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A EXPERIÊNCIA DA INCUBADORA DE EMPRRENDIMENTO SOLIDÁRIOS
       DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA (INTES/UEL) –
  REFLEXÕES ACERCA DA ATUAÇÃO A PARTIR DA PERSPECTIVA DE
                                  SOLIDARIEDADE

RESUMO

A partir dos princípios que norteiam a prática em Economia Solidária (Eco-sol), este
trabalho visa contribuir com a discussão acerca da possibilidade de sustentabilidade de
projetos de extensão universitária e de sua atuação coerente com o referencial em que se
baseia. Faremos um breve retorno as raízes da Eco-sol no Brasil, que surgem num
movimento de contrapartida a um cenário de segregação dos trabalhadores do mercado
formal. Buscaremos, nisto, elucidar as bases destes primeiros movimentos quanto a sua
perspectiva de suporte e apoio aos trabalhadores, em relação a experiência atual das
autoras numa incubadora universitária. Posteriormente, adentraremos o campo de
discussão conceitual acerca da idéia de solidariedade, as autoras tiveram como intuito
promover a discussão desde suas experiências de atuação na Incubadora de
Empreendimentos Solidário da Universidade Estadual de Londrina (INTES/UEL). Este
ponto é importante, acerca da idéia de solidariedade, pois muito discutido e controverso.
A ‘solidariedade’ na perspectiva da Economia Solidária, se coloca num plano adjetivo,
agregando sentido semântico, a relevância desta discussão se faz à luz dos equívocos e
inconsistências que podem contornar a compreensão da mesma. O entendimento da
equipe sobre o conceito de solidariedade exige muita coerência e sintonia entre o grupo
são pontos onde dificuldades aparecem, tanto no trabalho com os grupos incubados,
quanto entre a própria equipe da Incubadora, o que pode levar a uma tomada do
conceito de solidariedade com proximidade a categorias assistencialistas, repercutindo
diretamente no trabalho cotidiano realizado. A partir de alguns exemplos ilustrativos,
tirados da atuação prática das autoras, este trabalho visa contribuir para a discussão da
coesão entre teoria e prática.

Palavras-chaves: economia solidária, solidariedade, assistencialismo, intes/uel.

Ana Claudia Broza Daher. Graduanda do curso de Psicologia da Universidade Estadual
de Londrina. cacau_daher@hotmail.com

Diene Garcia Gimenes. Graduanda do curso de Psicologia da Universidade Estadual de
Londrina. diene_gimenes@yahoo.com.br

Fernanda de Souza Borges. Graduanda do curso de Psicologia da Universidade Estadual
de Londrina. feborges.psi@gmail.com

Rosely Jung Pisicchio. Psicóloga. Mestre em Sociologia pela Universidade Estadual de
Londrina. Docente de Psicologia Social e Institucional da Universidade Estadual de
Londrina. pisicchio@sercomtel.com.br

Endereço: Departamento de Psicologia Social e Institucional.
Rodovia Celso Garcia Cid, Pr 445, km 3880 – Londrina / PR. CEP: 86055-900.
A ECONOMIA SOLIDÁRIA
        Num cenário tal qual o da sociedade capitalista ocidental onde delimitamos a
existência de subprodutos, de efeitos nocivos da sociedade de consumo sobre o ser
humano, apresentaremos uma iniciativa questionadora sobre a produção, consumo e até
comercialização dos produtos – a Economia Solidária (Eco-Sol). A Eco-sol é uma
possibilidade de trabalho e geração de renda, que se mostra alternativa ao capitalismo
selvagem. Isto é, a Eco-sol tem por princípios básicos a auto-gestão – o
empreendimento sob gerência dos sócios, sem hierarquia patrão-empregado, e a
organização democrática, onde cada membro, sendo também dono do empreendimento,
tem voz nas deliberações que geralmente decorrem de consulta a todos os envolvidos.
Embora não rompa totalmente com o capitalismo, a acumulação de riquezas e o
conceito de mais-valia são repensados a partir de uma ótica que priorize a relação
igualitária entre o grupo. Para estudos direcionados as raízes da Eco-Sol indicamos o
livro de Paul Singer– “Introdução á Economia Solidária”, da editora fundação Perseu
Abramo.
        Remeteremo-nos especificamente à realidade da Eco-sol no Brasil. A Eco-sol
tem sua origem dentro do movimento das cooperativas, que chega ao Brasil trazido
pelos europeus. Redes de consumo nas cidades e agrícolas no campo são os pioneiros.
No entanto, este modelo de gestão não era autogerido, o que significa que ainda
preservava um modelo de organização hierarquizado e seus membros atuantes eram
assalariados, ponto fundamental que distingue a iniciativa da Eco-sol.
        Outro elemento fortemente marcado na implementação da proposta da Eco-sol
no Brasil foi seu vínculo estreito com instituições religiosas, em particular a católica,
que previu o incentivo a diversos projetos precursores desta iniciativa; neste momento
já aparecia o regime de auto-gestão nos modelos de organização dos grupos. Grande
parte dos investimentos visavam apoio a geração de renda de moradores de periferias
pobres de diversas regiões do país. Algumas destas iniciativas se consolidaram e
ganharam independência, passando a viver da venda de seus produtos no mercado,
outras permaneceiam ainda dependentes das associações que as auxiliavam. Paul Singer
aponta o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), como um nicho onde há
iniciativas de cooperativismo agrícola.
        A iniciativa dos funcionários de gerir empresas que decretavam falência
também foi um expoente donde a semente da Eco-sol pode ser vista sendo plantada.
Neste casos, Paul Singer cita o caso da hecatombe, os trabalhadores viam uma forma de
preservar seus postos de trabalho. De tantas iniciativas, a tendência é que a organização
busque formar redes entre grupos que tenham interesses comuns.
        Desta perspectiva de fortalecimentos surge, no interior da iniciativa do MST, a
prerrogativa de promover a agricultura por meio de cooperativas autogestionárias e a
criação, em 1989 e 1990, do Sistema Cooperativista de Crédito. Outra associações se
formou: a Associação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Autogestão e
Participação Acionária – Anteg, de Franca-SP. Esta última a partir da falência de uma
empresa de calçados. Trabalho parecido também é desenvolvido pela União e
Solidariedade das Cooperativas do Estado de São Paulo – Unisol. Isto para citar alguns
exemplos de trabalhos e associações que visam o trabalho a partir do cooperativismo e
Economia Solidária, como nos apresenta Paul Singer (2002).
        Um expoente em Eco-sol que parece ser campo muito fértil, e de onde provém
nossa experiência, são as universidades. Como lugar de reflexão e produção de
conhecimento, a Universidade tem por eixo três norteadores principais, que são: o
Ensino, a Pesquisa e a Extensão. Este último é lugar fértil para o desenvolvimento de
potencialidades associadas a Economia Solidária. As incubadoras tecnológicas,
geralmente vinculadas a prática extensionista, prevê o trabalho com a sociedade de
modo mais efetivo e direto. Estas mesmas incubadoras vem operando trabalhos de
assessoria a grupos que buscam desenvolver-se dentro dos princípios da Eco-sol. Tais
exemplos são a Universidade Rio dos Sinos (UNISINOS), do Rio Grande do Sul; a
Universidade Estadual de Maringá (UEM), e a Universidade Estadual de Londrina
(UEL), na qual estamos localizados, dentre uma ampla gama de iniciativas que vão de
Norte a Sul do país.
        A realização do I Fórum Social Mundial, em Porto Alegre – RS, em 2001,
promoveu a criação de uma Rede Brasileira de Sócio-Economia Solidária. Iniciativas
como está só vem a somar e apontar que despontam iniciativas por todos os cantos do
Brasil, e que a Eco-sol tem muito a contribuir num país de características sócio-
econômicas tão desiguais.


