta descobrir de onde veio com uma política de juros indevidamente altos que
todo esse dinheiro. Ou antes, por onde passou, leva a uma valorização excessiva do real frente ao
porque não cabe dúvida de que ele saiu, em última dólar. Isso, mais à frente, pode nos custar caro.
análise, dos cofres públicos.
Mesmo que as exportações brasileiras tenham
Ao discursar sobre o aumento das exportações, continuado a se expandir em 2005, este ano foi
Lula busca levar as pessoas a acreditar que esse jogado fora pelo governo Lula. Encurralado,
dado beneficia a todos, indistintamente. Na sua tornou-se um ente imóvel. Por sua experiência
opinião, em que momento a classe média enten- frente à administração do estado brasileiro, quais
derá que o aumento das exportações, respeitado os prejuízos decorrentes dessa paralisia?
o perfil atual do setor, não impacta a sua renda,
É muito difícil estabelecer uma agenda de governo
beneficiando, na verdade, segmentos restritos?
no último ano de mandato, sobretudo quando essa
O aumento das exportações é bom para toda a agenda jamais foi definida com clareza nos anos
sociedade brasileira. A renda que gera se espalha anteriores. O debate eleitoral e as eleições do
pela economia, e os dólares reforçam as contas próximo ano representam, no entanto, uma opor-
externas do país. Com o tempo, o sucesso das tunidade para restabelecer uma agenda de desen-
exportações atrairá um número cada vez maior volvimento para o país, pelas razões que já apontei
de empresas para o setor. Isso é muito positivo. A acima. O povo brasileiro não tem medo de ser
questão é que o crescimento das exportações, feliz. Ele não quer é ser ludibriado. O PSDB entra
cantado em verso e prosa pelo presidente, pouco nessa disputa com todas as credenciais. Somos
ou nada tem a ver com os méritos do seu governo. comprovadamente bons de governo, não temos
As exportações aumentaram porque, de um lado, de desdizer nada do que dissemos, nem escamo-
a economia mundial está crescendo e os preços tear nada do que fizemos. Vamos apresentar uma
das nossas commodities de exportação estão em agenda clara, sem a pretensão ridícula de rein-
ventar a roda, mas que aponte um caminho seguro
e ambicioso de desenvolvimento para o país.
Para lidar com o problema O governo Lula engatou a marcha a ré quanto à
da desigualdade, é preciso implantação de uma política educacional adequada
fortalecer outras instituições e ao fortalecimento das agências reguladoras.
Nessas questões, qual deve ser o compromisso do
do estado e da sociedade
PSDB, posto que somente quem governou por oito
civil que contrabalancem a anos tem a capacidade e o discernimento de
lógica da acumulação formular propostas capazes de atender os reclamos
de riqueza dos mercados da sociedade?
6 Respeito pelo Brasil Agenda45
9. FOTO OBRITONEWS
Na área educacional, devemos restabelecer a prio-
ridade para o ensino fundamental e avançar na
melhoria da qualidade do ensino. Em 1999, atingi-
mos praticamente 100% de matrículas entre as
crianças de 7 a 14 anos. Isso foi possível, entre
outras coisas, por causa do Fundef, aprovado a
despeito do voto contrário do PT. O Fundef também
trouxe melhoria para o salário dos professores,
sobretudo nos estados mais pobres. O que este
governo fez para dar continuidade ao avanço do
ensino fundamental? Cabe ao próximo governo
retomá-lo. Ainda hoje, de cada 100 crianças que
começam, apenas 63 completam o ensino ram em Lula sem nunca terem cultivado relações
fundamental, por repetência e/ou evasão. Isso tem próximas ou distantes com o ideário petista?
a ver com a qualidade do ensino. Precisamos Antes de mais nada, o PSDB deve reforçar seus
aumentar o tempo de permanência na escola e laços de confiança com a sociedade. Nós nunca
voltar a valorizar o magistério. É preciso retomar mentimos sobre como vemos o mundo e o que
de onde paramos porque, nestes últimos três anos, faríamos no governo. Nossa visão do mundo é
pouco ou nada foi feito. Na área econômica, é social-democrática e é contemporânea. Reco-
preciso desatar o nó que vem sufocando o inves- nhecemos a importância do mercado como institui-
timento em infra-estrutura e comprometendo o ção que a história decantou para fazer da compe-
potencial de crescimento do país. Falam mal das tição entre pessoas e grupos o motor da geração
privatizações, mas os grandes investimentos em de riqueza e da inovação. Mas sabemos que o
infra-estrutura nos últimos dez anos se deram nos mercado não resolve todos os problemas coletivos.
setores que foram privatizados em meu governo, Para lidar com esses problemas, sobretudo com o
sobretudo telecomunicações e portos. Neste gover- problema da desigualdade, é preciso fortalecer
no, não se faz privatização e não há investimento outras instituições do estado e da sociedade civil
público. Vá comparar os investimentos do orça- que contrabalancem a lógica de acumulação de
mento federal entre 1995 e 2002 e entre 2003 e riqueza dos mercados. Na sociedade contempo-
2005 para ver a diferença. O pior é que não há rânea, não é a burocracia estatal, em sua auto-
horizonte. Onde estão os projetos concretos de suficiência, quem pode cumprir esse papel. A
parcerias público-privadas, iniciativa que o governo construção de um mundo melhor depende cada
apresentou como o maná dos deuses e o PSDB vez mais de parcerias entre governo e sociedade
tratou de aperfeiçoar no Senado para livrá-la dos civil. É preciso criar instituições que ampliem as
piores vícios de origem? Como tudo neste governo, oportunidades de participação da sociedade nas
se fez muito barulho por nada. decisões. A partir da reafirmação dessa visão,
Na campanha eleitoral de 2006, qual o discurso vamos dizer com franqueza o que o PSDB fará se
que o PSDB deve, necessariamente, privilegiar para voltar ao poder. Sem renegar o que ajudou a cons-
se credenciar junto aos nichos eleitorais que vota- truir com o Plano Real, fortalecendo a economia
Agenda45 novembro de 2005 7
10. Entrevista
FOTO OBRITONEWS
desarmar essa bomba-relógio. Por outro lado, terá
que afrouxar o garrote dos juros da dívida interna
para que, com um crescimento econômico mais
robusto, seja possível pensar numa reforma tribu-
tária que não resulte em mais impostos e menor
efeito distributivo. Como investir mais em infra-es-
trutura? Como aperfeiçoar a rede pública da saúde
e da educação? Como fortalecer a agricultura
familiar? Como extirpar os bolsões de miséria?
Esses são os compromissos social-democráticos
contemporâneos. Por fim, o PSDB deve apresentar
suas propostas para reforçar a confiança nas
instituições democráticas. Isso inclui a reforma do
sistema eleitoral e partidário, mas também a
questão crítica da segurança pública e o acesso
rápido às decisões judiciais.
Na medida em que inexistem políticas sociais
efetivas no governo Lula, e apenas uma atuação
paternalista, quais as propostas que o PSDB ne-
cessita consolidar para aperfeiçoar a rede pública
de saúde e educação, fortalecer a economia familiar
e extirpar os bolsões de miséria?
Primeiro, é preciso persistência para não jogar fora
de mercado, é preciso dizer como escapar da atual os avanços que conseguimos na universalização
armadilha econômica: a relação entre taxa de do ensino fundamental e da atenção básica à
câmbio, dívida interna elevada, taxas de juros altas saúde. Manter um fluxo crescente de recursos para
e controle da inflação, que nos condena a taxas essas prioridades durante os próximos anos e
de crescimento medíocres e desemprego esta- décadas, como outros países em desenvolvimento
bilizado em nível elevado. Se fosse fácil escapar fizeram, e dar tempo de os resultados aparecerem.
dela, tanto meu governo como o atual já teriam Extirpar os bolsões de miséria, tanto nas grandes
escapado. Será preciso juntar outra vez compe- cidades como no interior do Brasil, exige outro tipo
tência técnica e habilidade política para desarmá- de medidas complementando as políticas universa-
la, como foi feito com o Plano Real. Com a mesma lizantes nos campos da educação e da saúde. As
franqueza, devemos alertar a sociedade para a crise políticas de transferência de renda do tipo Bolsa
fiscal que está sendo semeada pelo atual governo Escola, agora rebatizada de Bolsa Família, dão um
quando, por baixo dos superávits primários para alívio imediato, mas também não são suficientes.
impressionar o mercado financeiro, deixa o déficit Acredito que é possível avançar mais na luta contra
da Previdência explodir e infla os gastos com pes- a miséria disseminando as iniciativas de desen-
soal. O próximo governo, por um lado, terá que volvimento local já experimentadas com êxito em
8 Respeito pelo Brasil Agenda45
11. centenas de municípios, distritos e bairros pelo credenciais nessa matéria e, por isso, têm au-
Brasil. Essas iniciativas combinam investimentos toridade para liderar a administração, a polícia e
sociais e em infra-estrutura econômica com proje- a sociedade na luta contra a violência.
