2. (A)Nita
Foi professora, jornalista, tradutora,
radialista, dona de livraria, além de escritora
Participou contra a ditadura e exilou-se
Inicia sua produção em LIJ em 1977
Ganhadora do prêmio Hans Christian
Andersen, considerado o prêmio Nobel da
literatura infantil mundial em 2000
Ganhadora do prêmio Machado de Assis, em
2001, pela Academia Brasileira de Letras -
ABL, pelo conjunto da obra.
Atual ocupante da Cadeira nº 1 da ABL,
eleita em 24 de abril de 2003
3. Uma opinião crítica
“Nas letras brasileiras, o nome de Ana Maria Machado
comporta uma contradição. Ao folhear as histórias e os
dicionários mais conhecidos de literatura brasileira, não
encontramos facilmente referências à sua obra. Por outro
lado, percorrendo os sites de busca da internet, verificamos
que há disponível cerca de uma centena de livros seus nas
livrarias. (...)
Considera-se a literatura de Ana Maria Machado testemunha
de uma época, o que não quer dizer que seja neutra; ela toma
partido pela igualdade, pela democratização, pela formação
crítica do leitor.”
(Maria Teresa G. Pereira e Benedito Antunes)
4. Uma opinião especializada
Nelly Novaes Coelho, mais importante pesquisadora brasileira na área de
LIJ, destaca a presença de AMM em 3 das 5 tendências contemporâneas
básicas da literatura para crianças e jovens.
Realismo cotidiano
De olho nas penas
Bento-que-bento-é-o-frade
Currupaco, Papaco
O domador de monstros
Bisa Bia Bisa Bel
Maravilhoso
História meio ao contrário
Uma boa cantoria
História do Jabuti sabido com Macaco metido
Pimenta no cocoruto
Narrativa por imagens
Coleção Mico Maneco
6. A obra
Em torno de 150 obras publicadas,
desconsiderando traduções e adaptações
Participação na revista Recreio (anos 70)
1° livro publicado (1976) - Recado do
Nome (tese de doutoramento sobre
Guimarães Rosa)
1° livro para crianças (1977) - Bento que
bento é o frade (originalmente peça No
país dos Prequetés)
Possui 9 romances e 8 livros teóricos
Fonte: site oficial da escritora
Livros, Van Gogh
7. Literatura sem adjetivos
“(...) a literatura, por fazer um uso estético da palavra,
experimenta o que ainda não foi dito, inventa algo novo,
propõe protótipos (...).
A literatura — infantil, juvenil, adulta ou senil, esses
adjetivos não têm a menor importância — é constituída por
textos que rejeitam o estereótipo. Ler literatura, livros que
levem a um esforço de decifração, além de ser um prazer, é
um exercício de pensar, analisar, criticar. Um ato de
resistência cultural.” (fonte: Texturas, 2001, p. 88 - AMM)
8. Tendências temáticas na LIJ
Tratar a realidade, sem infantilização
Revela a complexidade da existência humana e da
organização familiar e social
Narrador cúmplice do leitor, muitas vezes onisciente
Discurso literário pleno de oralidade
Intertextualidade e narrativas de encaixe
Por quê? - formação de um leitor crítico
Questionamentos ao poder (metáfora da nobreza)
Jogos de linguagem e metalinguagem
Minorias e coletividade
Personagens fortes e astutas (triangulação)
Viagem de amadurecimento
9. Brincar é coisa séria
A obra de AMM oferece muitas histórias
centradas em brincadeiras, algumas delas
esquecidas nos novos tempos.
O aspecto lúdico ganha destaque sendo um
atrativo especial para os pequenos leitores,
imersos no mundo dos jogos e brincadeiras.
Em meio a essa diversão toda, surgem
elementos importantes como jogos de
palavras, regras e questionamentos,
coletividade, valor da tradição e muito mais.
11. Aspectos linguísticos
Como a matéria-prima do escritor é a língua,
AMM explora com qualidade os recursos
linguísticos da palavra e seus arranjos.
A consciência da escrita enquanto jogo criador
e estimulador das potencialidades do texto e
do leitor.