A INTES/UEL
        A Incubadora Tecnológica de Empreendimentos Solidários (INTES/UEL), tem
por iniciativa o trabalho dentro da perspectiva dos princípios da Eco-sol. Inserida na
perspectiva extensionista; esta incubadora atualmente conta com uma equipe de
profissionais, além de estagiários e professores envolvidos no projeto. As áreas
envolvidas no projeto são diversas, compreendendo representantes de diversos cursos de
graduação. Entre os membros que atualmente integram a equipe estão estagiários de
administração, ciências contábeis, economia, serviço social, agronomia, direito,
psicologia, moda, comunicação, designer gráfico,
         A partir da concorrência de editais de iniciativas públicas e/ou privadas
direcionadas a projetos desta área, a equipe INTES/UEL busca promover o encontro
entre a Universidade e os trabalhadores excluídos do mercado formal de trabalho, ou em
condições precárias do mesmo, através do apoio a cooperativas, associações, grupos de
trabalho coletivo ou outras iniciativas que pretendam conhecer e promover a Eco-sol
enquanto possibilidade de um trabalho igualitário e autônomo da hierarquia patrão-
empregado.
         A estrutura de trabalho desta Incubadora prevê três etapas: pré-incubagem,
incubagem e desincubagem. A etapa inicial de pré-incubagem é o momento onde será
realizada uma avaliação sobre o grupo que se pretende incubar e que buscou o apoio da
UEL, na assessoria da INTES, para desenvolver seu potencial de trabalho. Há neste
momento a apresentação de proposta referente aos princípios da Eco-sol e a oferta do
trabalho que a INTES pode dispor na assessoria deste grupo. Neste momento há de se
pesar os interesses de ambas as partes e atentar para os requisitos que se exige para que
o trabalho se realize.
         Quando da incubagem de um novo grupo, este passará por planejamento
conjunto com as varias áreas, desde a escolha do produto a ser confeccionado, até
oficinas de preço, onde são trabalhadas questões como o lucro. Perpassando todo este
trabalho, os princípios da Eco-sol são eixo que norteiam a prática, como referencial de
organização. Busca-se promover a autonomia do grupo para que possa, tão logo, atingir
a etapa de desincubagem. A Incubadora da UEL vem atuando no acompanhamento e na
intervenção junto a 5 grupos de geração trabalho e renda nas áreas de papel reciclado,
patchwork, costura e agricultura familiar. É claro que muitos são os percalços que
impedem que o caminho seja trilhado tão idealmente. A própria passagem da idéia de
ser assalariado, da racionalidade capitalista da mais-valia, a organização autogestionária
e o próprio entendimento da equipe sobre o conceito de solidariedade exige muita
coerência e sintonia entre o grupo e são pontos onde dificuldades aparecem; tanto no
trabalho com os grupos incubados, quanto entre a própria equipe INTES/UEL.


SOLIDÁRIEDADE, O QUE É?
Solidariedade como um elemento semântico em relação a um substantivo, é
nos apresentado como uma das possibilidades que podem estar vinculadas ao sentido da
Eco-sol. Vera Westphal (2008) nos traz em seu trabalho, múltiplos fatores de
entendimento da idéia de solidariedade. Este belo estudo vem contribuir com a
complexificação da discussão. Partimos da percepção de que o termo “solidariedade”,
quando de “Economia Solidária”, enquadra-se neste elemento semântico que vem a dar
sentido a um substantivo; isto é, que o caráter da dita Economia, é Solidário.
        Na INTES/UEL, e acreditamos que em outros espaços e incubadoras também,
o termo solidariedade é tido como lugar-comum, um lugar dado e posto e que, de
cristalino que se acredita ser, não se discute. O que a Westpahl nos traz são as
possibilidades de entendimento que subjazem este conceito pouco discutido. Fica
subentendido, por acordo comum não-verbal entre os membros, que solidariedade está,
em última instância, de acordo com os princípios da Eco-sol, que são oito: autogestão,
democracia, participação, igualitarismo, cooperação, auto-sustentação, desenvolvimento
humano e responsabilidade social, segundo Gaiger (in NARDI, 2005).
        Destacamos algumas vertentes por onde passa a construção da idéia de
solidariedade a fim de compreensão, seguindo os passos de Westphal (2008). A
primeira trata-se de um entendimento de solidariedade tal que se aproxima da dimensão
paternalista, do assistencialismo. Esta concepção está pautada em origens pré-modernas
e cristãs, onde o altruísmo e a fraternidade são modelos de solidariedade eficazes e
ideais. Não há, nesta perspectiva, espaço para uma dimensão política estatal do termo.
Solidariedade aqui nada mais implica do que conceber certo humanismo (com o perdão
do abuso do termo) fraternal.
        O solidarismo francês, por sua vez, traz um sentido normativo social,
econômico e político. Solidariedade como categoria ética de promoção e preservação da
liberdade e humanidade (WESTPHAL, 2008). Nestes aspectos, vem a se relacionar
mais intimamente com os princípios da Eco-sol, já destacados anteriormente, na medida
em que promulgam a emancipação do sujeito, não como assujeitado, mas como posição
de cidadania e reconhecimento político social perante os outros seres. Compreendendo
que uma sociedade solidária passa pela adesão voluntária dos membros.
        A mesma autora ponta que as idéias fundadas na origem cristã do termo
solidariedade tiveram grande influência no desenvolvimento deste conceito enquanto
princípio de Estado na América Latina. Ter a solidariedade enquanto princípio
regulador de certa ordem social prevê indivíduos que possam ser compreendidos a
partir de certas semelhanças, relegando a este conceito uma realidade classicista, ou
seja, não seria possível ser solidário a quem não lhe é semelhante.
        A Eco-sol parece se aproximar mais de uma visão marxista da solidariedade,
partindo da ótica que as ações solidárias decorrem e ocorrem a partir de um grupo que,
com experiências próximas de exploração e subordinação, buscam a superação por meio
de ideais mais igualitários entre si. Paul Singer (2003) complementa que “solidariedade
se constrói desde relações que se estabelecem entre os integrantes do grupo, com base
na prática de auto-gestão e companheirismo.
        No entanto, há momentos, muitas vezes não facilmente identificáveis, onde a
solidariedade parece se aproximar mais do sentido de caridade e fraternidade, do que de
uma compreensão de acordo com os princípios da Eco-sol.