tos de geração de emprego e renda, sempre em
A crise política em que o país foi submergido
parcerias do governo com as comunidades locais.
evidencia a necessidade de se reformar o sistema
Se o Brasil inteiro estiver crescendo mais, essa é
eleitoral e partidário. Qual seria a maneira ideal
uma boa forma de fazer a dinâmica do crescimento
de promover essa reforma? Seria oportuno aten-
chegar aos bolsões de miséria.
tar para os benefícios que o parlamentarismo pode
Um das questões mais agudas no Brasil contem- gerar para a vida pública brasileira?
porâneo é a da segurança pública. A população
Receio que, se houvesse um novo plebiscito hoje,
das cidades que estão assoladas pela violência,
nessa crise política que o governo e seu partido
pela criminalidade, exigem medidas urgentes para
criaram, mas jogaram no colo do Congresso, o
a criação de um ambiente de relativa paz, de rela-
parlamentarismo perderia ainda mais feio do que
tiva tranqüilidade, de salvaguarda pessoal. Em suas
em 1993. Para que, no futuro, se dê uma nova
preocupações, como o senhor concebe uma política
chance ao parlamentarismo, precisamos antes de
capaz de ser, de fato transformada, em ações
mais nada curar as feridas do presidencialismo.
cotidianas contra a falta de segurança pública?
O PSDB sempre levantou o tema da reforma elei-
A violência hoje no Brasil tem duas vertentes, que toral. Muitos tucanos defenderam a adoção de um
às vezes confluem. Uma é a do crime organizado sistema misto, proporcional e distrital, semelhante
em torno do tráfico de drogas e de armas, do ao alemão. Mais recentemente, o PSDB estimulou
contrabando, da fraude fiscal, da corrupção no a proposta de um sistema proporcional de lista
setor público. Esse, para ser enfrentado, requer fechada. A verdade é que quase que qualquer
mais entrosamento das áreas especializadas da alternativa parece preferível ao nosso sistema
polícia federal, polícias civis, receita, fiscalização proporcional com lista aberta, que faz da eleição
bancária, além de mais vigilância nos portos, aero- de deputados e vereadores uma guerra de todos
portos e nas fronteiras. A outra vertente é a do contra todos dentro do mesmo partido. O pro-
crime mais ou menos desorganizado que assola blema é que tem sido difícil conseguir consenso
principalmente bairros pobres das grandes cida- para qualquer dessas alternativas no Congresso.
des. Exemplos como o do município de Diadema, Para romper a inércia, seria preciso uma mobi-
na região metropolitana de São Paulo, e do Jardim lização forte da sociedade. O próximo Presidente
Ângela, na cidade de São Paulo, mostram que é poderia estimular essa mobilização a partir de uma
possível diminuir muito a violência a partir de um proposta de reforma eleitoral defendida durante a
entrosamento maior, nesse caso entre a polícia, a campanha de 2006, para valer em 2010. Outro
administração municipal e a sociedade civil. É claro caminho possível seria começar a reforma pelo
que, para isso, precisa haver confiança da popu- nível municipal, por exemplo, introduzindo o voto
lação na administração e na polícia, o que requer distrital para vereador. Devemos intensificar a
uma atitude muito firme dos governantes contra a discussão dessas alternativas dentro do PSDB nos
corrupção, inclusive a corrupção policial. Os próximos meses para entrar no processo eleitoral
governadores e prefeitos do PSDB têm boas do ano que vem com uma posição tomada.
Agenda45 novembro de 2005 9
12. Sumário
SEÇÕES
Entrevista exclusiva:
Fernando Henrique Cardoso ..................................2
CARTA AO LEITOR
Bismarck Maia .................................... 13
CORRESPONDÊNCIA NACIONAL ........... 14
PERFIL POLÍTICO
Tasso Jereissati .................................. 16
FARSA E TRAGÉDIA ................................. 28 CONVERSA COM
BICO FINO ............................................. 48 Aécio Neves
O choque do sucesso ............................... 42
CAUSOS
Os causos do Teotônio ............................. 88 Geraldo Alckmin
O caminho do crescimento ....................... 50
OLHAR 45 ............................................. 104
Marconi Perillo
Uma agenda obrigatória........................... 64
Eduardo Azeredo
A razão vai vencer a emoção .................... 80
Beto Richa
O governo Lula é apenas uma
operação de marketing ............................. 83
Maria Abadia
O fiel da balança ..................................... 90
10 Respeito pelo Brasil Agenda45
13. PONTO DE VISTA
Tasso Jereissati
Os novos desafios .................................... 21
AÇÃO GOVERNAMENTAL
Marisa Serrano
O pêndulo feminino ................................. 27 Ceará
Crescimento com inclusão social ............... 70
Aécio Neves
Gestão pública para o cidadão ................. 46 Pará
Um novo Pará surge com o PSDB .............. 78
Geraldo Alckmin
Educação e desenvolvimento ..................... 54 Paraíba
O pacto federativo é um faz-de-conta ....... 86
Roraima
Raposa-Serra do Sol ............................... 100
ESPECIAL
PSDB Mulher ............................................ 24
PSDB no Congresso ................................. 34 ENSAIO
Nova sede ................................................ 58 José Serra
Dez toques sobre a ética e o PSDB ............. 31
Juventude do PSDB ................................... 67
José Roberto Afonso
Agenda 45............................................... 72
Economia imergente ................................. 40
Trabalho ................................................... 82
Luiz Paulo Velloso Lucas
Políticas sociais......................................... 95 Ética democrática..................................... 92
Eduardo Graeff
Reforma eleitoral .................................... 102
Agenda45 novembro de 2005 11
14. Expediente VII COMISSÃO EXECUTIVA NACIONAL
ELEITA EM 21/11/03
(2003/2005)
AGENDA 45
É uma publicação
do PSDB - Partido da Social PRESIDENTE DE HONRA
Democracia Brasileira Fernando Henrique Cardoso
EDITOR PRESIDENTE
Wilson Teixeira Soares José Serra
SUBEDITOR 1º VICE-PRESIDENTE
Maria Tereza Lopes Teixeira Eduardo Azeredo
VICE-PRESIDENTES
EDITORA DE ARTE
Clarissa Santos Aloysio Nunes Ferreira Filho
Álvaro Dias
ILUSTRAÇÕES
Carlos Alberto Leréia
Renato Palet
Dante de Oliveira
CONSELHO EDITORIAL
Leonel Pavan
André Campos, Bismarck Maia,
SECRETÁRIO GERAL
Geraldo Moura, Sérgio Silva,
Bismarck Maia
CAPA: arte sobre foto Wilson Teixeira Soares
1º SECRETÁRIO
da OBRITONEWS IMPRESSÃO
Eduardo Paes
(todas as fotos da Alpha Gráfica
2º SECRETÁRIO
OBRITONEWS foram TIRAGEM
Geraldo Melo
cedidas para a AGENDA 45) 5.000 exemplares TESOUREIRO
João Almeida
TESOUREIRO ADJUNTO
INSTITUTO TEOTÔNIO VILELA
Luiz Paulo Vellozo Lucas
(2003/2005)
VOGAIS
Arnaldo Madeira, Eduardo Gomes, Jutahy Junior,
DIRETORIA EXECUTIVA Luiz Carlos Hauly, Nilson Pinto, Rafael Guerra,
PRESIDENTE Sérgio Guerra, Vicente Arruda, Yeda Crusius
Deputado Sebastião Madeira SUPLENTES:
DIRETOR FINANCEIRO Anivaldo Vale, Bosco Costa, Fátima Pelaes, Firmino
Deputado Átila Lira Filho, Helenildo Ribeiro, Maria de Lourdes Abadia
DIRETOR DE ESTUDOS E PESQUISAS LÍDERES:
Deputado Bonifácio de Andrada Senado Federal
DIRETOR DE MARKETING POLÍTICO E ELEITORAL Arthur Virgílio
Deputado Nilson Pinto Câmara dos Deputados
DIRETORA DE FORMAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO Alberto Goldman
Deputada Professora Raquel Teixeira Presidente do ITV
SECRETÁRIO-EXECUTIVO Sebastião Madeira
Xico Graziano SECRETARIADO
CONSELHO DELIBERATIVO Secretário Nacional de Relações Trabalhistas e Sindicais
Affonso Camargo, Aluísio Pimenta, Walter Barelli
Antero Paes de Barros, Átila Lira, Bonifácio de Andrada, Secretária Nacional da Mulher
Carlos Américo Pacheco, Eduardo Graeff, João Gilberto Marisa Serrano
Lucas Coelho, José Aníbal P de Pontes,
. Secretário Nacional da Juventude
Bruno Galan
Jutahy Junior, Léo Alcântara, Lúcio Alcântara, Lula
Secretário de Relações Internacionais
Almeida, Manoel Salviano, Odaísa Fernandes Ferreira,
Márcio Fortes
Professora Raquel Teixeira, Renata Covas Lopes,
Secretário Nacional de Prefeitos
Ronaldo César Coelho, Rosa Maria Lima de Freitas,
Cícero Lucena
Ruth Cardoso, Sebastião Madeira,
EX-PRESIDENTES
Sérgio Besserman Vianna, Sérgio Fausto,
Franco Montoro (in memorian), Mário Covas
Teotônio Vilela Filho, Xico Graziano, Yeda Crusius
(in memorian), Fernando Henrique Cardoso,
CONSELHO FISCAL
José Richa (in memorian), Tasso Jereissati, Pimenta da
Gustavo Ribeiro, Lídia Quinan, Lobbe Neto,
Veiga, Artur da Távola, Teotônio Vilela, José Anibal
Ronaldo Dimas, Thelma de Oliviera, Zenaldo Coutinho SECRETÁRIO EXECUTIVO
Sérgio Moreira da Silva
12 Respeito pelo Brasil Agenda45
15. Carta ao leitor
FOTO PAULA SHOLL
Respeito pelo Brasil
Deputado Bismarck Maia
Secretário-geral da Comissão Executiva Nacional do PSDB
Desde que o consenso da sociedade brasileira responsabilizou o PSDB pela
tarefa de fiscalizar o governo Lula, exercendo uma oposição responsável,
transparente e construtiva, o partido dedicou-se a construir uma nova
estratégia para o Brasil. Infensos às tentações, pautamos o nosso trabalho
pela busca da justiça e da ética, conscientes de que governar um país como
o nosso exige mais do que palavras, emoções e intenções que não se transformam em gestos, em
obras tangíveis.
