SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 20
Descargar para leer sin conexión
CLAQUET 
A L T E R N A T I V A 
POR TRÁS DO CINE BELAS ARTES 
O CINEMA FABRICADOR DE SONHOS QUE REABRIU EM 2014 
ISMOS 
A INFLUÊNCIA DO 
SURREALISMO NO 
CINEMA 
PERFIL 
ALMODÓVAR E O TRIUNFO 
DAS CORES NA SÉTIMA ARTE
CLAQUETE ALTERNATIVA | 3 
ÍNDICE 
RECORDANDO 
5. MARCOU VOCÊ 
6. CINE HISTÓRIA 
7. MESTRES 
8. ISMOS 
CINE MANIA 
10. CAPA 
13. CINE GOURMET 
14. VIAJANDO 
FIQUE POR DENTRO 
16. ESTREIAS E 
ANÁLISES 
p. 7 
p. 10 
p. 14 
Fotos Pedro Almodóvar: Suki Dhanda / Belas Artes: AE / Antes do amanhecer: Divulgação
4 | CLAQUETE ALTERNATIVA 
EDITORIAL 
A CLAQUETE ALTERNATIVA tem como missão difundir o cinema alternativo no Brasil de maneira inovadora, aprofundando os fatos, discutindo, interpretando, analisando e formando opinião. É uma revista feita para quem gosta de ler, que quer saber sempre mais sobre pessoas interessantes que fazem coisas que fogem aos padrões que normalmente vemos na mídia — no caso, filmes. 
Queremos que nossas matérias sejam tão inovadoras quanto os filmes que nos inspiram e fazem parte do nosso dia-a-dia. Porque a CLAQUETE ALTERNATIVA é feita especialmente para aqueles que respiram cinema, que acham que um dia sem filme é um dia menos alegre. 
A revista não se prende apenas a fazer uma análise fria das produções alternativas, ela quer entrar no universo, se aproximar da realidade e trazê-la para seus leitores, para que possam não apenas compreender, mas interpretar e interagir com o mundo alternativo das produções cinematográficas, aumentando ainda mais seu prazer e amor por esse gênero. 
EXPEDIENTE 
Diretora de redação 
Profª Drª Fábia Dejavite 
Editor-chefe 
Felipe Henrique Lima 
Editores e repórteres 
Barbara Godoy 
Felipe Henrique Lima 
Jéssica Parolin 
Renata Aloise 
Diretor de arte 
Prof Ms. Ricardo Senise 
Diagramação 
Felipe Henrique Lima 
Renata Aloise 
Foto de capa 
Yuri Alexandre 
Foto Juliana Lucas
CLAQUETE ALTERNATIVA | 5 
MARCOU VOCÊ ... 
Por Jéssica Parolin 
Filme: Horizonte Perdido, 1973 
“Filmes e música certamente dependem do momento, idade e o envolvimento sentimental por qual está passando. Diversos motivos nos levam ao cinema e, quando somos levados ao cinema no inicio de namoro e ainda na idade juvenil, a marca é maior. Horizonte Perdido o filme que ainda povoa minha mente por enquanto deve ter sido um dos primeiros filmes no cinema que vi. 
Marcou muito minha vida, a partir desse momento, meus valores da vida mudaram para muito melhor. Minha namorada era Bernadete, que veio a ser minha esposa, que me presenteou com dois filhos maravilhosos, Ana Tulipa e Cesar Sasso. Me lembro ter assistido mais uma vez.” 
Pascoal Tadeu Lignelli, 63 anos, diretor do IMESP. 
Filme: Ghost, 1990. 
“O filme que marcou a minha vida foi Ghost – Do Outro Lado da Vida, porque a história tem um lado cômico, mas também tem um lado do amor verdadeiro, do amor puro que tinha entre o casal. Eu acredito que as famílias podem ser eternas e que nós vamos viver depois dessa vida. É lógico que ali tem um pouco de fantasia, mas o fundamento, a essência do filme marcou minha vida e é muito bonito, o amor pode ser eterno.” 
Cleyfer Franco Reishoffer, 54 anos, professor universitário. 
Filmes: Maltilda, 1996 e A Viagem de 
Chiriro, 2001. 
“São vários filmes que marcaram minha vida, na minha infância sempre gostei do filme Matilda, porque era um filme que não tinha limites, era pura magia, eu levava isso pra minha realidade, então minha infância foi bastante vivida pelo fato de ter essa imaginação que o filme traz. Já um filme que marcou minha adolescência foi A Viagem de Chiriro. Essa animação foi muito especial pra mim, me grudou na tela do cinema do inicio ao fim hipnoticamente, é um filme que faz você querer mais.” 
Kelvin Yuki Korotsu, 22 anos, estudante. 
Foto Pascoal Tadeu 
Foto Jéssica Parolin 
Foto Jéssica Parolin
6 | CLAQUETE ALTERNATIVA 
CINE HISTÓRIA 
Por Jéssica Parolin 
Alguns filmes, principalmente os alternativos 
tem uma grande capacidade de nos envolver 
na trama, mas mais do que isso, podem nos ensi-nar 
muito. A história de algum momento pode ser 
contada de várias formas e se torna ainda melhor 
quando é contada da maneira que gostamos, atra-vés 
de filmes. 
Um exemplo disto é o filme: Todos os Homens do 
Presidente (1976), do diretor Alan J. Pakula. 
A narrativa se inicia em 1972, quando, sem ter a 
menor noção da gravidade dos fatos, um repórter 
(Robert Redford) do Washington Post inicia uma 
investigação sobre a invasão de cinco homens na 
sede do Partido Democrata, que dá origem ao es-cândalo 
Watergate e que teve como consequência 
a queda do presidente Richard Nixon. Estes fatos 
foram manchete nos principais jornais do mundo e 
ainda são discutidos em muitas salas de jornalismo, 
por historiadores e críticos. 
Relação com Jornalismo 
O filme mostra grande embasamento ao apre-sentar 
as teorias do jornalismo contemporâneo. 
Agenda-Setting e Newsmaking, analisados de ma-neira 
livre dentro das cenas, além disso, o filme exibe 
reuniões de pauta como momentos até certo ponto 
descontraídos em que os editores, comentavam as 
prováveis matérias a entrar no próximo jornal. O fil-me 
foi baseado no livro homônimo de Woodward e 
Bernstein (que chegaram a receber um prêmio Pu-litzer, 
em 1973). 
O jornalismo exemplificado no filme é de uma 
ordem um tanto rara em nossos dias. Podemos di-zer 
que as notícias correm atrás dos jornalistas hoje, 
mas Bob e Carl foram buscar notícias onde ninguém 
as via e onde nem sabia que poderiam ser encon-tradas. 
Pelos estes motivos, o filme Todos os homens do 
presidente mostra-se muito atual e pertinente para 
ser estudado por alunos de cursos de Comunica-ção/ 
Jornalismo e áreas afins. 
Todos os Homens do Presidente 
Fotos Divulgação 
Todos os Homens do Presidente (1976)
CLAQUETE ALTERNATIVA | 7 
MESTRES 
Por Renata Aloise 
Há certos cineastas que têm uma identidade 
visual tão forte que são facilmente reconheci-dos 
pelas cores de seus filmes. Pedro Almodóvar é 
um deles. Seus filmes são uma explosão de cores, 
que na verdade escondem a melancolia de quem 
viveu os difíceis anos da ditadura de Francisco Fran-co 
na Espanha. 
Nascido em Calzada de Calatrava, na província 
de Ciudad Real, comunidade autônoma de Castilla- 
-La Mancha na Espanha em 1951, sua família emi-grou 
para Extremadura quando ele tinha apenas 
oito anos e lá ele estudou com os Salesianos e Fran-ciscanos. 
Essa educação religiosa apenas o ensinou 
a perder a fé em Deus. Durante esse tempo, em Cá-ceres, 
ele começou a ir ao cinema compulsivamen-te. 
Quando tinha 16 anos mudou-se para Madri, so-zinho 
e sem dinheiro, mas com um objetivo sólido: 
estudar e fazer filmes. Era o final dos anos 60 e ape-sar 
da ditadura, Madri para um adolescente provin-ciano 
era a capital da cultura e da liberdade. 
Almodóvar nunca estudou cinema, pois nem 
ele nem a sua família tinham dinheiro para pagar 
os seus estudos. Já que não teve acesso à teoria, 
decidiu aprender na prática. Comprou sua primei-ra 
câmera Super-8 quando começou a trabalhar na 
Companhia Telefônica Nacional. Lá ficou por doze 
anos como assistente administrativo e neste perío-do 
teve sua verdadeira educação. 
Durante as manhãs ele tinha contato com uma 
classe social que não teria conhecido diante de ou-tras 
circunstâncias: a classe média espanhola, que 
na época, estava em plena era do consumismo. Du-rante 
as tardes e noites, ele escreveu, amou, se jun-tou 
ao grupo de teatro independente Los Gollardos, 
fez filmes em Super-8, escreveu para várias revistas 
alternativas e também pequenas estórias, algumas 
das quais foram publicadas. Essa crescente cultura 
alternativa de Madri se mostrou o cenário perfeito 
para os talentos de Almodóvar. Ele foi uma figura 
crucial na Movida Madrileña, movimento de renas-cimento 
cultural que surgiu após a morte do ditador 
Franco. Após um ano e meio de difíceis filmagens 
em 16mm estreou, em 1980, seu primeiro longa, 
Pepi, Luci, Bom e outras garotas de montão. 
Durante a próxima década, o cineasta causou 
bastante polêmica, especialmente o filme Maus há-bitos, 
uma sátira direcionada à Igreja Católica, o que 
reforçou sua reputação de enfant terrible do cine-ma 
Espanhol. O reconhecimento crítico, porém, só 
veio em 1988 com a estreia de Mulheres à beira de 
um ataque de nervos, que trouxe a Almodóvar sua 
primeira indicação ao Oscar de Melhor Filme Estran-geiro. 
A partir daí, seus próximos filmes eram ansiosa-mente 
esperados pelos fãs de cinema ao redor do 
mundo, que já esperavam ver as marcas do espa-nhol: 
o exagero, as mulheres fortes, as cores. E prin-cipalmente 
a liberdade. 
Fotos Getty Images 
Pedro Almodóvar
8 | CLAQUETE ALTERNATIVA 
ISMOS... 
Por Barbara Godoy 
O cinema pode ir muito além da definição por 
gêneros, e é isso o que a CLAQUETE ALTERNA-TIVA 
produzirá nessa seção, por meio de categorias 
contidas de estéticas predominantes, ampliaremos 
seu conhecimento sobre os períodos importantes 
da sétima arte. Ao fim da leitura lançamos um desa-fio 
mental, você consegue relacionar algum de seus 
filmes preferidos nas categorias apresentadas? 
Surrealismo 
Inspirado pelo psicólogo Sigmund Freud, o Sur-realismo 
apresenta a proposta de fugir das forma-lidades 
trazidas pela educação tradicional à mente 
humana, usando como saída o estudo dos sonhos, 
com imagens incomuns e desprovidas de racionali-dade, 
que buscam o inconsciente. O poeta francês 
André Breton relata em seu livro Manifesto do Jorna-lismo, 
“é uma arte com base na ausência do controle 
da razão, isenta de preocupação estética ou moral.” 
O Surrealismo possui origens marcadas pelas 
artes plásticas, pintores surrealistas como Salvador 
Dalí (figura também importante para o cinema), Fer-nand 
Léger, Man Ray e Marcel Duchamp deixaram 
obras essenciais para o movimento e contribuíram 
na composição de diversos filmes, como o clássico 
surrealista Um cão andaluz (1929), concebido por 
Luis Buñuel e Dalí. 
O cinema foi uma plataforma importante para 
a difusão do mundo surrealista, diversos cineas-tas 
optaram por retratar esse movimento em suas 
obras, fugindo do tradicionalismo cinematográfi-co, 
entre eles estão Luis Buñuel, Jean Cocteau, Man 
Ray, incluindo os cineastas Walerian Borowczyk e 
Wojciech Has do leste euroupeu, que trabalhavam 
sob pressão do regime repressivo. No cenário atual, 
o diretor David Lynch é conhecido por retomar esse 
fôlego surrealista, assim como o roteirista Charlie 
Kaufman. 
CLAQUETE INDICA 
Um cão andaluz, 1929, Luis Buñuel 
Quero ser John Malkovich, 1999, Spike Jonze 
Cidade dos sonhos, 2001, David Lynch 
O mundo imaginário do Dr. Parnassus, 2009, Terry 
Gilliam 
Cidade dos sonhos 
Um cão andaluz 
Fotos Divulgação
CLAQUETE ALTERNATIVA | 9 
ISMOS... 
Pós-modernismo 
Esse movimento é conhecido pela autoconsci-ência 
trazida em seus filmes, quebrando a barreira 
existente entre mídia e realidade, recicla imagens 
do passado e mistura gêneros, radicalizando ele-mentos 
do noir, suspense, policial, road movie, e ou-tras 
vertentes cinematográficas, apresentando uma 
desconstrução da narrativa convencional e com-pondo 
irônicas citações que nos remetem às pla-teias 
de iniciados na história do cinema americano. 
