Para fazer frente à barbárie contemporânea e fazer com que a paz prevaleça nas relações internacionais, é preciso constituir um governo mundial que teria por objetivo a defesa dos interesses gerais da humanidade compatibilizando-os com os interesses dos povos de cada nação e evitar que as relações internacionais sejam regidas pela lei do mais forte como tem sido ao longo da história da humanidade. Para fazer frente à barbárie contemporânea e fazer com que a paz prevaleça no interior de cada nação, é preciso que se implante um modelo de sociedade nos moldes da social democracia escandinava
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
Como sepultar a barbárie que domina o mundo
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COMO SEPULTAR A BARBÁRIE QUE DOMINA O MUNDO
Fernando Alcoforado*
Barbárie consiste no estado de caos e desordem, quando não há uma cultura ou um
padrão de convívio entre os indivíduos, tornando-os seres cruéis e violentos. Eric
Hobsbawm observa que a barbárie significa uma ruptura com os padrões morais que
regulam a vida em sociedade e os controles sociais tradicionais dando lugar à violência
desenfreada e o desprezo pelo ser humano. Segundo o grande historiador britânico já
falecido, Eric Hobsbawn, nos últimos 150 anos, a barbárie tem aumentado
permanentemente. Ano a ano, década a década, a violência e o desprezo pelo ser
humano têm aumentado parecendo não haver um limite para este fenômeno. Algo
muitíssimo pior: os homens e mulheres se acostumaram com a barbárie já não existindo
espanto, estranheza, nem horror frente aos atos desumanos (HOBSBAWM, Eric. La
barbarie: guia del usuário. Disponível no website
<http://pt.scribd.com/doc/50203686/La-barbarie-guia-del-usuario>).
O filósofo Karl Marx escreveu em 1847 esta passagem surpreendente e profética: "A
barbárie reapareceu, mas desta vez ela é engendrada no próprio seio da civilização e é
parte integrante dela. É a barbárie leprosa, a barbárie como lepra da civilização"
(LOWY, Michael. Barbárie e modernidade no século 20. Publicado no Brasil pelo
jornal "Em Tempo"- emtempo@ax.apc.org e, originalmente em francês, na revista
"Critique Communiste" nº 157, hiver 2000). O genocídio nazista contra os judeus,
ciganos e comunistas, o uso da bomba atômica em Hiroshima e Nagasaki, o Goulag
stalinista, a guerra do Vietnã, o ataque terrorista ao World Trade Center em New York,
as duas guerras do Iraque, a guerra do Afeganistão e a guerra civil recente da Líbia e na
Síria exemplificam de maneira mais acabada a barbárie que caracteriza o mundo em que
vivemos.
A Primeira e a Segunda Guerra Mundial estabeleceram uma nova forma de barbárie
eminentemente moderna, bem pior em sua desumanidade assassina do que as práticas
guerreiras dos conquistadores "bárbaros" do fim do Império Romano. Segundo Eric
Hobsbawn, a Grande Guerra (1914-1918) abre a etapa mais sanguinária da história
mundial. 1914 começa com os sacrifícios ilimitados no afã de eliminar o inimigo.
Sacrifício este que incorpora a própria população civil. 1914 começa com a era da
guerra total, a ausência de distinções entre combatentes e não combatentes
(HOBSBAWM, Eric. La barbarie: guia del usuário. Disponível no website
<http://pt.scribd.com/doc/50203686/La-barbarie-guia-del-usuario>).
Os historiadores supõem que sempre existiram guerras porque no registro documentado
da história humana, que remonta há 6.000 anos, houve apenas 292 anos de relativa paz
entre os povos. Esse período de tempo de 55 séculos, porém, é apenas uma partícula do
tempo total da presença humana na Terra. A despeito das reiteradas intenções de todos
os países do globo em manter a paz mundial com a constituição da Liga das Nações
idealizada em 1919 e da ONU implantada em 1945, as quais se constituíram em
federações de nações nos moldes propostos por Kant em sua obra A Paz Perpétua, o
Século XX foi palco (até agora) de três grandes guerras: 1ª e 2ª Guerra Mundial e a
Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética.
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Na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), morreram cerca de 9 milhões de pessoas.
Apenas vinte anos depois, eclodia a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), que matou
entre 40 e 52 milhões de pessoas. De 1914 a 1990, morreram 187 milhões de pessoas,
em atos bélicos ou extermínio sistemático. As guerras do século XX foram
“guerras totais” contra combatentes e civis sem discriminação. O historiador Eric
Hobsbawm informa em que: "Sem dúvida ele foi o século mais assassino de que temos
registro, tanto na escala, frequência e extensão da guerra que o preencheu, mal
cessando por um momento na década de 20, como também pelo volume único das
catástrofes humanas que produziu, desde as maiores fomes da história até o genocídio
sistemático" (HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos. Companhia das Letras, 2008).
