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ágoraRevista Laboratório do Curso de Jornalismo do
Centro Universitário Newton Paiva
aNo vii
1o
seMestRe 2014
revista
o mar De água
Doce secou
o nível da represa de três marias é um dos mais baixos da história,
provocando mudanças profundas na vida das pessoas que moram na região
Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
editorial
Por Dayane Cristina e Filipe Diniz
O que é aprender jornalismo de revista? Basicamente,
o processo passa primeiro por entender como funciona os
textos dos magazines: a linguagem, os gêneros textuais e a
tipologia. Depois, é interessante compreender as diferen-
ças em relação ao jornal impresso, marcado pela periodici-
dade diária, o modelo factual de abordagem da notícia e o
modo menos subjetivo da narrativa jornalística.
No artigo “Revistas: desafio pedagógico no ensino de
Jornalismo”, de Marli dos Santos e Mônica Caprino, publi-
cado na Revista Brasileira de Ensino de Jornalismo
(Rebej), pode-se elencar características próprias que dife-
renciam a linguagem das revistas em relação aos diários.
Por exemplo: “títulos nominais (em contraposição ao
esquema sujeito-verbo-predicado do jornal diário); possibi-
lidade de uso de adjetivos e coloquialismos; presença de
elementos narrativos e descritivos; ênfase aos personagens
e falas com possibilidade de apresentação em forma de
diálogos e travessões”. No entanto, dependendo da linha
editorial, a norma culta poderá entrar em cena.
Além disso, o texto de revista privilegia o conceito de
tonalidade que, conforme Sérgio Vilas Boas, no livro “O
Estilo Magazine”, é caracterizado pela dramaticidade, o
humor, a ironia, o espetacular entre outros elementos
composicionais empregados.
Contudo, todos esses conceitos abordados não funcio-
nariam, para nós, estudantes, sem uma base de aplicação;
nesse caso, a produção de uma revista experimental, pro-
duzida em laboratório.
O ponto de partida para isso foi a escolha da linha edi-
torial. No debate realizado com o professor, ficou decidida
a produção de uma revista de variedades, para termos,
entre outras possibilidades, a liberdade na definição dos
temas a serem abordados.
Corroborando então com os argumentos de Santos e
Caprino, a etapa seguinte foi a orientação individual dos
grupos de repórteres pelo professor, para a observação do
fato e a captação de informação, por meio de entrevistas,
a fim de se produzir a peça final, respeitando as editorias
escolhidas: economia, cultura, internacional, sociedade,
tecnologia, comportamento, saúde entre outras.
Os detalhes abordados acima são alguns caminhos bási-
cos para o fazer jornalístico, no que se refere às revistas.
Portanto, aprender “Jornalismo de revista” é ter os ele-
mentos conceituais necessários para aprofundar a notícia
de uma maneira diferente das outras mídias. É dar outras
percepções ao fato. É submeter o ponto de vista da revista
ao crivo do leitor, com maior liberdade. Enfim, é praticar...
Boa leitura!
Do conceito
à prática:
o aprendizado
do Jornalismo
para revista”
Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
sumário
ágoraRevista Laboratório do Curso de Jornalismo do
Centro Universitário Newton Paiva
revista
Presidente do Grupo Splice
Antônio Roberto Beldi
Reitor
João Paulo Beldi
Vice-Reitora
Juliana Salvador Ferreira
Diretor Administrativo e
Financeiro
Marcelo Vinicius Santos Chaves
Secretária Geral
Jacqueline Guimarães Ribeiro
Coordenadora da Escola de
Comunicação
Juliana Dias
EDITOR DA REVISTA
Prof. Edwaldo Cordeiro
Apoio Técnico:
Núcleo de Publicações Acadêmicas do
Centro Universitário Newton Paiva
http://npa.newtonpaiva.br/npa
Cinthia Mara da Fonseca Pacheco
Editora de Arte e
Projeto Gráfico
Helô Costa - RP 127/MG
DIAGRAMAÇÃO
Kênia Cristina
Márcio Júnio
Estagiários do Curso de Jornalismo
34 a 35
5 a 9
24 a 26
fotografia
sociedade
entrevista
Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
PÁGINA 5
A persistência de
um medalhista olímpico
ENTREVISTA
Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
PÁGINA 5
Pugilista brasileiro, 25 anos, natural de Vitória. Um boxeador técnico, ágil, medalhista em campeonatos
nacionais e internacionais. Esquiva Falcão, como é mundialmente conhecido, coleciona conquistas
importantes na carreira. As principais delas são as medalhas de prata no Pan-americano de Boxe, no
Campeonato Sul-americano, e, claro, a mais importantes de todas: a prata olímpica dos jogos de Londres.