Desde janeiro de 2003, entregamo-nos à tarefa de ratificar os nossos compromissos com o
país, por intermédio de intervenções legislativas em âmbito federal e da aplicação de políticas
públicas competentes nos estados e municípios sob responsabilidade tucana.
Entre aquele momento e o dia de hoje, quando celebramos, nesta Convenção Nacional, a
decisão de nos empenharmos, juntos, em torno da inabalável decisão de governar o Brasil, crescemos
e nos afirmamos ante os olhos da opinião pública.
Essa nova realidade está retratada na Convenção Nacional de nosso partido, que ao longo de
sua existência administrou, com seriedade e honestidade, o Estado brasileiro durante oito anos de
realizações que transformaram, para melhor, a face do país.
Implantamos o Plano Real, garroteamos a inflação, introduzimos novos hábitos. E o paradigma
da preocupação tucana com o futuro foi testemunhado com a criação e a aprovação da Lei de
Responsabilidade Fiscal.
Vivemos, hoje, em um novo e diferente país. Que construímos sem nos entregar a sonhos
grandiloqüentes, megalomaníacos, irrealizáveis. Sabemos o que queremos e temos consciência das
dificuldades que o caminho nos reserva.
Mas, em meio da maior crise política jamais vivida pela República, filha legítima da cupidez e
da corrupção, cultivamos a plena consciência de que a opinião pública espera de nós, tucanos, que
jamais deixemos de trabalhar a favor do Brasil.
Sabemos o que queremos e sabemos como atingir os nossos objetivos. Apesar das dificuldades,
apesar das dúvidas, apesar das incertezas desses tempos que vivemos, o PSDB acalenta um sonho.
O sonho de sedimentar um ambiente que garanta aos mais carentes acesso efetivo aos bens da
cidadania plena e, portanto, à justiça social.
Hoje, quando o PSDB dá um novo e grandioso passo em direção a um novo tempo, o partido
firma, confirma e reafirma a inabalável decisão de criar e oferecer ao livre arbítrio da vontade
pública uma nova Agenda para o País.
Uma Agenda caracterizada, antes e acima de tudo, pela irrevogável decisão de dedicar, sob
todos os aspectos, Respeito pelo Brasil.
Agenda45 novembro de 2005 13
16. Correspondência nacional
quot;A mentira, o cinismo Álvaro Dias
e a falta de ética são bens democráticos Quero parabenizá-lo por sua luta em favor do povo brasileiro.
Nunca desista disso. Depois que o PT chegou ao governo, estamos
lastimavelmente ao alcance de todos. desamparados. Por favor, não pare de prostestar. Estamos sendo
Não é mesmo, presidente Lula ?quot; saqueados pelo governo Lula e dependemos da atuação de
________________________________ Izabel Marina, Brasília, DF parlamentares como o senhor para transmitir os nossos senti-
mentos, os nossos protestos.
E o Vavá, hein? ____________________________ Lucídio Pagnussat, Osasco, SP
Até quando os senadores e deputados do PSDB vão deixar o
Lula falar tanta besteira e ficar por isso mesmo? Só vejo o Transtorno bipolar
Lula falar, falar, falar e respostas que é bom, nada. Agora O governo do PT age na calada da noite. De dia fala uma
surgiu a história vergonhosa do Vavá, irmão do Lula, que não coisa. Quando o sol se põe, aumenta a gasolina. Eu tenho
resultou em coisa alguma. O Collor caiu por muito menos. A consciência de que isso representa muito pouco para a inflação.
essa altura da partida, estou cada vez mais preocupado com esse Mas, para os assalariados que dependem de transporte para se
quadro, mas ainda continuo confiando no PSDB. locomover, para trabalhar, o repasse do aumento dos combustíveis
_________________________ netosza@ig.com.br, São Paulo, SP pesa no orçamento mensal.
__________________________ Cátia A. de Souza, Araruama, RJ
Mecanismo
Já que entrou na moda falar em reforma política em decorrência Corrupção
do mar de lama criado pelo governo Lula, penso que a classe Primeiro, foi o Severino. Depois, veio o Maluf. Senhores
política deveria meditar sobre algumas salvaguardas para o parlamentares do PSDB, é óbvio que o governo Lula trabalha
exercício de cargos públicos. Afinal, a ignorância nunca foi útil incessantemente para desviar o foco de atenção e, assim, esvaziar
a ninguém. É preciso, também, estabelecer um mecanismo as CPIs que estão revelando para a sociedade brasileira um
para impedir que parlamentares que renunciam para escapar esquema de corrupção inédito no Brasil.
da cassação possam se candidatar como se nada tivessem feito __________________ Rogério D. F. Simões, Belo Horizonte, MG
contra o país.
______________________ Augusto B. Vianna, Rio de Janeiro, RJ Pesadelo
Nós, tucanos, vamos acordar de um sonho e encarar um pesadelo.
Cachorro morto O sonho seria a máscara do PT cair, definitivamente. O pesadelo
Infelizmente, o PSDB está poupando Lula. Aparentemente, que corremos o risco de viver é a reeleição de Lula. Temos que
os representantes do partido no Congresso Nacional crêem que partir para cima do PT e exigir a saída desses corruptos. Lula
ele está morto e se portam eticamente, respeitando o ditado de tem a mídia, o povão aplaudindo, a caneta na mão, os cofres
que não se chuta cachorro morto. Esse é um erro estratégico. cheios e uma tremenda cara de pau.
Lula voltou a respirar e já saiu da UTI. Abram o olho, __________________________ Patrícia C. Nogueira, Barretos, SP
tucanos.
_____________________ George Boos, Brusque, Santa Catarina Podridão
O ex-presidente Fernando Henrique exortou o PT a defender
Traidores a história do partido. Mas, infelizmente, isso não será possível.
Em frente, pessoal! Agora vamos ver de camarote a cambada O partido criado por Lula se desviou do caminho, abandonou
do PT cair que nem marreco alvejado. Essa turma não se os seus princípios. Agora, não tem mais volta. Infelizmente, em
reeleje nem para síndico de prédio. Bando de traidores. virtude desse mar de lama, os brasileiros não sabem mais em
_______________________ Dante M. Mousquer, Rio Grande, RS quem acreditar. Na minha opinião, a justiça não poderia vedar
14 Respeito pelo Brasil Agenda45
17. os olhos para tanta podridão. Mas, tenham certeza, nas próximas Socorro, PSDB!
eleições vocês verão o resultado das urnas, porque o povo, ainda Prezados e futuros mandatários deste enorme Brasil. Em nome
que decepcionado, aos poucos está despertando. E, se Deus quiser, de 495 ex-cabos da FAB legalmente anistiados pedimos,
saberá separar o joio do trigo. formalmente, socorro ao PSDB. Até o momento, os nossos direitos
________________________ Messias J. Payão, Rio das Pedras, SP não foram respeitados. Estamos sem identificação, e os atrasados
não foram inseridos nas portarias ministeriais referentes à concessão
Quadrilha da anistia. O ex-presidente do PT, José Genoíno, que foi
Lula pede paciência para todos nós e diz que não pode punir derrubado pelo quot;mensalãoquot;, não foi anistiado, mas foi beneficiado
ninguém. Juntos, porém, nós podemos puni-lo e à sua quadrilha. com a concessão de aposentadoria pela Câmara.