TRABALHO E SOLIDARIEDADE
        Muito embora os idéias da Eco-sol ultrapassem as questões de renda e
subsistência, tal como seus principais idealizadores, como o teórico Paul Singer (2002),
acreditam ser importante; notamos em nossa experiência na INTES/UEL, que o
principal motivo que agrega significado aos projetos de Eco-sol se vinculam a geração
de renda, os outros seriam inserção social e trabalho (NARDI, 2005, p320).
        A equipe, formada por docentes e discentes universitários, bem como
profissionais recém-formados, se situa muito próxima das vivencias e objetivos da
academia. Portanto, esta equipe busca desenvolver seu trabalho com os referenciais dos
princípios da Eco-sol – a formação política, portanto é um ponto que retorna a pauta das
discussão regularmente. No entanto, a equipe não deixa de ser contagiada pelos sentidos
de trabalho agregados pelos grupos que tem adesão aos projetos.
        Os indivíduos que aderem aos projetos de Eco-sol buscam nestes uma forma
alternativa de geração de renda, logo que estão excluídos do mercado formal. Deve-se
atentar para o fato de que a população que geralmente se envolve com estas iniciativas,
está inserida nas camadas mais vulneráveis da sociedade, seja em termos econômicos,
políticos e sociais. Suas preocupações, como bem aponta Nardi, se referem a condições
de manutenção e subsistência de cunho emergencial (2005).
        “O quadro contemporâneo de implantação dos projetos de ES [Eco-sol] se
situa, portanto, na contradição dos princípios da ES apregoadas pelos líderes do
movimento e a heteronomia imposta pela economia de mercado” (NARDI, 2005, p321).
Partindo deste cenário é que procuramos entender a questão de como a concepção de
solidariedade pode ser um eixo de base, tanto de sustentação, quanto norteador, para o
progresso do trabalho da equipe e dos grupos incubados.
         A Eco-sol vem como alternativa para a reinserção do público atingido ao
mercado formal, neste sentido a solidariedade se vincularia a este interesse comum. Para
tanto, é preciso se atentar para fatores tais como a necessidade de arrecadação de capital
e esta situação em alguns casos acaba por ser resolvida de modo precário, uma vez que
a incubadora se encarregue de conseguir a matéria prima necessária e certas facilidades,
sem firmar com os grupos o compromisso de devolução (parcial ou integral) do valor
investido, seja em moeda corrente ou de outros modos, por prestação de serviço, por
exemplo.
         Esta primeira condição posta, por si só, já exige certa concepção de
solidariedade que buscaremos esclarecer. Pode-se, neste momento, cair numa prática
assistencialista, onde a matéria prima é fornecida ao grupo, bem como maquinários e
outros recursos necessários para o processo de produção, sem que se exija retorno do
grupo de alguma forma. O estabelecimento deste tipo de vínculo implica em algumas
repercussões problemáticas para o alcance dos objetivos de uma incubadora
universitária que procura atingir a desincubagem dos grupos por meio do alcance da
autonomia e conseqüente auto-gestão dos grupos.
         Nardi (2005) aponta que práticas deste tipo, o que ele nomeia de ‘cuidado aos
pobres’ é caridade, acarretando invariavelmente em diferenças hierárquicas entre
‘doador e recebedor’. É possível observar tal situação num cenário de incubadora
universitária, onde a assessoria da equipe vem colocar a relação de desenvolvimento de
auto-gestão do grupo num movimento prejudicial, uma vez que a comodidade de
‘receber’ e nada devolver, implica em uma noção de solidariedade mais próxima das
origens cristãs do termo, como já trabalhado neste texto.
         A seguir, nos remeteremos mais especificamente às experiências das autoras,
no interior de uma incubadora de empreendimentos solidários. A ilustração que se segue
decorre das reflexões e discussões no grupo de estudos semanal desta incubadora, os
processos de planejamento e o trabalho com os grupos. O posicionamento da equipe em
relação aos grupos será abordado no intuito de contribuir para a discussão dos sentidos
de solidariedade no interior da práxis cotidiana deste projeto.