Feito que o consagrou como o segundo boxeador brasileiro a ganhar uma medalha na história da
participação do país em Olimpíadas. Em entrevista à Ágora, entre outros assuntos, ele conta um pouco
como foi a trajetória para obter reconhecimento e o momento por que passa o esporte no Brasil.
Fotos arquivo pessoal
Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
PÁGINA 7
Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
PÁGINA 7
parte de uma Olimpíada e lá eu dei
o meu melhor, trazendo no peito
uma medalha de prata para o
Brasil e para todos os que fazem
parte da nobre arte.
A remuneração de um boxe-
ador é boa?
Depende da situação em que
você se encontra. Depende da
categoria ou do que o atleta possa
agregar. Na verdade, não é muito
boa pelo menos no boxe amador.
Para mim, é uma situação que
poderia melhorar.
E a transição do boxe olím-
pico para o profissional, há
alguma mudança nítida?
Sim. Foi uma mudança difícil
de ser feita, mas foi a melhor
escolha. Minha vontade era gran-
de de fazer parte das olimpíadas
em 2016 no Brasil, mas acredito
que a minha parte como atleta e
boxeador amador eu já fiz nas
Olimpíadas de 2012, em Londres.
Fui em busca de um sonho e con-
quistei. Agora é hora de seguir
um novo caminho, dando esse
novo passo que o boxe colocou na
minha frente. Só tenho a agrade-
cer a Deus por estar no boxe pro-
fissional hoje e por estar trazendo
as vitórias, mostrando cada vez
mais o boxe brasileiro. Costumo
dizer no final da minha luta: ‘o
boxe brasileiro voltou’.
E a bronca no irmão,
Yamaguchi?
Conheço muito bem o jeito do
meu irmão, do profissional que ele
é, mas como irmão e amigo comen-
tei com ele que não é hora das
brincadeiras.
Só tenho a agradecer a Deus por estar no boxe
profissional hoje e por estar trazendo as vitórias,
mostrando cada vez mais o boxe brasileiro.
Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
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“Beijando a lona”
O que aconteceu com o boxe? Esporte desapareceu das transmissões de Tvs
abertas e a produção de fenômenos como Tyson e Holyfield parece ter sido extinta
ESPORTE
Por Frederico Vieira, Rafael Martins
e Márcio Junio
Nos anos 1970, 80 e 90 eram
comuns as noites em que o sofá de
casa virava uma espécie de arquiban-
cada, a pipoca era o prato principal e
os amigos se reuniam para acompa-
nhar um esporte considerado febre: o
boxe. Todos os preparativos eram
para assistir a um peso-pesado que
hoje está “beijando a lona”. Será?
Quando Mike Tyson, Holyfield e
outros grande pugilistas subiam ao
ringue, as lutas eram imperdíveis, era
espetáculo garantido na tela da TV. No
Brasil,Maguila,Popóeoutrosenchiam
os brasileiros de orgulho, carregando o
nome do país pelo mundo.
O boxe figurava entre os princi-
pais esportes do planeta. A exis-
tência de grandes ídolos e as refe-
rências como Tyson impulsiona-
ram o nome da luta. As luvas ver-
melhas ganharam valor de merca-
do, e a marca boxe cresceu. A bolsa
de aposta tornou-se milionária, e
isso se mantém até hoje, apesar do
sumiço. Como afirma o prof.
Rangel Medeiros, praticante do
esporte há sete anos: “Apesar de
não ter tanto espaço como antiga-
mente, os maiores salários do
mundo ainda são dos pugilistas”.
Além do mais, outras modalida-
des de luta nasceram paralela-
mente à evolução do boxe. No final
do anos 90, surgia o vale-tudo por
meio dos irmãos Gracie, caracteri-
zado pela junção de vários estilos
de lutas. Inicialmente, a ideia era
apenas colocar à prova a eficácia
de cada arte marcial, mas a ascen-
são foi meteórica. Surgia assim um
tal de MMA. Chegou forte, desfe-
riu duros golpes, principalmente
na visibilidade do boxe, mas não o
bastante para o nocautear de vez.