Polissemia, homonímia, paronímia, conotação,
intertextualidade, jogos de palavras,
metalinguagem são algumas dessas
construções.
12. Problema de criança
As questões tipicamente infantis como suas
inseguranças, incompreensões e medos vão
ganhar espaço privilegiado nas histórias de
AMM.
Muitas vezes as personagens infantis vão
dividir com os leitores suas angústias tão
cotidianas e como alcançaram a solução.
15. Aspectos textuais
Explorar os aspectos textuais a partir da obra
de AMM favorece ir além das categorias
narrativas.
Uma potencialidade é explorar os gêneros
textuais como a carta, o anúncio, a fábula,
peça teatral, caderno de receitas, diário e
muito mais.
17. Lei 11645
Preocupada com a brasilidade e diversos
valores nacionais, AMM já contemplava as
duas matrizes culturais brasileiras: africana e
indígena.
Sem usar a literatura como pretexto para
abordar tais temáticas, aprofunda olhares para
cultura e o humano.
19. Questionando o poder
Tendo vivido intensamente as imposições da
ditadura no Brasil, as instâncias de poder
autoritário são temática de várias obras da
escritora.
As personagens questionam situações em que
quem manda usa de autoridade apenas, sem
respeitar os direitos alheios.
Como força motriz para essa reflexão, muitas
vezes, indica a voz infantil e a força da
coletividade.
21. Desconstruindo gênero
Em vários livros, os papéis sociais de homens e
mulheres são colocados em xeque.
Personagens femininas submissas não têm
mais vez e são constantes os questionamentos
aos modos de ser tradicionalmente impostos às
mulheres.
Personagens masculinas não possuem mais os
mesmos padrões de comportamento ditos
“tradicionais”.
23. O príncipe que bocejava I
“Era uma vez um príncipe muito bem educado, que tinha
se preparado toda a vida para ser rei um dia.” (p. 5)
Príncipe encantado - “para quem ainda acredita nessas
coisas” (p. 6)
Baile - “festa de escolher noiva”
Bocejar - “incidente diplomático”
Novas princesas - “atrizes, cantoras e modelos”
“É que nem podia ouvir falar em princesa que se lembrava
das conversas que tinha ouvido. De todas aquelas moças
falando de roupas e do cabeleireiro e do namorado de
uma amiga e da irmã da vizinha e do último lançamento
da butique e do regime que a prima da cunhada tinha
feito e da festa do duque e do número de calorias do
empadão e do chapéu novo da marquesa e do chapéu
velho da baronesa e do corte de cabelo esquisito da
condessa e da...” (p. 11)
25. O príncipe que bocejava III
Viagem disfarçado - “Cortou e pintou o cabelo, pôs brinco
e óculos escuros, se vestiu de um jeito bem moderno,
botou uma mochila nas costas.” (p. 12-13)
Encontro no trem - conversa brotou de um livro: “Num
instante estavam conversando. Falando de personagens
que conheciam como se fosse gente de verdade. Tinham
lido alguns livros que eram os mesmos. Mas cada um
tinha também suas leituras diferentes. Então
recomendavam, contavam, comparavam. Lembravam
trechos de que gostavam, criticavam o que não
gostavam.” (p. 14)
Viagem juntos por lugares, histórias e livros
“Que mistério era aquele? Como é que aquela moça podia
ir para onde quisesse, daquele jeito? Não tinha família?
Não morava em lugar nenhum? De onde vinha? Para onde
ia?” (p. 19)
26. O príncipe que bocejava IV
Príncipe revela sua identidade - “Tinha vontade de ficar o
resto da vida ao lado dela, conversando sem parar.” (p.
20)
Princesa da Festa da Uva - “Tirei o segundo lugar no
concurso de Rainha da Uva na Festa da Colheita(...)” (p.
20)
“Daí a alguns meses a Princesa que Lia e o Príncipe que
Não Bocejava Mais voltaram para casa e se casaram. Não
sei se viveram felizes para sempre. Mas por muitos e
muitos anos, até onde a memória alcança, tiveram
assunto para conversar e se divertir. Leram muito. E às
vezes, quando bocejavam, já sabiam porque era: estavam
com sono e era hora de ir para cama.
