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FACULDADE DE JAGUARIUNA
INSTITUTO BRASILEIRO DE VETERINÁRIA
SABRINA KOLLING LEE DA ROCHA
ANESTESIA EM SERPENTES
RIO DE JANEIRO
2010
SABRINA KOLLING LEE DA ROCHA
ANESTESIA EM SERPENTES
Monografia apresentada para obtenção do título de especialista Latu
Sensu em Anestesiologia Veterinária da Faculdade de Jaguariuna em
convênio com o Instituto Brasileiro de Veterinária, sob orientação do
Prof. Dr. Fabio Otero Ascoli
RIO DE JANEIRO
ANESTESIA EM SERPENTES
SABRINA KOLLING LEE DA ROCHA
Monografia apresentada para obtenção do título de especialista Latu Sensu em
Anestesiologia Veterinária da Faculdade de Jaguariuna em convênio com o
Instituto Brasileiro de Veterinária, sob orientação do Prof. Dr. Fabio Otero
Ascoli
BANCA EXAMINADORA
Dr. Rodrigo Luiz Marucio
Doutorando/FMVZ – USP - SP
Dr. Antônio José de Araújo Aguiar
Prof. Doutor/FMVZ – UNESP - BOTUCATU
Dr. Adriano Bonfim Carregaro
Prof. Doutor/USP – Pirassununga - SP
CONCEITO FINAL: ____________
DATA: _____ / _____ / __________
DEDICATÓRIA
A Solange Kolling Lee da Rocha, Maria Zélia Baratta
Kolling e Bruno Kolling Lee da Rocha, minha mãe,
minha avó e meu irmão, as pessoas mais queridas e
mais importantes da minha vida, que muito me
apoiaram e me incentivaram em mais uma longa
caminhada. A minha amiga Maria Alice Gress que
esteve sempre presente me dando força e incentivo.
André Luiz Lopes de Figueiredo, meu companheiro,
que com muito amor e paciência me ajudou a ter
tranqüilidade para concluir essa jornada.
AGRADECIMENTOS:
Agradeço primeiramente a Deus, por me dar saúde e
condições permitindo que eu complete mais essa
conquista.
Ao meu orientador, Dr. Fábio Otero Ascoli que com
sua dedicação e paciência me orientou nesse
trabalho monográfico.
Podemos muito bem nos perguntar: O que
seria do homem sem os animais? Mas não o
contrário: O que seria dos animais sem os
homens?
Man kann gar wohl fragen: Was wäre der
mensh ohne die tiere? A ber nicht umgekehrt:
Was wären treri ohne den menschen?
CH. F. Hebbel (poeta e dramaturgo alemão, 1813
– 1863) diários, 1857.
Rocha, Sabrina Kolling Lee
Anestesia em serpentes – Revisão de literatura
Sabrina, K. L. Rocha. Rio de Janeiro 2010 – 24 – 07
45 F., enc.
Monografia de Conclusão do Curso de Pós Graduação (latu sensu)
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA – Rio de Janeiro, 2010.
Bibliografia: f. 40 – 45
1. Anestesia, 2. Analgesia, 3. Répteis; 4. Serpentes
PAV – Pós Anestesia Veterinária
RESUMO
As serpentes tem se tornado muito populares como animais de
estimação, sendo criadas por um número crescente de herpetologistas, além
de serem também animais de experimentação. Para realizar exames físicos,
testes diagnósticos e procedimentos cirúrgicos é necessário o uso de
anestesia. Por isso os veterinários precisam obter conhecimentos sobre
características anatômicas e as diferenças fisiológicas comparadas aos
mamíferos para realizar procedimentos anestesiológicos seguros nesses
animais, além de conhecer medidas que minimizem o estresse e a dor, uma
preocupação cada vez mais freqüente para os médicos veterinários atuais. O
presente trabalho teve como objetivo rever características anatômicas e
fisiológicas, utilização de fármacos injetáveis e inalatórios, monitoramento e
analgesia em serpentes. O conhecimento dos aspectos abordados nesta
revisão possibilita ao anestesiologista veterinário realizar procedimentos
anestesiológico com segurança nesses animais.
Palavras-chaves: 1. Anestesia, 2. Analgesia, 3. Répteis, 4. Serpentes.
ABSTRACT
Snakes have become very popular as pets, being created by a growing
number of herpetologists, and also as animals of experiment. To perform
physical examinations, diagnostic tests and surgical procedures require the use
of anesthesia. That is why veterinarians need to gain knowledge about
anatomical and physiological differences compared to mammals to perform
procedures anesthesiologic insurance in these animals and learn about
measures to minimize the stress and pain, an increasingly common concern for
the veterinarians present. This study aimed to review anatomical and
physiological characteristics, use of injectable and inhaled drugs, monitoring
and analgesia in snakes. Knowledge of the issues addressed in this review
enables the anesthesiologist to perform veterinary anesthetic procedures safely
in these animals.
Key words: 1. Anesthesia, 2. Analgesic, 3. Reptiles, 4. Snakes.
SUMÁRIO
1 – INTRODUÇÃO ........................................................................................... 14
2 – REVISÃO DE LITERATURA ...................................................................... 17
2.1 – CONTENÇÃO FÍSICA ............................................................................ 17
2.2 – ANATOMIA E FISIOLOGIA .................................................................... 18
2.2.1 – CARACTERÍSTICAS GERAIS ............................................................. 18
2.2.2 – SISTEMA RESPIRATÓRIO ................................................................. 19
2.2.3 – SISTEMA CARDIOVASCULAR ........................................................... 21
2.2.4 – SISTEMA PORTA RENAL ................................................................... 22
2.2.5 – PARTICULARIDADES ......................................................................... 22
2.3 – FÁRMACOS INJETÁVEIS ...................................................................... 23
2.3.1 – CETAMINA .......................................................................................... 23
2.3.2 – TILETAMINA-ZOLAZEPAN ................................................................. 25
2.3.3 – MEDETOMIDINA ................................................................................. 25
2.3.4 – PROPOFOL ......................................................................................... 26
2.3.5 – BARBITÚRICOS .................................................................................. 26
2.3.6 – ANESTÉSICOS LOCAIS ..................................................................... 27
2.3.7 – OPIÓIDE .............................................................................................. 27
2.3.8 – BLOQUEADORES NEUROMUSCULARES ........................................ 28
2.3.9 – ALFAXOLONA E ALFADOLONA ........................................................ 28
2.4 – FÁRMACOS INALATÓRIOS .................................................................. 29
2.4.1 – HALOTANO ......................................................................................... 29
2.4.2 – ISOFLURANO ...................................................................................... 30
2.4.3 – SEVOFLURANO ................................................................................. 31
2.4.4 – RECUPERAÇÃO ................................................................................. 31
2.5 – PLANO ANESTÉSICO ............................................................................ 31
2.6 – ANESTESIA BALANCEADA ................................................................... 32
2.7 – MONITORAMENTO ................................................................................ 32
2.8 – ANALGESIA ............................................................................................ 37
3 – CONSIDERAÇÃO FINAL ........................................................................... 39
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 40
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Jararacuçu em tubo de contenção................................................... 18
Figura 2 - Intubação endotraqueal em Jararacuçu........................................... 20
Figura 3 - Utilização de Doppler ultrasônico em Jararacuçu ............................ 34
Figura 4 - Utilização de Doppler ultrasônico em Jararacuçu ............................ 34
Figura 5 - Sensor do oxímetro posicionado na região vestibular de cascavel
(Crotalus durissus) ........................................................................................... 35
Figura 6 - Utilização de cardioscópio em Jararacuçu....................................... 36
Figura 7 - Utilização de cardioscópio em Jararacuçu....................................... 36
LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS
- IC = Intracardíaca
- IM = Intramuscular
- IV = Intravenoso
- SC = Sub cutâneo
-VO= Via Oral
14
1 INTRODUÇÃO
Os répteis estão se tornando muito populares como animais
de estimação (GREENE, 2004), além de serem encontrados em
zoológicos (READ, 2004). Dentre os répteis, as serpentes têm
sido criadas por um número crescente de herpetologistas privados
e pessoas que as criam como animais de estimação. Entre as
espécies de serpentes, os boídeos (boas e pítons) e os
colubrídeos (cobras de ratos – rat snakes; cobra do milho – corn
snakes; cobra – rei – King snakes) são as mais comumente
mantidas como animais de estimação. Conseqüentemente, os
veterinários precisam obter conhecimentos sobre o manejo
adequado das espécies, as características anatômicas e as
diferenças fisiológicas comparada aos mamíferos, para realizar
procedimentos anestesiológicos seguros nesses animais
(SCHUMACHER, 1996; GREENE, 2004).
A contenção física isolada é a forma mais econômica e
rápida de imobilizar esses animais, porém não fornece analgesia,
e consequentemente, provoca sofrimento quando realizam-se
procedimentos dolorosos. Além disso, alguns répteis quando
mordem são capazes de mutilar ou matar o manipulador (HEARD,
2001).
Em serpentes, a realização de exames clínicos e
procedimentos cirúrgicos requer contenção química e anestesia
(W EST et al, 2007), assim como coleta de sangue e diagnóstico
por imagem (READ, 2004). Além disso, quando a contenção física
apresenta risco a equipe, a contenção química é recomendada
(W EST et al, 2007). Para a administração oral de drogas pode ser
necessário o uso de anestesia geral para as serpentes mais
agressivas. E existem vários casos em que a anestesia geral é
necessária para evitar a contenção física (JACKSON, 1974). O
uso de répteis como animais de experimentação também tem
aumentado e com isso o uso da anestesia torna-se mais comum
nesses animais (LAW RENCE, 1983).
15
Diversos fármacos, doses e técnicas anestésicas são
utilizadas em répteis e o sucesso da anestesia nesses animais
depende da experiência, habilidade e conhecimento do
anestesiologista veterinário. A morfologia e a fisiologia dos
répteis diferem em muitos aspectos da anatomia e fisiologia dos
mamíferos (SCHUMACHER, 1996),
A paciência, o planejamento e o conhecimento da anatomia e
fisiologia do réptil saudável e doente são fundamentais para a
realização de um adequado procedimento anestesiológico
(HEARD, 2001).
Outro ponto importante é a monitorização dos parâmetros
vitais durante um procedimento anestesiológico, pois fornece
informações que possibilitam avaliar o plano anestesiológico e
controlar de forma segura a oferta de anestésicos
(SCHUMACHER, 1996).
Nas últimas décadas, os médicos veterinários e seus clientes
passaram a se preocupar com a dor e seus efeitos adversos que
interferem na qualidade de vida dos animais (HELLYER, 1999a).
Em função disto, houve uma evolução gradual nas atitudes dos
novos veterinários, que passaram a utilizar mais analgésicos nos
pacientes, principalmente na dor pós-operatória (DOHOO e
DOHOO, 1996, CAPNER et al, 1999, LASCELLES et al, 1999),
embora o uso ainda seja relativamente baixo (FLECKNELL, 2008).
Todo animal é capaz de sentir dor, embora em muitos casos
seja difícil realizar avaliação de dor em pacientes répteis. Outro
benefício da utilização de fármacos analgésicos no período pré e
trans-operatório, é a redução na quantidade de anestésico geral
necessário para obter anestesia cirúrgica (SCHUMACHER, 1996).
Com o aumento das realizações de cirurgias em serpentes, um
adequado manejo da dor nesses animais é uma preocupação para
os médicos veterinários (READ, 2004).
Sobrevivência no período pós-operatório imediato é uma
inadequada forma de avaliar a segurança e o sucesso do
procedimento anestesiológico em répteis, pois estes são mais
16
resistentes e capazes de sobreviver a perturbações fisiológicas
(ex: hipoxemia severa) que matariam rapidamente um mamífero.