ESTUDO DE CASO
A experiência de integrar a equipe INTES/UEL, possibilitou que as autoras
tivessem a percepção de variadas formas de conceber a Economia Solidária e as
relações com o trabalho dos demais envolvidos, grupos e equipe. O cotidiano
demonstrou haver uma grande variedade de “motivações” e expectativas na equipe com
relação ao trabalho desenvolvido na incubadora. O que se percebeu foi a existência de
diversos discursos sobre o sentido de se trabalhar com grupos de Eco-sol, e a qual seria
a melhor forma de fazê-lo.
        O trabalho das autoras destinava-se a um núcleo de formação, preocupado com
o desenvolvimento da equipe, não trabalhando diretamente com os grupos. As
discussões de temas propostos giravam em torno do questionamento quanto a prática e
os estudos teóricos, e suas conseqüências para a realidade da INTES/UEL.
        Numa equipe onde a rotatividade é bastante alta, a fragilidade na coesão e
integração da equipe culminou muitas vezes numa prática desconexa com os principais
pilares da Eco-sol. Durante o ano, trabalhou-se com a equipe o porquê de se fazer
Economia Solidária. Alguns discursos vinham com pouco embasamento, onde notamos
que surgiam enunciados carregados de ideais de solidariedade próximos a gênese cristã
do termo. Desta forma, nota-se a dificuldade da equipe em trabalhar de forma coesa aos
princípios de Eco-sol, o que torna o objetivo de formar grupos que seguissem tais
princípios de forma coerente, difícil de ser alcançado.
        A equipe, no decorrer do ano, foi se conscientizando da própria atuação e visão
sobre Eco-sol, percebendo que estava de certa forma favorecendo a dependência dos
grupos incubados. Dentre as ações mais discutidas pela equipe estão: atitude
assistencialista da equipe frente aos grupos, dificuldade no entendimento e implantação
da auto-gestão (na equipe e nos grupos), falta de retorno dos grupos para com a
incubadora, seja em atividades ou recursos financeiros, e seleção de grupos que não
cumpriam os requisitos para incubagem.
        Todas essas questões se levantaram a partir de perguntas sobre a desincubagem
dos grupos, processo que não ocorreu nenhuma vez na INTES/UEL. Também se pensou
na possibilidade de rever o compromisso com os grupos que não atingiram as metas,
para abrir a possibilidade para novos grupos com perfil mais adequado ao exercício da
Eco-sol. Estes fatores levantados nos fizeram refletir sobre a própria razão de existência
da INTES/UEL, que objetiva a disseminação da Eco-sol, o crescimento e exercício da
cidadania, uma sociedade mais justa e coerente com a democracia tão almejada.
É importante ressaltar que, nestas discussões, se percebeu a responsabilidade
da equipe da incubadora, senão mais forte que a dos grupos incubados, tanto quanto,
uma vez que é a equipe que seleciona e forma tais grupos, dando assessoria e
capacitação não só em áreas relacionadas aos produtos e a comercialização, mas
formação política e social também, e que desde o início estabelece a dinâmica de tal
parceria.
            Na experiência da INTES/UEL nota-se que, desde o início, os grupos foram
“mimados” demais; havendo doação de material para produção, divulgação dos grupos
por parte da equipe, financiamento de passagens de ônibus e alimentação para
participação em qualquer evento, entre outras coisas, além do não estabelecimento de
metas, nem de um retorno a ser dado pelos grupos. Desta forma a INTES/UEL assumiu
um lugar paternalista onde os grupos se posicionaram num lugar de dependência e
acomodação, o que inviabiliza a possibilidade de desincubagem.


CONCLUSÃO
            A trajetória percorrida iniciou-se com a inserção das autoras na equipe
enquanto um núcleo que trabalharia com a formação desta. Para o inicio do trabalho,
intentou-se a formação teórica nos princípios base da Eco-sol. Textos de diversos
autores de várias áreas serviram de ponto de partida para discussões diversas.
            Durante os meses iniciais, as autoras puderam ir se apropriando do espaço e
tomando conhecimento da dinâmica da equipe. Foi se construindo, desta forma, uma
visão coesa no núcleo de formação, sobre a articulação da equipe, o lido com os grupos
e a situação da equipe a nível de necessidades e demandas de desenvolvimento.
            Neste espaço, diversos pedidos de textos de diversas áreas, temas e óticas
especificas foram levantadas pela equipe como necessárias a formação e melhoria do
trabalho. No entanto, o que este núcleo compreendeu, a partir de diversas reuniões e
estudos, diz de uma necessidade que não é da ordem da teoria, não se trata de ler mais,
estudar mais e dominar melhor os princípios e conceitos de Eco-sol.
            Longe de negligenciar as bases teóricas que fundamentam nossa atuação, nossa
percepção diz do momento atual da equipe, enquanto necessidade de seguimento no
projeto. Acreditamos que, embora os estudos fundamentais de teoria sejam de grande
importância, neste momento, a equipe se vê as voltas com um ‘modo de fazer’ que vem
claudicando. Entendemos que o próximo passo para esta incubadora, passa pela revisão
de sua forma de atuação, compreendendo com isto a reestruturação da forma de atuação,
dos laços que se estabelecem com os grupos, do compromisso firmado entre as partes.
            Baseadas no acompanhamento da equipe durante o ano de 2010, as autoras
acreditam que os fundamentos teóricos básicos foram abordados e que estudos
subseqüentes podem ser desenvolvidos em espaços alternativos.
            Defendemos que o processo de reestruturação da INTES/UEL parte de 1)
revisão dos requisitos/processo de incubagem – os grupos atendem aos requisitos para
que sejam incubados? – e 2) mudança da forma de assessoria fornecida pela
INTES/UEL – de modo a prever uma devolutiva dos grupos dos recursos empregados.
            A proposta passa por um caminho difícil, onde o início do processo (pré-
incubagem) precisa ser revisitado, bem como os posteriores desenvolvimentos,
envolvendo de forma global a estrutura de organização da INTES/UEL. Estas
transformações incidem, segundo perspectiva das autoras, diretamente na forma como
os grupos e a equipe concebem a relação de trabalho, buscando maior coerência no
sentido de atingir a auto-gestão. Segundo o foco do trabalho, a perspectiva de
solidariedade não fica intacta, logo que tantas modificações viabilizam que a idéia de
solidariedade se distancie da caridade e passe a ser entendida como um princípio
político.


REFERENCIAS
ANDRADA, C.F. Onde a autogestão acontece: revelações a partir do cotidiano.
Cadernos de Psicologia Social do Trabalho. São Paulo, Vol.9. n.1, p. 1-14, 2006.
FORRESTER, V. O Horror Econômico. São Paulo: Ed. UNESP, 1997.
NARDI, H.C; YATES, D.B; FERNANDES, J.M; RODRIGUES, M.C. Subjetividade e
solidariedade: a diversidade das formas de implicação dos jovens na Economia
Solidária. Psicologia: Reflexão e Crítica. Ano 19. n.2. p.320-328. 2005.
SINGER, P. Introdução à Economia Solidária. São Paulo: Ed. Fund. Perseu Abramo,
2002.
_________. Economia Solidária. In: CATTANI (Ed.), A outra economia. Porto
Alegre: Veraz, 2003.
WESTPHAL, V. H. Diferentes matizes da idéia de solidariedade. Rev. Katál.
Florianópolis. V.11. n.1. p.43-52. jan/jun. 2008.