_________________________ Saul D. Martins, Rio de Janeiro, RJ _________________________ Eliezer Figueira, Rio de Janeiro, RJ
Lula, o dissimulado Balela!
Até quando a oposição vai deixar Lula, esse dissimulado, jogar Causa indignação diária ver Lula afirmar que as denúncias,
a culpa de tudo no presidente Fernando Henrique Cardoso e acusações e evidências da corrupção implantada por seu governo,
no governo do PSDB? O PT montou uma rede de corrupção por intermédio de José Dirceu e companhia, estão sendo
jamais vista e promove comícios encomendados, com direito a investigadas. Balela! Lula pensa que pode enganar todo mundo
torcida do PC do B. Basta! o tempo inteiro. A podridão que estava escondida em baixo do
______________________________ Priscilla Almeida, Brasília, DF tapete só emergiu em função da traição que o PT e o ex-ministro
José Dirceu cometeram contra o ex-deputado Roberto Jefferson
Vergonha na cara e o PTB.
Se o Lula tivesse o mínimo de vergonha na cara, pegaria o _______________________ Luiz Carlos Espíndola, São Paulo, SP
chapéu, renunciaria ao mandato e ficaria exilado em São
Bernardo do Campo. O PT faliu, acabou. O Collor, por muito Privilégios
menos, foi impedido de continuar o mandato e morreu para a Na minha opinião, Lula é o grande culpado pela corrupção
vida pública. O Lula ainda não entendeu que o povo não acredita implantada em seu governo. Todas as evidências apontam
mais nele. nesse sentido. É imprescindível que a oposição, o PSDB, trabalhe
______________________________ Hélio M. Vale, São Paulo, SP para provar essa realidade a todos nós. Lula, depois de se instalar
no Palácio do Planalto, lançou mão de todos os privilégios, a
Fantasia ponto de um de seus filhos ter se tornado, da noite para o dia,
Tenho acompanhado as notícias sobre a crise e, no meu entender, um empresário bem sucedido no ramo dos jogos eletrônicos, mesmo
não há nenhuma vontade do presidente Lula e de seus auxiliares sem nunca antes ter trabalhado. Collor caiu por muito menos.
em esclarecer os fatos. A fantasia que armaram destina-se a Lula enganou muito mais, roubou muito mais e mentiu muito
encobrir fatos gravíssimos. Na minha análise, os empréstimos mais, envergonhando o brio do povo brasileiro.
foram feitos para servirem de fachada, a fim de esquentar ___________________________ Signei Sebastiani, Carazinho RS
dinheiro sujo.
________________________________ Dario Martins, Suzano, SP
Cartas devem ser encaminhadas para
Agenda 45, Correspondência Nacional,
Dedo na ferida e-mail: agenda45@psdb.org.br. As cartas
Eu quero parabenizar o senador Tasso Jereissati pela sua devem ser assinadas e conter endereço e
coragem de enfiar no dedo na ferida do governo do PT. Lula é, telefone do remetente. A Agenda 45
sim, o quot;Rei do Trambiquequot;. reserva-se o direito de selecioná-las e
resumi-las para publicação.
_____________________________ Sílvio Soares, Porto Alegre, RS
Agenda45 novembro de 2005 15
18. Perfil político
FOTO DIVULGAÇÃO/IMPRENSA
Mobilização pela
reconstrução do país
Tasso Jereissati
16 Respeito pelo Brasil Agenda45
19. FOTO OBRITONEWS
Ao assumir a presidência nacional do PSDB, pela segunda vez, o senador Tasso
Jereissati tem em mente mobilizar os dirigentes e a militância tucana em torno de um
projeto de retomada das esperanças dos brasileiros na reconstrução do país. Na visão
de Jereissati, que há quase 20 anos lidera o projeto político do PSDB no Ceará, com a
eleição de Lula para a Presidência da República o falso messianismo do Partido dos
Trabalhadores afogou-se na incompetência administrativa, marcada por uma série de
escândalos que vêm frustrando todas as expectativas.
No seu primeiro discurso no Senado, em março de 2003, Tasso Jereissati já chamava
a atenção para a falta de criatividade e ousadia do novo governo. Criticava a política dos
juros altos, a ausência de investimentos públicos na infra-estrutura e o fiasco dos programas
sociais que haviam sido as peças fundamentais da eleição de Lula. Ponderava, todavia,
que o PSDB faria uma oposição propositiva para assegurar a governabilidade, mas não
abriria mão de fiscalizar e cobrar as políticas públicas que atendessem as necessidades
básicas da população nas áreas de saúde, educação, segurança, emprego e renda.
Tasso Jereissati começou sua vida pública no Ceará, emergindo da nova geração de
empresários cearenses. Sua eleição para governador do estado, em 1986, aos 37 anos,
caracterizou a ruptura com o sistema coronelista predominante. Tasso implantou uma
série de experiências administrativas que depois foram transplantadas para o âmbito
federal. Entre elas, destacaram-se os Agentes de Saúde, Desenvolvimento Sustentável,
Reforma Fiscal, programas como Bolsa-Escola, Gestão dos Recursos Hídricos, Luz
em Casa e Plano Plurianual. Os Agentes de Saúde, por exemplo, reconhecidos
internacionalmente como programa de baixo custo e grande influência na melhoria do
Agenda45 novembro de 2005 17
20. Perfil político
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), tiveram início no Ceará, em 1987, no seu
primeiro governo.
Foi uma idéia do médico sanitarista Carllile Lavor, então secretário de Saúde, para
deflagrar o projeto de mudanças com que o jovem governador propunha modificar
uma das faces mais cruéis da pobreza cearense esculpida ao longo dos séculos pelas
desigualdades regionais - a mortalidade infantil. E conseguiu: um relatório do Banco
Mundial apontou o programa como modelo a ser seguido pelos países pobres, porque
com ele o Ceará conseguiu reduzir a mortalidade infantil de 100 mortes por cada grupo
de 1.000 nascidos vivos, na década de 80, para 23 por cada grupo de 1.000, em 2002.
Esse dado tornou-se um dos marcos na ruptura do novo modelo político com o
clientelismo, que consistia na manutenção do poder pela distribuição de favores e a
prática do assistencialismo.
Com o êxito das inovações administrativas e do esforço de mudança no primeiro
governo de Tasso, o Ceará resgatou sua credibilidade, atraindo novos investimentos
públicos e privados. Apoiado pela população e
estimulado pela confiança nacional e internacional no
projeto de mudanças, o estado aparece, em relatório
da ONU, como o que registrou o maior crescimento
Ao concluir o seu do IDH do país, no período de 1995 a 2002, para o
terceiro mandato, qual a educação contribuiu com 60,78%. É que, ao
concluir o seu terceiro mandato, Tasso havia garantido
Tasso havia
a presença de 97% das crianças dos sete aos 14 anos
garantido a presença na escola.
de 97% das crianças Tasso não só confirmava a vocação herdada do
pai, o senador Carlos Jereissati, falecido em 1963,
dos sete aos 14 anos
como também colocava em prática as idéias
na escola defendidas pelos jovens empresários do Centro
Industrial do Ceará (CIC) - embrião do projeto
político de mudanças - do qual ele saiu para governar
o Ceará de 1987 a 1991, de 1995 a 1998 e de 1999 a
2002. Com os resultados e repercussões da reforma do estado, Tasso tornou-se presidente
nacional do partido de 1º de setembro de 1991 a 14 de maio de 1994. Na presidência
do PSDB, ele foi peça fundamental na articulação da candidatura vitoriosa à Presidência
da República do então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso. Era a chegada
do PSDB, um partido novo, ao comando de poder do país.
Nas suas primeiras ações políticas, Tasso já se sintonizava com o plano federal. Ele
transformou o CIC em fórum de debate nacional do qual participaram as principais
lideranças políticas e econômicas do país. E foi o organizador do primeiro comitê
cearense da campanha pelas eleições diretas. Em 1986, depois de uma cirurgia do
coração em Cleveland, nos Estados Unidos, Tasso elegeu-se governador com 52,3%
dos votos. No governo, saneou as finanças do estado altamente endividado e sem
crédito, em atraso inclusive de cinco meses com os salários do funcionalismo, moralizou
18 Respeito pelo Brasil Agenda45
21. FOTO OBRITONEWS
Reeleito para o terceiro
mandato, também no
primeiro turno, com 62,7%
dos votos, Tasso tornou-se
o segundo governante a
conseguir essa façanha nos
110 anos da história
republicana do estado
a administração, colocou a máquina a serviço da população e devolveu a auto-estima ao
cearense.
Em 1994, foi eleito com 56% dos votos, no primeiro turno, para o segundo governo.