(HEARD, 2001).
O objetivo desta revisão de literatura foi descrever aspectos
importantes a considerar na realização de procedimentos
anestesiológicos seguros em serpentes, que são: contenção física
e outras formas de contenção, diferenças anatômicas e
fisiológicas da espécie, fármacos injetáveis e inalatórios,
anestesia balanceada, monitoramento e analgesia.
17
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 CONTENÇÃO FÍSICA
Aproximadamente 15% das 3000 espécies de cobras são
consideradas perigosas para humanos (BOYER, 2006). Sob o
ponto de vista biológico, devem ser consideradas peçonhentas
todas as serpentes possuidoras de glândulas capazes de secretar
substância ou substâncias tóxicas, independentemente da
capacidade de inocular ou da importância médica. Os longos
dentes (presas) são importantes na inoculação de veneno numa
presa (BENEDITO BARRAVIERA, 1999).
A contenção física é econômica e bastante utilizada, porém
não fornece analgesia. A realização de procedimentos dolorosos,
sem a preocupação com um método eficaz de analgesia é uma
prática desumana, mesmo que os animais não expressem
nenhuma reação durante a realização desses procedimentos
(HEARD, 2001).
Experiência e conhecimento do comportamento da serpente e
sua reação a estímulos, ajuda na elaboração de estratégias com
os melhores métodos para usar em um determinado procedimento
(W EST et al, 2007). Para a manipulação segura de répteis
venenosos, especialmente serpentes, é fundamental o
conhecimento de ferramentas e técnicas de contenção, como:
ensacamento, recipientes de manipulação, ganchos, pinças, tubo
transparente de contenção, caixa de transporte e caixa prensa
(BOYER, 2006).
Embora os métodos citados anteriormente sejam utilizados
por manipuladores profissionais de serpentes na extração de
veneno, estes aumentam o risco de picada, além de aumentar a
probabilidade de ferir o animal. Os métodos de contenção mais
utilizados são tubos de contenção (Fig. 2), caixa prensa e
anestesia (W EST et al, 2007). É fundamental que o diâmetro do
tubo seja pequeno o suficiente para que a serpente não possa
18
girar no tubo (BOYER, 2006). Alicates e pinças devem ser
utilizados como último recurso em caso de emergência, devido ao
seu potencial de ferir o animal (W EST et al, 2007). Além do que a
contenção da cabeça por meio de pinças e ganchos não
necessariamente previne que o manipulador seja mordido (HEARD
& STETTER, 2007).
Figura 1 - Jararacuçu em tubo de contenção
Nos acidentes com serpentes são freqüentes fenômenos
como dor local, edema, hemorragias locais e sistêmicas, distúrbio
de coagulação sanguínea, choque cardiovascular e necrose
cortical renal. As mionecroses também são freqüentes nos
envenenamentos botrópicos (DOS SANTOS et al,1992).
2.2 ANATOMIA E FISIOLOGIA
2.2.1 Características Gerais:
As serpentes constituem um grupo de répteis reconhecível
principalmente pelo longo corpo flexível essencialmente sem
patas, e pelas modificações que permitem a ingestão de grandes
19
animais. Não possuem cintura escapular e pálpebras móveis
(BENEDITO BARRAVIERA, 1999). Os olhos são cobertos por uma
escama convexa transparente e fina (o óculo), que sai com a pele
quando a serpente troca de pele (BIRCHARD e SHERDING, 1998).
Não possuem tímpano ou abertura externa de ouvido (BENEDITO
BARRAVIERA, 1999), e possui um ouvido interno (BIRCHARD e
SHERDING, 1998). Constituem um grupo altamente especializado
e são exclusivamente carnívoras (BENEDITO BARRAVIERA,
1999).
As serpentes usam sua língua para explorar o ambiente e
suas pontas captam partículas odoríferas e as colocam em contato
com as “papilas gustativas” do órgão de Jacobson, que se situam
no céu da boca (BIRCHARD e SHERDING, 1998). Possuem seis
fileiras de dentes, quatro no maxilar superior (presas ao osso
maxilar e palatino) e duas no maxilar inferior (uma em cada
mandíbula). Todos os dentes incluindo as presas venenosas
podem cair e ser repostos por toda a vida da cobra. O estômago e
o fígado possuem formato fusiforme e, em todas as espécies o
fígado possui vesícula biliar. O baço está ligado freqüentemente
ao pâncreas, que se localiza ao lado do duodeno (BIRCHARD e
SHERDING, 1998).
2.2.2 Sistema respiratório
Ao contrário dos mamíferos, a glote dos répteis está sob
controle muscular voluntário do músculo dilatador da glote. Em
serpentes, a traquéia é composta por anéis cartilaginosos
incompletos em forma de C, que permite o colapso parcial durante
a alimentação (GREENE, 2004)
A glote localiza – se na base da língua (MUIR et al, 2001) e
a intubação endotraqueal (Fig. 2) deve ser realizada com tubo
endotraqueal sem balonete ou com tubo endotraqueal com
balonete inflado somente o suficiente para selar efetivamente,
quando é usada a ventilação controlada. Isso porque a mucosa da
20
traquéia é facilmente lesionada nessas espécies (GREENE, 2004).
É necessário cuidado especial para répteis que pesam menos de
100 g para evitar traqueíte induzida pelo tubo (MUIR et al, 2001).
Burke e W all (1977) observaram uma suave hemorragia oral em
cascavéis jovens no momento da retirada do tubo endotraqueal
quando foi realizado o procedimento de retirada da glândula de
veneno.
Figura 2 - Intubação endotraqueal em Jararacuçu
A anatomia dos pulmões das serpentes apresenta grande
variedade. A maioria das serpentes possui o pulmão direito
desenvolvido e funcional, enquanto o pulmão esquerdo é vestigial
(CALDERW OD, 1971; HEARD, 2001). Entretanto as boideas (boas
e pítons) apresentam ambos os pulmões desenvolvidos. Existem
duas regiões nos pulmões das serpentes: o pulmão vascular e o
saco aéreo. O pulmão vascular localiza-se na parte anterior do
corpo e apresenta grande superfície de troca gasosa. (HEARD,
2001)
Serpentes apresentam sacos aéreos caudais que retém o ar
durante a respiração, mas não estão envolvidos nas trocas
gasosas. Conseqüentemente a superfície de trocas gasosas é
21
menor em répteis do que em mamíferos, embora a quantidade de
ar inspirado seja maior (GREENE, 2004).
Os répteis não possuem diafragma (BIRCHARD e SHERDING,
1998) ou uma verdadeira cavidade torácica. Estes animais podem
apresentar dois padrões respiratórios distintos: 1) movimento
respiratório único separado por período de inspiração mantida; e
2) fases de consecutiva ventilação seguida por períodos longos de
apnéia com duração de poucos minutos até mais de uma hora
(W ang et al., 1998).
O limiar de hipóxia é aumentado quando ocorre aumento da
temperatura corporal da serpente (HEARD, 2001).
2.2.3 Sistema cardiovascular
Possuem um coração com três câmaras, dois átrios e um
ventrículo, mas funcionalmente o coração é dividido em cinco
câmaras (Pough et al,1998, apud Lumb & Jones’, 2007) porque o
ventrículo nessas espécies é ainda subdividido em cavum
venosum, cavum pulmonale e cavum arteriosum (W EST et al,
2007). Essa divisão do ventrículo em três câmaras minimiza a
mistura do sangue oxigenado com o não oxigenado. Todos os
répteis apresentam duas aortas surgindo do ventrículo ou dos
ventrículos. A presença de subdivisões ventriculares e de duas
comunicantes aórticas permite ao réptil redirecionar o fluxo de
sangue e desviar o mesmo para fora dos pulmões. Esse desvio é
uma adaptação decorrente da evolução para viver em ambientes
com pouco oxigênio e em ambientes aquáticos. A habilidade de
desvio pulmonar e a retenção da respiração podem resultar em
tempos de indução bastante prolongados, se forem usadas
máscaras faciais ou câmara de indução (GREENE, 2004). Muitos
répteis são fisiologicamente capazes de sobreviver a severa
hipoxemia e hipotermia, o que facilmente mataria outros
vertebrados (HEARD & STETTER, 2007).
22
O coração das serpentes está localizado a um quarto do
sentido descendente do comprimento da cobra. A freqüência
cardíaca varia com a espécie e a temperatura corporal, mas pode
variar entre 40 a 70 batimentos por minuto (BIRHCARD e
SHERDING, 1998). A posição do coração é influenciada pelo estilo
de vida. As serpentes arborígenas apresentam o coração mais
cranial que as terrestres e as aquáticas (ordem decrescente da
posição do coração: arborígena < terrestre < aquática) (HEARD,
2001, n20).
As nuances da fisiologia cardiovascular em serpentes, podem
contribuir para um desafio na mensuração da pressão arterial
precisa e em répteis a avaliação da pressão arterial invasiva é
complicada por falta de vasos superficiais, o qual necessita de
acesso cirúrgico para canulação de uma artéria. (CHINNADURAI
et al, 2009). O Doppler pode ser utilizado ao posicionar o sensor
sobre artéria periférica, entretanto só é possível avaliar a
presença de fluxo e a freqüência dos batimentos cardíacos (MUIR
et al, 2001).
2.2.4 Sistema porta renal
A excreção renal é influenciada pelo sistema porta renal, que
drena diretamente o sangue venoso da parte caudal do corpo
através dos rins antes de retornar para a circulação sistêmica. A
excreção renal de anestésicos injetáveis largamente usados como
a cetamina pode produzir resultados variáveis quando
administrada na parte caudal do corpo. A administração de
fármacos nefrotóxicos pode apresentar potencial de acumulação
nos rins e induzir o comprometimento renal. (GREENE, 2004).
2.2.5 Particularidades
Na anestesia em répteis existem alguns problemas que não
são encontrados nos mamíferos. Um dos mais importantes é a
23
menor taxa metabólica, o que resulta prolongada duração de ação
de anestésicos injetáveis e, conseqüentemente, recuperação
prolongada que pode chegar até dois dias (CALDERWOOD, 1971).
Importante lembrar que répteis carnívoros ingerem a presa
inteira, logo é necessário jejum alimentar de mais de cinco dias
antes de realizar um procedimento anestesiológico (MUIR et al,
2001).
2.3 FÁRMACOS INJETÁVEIS
Os fármacos usados para anestesiar animais selvagens são
os mesmos utilizados para animais domésticos. Todos os agentes
injetáveis e inalatórios têm sido usados satisfatoriamente.
Certamente alguns agentes devem ser mais adequados para
determinadas espécies do que outras, mas a familiaridade do
anestesista com os agentes anestésicos certamente é mais
importante do que a escolha de um fármaco (FOW LER, 1974).
As vias de administração de fármacos utilizadas em répteis
são via intravenosa (IV), intraperitonial (IP), intramuscular (IM), e
intracardíaca (IC) (CALDERW OOD, 1971). Não se recomendam as
injeções IC devido ao potencial de traumatismo, no entanto, a via
IC é útil para administração de fármacos de eutanásia (BIRCHARD
e SHERDING, 1998). A via intramuscular tem sido relatada em
serpentes, mas a falta de massa muscular pesada exige a
necessidade de pequenos volumes ou administrar em vários
lugares (CALDERWOOD, 1971).
Os fármacos pré-anestésicos raramente são indicados,
exceto em répteis grandes, agressivos ou venenosos. Dentre
estes fármacos, a atropina não é indicada na presença de
secreções respiratórias, pois a torna mais viscosa (MUIR et al,
2001).