Contemporaneamente, a humanidade se defronta com o terrorismo globalizado
resultante da ação imperialista recente no Iraque, na Líbia, na Síria e no Afeganistão,
entre outros países e a ameaça de eclosão de uma guerra nuclear entre os Estados
Unidos e a Coreia do Norte. A violência entre os seres humanos se manifesta não
apenas nas relações internacionais. Ela está presente na vida cotidiana da grande
maioria dos países do mundo. A violência mata mais de 1,6 milhão de pessoas no
mundo a cada ano, segundo relatório divulgado pela Organização Mundial de Saúde
(OMS). A violência é hoje a principal causa das mortes de pessoas entre 15 e 44 anos
respondendo por 14% das mortes de homens e 7% das mortes de mulheres. Nos últimos
30 anos, as vítimas de homicídios no Brasil chegam a mais de 1 milhão de pessoas
(BLOG DO TAS. Violência no Brasil: pior que Iraque, Angola e Afeganistão.
Disponível no website <http://blogdotas.terra.com.br/2011/12/28/violencia-no-brasil-
pior-que-iraque-angola-e-afeganistao/>).
Por que países como a Holanda e Suécia estão fechando prisões, enquanto o Brasil está
aumentando a quantidade de presos? Por que Noruega tem baixo índice de reincidência,
enquanto são altos os índices no Brasil? Nos países onde o número de presos está
diminuindo, isto acontece porque a redução da criminalidade resulta de políticas de bem
estar social que proporcionam justiça social e acesso de toda a população à educação de
qualidade. Além disso, a quantidade de presos diminui porque há um enfoque mais
compreensivo em relação ao tema drogas, aplicação de mais penas alternativas,
inclusive para pequenos roubos, para os furtos e lesões não graves etc.
Vivemos em um mundo que tem como uma das suas características principais a
violência praticada pelo homem contra seus semelhantes. A percepção de muita gente é
a de que a violência representa o predomínio do instinto animal que possuímos sobre os
valores da civilização. Isto explicaria a escalada da criminalidade e das guerras em todas
as épocas em todo o mundo. Uma tese defendida, sobretudo na atualidade, por algumas
religiões e por alguns psicólogos e filósofos é o de que o homem seria visceralmente
mau, intrinsecamente perverso e, por natureza, corrupto. Outras religiões e outros
psicólogos e filósofos apresentam, entretanto, tese diametralmente oposta.
O Cristianismo, o Judaísmo, o Islamismo, o psicólogo Freud e o filósofo Thomas
Hobbes convergem em seus pensamentos ao considerar que o ser humano tem uma
inclinação para o Mal os quais são contrapostos aos das religiões orientais, do
Espiritismo, do psicólogo Carl Rogers e dos filósofos Rousseau e Karl Marx, que
defendem a tese de que a sociedade é que o degenera lançando-o contra o seu
semelhante. Enquanto existir a injustiça social extrema resultante do capitalismo
selvagem dominante e a falta de acesso de toda a população à educação de qualidade, o
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Brasil e o mundo continuarão convivendo com a violência extrema e o Mal
prevalecendo sobre o Bem.
O grande desafio da era contemporânea é fazer a humanidade evoluir do estágio de
barbárie em que se encontra no momento ao de civilização na qual existiria um contrato
social planetário com base no qual haveria a concórdia entre os seres humanos e o
respeito dos seres humanos pela natureza. Para fazer frente à barbárie contemporânea e
fazer com que a paz prevaleça nas relações internacionais, é preciso constituir um
governo mundial que teria por objetivo a defesa dos interesses gerais da humanidade
compatibilizando-os com os interesses dos povos de cada nação e evitar que as relações
internacionais sejam regidas pela lei do mais forte como tem sido ao longo da história
da humanidade. Para fazer frente à barbárie contemporânea e fazer com que a paz
prevaleça no interior de cada nação, é preciso que se implante um modelo de sociedade
nos moldes da social democracia escandinava (Suécia, Dinamarca, Noruega, Finlândia e
Islândia) que é um híbrido de capitalismo e socialismo no qual os elementos positivos
de ambos os sistemas estão presentes. Em 2013, a revista The Economist declarou que
os países nórdicos são provavelmente os mais bem governados do mundo. O relatório
World Happiness Report 2013 da ONU mostra que as nações mais felizes estão
concentradas no Norte da Europa, com a Dinamarca no topo da lista. Os nórdicos
possuem a mais alta classificação no PIB real per capita, a maior expectativa de vida
saudável, a maior liberdade de fazer escolhas na vida e a maior generosidade.
*Fernando Alcoforado, 78, membro da Academia Baiana de Educação e da Academia Brasileira Rotária
de Letras – Seção da Bahia, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento
Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento
estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é
autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova
(Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São
Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado.
Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e
Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX
e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of
the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável-
Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do
Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social
(Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática
Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas,
Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016) e A Invenção de um novo
Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017).