Priorizou os programas de infra-estrutura e inclusão social, em parceria com o governo
federal e instituições como o Banco Mundial (Bird) e o Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID). Isso colocou o Ceará entre as economias emergentes, bene-
ficiado por ações inovadoras como a reforma fiscal, a municipalização da educação e
da saúde, a atração de indústrias, a co-gestão e as parcerias com as comunidades, a
política das águas, a interligação de bacias, a unificação da segurança pública, a construção
de liceus de artes e ofícios, de estradas, de redes de eletrificação e os investimentos no
potencial turístico para a geração de emprego e renda.
Reeleito para o terceiro mandato, também no primeiro turno, com 62,7% dos
votos, Tasso tornou-se o segundo governante a conseguir essa façanha nos 110 anos da
história republicana do estado. De 1999 a 2002, foram implementados grandes projetos
de infra-estrutura, com o objetivo de assegurar o desenvolvimento do estado. A barragem
do Castanhão, com capacidade para 6 bilhões de metros cúbicos, preparou o Ceará
para receber, sem problemas, a transposição do São Francisco. Outro grande marco
foram as obras do Porto do Pecém, que o deixaram em condições de receber a siderúrgica
já anunciada para o Ceará, bem como as do aeroporto internacional de Fortaleza, que
ajudaram no crescimento do turismo e fortaleceram o sistema de transporte do estado.
Outros grandes projetos como a interligação de bacias, de estradas e redes elétricas
contribuíram para a melhoria de vida da população. O Metrofor, projeto iniciado no
seu governo, sofreu paralisações por falta dos repasses do governo federal.
Ao terminar seu terceiro mandato de governador do Ceará, Tasso Jereissati optou
por uma nova experiência política. Disputou uma vaga no Senado e foi eleito, em
outubro de 2002, com 31,52% do total da votação. Transmitiu o governo ao vice-
governador Beni Veras, seu ex-companheiro de CIC, e sentou-se na mesma cadeira do
Agenda45 novembro de 2005 19
22. Perfil político
pai, prometendo quot;uma oposição propositivaquot;. Defendeu a governabilidade e logo
começou a criticar as práticas clientelistas do governo Lula, o fiasco dos programas
sociais, os juros altos, a falta de investimentos públicos. Tasso, senador, cobrava do
governo mais ousadia e criatividade. Foi o primeiro a acenar, no Senado, com a
desconfiança pública sobre o todo-poderoso tesoureiro do PT, Delúbio Soares, agora
expulso do partido. Na época, Tasso foi ameaçado pelo PT com um processo no
Supremo Tribunal Federal.
O senador Tasso Jereissati foi responsável pela criação da Subcomissão de Segurança
Pública, que contribuiu com debates técnicos para o aperfeiçoamento das leis de combate
à violência e para a elaboração do Estatuto do Desarmamento. Além da subcomissão,
Tasso também preside a Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo, que discute
o novo modelo de agências de desenvolvimento regional, como a Sudene e Sudam, e a
definição de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES), além de projetos de redução das desigualdades regionais. É ainda membro
das Comissões de Assuntos Econômicos e de Infra-Estrutura e considerado um dos
políticos de maior influência no Congresso. Teve participação ativa no debate, votação
e aprovação dos chamados grandes projetos, como da Reforma Tributária, leis das
Parcerias Público-Privadas e Células-Tronco, entre outras.
Os fatores que traçaram a carreira política de Tasso Jereissati não estão apenas nos
olhos azuis que o popularizaram nas campanhas eleitorais do Ceará como o quot;galeguim
dos zói azulquot; - plágio de uma música do compositor e cantor Genival Lacerda. Estão
também nos eleitores fiéis, na sua história de empresário bem-sucedido, no bom senso
e na maneira de administrar com transparência. Essa é a bagagem que Tasso Jereissati
traz para o seu novo projeto no comando nacional do PSDB.
FOTO DIVULGAÇÃO/IMPRENSA
Os fatores que traçaram
a carreira política de
Tasso Jereissati estão nos
eleitores fiéis,
na sua história de
empresário bem-sucedido,
no bom senso e na
maneira de administrar
com transparência
20 Respeito pelo Brasil Agenda45
23. Ponto de vista
Os novos desafios
Tasso Jereissati*
Em 1994, quando o PSDB chegou à Presidência da República com Fernando Henrique Cardoso,
os grandes desafios eram o combate à inflação descontrolada, a recuperação da economia, o
combate ao desemprego e o resgate de uma secular dívida social, revelada notadamente nos
altos níveis de mortalidade infantil e no enorme contingente de crianças fora da escola. Enfrentamos
esses males com obstinação, e os resultados vieram.
A estabilidade econômica, cujo marco inicial foi o Plano Real, foi conquistada a duras penas,
exigindo muito sacrifício de todos os brasileiros. O controle da inflação demandou enorme esforço
fiscal, que envolveu difíceis decisões e importantes instrumentos como a renegociação das dívidas
dos estados, o sistema de metas, o câmbio flutuante e a Lei de Responsabilidade Fiscal. Tudo
isso foi alcançado, em boa medida, pela enorme credibilidade do presidente Fernando Henrique,
que conduziu todo esse processo com responsabilidade e critério.
A mortalidade infantil, a realidade mais cruel de nosso passado recente, foi enfrentada com
dedicação apaixonada. Os programas de saúde familiar, baseados na experiência vitoriosa dos
agentes de saúde do Ceará, bem como o investimento maciço em saneamento e saúde pública
foram fundamentais na melhoria das condições de vida das famílias pobres e na conseqüente
redução da mortalidade.
Da mesma forma, de 1994 a 2002, o governo federal trouxe para a escola 97 % das crianças
com idade entre sete e 14 anos, num feito histórico para a educação neste país. Outro avanço
importantíssimo foi o combate ao trabalho infantil e as políticas de proteção à criança. Mais de
600 mil crianças com idades entre sete e 14 anos foram retiradas do trabalho penoso e insalubre
em carvoarias, olarias e no canavial. Tudo isso foi obtido em meio a graves crises internacionais,
que atingiram especialmente a Rússia, o México e a Argentina, estancaram a economia japonesa
e abalaram os chamados “Tigres Asiáticos”.
Hoje os desafios são outros, mas não menos problemáticos. Na economia, vencida a inflação, o
problema agora são os juros altos, que deixam a economia estagnada, impedindo o
desenvolvimento. A opção por altas taxas de juros com receio da volta do processo inflacionário
já esgotou sua eficiência, a um custo muito alto, criando uma armadilha aparentemente insuperável
para a atividade econômica. A cega busca de superávits, construída essencialmente com corte no
investimento público e uma insuportável carga tributária, já produz efeito contrário, afastando o
investidor privado do setor produtivo - o que, por sua vez, acabará gerando desemprego. É
preciso enfrentar o problema dos juros elevados no nascedouro: um setor público hipertrofiado
(*) Ex-governador do Ceará, senador pelo PSDB
Agenda45 novembro de 2005 21
24. Ponto de vista
que, excluindo a conta dos juros reais pagos, retira do setor privado aproximadamente 32% do PIB,
com baixíssimo retorno em serviços e infra-estrutura. Conseqüentemente, é chegado o momento de
enfrentar o desafio de melhorar a qualidade dos gastos públicos, investigando quais são e estimulando
os projetos com melhor retorno, combatendo os desperdícios e o clientelismo e, principalmente, o
problema da baixa eficiência gerencial do setor público, seguindo, por exemplo, o caminho trilhado
pelos governos de Minas Gerais e São Paulo.
Na área social, um dos desafios mais urgentes é não deixar que o retrocesso que se avizinha se
transforme em realidade. Depois do fiasco de um programa de combate à fome equivocado no
diagnóstico e nas prescrições e incompetente na execução, o carro-chefe da propaganda oficial é a
consolidação, sob novo nome, dos programas de transferência de renda criados na gestão do presidente
Fernando Henrique Cardoso.
A descontinuidade administrativa em áreas como educação, saúde e saneamento,
Na área o descumprimento dos mínimos constitucionais de gastos em saúde, a falta de controle
social, um dos das condições a serem cumpridas pelos beneficiários dos programas de transferência
desafios mais de renda, as idas e vindas de propostas voltadas ao financiamento do ensino médio
urgentes é e superior são a causa do recrudescimento de problemas que poderiam estar supe-
não deixar rados, mas que voltaram ao centro das atenções devido ao total descaso de que
que o foram vítimas nos últimos três anos.
retrocesso É preciso implementar políticas de transferência de renda, seja por meio de uma
que se prática tributária mais justa, que privilegie o trabalho e a produção, seja por meio
avizinha se de programas compensadores do desequilíbrio, que favoreçam as camadas mais
transforme pobres da população, vinculando-as a ações dirigidas à educação de crianças, à
em realidade. alfabetização de jovens e adultos, à prevenção de doenças materno-infantis.