2.3.1 Cetamina
24
A cetamina é muito utilizada para imobilização e captura de
animais selvagens (ADDISON, 1977 apud LUMB & JONES’, 2007)
e historicamente tem sido o fármaco injetável mais comumente
usado para muitas espécies de répteis (READ, 2004). Pode ser
aplicada com ampla margem de segurança em animais sadios,
reduzindo assim a necessidade de estimar o peso com precisão
(GREEN et al., 1981). Apesar desta característica se utilizado em
répteis debilitados, pode levar a morte ou pode causar um retorno
prolongado de até seis dias (LAW RENCE, 1983).
A cetamina pode ser administrada pela via intramuscular,
intravenosa ou oral e suas maiores desvantagens são promover
recuperação prolongada, pobre relaxamento muscular e
inadequada anestesia quando utilizada sozinha (HEARD, 2001).
Diferentes doses de cetamina foram utilizadas em serpentes
em diversos estudos e estas variaram de 60mcg. Kg- 1
a 131mg. kg-
1
. Nestes estudos foram utilizadas diferentes vias de
administração para diferentes finalidades como: coleta de veneno,
anestesia e cirurgia (Peters, 1977; Harding, 1977; Patterson,
1979; Rosenberg, 1992). Para a coleta de veneno foi utilizado a
cetamina nas doses de 60 mcg. kg no estudo realizado por
Rosenberg (1992) e 131 mg.kg-1 no estudo de Harding (1977). Já
em estudos de anestesia foram utilizadas as doses de 10 a 66
mg.kg- 1
, e observou-se um período de recuperação prolongada, .
Nesses estudos, os animais demoraram de 24 a 72 horas para
retornar as suas atividades normais (Jackson 1976; Harding,
1977; Peters, 1977)
A recuperação pode ser mais lenta em indivíduos idosos e
doentes e a doses para esses animais deve ser ajustada de
acordo com a idade e o estado clínico do animal. Além disso, a
temperatura é um fator importante, pois influencia o metabolismo
dos fármacos anestésicos (JONES, 1977). Hill e Mackessy (1997)
observaram que todas as serpentes dos seus experimentos se
recuperaram dos efeitos da cetamina sem efeitos nocivos.
25
Jackson observou que muitos répteis, particularmente as
serpentes, tornaram – se permanentemente agressivas depois do
retorno da anestesia com cetamina. Este comportamento sugere
que a serpente de alguma maneira é afetada durante o estado de
catalepsia, e com isso reage como se fosse ser atacada ao ser
manipulada sob efeito desse fármaco (LAW RENCE, 1983).
Uma boa estratégia para evitar a sobredose durante a
anestesia com cetamina em serpentes é administrar metade da
dose calculada e, então, tomar a decisão quanto a administração
da outra metade de anestésico remanescente. Patterson e
colaboradores (1979) utilizaram cetamina 15 mg.kg- 1
IP para
realização de cirurgia em uma píton, entretanto não foi obtido
plano cirúrgico com esta dose. Foi utilizado outra dose de 15
mg.kg- 1
para conseguir plano superficial de anestesia, e a
realização de cirurgia só foi possível quando foi completada a
dose total de cetamina de 37,5 mg.kg- 1
. O único inconveniente
deste método é o aumento no tempo gasto para se realizar a
anestesia (GREENE, 2004).
2.3.2 Tiletamina-zolazepam
Esta associação, quando administrada na dose de 3 a 4
mg.kg- 1
pela via IM, promoveu imobilidade completa após 30 - 40
minutos e contribuiu para analgesia (HEARD, 2001). Jekl e Knotek
(2006) utilizaram tiletamina-zolazepam na dose de 3 a 8 mg.kg- 1
para anestesiar serpentes com o comportamento agitado ou
agressivo para realização de endoscopia.
2.3.3 Medetomidina
A medetomidina oferece muitas vantagens quando usada em
repteis, ela proporciona sedação profunda, relaxamento muscular
e analgesia (GREENE, 2004).
26
A medetomidina tem sido utilizada (40 a 160 mg/kg, IM) em
associação com opióides para promover anestesia e analgesia
durante procedimentos cirúrgicos. O uso de medetomidina (80
mcg. kg- 1
) em combinação com a quetamina (5 mg.kg- 1
) em várias
espécies de répteis, incluindo cobra amarela de ratos (yellow rat
snakes) e píton bermuse, tem tido sucesso. (GREENE, 2004).
Jekl e Knotek (2006) utilizaram medetomidina na dose de 0,1
a 0,25 mg.kg- 1
associada a cetamina na dose de 5 a 20 mg.kg- 1
para anestesiar serpentes com comportamento agitado ou
agressivo para realização de endoscopia
2.3.4 Propofol
O propofol possui início de ação rápido devido a rápida
absorção no sistema nervoso central, duração curta e recuperação
suave (ZORAN e RIEDESEL, 1993 apud LUMB & JONES, 2007).
Ele apresenta qualidade anestésica melhor do que a barbitúrica,
pois, além de ser empregado em pacientes de alto risco com uma
margem de segurança superior aos demais agentes indutores,
permite recuperação isenta de reações adversas (FANTONI e
CORTOPASSI, 2002).
A dose de administração é de 5 a 7 mg.kg- 1
(MUIR et al,
2001) pela veia coccígea para realização da indução anestésica,
após a contenção física no tubo (WEST et al, 2007). A utilização
de propofol pela via intravenosa permite uma indução com
segurança e duração de anestesia curta. Este fármaco
proporciona uma recuperação completa mais rápida que outros
anestésicos injetáveis gerais (READ, 2004).
2.3.5 Barbitúricos
Os barbitúricos são amplamente usados em répteis e a dose
depende do agente específico, via de administração, espécie,
tempo anestésico e temperatura ambiental. Quando serpentes são
27
anestesiadas com barbitúricos são colocadas sob lâmpadas e
algumas se recuperam no período de 10 – 15 minutos. Essa rápida
recuperação pode ser devido aos aumentos na taxa metabólica e
na freqüência cardíaca, com subseqüente redistribuição do
fármaco (CALDERWOOD, 1971).
O tiopental sódico na dose de 16 a 25 mg.kg- 1
administrado
pela via intraperitoneal em serpentes, promove anestesia
superficial com duração de 25 – 40 minutos. O Pentobarbital
apresenta efeitos similares na dose de 15 – 50 mg.kg- 1
. A maior
desvantagem da utilização desses fármacos para o profissional é
que o mesmo deverá ter algum conhecimento da anatomia do
réptil para realizar administração intraperitoneal e em muitos
casos a indução pode demorar até seis horas e a recuperação
pode demorar de dois a três dias (JONES, 1977). Não existe
diferença na indução e recuperação entre tiopental e pentobarbital
(CALDERW OOD, 1971).
2.3.6 Anestésicos locais
A pele dos répteis é muito sensível a estímulo doloroso e por
isso o uso de anestésico local como a lidocaína 2% para remover
abscessos, reparar lacerações de pele e outros procedimentos
menores é recomendado. Em serpentes venenosas, o anestésico
local sozinho não é seguro e por isso é necessário adicionar
drogas para imobilizar o paciente (LUMB & JONE`S, 1996).
2.3.7 Opióides
Etorfina é um opióide que pode ser usado em muitas
espécies e o tempo de indução e duração da imobilização é dose
dependente (LUMB & JONES, 2007). Este fármaco foi usado em
serpentes na dose de 1,0 - 3,0 mg.kg- 1
e se obteve analgesia e
relaxamento muscular, o que permitiu a realização de cirurgia
superficial. Essa dose é bem alta em comparação ao que é usada
28
em mamíferos, desta forma a utilização deste fármaco não é
prático ou econômico para o uso extensivo em répteis (JONES,
1977). Etorfina foi administrada na dose de até 5 mg.kg- 1
e não
apresentou efeito (CALDERW OOD, 1971).
2.3.8 Bloqueadores neuromusculares
Bloqueadores neuromusculares não possuem nenhum efeito
analgésico ou anestésico, logo não devem ser utilizados sozinhos.
Além disso, é necessária disponibilidade de equipamentos e
material para ventilação artificial. A tubocurarina foi usada em
Colubrides Australianas e em uma Píton nas doses de 6 mg.kg- 1
e
1,8 mg.kg- 1
, respectivamente e demorou de 60 a 85 minutos para
produzir paralisia nessas espécies. A dose alta para paralisar as
Colubrides foi atribuída a alta imunidade do veneno desta, pois o
veneno no homem parece exercer uma ação curarizadora
(CALDERW OOD, 1971).
2.3.9 Alfaxolona e Alfadolona
Trata–se de uma associação de dois esteróides: 3-hidroxi-5-
pregnano-1,20-diona (alfadolona) e 21-acetoxi-hidroxi-5-pregnano-
11,20-diona, estruturalmente semelhante à progesterona
(alfaxolona). (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). O seu uso em
lagartos e quelônios promove desde sedação à anestesia
profunda, porém em serpentes, promoveu efeitos variados, que
foram desde a nenhum até anestesia profunda. Parece que a
ausência de efeitos nas serpentes foi devido à administração
subcutânea, pois em gatos e macacos alfaxolona e alfadolona não
são efetivos quando realizados por esta via. O tempo de indução
variou entre 25 e 40 minutos, com um plano cirúrgico de anestesia
com duração de 15 a 35 minutos. Não foram observadas
depressão cardíaca ou respiratória, nem reação local no lugar da
29
administração intramuscular em nenhum dos répteis em que esse
fármaco foi empregado. (LAW RENCE, 1983).
2.4 FÁRMACOS INALATÓRIOS
Anestesia inalatória é bastante utilizada para manutenção
anestésica em animais. Sua popularidade cresceu devido as suas
características farmacocinéticas que permite uma previsível e
rápida mudança de plano anestésico. Entretanto, estes fármacos
quando utilizados, necessitam de materiais específicos, como
fonte de oxigênio, vaporizador, circuito anestésico, tubo
endotraqueal ou máscara facial, entre outros. Estes materiais
minimizam a morbidade e mortalidade dos pacientes, pois
facilitam a ventilação pulmonar e oxigenação arterial (Steffey &
Mama, 2007).
Uma variedade de recipientes para serpentes venenosas
podem ser usados, como câmara de Hiss e tubos transparentes.
Estes recipientes permitem a observação da serpente no momento
da indução. Além disso, serpentes contidas em sacos de pano,
próprios para estes animais, podem ser colocados dentro de uma
câmara de Hiss e o plano anestésico pode ser julgado pela
diminuição do movimento da serpente dentro do saco (W EST at al,
2007). Heard (2001) prefere utilizar indução anestésica na câmara
de Hiss com isoflurano em serpentes venenosas.
Para saber se uma serpente está seguramente anestesiada,
deve-se observar a perda da resposta a estimulação tátil e
inibição do movimento da língua (WEST et al, 2007). No caso de
uma cascavel a abolição do reflexo barulhento é um guia útil para
sedação (HARDING, 1977).
2.4.1 Halotano
Na maioria dos répteis, indução anestésica com halotano é
conseguida com a utilização de 3 a 5% diluído em oxigênio. Para
30
a manutenção anestésica, a concentração do halotano necessária
normalmente é de 1,5 a 2,5% (SHUMACHER, 1996).
As serpentes podem ficar em apnéia por tempo prolongado, o
que aumenta o tempo de indução quando se utiliza anestésicos
inalatórios. A manutenção da anestesia com halotano tem o seu
valor e para assegurar níveis adequados desse fármaco durante a
anestesia, o mesmo deve ser ofertado através de um tubo
endotraqueal (LAW RENCE, 1983). O tempo de indução com
halotano em uma variedade de serpentes foi de 2 a 28 minutos
(BURKE e W ALL, 1977).
