1) A situação social em Portugal é grave e está piorando, com diversas esferas de poder não democráticas que preservam o status quo.
2) A esquerda institucional portuguesa, representada pelo trio CGTP/PC/BE, tem sido ineficaz em transformar a sociedade, preservando o sistema cleptocrático através de acordos tácitos desde a Revolução de 1974.
3) Há uma necessidade de reflexão e mudança de paradigma para construir um movimento social transformador plural e não partidarizado,
A esquerda institucional e a realidade social em Portugal
1. Esta “esquerda” é a tranquilidade da direita
Sumário
Uma justificação
1 – A sombria realidade que entra por portas e janelas
2 – O continuado empenho da esquerda institucional na conservação do sistema
3 – Para a multidão em Portugal, a esquerda institucional de pouco tem servido
a) Uma repartição escandalosa do rendimento
b) O salário médio em Portugal e na Europa
c) O salário mínimo em Portugal e na Europa
d) A conflitualidade – o número de greves
e) A conflitualidade – o número de dias de greve
f) A conflitualidade – o número de trabalhadores grevistas
g) Conflitualidade em Portugal (1990/2007)
h) Votação na esquerda institucional em legislativas
4 - A necessidade de reflexão e mudança de paradigma
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Uma justificação
A realidade política comporta aspectos estruturais como a economia e as
instituições, bem como elementos subjetivos, como a percepção da realidade por
parte da multidão e, sobretudo, como esta reage e se organiza face à calamitosa
situação que se vive. Como pretensos intérpretes da realidade social, do sentir das
“massas”; como presumidos protagonistas da transformação social, como
iluminados condutores do povo ignaro, os partidos ditos de esquerda assumem um
papel de grande relevo e responsabilidade.
A análise da conduta e da eficácia histórica e actual dessa “esquerda” é uma
necessidade para cuja satisfação contribuimos com este texto. Essa análise
decorre de dois aspetos. Primeiro, da urgente necessidade de uma actuação
transformadora saida da multidão mundial, europeia, ibérica e portuguesa, em
particular, perante a brutalidade do torniquete apertado pelo capitalismo e pelos
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2. seus mandarins. Em segundo lugar, dada a incorrigível postura de auto-ungidos
lideres da multidão, nunca escondida por essa “esquerda” pouco dada à
tolerância com quem os conteste; ora recorrendo aos poderes estatais, como
órgãos não assumidos do sistema, ora infiltrando pequenos grupos de militantes
provocadores para influenciar, controlar, distorcer ou destruir qualquer movimento
social que, autonomamente, surja na sociedade. Em qualquer das hipóteses, o
sistema capitalista cleptocrático agradece e paga.
É precisamente sobre as propostas e actuações da “esquerda” institucional
portuguesa que aqui nos debruçamos, com a crueza e a frontalidade habituais
que cultivamos.
Pretende-se o reforço de um debate, ainda algo subterrâneo, sobre a
necessidade de construir um movimento social, transformador, plural, gerador de
consensos alargados, não partidarizado e com capacidade para repelir
manipulações partidárias ou outras; e composto por grupos ligados através de um
enxame de redes, pleno de uma heterogeneidade, que represente toda a
multidão, contra o capitalismo, as suas instituições políticas e económicas.
1 – A sombria realidade que entra por portas e janelas
Dizer que a situação social em Portugal é muito grave e que está com as portas
escancaradas para o seu agravamento é uma realidade de difícil desmentido.
As sociedades actuais geraram sistemas complexos de poder, de contornos nem
sempre claros e, bastas vezes, sob a forma de máscara. E em todas essas
vertentes do poder, está ausente a democracia.
• Nas empresas vigora o poder do patrão, da administração, dos accionistas,
actualmente em vias de reforço perante os trabalhadores, através do
salário, da ameaça de despedimento, da aplicação de sanções;
• Nos órgãos da administração pública vigora um espírito hierárquico, vertical,
que não está aberto a decisões democráticas embora, o seu objecto seja a
resolução de necessidades colectivas;
• Nas prisões, como nas forças policiais e militares, a lógica é a da submissão
total a uma autoridade bem vincada, com a total ausência de
democracia;
• O poder político não é democrático pois assenta em pequenos grupos (os
partidos), beneficiários de fórmulas de representação tendencialmente
excludentes face ao comum das pessoas, sem responsabilidades assumidas
perante os eleitores, sobretudo em casos de decisões lesivas das pessoas ou
perante actos corruptos;
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3. • O poder judicial é uma mentira absoluta como terceiro poder, como
autonomia face ao poder executivo, como separado das oligarquias
partidárias;
• O poder sindical promove a mediação, o amortecimento das
reivindicações populares perante o poder económico e baseia-se numa
casta de dirigentes profissionalizados defendidos por estatutos que
bloqueiam alternativas; e, para mais, estão intimamente ligados ao
subsistema partidário.
Todos estes poderes constituem outras tantas esferas de influência, de controlo
social, de reprodução do modelo político e económico existente – o do domínio
das multinacionais, do sistema financeiro, do capital mafioso. A despeito da luta
interna ao sistema em que se digladiam, aqueles poderes são conservadores e
apenas procuram fazer valer a sua relevância e assegurar privilégios e mordomias.
Em conjunto, prevalece a difusão do pensamento único, da democracia de
mercado e do neoliberalismo, este, enformado pela lógica do individualismo, da
concorrência, da competitividade, da omnisciência do mercado e fantasias afins.
Todo aquele conjunto de poderes é dominado pelo capital financeiro. Em toda a
UE, os Estados são representações do capital financeiro que os controlam e
manipulam. E, portanto, todas as suas instituições, políticas, (governos,
parlamentos) e administrativas se inserem sob o comando do capital financeiro,
que configura a lei e a sua aplicação de acordo com os seus interesses.
O seu domínio dos Estados e do poder político tende a ser mais férreo pois é o
domínio e a determinação do nível da punção fiscal, da redistribuição (regressiva)
dos rendimentos, do embaratecimento do trabalho, que lhes pode permitir evitar
a bancarrota. Essa centralização do poder no capital financeiro revela que, mais
do que nunca, o capitalismo é um sistema global, invasivo, que se incrustra e
desenvolve em todos as instâncias – económicas, políticas, sociais, culturais e
ideológicas.
Dentro da lógica do pensamento único, não há alternativa ao modelo da
chamada democracia de mercado, a que chamam representativa. Essa coisa é
curiosa pois os representantes saem de uma limitada e relativamente fechada
classe política que tende a afastar-se, a segregar-se relativamente à esmagadora
maioria das populações. Esses representantes rodeiam-se de prebendas e
privilégios específicos, determinados por eles próprios. Aos representados somente
é pedido um mandato, uma representação genérica e por periodos alargados,
sem qualquer hipótese real de retirada desse poder de representação, por muitas
falcatruas que cometa o representante, por muito que se distancie do prometido
em campanha.
E pode designar-se por classe política, porque embora no seu seio existam
diferenças ideológicas e desempenhos distintos na esfera política, estão unidos
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4. pela assunção da sua total legitimidade para a gestão dos interesses coletivos da
multidão, mesmo que a sua representação seja francamente abusiva. Por muito
que se mostrem distanciados no teatro parlamentar, é muito clara a sua unidade
na defesa do sistema de democracia de mercado e dos variados privilégios de
que gozam.