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Exp. da intes uel a partir da perspectiva de solidariedade

  • 1. A EXPERIÊNCIA DA INCUBADORA DE EMPRRENDIMENTO SOLIDÁRIOS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA (INTES/UEL) – REFLEXÕES ACERCA DA ATUAÇÃO A PARTIR DA PERSPECTIVA DE SOLIDARIEDADE RESUMO A partir dos princípios que norteiam a prática em Economia Solidária (Eco-sol), este trabalho visa contribuir com a discussão acerca da possibilidade de sustentabilidade de projetos de extensão universitária e de sua atuação coerente com o referencial em que se baseia. Faremos um breve retorno as raízes da Eco-sol no Brasil, que surgem num movimento de contrapartida a um cenário de segregação dos trabalhadores do mercado formal. Buscaremos, nisto, elucidar as bases destes primeiros movimentos quanto a sua perspectiva de suporte e apoio aos trabalhadores, em relação a experiência atual das autoras numa incubadora universitária. Posteriormente, adentraremos o campo de discussão conceitual acerca da idéia de solidariedade, as autoras tiveram como intuito promover a discussão desde suas experiências de atuação na Incubadora de Empreendimentos Solidário da Universidade Estadual de Londrina (INTES/UEL). Este ponto é importante, acerca da idéia de solidariedade, pois muito discutido e controverso. A ‘solidariedade’ na perspectiva da Economia Solidária, se coloca num plano adjetivo, agregando sentido semântico, a relevância desta discussão se faz à luz dos equívocos e inconsistências que podem contornar a compreensão da mesma. O entendimento da equipe sobre o conceito de solidariedade exige muita coerência e sintonia entre o grupo são pontos onde dificuldades aparecem, tanto no trabalho com os grupos incubados, quanto entre a própria equipe da Incubadora, o que pode levar a uma tomada do conceito de solidariedade com proximidade a categorias assistencialistas, repercutindo diretamente no trabalho cotidiano realizado. A partir de alguns exemplos ilustrativos, tirados da atuação prática das autoras, este trabalho visa contribuir para a discussão da coesão entre teoria e prática. Palavras-chaves: economia solidária, solidariedade, assistencialismo, intes/uel. Ana Claudia Broza Daher. Graduanda do curso de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina. cacau_daher@hotmail.com Diene Garcia Gimenes. Graduanda do curso de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina. diene_gimenes@yahoo.com.br Fernanda de Souza Borges. Graduanda do curso de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina. feborges.psi@gmail.com Rosely Jung Pisicchio. Psicóloga. Mestre em Sociologia pela Universidade Estadual de Londrina. Docente de Psicologia Social e Institucional da Universidade Estadual de Londrina. pisicchio@sercomtel.com.br Endereço: Departamento de Psicologia Social e Institucional. Rodovia Celso Garcia Cid, Pr 445, km 3880 – Londrina / PR. CEP: 86055-900.
  • 2. A ECONOMIA SOLIDÁRIA Num cenário tal qual o da sociedade capitalista ocidental onde delimitamos a existência de subprodutos, de efeitos nocivos da sociedade de consumo sobre o ser humano, apresentaremos uma iniciativa questionadora sobre a produção, consumo e até comercialização dos produtos – a Economia Solidária (Eco-Sol). A Eco-sol é uma possibilidade de trabalho e geração de renda, que se mostra alternativa ao capitalismo selvagem. Isto é, a Eco-sol tem por princípios básicos a auto-gestão – o empreendimento sob gerência dos sócios, sem hierarquia patrão-empregado, e a organização democrática, onde cada membro, sendo também dono do empreendimento, tem voz nas deliberações que geralmente decorrem de consulta a todos os envolvidos. Embora não rompa totalmente com o capitalismo, a acumulação de riquezas e o conceito de mais-valia são repensados a partir de uma ótica que priorize a relação igualitária entre o grupo. Para estudos direcionados as raízes da Eco-Sol indicamos o livro de Paul Singer– “Introdução á Economia Solidária”, da editora fundação Perseu Abramo. Remeteremo-nos especificamente à realidade da Eco-sol no Brasil. A Eco-sol tem sua origem dentro do movimento das cooperativas, que chega ao Brasil trazido pelos europeus. Redes de consumo nas cidades e agrícolas no campo são os pioneiros. No entanto, este modelo de gestão não era autogerido, o que significa que ainda preservava um modelo de organização hierarquizado e seus membros atuantes eram assalariados, ponto fundamental que distingue a iniciativa da Eco-sol. Outro elemento fortemente marcado na implementação da proposta da Eco-sol no Brasil foi seu vínculo estreito com instituições religiosas, em particular a católica, que previu o incentivo a diversos projetos precursores desta iniciativa; neste momento já aparecia o regime de auto-gestão nos modelos de organização dos grupos. Grande parte dos investimentos visavam apoio a geração de renda de moradores de periferias pobres de diversas regiões do país. Algumas destas iniciativas se consolidaram e ganharam independência, passando a viver da venda de seus produtos no mercado, outras permaneceiam ainda dependentes das associações que as auxiliavam. Paul Singer aponta o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), como um nicho onde há iniciativas de cooperativismo agrícola. A iniciativa dos funcionários de gerir empresas que decretavam falência também foi um expoente donde a semente da Eco-sol pode ser vista sendo plantada. Neste casos, Paul Singer cita o caso da hecatombe, os trabalhadores viam uma forma de