É possível promover anestesia leve colocando-se o réptil
dentro de uma caixa ou jarra de vidro, com um pedaço de algodão
embebido em halotano. O período necessário para anestesiar o
animal é em torno de três a cinco minutos. Em serpentes
pequenas, a utilização desse método é uma boa estratégia devido
a dificuldade de pesar e ou administrar fármacos injetáveis nesses
animais (JONES, 1977). O halotano foi utilizado em serpentes
venenosas para permitir uma manipulação segura durante a coleta
de veneno, e o tempo de recuperação nunca excedeu 10 minutos.
O óxido nitroso foi utilizado associado ao halotano para
anestesiar serpentes e o tempo necessário para a indução em
Colubrides foi de 20 a 30 minutos quando 72% de óxido nitroso foi
utilizado com 4% de Halotano (CALDERW OOD, 1971).
2.4.2 Isoflurano
A administração de isoflurano resulta em rápida indução e
rápida recuperação (READ, 2004). A maioria dos répteis com
menos de 500g pode ser induzida por meio de tubo de contenção
e ou câmara de Hiss com a utilização de isoflurano 2 a 4% (MUIR
et al, 2001). Para realização de endoscopia em serpente foi
utilizado isoflurano 5% para indução e 2 – 4% para manutenção
(JEKL e KNOTEK, 2006).
31
2.4.3 Sevoflurano
A administração de sevoflurano também resulta em rápida
indução e recuperação na maioria dos répteis. Atualmente o
isoflurano parece ser o padrão na prática anestésica, mas com o
aumento do número de pesquisas sobre a eficácia e segurança do
sevoflurano em répteis, este pode se tornar cada vez mais comum
na prática anestesiológica destes animais (READ, 2004). O
isoflurano ou o sevoflurano são os anestésicos inalatórios de
escolha em serpentes (MUIR et al, 2001).
2.4.4 Recuperação
Durante o período de recuperação é essencial que seja
ofertado oxigênio até o plano anestésico ficar mais superficial e a
serpente deve ser mantida a uma temperatura de vinte e quatro
graus até a recuperação completa (JACKSON, 1974). O período de
ventilação ou recuperação deve ser longo quando o agente usado
possui um alto coeficiente de solubilidade em tecido e lipídeos,
como o éter e o metoxiflurano (CALDERW OOD, 1971).
A recuperação com o isoflurano geralmente é de 20 minutos
para procedimentos com duração inferior a uma hora. A ventilação
a pressão positiva intermitente deve ser continuada até que o
animal ventile espontaneamente de forma regular. O ar ambiente
ou o ar exalado podem ser usados para aumentar a concentração
de dióxido de carbono e com isso estimular a ventilação. Se
houver apnéia, pode ser realizado a administração do doxapram
na dose de 5 mg.kg- 1
–IV –VO ou IM (MUIR et al, 2001).
No estudo realizado por Soares e colaboradores (2002),
todos animais foram extubados após apresentar ventilação
espontânea e início dos movimentos de língua.
2.5 PLANO ANESTÉSICO
32
O plano anestésiológico pode ser avaliado pelas contrações
musculares corporais e pelos movimentos da língua (Soares et al.,
2002). De acordo com Heard (2001), o relaxamento muscular
produzido pelos anestésicos inalatórios começa na porção cranial
e conforme a profundidade anestésica aumenta, este relaxamento
se pronuncia no sentido caudal e o inverso ocorre durante a
recuperação anestésica.
2.6 ANESTESIA BALANCEADA
A anestesia balanceada é aquela promovida por dois ou mais
agentes, ou técnicas anestésicas distintas como, por exemplo,
anestesia intravenosa e anestesia inalatória, utilizadas em um
mesmo procedimento anestésico. O uso dessa técnica garante
uma anestesia mais segura e é a melhor conduta para o uso em
répteis. A sedação pré-anestésica, com o uso de anestésicos
injetáveis é relativamente fácil de administrar, evitando problemas
de períodos de indução prolongados associados com indução com
máscara e acalmando espécies agressivas. A maior desvantagem
da administração de fármacos anestésicos injetáveis para a
manutenção da anestesia é a estimativa adequada da massa
corporal, o que pode resultar em superdosagem anestésica
(GREENE, 2004).
2.7 MONITORAMENTO
A monitoração dos parâmetros vitais durante um
procedimento anestesiológico é de grande importância, pois
fornece informações que possibilitam avaliar o plano
anestesiológico e controlar de forma segura a oferta de
anestésico (Schumacher, 1996).
Em geral, o metabolismo é termodependente (BIRCHARD e
SHERDING, 1998) e a hipotermia deprime o sistema imune e
retarda a cicatrização. Desta forma, durante a cirurgia a
33
manutenção da homotermia deve ser realizada através de fontes
externas para manter a temperatura corporal, pois os répteis não
produzem seu próprio calor (MUIR et al. 2001).
A temperatura deve ser monitorada através de um
termômetro retal ou cloacal, pois a temperatura da pele não é
confiável. Para evitar queimaduras e hipertermia iatrogênica,
deve-se sempre monitorar as fontes de calor observando a
temperatura da superfície com a qual o corpo do paciente entra
em contato (MUIR et al, 2001).Para a recuperação anestésica é
essencial que as serpentes sejam colocadas em um recinto
aquecido, com a temperatura em torno de trinta graus (JONES,
1977).
Todos os répteis possuem um reflexo de endireitamento e a
perda desse reflexo ajuda a determinar o estágio da anestesia
(BIRCHARD e SHERDING, 1998). Em estado cirúrgico de
anestesia as freqüências respiratória e cardíaca diminuem
(JONES, 1977).
A oximetria de pulso e o Doppler ultrasônico são muito úteis,
pois fornecem em tempo real o pulso do paciente, ritmo e estado
de perfusão periférica. O monitoramento por Doppler (Fig. 3 e 4) é
versátil e pode ser usado em uma variedade de espécies e por
essa razão tem sido recomendada para estudos cardiopulmonares
em répteis. Entretanto, é difícil encontrar um lugar no animal
apropriado para posicionar o oxímetro de pulso e obter um sinal
forte (READ, 2004).
34
Figura 3 - Utilização de Doppler ultrasônico em Jararacuçu
Figura 4 - Utilização de Doppler ultrasônico em Jararacuçu
Trabalho realizado por Soares e colaboradores (2002)
demonstrou que o posicionamento do sensor na região vestibular
(Fig. 5) permitiu a aferição da saturação de oxigênio na
hemoglobina, freqüência cardíaca e visualização da onda
plestimográfica.
Neste mesmo trabalho foi possível a colocação do sensor
pediátrico do Doppler sobre a arteira ventral da cauda, para
audição do fluxo sanguíneo arterial.
35
Figura 5 - Sensor do oxímetro posicionado na região vestibular de cascavel (Crotalus
durissus)
Geralmente a freqüência cardíaca é o único indicador do
nível de anestesia do réptil e então deve ser cuidadosamente
monitorada. A diminuição da freqüência cardíaca para menos de
80% indica que a anestesia deve ser superficializada. (MUIR et al,
2001). O eletrocardiograma (ECG) de um réptil apresenta ondas P,
QRS e T semelhante ao dos ECG dos mamíferos. O padrão de
ECG de serpentes apresenta um QRS invertido semelhante ao
obtido na base apexiana do eqüino. O aparelho de ECG deve ter
velocidade variáveis (velocidades baixas menor ou igual a 25
cm/s) e sensibilidades (sensibilidade aumentada, 1mV maior ou
igual a 1 cm) que permitam a contagem da baixa freqüência
cardíaca dos répteis e a maior impedância elétrica (GREENE,
2004). O monitoramento cardíaco (Fig. 6 e 7) tem sido útil em
vários estudos e o seu uso prático não parece ser incomum
(READ, 2004).
36
Figura 6 - Utilização de cardioscópio em Jararacuçu
Figura 7 - Utilização de cardioscópio em Jararacuçu
Soares e colaboradores (2002) realizaram eletrocardioscopia
em cascavéis através de quatro eletrodos conectados a agulhas
hipodérmicas (25X7) posicionadas no tecido subcutâneo ao redor
do coração, após prévia palpação cardíaca. Neste trabalho foi
possível observar atividade elétrica freqüência e ritmo cardíaco.
Em caso de uma parada cardíaca, deve-se administrar
oxigênio 100%, realizar compressão torácica e administrar
epinefrina 5 – 10 mg.kg- 1
. A massagem cardíaca aberta pode ser
necessária e para isso deve-se realizar uma laparotomia, para a
exposição do coração (MUIR et al, 2001).
37
A velocidade e administração de líquidos durante a cirurgia é
de 10 a 20 ml.kg- 1
/h- 1
, para velocidades abaixo de10ml/h será
necessário uma bomba de infusão, para a garantia da precisão
(MUIR et al, 2001).
2.8 ANALGESIA
Os répteis possuem um sistema nervoso central bem
desenvolvido e sentem dor quando são realizados procedimentos
dolorosos. A avaliação da dor em serpentes é um desafio, pois
esses animais não têm pernas nem movimentos palpebrais,
portanto não são possíveis a avaliação da retração de membros e
dos reflexos palpebral e corneal. O recolhimento ou movimento da
língua e o reflexo ao pinçamento da cauda e da cloaca são usados
para estimar analgesia e efeitos anestésicos nestes animais.
(GREENE, 2004).
Condições consideradas dolorosas para humanos e outros
mamíferos devem ser consideradas dolorosas em todas as
espécies de vertebrados (SLADKY; KINNEY e JOHNSON, 2008).
O butorfanol droga analgésica mais utilizada como
analgésico em répteis, administrado pela via IM em altas doses
(20 mg.kg- 1
) proporcionou efeito analgésico em serpentes (READ,
2004; SLADKY; KINNEY e JOHNSON, 2008). Este fármaco é
utilizado em combinação com a medetomidina para se obter
resultados consistentes de analgesia (GREENE, 2004).
Read (2004) em seu trabalho entrevistou 165 médicos
veterinários, que residiam na América do Norte e trabalhavam com
animais selvagens, sobre o uso de analgésicos em répteis e
concluiu que o analgésico mais utilizado por estes veterinários é o
antiinflamatório não-esteroidal.
O conhecimento do comportamento normal da espécie é
importante para identificar alterações relacionadas a dor
(SLADKY,2008).
38
Providenciar adequado manejo da dor para animais tem se
tornado muito importante para veterinários e pesquisas recentes
tem sido direcionadas para criar métodos de identificação de dor
animal (READ, 2004).
39
3 CONSIDERAÇÃO FINAL
O conhecimento dos aspectos abordados nesta revisão
possibilita ao anestesiologista veterinário realizar procedimentos
anestesiológicos com segurança em serpentes, pois é necessário
o conhecimento sobre características anatômicas e diferenças
fisiológicas comparadas aos mamíferos. Além disso, o uso de
répteis como animais de experimentação também tem aumentado
e com isso o uso da anestesia torna-se mais comum nesses
animais. A contenção física é econômica e bastante utilizada, mas
não fornece anestesia e nem analgesia e condições dolorosas
para humanos e outros mamíferos devem ser considerados
dolorosos em todas as espécies de vertebrados. Desta forma, se
torna desumano a prática de procedimentos que sabidamente
causam dor sem anestesia, e isso demonstra mais uma vez a
importância do conhecimento sobre comportamento dessas
espécies e fármacos que podem ser utilizados pelos médicos
veterinários.