Todas as manifestações de diversidade entre as classe política se inserem
plenamente no seio do sistema, na defesa de alternativas dentro do sistema;
quaisquer expressões de alternativas são tomadas como quiméricas ou,
objectivamente, insusceptíveis de aplicação porque confinadas a um gueto
político e social mantido pelos media, fortemente controlados pelo poder
económico.
Por outro lado, em tempos de capitalismo globalizado, à globalização da
produção e do comércio, corresponde a existência de uma classe política global,
que articula e unifica os grupos nacionais de mandarins, em famílias, mais
marcadas pelas conveniências do capital do que por diferenças ideológicas. É
por isso, que convivem, alegremente, numa chamada Internacional Socialista, os
sociais-democratas nórdicos, o PS português, os racistas do partido trabalhista
israelita e, até há pouco, os regimes de Ben Ali e Mubarak.
Tendo em conta o carácter excludente e invasivo do sistema, qualquer
participação no mesmo insere-se, forçosamente, na lógica do poder, do capital
financeiro, embora constantemente o sistema seja atravessado por contradições
internas. A dificuldade do aproveitamento dessas contradições e disputas internas,
económicas, políticas ou ideológicas, para a satisfação de reivindicações da
multidão é, evidentemente, elevada.
Por um lado, há instituições do sistema (partidos, sindicatos, por exemplo) cuja
função, sendo a integração das contestações ou o desarmamento das lutas da
multidão dentro do sistema, evidenciam, como estratégias de sobrevivência
própria, essa mediação, travestindo-se de opositores do sistema. Por outro lado, o
aproveitamento das possibilidades institucionais para o lançamento e
desenvolvimento de lutas anti-sistémicas, corre sempre o perigo da tentação da
adopção de um minimalismo que favoreça a sua inserção dentro do sistema.
Para a contestação fora do sistema há, em regra, diversas reações do mesmo
para a jugular. Se essa contestação se processa de formas diversificadas
consideradas violentas pelo sistema, está garantido que a reação daquele é a
ilegalização e a repressão particularmente brutal. (1)(2)
Se essa contestação não é tomada como revestindo essas características, as
modalidades que o sistema utiliza para o controlo dessa contestação ou para a
sua domesticação, como atrás se referiu, são diversas: infiltração de membros de
partidos de “esquerda” - ou mesmo das polícias - ou a conivência aberta das
instituições do sistema, ditas de “esquerda” com a polícia, nos casos em que as
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5. suas funções de mediação e controlo social sejam contestadas ou ameaçadas
de descrédito. (3) (4)
2 – O continuado empenho da esquerda institucional na conservação do sistema
“Onde está a esquerda? Ao fundo, à direita”
(frase criada no âmbito do movimento 15 M, nas Puertas del Sol, Madrid)
Em Portugal, para além do enganador bipartidarismo vigente PS/PSD a nível do
governo – empobrecedor do ponto de vista político, material e cultural – e que
serve de coluna vertebral para o sistema político cleptocrático - há ainda a contar
com a área institucional mais à esquerda ou menos à direita, se se preferir. Esta, é
constituida pelo que designamos de Trinómio da Ineficácia, como poderiamos
designar por Trio Aldrabice ou, outra forma pouco simpática para os visados. Esse
trio é constituido do ponto de vista formal pelo conjunto CGTP/PC/BE, por ordem
de relevância e que reproduz, na terra lusitana, a aplicação de uma norma de
controlo social comum no mapa político da Europa.
Na realidade duas daquelas entidades (CGTP/PC) são apenas uma, dada a total
similitude das posições políticas e a larga presença de funcionários e dirigentes
comuns nas respectivas lideranças. Funcionam como “ubus” uma da outra, como
retratado na cultura popular haitiana; o que um diz o outro repete ou completa, à
vez.
• O PC é o partido base daquela área esquerda do poder, mesmo quando
deixou (2009/11) de ser maioritário na AR, no seu confronto com o BE. O seu
férreo domínio da central sindical e a administração de várias autarquias
importantes são trunfos importantes dos pontos de vista financeiro e da
colocação de quadros; no âmbito político, é a presença da CGTP numa
aldrabice designada por “concertação social”que viabiliza a sua existência.
O PC detém ainda uma estrutura organizativa fortemente hierárquica e
autoritária, inserida no corpo social que o dota de um poder político muito
superior ao do BE e bem para além da sua expressão eleitoral;
• O PC dispõe ainda de uma estabilidade estratégica e tática que torna, em
regra, previsível, a sua actuação, constituindo, portanto um elemento
central na estabilidade do sistema cleptocrático; o que acontece, com
base em acordos tácitos desenhados logo a seguir ao 25 de Abril com o
poder militar. As regulares dissenções não lhe geram danos uma vez que
entre os militantes domina uma forte fidelidade à direcção, fé nas
capacidades dos dirigentes, mesmo quando têm divergências pessoais;
neste sentido, o PC funciona como uma igreja;
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6. • Do ponto de vista ideológico, o PC é uma formação nacionalista, defensora
de um Estado forte e autoritário, com os sectores estratégicos
nacionalizados (banca, energia, media…), fórmula decalcada do modelo
soviético mas, adaptado a regimes de pluralismo político formal. É
profundamente avesso a manifestações de participação e autonomia
popular, democracia direta, autogestão, desobediência civil, elegendo
como inimigos de estimação grupos independentes do seu controlo ou
anarquistas, não recuando mesmo em se conluiar com a polícia para a sua
repressão;
• Na base desssa estabilidade estratégica está o “Rumo à Vitória”, escrito em
1964 por Álvaro Cunhal que nele introduziu um conceito chamado de
“revolução democrática e nacional”. Nesta, o derrube do fascismo sairia da
luta dos trabalhadores aliados à pequena e média burguesia, contra os
monopólios lusos que mais beneficiavam do regime.
Claro que isso não se verificou, durante o fascismo, por várias razões.
