O documento discute o uso de verbos declarativos ou dicendi em entrevistas jornalísticas, classificando-os em duas categorias: verbos declarandi, que se referem à maneira como alguém se expressa, e verbos sentiendi, que expressam estados de espírito ou emoções. A pesquisa analisou jornais e revistas das décadas de 1980 e 1990, resultando em um glossário com mais de 300 verbos utilizados.
1. ENTREVISTA JORNALÍSTICA: VERBOS E LOCUÇÕES VERBAIS
Emprego dos discursos direto e indireto no texto da entrevista
Pesquisa: Professora Drª. JOANITA MOTA DE ATAIDE
Emprego de verbos declarativos ou dicendi em matérias do jornalismo brasileiro contemporâneo,
elaboradas com base em entrevistas. Pesquisamos em jornais e revistas de diferentes naturezas e
periodicidades, durante as décadas de 80 (segunda metade) e de 90. O resultado acha-se no
glossário de mais de 300 verbos, abaixo.
1 Classificação:
Othon M. Garcia (1986, p.129ss) adota uma classificação dupla para os verbos usados nos
diálogos, encontrados na literatura de ficção (romances, contos), dos quais a entrevista jornalística
faz amplo emprego. O narrador pode optar pelo discurso direto – transcrição da fala do interlocutor
– ou pelo discurso indireto – isto é, a transmissão da essência do pensamento do entrevistado.
1.1– Classe: Verbos declarandi ou dicendi (de declaração)
1.1.1– Definição: São os verbos de elocução. A elocução refere-se à maneira pela qual alguém se
expressa, quais palavras usa para fazê-lo.
1.1.2– Áreas semânticas: (GARCIA, 1986, p.131)
DIZER – afirmar, declarar;
PERGUNTAR – indagar, interrogar;
RESPONDER – retrucar, replicar;
CONTESTAR – negar, objetar;
CONCORDAR – assentir, anuir;
EXCLAMAR – gritar, bradar;
PEDIR – solicitar, rogar;
EXORTAR – animar, aconselhar;
ORDENAR – mandar, determinar.
1.2– Classe : Verbos sentiendi ou de sentir (assim chamados, por analogia aos dicendi).
1.2.1– Definição: Esses verbos são vicários ou variações dos verbos de elocução, pois fazem as
vezes destes. Ou seja: do ponto de vista lógico-sintático presumem a existência de um legítimo
dicendi oculto. Mas, como variação dos dicendi, expressam a carga de afetividade presente na
língua falada.
1.2.2– Áreas semânticas: Expressam estado de espírito, reação psicológica, emoções, atitudes,
gestos, etc. Ex. (Othon Garcia, op. cit.): GEMER, SUSPIRAR, LAMENTAR(SE), QUEIXAR-
SE, EXPLODIR, ENCAVACAR, etc.
1.3– Funções:
1.3.1– Indicar o interlocutor que está com a palavra.
1.3.2– Permitir a adjunção de orações adverbiais (quase sempre reduzidas de gerúndio) ou
expressões de valor adverbial, com que o narrador sublinha a fala das personagens, anotando-lhes a
reação física ou psíquica. Em síntese, a função dos verbos dicendi é retratar o comportamento – em
determinada circunstância - ou mesmo o caráter das personagens.