40
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Anestesia em serpentes: revisão de características e técnicas

  • 1. FACULDADE DE JAGUARIUNA INSTITUTO BRASILEIRO DE VETERINÁRIA SABRINA KOLLING LEE DA ROCHA ANESTESIA EM SERPENTES RIO DE JANEIRO 2010
  • 2. SABRINA KOLLING LEE DA ROCHA ANESTESIA EM SERPENTES Monografia apresentada para obtenção do título de especialista Latu Sensu em Anestesiologia Veterinária da Faculdade de Jaguariuna em convênio com o Instituto Brasileiro de Veterinária, sob orientação do Prof. Dr. Fabio Otero Ascoli RIO DE JANEIRO
  • 3. ANESTESIA EM SERPENTES SABRINA KOLLING LEE DA ROCHA Monografia apresentada para obtenção do título de especialista Latu Sensu em Anestesiologia Veterinária da Faculdade de Jaguariuna em convênio com o Instituto Brasileiro de Veterinária, sob orientação do Prof. Dr. Fabio Otero Ascoli BANCA EXAMINADORA Dr. Rodrigo Luiz Marucio Doutorando/FMVZ – USP - SP Dr. Antônio José de Araújo Aguiar Prof. Doutor/FMVZ – UNESP - BOTUCATU Dr. Adriano Bonfim Carregaro Prof. Doutor/USP – Pirassununga - SP CONCEITO FINAL: ____________ DATA: _____ / _____ / __________
  • 4. DEDICATÓRIA A Solange Kolling Lee da Rocha, Maria Zélia Baratta Kolling e Bruno Kolling Lee da Rocha, minha mãe, minha avó e meu irmão, as pessoas mais queridas e mais importantes da minha vida, que muito me apoiaram e me incentivaram em mais uma longa caminhada. A minha amiga Maria Alice Gress que esteve sempre presente me dando força e incentivo. André Luiz Lopes de Figueiredo, meu companheiro, que com muito amor e paciência me ajudou a ter tranqüilidade para concluir essa jornada.
  • 5. AGRADECIMENTOS: Agradeço primeiramente a Deus, por me dar saúde e condições permitindo que eu complete mais essa conquista. Ao meu orientador, Dr. Fábio Otero Ascoli que com sua dedicação e paciência me orientou nesse trabalho monográfico.
  • 6. Podemos muito bem nos perguntar: O que seria do homem sem os animais? Mas não o contrário: O que seria dos animais sem os homens? Man kann gar wohl fragen: Was wäre der mensh ohne die tiere? A ber nicht umgekehrt: Was wären treri ohne den menschen? CH. F. Hebbel (poeta e dramaturgo alemão, 1813 – 1863) diários, 1857.
  • 7. Rocha, Sabrina Kolling Lee Anestesia em serpentes – Revisão de literatura Sabrina, K. L. Rocha. Rio de Janeiro 2010 – 24 – 07 45 F., enc. Monografia de Conclusão do Curso de Pós Graduação (latu sensu) ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA – Rio de Janeiro, 2010. Bibliografia: f. 40 – 45 1. Anestesia, 2. Analgesia, 3. Répteis; 4. Serpentes PAV – Pós Anestesia Veterinária
  • 8. RESUMO As serpentes tem se tornado muito populares como animais de estimação, sendo criadas por um número crescente de herpetologistas, além de serem também animais de experimentação. Para realizar exames físicos, testes diagnósticos e procedimentos cirúrgicos é necessário o uso de anestesia. Por isso os veterinários precisam obter conhecimentos sobre características anatômicas e as diferenças fisiológicas comparadas aos mamíferos para realizar procedimentos anestesiológicos seguros nesses animais, além de conhecer medidas que minimizem o estresse e a dor, uma preocupação cada vez mais freqüente para os médicos veterinários atuais. O presente trabalho teve como objetivo rever características anatômicas e fisiológicas, utilização de fármacos injetáveis e inalatórios, monitoramento e analgesia em serpentes. O conhecimento dos aspectos abordados nesta revisão possibilita ao anestesiologista veterinário realizar procedimentos anestesiológico com segurança nesses animais. Palavras-chaves: 1. Anestesia, 2. Analgesia, 3. Répteis, 4. Serpentes.
  • 9. ABSTRACT Snakes have become very popular as pets, being created by a growing number of herpetologists, and also as animals of experiment. To perform physical examinations, diagnostic tests and surgical procedures require the use of anesthesia. That is why veterinarians need to gain knowledge about anatomical and physiological differences compared to mammals to perform procedures anesthesiologic insurance in these animals and learn about measures to minimize the stress and pain, an increasingly common concern for the veterinarians present. This study aimed to review anatomical and physiological characteristics, use of injectable and inhaled drugs, monitoring and analgesia in snakes. Knowledge of the issues addressed in this review enables the anesthesiologist to perform veterinary anesthetic procedures safely in these animals. Key words: 1. Anesthesia, 2. Analgesic, 3. Reptiles, 4. Snakes.
  • 10. SUMÁRIO 1 – INTRODUÇÃO ........................................................................................... 14 2 – REVISÃO DE LITERATURA ...................................................................... 17 2.1 – CONTENÇÃO FÍSICA ............................................................................ 17 2.2 – ANATOMIA E FISIOLOGIA .................................................................... 18 2.2.1 – CARACTERÍSTICAS GERAIS ............................................................. 18 2.2.2 – SISTEMA RESPIRATÓRIO ................................................................. 19 2.2.3 – SISTEMA CARDIOVASCULAR ........................................................... 21 2.2.4 – SISTEMA PORTA RENAL ................................................................... 22 2.2.5 – PARTICULARIDADES ......................................................................... 22 2.3 – FÁRMACOS INJETÁVEIS ...................................................................... 23 2.3.1 – CETAMINA .......................................................................................... 23 2.3.2 – TILETAMINA-ZOLAZEPAN ................................................................. 25 2.3.3 – MEDETOMIDINA ................................................................................. 25 2.3.4 – PROPOFOL ......................................................................................... 26 2.3.5 – BARBITÚRICOS .................................................................................. 26 2.3.6 – ANESTÉSICOS LOCAIS ..................................................................... 27 2.3.7 – OPIÓIDE .............................................................................................. 27 2.3.8 – BLOQUEADORES NEUROMUSCULARES ........................................ 28 2.3.9 – ALFAXOLONA E ALFADOLONA ........................................................ 28 2.4 – FÁRMACOS INALATÓRIOS .................................................................. 29 2.4.1 – HALOTANO ......................................................................................... 29 2.4.2 – ISOFLURANO ...................................................................................... 30 2.4.3 – SEVOFLURANO ................................................................................. 31 2.4.4 – RECUPERAÇÃO ................................................................................. 31 2.5 – PLANO ANESTÉSICO ............................................................................ 31
  • 11. 2.6 – ANESTESIA BALANCEADA ................................................................... 32 2.7 – MONITORAMENTO ................................................................................ 32 2.8 – ANALGESIA ............................................................................................ 37 3 – CONSIDERAÇÃO FINAL ........................................................................... 39 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 40
  • 12. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Jararacuçu em tubo de contenção................................................... 18 Figura 2 - Intubação endotraqueal em Jararacuçu........................................... 20 Figura 3 - Utilização de Doppler ultrasônico em Jararacuçu ............................ 34 Figura 4 - Utilização de Doppler ultrasônico em Jararacuçu ............................ 34 Figura 5 - Sensor do oxímetro posicionado na região vestibular de cascavel (Crotalus durissus) ........................................................................................... 35 Figura 6 - Utilização de cardioscópio em Jararacuçu....................................... 36 Figura 7 - Utilização de cardioscópio em Jararacuçu....................................... 36
  • 13. LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS - IC = Intracardíaca - IM = Intramuscular - IV = Intravenoso - SC = Sub cutâneo -VO= Via Oral
  • 14. 14 1 INTRODUÇÃO Os répteis estão se tornando muito populares como animais de estimação (GREENE, 2004), além de serem encontrados em zoológicos (READ, 2004). Dentre os répteis, as serpentes têm sido criadas por um número crescente de herpetologistas privados e pessoas que as criam como animais de estimação. Entre as espécies de serpentes, os boídeos (boas e pítons) e os colubrídeos (cobras de ratos – rat snakes; cobra do milho – corn snakes; cobra – rei – King snakes) são as mais comumente mantidas como animais de estimação. Conseqüentemente, os veterinários precisam obter conhecimentos sobre o manejo adequado das espécies, as características anatômicas e as diferenças fisiológicas comparada aos mamíferos, para realizar procedimentos anestesiológicos seguros nesses animais (SCHUMACHER, 1996; GREENE, 2004). A contenção física isolada é a forma mais econômica e rápida de imobilizar esses animais, porém não fornece analgesia, e consequentemente, provoca sofrimento quando realizam-se procedimentos dolorosos. Além disso, alguns répteis quando mordem são capazes de mutilar ou matar o manipulador (HEARD, 2001). Em serpentes, a realização de exames clínicos e procedimentos cirúrgicos requer contenção química e anestesia (W EST et al, 2007), assim como coleta de sangue e diagnóstico por imagem (READ, 2004). Além disso, quando a contenção física apresenta risco a equipe, a contenção química é recomendada (W EST et al, 2007). Para a administração oral de drogas pode ser necessário o uso de anestesia geral para as serpentes mais agressivas. E existem vários casos em que a anestesia geral é necessária para evitar a contenção física (JACKSON, 1974). O uso de répteis como animais de experimentação também tem aumentado e com isso o uso da anestesia torna-se mais comum nesses animais (LAW RENCE, 1983).
  • 15. 15 Diversos fármacos, doses e técnicas anestésicas são utilizadas em répteis e o sucesso da anestesia nesses animais depende da experiência, habilidade e conhecimento do anestesiologista veterinário. A morfologia e a fisiologia dos répteis diferem em muitos aspectos da anatomia e fisiologia dos mamíferos (SCHUMACHER, 1996), A paciência, o planejamento e o conhecimento da anatomia e fisiologia do réptil saudável e doente são fundamentais para a realização de um adequado procedimento anestesiológico (HEARD, 2001). Outro ponto importante é a monitorização dos parâmetros vitais durante um procedimento anestesiológico, pois fornece informações que possibilitam avaliar o plano anestesiológico e controlar de forma segura a oferta de anestésicos (SCHUMACHER, 1996). Nas últimas décadas, os médicos veterinários e seus clientes passaram a se preocupar com a dor e seus efeitos adversos que interferem na qualidade de vida dos animais (HELLYER, 1999a). Em função disto, houve uma evolução gradual nas atitudes dos novos veterinários, que passaram a utilizar mais analgésicos nos pacientes, principalmente na dor pós-operatória (DOHOO e DOHOO, 1996, CAPNER et al, 1999, LASCELLES et al, 1999), embora o uso ainda seja relativamente baixo (FLECKNELL, 2008). Todo animal é capaz de sentir dor, embora em muitos casos seja difícil realizar avaliação de dor em pacientes répteis. Outro benefício da utilização de fármacos analgésicos no período pré e trans-operatório, é a redução na quantidade de anestésico geral necessário para obter anestesia cirúrgica (SCHUMACHER, 1996). Com o aumento das realizações de cirurgias em serpentes, um adequado manejo da dor nesses animais é uma preocupação para os médicos veterinários (READ, 2004). Sobrevivência no período pós-operatório imediato é uma inadequada forma de avaliar a segurança e o sucesso do procedimento anestesiológico em répteis, pois estes são mais
  • 16. 16 resistentes e capazes de sobreviver a perturbações fisiológicas (ex: hipoxemia severa) que matariam rapidamente um mamífero. (HEARD, 2001). O objetivo desta revisão de literatura foi descrever aspectos importantes a considerar na realização de procedimentos anestesiológicos seguros em serpentes, que são: contenção física e outras formas de contenção, diferenças anatômicas e fisiológicas da espécie, fármacos injetáveis e inalatórios, anestesia balanceada, monitoramento e analgesia.