O crescimento do MMA é consi-
derado, por muitos, uma das causas
da baixa no boxe. A efetivação da
modalidade com a criação do UFC
(Ultimate Fighting Championship)
chamou bastante atenção, muito
em função do show, das lutas per-
formáticas que proporciona.
Enquanto isso, os grandes pugi-
listas se aposentaram, e a renova-
ção de ídolos parece não ter acon-
tecido. Além disso, o boxe perdeu
espaço na grande mídia, principal-
mente na TV aberta. Mesmo assim,
os lutadores atuais contam com
altíssimo salários e patrocínios.
Por outro lado, vários atletas
batalham em condições desfavorá-
veis, submetendo-se a uma rotina
de treinamentos árduos e quase
sempre sem remuneração, fazen-
do com que boxeadores com
potencial para o esporte abandone
a categoria e busque outras moda-
lidades mais rentáveis.
Medeiros acredita que o espor-
te ainda tem o seu valor. “Todo
atleta de MMA aprende diversos
golpes de boxe, faz parte da sua
preparação”. O professor volta a
lembrar sobre os valores e divulga-
ção no mundo da luta. “Os eventos
de UFC são mais frequentes, a
divulgação é maior. Mas se compa-
rar o salário com um pugilista,
ainda estão muito abaixo”.
Arquivo pessoal
Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
PÁgiNa 9
Em Belo Horizonte encontramos
uma lenda viva do pugilismo mineiro.
trata-se de Fued Mattar, primeiro
campeão brasileiro no esporte. Hoje,
com 71 anos, o mineiro guarda com
carinho as lembranças do tempo que
subia ao ringue.
Na década de 60 e 70, era quase
impossível segurar as mãos ágeis de
Fued. Segundo ele, foram mais de
200 lutas e menos de 20 derrotas.
Desde 1956, lutando no antigo
ginásio do Paissandu, local onde se
construiu a rodoviária de Belo
Horizonte anos mais tarde, Mattar
relembra o passado: “No meu tempo
o boxe era uma febre, todo mundo
assistia. Já fui parado muitas vezes na
rua para dar autógrafos, parecia cele-
bridade“, relembra a gargalhadas.
Segundo ele, desde a década de
60 os pugilistas sofrem com a falta de
apoio no esporte, que nunca foi o
pilar de sustento. E essa realidade
dura acontece até hoje. “um boxea-
dor tem que lutar primeiro é no seu
dia-a-dia, depois contra os adversá-
rios. Eu trabalhava para me susten-
tar. Anos depois, comecei a lutar em
outros estados, para ganhar notorie-
dade e patrocínio”, desabafa Fued.
Na categoria peso-pena, foi cam-
peão brasileiro. Por pouco não se
classificou para os jogos Pan-
americanos de Chicago; treinou na
academia da Polícia Militar de Minas
Gerais e, em 1972, encerrou a carrei-
ra com vitória, é claro. Após deixar os
ringues, não abandonou o esporte, foi
treinador e presidente da Federação
Mineira de Boxe, até 1996. Por lá
chegou a emprestar até o telefone da
própria casa, por falta de apoio. “Fui
várias vezes até a Secretaria de
Esporte, mas não éramos atendidos.
Promovia eventos para não deixar o
boxe acabar, mas sem investimento e
apoio é difícil”.
Mattar é um dos grandes ícones
do esporte. Já viveu os dois lados da
moeda. Ainda assim ele avalia a situ-
ação do boxe como preocupante, pois
a falta de apoio e incentivo são uma
das principais dificuldades, segundo
o ex-pugilista. “O boxe não é mais
como era antes”, desabafa.
Atualmente, todos sabem que o boxe não é mais o principal
esporte de luta no mundo. O MMA ganhou espaço e, a cada dia
que passa, aumenta a legião de fãs. Fizemos uma pequena pes-
quisa para saber se as pessoas acompanham o boxe. No total, 50
foram entrevistadas, em diferentes faixas etárias. Com base nos
dados, chegamos à conclusão que realmente o esporte tão tradi-
cional vem perdendo espaço.
enquete
à moDa antiga
Algo inimaginável anos
atrás, a cada dia as mulhe-
res buscam mais espaço no
mundo da luta. A procura
pelo boxe, na maioria dos
casos, é para dar um
nocaute nos quilinhos a
mais. A luta feminina não
é só socos e esquivas. Ou
melhor, é totalmente volta-
da para melhorar o condi-
cionamento físico.