Primeiro, porque quase toda a burguesia portuguesa, no início da década
de 70 procurava desembaraçar-se do caduco regime fascista por razões
tão óbvias como, acelerar a ligação à CEE e resolver a questão colonial
que passara a não ser rentável, para além de todos os inconvenientes de
ordem política. Por outro lado, havendo essa unidade e sendo muito débil o
poder real do PC e dos grupos à sua esquerda, a burguesia portuguesa não
sentia a necessidade de alianças com o “proletariado”;
• Essa aliança com a burguesia pequena e média acabou por se verificar
após o 25 de Abril, em torno dos militares, já não contra os fascistas, mas
contra os trabalhadores que, “inoportunos” promoveram o afastamento da
grande burguesia, com saneamentos e, mais tarde, expropriações. Nesse
processo, que se veio a popularizar com o nome de PREC, os trabalhadores
procuravam garantir o emprego e melhorar as suas condições de vida,
tendo passado, naturalmente, a uma procura de modificações profundas
na ordem democrática de base e de ameaça à ordem capitalista. A luta
económica rapidamente radicalizou muitos trabalhadores que perceberam
que o capitalismo só se destrói com a modificação das relações de
produção e a extinção da propriedade privada da estrutura produtiva. Esse
processo de expropriação veio a ser totalmente adulterado conforme já
apontámos em “Nacionalização da banca: Piada ou mistificação?” (5)
• Nesse contexto, o PC promoveu em 1974/75 o combate às greves; assaltou
os sindicatos onde a sua hegemonia não era aceite, fez o que podia para
extinguir ou controlar as comissões de trabalhadores, favorecendo
sindicatos verticalizados, anti-democráticos e únicos (lei da unicidade
sindical); defendeu uma “batalha da produção” sem defender a alteração
das relações de produção; sabotou quanto lhe foi possível as iniciativas
autónomas dos trabalhadores procurando sempre a utilização do aparelho
de Estado e a bajulação dos militares; procurou controlar os grandes meios
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7. de comunicação (onde aliás o Nobel José Saramago se encheu de
glória…); colou-se às reivindicações sociais dos assalariados rurais para a
expropriação dos capitalistas e latifundiários, para aumentar o seu peso no
xadrês poítico; instou à ilegalização de dois partidos de esquerda que lhe
eram hostis; enganou vários outras formações políticas, antepassados das
almas pias que hoje ainda consideram possível uma unidade estratégica
com o PC, contra o PS/PSD e o mundo dos negócios; e colocou-se a bom
recato, distanciado, quando se tornou claro que iria haver um golpe militar
em 25 de Novembro, para estabelecer a velha ordem nas ruas, nas
empresas e nos quartéis;
• Voltamos atrás, aos anos 60 para melhor situar as origens da actual
actuação do PC. Para concretizar a política de aliança com camadas
sociais defensoras do capitalismo, ainda que não fascistas, era preciso
combater e eliminar tendências “esquerdistas”, provenientes de cisão
dentro do próprio PC. Essas tendências (CMLP/FAP) resultantes da cisão
ideológica sino-soviética, constituiam, após o apagamento da oposição
anarquista nos anos 30, um novo desafio político e ideológico à hegemonia
do PC, na área da esquerda. Para fazer face a esse desafio e quando a
radicalização provocada pela eternização da guerra colonial incendiava a
juventude, mormente os estudantes, o PC viu-se na necessidade de editar
“O radicalismo pequeno-burguês de fachada socialista” (1971). Recorde-se
que o PC, sendo formalmente contra a guerra, aconselhava os seus
militantes a não desertarem, a participar na mesma e, se possível, no
cenário de guerra, fugirem, de preferência com outros soldados e com
armas… o que, se não fosse uma farsa, seria infantilidade;
• Esta outra vertente de diabolização e procura de isolamento de toda a
oposição mais ou menos de esquerda, constitui ainda hoje peça central da
inserção do PC na ação política. Consiste na utilização de técnicas
estalinistas de apagamento da sua visibilidade, da sua repressão física com
o recurso à ajuda ou colaboração da polícia; são casos bem evidentes, a
denúncia dos cisionistas dos anos 60 no Avante! ou, a procura de
controlo/punição de “esquerdistas” batizados de terroristas quando da
cimeira da Nato, em Novembro de 2010; uma postura em tudo igual à
lançada por George W Bush após o 11/9 e … adoptada como estratégia
pela própria NATO (2) (3);
Nos últimos tempos foi de pasmar os menos observadores da natureza do
PC, a forma como a CGTP não emitiu qualquer apelo à participação nas
manifestações de 15 de Outubro, nem noticiou a sua realização em
Portugal como em mais de 1000 cidades. Na sua lógica, um protesto só é
genuino se convocado pela CGTP/PC; só é unitário se submetido às ordens
dos seus funcionários; um protesto internacional não se coaduna com o seu
nacionalismo; e, mesmo que nos protestos tenham participado muitos
militantes do partido, estes não têm direito ao aval posterior da sua direção;
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8. • O referido “Rumo à Vitória” apresenta uma clara definição da política de
alianças do partido, que se mantém inalterável desde então; procura uma
ligação privilegiada à direita, arrogando-se o PC, de permeio, ao monopólio
da esquerda, a partido auto-ungido como dirigente da “classe operária”.
Dentro desse parâmetro, procura aumentar o seu peso negocial junto da
direita, apresentando-se como o regulador da esquerda. Nos anos 60, o
alvo dessa política de aliança à direita era a “burguesia liberal” que era
então quase invisível fora dos escritórios de alguns advogados bem
instalados na vida. Depois do 25 de Abril seguiu-se a vigência dos governos
provisórios onde o PC participou, ao lado dos militares, do PS e do PPD (que
passou a PSD, para dar ares de esquerda, como convinha, na batalha
perdida por Sá Carneiro, na disputa com o PS por um lugar nessa distinta
estrumeira chamada Internacional Socialista); foi nesse periodo que o
partido se mostrou muito hábil na construção de credenciais como agente
essencial do controlo social, cargo que ainda hoje mantém;
• Durante alguns anos depois da normalização novembrista de 1975, o PC
procurou essa aliança com o PS, com a defesa da “maioria de esquerda”.
Claro que isso nunca se verificou como opção governativa geral, havendo
apenas a registar pela sua notoriedade a aliança com o PS na câmara de
Lisboa, pela mão de Sampaio que veio a ceder a presidência ao Soares
junior; eleitoralmente o PC não ganhou nada com isso, antes pelo contrário
e, com aquele brilhante “compaire” de coligação, foram ambos derrotados
pelo impagável Santana (o Lopes);
• Essa postura relativamente ao PS, comum ao PC e ao BE, merece alguma
análise, embora já a tenhamos esboçado a propósito da campanha do
Alegre (6). A designação de “maioria de esquerda” foi abandonada há
muitos anos, pouco depois de “estabilização” de 1975.