Essas referências podem facilmente ser identifi-cadas 
nos filmes do diretor Woody Allen, por exem-plo. 
O diretor explora os limites entre realidade e 
ficção, utilizando influências de Ingmar Bergman, 
Federico Fellini e Stanley Kubrick. Em seu filme O 
dorminhoco (1973), Allen atua na pele de Monroe, 
um personagem caracterizado como um judeu res-munguento 
e neurótico com uma visão de futuro 
moldada por filmes como 2001: Uma odisseia no es-paço 
(1968) e Laranja mecânica (1971). 
O diretor Guy Maddin apresenta influências 
ainda mais antigas no mundo cinematográfico, 
retratando do cinema mudo alemão e soviético, a 
pintura, a música erudita e a literatura. Na França, 
Jean-Jacques Beinex e Luc Besson baseavam-se na 
estética de comerciais de tv para a produção de seus 
filmes, assim como os filmes Cães de aluguel (1992) 
e Pulp Fiction (1994) do aclamado diretor Quentin 
Tarantino. 
CLAQUETE INDICA 
O fundo do coração, 1982, Francis Ford Coppola 
Pulp Fiction - Tempo de violência, 1994, Quentin 
Tarantino 
O grande Lebowski, 1998, Joel e Ethan Coen 
Corra, Lola, corra, 1998, Tom Tykwer 
O grande Lebowski 
O fundo do coração 
Pulp Fiction 
Fotos Divulgação
10 | CLAQUETE ALTERNATIVA 
CAPA 
Por Barbara Godoy, Felipe Henrique Lima e Renata Aloise 
O Cine Belas Artes é um desses lugares cheios 
daquelas narrativas que nos encantam. Afi-nal 
são mais de 70 anos de existência, acompanhan-do 
os amantes do cinema em aventuras que só po-dem 
ser vividas através dos filmes. 
Tudo começou em 14 de julho 1956, no cruza-mento 
da Rua da Consolação com a Avenida Pau-lista, 
em São Paulo, com a inauguração do Cine Tria-non, 
que possuía apenas uma sala de 1400 lugares e 
era administrado pela Companhia Cinematográfica 
Serrador Ltda. O primeiro filme exibido lá foi Eles se 
casam com as morenas (1955), de Richard Sale. 
Foi apenas em 1967, em seu aniversário de 11 
anos, que o nome do local mudou para Cine Belas 
Artes. Com menos lugares — 1200 — a primeira exi-bição 
foi do filme Os russos estão chegando (1966), 
de Norman Jewison. 
Cinema Alternativo 
A programação do Belas Artes passou a ser do-minada 
pelo cinema de arte, organizada pela Socie-dade 
Amigos da Cinemateca, a SAC, cujo presidente 
era Dante Ancona Lopez, que popularizou esse tipo 
alternativo de filmes em São Paulo, em especial nos 
pequenos cinemas Scala e Picolino. 
O lema da SAC era “Espetáculo, Polêmica e Cul-tura”, 
e assim, para o Belas Artes se adequar, haviam 
apresentações não cinematográficas que comple-mentavam 
filmes de duração menor que os comuns 
90 minutos. 
Em seu primeiro andar, funcionava a secretaria e 
a biblioteca da SAC, além de uma galeria com ex-posições 
permanentes. No hall de entrada ficavam 
estandes com os últimos lançamentos de livros e 
discos de vinil e um palco com iluminação e sistema 
de som para peças, música, dança e palestras. 
Com a grande capacidade de lotação do cinema, 
a escolha dos filmes exibidos não podiam levar em 
consideração um público seleto. Era necessário se 
ater ao lema da SAC mas, ao mesmo tempo, atrair 
um maior número de pessoas, chamar a atenção de 
um grande público. 
Em 1970, o Belas Artes é dividido em duas salas, 
Villa Lobos e Portinari, e cinco anos mais tarde uma 
terceira é aberta, a Mário de Andrade, reservada 
para ciclos e mostras especiais. 
Em 10 de maio de 1982 ocorreu o episódio mais 
triste da história do Belas Artes. Um incêndio na 
madrugada destruiu todas as instalações das duas 
Foto Evelson de Freitas/AE
CLAQUETE ALTERNATIVA | 11 
maiores salas do complexo, a Villa-Lobos e a Porti-nari. 
O fogo se alastrou mais rapidamente devido à 
enorme quantidade de materiais de fácil combus-tão, 
como poltronas, isolantes acústicos, cortinas e 
carpetes. A perícia concluiu que o incêndio foi cri-minoso, 
pois foram encontrados portas e cofres ar-rombados. 
Três anos após o ocorrido, o Belas Artes foi rea-berto, 
completamente reformado e agora com seis 
salas: Carmen Miranda, Mário de Andrade, Oscar 
Niemeyer, Aleijadinho, Cândido Portinari e Villa- 
-Lobos. 
A partir daí, a administração do cinema passa 
para a distribuidora francesa Gaumont – que inau-gura 
na cidade o conceito de multiplex – mas conti-nua 
com a programação de filmes de arte. 
Em 29 de janeiro de 1987, o Circuito Alvorada 
passa a controlar o Belas Artes, expandindo as exi-bições 
para filmes mais comerciais, o que faz com 
que o público fiel vá desaparecendo pouco a pouco, 
fazendo com que o cinema entre em crise e sua es-trutura 
comece a se deteriorar cada vez mais. 
Sua administração muda mais uma vez em 2001, 
passando agora para a Estação Botafogo, que muda 
o nome do cinema para Estação Belas Artes. Apesar 
de voltar a programação para filmes de arte, clássi-cos, 
filmes independentes e nacionais, o grupo não 
teve sucesso e o fechamento do cinema é anuncia-do. 
Ressurgimento 
O movimento “Viva Belas Artes”, de 2002, conse-gue 
adiar seu fechamento por alguns dias. Em 5 de 
dezembro, o cinema iria exibir suas últimas sessões, 
e por isso, faixas foram colocadas em frente ao pré-dio, 
afirmando que o Belas Artes seria um patrimô-nio 
de São Paulo, e por isso não poderia fechar. 
Em março de 2003, André Sturm, da Pandora 
Filmes, o cineasta Fernando Meirelles, a produtora 
Andréa Barata Ribeiro e o cineasta Paulo Morelli, da 
02 Filmes se tornam sócios do Belas Artes, evitan-do 
seu fechamento. Assinam uma parceria com o 
banco HSBC, que acrescenta seu nome ao cinema 
e dá início a uma grande reforma. A reinauguração 
do Cine HSBC Belas Artes ocorre em 28 de maio de 
2004, com superlotação de todas as salas de exibi-ção. 
A programação era feita de cinema de arte e 
filmes comerciais de qualidade. Eram exibidos de 
6 a 8 filmes, um sendo sempre nacional. Uma vez 
por mês havia a sessão “Noitão”, que exibia filmes 
na noite de sexta até o início da manhã de sábado, 
sempre com um filme surpresa. 
Apesar do sucesso, em março de 2010 o banco 
HSBC deixa de patrocinar o Belas Artes. Há uma mo-bilização 
por parte de André Sturm para conseguir 
novos patrocinadores, pois os valores arrecadados 
com bilheterias não são suficientes para manter o 
complexo. 
O fechamento do Belas Artes causa uma gran-de 
comoção entre os fãs do local, desencadeando 
passeatas, criação de páginas na Internet e abaixo- 
-assinados físicos e eletrônicos com o registro de 
cerca de 28 mil adesões, além da manifestação de 
funcionários do cinema e protestos de cineastas e 
críticos. Mas nada disso impede que o cinema feche 
as portas em 17 de março de 2011. 
O processo de tombamento do prédio do Belas 
Artes, aberto em janeiro de 2011, é negado tanto 
pelo órgão municipal quanto pelo estadual, permi-tindo 
que o dono alugasse o imóvel. 
Mas três anos depois, as novidades eram boas 
para os cinéfilos que valorizavam tanto esse patri-mônio 
da cidade de São Paulo: o Cine Belas Artes 
seria reaberto. E assim foi, com o patrocínio da Caixa 
Econômica Federal, o cinema passou a chamar Cine 
Caixa Belas Artes e arrastou multidões no seu dia de 
reabertura, que contou com a presença de famosos, 
do prefeito Fernando Haddad, dos amantes, dos fãs, 
e também dos curiosos que ansiavam por conhecer 
o local. 
Além de salas completamente reformadas, uma 
bomboniere com produtos requintados, visual re-novado 
com paredes decoradas por cartazes de fil-mes 
clássicos que trazem um ar de nostalgia e privi-légios 
aos usuários que apresentarem cartão Caixa, 
a organização do local também apresentou opções 
de planos para os cinéfilos assíduos, oferecendo o 
direito de um filme por semana durante um ano, es-tipulado 
por um preço específico. 
A reabertura desse patrimônio teve uma impor-tância 
cultural imensa para a cidade de São Paulo, 
representou o resgate dos cinemas de rua, que tan-to 
contribuíram para a interação do público com a 
sétima arte durante os séculos passados, cinemas 
que foram esquecidos e substituídos pelos cinemas 
de shopping center. Os cinemas de rua atuais de-vem 
ser considerados relíquias dignas de visitação, 
lugares onde estão localizados os filmes cult, inde-pendentes, 
não superficiais, são lugares onde o ci-nema 
não é visto apenas como lazer, e sim como 
uma arte a ser admirada e analisada.
12 | CLAQUETE ALTERNATIVA 
CAPA 
A trajetória de um ícone 
1967 
Inaugurado em 47 
como Cine Ritz, passa 
a ser chamado de 
Cine Belas Artes. 
1982 
O cinema sofre um 
grande incêndio, 
duas de suas salas 
foram destruídas. 
texto 
1989 
Passa a ser assumido 
pelo grupo Gaumont, 
entrando em 
decadência nos anos 
90. 
2004 
Reaberto pelo cineasta 
André Sturm, em 
parceria com a 
produtora O2, e com o 
apoio do banco HSBC. 
2010/2011 
O banco resolve não 
renovar patrocínio e 
o cinema é fechado 
em fevereiro de 2011. 
2014 
Com patrocínio da 
Caixa Econômica, o 
cinema é reaberto 
com o nome Cine 
Caixa Belas Artes. 
Uma linha do tempo para relembrar os momentos mais marcantes da história do 
Cine Belas Artes na cidade de São Paulo
CLAQUETE ALTERNATIVA | 13 
CINE GOURMET 
Por Renata Aloise 
“... quebrar a cobertura do 
creme brûlée com a colher.” 
A obra O fabuloso destino de Amélie Poulain, do 
cineasta Jean-Pierre Jeunet, lançada em 2001 
e um sucesso ao redor do mundo, conta a história 
da francesa Amélie, interpretada pela atriz Audrey 
Tautou, uma jovem de Montmartre que sempre 
procura ver o melhor das pessoas e do mundo, nos 
ensinando a aproveitar os pequenos prazeres da 
vida. Um desses pequenos prazeres na vida de nos-sa 
heroína é quebrar a cobertura do tradicional cre-me 
brûlée. Esse “creme queimado” surgiu na França, 
mas é consumido por toda a Europa, com algumas 
pequenas modificações. Aprenda a fazê-lo para po-der 
compartilhar dessa pequena felicidade com a 
Srtª Poulain. 
Ingredientes 
- 6 gemas 
- 10 colheres de sopa de açúcar refinado 
- 1 fava de baunilha ou 1 colher de chá de essência 
de baunilha 
- 500ml de creme de leite fresco ou nata 
- Açúcar cristal para queimar 
Como fazer 
Levar ao fogo uma chaleira com água e pré aque-cer 
o forno a 180 graus. Passar as gemas por uma 
peneira para tirar a película do ovo e não dar gosto. 
Sem passar a colher, só furando as gemas e espe-rando 
escorrer. Adicionar o açúcar e bater com o 
batedor de claras até a mistura ficar clarinha. Abrir 
a fava ao meio e retirar as sementinhas com a ajuda 
da faca. Levar a uma panela a baunilha com o creme 
de leite e aquecer em fogo baixo. Deixar que infu-sione 
sem ferver, somente aquecer em temperatura 
de mamadeira. Retirar do fogo e misturar com as 
gemas. Distribuir a mistura em ramequins médios 
com a ajuda de uma concha. Dispor em uma forma, 
levar ao forno pré-aquecido a 180 graus, e então 
adicionar água fervendo na forma. Assar durante 1 
hora, sempre verificando se a água não secou. 
Caso aconteça, é só adicionar mais. Retirar do 
forno quando o creme estiver bem firme no topo, 
deixar esfriar e levar a geladeira. Deixar por no mí-nimo 
3 horas resfriando. O melhor é de um dia para 
o outro. Na hora de servir, polvilhar o açúcar cris-tal 
por cima e queimar com um maçarico. Caso não 
tiver maçarico, esquentar uma colher na chama do 
fogão e ir queimando, aos poucos, o açúcar. 
Fotos Divulgação
14 | CLAQUETE ALTERNATIVA 
VIAJANDO 
Por Barbara Godoy 
Conhecendo Viena com 