  • 17. 17 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 CONTENÇÃO FÍSICA Aproximadamente 15% das 3000 espécies de cobras são consideradas perigosas para humanos (BOYER, 2006). Sob o ponto de vista biológico, devem ser consideradas peçonhentas todas as serpentes possuidoras de glândulas capazes de secretar substância ou substâncias tóxicas, independentemente da capacidade de inocular ou da importância médica. Os longos dentes (presas) são importantes na inoculação de veneno numa presa (BENEDITO BARRAVIERA, 1999). A contenção física é econômica e bastante utilizada, porém não fornece analgesia. A realização de procedimentos dolorosos, sem a preocupação com um método eficaz de analgesia é uma prática desumana, mesmo que os animais não expressem nenhuma reação durante a realização desses procedimentos (HEARD, 2001). Experiência e conhecimento do comportamento da serpente e sua reação a estímulos, ajuda na elaboração de estratégias com os melhores métodos para usar em um determinado procedimento (W EST et al, 2007). Para a manipulação segura de répteis venenosos, especialmente serpentes, é fundamental o conhecimento de ferramentas e técnicas de contenção, como: ensacamento, recipientes de manipulação, ganchos, pinças, tubo transparente de contenção, caixa de transporte e caixa prensa (BOYER, 2006). Embora os métodos citados anteriormente sejam utilizados por manipuladores profissionais de serpentes na extração de veneno, estes aumentam o risco de picada, além de aumentar a probabilidade de ferir o animal. Os métodos de contenção mais utilizados são tubos de contenção (Fig. 2), caixa prensa e anestesia (W EST et al, 2007). É fundamental que o diâmetro do tubo seja pequeno o suficiente para que a serpente não possa
  • 18. 18 girar no tubo (BOYER, 2006). Alicates e pinças devem ser utilizados como último recurso em caso de emergência, devido ao seu potencial de ferir o animal (W EST et al, 2007). Além do que a contenção da cabeça por meio de pinças e ganchos não necessariamente previne que o manipulador seja mordido (HEARD & STETTER, 2007). Figura 1 - Jararacuçu em tubo de contenção Nos acidentes com serpentes são freqüentes fenômenos como dor local, edema, hemorragias locais e sistêmicas, distúrbio de coagulação sanguínea, choque cardiovascular e necrose cortical renal. As mionecroses também são freqüentes nos envenenamentos botrópicos (DOS SANTOS et al,1992). 2.2 ANATOMIA E FISIOLOGIA 2.2.1 Características Gerais: As serpentes constituem um grupo de répteis reconhecível principalmente pelo longo corpo flexível essencialmente sem patas, e pelas modificações que permitem a ingestão de grandes
  • 19. 19 animais. Não possuem cintura escapular e pálpebras móveis (BENEDITO BARRAVIERA, 1999). Os olhos são cobertos por uma escama convexa transparente e fina (o óculo), que sai com a pele quando a serpente troca de pele (BIRCHARD e SHERDING, 1998). Não possuem tímpano ou abertura externa de ouvido (BENEDITO BARRAVIERA, 1999), e possui um ouvido interno (BIRCHARD e SHERDING, 1998). Constituem um grupo altamente especializado e são exclusivamente carnívoras (BENEDITO BARRAVIERA, 1999). As serpentes usam sua língua para explorar o ambiente e suas pontas captam partículas odoríferas e as colocam em contato com as “papilas gustativas” do órgão de Jacobson, que se situam no céu da boca (BIRCHARD e SHERDING, 1998). Possuem seis fileiras de dentes, quatro no maxilar superior (presas ao osso maxilar e palatino) e duas no maxilar inferior (uma em cada mandíbula). Todos os dentes incluindo as presas venenosas podem cair e ser repostos por toda a vida da cobra. O estômago e o fígado possuem formato fusiforme e, em todas as espécies o fígado possui vesícula biliar. O baço está ligado freqüentemente ao pâncreas, que se localiza ao lado do duodeno (BIRCHARD e SHERDING, 1998). 2.2.2 Sistema respiratório Ao contrário dos mamíferos, a glote dos répteis está sob controle muscular voluntário do músculo dilatador da glote. Em serpentes, a traquéia é composta por anéis cartilaginosos incompletos em forma de C, que permite o colapso parcial durante a alimentação (GREENE, 2004) A glote localiza – se na base da língua (MUIR et al, 2001) e a intubação endotraqueal (Fig. 2) deve ser realizada com tubo endotraqueal sem balonete ou com tubo endotraqueal com balonete inflado somente o suficiente para selar efetivamente, quando é usada a ventilação controlada. Isso porque a mucosa da
  • 20. 20 traquéia é facilmente lesionada nessas espécies (GREENE, 2004). É necessário cuidado especial para répteis que pesam menos de 100 g para evitar traqueíte induzida pelo tubo (MUIR et al, 2001). Burke e W all (1977) observaram uma suave hemorragia oral em cascavéis jovens no momento da retirada do tubo endotraqueal quando foi realizado o procedimento de retirada da glândula de veneno. Figura 2 - Intubação endotraqueal em Jararacuçu A anatomia dos pulmões das serpentes apresenta grande variedade. A maioria das serpentes possui o pulmão direito desenvolvido e funcional, enquanto o pulmão esquerdo é vestigial (CALDERW OD, 1971; HEARD, 2001). Entretanto as boideas (boas e pítons) apresentam ambos os pulmões desenvolvidos. Existem duas regiões nos pulmões das serpentes: o pulmão vascular e o saco aéreo. O pulmão vascular localiza-se na parte anterior do corpo e apresenta grande superfície de troca gasosa. (HEARD, 2001) Serpentes apresentam sacos aéreos caudais que retém o ar durante a respiração, mas não estão envolvidos nas trocas gasosas. Conseqüentemente a superfície de trocas gasosas é
  • 21. 21 menor em répteis do que em mamíferos, embora a quantidade de ar inspirado seja maior (GREENE, 2004). Os répteis não possuem diafragma (BIRCHARD e SHERDING, 1998) ou uma verdadeira cavidade torácica. Estes animais podem apresentar dois padrões respiratórios distintos: 1) movimento respiratório único separado por período de inspiração mantida; e 2) fases de consecutiva ventilação seguida por períodos longos de apnéia com duração de poucos minutos até mais de uma hora (W ang et al., 1998). O limiar de hipóxia é aumentado quando ocorre aumento da temperatura corporal da serpente (HEARD, 2001). 2.2.3 Sistema cardiovascular Possuem um coração com três câmaras, dois átrios e um ventrículo, mas funcionalmente o coração é dividido em cinco câmaras (Pough et al,1998, apud Lumb & Jones’, 2007) porque o ventrículo nessas espécies é ainda subdividido em cavum venosum, cavum pulmonale e cavum arteriosum (W EST et al, 2007). Essa divisão do ventrículo em três câmaras minimiza a mistura do sangue oxigenado com o não oxigenado. Todos os répteis apresentam duas aortas surgindo do ventrículo ou dos ventrículos. A presença de subdivisões ventriculares e de duas comunicantes aórticas permite ao réptil redirecionar o fluxo de sangue e desviar o mesmo para fora dos pulmões. Esse desvio é uma adaptação decorrente da evolução para viver em ambientes com pouco oxigênio e em ambientes aquáticos. A habilidade de desvio pulmonar e a retenção da respiração podem resultar em tempos de indução bastante prolongados, se forem usadas máscaras faciais ou câmara de indução (GREENE, 2004). Muitos répteis são fisiologicamente capazes de sobreviver a severa hipoxemia e hipotermia, o que facilmente mataria outros vertebrados (HEARD & STETTER, 2007).
  • 22. 22 O coração das serpentes está localizado a um quarto do sentido descendente do comprimento da cobra. A freqüência cardíaca varia com a espécie e a temperatura corporal, mas pode variar entre 40 a 70 batimentos por minuto (BIRHCARD e SHERDING, 1998). A posição do coração é influenciada pelo estilo de vida. As serpentes arborígenas apresentam o coração mais cranial que as terrestres e as aquáticas (ordem decrescente da posição do coração: arborígena < terrestre < aquática) (HEARD, 2001, n20). As nuances da fisiologia cardiovascular em serpentes, podem contribuir para um desafio na mensuração da pressão arterial precisa e em répteis a avaliação da pressão arterial invasiva é complicada por falta de vasos superficiais, o qual necessita de acesso cirúrgico para canulação de uma artéria. (CHINNADURAI et al, 2009). O Doppler pode ser utilizado ao posicionar o sensor sobre artéria periférica, entretanto só é possível avaliar a presença de fluxo e a freqüência dos batimentos cardíacos (MUIR et al, 2001). 2.2.4 Sistema porta renal A excreção renal é influenciada pelo sistema porta renal, que drena diretamente o sangue venoso da parte caudal do corpo através dos rins antes de retornar para a circulação sistêmica. A excreção renal de anestésicos injetáveis largamente usados como a cetamina pode produzir resultados variáveis quando administrada na parte caudal do corpo. A administração de fármacos nefrotóxicos pode apresentar potencial de acumulação nos rins e induzir o comprometimento renal. (GREENE, 2004). 2.2.5 Particularidades Na anestesia em répteis existem alguns problemas que não são encontrados nos mamíferos. Um dos mais importantes é a
  • 23. 23 menor taxa metabólica, o que resulta prolongada duração de ação de anestésicos injetáveis e, conseqüentemente, recuperação prolongada que pode chegar até dois dias (CALDERWOOD, 1971). Importante lembrar que répteis carnívoros ingerem a presa inteira, logo é necessário jejum alimentar de mais de cinco dias antes de realizar um procedimento anestesiológico (MUIR et al, 2001). 2.3 FÁRMACOS INJETÁVEIS Os fármacos usados para anestesiar animais selvagens são os mesmos utilizados para animais domésticos. Todos os agentes injetáveis e inalatórios têm sido usados satisfatoriamente. Certamente alguns agentes devem ser mais adequados para determinadas espécies do que outras, mas a familiaridade do anestesista com os agentes anestésicos certamente é mais importante do que a escolha de um fármaco (FOW LER, 1974). As vias de administração de fármacos utilizadas em répteis são via intravenosa (IV), intraperitonial (IP), intramuscular (IM), e intracardíaca (IC) (CALDERW OOD, 1971). Não se recomendam as injeções IC devido ao potencial de traumatismo, no entanto, a via IC é útil para administração de fármacos de eutanásia (BIRCHARD e SHERDING, 1998). A via intramuscular tem sido relatada em serpentes, mas a falta de massa muscular pesada exige a necessidade de pequenos volumes ou administrar em vários lugares (CALDERWOOD, 1971). Os fármacos pré-anestésicos raramente são indicados, exceto em répteis grandes, agressivos ou venenosos. Dentre estes fármacos, a atropina não é indicada na presença de secreções respiratórias, pois a torna mais viscosa (MUIR et al, 2001). 2.3.1 Cetamina
  • 24. 24 A cetamina é muito utilizada para imobilização e captura de animais selvagens (ADDISON, 1977 apud LUMB & JONES’, 2007) e historicamente tem sido o fármaco injetável mais comumente usado para muitas espécies de répteis (READ, 2004). Pode ser aplicada com ampla margem de segurança em animais sadios, reduzindo assim a necessidade de estimar o peso com precisão (GREEN et al., 1981). Apesar desta característica se utilizado em répteis debilitados, pode levar a morte ou pode causar um retorno prolongado de até seis dias (LAW RENCE, 1983). A cetamina pode ser administrada pela via intramuscular, intravenosa ou oral e suas maiores desvantagens são promover recuperação prolongada, pobre relaxamento muscular e inadequada anestesia quando utilizada sozinha (HEARD, 2001). Diferentes doses de cetamina foram utilizadas em serpentes em diversos estudos e estas variaram de 60mcg. Kg- 1 a 131mg. kg- 1 . Nestes estudos foram utilizadas diferentes vias de administração para diferentes finalidades como: coleta de veneno, anestesia e cirurgia (Peters, 1977; Harding, 1977; Patterson, 1979; Rosenberg, 1992). Para a coleta de veneno foi utilizado a cetamina nas doses de 60 mcg. kg no estudo realizado por Rosenberg (1992) e 131 mg.kg-1 no estudo de Harding (1977). Já em estudos de anestesia foram utilizadas as doses de 10 a 66 mg.kg- 1 , e observou-se um período de recuperação prolongada, . Nesses estudos, os animais demoraram de 24 a 72 horas para retornar as suas atividades normais (Jackson 1976; Harding, 1977; Peters, 1977) A recuperação pode ser mais lenta em indivíduos idosos e doentes e a doses para esses animais deve ser ajustada de acordo com a idade e o estado clínico do animal. Além disso, a temperatura é um fator importante, pois influencia o metabolismo dos fármacos anestésicos (JONES, 1977). Hill e Mackessy (1997) observaram que todas as serpentes dos seus experimentos se recuperaram dos efeitos da cetamina sem efeitos nocivos.