Sabendo-se sem capacidade de, autonomamente, chegarem ao poder,
mesmo através de uma improvável coligação a solo, a esquerda
institucional aposta numa eventual viabilização de um governo PS,
dependente do seu apoio e, obtendo como contrapartida, um ministro ou
secretário de estado e a colocação de alguns “apparatchiks”;
• Consideramos essa hipótese bastante remota. Do ponto de vista histórico, o
PS nunca recorreu a esse apoio para o governo central. Durante o segundo
governo Guterres, quando este teve exatamente metade dos deputados
(1999), o PS preferiu o recurso ao deputado do queijo limiano (CDS) do que
servir-se da bancada do PC ou dos dois deputados do BE, recém-chegado
ao areópago. E, em 2009, Sócrates, minoritário, preferiu sempre entender-se
com o seu gêmeo PSD do que com os 31 deputados da ala esquerda da
AR;
• Ainda históricamente, o PS, criado e municiado abundantemente (tal como
o seu braço sindical, a UGT) pelo SPD alemão, através da Fundação
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9. Friedrich Ebert, assumiu a liderança da “normalização” capitalista em 1975,
unificando em seu redor toda a direita. E, em seu torno, acoitaram-se vastos
sectores conservadores da população, anti-comunistas primários e
reaccionários de gema. Dito de outro modo, o PS tornou-se, em 1975, um
partido típico de direita mesmo quando nas suas manifestações se berrava
ridiculamente “partido socialista, partido marxista”. Já então Mário Soares
purgara a ala trabalhista e socialista do partido. A esse nascimento
reaccionário o PS acrescentou a adopção à lógica neoliberal e do
pensamento único que atingiu o seu apogeu durante o consulado de
Sócrates;
• Perante esta prática e este curriculo do PS, a área esquerda institucional
recusa-se a assumir o carácter de direita daquela agremiação,
contentando-se em acusar a sua direção como adoptante de “políticas de
direita” ou a argumentar com a (natural) existência de gente decente
como militantes do PS. Entende-se essa ocultação; os partidos da esquerda
institucional, pretendem estar inseridos dentro do regime cleptocrático e,
simultaneamente convencerem a multidão sobre a sua intenção de
transformações radicais que, efectivamente, não desejam. E para esse
equilíbrio de mentira precisam de branquear o carácter do PS, colocando
neste e nos seus dirigentes o travão para a transformação social que, afinal,
é seguro com mãos firmes pelo PC/BE;
• O BE tem maior agilidade tática e maior criatividade que o PC e, não
possuindo o mesmo lastro histórico estalinista torna-se mais atraente para
sectores intelectuais e urbanos sem simpatias com as fórmulas pesadas e
hierárquicas do PC. O BE, como nunca pretendeu adoptar a estrutura
organizativa do PC, pauta-se como uma formação com propósitos
eleitorais, usando como bandeira um grupo parlamentar activo e com
algumas capacidades técnicas. Essas características e a hábil montagem
de uma relação próxima com os media, dão-lhe uma visibilidade superior à
sua representatividade social e na AR;
• Na sua existência de uns escassos doze anos e, passado um periodo inicial
onde parecia constituir-se como elemento agregador de várias
sensibilidades anti-sistema, o BE ficou embevecido como os seus sucessos
eleitorais e a simpatia com que as suas propostas eram encaradas. Esse
sucesso foi a sua morte anunciada como projeto integrador e mobilizador,
de lufada de ar fresco na putrefacta ordem política post-25 de Novembro
de 1975.
• Aproveitando-se da constante deriva para a direita do PS e do
conservadorismo político e tático do PC, os dirigentes do BE pensaram
constituir um grande partido social-democrata com gente “de esquerda”
que abandonasse o PS, para mais marcado pela gestão de Sócrates,
neoliberal e salpicada por casos óbvios de corrupção; pelo menos, para o
julgamento da multidão. Para o efeito, contava com o conservadorismo do
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10. PC e a forte vetustez de muitos dos seus militantes, pouco dados a
devaneios contestatários e reais firmes adeptos da democracia de
mercado;
• Para ganhar credibilidade como gestor público e fazer esquecer a aura de
agremiação fracturante de esquerda, o BE embrulhou-se na Câmara de
Lisboa com uma bandeira esfarrapada (o Zé que faz falta) e um acordo
com o PS que publicamente, ninguém percebeu. Depois veio o encosto ao
PS com um biombo chamado Alegre pelo meio e o resultado não foi
animador pois a tal ala “esquerda” do PS, alegremente, preferiu a
continuidade que dá mordomias e, nada de aventuras com um Alegre que
não agradava a ninguém, para além do Louçã, seu grande defensor.
Finalmente o xeque de Junho e a perda de metade dos deputados; uma
vez mais a esquerda do PS não compareceu à chamada para o
engrossamento de um partido social-democrata fora de tempo e o
descontentamento popular assentou arraiais na abstenção ou preferiu
estupidamente o Passecos, com medo de que as coisas piorassem e por
ódio ao Sócrates. O recente desaire na Madeira insere-se nessa linha política
fracassada.
• Para o BE, essa criatividade na proposta legislativa mostra-se desastrada na
tática política. Em 2005, teria sido compreensível, no âmbito eleitoral das
presidenciais, apoiar Alegre que, então, conseguiu dividir o PS; em 2010,
quando o PS, no seu íntimo, preferia Cavaco e Alegre evidenciava
incapacidade e incoerência política, o BE deixou-se arrastar pelo mito do
milhão de votos do poeta em 2005 e teve uma enorme derrota política;
• Internamente, o BE, ao contrário do PC, apresenta uma pluralidade de
reconhecidas tendências no seu seio, a maior parte, com projetos políticos
cretácicos (ou “cretínicos”), pouco recomendáveis do ponto de vista da
multidão e com pouco conteúdo democrático. Porém, é justo referir que a
maioria dos militantes não se inclui nessas tendências. Vejamos:
o O PSR é uma seita baseada na sebenta trotskista, integrante de uma
prática estalinista de procura de controlo de grupos e potenciais
movimentos sociais que, naturalmente, procuram conter dentro dos
limites suficientes à manutenção do seu controlo burocrático;
o Outra seita trotskista com ideário e práticas idênticas ao PSR – e por
isso mesmo ferozes adversários – dá pelo nome de Ruptura/FER.
Dentro (e fora) do BE, é um grupo desacreditado devido a um
radicalismo delirante que, no entanto, atrai alguns jovens;
o Uma corrente heterogénea designada internamente por “Política XXI”
abarca várias vagas de “renovadores” do PC que, convertidos à
social-democracia, anseiam por se deitarem na alcova do PS;
apresentam um pensamento próximo do PC, sem obediência ao seu
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11. comité central ou práticas estalinistas de controlo social. Apresenta
um pendor eleitoral ancorado em figuras de potenciais caciques –
Miguel Portas, Semedo, Pureza ou Daniel Oliveira;
o O outro grupo relevante é o da UDP, o único que soube evoluir de um
marxismo-leninismo fossilizado, para posturas democráticas,
constituindo o único grupo integrante do BE com alguma produção
de pensamento; mesmo sem renegar o seu marxismo, o apego à
intervenção do Estado e ao keynesianismo.
• Estes grupos ou tendências constituem as linhas de fractura que se
alargarão se se mantiver a actual tendência de redução do apoio eleitoral
e da influência que o BE teve nos primeiros anos da sua existência. Em caso
de fractura, uns irão acolher-se ao albergue do Largo do Rato, outros
estiolarão sobre a forma de grupo de estudos e os trotskistas, potenciando o
seu pendor estalinista dedicar-se-ão ao controlo social, rivalizando entre si
mas, unidos no ódio a grupos independentes ou anarquistas.
3 – Para a multidão em Portugal, a esquerda institucional de pouco tem servido
Quando se esboroa o resto da autonomia de Portugal enquanto Estado-nação e
essa re-hierarquização se traduz em forte pressão no sentido da degradação da
situação económica dos trabalhadores cabe perguntar; onde está essa esquerda
? Porque razão a multidão se reconhece pouco com as suas propostas e prefere
apoiar partidos de direita nos diversos pleitos eleitorais recentes (presidenciais,
legislativas e na Madeira)? Porque razão no país mais pobre da Europa ocidental
a conflitualidade social é quase inexistente? E porque tendo em conta a
expressão eleitoral da esquerda institucional, ela não se reflete em contestação
social?
Não há um determinismo entre a situação económica da multidão e a
contestação social e, menos ainda a sua organização. No entanto, no caso de
Portugal, há uma responsabilidade enorme da esquerda institucional portuguesa,
conservadora politicamente, com uma acção rotineira, sem iniciativas, sem
objectivos de transformação política, nem interesse na autonomia e criatividade
da multidão; pelo contrário, muito ocupada em reconduzir, em conter a
contestação nas estreitas vias das instituições do sistema, dia a dia mais
cleptocrático, opressor, e repressivo. Em suma, a esquerda institucional tem tido
um papel decisivo nas limitadas respostas da multidão à pulsão empobrecedora
dos governos e do empresariato e que se vem agudizando; e é transparente que
o Trinómio da Ineficácia – PC/CGTP/BE se mantém tíbio e pouco menos que inerte
na actual conjuntura.
