1) O documento discute como o governo Bolsonaro no Brasil levou o país a uma "nova idade das trevas" através de políticas desastrosas na economia, meio ambiente, educação, saúde e outros setores.
2) A "idade das trevas" é um período histórico caracterizado por guerras, pandemias, desigualdades e ausência de progresso. O iluminismo surgiu como uma resposta a este período promovendo razão, ciência e liberdade.
3) O autor argumenta que o ilumin
AS REVOLUÇÕES SOCIAIS, SEUS FATORES DESENCADEADORES E O BRASIL ATUAL
O BRASIL NA IDADE DAS TREVAS BOLSONARISTA E O RESGATE DO ILUMINISMO
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O BRASIL NA IDADE DAS TREVAS BOLSONARISTA E O RESGATE DO
ILUMINISMO
Fernando Alcoforado*
Este artigo tem por objetivo demonstrar que é chegada a hora de se contrapor à Idade das
Trevas bolsonarista com o seu oposto, a luz, o Iluminismo, para varrer das estruturas do
poder os responsáveis pelas trevas hoje existentes. O termo "trevas" foi usado para
caracterizar práticas retrógradas que prevaleceram do século IV ao século XV na Europa
na Idade Média. O rótulo "idade das trevas" é empregado no tradicional embate entre luz
versus escuridão para contrastar a "escuridão" deste período com os períodos anteriores
e posteriores de "luz". A idade das trevas é um período histórico caracterizado pelo
agravamento dos problemas demográficos, culturais e econômicos que ocorreram na
Europa após o declínio do Império Romano do Ocidente. Do século IV ao século XV, as
trevas se caracterizaram por fatos e acontecimentos extremamente negativos tais como,
as guerras, as invasões bárbaras, as crises da agricultura, a pandemia da peste bubônica,
a tirania exercida pela Igreja, a inquisição em relação aos hereges, a centralização da
economia restrita aos feudos, as desigualdades sociais, dentre outros aspectos.
A Idade das Trevas na Europa foi uma época conturbada. Invasores errantes a cavalo
atacavam os campos. Surgiram conflitos religiosos entre católicos e protestantes, os
muçulmanos conquistaram terras, a escassez de boa literatura e realizações culturais e
práticas bárbaras prevaleceram. O período da Idade das Trevas foi visto também como
uma época de fé. Homens e mulheres buscavam a Deus. Alguns através dos mais sérios
rituais da Igreja Católica, outros em formas protestantes de adoração. Os intelectuais, por
sua vez, viam qualquer religião, por si mesma, como um tipo de "escuridão". Estes
pensadores afirmavam que as crenças religiosas alienavam as pessoas criando uma falsa
realidade porque estavam dominadas pelas emoções, não pela razão. A religião era vista
como contrária à racionalidade e à razão, e esta mentalidade foi que deu início ao
Iluminismo – um afastamento da “escuridão”. A ciência e a razão ganharam ascendência,
progredindo de forma constante durante e após a Reforma Protestante e o Iluminismo.
O Brasil mergulha em nova Idade das Trevas com o governo Bolsonaro porque sua
política econômica tem sido desastrosa ao adotar os princípios do neoliberalismo mais
radical. O Ministério da Economia, capitaneado por Paulo Guedes, foi estruturado para
desmantelar o Estado brasileiro, construído desde 1930 por Getúlio Vargas e outros
governantes. O Programa de Parcerias e Investimentos – nome dado ao plano de
privatizações do governo Bolsonaro — inclui um elenco de empresas de atividades
econômicas distintas, algumas de caráter estratégico, de ponta na área de tecnologia e
outras que atuam em áreas sensíveis para a democracia e inclusão social, que Jair
Bolsonaro quer privatizar e que pode trazer graves prejuízos econômicos e para a
soberania do país. Empresas estatais como a Eletrobras foi privatizada, o sistema
Petrobras foi desmantelado visando privatizá-la no futuro e desnacionaliza empresas
como a Embraer.