  • 3. preservar seus postos de trabalho. De tantas iniciativas, a tendência é que a organização busque formar redes entre grupos que tenham interesses comuns. Desta perspectiva de fortalecimentos surge, no interior da iniciativa do MST, a prerrogativa de promover a agricultura por meio de cooperativas autogestionárias e a criação, em 1989 e 1990, do Sistema Cooperativista de Crédito. Outra associações se formou: a Associação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Autogestão e Participação Acionária – Anteg, de Franca-SP. Esta última a partir da falência de uma empresa de calçados. Trabalho parecido também é desenvolvido pela União e Solidariedade das Cooperativas do Estado de São Paulo – Unisol. Isto para citar alguns exemplos de trabalhos e associações que visam o trabalho a partir do cooperativismo e Economia Solidária, como nos apresenta Paul Singer (2002). Um expoente em Eco-sol que parece ser campo muito fértil, e de onde provém nossa experiência, são as universidades. Como lugar de reflexão e produção de conhecimento, a Universidade tem por eixo três norteadores principais, que são: o Ensino, a Pesquisa e a Extensão. Este último é lugar fértil para o desenvolvimento de potencialidades associadas a Economia Solidária. As incubadoras tecnológicas, geralmente vinculadas a prática extensionista, prevê o trabalho com a sociedade de modo mais efetivo e direto. Estas mesmas incubadoras vem operando trabalhos de assessoria a grupos que buscam desenvolver-se dentro dos princípios da Eco-sol. Tais exemplos são a Universidade Rio dos Sinos (UNISINOS), do Rio Grande do Sul; a Universidade Estadual de Maringá (UEM), e a Universidade Estadual de Londrina (UEL), na qual estamos localizados, dentre uma ampla gama de iniciativas que vão de Norte a Sul do país. A realização do I Fórum Social Mundial, em Porto Alegre – RS, em 2001, promoveu a criação de uma Rede Brasileira de Sócio-Economia Solidária. Iniciativas como está só vem a somar e apontar que despontam iniciativas por todos os cantos do Brasil, e que a Eco-sol tem muito a contribuir num país de características sócio- econômicas tão desiguais. A INTES/UEL A Incubadora Tecnológica de Empreendimentos Solidários (INTES/UEL), tem por iniciativa o trabalho dentro da perspectiva dos princípios da Eco-sol. Inserida na perspectiva extensionista; esta incubadora atualmente conta com uma equipe de profissionais, além de estagiários e professores envolvidos no projeto. As áreas
  • 4. envolvidas no projeto são diversas, compreendendo representantes de diversos cursos de graduação. Entre os membros que atualmente integram a equipe estão estagiários de administração, ciências contábeis, economia, serviço social, agronomia, direito, psicologia, moda, comunicação, designer gráfico, A partir da concorrência de editais de iniciativas públicas e/ou privadas direcionadas a projetos desta área, a equipe INTES/UEL busca promover o encontro entre a Universidade e os trabalhadores excluídos do mercado formal de trabalho, ou em condições precárias do mesmo, através do apoio a cooperativas, associações, grupos de trabalho coletivo ou outras iniciativas que pretendam conhecer e promover a Eco-sol enquanto possibilidade de um trabalho igualitário e autônomo da hierarquia patrão- empregado. A estrutura de trabalho desta Incubadora prevê três etapas: pré-incubagem, incubagem e desincubagem. A etapa inicial de pré-incubagem é o momento onde será realizada uma avaliação sobre o grupo que se pretende incubar e que buscou o apoio da UEL, na assessoria da INTES, para desenvolver seu potencial de trabalho. Há neste momento a apresentação de proposta referente aos princípios da Eco-sol e a oferta do trabalho que a INTES pode dispor na assessoria deste grupo. Neste momento há de se pesar os interesses de ambas as partes e atentar para os requisitos que se exige para que o trabalho se realize. Quando da incubagem de um novo grupo, este passará por planejamento conjunto com as varias áreas, desde a escolha do produto a ser confeccionado, até oficinas de preço, onde são trabalhadas questões como o lucro. Perpassando todo este trabalho, os princípios da Eco-sol são eixo que norteiam a prática, como referencial de organização. Busca-se promover a autonomia do grupo para que possa, tão logo, atingir a etapa de desincubagem. A Incubadora da UEL vem atuando no acompanhamento e na intervenção junto a 5 grupos de geração trabalho e renda nas áreas de papel reciclado, patchwork, costura e agricultura familiar. É claro que muitos são os percalços que impedem que o caminho seja trilhado tão idealmente. A própria passagem da idéia de ser assalariado, da racionalidade capitalista da mais-valia, a organização autogestionária e o próprio entendimento da equipe sobre o conceito de solidariedade exige muita coerência e sintonia entre o grupo e são pontos onde dificuldades aparecem; tanto no trabalho com os grupos incubados, quanto entre a própria equipe INTES/UEL. SOLIDÁRIEDADE, O QUE É?
  • 5. Solidariedade como um elemento semântico em relação a um substantivo, é nos apresentado como uma das possibilidades que podem estar vinculadas ao sentido da Eco-sol. Vera Westphal (2008) nos traz em seu trabalho, múltiplos fatores de entendimento da idéia de solidariedade. Este belo estudo vem contribuir com a complexificação da discussão. Partimos da percepção de que o termo “solidariedade”, quando de “Economia Solidária”, enquadra-se neste elemento semântico que vem a dar sentido a um substantivo; isto é, que o caráter da dita Economia, é Solidário. Na INTES/UEL, e acreditamos que em outros espaços e incubadoras também, o termo solidariedade é tido como lugar-comum, um lugar dado e posto e que, de cristalino que se acredita ser, não se discute. O que a Westpahl nos traz são as possibilidades de entendimento que subjazem este conceito pouco discutido. Fica subentendido, por acordo comum não-verbal entre os membros, que solidariedade está, em última instância, de acordo com os princípios da Eco-sol, que são oito: autogestão, democracia, participação, igualitarismo, cooperação, auto-sustentação, desenvolvimento humano e responsabilidade social, segundo Gaiger (in NARDI, 2005). Destacamos algumas vertentes por onde passa a construção da idéia de solidariedade a fim de compreensão, seguindo os passos de Westphal (2008). A primeira trata-se de um entendimento de solidariedade tal que se aproxima da dimensão paternalista, do assistencialismo. Esta concepção está pautada em origens pré-modernas e cristãs, onde o altruísmo e a fraternidade são modelos de solidariedade eficazes e ideais. Não há, nesta perspectiva, espaço para uma dimensão política estatal do termo. Solidariedade aqui nada mais implica do que conceber certo humanismo (com o perdão do abuso do termo) fraternal. O solidarismo francês, por sua vez, traz um sentido normativo social, econômico e político. Solidariedade como categoria ética de promoção e preservação da liberdade e humanidade (WESTPHAL, 2008). Nestes aspectos, vem a se relacionar mais intimamente com os princípios da Eco-sol, já destacados anteriormente, na medida em que promulgam a emancipação do sujeito, não como assujeitado, mas como posição de cidadania e reconhecimento político social perante os outros seres. Compreendendo que uma sociedade solidária passa pela adesão voluntária dos membros. A mesma autora ponta que as idéias fundadas na origem cristã do termo solidariedade tiveram grande influência no desenvolvimento deste conceito enquanto princípio de Estado na América Latina. Ter a solidariedade enquanto princípio regulador de certa ordem social prevê indivíduos que possam ser compreendidos a