Naturalmente, que a responsabilidade pela ausência de respostas adequadas à
ofensiva capitalista não é exclusiva da esquerda institucional, devendo-se
Grazia.tanta@gmail.com 8/11/ 2011 11
12. também às ilusões que a multidão tem tido sobre uma continuidade de padrões
de vida desajustados da estrutura produtiva existente; com a aceitação das
brutais desigualdades na distribuição do rendimento e da riqueza; com a enorme
ingenuidade face às virtualidades da democracia de mercado. E daí que existam
dificuldades de auto-organização, por norma, marcadas pela frieza, pela
sobranceria ou pelo boicote com que essa autonomia é encarada pela esquerda
institucional.
a) Uma repartição escandalosa do rendimento
O quadro seguinte demonstra, de modo evidente, a perda do rendimento
disponível das famílias, longe de acompanhar, de mostrar paralelismo,
relativamente à evolução global da capitação da produção de riqueza. Dito de
outro modo, se o rendimento das famílias não acompanha o crescimento da
produção de riqueza é porque esta se esvaiu para os bolsos de estratos sociais
muito precisos e não beneficiou a esmagadora maioria das famílias.
Por outro lado, o fosso aumenta com a passagem do tempo e está longe de se
reduzir nos últimos anos, de maiores dificuldades económicas. Desmente,
claramente, a persistente propaganda de que temos de nos sacrificar “todos”.
Poder-se-ia pensar, num modelo vivido, décadas passadas, em alguns países da
Ásia (Coreia do Sul, por exemplo) baseado no sacrifício do bem estar da
população para o desenvolvimento de planos intensivos de capitalização e
construção de uma estrutura produtiva virada para a exportação. Ora a
realidade portuguesa desmente essa hipótese, uma vez que à persistente perda
de rendimento por parte da multidão, não corresponde uma acumulação de
capital produtivo, nem um incremento da exportação, dos pontos de vista
quantitativo e qualitativo. Não há qualquer estratégia desenvolvimentista da
classe política portuguesa nem do seu patronato, nem mesmo qualquer laivo de
nacionalismo, por muito reaccionário que isso seja.
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13. Evolução da capitação do PIB e do rendimento
médio disponível (1992=100)
240
220
200
180
160
140
120
100
92
93
94
95
96
97
98
99
00
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
19
19
19
19
19
19
19
19
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
Rendimento médio disponível das famílias Capitação do PIB
Fonte primária: Pordata
A situação atrás descrita é o retrato da incipiência da contestação social e da
reivindicação económica não assumida pelos dirigentes políticos da “esquerda”,
nem pelos burocratas sindicais. E revela a alegria contida, não alardeada, pelo
patronato e pelos seus mandarins.
b) O salário médio em Portugal e na Europa
A comparação da relação entre o salário médio em Portugal e em vários países
da Europa, em 2000 e em 2007 indica uma perda de poder de compra dos
assalariados portugueses face à evolução observada na maioria dos outros países.
Os ganhos comparativos somente se registam para países de alto nivel de vida –
Alemanha, Suécia e Suiça – para além de Malta; aqui, o salário médio português
representava 93.7% do de um maltês em 2000 e 97.9% em 2007.
As perdas relativas do salário médio português tanto se verificam face a países de
elevado rendimento como aqueles cujos níveis de desenvolvimento mais se
aproximam de Portugal, sublinhando-se o caso da Espanha. Note-se a paulatina
aproximação entre os salários portugueses e os da Europa de Leste,
prenunciando, a prazo, a confirmação da tese do processo de
subdesenvolvimento em curso na ocidental praia lusitana.
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14. Face a esta realidade, que dados mais recentes decerto agudizarão, uma vez
disponíveis, cabe perguntar se ela não reflectirá os amargos frutos de anos de
“concertação social” nos gabinetes alcatifados do poder?
Relação do salário médio português com o de países europeus
Evolução 2000/2007 ( %)
Países 2000 2007 Países 2000 2007
Alemanha 36,7 38,2 Grã-Bretanha 33,5 33,3
Bélgica 39,9 39,7 Holanda 39,6 36,5
Bulgária 882,4 584,4 Hungria 302,4 171,4
Chipre 78,5 72,0 Luxemburgo 35,2 33,9
Dinamarca 30,8 28,9 Malta 93,7 97,9
Eslováquia 352,2 182,7 Noruega 34,9 32,5
Espanha 72,4 70,1 Suécia 39,9 41,6
Finlândia 46,1 42,5 Suiça 28,9 32,6
França 47,2 47,3
Chipre, Noruega – 2006; Suiça - 2008
ganhos relativos perdas relativas
Fonte primária: Eurostat
c) O salário mínimo em Portugal e na Europa
Se se proceder a uma análise semelhante à anterior mas, contemplando o salário
mínimo os resultados são semelhantes. Uma coisa é um escasso crescimento do
salário mínimo quando o seu valor é próximo de € 1400 (Bélgica, França, Holanda)
e algo muito distinto, dentro de uma mesma zona económica (euro), é um salário
mínimo como o português, de € 485.
Relação do salário mínimo português com o de outros países
Evolução 2000/2007 (%)
Países 2000 2011 Países 2000 2011
Bélgica 34,9 40,0 Hungria 258,3 201,6
Bulgária 964,6 461,1 Irlanda 41,3 38,7
Eslováquia 389,3 178,5 Letónia 449,4 200,7
Eslovenia 98,6 75,6 Lituania 337,6 244,2
Espanha 77,1 75,6 Luxemburgo 31,0 32,2
Estonia 381,3 203,5 Malta 73,5 85,1
EUA 40,6 60,2 Polónia 197,5 162,3
França 36,0 41,5 Rep. Checa 273,3 177,3
Grã-Bretanha 39,9 49,7 Roménia 941,3 359,9
Grécia 71,7 65,6 Turquia 173,9 147,0
Holanda 33,8 39,7
Grazia.tanta@gmail.com 8/11/ 2011 14
15. ganhos relativos perdas relativas
Fonte primária: Eurostat
O valor do salário mínimo e os níveis salariais na administração pública têm
funcionado, em Portugal, como um lastro que arrasta para o fundo todo o
espectro salarial e os direitos laborais. Este nivelamento por baixo serve os
interesses do capitalismo em geral e dos patrões lusos em particular, cuja
sobrevivência assenta, exclusivamente, na desvalorização do pagamento do
trabalho e do apoio do Estado à sua existência parasitária, com encomendas,
subsídios e a adequada produção legislativa.
A ideia estratégica dos capitalistas portugueses e dos seus mandarins é a
aproximação aos níveis salariais do leste da Europa, onde o valor do salário
mínimo tem evoluido mais rapidamente que o seu homólogo português.