O Brasil mergulha em nova Idade das Trevas com o governo Bolsonaro porque sua
política de geração de emprego não é sua preocupação fundamental. Desde sua posse na
presidência da República, o governo Bolsonaro trabalha para desmantelar o Estado
brasileiro e nada fazendo para reativar a economia disto resultando no maior nível de
desemprego com mais de 14 milhões de desempregados e 27 milhões de trabalhadores
subutilizados já registrados na história do Brasil. Em 2020, a pandemia do novo
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Coronavirus agravou ainda mais a péssima situação da economia brasileira já estagnada
desde 2014. O desafio de reativar a economia brasileira aumentou com a pandemia e o
governo Bolsonaro se manteve inerte no sentido de reativá-la. A incompetência de
Bolsonaro e a presença de Paulo Guedes, fundamentalista do neoliberalismo, no
Ministério da Economia, dificultam a ação no sentido de reativar a economia brasileira.
O Brasil mergulha em nova Idade das Trevas com o governo Bolsonaro porque sua
política ambiental é responsável pelo crescimento das queimadas e do desmatamento na
Amazônia Legal e pela desobediência ao Acordo de Paris de combate à mudança
climática global. O governo Bolsonaro tomou uma série de medidas que colaboram para
o aumento do desmatamento. O discurso de Bolsonaro funciona como uma chancela ao
desmatamento. Trata-se de uma grande catástrofe produzida pelo governo Bolsonaro cuja
ação pode levar à destruição da Floresta Amazônica com a manifesta intenção de abrir
caminho para atividades de mineração, agricultura, pecuária e madeireira. O governo
Bolsonaro pratica um crime ambiental e, também, crime humanitário de grandes
proporções na Amazônia que afeta populações indígenas e precisam ser combatidos
veementemente. Bolsonaro admitiu deixar o Acordo de Paris de combate à mudança
climática. Bolsonaro se tornou um pária internacional, um vilão ambiental aos olhos do
mundo.
O Brasil mergulha em nova Idade das Trevas com o governo Bolsonaro porque sua
política de ciência e tecnologia promoveu a destruição do Sistema Nacional de Ciência,
Tecnologia e Inovação (SNCTI), construído ao longo dos últimos 60 anos. Nestes 60 anos
de investimentos em CT&I, o Brasil desenvolveu a produção de energia por fontes
renováveis, a medicina de alta tecnologia, o lançamento de startups, o desenvolvimento
de uma base industrial diversificada, entre outras ações. O governo Bolsonaro excluiu
milhares de bolsas do sistema CNPq e Capes e os bolsistas do CNPq enfrentaram
dificuldades para receber o financiamento para suas pesquisas. A situação é lastimável
porque a indústria, a ciência e a tecnologia nacional foram sucateadas contribuindo para
aumentar a dependência científica, tecnológica e industrial do Brasil em relação ao
exterior.
O Brasil mergulha em nova Idade das Trevas com o governo Bolsonaro porque sua
política de educação e cultura se caracteriza por uma guerra santa ultraconservadora de
caráter neofascista contra os ideais progressistas e democráticos. Sob o discurso de defesa
da família, da pátria e contra o “marxismo cultural”, governo Bolsonaro atacou em várias
frentes a estrutura educacional e cultural, com cortes e contingenciamento em
orçamentos, propostas de mudanças no funcionamento e na direção do Ministério da
Educação e a extinção do Ministério da Cultura. As universidades e os institutos federais
de educação foram alvos de cortes nos orçamentos, de medidas coercitivas como a
nomeação de reitores não respeitando a ordem da lista tríplice para garantir a posse de
dirigentes alinhados ideológica e politicamente com o governo, do uso de critérios
ideológicos para seleção de bolsistas e direcionamento de recursos para instituições
federais de ensino, de perseguição a professores com abertura de sindicância e estímulo
à denúncia através de linhas criadas pelo governo com esse objetivo. Além de
manifestações de caráter neofascista, a área da Cultura é vítima também de uma gestão
inoperante, incompetente, anti-intelectual e, principalmente, que prega o ódio à
democracia.