Na saúde, não podemos perder o foco da prevenção de doenças, por meio da
implantação e ampliação dos sistemas de esgotamento sanitário e de abastecimento
de água tratada, segurança alimentar e até mesmo de planejamento urbano, nos aspectos que se
refletem na saúde pública. É necessário reverter o quadro observado durante o ano de 2005. Em nove
meses, o governo federal empenhou menos de 2% dos recursos destinados ao investimento em
saneamento a cargo do Ministério das Cidades. Desse total, nada foi executado. Na mesma ação, o
Ministério da Saúde executou apenas 0,7%.
No quesito educação, temos que ir muito além de trazer as crianças para a escola. Isso nós já fizemos
com bastante êxito graças ao Fundef e à exigência de programas como o Bolsa Escola e de Erradicação
do Trabalho Infantil (PETI). O desafio agora é melhorar a qualidade do ensino. Apenas para citar
algumas propostas, essa melhora implica, evidentemente, incentivo e aprimoramento na formação
dos professores, tempo de permanência das crianças na escola, investimento na infra-estrutura escolar,
especialmente na instalação de bibliotecas, e informatização. Fortalecer os níveis de ensino básico e
médio é fundamental, com repercussão a médio prazo no sistema como um todo, sem perder de vista
22 Respeito pelo Brasil Agenda45
25. FOTO OBRITONEWS
a necessidade urgente de reduzir drasticamente as
taxas de analfabetismo de jovens e adultos. É preciso
estimular o ensino profissionalizante e estudar uma
reforma universitária com prioridade na qualidade,
combatendo o exagerado mercantilismo da edu-
cação superior.
Em todas essas questões, deve ser considerada a
gritante desigualdade entre as diversas regiões do
país. Não se pode mais postergar a discussão sobre
a necessidade de adotar mecanismos e critérios de
repartição diferenciada de recursos. É preciso levar em conta não apenas o tamanho da população,
mas os diferentes graus de desenvolvimento de cada região.
Outro grande desafio é a questão da segurança pública. É inquestionável que esse problema tem
profundas raízes em nossas outras mazelas sociais, mas o combate a questões como desemprego e
má distribuição de renda só trarão resultados a longo prazo. É preciso enfrentar o problema com
soluções mais urgentes para a redução dos altos níveis de criminalidade. Aparelhar e reformular as
polícias são medidas de impacto quase imediato. Enfrentar a corrupção policial e impedir a impunidade
são medidas que demandam muito mais vontade política do que propriamente recursos financeiros.
Os grandes conflitos agrários surgidos no governo atual tornam o problema do campo um dos grandes
desafios a ser enfrentado. Os programas voltados à agricultura familiar, à organização agrária e à
paz no campo, praticamente esquecidos durante o governo atual, devem ser fortalecidos e ampliados,
como formas que são de melhoria da qualidade de vida das populações rurais de baixa renda.
A esses desafios somam-se novas demandas geradas pelas transformações em curso no país. Os
crescentes níveis de exportações observados desde 2002 criam oportunidades de aceleração do
crescimento da economia, mas evidenciam, também, as deficiências de nossa infra-estrutura de
transportes e defesa sanitária. Propostas tímidas e mal concebidas no campo tributário ficaram longe
de reverter - ou pelo menos conter - o aumento da carga de impostos sobre a sociedade. A regula-
mentação de parcerias público-privadas em obras de infra-estrutura não rendeu até agora um projeto
sequer no plano federal. Enquanto isso, tentativas reiteradas de limitar a independência das agências
reguladoras afastam investimentos privados, e o viés estatista-centralizador planta obstáculos à expansão,
especialmente do setor elétrico.
Sem pretender esgotar todos os problemas do Brasil que são a fonte ou os reflexos de fortes desigual-
dades sociais, estes são os novos desafios. Mais uma missão que se impõe ao PSDB, partido que,
forjado no exemplo de gigantes como Covas, Montoro e Richa, não se recusará a enfrentá-la. O
PSDB colocou o Brasil no rumo do crescimento sustentado e do progresso social. É nesse sentido que
exorto os tucanos de hoje a unir esforços no enfrentamento dessa tarefa. Até a vitória nas urnas e,
além, na continuidade da construção do Brasil dos nossos sonhos.
Agenda45 novembro de 2005 23
26. PSDB Mulher
Mulheres tucanas
Uma história
de lutas,
reivindicações
e vitórias
As eleições municipais de 2004 revelaram, para quem ainda insistia
em acreditar que o PSDB se encontrava em fase minguante, que a
sociedade brasileira, valendo-se de um adequado sistema de pesos e
contrapesos, continua a dedicar plena confiança ao partido. Os resul-
tados oficiais garantiram aos tucanos a vitória no pleito em que os
candidatos da legenda alcançaram a maior taxa de sucesso eleitoral
entre todos os partidos que concorreram aos cargos majoritários e
proporcionais.
A taxa de sucesso do PSDB não contemplou apenas as candida-
turas masculinas. Também as mulheres tucanas obtiveram um resul-
tado mais do que expressivo, atestando o sucesso de todo um
planejamento, implantado a partir de 2001, para aumentar a presença
feminina no poder Legislativo. No pleito do ano passado, o partido
comemorou o êxito, nas urnas, de 769 de suas candidatas.
A eleição de 55 prefeitas, 86 vice-prefeitas e 628 vereadoras
retrata, de maneira sintética, uma história de sucesso, cujo primeiro
capítulo foi escrito há apenas sete anos. Em 1998, decididas a trabalhar
pela reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso, as mulheres
tucanas deram à luz o PSDB Mulher. E desde então, com rigor, método
e persistência, transformaram esse nicho partidário em uma célula
que se expande com vigor absoluto.
Em uma sociedade que ainda cultiva dogmas contra a figura
feminina, os primeiros passos do PSDB Mulher foram marcados pela
necessidade de cunhar uma plataforma política capaz de espelhar o
sentimento, a percepção e a natural emoção do sexo que, por muito
tempo, foi equivocadamente rotulado de frágil. Esses pressupostos
24 Respeito pelo Brasil Agenda45
27. de ação política tomaram corpo durante o Seminário PSDB MULHER
para a Discussão e Redefinição do Papel de Militante SENADORAS: 1
do PSDB Mulher.
DEPUTADAS FEDERAIS: 5
Nesse encontro, 50 mulheres tucanas, represen-
tando 17 estados, refletiram durante três dias sobre DEPUTADAS ESTADUAIS: 25
objetivos, foco e missão do núcleo feminino do parti- PREFEITAS: 55
do. E o resultado dessa iniciativa foi corporificado VICE-PREFEITAS: 86
no documento Carta de Brasília, que se transformou
VEREADORAS: 628
na orientação de vôo das tucanas para expandir a
presença das mulheres nos três poderes da República. REDE NACIONAL DE MILITANTES
Deflagrado o movimento que garantiu organi- TUCANAS: 21.000
cidade às mulheres tucanas, no pleito de 2000 elas se
submeteram ao primeiro teste das urnas. Com sucesso PSDB MULHER
indiscutível. Naquele ano, o PSDB Mulher elegeu três Ferramentas
vice-governadoras, 57 prefeitas, 67 vice-prefeitas e 865
PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO
vereadoras, totalizando a vitória de 992 candidatas POLÍTICA PARA MULHERES
do partido. TUCANAS
Conscientes de que as eleições de 2002 marcariam
OFICINAS DE FORMAÇÃO
um divisor de águas na existência do PSDB Mulher,
POLÍTICA
as tucanas realizaram, em fevereiro daquele ano, um
encontro com as pré-candidatas. Com a participação CADERNOS DE FORMAÇÃO
POLÍTICA
de 301 mulheres, que representaram todos os estados
brasileiros, o braço feminino tucano formalizou a REDE NACIONAL DE MILITANTES
decisão de contribuir formalmente para a campanha TUCANAS
de José Serra à presidência da República.