Crescimento do valor do salário
mínimo (2001/2011) (%)
Bulgária 204 Lituania 101
Eslováquia 217 Polónia 77
Eslovenia 89 Portugal 45
Estonia 172 Rep. Checa 124
Hungria 86 Roménia 280
Letónia 225 Turquia 72
Fonte primária: Eurostat
d) A conflitualidade – o número de greves
Não pretendemos proceder a uma análise aprofundada da conflitualidade social
que, englobará, greves não “oficiais”, paralizações, manifestações,
concentrações e formas criativas que vêm surgindo e que merecem, em regra,
pouca atenção por parte dos media; excepto, quando pretendem adivinhar (ou
desejar) violência para apresentar ao jantar do povinho.
A conflitualidade social na Europa, medida pelo número de greves, não é
elevada e mostra-se decrescente para o conjunto de países com dados sobre o
assunto; e entre estes, para os que apresentam números de maior dimensão. A
entrada no presente século parece ir avolumando uma tendência decrescente.
Entre os paises considerados, somente em Espanha e Itália parece observar-se
uma relativa estabilidade no número de greves.
Vários factores explicarão as tendências observadas até 2008 (sublinhe-se a data,
que exclui os últimos anos em que a crise sistémica mais se tem vindo a verificar);
entre eles, a facilidade da concretização de despedimentos, a precariedade do
emprego, o desemprego continuado, a apatia ou conivência com os patrões de
dirigentes sindicais acomodados e reaccionários, capazes de combater com
violência activistas sindicais ou movimentos grevistas que não controlem.
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16. Conflitualidade na Europa - número de greves
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Dinamarca 1.079 1.081 832 1.349 681 804 534 476 862 335
Espanha 749 750 737 688 678 708 685 783 752 811
Finlândia 65 96 84 76 112 84 365 97 91 92
G-Bretanha 205 226 207 162 138 135 116 158 152 144
Itália 753 966 746 616 710 745 654 587 667 621
Portugal 200 250 208 250 170 122 126 155 99 nd
Soma 3.051 3.369 2.814 3.141 2.489 2.598 2.480 2.256 2.623 2.003
Fonte: Eurostat
e) A conflitualidade – o número de dias de greve
A consideração do número de dias de greve, designados nas estatísticas por “dias
perdidos”, revela uma irregularidade do movimento grevista e o seu carácter
nacional, quando não sectorial ou local, não coordenado internacionalmente.
Dessa ausência de concertação estratégica beneficiam os capitalistas e os
burocratas sindicais, estes decerto bem mais motivados para outros acertos, com
patrõres e mandarins, nas “concertações sociais” elementos do chamado
“modelo social europeu” que ainda não foram destruidos, por razões que são
óbvias. Sobressaem os valores apresentados pela Espanha em 2002 e 2004, pela
França em 2003, pela Itália em 2004, pela Grã-Bretanha em 2002 e 2007 ou pela
Dinamarca em 2007. Em Portugal, os dias contabilizados como de greve são muito
reduzidos, com um valor mais elevado em 2002.
Conflitualidade na Europa - número de dias de greve (1000)
1999 2000 2001 2002 2003
Dinamarca 91,8 124,8 56,0 193,6 55,1
Espanha 1.504,6 3.616,9 1.923,8 4.945,1 792,1
França 1.325,4 2.460,2 1.807,3 990,8 4.388,4
Grã-Bretanha 241,8 498,8 525,1 1.323,3 499,1
Itália 909,1 884,1 1.026,0 4.861,0 1.961,7
Portugal 67,5 40,6 41,6 108,1 53,4
Soma 4.140,2 7.625,4 5.379,7 12.421,9 7.749,8
2004 2005 2006 2007 2008
Dinamarca 76,4 51,1 85,9 91,7 1.869,1
Espanha 4.472,6 951,5 927,7 1.187,7 1.510,2
França 724,6 1.997,0 1.421,4 1.553,0 nd
Grã-Bretanha 904,9 223,8 754,5 1.041,1 758,9
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17. Itália 698,6 906,9 554,7 929,7 722,7
Portugal 46,1 27,3 44,2 29,9 nd
Soma 6.923,2 4.157,6 3.788,5 4.833,0 4.860,9
Fonte: Eurostat
Calculámos para alguns países o número médio de dias de greve por paralização,
relativos a 2008. Esse indicador, adiante evidenciado, é muito distinto, conforme se
refere a países do sul, onde é muito mais baixo, do que nos dois países a norte. Em
Portugal, pela incipiência da contestação social e pela mais baixa dimensão das
empresas, este indicador pode traduzir-se, aproximadamente e, por cada greve,
como efectuada por cem trabalhadores durante três dias.
Dinamarca 5579 Itália 1164
Espanha 1862 Portugal (2007) 302
Grã Bretanha 5270
f) A conflitualidade – o número de trabalhadores grevistas
Um terceiro elemento conhecido relativamente às greves registadas na Europa
contempla o número de trabalhadores envolvidos. Observa-se, também aqui,
uma irregularidade acentuada, difícil de propiciar a construção de tendências.
O ano de 2002 regista um elevado número de grevistas devido aos contributos da
Itália e da Espanha mas também e, nas devidas proporções, pelos outros países
seleccionados, excepto a França, que se veio a destacar no ano seguinte. Em
Portugal o número de trabalhadores envolvidos em greves é escasso em número
absoluto e mesmo quando se tem em consideração a diferente dimensão
humana dos diversos países, ao efectuar-se um cotejo. Compare-se, por exemplo,
a situação portuguesa de país mais pobre da Europa ocidental com a Espanha
com uma população quatro vezes superior mas um movimento grevista
incomparavelmente superior; e ainda a Dinamarca, com cerca de metade da
população portuguesa, país muito mais rico e que apresenta um movimento
grevista mais de duas vezes superior.
Conflitualidade na Europa - número de trabalhadores em greve (1000)
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Dinamarca 75 76 49 111 44 76 33 79 61 91
Espanha 1.133 2.067 1.245 4.534 729 556 405 500 497 543
França 430 819 430 266 1.226 226 883 708 473 nd
G-Bretanha 141 183 180 943 151 293 93 713 745 511
Itália 935 687 1.125 5.442 2.561 709 961 467 906 669
Portugal 34 39 26 80 30 32 22 33 29 nd
Soma 2.747 3.871 3.055 11.376 4.741 1.892 2.395 2.500 2.712 1.815
Fonte: Eurostat
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18. O cálculo do número médio de trabalhadores por greve em 2008 é baixo,
revelando o seu carácter local, isolado, desligado de qualquer lógica de união de
forças, de protesto colectivo, mesmo a nível nacional.
Número trabalhadores/greve
Dinamarca 273 Itália 1078
Espanha 670 Portugal 295
Grã-Bretanha 3550
Por outro lado, o tempo de greve é, em média, curto, pese embora, no caso da
Dinamarca, em 2008, o esforço de cada grevista ter sido particularmente elevado.
Número dias greve/trabalhador
Dinamarca 20,4 Grã-Bretanha 1,5
Espanha 2,8 Itália 1,1
França 3,3 Portugal 1,0
Como se denota, em todos estes elementos atrás apresentados, em Portugal a
conflitualidade através de greves é escassa, muito inferior, qualquer que seja o
ângulo de visão, ao que se passa nos outros países europeus que, por sua vez, não
ostentam uma conflitualidade profunda nem alargada.
g) Conflitualidade em Portugal (1990/2007)
Observe-se, de seguida, a evolução histórica dos indicadores utilizados – número
de greves, trabalhadores envolvidos e dias de trabalho “perdidos” para o periodo
1990/2007, em Portugal.