  • 6. partir de certas semelhanças, relegando a este conceito uma realidade classicista, ou seja, não seria possível ser solidário a quem não lhe é semelhante. A Eco-sol parece se aproximar mais de uma visão marxista da solidariedade, partindo da ótica que as ações solidárias decorrem e ocorrem a partir de um grupo que, com experiências próximas de exploração e subordinação, buscam a superação por meio de ideais mais igualitários entre si. Paul Singer (2003) complementa que “solidariedade se constrói desde relações que se estabelecem entre os integrantes do grupo, com base na prática de auto-gestão e companheirismo. No entanto, há momentos, muitas vezes não facilmente identificáveis, onde a solidariedade parece se aproximar mais do sentido de caridade e fraternidade, do que de uma compreensão de acordo com os princípios da Eco-sol. TRABALHO E SOLIDARIEDADE Muito embora os idéias da Eco-sol ultrapassem as questões de renda e subsistência, tal como seus principais idealizadores, como o teórico Paul Singer (2002), acreditam ser importante; notamos em nossa experiência na INTES/UEL, que o principal motivo que agrega significado aos projetos de Eco-sol se vinculam a geração de renda, os outros seriam inserção social e trabalho (NARDI, 2005, p320). A equipe, formada por docentes e discentes universitários, bem como profissionais recém-formados, se situa muito próxima das vivencias e objetivos da academia. Portanto, esta equipe busca desenvolver seu trabalho com os referenciais dos princípios da Eco-sol – a formação política, portanto é um ponto que retorna a pauta das discussão regularmente. No entanto, a equipe não deixa de ser contagiada pelos sentidos de trabalho agregados pelos grupos que tem adesão aos projetos. Os indivíduos que aderem aos projetos de Eco-sol buscam nestes uma forma alternativa de geração de renda, logo que estão excluídos do mercado formal. Deve-se atentar para o fato de que a população que geralmente se envolve com estas iniciativas, está inserida nas camadas mais vulneráveis da sociedade, seja em termos econômicos, políticos e sociais. Suas preocupações, como bem aponta Nardi, se referem a condições de manutenção e subsistência de cunho emergencial (2005). “O quadro contemporâneo de implantação dos projetos de ES [Eco-sol] se situa, portanto, na contradição dos princípios da ES apregoadas pelos líderes do movimento e a heteronomia imposta pela economia de mercado” (NARDI, 2005, p321). Partindo deste cenário é que procuramos entender a questão de como a concepção de
  • 7. solidariedade pode ser um eixo de base, tanto de sustentação, quanto norteador, para o progresso do trabalho da equipe e dos grupos incubados. A Eco-sol vem como alternativa para a reinserção do público atingido ao mercado formal, neste sentido a solidariedade se vincularia a este interesse comum. Para tanto, é preciso se atentar para fatores tais como a necessidade de arrecadação de capital e esta situação em alguns casos acaba por ser resolvida de modo precário, uma vez que a incubadora se encarregue de conseguir a matéria prima necessária e certas facilidades, sem firmar com os grupos o compromisso de devolução (parcial ou integral) do valor investido, seja em moeda corrente ou de outros modos, por prestação de serviço, por exemplo. Esta primeira condição posta, por si só, já exige certa concepção de solidariedade que buscaremos esclarecer. Pode-se, neste momento, cair numa prática assistencialista, onde a matéria prima é fornecida ao grupo, bem como maquinários e outros recursos necessários para o processo de produção, sem que se exija retorno do grupo de alguma forma. O estabelecimento deste tipo de vínculo implica em algumas repercussões problemáticas para o alcance dos objetivos de uma incubadora universitária que procura atingir a desincubagem dos grupos por meio do alcance da autonomia e conseqüente auto-gestão dos grupos. Nardi (2005) aponta que práticas deste tipo, o que ele nomeia de ‘cuidado aos pobres’ é caridade, acarretando invariavelmente em diferenças hierárquicas entre ‘doador e recebedor’. É possível observar tal situação num cenário de incubadora universitária, onde a assessoria da equipe vem colocar a relação de desenvolvimento de auto-gestão do grupo num movimento prejudicial, uma vez que a comodidade de ‘receber’ e nada devolver, implica em uma noção de solidariedade mais próxima das origens cristãs do termo, como já trabalhado neste texto. A seguir, nos remeteremos mais especificamente às experiências das autoras, no interior de uma incubadora de empreendimentos solidários. A ilustração que se segue decorre das reflexões e discussões no grupo de estudos semanal desta incubadora, os processos de planejamento e o trabalho com os grupos. O posicionamento da equipe em relação aos grupos será abordado no intuito de contribuir para a discussão dos sentidos de solidariedade no interior da práxis cotidiana deste projeto. ESTUDO DE CASO