28. A princesa que escolhia I
“Era uma vez uma princesa muito boazinha e bem
comportada. Boazinha até demais, sabe? Obedecia a
tudo. Concordava com todos. Uma verdadeira maria-vai-
com-as-outras. (...) / Ainda bem que isso não durou
muito, porque senão a gente não ia ter história. Ou só ia
ter uma história muito chata, sem graça nenhuma. Mas
a sorte é que um dia ela disse: / —Desculpe, mas acho
que não.” (p. 3-4)
“A mãe, que também era boazinha demais, quase
desmaiou de susto.” (p 4)
“O pai dela, que era todo metido a manda-chuva, ficou
furioso. Ele era do tipo que achava que príncipe serve
para andar a cavalo, enfrentar gigantes e matar dragões,
mas que princesa só serve para ficar aprendendo a ser
linda e boazinha, enquanto seu príncipe não vem.” (p. 4)
29. A princesa que escolhia II
Castigo na torre = biblioteca + jardim + vista do alto +
filhos do jardineiro + internet
“Ela lia, lia, emprestava livro para os amigos. Adoravam
conversar sobre o que tinham lido. E cada um ficava
cada vez mais sabido.” (p. 9)
“De vez em quando, a rainha vinha e perguntava: / —
Como é, minha filha? Vai tomar jeito? Resolveu ser
boazinha e dizer sempre que sim? / — Ai, minha mãe!
— suspirava a princesa. — Não dá, mesmo. Eu quero é
poder escolher sempre. / — Escolher? Como assim?”
(p. 11)
Conhecimento - chave para sair do castigo
Prêmio - poder escolher: “Não era bem isso que o rei
tinha pensado, mas já tinha dito que atenderia ao
desejo dela. E palavra de rei não volta atrás.” (p. 15)
31. A princesa que escolhia IV
Escolhas - “Começou logo escolhendo uma coisa
importante: ia dispensar os preceptores e estudar
numa escola com montes de colegas.” (p. 17)
Baile para escolher marido - “Muito educada, a
princesa conversou com todos, ouviu o que eles diziam,
respondeu com atenção. Foi encantadora. E eles
ficaram encantados com aquela princesa tão linda e
inteligente, tão educada, com tanto assunto.” (p. 21)
Pretendentes (referências intertextuais)
Esportivo - Rapunzel
Especialista em sapatos - Cinderela
Amigão - Branca de Neve
Barulhento - Bela Adormecida
Mais velho - polícia
32. A princesa que escolhia V
“— Pois eu escolho não me casar agora. Ainda sou
muito moça para isso. (...) Quero estudar muito, viajar
muito, conhecer outros lugares e outras pessoas.” (p.
29)
“Estudou, viajou, aprendeu um monte de coisas. Foi
para uma universidade e virou arquiteta. (...) / Um dia,
encontrou numa reunião um arquiteto que fazia
paisagismo: planejava jardins. Fazia muito tempo que
os dois não se viam, mas logo se reconheceram: era o
filho do jardineiro, amigo dela do tempo em que ficara
de castigo na torre. / E foi ele que a princesa escolheu
para namorar.” (p. 29)
“Como é que essa história acaba? Não dá para saber
bem, porque ainda não acabou. / Antes de acabar,
ainda aconteceram muitas coisas.” (p. 29)
33. A princesa que escolhia VI
Reino: morre o rei e princesa assume o trono
Governo: eleições e reino parlamentarista
“E a princesa? / Nem sei se ainda vive por lá e se
ainda manda alguma coisa. Sei que ainda está com o
filho do jardineiro. / Também não sei se os dois
viverão felizes para sempre. Mas posso garantir que
estão muito felizes... / É que os dois escolhem a cada
dia...” (p. 33)
“E quando alguém pergunta à princesa se ela se
arrepende de não ter casado com um príncipe, ela
responde: / — De jeito nenhum. Eu tenho o que eu
sempre quis. Sei que não escolhi um príncipe. Mas
acho que escolhi um princípio. Só um jeito de
começar.” (p. 33)