De acordo com o prof.
igor Simões Santos, a
mulher que procura o boxe
é aquela que não tem paci-
ência para caminhar em
uma esteira. “Elas prefe-
rem o boxe, que o aeróbico
comum. Pois além de ter o
mesmo resultado, as alunas
ainda aprendem uma luta”.
Ele ainda explica os
benefícios: “Aumenta a fle-
xibilidade e agilidade, toni-
fica a musculatura e
melhora o preparo físico. E
isso é saúde”.
Camila Coutinho, aluna
de boxe há seis meses,
confirma. Ela disse que já
nas primeiras semanas viu
a diferença e sentiu o
corpo melhor. E a perda de
peso veio com o tempo. A
explicação para isso é sim-
ples, conforme o professor:
“A nossa aula aqui é mais
solta, 20% dela é ligada
diretamente ao boxe. Os
outros 80% são voltados
para a parte aeróbica”.
Mas isso não quer dizer
que a aula é light.
De acordo com a prati-
cante Gláucia Bicalho, não
há moleza: “A gente não
para. E isso é bom, faz
muita diferença no dia-a-
-dia. temos muito mais
ânimo para fazer as coisas”.
mulher e BoXe
Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
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O que são as
agências de
classificação
de risco?
Elas são responsáveis por categorizar países e
empresas como bons ou maus pagadores,
interferindo diretamente na vida das pessoas
ECONOMIA
$Por Carolina Roque, Homero Dumont,
João Gabriel Sousa
Agosto de 2012. A nota de crédi-
to dos Estados Unidos é rebaixada.
O país, pela primeira vez em sua
história, deixa de ser um tripo A e
passa a ser AA+. Em junho do ano
passado, o Brasil teve sua nota revi-
sada. Não era mais “estável”, e, sim,
“negativa”. E a União Europeia? No
olho da crise de 2008, também viu
sua nota despencar. Mas por quem?
Pelas chamadas agências de classi-
ficação de risco.
Poucos conhecem qual é o ver-
dadeiro papel das agências. Mas
elas influenciam diretamente a
vida de pessoas, empresas e países.
As mais famosas desse segmen-
to são a Standarts and Poor’s,
Fitch e Moodys. O economista
Eduardo Campos explica que os
dados recebidos por elas vêm de
diversas fontes, e, por isso, tornam
as informações mais confiáveis.
“Essas agências se baseiam em
informações enviadas pelo ‘emis-
sor’, país ou empresa que vai rece-
ber a nota, e por fontes de merca-
do consideradas confiáveis. Os téc-
nicos das agências avaliam toda a
situação financeira do emissor”.
Conforme o economista, o que
vem depois disso é a combinação dos
dados recebidos com aqueles obtidos
por análises da economia mundial e
de especialistas da iniciativa privada.
A mistura desses dados resulta no
chamado rating: a opinião da agência
quanto à capacidade do emissor em
cumprir com as dívidas.
Dependendo da nota recebida,
a economia de um país pode fluir
melhor ou afundar de vez. A certe-
za de que um Estado é um bom
pagador o coloca em destaque
quando o assunto é angariar inves-
timentos, já o que o mundo capita-
lista sempre visa ao lucro. Por
outro lado, a constatação de que
um país tem grandes chances de
dar um calote faz não só com que
novos investidores desistam de
financiá-lo, mas também faz com
que os velhos abandonem o barco.
Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
PÁgiNa 12
$$
Como nada é para sempre, as
agências revisam as notas periodi-
camente. Caso uma nova análise
dos títulos indique que a qualidade
de seu crédito diminuiu, ou que
está mais suscetível a não honrar
seus compromissos futuros, a agên-
cia pode rebaixar ou até mesmo
suspender notas. “Quando empre-
sas ou países estão em situação
pior, necessitam de um acompa-
nhamento dinâmico. Nessas horas,
a simples perspectiva de melhora
ou piora conta muito”, explica o
economista. Da mesma maneira,
se as dívidas forem pagas e a eco-
nomia do país voltar a fluir melhor,
a nota é aumentada.