TUCANAS ON-LINE
Liderado pela deputada Marisa Serrano, atual vice-
prefeita de Campo Grande (MS), o PSDB Mulher
formatou propostas para o programa de governo 18,7% foram eleitas pelo PSDB. Já no Senado, das 10
de Serra. O “olhar feminino” tucano ganhou vida em mulheres eleitas, uma é do PSDB.
forma de documento, entregue ao candidato do Apesar de naturalmente orgulhosas dos resultados
partido em junho de 2002. Uma conquista. Pela alcançados em tão curto espaço de tempo, as mulheres
primeira vez, as questões que afetam as mulheres eram não permitiram que o sucesso lhes subisse à cabeça.
por elas mesmas definidas. Conscientes de que são sempre mais exigidas do que
No ano em que a sociedade brasileira foi vítima os homens, sendo obrigadas a matar um leão por dia
do maior golpe eleitoral de sua história, elegendo Lula para atestar a própria competência, as tucanas
convencida de que o PT era, de fato, um partido ético decidiram patrocinar a interação das deputadas
e capaz de governar o país, a taxa de sucesso das estaduais com o Secretariado Nacional do PSDB
mulheres tucanas ratificou a excelência do trabalho Mulher. O objetivo, singelo e imprescindível, era
do PSDB Mulher. Do total de 52 deputadas federais unificar as bases da militância feminina do partido.
eleitas em 2002 por todos os partidos, as tucanas O primeiro passo desse trabalho foi dado em
ficaram com 9,6% da bancada feminina na Câmara janeiro de 2003, quando entrou em funcionamento a
Federal. E das 133 deputadas estaduais vitoriosas, Rede Nacional de Militantes Tucanas. Esse instrumento
Agenda45 novembro de 2005 25
28. PSDB Mulher
foi criado para disseminar informações e abordar as- de 22 multiplicadoras de 13 estados. Essa iniciativa
suntos de interesse das mulheres no âmbito da política precedeu a realização das Oficinas Estaduais de
e possibilitar a realização de ações concretas junto às Formação Política, que contaram com a participação
comunidades. de 3.000 tucanas.
Logo após o lançamento da rede, o PSDB Mu- De acordo com a Secretária Executiva do PSDB
lher realizou, em fevereiro, o primeiro encontro com Mulher, Sílvia Rita Souza, “a criação das Oficinas de
as deputadas estaduais tucanas. Iniciativa comple- Formação Política e o lançamento dos Cadernos de
mentada, em junho daquele ano, pela organização do Formação Política representaram, na verdade, o
primeiro encontro com as prefeitas e vice-prefeitas ingresso da célula feminina tucana em sua maioridade
do partido. Nesse evento, foi estabelecida a meta político-partidária. Naquele momento, foram estabele-
prioritária de implantar, no maior número possível cidos os pressupostos da atuação das mulheres tucanas
de municípios, secretariados femininos destinados a em sua luta pela igualdade e pelo direito às mesmas
capilarizar o PSDB Mulher e, assim, definir estratégias oportunidades que, historicamente, sempre foram uma
ajustadas às realidades locais. reserva de mercado masculina”.
Em novembro de 2003, com a eleição do ex- Para complementar as ações de integração das
ministro José Serra para a presidência e do deputado mulheres tucanas, o Secretariado Nacional do PSDB
Bismarck Maia para a secretaria-geral do partido, a Mulher lançou, também naquele ano, a publicação
nova Comissão Executiva Nacional tomou a decisão Informe às Prefeitas, Vice-prefeitas e Verea-
de estimular a descentralização das iniciativas dos doras Tucanas. “O que o partido quer”, afirmou o
núcleos do PSDB. O que propiciou às mulheres secretário geral do PSDB, deputado Bismarck Maia
tucanas aprimorar o trabalho de organização, criando , “é não apenas instrumentalizar as mulheres tucanas
instrumentos de comunicação e de orientação eleitoral. para a vida político-partidária, dando-lhes armas para
Nasceram, assim, o informe Candidatas Tuca- a promoção da cidadania e para a otimização dos
nas 2004 e a publicação Caderno da Candidata. recursos públicos. Antes e acima de tudo, identificar
Enquanto o primeiro sugeria ações e atividades a serem lideranças femininas aptas a concorrer e equipadas
realizadas, lastreadas nas experiências das mulheres do para vencer as eleições de 2006”.
PSDB, o segundo fornecia subsídios para a admi-
nistração das campanhas eleitorais, abrangendo desde
o trabalho da candidata até o dos voluntários, passando
por coordenadores e auxiliares.
Estimuladas pelo fato de, no pleito de 2004, o
PSDB ter eleito 13,5% das 407 prefeitas brasileiras e
9,5% das 6.555 vereadoras, o núcleo feminino do
partido implantou as Oficinas de Formação Política
para capacitar e fortalecer a militância das tucanas -
trabalho facilitado pelo lançamento dos Cadernos
de Formação Política.
Material acima de tudo didático, os cadernos fo-
ram apresentados ao ninho das tucanas em abril,
quando o PSDB Mulher realizou, em Brasília, o
evento Capacitação para Multiplicadores das Oficinas
de Formação Política, que contou com a participação
26 Respeito pelo Brasil Agenda45
29. Ponto de vista
O pêndulo feminino
Marisa Serrano*
As mulheres tucanas, como toda a sociedade, estão acompanhando os problemas políticos que
originaram as CPIs dos Correios, do Mensalão e dos Bingos, estarrecidas ao saber que o Brasil
é, hoje, considerado um dos países mais corruptos do mundo. Não merecemos esse destino.
Queremos ter orgulho de ser brasileiras e de saber que o nosso país é respeitado em todos os
lugares. Principalmente, orgulho de estarmos priorizando políticas sociais efetivas para que todos
tenham uma vida melhor. Quando falamos em política sociais nos referimos a uma saúde de
qualidade e a uma educação que seja prioritária. Tratamento a ser dispensado, também, à
assistência social. Constrange-nos saber que o governo Lula vai atingir a
Como donas triste meta de 11 milhões de lares recebendo o Bolsa-Família, quando o
de casa e ideal seria criar 10 milhões de empregos, construindo, assim, uma sociedade
responsáveis autônoma e profissionalmente capaz.
diretas pela Neste momento complexo, tenho ouvido de muitas mulheres referências
criação e elogiosas às parlamentares que participam das CPIs, entre elas a deputada
educação dos Zulaiê Cobra (SP), por seu espírito de luta, coragem e perseverança. Apesar
nossos filhos, do aspecto nefasto da crise, esses exemplos motivarão as mulheres a perceber
a nossa voz, que sua partipação ativa e efetiva nos partidos políticos faz a diferença.
firme e
Como donas de casa e responsáveis mais diretas pela criação e educação
coerente,
dos nossos filhos, a nossa voz, firme e coerente, avessa ao autoritarismo, é
avessa ao
fundamental para garantir a paz e o sucesso das ações cotidianas. Não
autoritarismo,
podemos aceitar que o presidente da República, responsável pelos rumos e
é fundamental
soluções dos problemas brasileiros, transmita a idéia de incoerência no
para garantir a
discurso e nas ações.
paz e o sucesso
das ações Sabemos que, para chegar à presidência da República, é fundamental que
cotidianas o postulante mostre à população competência administrativa, honestidade
no trato com a coisa pública e ética nos relacionamentos pessoais e políticos.
Nós, mulheres, a maioria da população brasileira e quase metade da população
economicamente ativa, temos poder de decisão para fazer o pêndulo da história se voltar para
o lado da coerência, da sensatez e da responsabilidade com a nossa Pátria. O PSDB Mulher,
orgulhoso da contribuição política que o partido já deu ao país na esfera federal, está
arregimentando companheiras de todos os estados na luta por um governo comprometido com
a seriedade e a ética e que tenha Respeito pelo Brasil.
(*) Presidenta do PSDB Mulher, deputada federal e,
atualmente, vice-prefeita de Campo Grande (MS).
Agenda45 novembro de 2005 27
30. Farsa e tragédia
Para chegar ao poder, o PT criou um personagem de ficção. De defensor da ética, da
moral, dos bons costumes, da transparência na condução dos negócios públicos. Com
disciplina absoluta, a legenda que prometia levar a classe operária ao paraíso cresceu,
expandiu-se e engordou seu caixa.
Dois anos, 10 meses e 18 dias depois de a peça engendrada por Lula e pelas
eminências pardas do PT ter entrado em cena, a sociedade brasileira tem, hoje, consciência
de que foi enganada. E condenada a assistir a uma tragédia cujo quarto ato está reservado
para o próximo ano . I Ato
“Não sejam tão Comida Zero para o Fome Zero
desaforadas”
“Nenhum centavo ou grama de alimento doado até agora ao projeto
“Elogiado como um parceiro na Fome Zero serviu para alimentar um único brasileiro carente. Passados
luta pela igualdade e autonomia 2 meses e 11 dias da posse do novo governo e da criação do Ministério
da mulher, o presidente Luiz Inácio Extraordinário de Segurança Alimentar, batizado de Mesa, cheques
Lula da Silva cometeu um deslize como o de R$ 50 mil da modelo Gisele Bündchen continuam na gaveta
machista no seu discurso à mulheres à espera do número de um conta em que possa ser depositado”.
brasileiras em Apodi, no seminá-
rido nordestino. ´Vocês já são a O Estado de São Paulo, 11 de março de 2003
grande maioria da população
brasileira, já são 52%, vocês já têm
Desgaste zero no Primeiro Emprego
cargos de vereadoras, de prefei-
tas, de governadoras. Eu espero quot;Na agenda do Planalto, o lançamento do Programa Primeiro Emprego,
que vocês não sejam tão desafo- a mais importante iniciativa de combate ao desemprego desse início de
radas e não comecem a pensar governo, está previsto par a semana que vem. Mas o anúncio, inicialmente
logo na Presidência da República. marcado para 1º de Maio, pode ser adiado novamente. É que o governo
Vai devagar com essa pressa de agora virou gato escaldado, aquele que tem medo até de água fria.
poder´”. Não quer sofrer o desgaste do Fome Zero, lançado com grande festa
no Planalto quando ainda não havia sequer saído do papelquot;.