Celine e Jesse 
Antes do Amanhecer (1995) é o filme que dá início 
a trilogia de Richard Linklater, sobre um casal, 
(1) Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy), que 
se conhece por acaso durante uma viagem de trem 
que possui como destino Viena. 
Após aceitar o pedido de Jesse, Celine passa um 
dia com ele pelas ruas da cidade e no meio de diver-sos 
diálogos fascinantes sobre amor, religião, arte e 
temas aleatórios, os dois passam a se encantar pelas 
diferenças um do outro. O desfecho desse filme traz 
uma angústia curiosa que só é revelada no segundo 
filme, Antes do Entardecer, lançando em 2004, segui-do 
pelo terceiro e último, Antes da Meia Noite (2013). 
Nessa matéria conheceremos um pouco mais so-bre 
o dia 16 de Junho de 1995, o dia em que se deu 
início essa história de amor rodeada pelas arquite-turas 
e tradições vienenses. 
(2) A cena da loja de discos, que possui o nome 
de Alt & Neu (Novo e Velho), é uma das mais mar-cantes 
do filme pela famosa troca de olhares ao fun-do 
musical de Kath Bloom’s, Come Here. 
(3) Após pegarem um trem para fora da cidade, 
os dois vão parar perto do Friedhof Der Namenlo-sen 
(Cemitério dos Sem-nome), onde foram enter-rados 
corpos encontrados no rio Danúbio. 
(4) Após o primeiro beijo do casal, eles se sentam 
no Kleines Cafã, onde acabam encontrando uma vi-dente 
que lê a mão de ambos. Ela vê que Celine é 
uma estranha e está em uma jornada, e que ela pre-cisa 
resignar-se aos constrangimentos da vida para 
encontrar a paz dentro de si mesma e a verdadeira 
conexão com os outros. 
Ao ler a mão de Jesse, ela revela: “Você ficará 
bem, ainda está aprendendo.” Ao ir embora finali-za 
gritando para os dois “Vocês são pó de estrelas, 
não esqueçam. As estrelas explodiram bilhões de 
anos atrás para formar tudo o que está nesse mun-do, 
tudo o que conhecemos é pó de estrelas, não se 
1 
2 
3 
4 
Fotos Getty Images Fotos Getty Images Fotos Getty Images Fotos Getty Images
CLAQUETE ALTERNATIVA | 15 
VIAJANDO 
(5) Caminhando pelas margens do rio Danúbio, 
Celine e Jesse encontram outra figura inusitada, um 
morador de rua que os oferece uma poesia com a 
palavra-tema que eles escolhessem. Celine escolhe 
a palavra “milkshake” e o rapaz lhes entrega um po-ema 
que mexe com a protagonista. 
(6) É no restaurante Cafà Sperl que ocorre a fa-mosa 
cena da “ligação”, onde eles encenam uma 
falsa chamada e acabam criando coragem para di-zer 
indiretamente o que tinham sentido até então 
naquele dia. 
(7) Após persuadir o dono de um bar e conseguir 
uma garrafa de vinho, os dois passam a noite no 
parque Palais Schwarzenberg, onde acabam dor-mindo 
na grama e ao acordarem se deparam com 
a hora da partida, momento que veio sendo discuti-do 
pelos dois a todo momento durante o filme. 
Depois de várias controvérsias, ao chegarem a 
estação, os dois decidem combinar um encontro 
seis meses depois, sem nenhum tipo de contato. A 
despedida é seguida por uma sequência de cenas 
que mostra os lugares pelos quais os dois passaram, 
deixando o final do filme ambíguo e trazendo ao 
espectador um clima de satisfação acrescentado ao 
“quero mais”. 
5 
6 
7 
Fotos Getty Images Fotos Getty Images Fotos Getty Images
16 | CLAQUETE ALTERNATIVA 
ESTREIAS & ANÁLISES 
Por Felipe Henrique Lima 
tando de acordo com a aproximação do clímax de 
cada cena, cantos misteriosos e, nas cenas externas, 
a neblina que sai do chão sob a luz do luar. 
Apesar de algumas cenas soarem forçadas de-mais 
– como a que personagem Sara, amiga do 
protagonista, mesmo depois de já ter levado uma 
facada nas costas e caído no chão, reaparece na 
sala, caindo por detrás de uma cortina e morrendo 
bem na frente de Mark – o filme consegue prender 
a atenção com alguns ganchos de suspense e se-quências 
em que os personagens passam por situ-ações 
tensas de fuga e medo, embora a fórmula se 
desgaste ao longo da película. 
Talvez o maior trunfo seja o mistério em torno 
da identidade do autor por trás dos acontecimen-tos 
sinistros e das mortes dos personagens. É de se 
elogiar também a belíssima fotografia que a obra 
apresenta com enquadramentos e um jogo de co-res 
bastante interessantes e o uso de uma câmera 
subjetiva que sugere o olhar do vento em busca de 
algo ou ainda o foco no luar, criando um ambiente 
enigmático na narração. 
Por fim, a história do longa é interessante, mas 
tropeça em uma sequência surrealista e complica-da. 
Se os próprios personagens parecem confusos 
em diversas cenas, o que dirá dos espectadores? É 
preciso um olhar atento para entender o desenro-lar 
das ações e compreender a intenção de Argento 
com esta história, feita sob medida para os fãs do 
cinema místico. 
Terror clássico de Argento 
exige amor ao místico para 
melhor compreensão 
A Mansão do inferno (1980) 
Nota: 3 / 5 
Título Original: Inferno 
Diretor: Dario Argento 
Produzido na Itália 
O filme dirigido por Dario Argento, conhecido 
por sua influência no cinema de terror, é a se-gunda 
parte da chamada “trilogia das mães bruxas” 
(que não chegou a ter uma continuação) que gira 
em torno da história das Três Mães Bruxas, Mater 
Suspiriorum, antagonista central do primeiro filme 
Suspíria (1977), Mater Tenebrarum e Mater Lacrima-rum. 
Em Mansão do inferno, Rose Elliot, uma jovem 
poetisa que vive em Nova York, compra um livro 
antigo intitulado “As Três Mães”, escrito por um ar-quiteto 
e alquimista chamado Varelli, relatando seu 
encontro com as três mães do inferno. Ele construiu 
uma casa para cada uma delas, uma em Friburgo, 
outra em Roma e a terceira em Nova York. 
Após ler o livro, Rose fica extremamente pertur-bada 
e acha que reside na casa da terceira bruxa, 
decidindo investigar tudo ao seu redor. Desespe-rada, 
ela escreve uma carta para seu irmão, Mark, 
que estuda música em Roma, pedindo que venha 
a Nova York ajudá-la. Após uma série de aconteci-mentos, 
Mark enfim lê a carta e decide viajar para 
ver sua irmã. 
Argento se utiliza de vários elementos clássicos 
do gênero, como luzes que se ascendem e apagam 
misteriosamente, janelas que se movimentam com 
o vento, gatos assustando os personagens, porões 
escuros e medonhos, a típica trilha sonora para criar 
uma atmosfera de suspense, com a música aumen- 
Foto Divulgação 
A Mansão do Inferno
CLAQUETE ALTERNATIVA | 17 
Obra de Spike Jonze traz 
magia da infância para 
pessoas de todas as idades 
Onde vivem os monstros (2009) 
Nota: 4 / 5 
Título Original: Where the wild things are 
Diretor: Spike Jonze 
Produzido nos Estados Unidos 
Para comentar sobre esse filme é preciso salien-tar 
ainda no início: trata-se de uma produção 
criada com sensibilidade do primeiro minuto até o 
último, é preciso estar apto a sentir para captar toda 
a subjetividade magnífica que Spike Jonze coloca 
nas entrelinhas dessa obra moderna da sétima arte. 
Onde vivem os monstros foi adaptado do livro 
Where the wild things are, escrito e ilustrado por 
Maurice Sendrak, em 1963. Maurice foi um mestre 
de histórias infantis, trouxe em seus livros uma mis-tura 
de magia e realidade que ajuda imensuravel-mente 
na sustentação de qualquer imaginação. Em 
entrevista a Spike para um documentário, ele diz: 
“Eu acho que o que eu ofereci foi diferente, não 
porque eu desenhei ou escrevi melhor que os ou-tros, 
mas porque eu fui mais honesto que os outros, 
e sobre as crianças e a vida das crianças, e as fanta-sias 
das crianças, e a linguagem das crianças, eu dis-se 
tudo o que eu queria, porque eu não acredito em 
crianças. Eu não acredito em infância, não acredito 
que exista essa demarcação ‘Você não pode lhes di-zer 
isso! Você não pode lhes dizer aquilo!’, você diz a 
eles tudo o que quiser. Apenas diga, se for verdade.” 
No filme, Max é um menino de 9 anos, que após 
contrariar sua mãe com uma crise de ciúmes e tei-mosia 
resolve seguir seus instintos selvagens e fugir 
à procura de uma nova realidade, ele acaba atingin-do 
seu objetivo quando chega em uma terra habita-da 
por monstros enormes e peludos que o tornam 
rei. 
A adaptação conta com a direção de Spike Jon-ze 
e do romancista Dave Eggers, no elenco atores 
como James Gandolfini e Paul Dano dão a origina-lidade 
encontrada nas vozes dos monstros, e Max 
Records atua como Max, o protagonista da história. 
A trilha sonora fica por conta de Karen O, que com-pôs 
canções exclusivas para o filme e contou com a 
ajuda de crianças, dando origem a uma trilha perfei-tamente 
adequada que colabora na imensidão de 
sentimentos transmitida pelo longa. 
Jonze nos coloca dentro dessa história e nos faz 
ver que esses monstros não passam de meras re-presentações 
do nosso psicológico, é interessante 
notar como cada monstro apresenta alguma rela-ção 
com nosso protagonista, seja em seu lado soli-tário, 
ou em sua vontade de chamar atenção. Cada 
cena do filme carrega um forte conteúdo emocio-nal 
apoiado pela trilha e pela fotografia, é uma obra 
que merece destaque e valor no meio de tantas ou-tras 
histórias superficiais. 
Me aproveito da inexistente demarcação da in-fância 
citada por Maurice para comentar que esse 
filme pode agradar as mais variáveis idades pois vai 
além de conceitos jogados pela tela, é um grande 
representante do principal princípio do cinema, 
que é fazer sentir. 
Defino esse filme com o título dado à uma músi-ca 
da trilha; em Onde vivem os monstros, All Is Love. 
ESTREIAS & ANÁLISES 
Por Barbara Godoy 
Foto Divulgação 
Onde vivem os monstros
18 | CLAQUETE ALTERNATIVA 
ESTREIAS & ANÁLISES 
A trama se desenvolve através de fatos relacionados à vida de Yves 
Saint-Laurent, um estilista que fez história na alta costura franc-esa 
entre os anos de 1967 e 1976. Além de sua criatividade, fotografias e 
entrevistas polêmicas, o filme retrata sua vida pessoal por meio de suas 
relações amorosas, com o marido e empresário Pierre Berger (Jérémie 
Renier), os casos extra-conjugais, e sua estreita relação com o álcool e as 
drogas. 
O filme representa mais uma obra prima do diretor Richard Lin-klater, 
que possui enorme facilidade em retratar sobre a vida em 
suas produções. Em Boyhood as gravações foram realizadas durante 12 
anos, acompanhando a vida de um garoto (Ellar Coltrane) de sua infância 
até sua juventude. Considerado um dos melhores filmes do ano, Boyhood 
trata-se de uma obra sensível e simples sobre as imposições da vida. 
Após a terra se tornar um lugar inabitável, um grupo de astronau-tas 
recebe a ordem de verificar planetas para a possível migração 
da população mundial. O astronauta Cooper (Matthew McConaughey) é 
escolhido para liderar o grupo e segue em busca de uma nova casa, até 
encontrar um buraco negro que é capaz de proporcionar viagens através 
do tempo e do espaço, além de outras dimensões. 
Os personagens desse filme são vítimas da realidade imprevisível 
e ficarão a um passo da linha divisória entre civilização e caos. Os 
motivos dos impulsos que os incitam a perder o controle encontram-se 
em uma traição amorosa, um retorno ao passado, uma tragédia e a violên-cia 
de um pequeno ocorrido no cotidiano. 
Saint Laurent (2014) 
Por Barbara Godoy 
Boyhood (2014) 
Interstellar (2014) 
Relatos Selvagens (2014) 
Foto Divulgação 
Foto Divulgação 
Foto Divulgação 
Foto Divulgação
Claquete alternativa final
Claquete alternativa final