Ex.: “Eu tenho aqui uma lista de nomeações do PL para encaminhar”, disse Costa Neto
entregando... Hargreaves não titubeou. Sem olhar a lista, foi logo prometendo: “Pode deixar
comigo. Vou examinar com todo carinho”. (IstoÉ, 2.6.1993, no. 1235, p.21)
3. Comentar Defender(se) Emendar Extasiar-se
Comparar Definir(se) Emocionar-se Externar
Complementar Deixar escapar Encavacar Exultar
Completar Demonstrar Encerrar Falar
Fazer coro Mentalizar Raciocinar Resumir
Festejar Minimizar Reafirmar Retrucar
Filosofar Mostrar Reagir Revelar
Finalizar Murmurar Rebater Revidar
Frisar Narrar / Negar Receitar Revoltar-se
Fulminar Nomear / Notar Reclamar Rezar
Gabar-se Objetar Recompor-se Rugir
Garantir Observar Reconhecer Sacramentar
Gemer / Gritar Opinar Recordar(se) Salientar
Hiperbolizar Ordenar Redimir-se Segredar
Historiar Ordenar Refazer-se Sentenciar
Identificar Orgulhar-se Refletir Simplificar
Ilustrar Pedir Reforçar Sintetizar
Imaginar Penitenciar-se Regalar-se Solicitar
Incentivar Pensar Registrar Sonhar
Indagar Perguntar(se) Regozijar-se Sublinhar
Indicar Ponderar Rejeitar Sugerir
Indignar-se Precisar Rejubilar-se Supor
Informar Preconizar Relacionar Suspirar
Insistir Predizer Relatar Sussurrar
Interpretar Pregar Relativizar Sustentar
Interrogar Preocupar-se Relembrar(se) Tachar / Temer
Ir (mais) além Prever Rememorar Teorizar
Ironizar / Irritar-se Proclamar Replicar Terminar
Isentar-se Profetizar Resguardar-se Testemunhar
Jurar Prognosticar Resignar-se Titubear
Justificar(se) Propor Resistir Transmitir
Lamentar(se) Propugnar Resmungar Trombetear
Lamuriar-se Prosseguir Responder Vaticinar
Lembrar(se) Protestar Responsabilizar-se Ver / Viajar
Limitar-se a dizer Provocar Ressaltar Vibrar
Manifestar-se Queixar-se Ressalvar Vociferar
Maravilhar-se Questionar Ressentir-se Zombar
2 VERBOS E PRONOMES NOS DISCURSOS DIRETO E INDIRETO
2.1– Salvo em casos excepcionais, há correspondência regular entre os tempos e os modos verbais.
Assim, quando o verbo da fala está no presente do indicativo e o da oração justaposta, no pretérito
4. perfeito, o primeiro verbo vai para o pretérito imperfeito do indicativo, mas o segundo não sofre
alteração.
DISCURSO DIRETO DISCURSO INDIRETO
– Vou realizar muitos projetos neste ano,
disse-lhe.
Disse-lhe que iria realizar muitos projetos naquele
ano.
OBS.: Caso a ação declarada na oração integrante (discurso indireto) perdure no momento em que
se fala, o verbo mantém-se no presente do indicativo: “Disse-lhe que estou com preguiça neste
ano”. O demonstrativo – neste – permanece também inalterado.
2.2– Se ambos os verbos – o da fala e o da oração justaposta – se acham no presente do indicativo,
assim permanecem no discurso indireto; o mesmo ocorre com o pronome (demonstrativo):
DISCURSO DIRETO DISCURSO INDIRETO
– Estou sem planos neste ano, diz-lhe. Ele diz que está sem planos neste ano.
OBS.: O verbo dicendi vem no presente do indicativo somente quando há um mediador entre o
autor da fala e o destinatário do texto.
3– POSIÇÃO DO VERBO DICENDI /SENTIENDI
3.1– No Discurso Direto de moldes tradicionais (que vigoraram até o início da escola realista), o
verbo dicendi vem no meio ou no fim da fala, e excepcionalmente antes.
3.2– No jornalismo contemporâneo, encontramos mais freqüentemente o verbo dicendi/sentiendi no
fim das frases. Essa localização se deve ao fato de as frases reproduzidas serem de pequena
extensão.
Ex.: “Todo mundo diz que as fofocas saem do Palácio”, disse Corrêa. (IstoÉ, 2.6.1993, no. 1235,
p.21)
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. Aprenda a escrever, aprendendo a
pensar. 13.ed. Rio de Janeiro: FGV, 1986. (Biblioteca de Administração Pública, 14)
SÃO LUÍS (MA), 25 de dezembro de 1998.
9 de abril de 2001
13 de janeiro de .2002.