  • 8. A experiência de integrar a equipe INTES/UEL, possibilitou que as autoras tivessem a percepção de variadas formas de conceber a Economia Solidária e as relações com o trabalho dos demais envolvidos, grupos e equipe. O cotidiano demonstrou haver uma grande variedade de “motivações” e expectativas na equipe com relação ao trabalho desenvolvido na incubadora. O que se percebeu foi a existência de diversos discursos sobre o sentido de se trabalhar com grupos de Eco-sol, e a qual seria a melhor forma de fazê-lo. O trabalho das autoras destinava-se a um núcleo de formação, preocupado com o desenvolvimento da equipe, não trabalhando diretamente com os grupos. As discussões de temas propostos giravam em torno do questionamento quanto a prática e os estudos teóricos, e suas conseqüências para a realidade da INTES/UEL. Numa equipe onde a rotatividade é bastante alta, a fragilidade na coesão e integração da equipe culminou muitas vezes numa prática desconexa com os principais pilares da Eco-sol. Durante o ano, trabalhou-se com a equipe o porquê de se fazer Economia Solidária. Alguns discursos vinham com pouco embasamento, onde notamos que surgiam enunciados carregados de ideais de solidariedade próximos a gênese cristã do termo. Desta forma, nota-se a dificuldade da equipe em trabalhar de forma coesa aos princípios de Eco-sol, o que torna o objetivo de formar grupos que seguissem tais princípios de forma coerente, difícil de ser alcançado. A equipe, no decorrer do ano, foi se conscientizando da própria atuação e visão sobre Eco-sol, percebendo que estava de certa forma favorecendo a dependência dos grupos incubados. Dentre as ações mais discutidas pela equipe estão: atitude assistencialista da equipe frente aos grupos, dificuldade no entendimento e implantação da auto-gestão (na equipe e nos grupos), falta de retorno dos grupos para com a incubadora, seja em atividades ou recursos financeiros, e seleção de grupos que não cumpriam os requisitos para incubagem. Todas essas questões se levantaram a partir de perguntas sobre a desincubagem dos grupos, processo que não ocorreu nenhuma vez na INTES/UEL. Também se pensou na possibilidade de rever o compromisso com os grupos que não atingiram as metas, para abrir a possibilidade para novos grupos com perfil mais adequado ao exercício da Eco-sol. Estes fatores levantados nos fizeram refletir sobre a própria razão de existência da INTES/UEL, que objetiva a disseminação da Eco-sol, o crescimento e exercício da cidadania, uma sociedade mais justa e coerente com a democracia tão almejada.
  • 9. É importante ressaltar que, nestas discussões, se percebeu a responsabilidade da equipe da incubadora, senão mais forte que a dos grupos incubados, tanto quanto, uma vez que é a equipe que seleciona e forma tais grupos, dando assessoria e capacitação não só em áreas relacionadas aos produtos e a comercialização, mas formação política e social também, e que desde o início estabelece a dinâmica de tal parceria. Na experiência da INTES/UEL nota-se que, desde o início, os grupos foram “mimados” demais; havendo doação de material para produção, divulgação dos grupos por parte da equipe, financiamento de passagens de ônibus e alimentação para participação em qualquer evento, entre outras coisas, além do não estabelecimento de metas, nem de um retorno a ser dado pelos grupos. Desta forma a INTES/UEL assumiu um lugar paternalista onde os grupos se posicionaram num lugar de dependência e acomodação, o que inviabiliza a possibilidade de desincubagem. CONCLUSÃO A trajetória percorrida iniciou-se com a inserção das autoras na equipe enquanto um núcleo que trabalharia com a formação desta. Para o inicio do trabalho, intentou-se a formação teórica nos princípios base da Eco-sol. Textos de diversos autores de várias áreas serviram de ponto de partida para discussões diversas. Durante os meses iniciais, as autoras puderam ir se apropriando do espaço e tomando conhecimento da dinâmica da equipe. Foi se construindo, desta forma, uma visão coesa no núcleo de formação, sobre a articulação da equipe, o lido com os grupos e a situação da equipe a nível de necessidades e demandas de desenvolvimento. Neste espaço, diversos pedidos de textos de diversas áreas, temas e óticas especificas foram levantadas pela equipe como necessárias a formação e melhoria do trabalho. No entanto, o que este núcleo compreendeu, a partir de diversas reuniões e estudos, diz de uma necessidade que não é da ordem da teoria, não se trata de ler mais, estudar mais e dominar melhor os princípios e conceitos de Eco-sol. Longe de negligenciar as bases teóricas que fundamentam nossa atuação, nossa percepção diz do momento atual da equipe, enquanto necessidade de seguimento no projeto. Acreditamos que, embora os estudos fundamentais de teoria sejam de grande importância, neste momento, a equipe se vê as voltas com um ‘modo de fazer’ que vem claudicando. Entendemos que o próximo passo para esta incubadora, passa pela revisão
  • 10. de sua forma de atuação, compreendendo com isto a reestruturação da forma de atuação, dos laços que se estabelecem com os grupos, do compromisso firmado entre as partes. Baseadas no acompanhamento da equipe durante o ano de 2010, as autoras acreditam que os fundamentos teóricos básicos foram abordados e que estudos subseqüentes podem ser desenvolvidos em espaços alternativos. Defendemos que o processo de reestruturação da INTES/UEL parte de 1) revisão dos requisitos/processo de incubagem – os grupos atendem aos requisitos para que sejam incubados? – e 2) mudança da forma de assessoria fornecida pela INTES/UEL – de modo a prever uma devolutiva dos grupos dos recursos empregados. A proposta passa por um caminho difícil, onde o início do processo (pré- incubagem) precisa ser revisitado, bem como os posteriores desenvolvimentos, envolvendo de forma global a estrutura de organização da INTES/UEL. Estas transformações incidem, segundo perspectiva das autoras, diretamente na forma como os grupos e a equipe concebem a relação de trabalho, buscando maior coerência no sentido de atingir a auto-gestão. Segundo o foco do trabalho, a perspectiva de solidariedade não fica intacta, logo que tantas modificações viabilizam que a idéia de solidariedade se distancie da caridade e passe a ser entendida como um princípio político. REFERENCIAS ANDRADA, C.F. Onde a autogestão acontece: revelações a partir do cotidiano. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho. São Paulo, Vol.9. n.1, p. 1-14, 2006. FORRESTER, V. O Horror Econômico. São Paulo: Ed. UNESP, 1997. NARDI, H.C; YATES, D.B; FERNANDES, J.M; RODRIGUES, M.C. Subjetividade e solidariedade: a diversidade das formas de implicação dos jovens na Economia Solidária. Psicologia: Reflexão e Crítica. Ano 19. n.2. p.320-328. 2005. SINGER, P. Introdução à Economia Solidária. São Paulo: Ed. Fund. Perseu Abramo, 2002. _________. Economia Solidária. In: CATTANI (Ed.), A outra economia. Porto Alegre: Veraz, 2003. WESTPHAL, V. H. Diferentes matizes da idéia de solidariedade. Rev. Katál. Florianópolis. V.11. n.1. p.43-52. jan/jun. 2008.