Más contenido relacionado

Destacado

O golpe de gurgel 12 03-2013
O golpe de gurgel 12 03-2013O golpe de gurgel 12 03-2013
O golpe de gurgel 12 03-2013
megacidadania
 
áLbum de fotografías
áLbum de fotografíasáLbum de fotografías
áLbum de fotografías
Dani Torres
 
Answering Twitter Questions: a Model for Recommending Answerers through Socia...
Answering Twitter Questions: a Model for Recommending Answerers through Socia...Answering Twitter Questions: a Model for Recommending Answerers through Socia...
Answering Twitter Questions: a Model for Recommending Answerers through Socia...
UPMC - Sorbonne Universities
 

Destacado (16)

Power informatica
Power informaticaPower informatica
Power informatica
 
Software
SoftwareSoftware
Software
 
O golpe de gurgel 12 03-2013
O golpe de gurgel 12 03-2013O golpe de gurgel 12 03-2013
O golpe de gurgel 12 03-2013
 
Fast e learning1
Fast e learning1Fast e learning1
Fast e learning1
 
Love Stage cap 22 (Inglés)
Love Stage cap 22 (Inglés)Love Stage cap 22 (Inglés)
Love Stage cap 22 (Inglés)
 
юные экологи москвы
юные экологи москвыюные экологи москвы
юные экологи москвы
 
CV
CVCV
CV
 
áLbum de fotografías
áLbum de fotografíasáLbum de fotografías
áLbum de fotografías
 
Los valores
Los valoresLos valores
Los valores
 
1 a terra_e_magnetica
1 a terra_e_magnetica1 a terra_e_magnetica
1 a terra_e_magnetica
 
Novo projecto
Novo projectoNovo projecto
Novo projecto
 
El Valor de la Puntualidad
El Valor de la PuntualidadEl Valor de la Puntualidad
El Valor de la Puntualidad
 
Plantilla con-normas-icontec
Plantilla con-normas-icontecPlantilla con-normas-icontec
Plantilla con-normas-icontec
 
Era cenozoica
Era cenozoicaEra cenozoica
Era cenozoica
 
Answering Twitter Questions: a Model for Recommending Answerers through Socia...
Answering Twitter Questions: a Model for Recommending Answerers through Socia...Answering Twitter Questions: a Model for Recommending Answerers through Socia...
Answering Twitter Questions: a Model for Recommending Answerers through Socia...
 