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19. Conflitualidade social em Portugal (1990=100)
160
140
120
100
80
60
40
20
0
90
91
92
93
94
95
96
97
98
99
00
01
02
03
04
05
06
07
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
20
20
20
20
20
20
20
20
Grev es Trab. Env olv idos Dias "perdidos"
Revela-se no gráfico anterior uma evolução do protesto social a nível laboral
absolutamente antagónica à marcha da perda da relevância do trabalho e dos
trabalhadores na vida económica e na distribuição da riqueza por aqueles
produzida. Depois de uma primeira greve geral em 1988, as centrais sindicais
vêem-se na obrigação de repetir essa mobilização, em 2010 e, brevemente, em 24
deste mês, só depois de quatro PEC’s, da intervenção da “troika” e de medidas
incontestavelmente lesivas da multidão.
Mais vale tarde que nunca, dir-se-á. A questão é saber se os burocratas sindicais
englobam a greve geral numa estratégia de mobilização gradativa e de unidade
dos trabalhadores contra o sistema – hoje, reconhecidamente cleptocrático; ou,
se a mesma não passa de uma satisfação que se dá aos sectores mais atingidos
pela “austeridade” ou para cortar as asas dos mais contestatários, no âmbito de
uma campanha sazonal, igual à de todos os anos e que decorre de outubro a
maio, com pausas em dezembro e pela páscoa. Inclinamo-nos, muito
sinceramente, para o segundo caso.
h) Votação na esquerda institucional em legislativas
As democracias de mercado têm na sua configuração diversas e cuidadas formas
de perpetuar o poder de oligarquias económicas e políticas; destacando-se aqui
Grazia.tanta@gmail.com 8/11/ 2011 19
20. uma daquelas – o mecanismo eleitoral - em que a multidão é conduzida a
acreditar como democrático e susceptível de promover reais alterações ao statu
quo.
O mecanismo eleitoral encontra-se viciado em muitos aspectos; é a estrutura das
circunscrições eleitorais, o método de Hondt, a hierarquização implícita entre
partidos de poder e os outros, decorativos; é o monopólio eleitoral dos partidos, a
dificuldade de constituição de novos partidos, o apoio financeiro aos partidos do
sistema; é ainda, o pagamento e as mordomias dadas a mandarins para a sua
constituição como casta gestora dos bens públicos, os privilégios mediáticos dos
partidos, como representantes da opinião, etc. E, porque conformados e
beneficiários do sistema, os partidos da esquerda institucional não geram debate
ou denúncia dos mecanismos da democracia de mercado.
Uma análise das eleições legislativas realizadas em Portugal depois do fim do
regime fascista, revela de modo claro, que as mesmas nada mais têm feito que
legitimar e perpetuar o regime cleptocrático presente.
Os catorze actos eleitorais realizados revelam, através do gráfico seguinte, valores
para os votantes no espectro partidário dentro de um intervalo relativamente
estreito – um máximo de 5889 milhares em 1980 e um mínimo de 5307 mil em 1999.
Essa variação é totalmente insensível ao natural aumento da população com
direito a voto – 6321 mil em 1975 e 9624 milhares em 2011; este aumento de 54.4%
está longe de se repercutir no crescimento da participação eleitoral.
O segmento dos eleitores que não manifestam uma opção de voto partidário –
abstencionistas e votantes em branco ou que anularam o voto – cresce
acentuadamente no período considerado – 916 mil em 1975 e 4264 mil este ano. É
certo que o mandarinato tem descurado a fiabilidade do recenseamento
eleitoral, revelando explicitamente a consideração que tem pela democracia,
pela transparência; importa-lhe, decerto muito mais curar das bases de dados
que incluem elementos pessoais para fornecer à suserania norte-americana ou, as
que facilitam a punção fiscal junto da multidão. (7)
Grazia.tanta@gmail.com 8/11/ 2011 20
21. Votações em eleições legislativas (1975-2011)
(1000)
7.000
6.000
5.000
4.000
3.000
2.000
1.000
0
1.975 1.976 1.979 1.980 1.983 1.985 1.987 1.991 1.995 1.999 2.002 2.005 2.009 2.011
Abstenções, brancos e nulos Votos em partidos Esquerda
No entanto, mesmo considerando, a existência de centenas de milhar de eleitores
“fantasmas”, é evidente o aumento do volume de pessoas que se desinteressam
pelos pleitos eleitorais, revelando, dentro da pluralidade de razões para os
comportamentos aqui tipificados, uma descrença ou desinteresse pela paleta das
opções partidárias pelo método vigente para a expressão da vontade popular, se
não mesmo pelo sistema de representação a que designamos por democracia de
mercado.
A adesão das pessoas às propostas da esquerda institucional (conceito que aqui,
como sempre nos nossos textos, exclui o PS) não constitui grande ilustração para os
seus dirigentes e para a estratégia de privilégio da lógica eleitoral praticada
periodicamente, quando o sistema cleptocrático decide encenar uma consulta
popular ao seu desempenho. A coisificação das pessoas, a sua desqualificação
como eleitores, como actores sociais passivos que apenas se pretendem sensíveis
aos discursos inflamados dos profissionais da política da esquerda institucional,
(como dos outros partido) cansa e vai ficando desqualificada na cabeça de
muita gente.
As propostas da esquerda institucional são geralmente estafadas, desajustadas ou
enganosas. Situam-se muito atrás das novas necessidades da multidão e,
portanto, não conseguem entusiasmar nem promover mudanças substantivas nos
desequilíbrios eleitorais. Uma das causas dessa incapacidade resulta da inclusão
das suas propostas em ideologias políticas tomadas como pré-cozinhados prontos
para uma breve passagem no micro-ondas. Há também uma incompreensão das
sociedades actuais pouco dadas à aceitação entusiasta de escatologias
Grazia.tanta@gmail.com 8/11/ 2011 21
22. salvíticas. Por outro lado, os partidos da esquerda institucional continuam a
comportar-se como elites destinadas à condução e enquadramento de gentes
eivadas de fé, esquecendo que a multidão, hoje, engloba enormes segmentos de
gente instruida e qualificada, nem sempre disponível para seguir iluminados gurus.
A esquerda eleitoral, nos primeiros actos eleitorais verificados após o 25 de Abril
revela o seu apogeu absoluto em 1979, com 1.4 M de votantes, correspondentes a
24.1% dos votos dirigidos a partidos. Segue-se, um largo periodo de constante
declínio, que atinge o ponto mais baixo em 2002, com 586 mil sufrágios; esse
declínio foi interrompido em 2005, se se excluir uma ligeira recuperação observada
em 1999. A preponderância do PC, que raras vezes desce abaixo dos 80% dos
votos à esquerda, até 1995, decaiu fortemente nas eleições seguintes, passando
mesmo o peso do partido, em 2002/2005, a situar-se aquém de 50%, marca de
novo ultrapassada, por pouco, nas recentes eleições.