Canadá, França, Alemanha,
Estados unidos, irlanda, Reino
unido, Noruega, Suíça e Suécia
são países que possuem as maiores
notas de rating nas três principais
agências de classificação de risco,
Standard & Poor’s, Fitch e Moody’s.
Não por acaso, estão entre os paí-
ses que possuem os maiores PiB’s,
que sempre estão no topo de
rankings de educação e do iDH.
Ainda acha que as notas das agên-
cias de classificação de risco não têm
relação nenhuma com sua vida?
o que acontece depois
das temidas classificações?
Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
PÁgiNa 13
Da informaliDaDe ao
empreenDeDorismo
Em Belo Horizonte, o ano de 2014 iniciou com
queda de cerca de 18 mil trabalhadores informais,
um decréscimo de 12,9% de 2012 para 2013
eCoNomia
Por Filipe Diniz e bruna Motti
‘Há sete anos, Pedro luis
Marques desembarcou no Brasil.
Oriundo da cidade de Oaxaca de
Juárez, região sudeste do México,
veio a Belo Horizonte para conhe-
cer pessoalmente a mineira
letícia Guimarães, por quem se
apaixonou pela internet. Depois
de constituir família, o jovem
decidiu não retornar ao seu país.
Pedro então iniciou a batalha pela
busca de renda.
Por gostar bastante de cozi-
nhar, começou a servir tacos, típi-
co prato mexicano, primeiro para
a família de letícia e amigos.
Depois, com o aval de todos pelo
sabor da comida, ele pensou em
abrir um negócio: adquiriu um
trailer e passou a vender a iguaria
em feiras de alimentação em bair-
ros da região noroeste da capital.
A iniciativa deu certo, e o casal
passou a ser mais um a optar pelo
trabalho informal, do qual sobrevi-
ve expressiva parte da população
brasileira.
Segundo pesquisas realizadas
sobre a informalidade, 2014 come-
çou com cerca de 18 mil trabalha-
dores informais a menos em Belo
Horizonte, representando uma
queda de 12,9% em relação a 2012
para 2013. Em 2012, o panorama
era de 139 mil informais e, em
2013, tal número passou para 121
mil. Os dados foram divulgados
em março pela Fundação João
Pinheiro e pela Pesquisa
de Emprego e Desemprego (PED),
desenvolvida em parceria com a
Secretaria de Estado de trabalho
e Desenvolvimento Social
(Sedese) e o Departamento
intersindical e Estudos
Socioeconômicos (Dieese).
Para o coordenador técnico
da FJP, Plínio de Campos Souza,
a expectativa é que haja uma
queda ainda maior nos próximos
meses. “A carteira assinada é uma
das razões da redução dos infor-
mais, já que o número de traba-
lhadores com registro aumentou
2,4%, alcançando 1.183 milhões
de pessoas somente em setembro
de 2013. Fora isso, o salário médio
desses trabalhadores também
aumentou, passando de R$ 1,375
para R$1,478, um acréscimo sig-
nificante de 7,5%”, explica.
Souza também esclarece que a
migração para o emprego formal
se dá, principalmente, entre os
trabalhadores de menor receita.
“Quem tem rendimento mais alto
permanece sem assinar carteira,
por receio de não conseguir
ganhos compatíveis no mercado
formal. É uma escolha difícil para
muitos, mas tem que ser feita, já
que traz mais segurança, como a
contribuição previdenciária, fundo
de garantia por tempo de serviço e
seguro desemprego”, observa.
O economista leonardo
Rodrigues ressalta vantagens
para quem opta por sair da infor-
malidade, para empreender: “O
registro no Cadastro Nacional de
Pessoas Jurídicas (CNPJ) facilita
a abertura de conta bancária,
pedidos de empréstimos e emis-
sões de notas fiscais, além de
prestar auxílio jurídico junto aos
credores”.
Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
PÁGINA 14
Pequena empresa
De acordo com os especialis-
tas, para quem decide montar o
próprio negócio, a opção pode ser
o Programa Microempreendedor
Individual (MEI), do governo
Federal. Conforme informações
do MEI, para ser um microempre-
sário é necessário faturar no
máximo até R$ 60 mil por ano e
não ter participação em outra
empresa como sócio ou titular.