Coordenadoria Regional de Saúde Norte - NASF
Coordenadoria Regional de Saúde Norte - NASFCoordenadoria Regional de Saúde Norte - NASF
Coordenadoria Regional de Saúde Norte - NASF
 

Similar a Claquete alternativa final

O homem cuja orelha cresceu - Inácio de Loyola Brandão
O homem cuja orelha cresceu - Inácio de Loyola BrandãoO homem cuja orelha cresceu - Inácio de Loyola Brandão
O homem cuja orelha cresceu - Inácio de Loyola Brandão
Joselaine
 
Terra em transe (1967) análise do filme de de glauber rocha- lucas schuab...
Terra em transe  (1967)   análise do filme de de glauber rocha-  lucas schuab...Terra em transe  (1967)   análise do filme de de glauber rocha-  lucas schuab...
Terra em transe (1967) análise do filme de de glauber rocha- lucas schuab...
Lucas Schuab Vieira
 
RESENHA CRÍTICA DO FILME "ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA"
RESENHA CRÍTICA DO FILME "ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA"RESENHA CRÍTICA DO FILME "ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA"
RESENHA CRÍTICA DO FILME "ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA"
eveelang
 
CóPia De ApresentaçãO
CóPia De ApresentaçãOCóPia De ApresentaçãO
CóPia De ApresentaçãO
Rita Pereira
 
Além do ponto e outros contos novo - completo - inclusão de sob o céu de sa...
Além do ponto e outros contos   novo - completo - inclusão de sob o céu de sa...Além do ponto e outros contos   novo - completo - inclusão de sob o céu de sa...
Além do ponto e outros contos novo - completo - inclusão de sob o céu de sa...
Josi Motta
 

Similar a Claquete alternativa final (20)

( Espiritismo) # - andreia z m moreira - a vida apos a morte no cinema
( Espiritismo)   # - andreia z m moreira - a vida apos a morte no cinema( Espiritismo)   # - andreia z m moreira - a vida apos a morte no cinema
( Espiritismo) # - andreia z m moreira - a vida apos a morte no cinema
 
( Espiritismo) # - andreia z m moreira - a vida apos a morte no cinema
( Espiritismo)   # - andreia z m moreira - a vida apos a morte no cinema( Espiritismo)   # - andreia z m moreira - a vida apos a morte no cinema
( Espiritismo) # - andreia z m moreira - a vida apos a morte no cinema
 
Indexação e resumo de filmes
Indexação e resumo de filmesIndexação e resumo de filmes
Indexação e resumo de filmes
 
Herz Frank
Herz FrankHerz Frank
Herz Frank
 
Herz frank
Herz frankHerz frank
Herz frank
 
Diz Jornal - Edição 166
Diz Jornal - Edição 166Diz Jornal - Edição 166
Diz Jornal - Edição 166
 
O homem cuja orelha cresceu - Inácio de Loyola Brandão
O homem cuja orelha cresceu - Inácio de Loyola BrandãoO homem cuja orelha cresceu - Inácio de Loyola Brandão
O homem cuja orelha cresceu - Inácio de Loyola Brandão
 
Leve perfil psicologico personagens_meia noite em paris
Leve  perfil psicologico   personagens_meia noite em parisLeve  perfil psicologico   personagens_meia noite em paris
Leve perfil psicologico personagens_meia noite em paris
 
Terra em transe (1967) análise do filme de de glauber rocha- lucas schuab...
Terra em transe  (1967)   análise do filme de de glauber rocha-  lucas schuab...Terra em transe  (1967)   análise do filme de de glauber rocha-  lucas schuab...
Terra em transe (1967) análise do filme de de glauber rocha- lucas schuab...
 
Diz84
Diz84Diz84
Diz84
 
FILMOTECA DE FILOSOFIA
FILMOTECA DE FILOSOFIAFILMOTECA DE FILOSOFIA
FILMOTECA DE FILOSOFIA
 
RESENHA CRÍTICA DO FILME "ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA"
RESENHA CRÍTICA DO FILME "ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA"RESENHA CRÍTICA DO FILME "ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA"
RESENHA CRÍTICA DO FILME "ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA"
 
CóPia De ApresentaçãO
CóPia De ApresentaçãOCóPia De ApresentaçãO
CóPia De ApresentaçãO
 
Liberdade homem
Liberdade homemLiberdade homem
Liberdade homem
 
Literatura contemporânea
Literatura contemporâneaLiteratura contemporânea
Literatura contemporânea
 
Escritor do Mês - Luis Sepúlveda
Escritor do Mês - Luis SepúlvedaEscritor do Mês - Luis Sepúlveda
Escritor do Mês - Luis Sepúlveda
 
Módulo Didático: Luz, CLIC e Ação: A Reciprocidade Cultural entre a Literatur...
Módulo Didático: Luz, CLIC e Ação: A Reciprocidade Cultural entre a Literatur...Módulo Didático: Luz, CLIC e Ação: A Reciprocidade Cultural entre a Literatur...
Módulo Didático: Luz, CLIC e Ação: A Reciprocidade Cultural entre a Literatur...
 
Além do ponto e outros contos novo - completo - inclusão de sob o céu de sa...
Além do ponto e outros contos   novo - completo - inclusão de sob o céu de sa...Além do ponto e outros contos   novo - completo - inclusão de sob o céu de sa...
Além do ponto e outros contos novo - completo - inclusão de sob o céu de sa...
 
ANÁLISE DO FILME OS INCOMPREENDIDOS DE FRANÇOIS TRUFFAUT PARA O VESTIBULAR UE...
ANÁLISE DO FILME OS INCOMPREENDIDOS DE FRANÇOIS TRUFFAUT PARA O VESTIBULAR UE...ANÁLISE DO FILME OS INCOMPREENDIDOS DE FRANÇOIS TRUFFAUT PARA O VESTIBULAR UE...
ANÁLISE DO FILME OS INCOMPREENDIDOS DE FRANÇOIS TRUFFAUT PARA O VESTIBULAR UE...
 
