3. Introdução
No âmbito da disciplina de Filosofia realizei um trabalho cujo tema é “ A manipulação
genética”.
A manipulação genética consiste manipular a sequência genética dos seres vivos, incluindo
a do ser Humano e dos vegetais. O objectivo desta técnica é introduzir novas características
no ser para aumentar a sua utilidade.
É óbvio que a descoberta do genoma humano trouxe inúmeras possibilidades para o
desenvolvimento da medicina, assim temos a hipótese de descobrir a cura para inúmeras
doenças, salvando muitos doentes e possibilitando a outros qualidade de vida. Mas será
correcto alterar o código genético? E será que não haverá a tentação de ir mais longe,
nomeadamente eliminando a possibilidade de nascerem crianças com determinados
problemas e deficiências? Será que não haverá a possibilidade de tentar criar uma raça
humana perfeita?
Os objectivos deste trabalho são saber se a Ciência tem limites, evidenciar que a
manipulação genética não é um processo eticamente correcto quando os riscos forem
superiores aos benefícios que a Ciência traz à Humanidade e ampliar as minhas
competências específicas de argumentação.
Neste trabalho irei mostrar, através do método argumentativo, a minha tese cujo tema é a
manipulação genética, e deste modo, tentar persuadir um eventual destinatário.
Apresentarei argumentos que apoiam ou refutam a tese inicial. As teses disponíveis sobre
este assunto tão controverso, também estarão presentes.
4. A manipulação genética será um procedimento científico eticamente
correcto?
O desenvolvimento da Ciência, nomeadamente ao nível da saúde, permitiu ao Homem
ampliar o seu conhecimento e deste modo controlar e melhorar a vida humana.
Actualmente, muitos problemas ligados às novas descobertas científicas com base na
manipulação do ADN têm provocado controvérsia quer na comunidade científica, quer na
sociedade civil, levando a que sejam discutidas aspectos ligados aos benefícios e riscos
associados à sua utilização. Se por um lado a procura do saber não tem limites, por outro
questiona-se sobre quais devem ser os limites da aplicação do conhecimento produzido.
Frequentemente surgem novas descobertas e possibilidades no âmbito da manipulação
genética. No entanto, este é um assunto que gera controvérsia e polémica entre a nossa
sociedade.
- De um lado estão aqueles defendem que o Homem é algo sagrado e como tal manipular o
seu código genético não é eticamente correcto. Estes afirmam que a manipulação genética
interfere no trabalho de Deus na criação. A natureza deve seguir o seu curso natural.
- Do outro, está uma linha de pensamento mais prática, que acredita que não há qualquer
inconveniente na manipulação se esta favorecer a saúde e felicidade das pessoas. Estes
defendem que nada da natureza é estático e por isso não faz sentido falar da integridade de
uma coisa que não existe. Além disso, os engenheiros genéticos quando manipulam a
geneticamente os organismos não revelam falta de respeito pelos mesmos. Para eles, a vida
não passa de um conjunto de reacções químicas, um gene não é nada mais do que uma
molécula. Assim, eles não trabalham com seres, mas com reacções químicas e moléculas.
Do meu ponto de vista, penso que a manipulação genética e todas as descobertas
científicas só poderão ser eticamente aceites, quando os benefícios que a ciência trouxer à
Humanidade forem inequivocamente superiores aos riscos e aos desequilíbrios que
5. ocasionarem. Penso que a sociedade tem o direito de impor limites, quando a sobrevivência e
a dignidade da Humanidade e dos seres vivos em geral, estiverem em causa.
A engenharia genética pode reconstituir tecidos e órgãos humanos com base em células
embrionárias e permite assim salvar vidas, reduzindo o tempo de espera, bem como evitar a
rejeição de implantes por causa da falta de compatibilidade.
A biotecnologia pode também, aumentar e melhorar a produção de medicamentos e vacinas.
A utilização de organismos geneticamente modificados na indústria agro-alimentar é outro
aspecto positivo a considerar. Aplica-se na produção de alimentos para melhorar o seu
aspecto, o sabor, aumentar o seu valor nutritivo e tornar maior a resistência das plantas a
doenças, pragas e condições ambientais adversas.
A terapia genética proporciona através da utilização de vectores, como vírus e bactérias, a
cura das doenças das quais forem localizados os genes que as causam, removendo ou
acrescentando o gene saudável à pessoa.