  • 25. 25 Jackson observou que muitos répteis, particularmente as serpentes, tornaram – se permanentemente agressivas depois do retorno da anestesia com cetamina. Este comportamento sugere que a serpente de alguma maneira é afetada durante o estado de catalepsia, e com isso reage como se fosse ser atacada ao ser manipulada sob efeito desse fármaco (LAW RENCE, 1983). Uma boa estratégia para evitar a sobredose durante a anestesia com cetamina em serpentes é administrar metade da dose calculada e, então, tomar a decisão quanto a administração da outra metade de anestésico remanescente. Patterson e colaboradores (1979) utilizaram cetamina 15 mg.kg- 1 IP para realização de cirurgia em uma píton, entretanto não foi obtido plano cirúrgico com esta dose. Foi utilizado outra dose de 15 mg.kg- 1 para conseguir plano superficial de anestesia, e a realização de cirurgia só foi possível quando foi completada a dose total de cetamina de 37,5 mg.kg- 1 . O único inconveniente deste método é o aumento no tempo gasto para se realizar a anestesia (GREENE, 2004). 2.3.2 Tiletamina-zolazepam Esta associação, quando administrada na dose de 3 a 4 mg.kg- 1 pela via IM, promoveu imobilidade completa após 30 - 40 minutos e contribuiu para analgesia (HEARD, 2001). Jekl e Knotek (2006) utilizaram tiletamina-zolazepam na dose de 3 a 8 mg.kg- 1 para anestesiar serpentes com o comportamento agitado ou agressivo para realização de endoscopia. 2.3.3 Medetomidina A medetomidina oferece muitas vantagens quando usada em repteis, ela proporciona sedação profunda, relaxamento muscular e analgesia (GREENE, 2004).
  • 26. 26 A medetomidina tem sido utilizada (40 a 160 mg/kg, IM) em associação com opióides para promover anestesia e analgesia durante procedimentos cirúrgicos. O uso de medetomidina (80 mcg. kg- 1 ) em combinação com a quetamina (5 mg.kg- 1 ) em várias espécies de répteis, incluindo cobra amarela de ratos (yellow rat snakes) e píton bermuse, tem tido sucesso. (GREENE, 2004). Jekl e Knotek (2006) utilizaram medetomidina na dose de 0,1 a 0,25 mg.kg- 1 associada a cetamina na dose de 5 a 20 mg.kg- 1 para anestesiar serpentes com comportamento agitado ou agressivo para realização de endoscopia 2.3.4 Propofol O propofol possui início de ação rápido devido a rápida absorção no sistema nervoso central, duração curta e recuperação suave (ZORAN e RIEDESEL, 1993 apud LUMB & JONES, 2007). Ele apresenta qualidade anestésica melhor do que a barbitúrica, pois, além de ser empregado em pacientes de alto risco com uma margem de segurança superior aos demais agentes indutores, permite recuperação isenta de reações adversas (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). A dose de administração é de 5 a 7 mg.kg- 1 (MUIR et al, 2001) pela veia coccígea para realização da indução anestésica, após a contenção física no tubo (WEST et al, 2007). A utilização de propofol pela via intravenosa permite uma indução com segurança e duração de anestesia curta. Este fármaco proporciona uma recuperação completa mais rápida que outros anestésicos injetáveis gerais (READ, 2004). 2.3.5 Barbitúricos Os barbitúricos são amplamente usados em répteis e a dose depende do agente específico, via de administração, espécie, tempo anestésico e temperatura ambiental. Quando serpentes são
  • 27. 27 anestesiadas com barbitúricos são colocadas sob lâmpadas e algumas se recuperam no período de 10 – 15 minutos. Essa rápida recuperação pode ser devido aos aumentos na taxa metabólica e na freqüência cardíaca, com subseqüente redistribuição do fármaco (CALDERWOOD, 1971). O tiopental sódico na dose de 16 a 25 mg.kg- 1 administrado pela via intraperitoneal em serpentes, promove anestesia superficial com duração de 25 – 40 minutos. O Pentobarbital apresenta efeitos similares na dose de 15 – 50 mg.kg- 1 . A maior desvantagem da utilização desses fármacos para o profissional é que o mesmo deverá ter algum conhecimento da anatomia do réptil para realizar administração intraperitoneal e em muitos casos a indução pode demorar até seis horas e a recuperação pode demorar de dois a três dias (JONES, 1977). Não existe diferença na indução e recuperação entre tiopental e pentobarbital (CALDERW OOD, 1971). 2.3.6 Anestésicos locais A pele dos répteis é muito sensível a estímulo doloroso e por isso o uso de anestésico local como a lidocaína 2% para remover abscessos, reparar lacerações de pele e outros procedimentos menores é recomendado. Em serpentes venenosas, o anestésico local sozinho não é seguro e por isso é necessário adicionar drogas para imobilizar o paciente (LUMB & JONE`S, 1996). 2.3.7 Opióides Etorfina é um opióide que pode ser usado em muitas espécies e o tempo de indução e duração da imobilização é dose dependente (LUMB & JONES, 2007). Este fármaco foi usado em serpentes na dose de 1,0 - 3,0 mg.kg- 1 e se obteve analgesia e relaxamento muscular, o que permitiu a realização de cirurgia superficial. Essa dose é bem alta em comparação ao que é usada
  • 28. 28 em mamíferos, desta forma a utilização deste fármaco não é prático ou econômico para o uso extensivo em répteis (JONES, 1977). Etorfina foi administrada na dose de até 5 mg.kg- 1 e não apresentou efeito (CALDERW OOD, 1971). 2.3.8 Bloqueadores neuromusculares Bloqueadores neuromusculares não possuem nenhum efeito analgésico ou anestésico, logo não devem ser utilizados sozinhos. Além disso, é necessária disponibilidade de equipamentos e material para ventilação artificial. A tubocurarina foi usada em Colubrides Australianas e em uma Píton nas doses de 6 mg.kg- 1 e 1,8 mg.kg- 1 , respectivamente e demorou de 60 a 85 minutos para produzir paralisia nessas espécies. A dose alta para paralisar as Colubrides foi atribuída a alta imunidade do veneno desta, pois o veneno no homem parece exercer uma ação curarizadora (CALDERW OOD, 1971). 2.3.9 Alfaxolona e Alfadolona Trata–se de uma associação de dois esteróides: 3-hidroxi-5- pregnano-1,20-diona (alfadolona) e 21-acetoxi-hidroxi-5-pregnano- 11,20-diona, estruturalmente semelhante à progesterona (alfaxolona). (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). O seu uso em lagartos e quelônios promove desde sedação à anestesia profunda, porém em serpentes, promoveu efeitos variados, que foram desde a nenhum até anestesia profunda. Parece que a ausência de efeitos nas serpentes foi devido à administração subcutânea, pois em gatos e macacos alfaxolona e alfadolona não são efetivos quando realizados por esta via. O tempo de indução variou entre 25 e 40 minutos, com um plano cirúrgico de anestesia com duração de 15 a 35 minutos. Não foram observadas depressão cardíaca ou respiratória, nem reação local no lugar da
  • 29. 29 administração intramuscular em nenhum dos répteis em que esse fármaco foi empregado. (LAW RENCE, 1983). 2.4 FÁRMACOS INALATÓRIOS Anestesia inalatória é bastante utilizada para manutenção anestésica em animais. Sua popularidade cresceu devido as suas características farmacocinéticas que permite uma previsível e rápida mudança de plano anestésico. Entretanto, estes fármacos quando utilizados, necessitam de materiais específicos, como fonte de oxigênio, vaporizador, circuito anestésico, tubo endotraqueal ou máscara facial, entre outros. Estes materiais minimizam a morbidade e mortalidade dos pacientes, pois facilitam a ventilação pulmonar e oxigenação arterial (Steffey & Mama, 2007). Uma variedade de recipientes para serpentes venenosas podem ser usados, como câmara de Hiss e tubos transparentes. Estes recipientes permitem a observação da serpente no momento da indução. Além disso, serpentes contidas em sacos de pano, próprios para estes animais, podem ser colocados dentro de uma câmara de Hiss e o plano anestésico pode ser julgado pela diminuição do movimento da serpente dentro do saco (W EST at al, 2007). Heard (2001) prefere utilizar indução anestésica na câmara de Hiss com isoflurano em serpentes venenosas. Para saber se uma serpente está seguramente anestesiada, deve-se observar a perda da resposta a estimulação tátil e inibição do movimento da língua (WEST et al, 2007). No caso de uma cascavel a abolição do reflexo barulhento é um guia útil para sedação (HARDING, 1977). 2.4.1 Halotano Na maioria dos répteis, indução anestésica com halotano é conseguida com a utilização de 3 a 5% diluído em oxigênio. Para
  • 30. 30 a manutenção anestésica, a concentração do halotano necessária normalmente é de 1,5 a 2,5% (SHUMACHER, 1996). As serpentes podem ficar em apnéia por tempo prolongado, o que aumenta o tempo de indução quando se utiliza anestésicos inalatórios. A manutenção da anestesia com halotano tem o seu valor e para assegurar níveis adequados desse fármaco durante a anestesia, o mesmo deve ser ofertado através de um tubo endotraqueal (LAW RENCE, 1983). O tempo de indução com halotano em uma variedade de serpentes foi de 2 a 28 minutos (BURKE e W ALL, 1977). É possível promover anestesia leve colocando-se o réptil dentro de uma caixa ou jarra de vidro, com um pedaço de algodão embebido em halotano. O período necessário para anestesiar o animal é em torno de três a cinco minutos. Em serpentes pequenas, a utilização desse método é uma boa estratégia devido a dificuldade de pesar e ou administrar fármacos injetáveis nesses animais (JONES, 1977). O halotano foi utilizado em serpentes venenosas para permitir uma manipulação segura durante a coleta de veneno, e o tempo de recuperação nunca excedeu 10 minutos. O óxido nitroso foi utilizado associado ao halotano para anestesiar serpentes e o tempo necessário para a indução em Colubrides foi de 20 a 30 minutos quando 72% de óxido nitroso foi utilizado com 4% de Halotano (CALDERW OOD, 1971). 2.4.2 Isoflurano A administração de isoflurano resulta em rápida indução e rápida recuperação (READ, 2004). A maioria dos répteis com menos de 500g pode ser induzida por meio de tubo de contenção e ou câmara de Hiss com a utilização de isoflurano 2 a 4% (MUIR et al, 2001). Para realização de endoscopia em serpente foi utilizado isoflurano 5% para indução e 2 – 4% para manutenção (JEKL e KNOTEK, 2006).