power-point1.pptx
power-point1.pptxpower-point1.pptx
power-point1.pptx
 

Claquete alternativa final

  • 1. CLAQUET A L T E R N A T I V A POR TRÁS DO CINE BELAS ARTES O CINEMA FABRICADOR DE SONHOS QUE REABRIU EM 2014 ISMOS A INFLUÊNCIA DO SURREALISMO NO CINEMA PERFIL ALMODÓVAR E O TRIUNFO DAS CORES NA SÉTIMA ARTE
  • 2.
  • 3. CLAQUETE ALTERNATIVA | 3 ÍNDICE RECORDANDO 5. MARCOU VOCÊ 6. CINE HISTÓRIA 7. MESTRES 8. ISMOS CINE MANIA 10. CAPA 13. CINE GOURMET 14. VIAJANDO FIQUE POR DENTRO 16. ESTREIAS E ANÁLISES p. 7 p. 10 p. 14 Fotos Pedro Almodóvar: Suki Dhanda / Belas Artes: AE / Antes do amanhecer: Divulgação
  • 4. 4 | CLAQUETE ALTERNATIVA EDITORIAL A CLAQUETE ALTERNATIVA tem como missão difundir o cinema alternativo no Brasil de maneira inovadora, aprofundando os fatos, discutindo, interpretando, analisando e formando opinião. É uma revista feita para quem gosta de ler, que quer saber sempre mais sobre pessoas interessantes que fazem coisas que fogem aos padrões que normalmente vemos na mídia — no caso, filmes. Queremos que nossas matérias sejam tão inovadoras quanto os filmes que nos inspiram e fazem parte do nosso dia-a-dia. Porque a CLAQUETE ALTERNATIVA é feita especialmente para aqueles que respiram cinema, que acham que um dia sem filme é um dia menos alegre. A revista não se prende apenas a fazer uma análise fria das produções alternativas, ela quer entrar no universo, se aproximar da realidade e trazê-la para seus leitores, para que possam não apenas compreender, mas interpretar e interagir com o mundo alternativo das produções cinematográficas, aumentando ainda mais seu prazer e amor por esse gênero. EXPEDIENTE Diretora de redação Profª Drª Fábia Dejavite Editor-chefe Felipe Henrique Lima Editores e repórteres Barbara Godoy Felipe Henrique Lima Jéssica Parolin Renata Aloise Diretor de arte Prof Ms. Ricardo Senise Diagramação Felipe Henrique Lima Renata Aloise Foto de capa Yuri Alexandre Foto Juliana Lucas
  • 5. CLAQUETE ALTERNATIVA | 5 MARCOU VOCÊ ... Por Jéssica Parolin Filme: Horizonte Perdido, 1973 “Filmes e música certamente dependem do momento, idade e o envolvimento sentimental por qual está passando. Diversos motivos nos levam ao cinema e, quando somos levados ao cinema no inicio de namoro e ainda na idade juvenil, a marca é maior. Horizonte Perdido o filme que ainda povoa minha mente por enquanto deve ter sido um dos primeiros filmes no cinema que vi. Marcou muito minha vida, a partir desse momento, meus valores da vida mudaram para muito melhor. Minha namorada era Bernadete, que veio a ser minha esposa, que me presenteou com dois filhos maravilhosos, Ana Tulipa e Cesar Sasso. Me lembro ter assistido mais uma vez.” Pascoal Tadeu Lignelli, 63 anos, diretor do IMESP. Filme: Ghost, 1990. “O filme que marcou a minha vida foi Ghost – Do Outro Lado da Vida, porque a história tem um lado cômico, mas também tem um lado do amor verdadeiro, do amor puro que tinha entre o casal. Eu acredito que as famílias podem ser eternas e que nós vamos viver depois dessa vida. É lógico que ali tem um pouco de fantasia, mas o fundamento, a essência do filme marcou minha vida e é muito bonito, o amor pode ser eterno.” Cleyfer Franco Reishoffer, 54 anos, professor universitário. Filmes: Maltilda, 1996 e A Viagem de Chiriro, 2001. “São vários filmes que marcaram minha vida, na minha infância sempre gostei do filme Matilda, porque era um filme que não tinha limites, era pura magia, eu levava isso pra minha realidade, então minha infância foi bastante vivida pelo fato de ter essa imaginação que o filme traz. Já um filme que marcou minha adolescência foi A Viagem de Chiriro. Essa animação foi muito especial pra mim, me grudou na tela do cinema do inicio ao fim hipnoticamente, é um filme que faz você querer mais.” Kelvin Yuki Korotsu, 22 anos, estudante. Foto Pascoal Tadeu Foto Jéssica Parolin Foto Jéssica Parolin
  • 6. 6 | CLAQUETE ALTERNATIVA CINE HISTÓRIA Por Jéssica Parolin Alguns filmes, principalmente os alternativos tem uma grande capacidade de nos envolver na trama, mas mais do que isso, podem nos ensi-nar muito. A história de algum momento pode ser contada de várias formas e se torna ainda melhor quando é contada da maneira que gostamos, atra-vés de filmes. Um exemplo disto é o filme: Todos os Homens do Presidente (1976), do diretor Alan J. Pakula. A narrativa se inicia em 1972, quando, sem ter a menor noção da gravidade dos fatos, um repórter (Robert Redford) do Washington Post inicia uma investigação sobre a invasão de cinco homens na sede do Partido Democrata, que dá origem ao es-cândalo Watergate e que teve como consequência a queda do presidente Richard Nixon. Estes fatos foram manchete nos principais jornais do mundo e ainda são discutidos em muitas salas de jornalismo, por historiadores e críticos. Relação com Jornalismo O filme mostra grande embasamento ao apre-sentar as teorias do jornalismo contemporâneo. Agenda-Setting e Newsmaking, analisados de ma-neira livre dentro das cenas, além disso, o filme exibe reuniões de pauta como momentos até certo ponto descontraídos em que os editores, comentavam as prováveis matérias a entrar no próximo jornal. O fil-me foi baseado no livro homônimo de Woodward e Bernstein (que chegaram a receber um prêmio Pu-litzer, em 1973). O jornalismo exemplificado no filme é de uma ordem um tanto rara em nossos dias. Podemos di-zer que as notícias correm atrás dos jornalistas hoje, mas Bob e Carl foram buscar notícias onde ninguém as via e onde nem sabia que poderiam ser encon-tradas. Pelos estes motivos, o filme Todos os homens do presidente mostra-se muito atual e pertinente para ser estudado por alunos de cursos de Comunica-ção/ Jornalismo e áreas afins. Todos os Homens do Presidente Fotos Divulgação Todos os Homens do Presidente (1976)
  • 7. CLAQUETE ALTERNATIVA | 7 MESTRES Por Renata Aloise Há certos cineastas que têm uma identidade visual tão forte que são facilmente reconheci-dos pelas cores de seus filmes. Pedro Almodóvar é um deles. Seus filmes são uma explosão de cores, que na verdade escondem a melancolia de quem viveu os difíceis anos da ditadura de Francisco Fran-co na Espanha. Nascido em Calzada de Calatrava, na província de Ciudad Real, comunidade autônoma de Castilla- -La Mancha na Espanha em 1951, sua família emi-grou para Extremadura quando ele tinha apenas oito anos e lá ele estudou com os Salesianos e Fran-ciscanos. Essa educação religiosa apenas o ensinou a perder a fé em Deus. Durante esse tempo, em Cá-ceres, ele começou a ir ao cinema compulsivamen-te. Quando tinha 16 anos mudou-se para Madri, so-zinho e sem dinheiro, mas com um objetivo sólido: estudar e fazer filmes. Era o final dos anos 60 e ape-sar da ditadura, Madri para um adolescente provin-ciano era a capital da cultura e da liberdade. Almodóvar nunca estudou cinema, pois nem ele nem a sua família tinham dinheiro para pagar os seus estudos. Já que não teve acesso à teoria, decidiu aprender na prática. Comprou sua primei-ra câmera Super-8 quando começou a trabalhar na Companhia Telefônica Nacional. Lá ficou por doze anos como assistente administrativo e neste perío-do teve sua verdadeira educação. Durante as manhãs ele tinha contato com uma classe social que não teria conhecido diante de ou-tras circunstâncias: a classe média espanhola, que na época, estava em plena era do consumismo. Du-rante as tardes e noites, ele escreveu, amou, se jun-tou ao grupo de teatro independente Los Gollardos, fez filmes em Super-8, escreveu para várias revistas alternativas e também pequenas estórias, algumas das quais foram publicadas. Essa crescente cultura alternativa de Madri se mostrou o cenário perfeito para os talentos de Almodóvar. Ele foi uma figura crucial na Movida Madrileña, movimento de renas-cimento cultural que surgiu após a morte do ditador Franco. Após um ano e meio de difíceis filmagens em 16mm estreou, em 1980, seu primeiro longa, Pepi, Luci, Bom e outras garotas de montão. Durante a próxima década, o cineasta causou bastante polêmica, especialmente o filme Maus há-bitos, uma sátira direcionada à Igreja Católica, o que reforçou sua reputação de enfant terrible do cine-ma Espanhol. O reconhecimento crítico, porém, só veio em 1988 com a estreia de Mulheres à beira de um ataque de nervos, que trouxe a Almodóvar sua primeira indicação ao Oscar de Melhor Filme Estran-geiro. A partir daí, seus próximos filmes eram ansiosa-mente esperados pelos fãs de cinema ao redor do mundo, que já esperavam ver as marcas do espa-nhol: o exagero, as mulheres fortes, as cores. E prin-cipalmente a liberdade. Fotos Getty Images Pedro Almodóvar
  • 8. 8 | CLAQUETE ALTERNATIVA ISMOS... Por Barbara Godoy O cinema pode ir muito além da definição por gêneros, e é isso o que a CLAQUETE ALTERNA-TIVA produzirá nessa seção, por meio de categorias contidas de estéticas predominantes, ampliaremos seu conhecimento sobre os períodos importantes da sétima arte. Ao fim da leitura lançamos um desa-fio mental, você consegue relacionar algum de seus filmes preferidos nas categorias apresentadas? Surrealismo Inspirado pelo psicólogo Sigmund Freud, o Sur-realismo apresenta a proposta de fugir das forma-lidades trazidas pela educação tradicional à mente humana, usando como saída o estudo dos sonhos, com imagens incomuns e desprovidas de racionali-dade, que buscam o inconsciente. O poeta francês André Breton relata em seu livro Manifesto do Jorna-lismo, “é uma arte com base na ausência do controle da razão, isenta de preocupação estética ou moral.” O Surrealismo possui origens marcadas pelas artes plásticas, pintores surrealistas como Salvador Dalí (figura também importante para o cinema), Fer-nand Léger, Man Ray e Marcel Duchamp deixaram obras essenciais para o movimento e contribuíram na composição de diversos filmes, como o clássico surrealista Um cão andaluz (1929), concebido por Luis Buñuel e Dalí. O cinema foi uma plataforma importante para a difusão do mundo surrealista, diversos cineas-tas optaram por retratar esse movimento em suas obras, fugindo do tradicionalismo cinematográfi-co, entre eles estão Luis Buñuel, Jean Cocteau, Man Ray, incluindo os cineastas Walerian Borowczyk e Wojciech Has do leste euroupeu, que trabalhavam sob pressão do regime repressivo. No cenário atual, o diretor David Lynch é conhecido por retomar esse fôlego surrealista, assim como o roteirista Charlie Kaufman. CLAQUETE INDICA Um cão andaluz, 1929, Luis Buñuel Quero ser John Malkovich, 1999, Spike Jonze Cidade dos sonhos, 2001, David Lynch O mundo imaginário do Dr. Parnassus, 2009, Terry Gilliam Cidade dos sonhos Um cão andaluz Fotos Divulgação