Como se pode concluir dos exemplos anteriores, a manipulação genética tem como meta
melhorar a qualidade de vida das populações, no entanto novos problemas surgem.
Está provado que existem efeitos secundários devido à introdução de genes nocivos ao ser
humano. A resistência aos antibióticos aumenta e o combate a determinadas doenças torna-
se muito mais difícil.
A engenharia genética tem proporcionado aos pais escolher o sexo do filho, com quase
absoluta certeza, no entanto, por detrás dessa decisão existem questões éticas e
demográficas que não podem ser esquecidas.
A genética permite conhecer minuciosamente os embriões. Filhos perfeitos e com
características físicas preestabelecidas pelos pais ou padrões sociais poderão contribuir para
a eliminação de embriões e fetos com defeitos genéticos.
O preconceito racial é outro problema. Algumas raças poderiam ser discriminadas pela sua
tendência em acções anti-sociais ou de violência. Relacionar crimes aos genes e genes às
6. raças pode levar a um aumento do preconceito. Tal acção poderia conduzir à eugenia ou até
mesmo à criação de novas “raças”, a partir da constituição genética.
A terapia genética, na linha germinativa, contribui para diversificar alguns aspectos negativos,
como o aumento da taxa de mortalidade, o desenvolvimento de tumores e malformações,
alteração de embriões potencialmente normais e irreversibilidade das acções.
A biotecnologia tem contribuído na formação de diversas armas. Em algumas guerras
passadas noticiou-se a realização de uma “guerra bacteriológica” e eliminação de povos
através de gases e bombas biológicas.
Há ainda problemas ambientais por perda de controlo sobre dispersão dos genes e pela
resistência a herbicidas.
Penso que a Ciência deve servir o Homem e orientar-se para fins que coloquem como
objectivos últimos a liberdade e a dignidade humana. O princípio da responsabilidade deve
orientar todas as acções dos cientistas. Há também limites éticos, pois o investigador é
responsável pelo que faz e pelas consequências do seu trabalho.
Penso que todos os seres vivos possuem direitos naturais que lhes são intrínsecos e ninguém
tem o direito de alterar o seu património genético, alterando a própria espécie. Segundo a
Declaração Universal do Genoma Humano e dos Direitos Humanos, “Toda pessoa tem o
direito de respeito a sua dignidade e seus direitos, independentemente de suas características
genéticas. Essa dignidade torna imperativo que nenhuma pessoa seja reduzida às suas
características genéticas e que sua singularidade e diversidade sejam respeitadas”. A
manipulação genética apresenta vantagens inegáveis no que toca ao melhoramento da saúde
e da qualidade de vida humana, contudo, existem riscos que não se podem esquecer.
As conquistas científicas e as suas aplicações devem ter como base o princípio da
responsabilidade, caso contrário podem-nos conduzir para uma auto-destruição global.
7. Conclusão
A manipulação genética só será um processo eticamente correcto quando os benefícios que
ela trouxer à sociedade forem superiores aos seus riscos.
É óbvio que o aumento do conhecimento do genoma dos seres vivos trouxe vantagens
inegáveis no que toca à felicidade das pessoas. No entanto, este processo tem diversos
efeitos nefastos na sociedade como o preconceito, a eugenia, problemas ambientais ou o
desrespeito à dignidade humana.
Na Declaração Universal do Genoma Humano e dos Direitos Humanos utilizou--se a
expressão “património da Humanidade”, através dela, expressa-se a necessidade e dever de
respeitar a dignidade humana, para que nenhuma pessoa seja reduzida às suas
características genéticas e se conserve assim a espécie humana.
A Ciência está em constante mudança e por isso a bioética alerta para os seus perigos que
podem ser usados contra o Homem e contra a Natureza, uma vez que há bons e maus usos
das descobertas científicas. Esta recorda assim o dever da responsabilidade e da
prudência.
Para além disso, a bioética recorda a importância do princípio da precaução. Todas as
tecnologias devem ser avaliadas segundo este princípio. Qualquer uma contém riscos que
devem ser controlados dentro de limites toleráveis para os seres vivos. No caso da
engenharia genética, ainda pouco se sabe sobre a modificação dos genes e por isso as
consequências são imprevisíveis, o que pode ser catastrófico.
A Ciência é útil e necessária mas acima de tudo está a Felicidade Humana.