Em 2009 os votos posicionados à esquerda ultrapassam os 1060 milhares (20% dos
dirigidos a partidos), marca que não era atingida desde 1985 e que resulta do
elevado crescimento do BE. O volume dos votantes na esquerda eleitoral
registado em 2011 reconduz a votação aos níveis de 1987 ou 2005 e revela,
provavelmente, que o BE será um epifenómeno típico da primeira década do
século, com um declínio anunciado.
No seu conjunto os votos dirigidos à esquerda, superiores a um milhão até 1985, só
voltam a ultrapassar aquela fasquia em 2009. O cavaquismo, a adesão à UE e o
maná dos fundos comunitários conduziram ao já referido declínio da esquerda
eleitoral, incapaz de perceber a nova situação de consolidação capitalista; o que
volta a acontecer quando da vitória do PSD/CDS em 2002 e recentemente, em
2011. A esquerda institucional, no seu conjunto, é vulnerável à dinâmica da direita
mais reaccionária, não se constituindo em polo de aglutinação eficaz a essa
dinâmica.
Como se pode observar no gráfico acima, não há qualquer evidência de
crescimento sustentado do eleitorado de esquerda. Por outro lado, a progressiva
consolidação da influência do pensamento único neoliberal na sociedade
portuguesa e europeia contamina a esquerda institucional, cujas propostas se
mostram tendencialmente mais conservadoras, mais integradas no pântano da
democracia de mercado, conjunturais e jamais anti-sistémicas. Dir-se-ia que
navega no mesmo barco que carrega o sistema cleptocrático, adequando a sua
agenda em resposta à deriva reaccionária da direita, mormente do PS; e por isso,
nunca é capaz de qualificar aquele gang como uma agremiação de direita.
4 - A necessidade de reflexão e mudança de paradigma
“O problema é o sistema; a crise não passa do seu fedor”
(texto de uma faixa presente em Lisboa, na manifestação de 15 de outubro)
Grazia.tanta@gmail.com 8/11/ 2011 22
23. No verão do ano transacto escrevemos “Pensar à esquerda, sem vacas sagradas”
(8). Os pontos aí referidos - o pensamento único, o modelo social europeu, o fim
das nações, União Europeia, o Estado, uma democracia para consumidores, um
autoritarismo crescente, os excedentes de vidas humanas, o militarismo, a deriva
ambiental - continuam a ter toda a atualidade. No entanto, alguns desses ponto
requerem enriquecimento e outros temas deverão ser acrescentados, tendo em
consideração a evolução global e a profunda degenerescência que se vem
observando na vida politica e social.
Quando se fala do pensamento único, a tendência é para o identificar com a
arrogância ganhadora dos arautos da felicidade eterna propiciada pelo
capitalismo de matriz neoliberal após a queda do Muro de Berlim e o
desmoronamento do chamado “bloco soviético”.
A crise que se tornou pública com o processo dos “subprimes” nos EUA mostra-se
tão funda e aguda que vem promovendo o surgimento de novas formas de
gestão capitalista que mereceram da nossa parte um artigo sobre os
“renovadores” do capitalismo, em Dezembro de 2009 (9).
A referida crise não é mais do que uma sequela do funcionamento do primado da
lógica financeira e especulativa sobre a realidade a qual, queira-se ou não, é
constituida por coisas mais palpáveis como produção, emprego, direitos laborais e
políticos, organização social, poupança, investimento, gestão pública, etc. Esse
desvio político e ideológico transformou-se em várias crises - da dívida pública, do
emprego, do empobrecimento generalizado e do euro, para só referir as mais
evidentes ou mediáticas.
Ao agudizar-se, a crise veio promover o reaparecimento de ideias antigas sobre o
capitalismo por parte de dois tipos de políticos ou analistas.
Uns, neoliberais assustados, procuram as adaptações necessárias para continuar –
até à proxima crise – o modelo de acumulação baseado na ampla
desmaterialização da formação de riqueza; é o que fazem os eurocratas, sempre
suspensos dos encontros do parelha Merkel-Sarkozy.
Outros, a que daremos maior relevo no contexto deste texto, envolvem vários tipos
de pessoas. Alguns, com ilusões sobre as virtudes de um capitalismo regulado,
com políticas voluntaristas de um Estado criador de moeda e tentacular,
apresentam-se repletos da esperança de que os banqueiros e os especuladores
lhes dêem uma oportunidade como gestores dos interesses do capital. Outros, de
“esquerda” ditos marxistas, trotskistas ou estalinistas (estes nunca se revelam como
tal) pintalgam-se de keynesianos responsáveis à procura de cooptação pelo
poder, preparando-se para assumir funções de reguladores do controlo da
indignação das multidões roubadas e empobrecidas para salvar o capitalismo.
Enfim, origens e caminhos distintos, com agentes provenientes de áreas políticas
distintas mas, com um só fito – concorrerem ou coligar-se para a salvação do
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24. capitalismo, para um mais repressivo controlo da multidão – e acederem às
alegrias e privilégios de serem poder.
Em termos globais, não acreditamos que os dedos no ar destes naipes de
ingénuos ou oportunistas em busca do seu bem-estar como gestores da crise e do
controlo social, sirvam de grande coisa para a esmagadora maioria; o seu
principal perigo é o da confusão que geram, as ilusões que alimentam na plebe, o
favor que fazem para a continuidade do sistema. E, nesse contexto, o título que
colocámos para este conjunto de linhas, até poderá ser considerado benévolo.
É preciso evidenciar na fraseologia políticamente correta dos partidos da
chamada esquerda, bem como nos seus comportamentos, os seus verdadeiros
objetivos de controlo social, como órgãos do Estado. E saber aclarar o seu papel
junto da multidão, com relevo para os seus militantes e simpatizantes não
fanatizados. Aquele papel tem de ser claro para todos, tal como a destrinça entre
uma batata e um piano.
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Notas:
(1) http://tripnaarcada.blogspot.com/2011/05/violencia-policial-contra-anarquistas.html
(2) http://viasfacto.blogspot.com/2011/05/o-que-vi-em-setubal-durante.html
(3) http://www.slideshare.net/durgarrai/a-misria-da-esquerda-que-anda-por-a-um-case-
study-a-cimeira-da-nato
(4) Recentemente tem-se assistido à infiltração de grupos enfeudados a forças da dita
“esquerda” no movimento 15 O, nomeadamente por parte do “M12M” e de outras
pequenas seitas, como o PSR; esta, através de um prévio domínio que exerce sobre
alguns pseudo movimentos, com nomes insuspeitos para os incautos.
(5) http://www.slideshare.net/durgarrai/nacionalizao-da-banca-piada-ou-mistificao
(6) http://www.scribd.com/doc/24681888/Esquerda-PS-e-Alegre-%E2%80%93-Confusoes-
e-premeditacoes-eleitorais
(7) http://www.slideshare.net/durgarrai/um-sistema-eleitoral-falsificado-e-enganador
(8) http://www.slideshare.net/durgarrai/pensar-esquerda-sem-vacas-sagradas
(9) http://www.slideshare.net/durgarrai/a-resposta-capitalista-que-esto-a-preparar-para-
a-crise
Este e outros textos em:
http://pt.scribd.com/documents#all?sort=date&sort_direction=ascending&page=1
http://www.slideshare.net/durgarrai/documents
www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt
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