  • 9. CLAQUETE ALTERNATIVA | 9 ISMOS... Pós-modernismo Esse movimento é conhecido pela autoconsci-ência trazida em seus filmes, quebrando a barreira existente entre mídia e realidade, recicla imagens do passado e mistura gêneros, radicalizando ele-mentos do noir, suspense, policial, road movie, e ou-tras vertentes cinematográficas, apresentando uma desconstrução da narrativa convencional e com-pondo irônicas citações que nos remetem às pla-teias de iniciados na história do cinema americano. Essas referências podem facilmente ser identifi-cadas nos filmes do diretor Woody Allen, por exem-plo. O diretor explora os limites entre realidade e ficção, utilizando influências de Ingmar Bergman, Federico Fellini e Stanley Kubrick. Em seu filme O dorminhoco (1973), Allen atua na pele de Monroe, um personagem caracterizado como um judeu res-munguento e neurótico com uma visão de futuro moldada por filmes como 2001: Uma odisseia no es-paço (1968) e Laranja mecânica (1971). O diretor Guy Maddin apresenta influências ainda mais antigas no mundo cinematográfico, retratando do cinema mudo alemão e soviético, a pintura, a música erudita e a literatura. Na França, Jean-Jacques Beinex e Luc Besson baseavam-se na estética de comerciais de tv para a produção de seus filmes, assim como os filmes Cães de aluguel (1992) e Pulp Fiction (1994) do aclamado diretor Quentin Tarantino. CLAQUETE INDICA O fundo do coração, 1982, Francis Ford Coppola Pulp Fiction - Tempo de violência, 1994, Quentin Tarantino O grande Lebowski, 1998, Joel e Ethan Coen Corra, Lola, corra, 1998, Tom Tykwer O grande Lebowski O fundo do coração Pulp Fiction Fotos Divulgação
  • 10. 10 | CLAQUETE ALTERNATIVA CAPA Por Barbara Godoy, Felipe Henrique Lima e Renata Aloise O Cine Belas Artes é um desses lugares cheios daquelas narrativas que nos encantam. Afi-nal são mais de 70 anos de existência, acompanhan-do os amantes do cinema em aventuras que só po-dem ser vividas através dos filmes. Tudo começou em 14 de julho 1956, no cruza-mento da Rua da Consolação com a Avenida Pau-lista, em São Paulo, com a inauguração do Cine Tria-non, que possuía apenas uma sala de 1400 lugares e era administrado pela Companhia Cinematográfica Serrador Ltda. O primeiro filme exibido lá foi Eles se casam com as morenas (1955), de Richard Sale. Foi apenas em 1967, em seu aniversário de 11 anos, que o nome do local mudou para Cine Belas Artes. Com menos lugares — 1200 — a primeira exi-bição foi do filme Os russos estão chegando (1966), de Norman Jewison. Cinema Alternativo A programação do Belas Artes passou a ser do-minada pelo cinema de arte, organizada pela Socie-dade Amigos da Cinemateca, a SAC, cujo presidente era Dante Ancona Lopez, que popularizou esse tipo alternativo de filmes em São Paulo, em especial nos pequenos cinemas Scala e Picolino. O lema da SAC era “Espetáculo, Polêmica e Cul-tura”, e assim, para o Belas Artes se adequar, haviam apresentações não cinematográficas que comple-mentavam filmes de duração menor que os comuns 90 minutos. Em seu primeiro andar, funcionava a secretaria e a biblioteca da SAC, além de uma galeria com ex-posições permanentes. No hall de entrada ficavam estandes com os últimos lançamentos de livros e discos de vinil e um palco com iluminação e sistema de som para peças, música, dança e palestras. Com a grande capacidade de lotação do cinema, a escolha dos filmes exibidos não podiam levar em consideração um público seleto. Era necessário se ater ao lema da SAC mas, ao mesmo tempo, atrair um maior número de pessoas, chamar a atenção de um grande público. Em 1970, o Belas Artes é dividido em duas salas, Villa Lobos e Portinari, e cinco anos mais tarde uma terceira é aberta, a Mário de Andrade, reservada para ciclos e mostras especiais. Em 10 de maio de 1982 ocorreu o episódio mais triste da história do Belas Artes. Um incêndio na madrugada destruiu todas as instalações das duas Foto Evelson de Freitas/AE
  • 11. CLAQUETE ALTERNATIVA | 11 maiores salas do complexo, a Villa-Lobos e a Porti-nari. O fogo se alastrou mais rapidamente devido à enorme quantidade de materiais de fácil combus-tão, como poltronas, isolantes acústicos, cortinas e carpetes. A perícia concluiu que o incêndio foi cri-minoso, pois foram encontrados portas e cofres ar-rombados. Três anos após o ocorrido, o Belas Artes foi rea-berto, completamente reformado e agora com seis salas: Carmen Miranda, Mário de Andrade, Oscar Niemeyer, Aleijadinho, Cândido Portinari e Villa- -Lobos. A partir daí, a administração do cinema passa para a distribuidora francesa Gaumont – que inau-gura na cidade o conceito de multiplex – mas conti-nua com a programação de filmes de arte. Em 29 de janeiro de 1987, o Circuito Alvorada passa a controlar o Belas Artes, expandindo as exi-bições para filmes mais comerciais, o que faz com que o público fiel vá desaparecendo pouco a pouco, fazendo com que o cinema entre em crise e sua es-trutura comece a se deteriorar cada vez mais. Sua administração muda mais uma vez em 2001, passando agora para a Estação Botafogo, que muda o nome do cinema para Estação Belas Artes. Apesar de voltar a programação para filmes de arte, clássi-cos, filmes independentes e nacionais, o grupo não teve sucesso e o fechamento do cinema é anuncia-do. Ressurgimento O movimento “Viva Belas Artes”, de 2002, conse-gue adiar seu fechamento por alguns dias. Em 5 de dezembro, o cinema iria exibir suas últimas sessões, e por isso, faixas foram colocadas em frente ao pré-dio, afirmando que o Belas Artes seria um patrimô-nio de São Paulo, e por isso não poderia fechar. Em março de 2003, André Sturm, da Pandora Filmes, o cineasta Fernando Meirelles, a produtora Andréa Barata Ribeiro e o cineasta Paulo Morelli, da 02 Filmes se tornam sócios do Belas Artes, evitan-do seu fechamento. Assinam uma parceria com o banco HSBC, que acrescenta seu nome ao cinema e dá início a uma grande reforma. A reinauguração do Cine HSBC Belas Artes ocorre em 28 de maio de 2004, com superlotação de todas as salas de exibi-ção. A programação era feita de cinema de arte e filmes comerciais de qualidade. Eram exibidos de 6 a 8 filmes, um sendo sempre nacional. Uma vez por mês havia a sessão “Noitão”, que exibia filmes na noite de sexta até o início da manhã de sábado, sempre com um filme surpresa. Apesar do sucesso, em março de 2010 o banco HSBC deixa de patrocinar o Belas Artes. Há uma mo-bilização por parte de André Sturm para conseguir novos patrocinadores, pois os valores arrecadados com bilheterias não são suficientes para manter o complexo. O fechamento do Belas Artes causa uma gran-de comoção entre os fãs do local, desencadeando passeatas, criação de páginas na Internet e abaixo- -assinados físicos e eletrônicos com o registro de cerca de 28 mil adesões, além da manifestação de funcionários do cinema e protestos de cineastas e críticos. Mas nada disso impede que o cinema feche as portas em 17 de março de 2011. O processo de tombamento do prédio do Belas Artes, aberto em janeiro de 2011, é negado tanto pelo órgão municipal quanto pelo estadual, permi-tindo que o dono alugasse o imóvel. Mas três anos depois, as novidades eram boas para os cinéfilos que valorizavam tanto esse patri-mônio da cidade de São Paulo: o Cine Belas Artes seria reaberto. E assim foi, com o patrocínio da Caixa Econômica Federal, o cinema passou a chamar Cine Caixa Belas Artes e arrastou multidões no seu dia de reabertura, que contou com a presença de famosos, do prefeito Fernando Haddad, dos amantes, dos fãs, e também dos curiosos que ansiavam por conhecer o local. Além de salas completamente reformadas, uma bomboniere com produtos requintados, visual re-novado com paredes decoradas por cartazes de fil-mes clássicos que trazem um ar de nostalgia e privi-légios aos usuários que apresentarem cartão Caixa, a organização do local também apresentou opções de planos para os cinéfilos assíduos, oferecendo o direito de um filme por semana durante um ano, es-tipulado por um preço específico. A reabertura desse patrimônio teve uma impor-tância cultural imensa para a cidade de São Paulo, representou o resgate dos cinemas de rua, que tan-to contribuíram para a interação do público com a sétima arte durante os séculos passados, cinemas que foram esquecidos e substituídos pelos cinemas de shopping center. Os cinemas de rua atuais de-vem ser considerados relíquias dignas de visitação, lugares onde estão localizados os filmes cult, inde-pendentes, não superficiais, são lugares onde o ci-nema não é visto apenas como lazer, e sim como uma arte a ser admirada e analisada.
  • 12. 12 | CLAQUETE ALTERNATIVA CAPA A trajetória de um ícone 1967 Inaugurado em 47 como Cine Ritz, passa a ser chamado de Cine Belas Artes. 1982 O cinema sofre um grande incêndio, duas de suas salas foram destruídas. texto 1989 Passa a ser assumido pelo grupo Gaumont, entrando em decadência nos anos 90. 2004 Reaberto pelo cineasta André Sturm, em parceria com a produtora O2, e com o apoio do banco HSBC. 2010/2011 O banco resolve não renovar patrocínio e o cinema é fechado em fevereiro de 2011. 2014 Com patrocínio da Caixa Econômica, o cinema é reaberto com o nome Cine Caixa Belas Artes. Uma linha do tempo para relembrar os momentos mais marcantes da história do Cine Belas Artes na cidade de São Paulo
  • 13. CLAQUETE ALTERNATIVA | 13 CINE GOURMET Por Renata Aloise “... quebrar a cobertura do creme brûlée com a colher.” A obra O fabuloso destino de Amélie Poulain, do cineasta Jean-Pierre Jeunet, lançada em 2001 e um sucesso ao redor do mundo, conta a história da francesa Amélie, interpretada pela atriz Audrey Tautou, uma jovem de Montmartre que sempre procura ver o melhor das pessoas e do mundo, nos ensinando a aproveitar os pequenos prazeres da vida. Um desses pequenos prazeres na vida de nos-sa heroína é quebrar a cobertura do tradicional cre-me brûlée. Esse “creme queimado” surgiu na França, mas é consumido por toda a Europa, com algumas pequenas modificações. Aprenda a fazê-lo para po-der compartilhar dessa pequena felicidade com a Srtª Poulain. Ingredientes - 6 gemas - 10 colheres de sopa de açúcar refinado - 1 fava de baunilha ou 1 colher de chá de essência de baunilha - 500ml de creme de leite fresco ou nata - Açúcar cristal para queimar Como fazer Levar ao fogo uma chaleira com água e pré aque-cer o forno a 180 graus. Passar as gemas por uma peneira para tirar a película do ovo e não dar gosto. Sem passar a colher, só furando as gemas e espe-rando escorrer. Adicionar o açúcar e bater com o batedor de claras até a mistura ficar clarinha. Abrir a fava ao meio e retirar as sementinhas com a ajuda da faca. Levar a uma panela a baunilha com o creme de leite e aquecer em fogo baixo. Deixar que infu-sione sem ferver, somente aquecer em temperatura de mamadeira. Retirar do fogo e misturar com as gemas. Distribuir a mistura em ramequins médios com a ajuda de uma concha. Dispor em uma forma, levar ao forno pré-aquecido a 180 graus, e então adicionar água fervendo na forma. Assar durante 1 hora, sempre verificando se a água não secou. Caso aconteça, é só adicionar mais. Retirar do forno quando o creme estiver bem firme no topo, deixar esfriar e levar a geladeira. Deixar por no mí-nimo 3 horas resfriando. O melhor é de um dia para o outro. Na hora de servir, polvilhar o açúcar cris-tal por cima e queimar com um maçarico. Caso não tiver maçarico, esquentar uma colher na chama do fogão e ir queimando, aos poucos, o açúcar. Fotos Divulgação