O Estado de São Paulo,
9 de março de 2005. O Globo, 10 de maio de 2003 (Helena Chagas)
Verba externa existe, mas Fome Zero não pede
Em recente visita ao Brasil, um ministro europeu ouviu dura queixa de José Graziano, o ministro extraordinário
para Segurança alimentar. De acordo com uma fonte oficial européia, Graziano reclamou da demora dos
organismos financeiros internacionais em liberar verbas prometidas para o programa Fome Zero. A reclamação
foi transmitida ao Bird e ao BID, com uma cobrança de providências. Em poucos dias, veio a resposta: o Bird e
o BID estão prontos para apoiar o Fome Zero. Se não o fizeram até agora é porque não receberam pedido de
Brasília sob forma de um projeto ou de modificação de projetos da área social que foram apresentados pelo
governo anterior e que poderiam ter parte de seus recursos reorientados para o programa de combate à fomequot;.
O Estado de São Paulo, 1º de setembro de 2003
28 Respeito pelo Brasil Agenda45
31. II Ato
Ministro chama colega de vagabundo
quot;Agora, amansado por Zé Dirceu, ele nega. Mas são
no mínimo 30 testemunhas, todos parlamentares, que
ainda estão estarrecidos com o desabafo do ministro
Roberto Rodrigues contra a paralisia do governo. ´Eu
mandei o vagabundo do Guido Mantega para a
PQP´, disse Rodrigues´quot;.
O Globo, 20 de março de 2004
Boletim registra divergências com Dirceu
quot;A divergência entre o presidente Lula e o chefe da
Casa Civil, José Dirceu, sobre a presença do PMDB
no governo virtou notícia no Palácio do Planalto. O
boletim quot;Carta Críticaquot;, editado pela Secretaria de
Comunicação do Governo e Gestão Estratégica, tratou
do tema. ´Está pegando muito mal na mídia a visível
divergência entre o presidente Lula e o ministro José
Dirceu´, diz um trecho, que aborda a contradição entre
os movimentos do presidente, para manter o PMDB
no governo, e as declarações do ministro, fazendo
pouco caso da crise.
O Globo, 18 de novembro de 2004
Almas gêmeas
quot;Novo choque entre o ministro Luiz Furlan e o presidente
do BNDES, Carlos Lessa. O ministro enviou carta
criticando Lessa por este não ter submetido à aprovação
do Conselho o Planejamento Estratégico para 2004/
2007. Lessa, por sua vez, escreve carta-resposta a
Furlan e, entre outras coisas, disse que o BNDES está
vinculado ao Ministério, mas não está subordinado a
ele. Com esta missiva desafiadora, criou-se nova crise
entre os doisquot;.
O Estado de São Paulo, 24 de junho de 2004 (Sonia Racy)
Agenda45 novembro de 2005 29
32. Farsa e tragédia
III Ato
Lula erra ao mencionar números
quot;Em seu discurso no Fórum Social Mundial, o presidente Já estamos preparando
Luiz Inácio Lula da Silva foi além do clássico hábito dos as malas para 2008
governantes de exibir números favoráveis e omitir os
quot;O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em um
desfavoráveis: boa parte dos dados citados estava
escorregão característico de seus discursos de
simples e grosseiramente errada. Lula disse ter assumido
improviso, convidou todos os presentes à
o país com um déficit nas transações com o exterior de
reunião de cúpula a comparecer ao próximo
US$32 bilhões, hoje transformado em superávit de US$
encontro, em Marrocos, daqui a três anos,
10 bilhões. Isso só seria verdade se o petista tivesse
sugerindo que ainda estará no cargo em 2008,
vencido as eleições presidenciais de 1998, quando o
em um segundo mandato. ´Já estamos
déficit brasileiro foi de US$ 33,4 bilhões. No segundo
preparando as malas para ir ao Marrocos
mandato de Fernando Henrique, esse déficit foi caindo
em 2008´, disse Lula, ao ser informado pelo
a cada ano, até chegar a apenas - na comparação com
ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim,
o número citado por Lula - US$ 7,6 bilhões em 2002.
que o Marrocos se ofereceu para sediar a
Folha de São Paulo, 28 de janeiro de 2005 próxima cúpula.
O Estado de São Paulo, 11 de maio de 2005
Delúbio ironiza denúncia de compra de
deputados
Liderança petista não aceita que se
quot;“Mensalão? Nunca existiu. E com o tempo isso vai ficar
fale em corrupção
provado. Nós seremos vitoriosos, não só na justiça mas
no processo político. É só ter calma. Em três ou quatro O caso dos deputados que receberam dinheiro
anos, tudo será esquecido e acabará virando piada de do esquema [Marcos Valério] deve ser
salão”. encerrado, se depender da cúpula do partido.
quot;Sou solidário ao Delúbio Soares e aos
O Estado de São Paulo, 17 de outubro de 2005
deputados [ameaçados de cassação] porque
nenhum deles cometeu corrupção. Podem ter
cometido falhas em relação à Justiça Eleitoral.
Dirceu critica a expulsão Se isso é crime fiscal, vão pagar. Só não aceito
de Delúbio do PT que Delúbio, José Genoíno e os parlamentares
O deputado José Dirceu avalia como quot;muito rigorosaquot; a sejam taxados de corruptosquot;, afirmou Francisco
punição de Delúbio Soares. Disse que votou contra a Rocha, coordenador do Campo Majoritário
expulsão do ex-tesoureiro porque considera que ele do PT.
cometeu quot;irregularidades em benefício próprioquot;. Folha de São Paulo, 21 de outubro de 2005
Agência Folha, 23 de outubro de 2005
30 Respeito pelo Brasil Agenda45
33. Ensaio
José Serra
Dez toques Excertos de palestra
sobre a ética e o PSDB proferida na Fundação
Mario Covas, em 24 de
outubro de 2005
A etimologia de “ética”, que cativo da falsa caridade, transfor- mais são iguais, mas os porquinhos
remete à palavra grega ethos, designa mando recursos públicos em dema- são mais iguais do que os outros”.
mais do que um conjunto de prá- gogia eleitoreira, não é ético. Quem No final, por metamorfose, se igua-
ticas ou de hábitos. Ela guarda rela- cria uma sociedade em que alguns lam até fisicamente ao antigo fazen-
ção com o domicílio: é o lugar para são mais iguais do que os outros deiro... Qualquer semelhança com
onde poderemos sempre regressar não é ético. Quem solapa as bases a realidade brasileira não é mera
porque é o lugar que nos acolhe. do Estado de Direito e, assim, pra- coincidência.
Mário Covas deixou um exemplo tica injustiça não é ético. Vale a pena Terceiro - Em Aristóteles en-
de ética na política: fosse a casa dos lembrar daquele livrinho do Geor- contramos a ética intimamente
seus familiares, fosse a casa o parti- ge Orwell, A Revolução dos Bichos, em ligada a duas palavras que eram mui-
do, fosse a sua casa o Palácio dos que os animais tomam o poder de to caras a Mário Covas, são muito
Bandeirantes, fosse o Brasil. Por isso uma fazenda, liderados pelos por- caras ao PSDB, e são também para
ele é um referencial que deve ser quinhos, e escrevem no alto do está- mim muito caras: perícia e sensatez.
permanentemente atualizado. Farei bulo: “Todos os animais são iguais”. Vamos olhar à nossa volta, vamos
agora dez comentários sobre a ética, Mas os porquinhos vão aos poucos pensar nos dias que correm: quantos
com minha visão e aquela que con- se aprimorando no exercício de um são os males que nós temos vivido
sidero do PSDB. poder despótico, utilizando cachor- por falta de sensatez na política
Primeiro - A ética na política, ros ferozes para oprimir os outros brasileira? Quantas são as agruras
hoje no Brasil, segue caminhos es- animais. E no decorrer do tempo pelas quais temos passado porque
tranhos. Há um princípio de Kant completam a frase: “Todos os ani- falta perícia?
que diz o seguinte: ninguém tem
FOTO DIVULGAÇÃO/IMPRENSA
licença para ser aético. Mas os dias
andam turvos: na vida pública há
aqueles que pretendem ter licença
especial para não serem éticos, na
suposição de que outros também
não foram no passado. Não que-
rem generalizar o bem. Preferem
pedir licença para generalizar o mal.
Segundo - Não pode existir
ética na política para aqueles cujas
ações não têm como fundamento
a garantia da liberdade, da igualdade
e da justiça. Quem torna o povo
Agenda45 novembro dede 2005
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