  • 31. 31 2.4.3 Sevoflurano A administração de sevoflurano também resulta em rápida indução e recuperação na maioria dos répteis. Atualmente o isoflurano parece ser o padrão na prática anestésica, mas com o aumento do número de pesquisas sobre a eficácia e segurança do sevoflurano em répteis, este pode se tornar cada vez mais comum na prática anestesiológica destes animais (READ, 2004). O isoflurano ou o sevoflurano são os anestésicos inalatórios de escolha em serpentes (MUIR et al, 2001). 2.4.4 Recuperação Durante o período de recuperação é essencial que seja ofertado oxigênio até o plano anestésico ficar mais superficial e a serpente deve ser mantida a uma temperatura de vinte e quatro graus até a recuperação completa (JACKSON, 1974). O período de ventilação ou recuperação deve ser longo quando o agente usado possui um alto coeficiente de solubilidade em tecido e lipídeos, como o éter e o metoxiflurano (CALDERW OOD, 1971). A recuperação com o isoflurano geralmente é de 20 minutos para procedimentos com duração inferior a uma hora. A ventilação a pressão positiva intermitente deve ser continuada até que o animal ventile espontaneamente de forma regular. O ar ambiente ou o ar exalado podem ser usados para aumentar a concentração de dióxido de carbono e com isso estimular a ventilação. Se houver apnéia, pode ser realizado a administração do doxapram na dose de 5 mg.kg- 1 –IV –VO ou IM (MUIR et al, 2001). No estudo realizado por Soares e colaboradores (2002), todos animais foram extubados após apresentar ventilação espontânea e início dos movimentos de língua. 2.5 PLANO ANESTÉSICO
  • 32. 32 O plano anestésiológico pode ser avaliado pelas contrações musculares corporais e pelos movimentos da língua (Soares et al., 2002). De acordo com Heard (2001), o relaxamento muscular produzido pelos anestésicos inalatórios começa na porção cranial e conforme a profundidade anestésica aumenta, este relaxamento se pronuncia no sentido caudal e o inverso ocorre durante a recuperação anestésica. 2.6 ANESTESIA BALANCEADA A anestesia balanceada é aquela promovida por dois ou mais agentes, ou técnicas anestésicas distintas como, por exemplo, anestesia intravenosa e anestesia inalatória, utilizadas em um mesmo procedimento anestésico. O uso dessa técnica garante uma anestesia mais segura e é a melhor conduta para o uso em répteis. A sedação pré-anestésica, com o uso de anestésicos injetáveis é relativamente fácil de administrar, evitando problemas de períodos de indução prolongados associados com indução com máscara e acalmando espécies agressivas. A maior desvantagem da administração de fármacos anestésicos injetáveis para a manutenção da anestesia é a estimativa adequada da massa corporal, o que pode resultar em superdosagem anestésica (GREENE, 2004). 2.7 MONITORAMENTO A monitoração dos parâmetros vitais durante um procedimento anestesiológico é de grande importância, pois fornece informações que possibilitam avaliar o plano anestesiológico e controlar de forma segura a oferta de anestésico (Schumacher, 1996). Em geral, o metabolismo é termodependente (BIRCHARD e SHERDING, 1998) e a hipotermia deprime o sistema imune e retarda a cicatrização. Desta forma, durante a cirurgia a
  • 33. 33 manutenção da homotermia deve ser realizada através de fontes externas para manter a temperatura corporal, pois os répteis não produzem seu próprio calor (MUIR et al. 2001). A temperatura deve ser monitorada através de um termômetro retal ou cloacal, pois a temperatura da pele não é confiável. Para evitar queimaduras e hipertermia iatrogênica, deve-se sempre monitorar as fontes de calor observando a temperatura da superfície com a qual o corpo do paciente entra em contato (MUIR et al, 2001).Para a recuperação anestésica é essencial que as serpentes sejam colocadas em um recinto aquecido, com a temperatura em torno de trinta graus (JONES, 1977). Todos os répteis possuem um reflexo de endireitamento e a perda desse reflexo ajuda a determinar o estágio da anestesia (BIRCHARD e SHERDING, 1998). Em estado cirúrgico de anestesia as freqüências respiratória e cardíaca diminuem (JONES, 1977). A oximetria de pulso e o Doppler ultrasônico são muito úteis, pois fornecem em tempo real o pulso do paciente, ritmo e estado de perfusão periférica. O monitoramento por Doppler (Fig. 3 e 4) é versátil e pode ser usado em uma variedade de espécies e por essa razão tem sido recomendada para estudos cardiopulmonares em répteis. Entretanto, é difícil encontrar um lugar no animal apropriado para posicionar o oxímetro de pulso e obter um sinal forte (READ, 2004).
  • 34. 34 Figura 3 - Utilização de Doppler ultrasônico em Jararacuçu Figura 4 - Utilização de Doppler ultrasônico em Jararacuçu Trabalho realizado por Soares e colaboradores (2002) demonstrou que o posicionamento do sensor na região vestibular (Fig. 5) permitiu a aferição da saturação de oxigênio na hemoglobina, freqüência cardíaca e visualização da onda plestimográfica. Neste mesmo trabalho foi possível a colocação do sensor pediátrico do Doppler sobre a arteira ventral da cauda, para audição do fluxo sanguíneo arterial.
  • 35. 35 Figura 5 - Sensor do oxímetro posicionado na região vestibular de cascavel (Crotalus durissus) Geralmente a freqüência cardíaca é o único indicador do nível de anestesia do réptil e então deve ser cuidadosamente monitorada. A diminuição da freqüência cardíaca para menos de 80% indica que a anestesia deve ser superficializada. (MUIR et al, 2001). O eletrocardiograma (ECG) de um réptil apresenta ondas P, QRS e T semelhante ao dos ECG dos mamíferos. O padrão de ECG de serpentes apresenta um QRS invertido semelhante ao obtido na base apexiana do eqüino. O aparelho de ECG deve ter velocidade variáveis (velocidades baixas menor ou igual a 25 cm/s) e sensibilidades (sensibilidade aumentada, 1mV maior ou igual a 1 cm) que permitam a contagem da baixa freqüência cardíaca dos répteis e a maior impedância elétrica (GREENE, 2004). O monitoramento cardíaco (Fig. 6 e 7) tem sido útil em vários estudos e o seu uso prático não parece ser incomum (READ, 2004).
  • 36. 36 Figura 6 - Utilização de cardioscópio em Jararacuçu Figura 7 - Utilização de cardioscópio em Jararacuçu Soares e colaboradores (2002) realizaram eletrocardioscopia em cascavéis através de quatro eletrodos conectados a agulhas hipodérmicas (25X7) posicionadas no tecido subcutâneo ao redor do coração, após prévia palpação cardíaca. Neste trabalho foi possível observar atividade elétrica freqüência e ritmo cardíaco. Em caso de uma parada cardíaca, deve-se administrar oxigênio 100%, realizar compressão torácica e administrar epinefrina 5 – 10 mg.kg- 1 . A massagem cardíaca aberta pode ser necessária e para isso deve-se realizar uma laparotomia, para a exposição do coração (MUIR et al, 2001).
  • 37. 37 A velocidade e administração de líquidos durante a cirurgia é de 10 a 20 ml.kg- 1 /h- 1 , para velocidades abaixo de10ml/h será necessário uma bomba de infusão, para a garantia da precisão (MUIR et al, 2001). 2.8 ANALGESIA Os répteis possuem um sistema nervoso central bem desenvolvido e sentem dor quando são realizados procedimentos dolorosos. A avaliação da dor em serpentes é um desafio, pois esses animais não têm pernas nem movimentos palpebrais, portanto não são possíveis a avaliação da retração de membros e dos reflexos palpebral e corneal. O recolhimento ou movimento da língua e o reflexo ao pinçamento da cauda e da cloaca são usados para estimar analgesia e efeitos anestésicos nestes animais. (GREENE, 2004). Condições consideradas dolorosas para humanos e outros mamíferos devem ser consideradas dolorosas em todas as espécies de vertebrados (SLADKY; KINNEY e JOHNSON, 2008). O butorfanol droga analgésica mais utilizada como analgésico em répteis, administrado pela via IM em altas doses (20 mg.kg- 1 ) proporcionou efeito analgésico em serpentes (READ, 2004; SLADKY; KINNEY e JOHNSON, 2008). Este fármaco é utilizado em combinação com a medetomidina para se obter resultados consistentes de analgesia (GREENE, 2004). Read (2004) em seu trabalho entrevistou 165 médicos veterinários, que residiam na América do Norte e trabalhavam com animais selvagens, sobre o uso de analgésicos em répteis e concluiu que o analgésico mais utilizado por estes veterinários é o antiinflamatório não-esteroidal. O conhecimento do comportamento normal da espécie é importante para identificar alterações relacionadas a dor (SLADKY,2008).
  • 38. 38 Providenciar adequado manejo da dor para animais tem se tornado muito importante para veterinários e pesquisas recentes tem sido direcionadas para criar métodos de identificação de dor animal (READ, 2004).
  • 39. 39 3 CONSIDERAÇÃO FINAL O conhecimento dos aspectos abordados nesta revisão possibilita ao anestesiologista veterinário realizar procedimentos anestesiológicos com segurança em serpentes, pois é necessário o conhecimento sobre características anatômicas e diferenças fisiológicas comparadas aos mamíferos. Além disso, o uso de répteis como animais de experimentação também tem aumentado e com isso o uso da anestesia torna-se mais comum nesses animais. A contenção física é econômica e bastante utilizada, mas não fornece anestesia e nem analgesia e condições dolorosas para humanos e outros mamíferos devem ser considerados dolorosos em todas as espécies de vertebrados. Desta forma, se torna desumano a prática de procedimentos que sabidamente causam dor sem anestesia, e isso demonstra mais uma vez a importância do conhecimento sobre comportamento dessas espécies e fármacos que podem ser utilizados pelos médicos veterinários.
  • 40. 40 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BARD, R; LIMA, J. C. R.; SÁ NETO, R. P; OLIVEIRA, S; SANTA M. C. Ineficácia do antiveneno botrópico na neutralização da atividade coagulante do veneno de Lachesis muta muta. Relato de caso de comprovação experimental. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo. v.36, n. 1, p. 77 – 81. Jan./fev. 1994. BARRAVIEIRA, B. Venenos. 1. ed. Rio de Janeiro: EPUB, 1999. BIRCHARD, S. J.; SHERDING, R. G. Clínica de Pequenos Animais. 1. ed. São Paulo: Editora Roca LTDA, 1998. BOYER, T. H. Common Procedures W ith Venomous Reptiles. Veterinary clinics Exotic Animal Practice.v.9, n.2, p.269-285. May.2006. BURKE, T. J.; WALL, B. E. Anesthetic Deaths in Snakes (Naja naja and Ophiophagus Hannah) with Methoxyflurane. Journal of the American Veterinary Medical Association.v. 157, n. 5, p. 620-621.September. 1970. CALDERW OOD, H.W . Anesthesia for Reptiles. Journal of the American Veterinary Medical Association.v.159, n.11,p.1618- 1625. December.1971.
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