  • 14. 14 | CLAQUETE ALTERNATIVA VIAJANDO Por Barbara Godoy Conhecendo Viena com Celine e Jesse Antes do Amanhecer (1995) é o filme que dá início a trilogia de Richard Linklater, sobre um casal, (1) Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy), que se conhece por acaso durante uma viagem de trem que possui como destino Viena. Após aceitar o pedido de Jesse, Celine passa um dia com ele pelas ruas da cidade e no meio de diver-sos diálogos fascinantes sobre amor, religião, arte e temas aleatórios, os dois passam a se encantar pelas diferenças um do outro. O desfecho desse filme traz uma angústia curiosa que só é revelada no segundo filme, Antes do Entardecer, lançando em 2004, segui-do pelo terceiro e último, Antes da Meia Noite (2013). Nessa matéria conheceremos um pouco mais so-bre o dia 16 de Junho de 1995, o dia em que se deu início essa história de amor rodeada pelas arquite-turas e tradições vienenses. (2) A cena da loja de discos, que possui o nome de Alt & Neu (Novo e Velho), é uma das mais mar-cantes do filme pela famosa troca de olhares ao fun-do musical de Kath Bloom’s, Come Here. (3) Após pegarem um trem para fora da cidade, os dois vão parar perto do Friedhof Der Namenlo-sen (Cemitério dos Sem-nome), onde foram enter-rados corpos encontrados no rio Danúbio. (4) Após o primeiro beijo do casal, eles se sentam no Kleines Cafã, onde acabam encontrando uma vi-dente que lê a mão de ambos. Ela vê que Celine é uma estranha e está em uma jornada, e que ela pre-cisa resignar-se aos constrangimentos da vida para encontrar a paz dentro de si mesma e a verdadeira conexão com os outros. Ao ler a mão de Jesse, ela revela: “Você ficará bem, ainda está aprendendo.” Ao ir embora finali-za gritando para os dois “Vocês são pó de estrelas, não esqueçam. As estrelas explodiram bilhões de anos atrás para formar tudo o que está nesse mun-do, tudo o que conhecemos é pó de estrelas, não se 1 2 3 4 Fotos Getty Images Fotos Getty Images Fotos Getty Images Fotos Getty Images
  • 15. CLAQUETE ALTERNATIVA | 15 VIAJANDO (5) Caminhando pelas margens do rio Danúbio, Celine e Jesse encontram outra figura inusitada, um morador de rua que os oferece uma poesia com a palavra-tema que eles escolhessem. Celine escolhe a palavra “milkshake” e o rapaz lhes entrega um po-ema que mexe com a protagonista. (6) É no restaurante Cafà Sperl que ocorre a fa-mosa cena da “ligação”, onde eles encenam uma falsa chamada e acabam criando coragem para di-zer indiretamente o que tinham sentido até então naquele dia. (7) Após persuadir o dono de um bar e conseguir uma garrafa de vinho, os dois passam a noite no parque Palais Schwarzenberg, onde acabam dor-mindo na grama e ao acordarem se deparam com a hora da partida, momento que veio sendo discuti-do pelos dois a todo momento durante o filme. Depois de várias controvérsias, ao chegarem a estação, os dois decidem combinar um encontro seis meses depois, sem nenhum tipo de contato. A despedida é seguida por uma sequência de cenas que mostra os lugares pelos quais os dois passaram, deixando o final do filme ambíguo e trazendo ao espectador um clima de satisfação acrescentado ao “quero mais”. 5 6 7 Fotos Getty Images Fotos Getty Images Fotos Getty Images
  • 16. 16 | CLAQUETE ALTERNATIVA ESTREIAS & ANÁLISES Por Felipe Henrique Lima tando de acordo com a aproximação do clímax de cada cena, cantos misteriosos e, nas cenas externas, a neblina que sai do chão sob a luz do luar. Apesar de algumas cenas soarem forçadas de-mais – como a que personagem Sara, amiga do protagonista, mesmo depois de já ter levado uma facada nas costas e caído no chão, reaparece na sala, caindo por detrás de uma cortina e morrendo bem na frente de Mark – o filme consegue prender a atenção com alguns ganchos de suspense e se-quências em que os personagens passam por situ-ações tensas de fuga e medo, embora a fórmula se desgaste ao longo da película. Talvez o maior trunfo seja o mistério em torno da identidade do autor por trás dos acontecimen-tos sinistros e das mortes dos personagens. É de se elogiar também a belíssima fotografia que a obra apresenta com enquadramentos e um jogo de co-res bastante interessantes e o uso de uma câmera subjetiva que sugere o olhar do vento em busca de algo ou ainda o foco no luar, criando um ambiente enigmático na narração. Por fim, a história do longa é interessante, mas tropeça em uma sequência surrealista e complica-da. Se os próprios personagens parecem confusos em diversas cenas, o que dirá dos espectadores? É preciso um olhar atento para entender o desenro-lar das ações e compreender a intenção de Argento com esta história, feita sob medida para os fãs do cinema místico. Terror clássico de Argento exige amor ao místico para melhor compreensão A Mansão do inferno (1980) Nota: 3 / 5 Título Original: Inferno Diretor: Dario Argento Produzido na Itália O filme dirigido por Dario Argento, conhecido por sua influência no cinema de terror, é a se-gunda parte da chamada “trilogia das mães bruxas” (que não chegou a ter uma continuação) que gira em torno da história das Três Mães Bruxas, Mater Suspiriorum, antagonista central do primeiro filme Suspíria (1977), Mater Tenebrarum e Mater Lacrima-rum. Em Mansão do inferno, Rose Elliot, uma jovem poetisa que vive em Nova York, compra um livro antigo intitulado “As Três Mães”, escrito por um ar-quiteto e alquimista chamado Varelli, relatando seu encontro com as três mães do inferno. Ele construiu uma casa para cada uma delas, uma em Friburgo, outra em Roma e a terceira em Nova York. Após ler o livro, Rose fica extremamente pertur-bada e acha que reside na casa da terceira bruxa, decidindo investigar tudo ao seu redor. Desespe-rada, ela escreve uma carta para seu irmão, Mark, que estuda música em Roma, pedindo que venha a Nova York ajudá-la. Após uma série de aconteci-mentos, Mark enfim lê a carta e decide viajar para ver sua irmã. Argento se utiliza de vários elementos clássicos do gênero, como luzes que se ascendem e apagam misteriosamente, janelas que se movimentam com o vento, gatos assustando os personagens, porões escuros e medonhos, a típica trilha sonora para criar uma atmosfera de suspense, com a música aumen- Foto Divulgação A Mansão do Inferno
  • 17. CLAQUETE ALTERNATIVA | 17 Obra de Spike Jonze traz magia da infância para pessoas de todas as idades Onde vivem os monstros (2009) Nota: 4 / 5 Título Original: Where the wild things are Diretor: Spike Jonze Produzido nos Estados Unidos Para comentar sobre esse filme é preciso salien-tar ainda no início: trata-se de uma produção criada com sensibilidade do primeiro minuto até o último, é preciso estar apto a sentir para captar toda a subjetividade magnífica que Spike Jonze coloca nas entrelinhas dessa obra moderna da sétima arte. Onde vivem os monstros foi adaptado do livro Where the wild things are, escrito e ilustrado por Maurice Sendrak, em 1963. Maurice foi um mestre de histórias infantis, trouxe em seus livros uma mis-tura de magia e realidade que ajuda imensuravel-mente na sustentação de qualquer imaginação. Em entrevista a Spike para um documentário, ele diz: “Eu acho que o que eu ofereci foi diferente, não porque eu desenhei ou escrevi melhor que os ou-tros, mas porque eu fui mais honesto que os outros, e sobre as crianças e a vida das crianças, e as fanta-sias das crianças, e a linguagem das crianças, eu dis-se tudo o que eu queria, porque eu não acredito em crianças. Eu não acredito em infância, não acredito que exista essa demarcação ‘Você não pode lhes di-zer isso! Você não pode lhes dizer aquilo!’, você diz a eles tudo o que quiser. Apenas diga, se for verdade.” No filme, Max é um menino de 9 anos, que após contrariar sua mãe com uma crise de ciúmes e tei-mosia resolve seguir seus instintos selvagens e fugir à procura de uma nova realidade, ele acaba atingin-do seu objetivo quando chega em uma terra habita-da por monstros enormes e peludos que o tornam rei. A adaptação conta com a direção de Spike Jon-ze e do romancista Dave Eggers, no elenco atores como James Gandolfini e Paul Dano dão a origina-lidade encontrada nas vozes dos monstros, e Max Records atua como Max, o protagonista da história. A trilha sonora fica por conta de Karen O, que com-pôs canções exclusivas para o filme e contou com a ajuda de crianças, dando origem a uma trilha perfei-tamente adequada que colabora na imensidão de sentimentos transmitida pelo longa. Jonze nos coloca dentro dessa história e nos faz ver que esses monstros não passam de meras re-presentações do nosso psicológico, é interessante notar como cada monstro apresenta alguma rela-ção com nosso protagonista, seja em seu lado soli-tário, ou em sua vontade de chamar atenção. Cada cena do filme carrega um forte conteúdo emocio-nal apoiado pela trilha e pela fotografia, é uma obra que merece destaque e valor no meio de tantas ou-tras histórias superficiais. Me aproveito da inexistente demarcação da in-fância citada por Maurice para comentar que esse filme pode agradar as mais variáveis idades pois vai além de conceitos jogados pela tela, é um grande representante do principal princípio do cinema, que é fazer sentir. Defino esse filme com o título dado à uma músi-ca da trilha; em Onde vivem os monstros, All Is Love. ESTREIAS & ANÁLISES Por Barbara Godoy Foto Divulgação Onde vivem os monstros
  • 18. 18 | CLAQUETE ALTERNATIVA ESTREIAS & ANÁLISES A trama se desenvolve através de fatos relacionados à vida de Yves Saint-Laurent, um estilista que fez história na alta costura franc-esa entre os anos de 1967 e 1976. Além de sua criatividade, fotografias e entrevistas polêmicas, o filme retrata sua vida pessoal por meio de suas relações amorosas, com o marido e empresário Pierre Berger (Jérémie Renier), os casos extra-conjugais, e sua estreita relação com o álcool e as drogas. O filme representa mais uma obra prima do diretor Richard Lin-klater, que possui enorme facilidade em retratar sobre a vida em suas produções. Em Boyhood as gravações foram realizadas durante 12 anos, acompanhando a vida de um garoto (Ellar Coltrane) de sua infância até sua juventude. Considerado um dos melhores filmes do ano, Boyhood trata-se de uma obra sensível e simples sobre as imposições da vida. Após a terra se tornar um lugar inabitável, um grupo de astronau-tas recebe a ordem de verificar planetas para a possível migração da população mundial. O astronauta Cooper (Matthew McConaughey) é escolhido para liderar o grupo e segue em busca de uma nova casa, até encontrar um buraco negro que é capaz de proporcionar viagens através do tempo e do espaço, além de outras dimensões. Os personagens desse filme são vítimas da realidade imprevisível e ficarão a um passo da linha divisória entre civilização e caos. Os motivos dos impulsos que os incitam a perder o controle encontram-se em uma traição amorosa, um retorno ao passado, uma tragédia e a violên-cia de um pequeno ocorrido no cotidiano. Saint Laurent (2014) Por Barbara Godoy Boyhood (2014) Interstellar (2014) Relatos Selvagens (2014) Foto Divulgação Foto Divulgação Foto Divulgação Foto Divulgação