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O Brasil mergulha em nova Idade das Trevas com o governo Bolsonaro porque sua
política dos direitos sociais se caracteriza por desprezar os direitos fundamentais previstos
na Constituição de 1988 e demonstrar seu desapego à democracia e a falta de respeito
com a qual se dirige a amplos setores sociais. O Brasil, a partir de janeiro de 2019,
presencia a institucionalização das violações às liberdades civis e aos direitos
fundamentais. As iniciativas do governo (projetos de lei, medidas provisórias, decretos)
somadas às declarações e atitudes que partem de Bolsonaro e de seus ministros, criam um
grave ambiente de estímulo à violência e ao autoritarismo. Os ataques aos professores, às
universidades, à ciência e tecnologia, aos meios de comunicação e a jornalistas, ao direito
de manifestação e organização da sociedade e a participação social nas discussões,
decisões e acompanhamento de políticas públicas têm todos o mesmo sentido: restringir
a democracia e concretizar um golpe para consolidar um estado ditatorial no Brasil.
O Brasil mergulha em nova Idade das Trevas com o governo Bolsonaro porque sua
desastrosa política de saúde pública fracassou no combate à propagação do novo
Coronavirus ao tornar inoperante o Ministério da Saúde, além de atuar contra todas as
medidas postas em prática por governadores e prefeitos para combater a propagação do
vírus. Se o governo federal tivesse adotado o “lockdown”, isto é, o isolamento rigoroso e
total no início da pandemia no Brasil com ao menos 75% de toda a população em
quarentena, com testes para todos os pacientes com suspeita e seu isolamento do restante
da população, o número de mortes pela Covid-19 no país não passaria de 44,3 mil,
segundo o Imperial College de Londres, e não alcançaria as atuais 450 mil mortes.
Na atualidade, é um imperativo acabar com a Idade das Trevas no Brasil. O Brasil precisa
resgatar os ideais de busca da felicidade humana, da justiça e da igualdade social
preconizadas pelo Iluminismo. Da mesma forma que o Iluminismo foi a resposta política
e ideológica à Idade das Trevas, o mesmo deveria ser considerado no Brasil para unir, no
momento atual, a todos os cidadãos que defendem a democracia, a emancipação política,
a liberdade de pensamento e a justiça social para promover a melhoria da condição
humana no País. Oferecendo essas ideias, o iluminismo do século XVIII motivou as
revoluções burguesas na França e em todo o mundo que trouxeram o fim do Antigo
Regime e a instalação de doutrinas de caráter liberal que predominam até hoje no mundo.
O Iluminismo forneceu o lema da Revolução Francesa (Liberdade, Igualdade e
Fraternidade) e fecundou-a na medida em que seus seguidores se opunham às injustiças,
à intolerância religiosa e aos privilégios do absolutismo. Sim ao Iluminismo e não às
trevas no Brasil.
É chegada a hora de se contrapor às trevas com o seu oposto, a luz, o Iluminismo, para
varrer das estruturas do poder os responsáveis pelas trevas hoje existentes. Pelo exposto,
o governo Bolsonaro não tem condições de seguir governando o Brasil porque comete
crimes, espalha notícias falsas, mente e incentiva o caos, aproveitando-se do desespero
da população, sobretudo, das mais vulneráveis. Bolsonaro precisa ser urgentemente
removido do poder e responder pelos crimes que está cometendo contra o povo brasileiro.
O Brasil precisa da união de todos que são contra as trevas que dominam o País e desejam
o seu oposto, o Iluminismo. Neste momento vivido no Brasil não deveria haver a divisão
das forças políticas de oposição ao governo Bolsonaro e sim deveria haver a união em
torno de um programa mínimo que una a todos que é o programa do Iluminismo. Este
programa mínimo deve assegurar a união de todos para varrer a Idade das Trevas em
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nosso País. O primeiro passo da luta para varrer a Idade das Trevas bolsonarista consiste
em exigir do Congresso Nacional a abertura de processo de impeachment contra
Bolsonaro e da Procuradoria Geral da República para ele responder criminalmente pelos
inúmeros crimes praticados.
* Fernando Alcoforado, 81, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema
CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento
Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor
nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de
sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC-
O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil
(Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de
doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003),
Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI
ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary
Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr.
Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável-
Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio
Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora
CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no
Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que
Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba,
2017), Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-
autoria) e Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019).