Também é possível ter um empre-
gado contratado que receba o
salário mínimo ou o piso da cate-
goria. “O MEI será enquadrado no
Simples Nacional e ficará isento
de alguns tributos federais, como
o imposto de renda, PIS, Cofins,
IPI e Csll. Com essas contribui-
ções, o microempreendedor terá
acesso a benefícios como aposen-
tadoria, auxílio maternidade e
doença”, explica Rodrigues.
Pensando nas garantias traba-
lhistas e na produção limitada por
conta do espaço do trailer, a famí-
lia Guimarães Marques viveu
novas expectativas. Empreendeu
e, em outubro de 2013, a taqueria
“Tá com Tudo” foi inaugurada no
bairro Alípio de Melo. “Tínhamos o
sonho de ter nosso próprio restau-
rante e aumentar a capacidade
produtiva, para que pudéssemos
receber melhor nossos clientes. O
espaço também permite divulgar
outros elementos da cultura mexi-
cana, como, por exemplo: a músi-
ca”, ressalta Guimarães.
Em relação aos desafios enfrenta-
dos, foram taxativos: “Com certeza,
para nós, o mais desafiador foram as
questões burocráticas e legais, princi-
palmente por eu não ser brasileiro.
Mesmo com a ajuda de profissionais
da área financeira, gostamos de saber
quais as obrigações legais e fiscais
que teríamos, já que queremos estar
em dia com tudo”, frisa o empresário.
Para isso, Letícia procurou se
qualificar. Fez o curso de “Gestão
para Mulheres” na Fundação Dom
Cabral, e “Plano de Negócios” no
Serviço de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas de Minas Gerais (Sebrae),
com o intuito de ficar sempre atenta
às mudanças e melhorias.
Sobre a visão futura do empreen-
dimento, querem sempre crescer e se
qualificarem. Mas ao serem questio-
nados se o trailer sempre fará parte
dos planos, dizem: “Ele é muito bom
de se trabalhar e muito divertido
também. É comum no caminho
para os locais onde vamos as pesso-
as gritarem “arriba” ou, “andale,
andale”. Gostamos dessa alegria e
ela tem tudo a ver com nossa
forma de viver o negócio”, destaca.
Apesar do cenário da economia
informal estar em queda, ainda é
perceptível atividades do mercado
varejista de alimentação, roupas e
eletrônicos sendo comercializadas
em shoppings populares e feiras
de Belo Horizonte. A carga tribu-
tária e a burocracia administrati-
va por parte do governo são os
grandes vilões no processo de for-
malização, o que, na maioria das
vezes, chega a inviabilizar possí-
veis negócios, embora a formali-
dade ofereça maior segurança ao
trabalhador.
Montar o próprio negócio,
mesmo que informalmente, conti-
nua sendo o sonho da maioria dos
brasileiros. Muitas vezes, pela falta
de dinheiro para começar uma
empresa de maneira formal, os
novos empresários conseguem, aos
poucos, dar forma ao próprio negó-
cio. Raphaela Noé, de 28 anos,
estava cansada de trabalhar para
outras pessoas e resolveu ser a pró-
pria chefe. Com um investimento
de quase R$ 3 mil, fez um curso
técnico de capacitação, adquiriu o
material necessário e se tornou
especialista em unhas de gel. Ela
conta que escolheu o produto por-
que faz sucesso entre as mulheres,
e é algo que ela mesma já usava há
alguns anos: “Sempre tive o sonho
de ter meu próprio negócio, e a
unha de gel foi a oportunidade que
eu vi para poder começar”.
A divulgação do empreendi-
mento é feita boca a boca, pelo
Instagram e, em breve, pelo
Facebook: “as redes sociais são
formas gratuitas de divulgação
que repercutem de maneira posi-
tiva no meu trabalho, não preciso
gastar muito para mostrar que as
unhas ficam maravilhosas”.
Para atrair a clientela, os preços
iniciais são bem abaixo dos encon-
trados no mercado, cerca de 40%,
impossibilitando, por causa disso,
manter um salão próprio. A jovem
atende na própria casa. Com o
lucro que consegue, a empresária
começa a recuperar o investimento
inicial e faz planos: “Ano que vem
quero ter minha própria esmalte-
ria”, sonha a jovem empresária, que
parece não querer mesmo voltar a
trabalhar para outras pessoas.
Boca a boca
Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
PÁgiNa 15
Revista ÁgoRaRevista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva || Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 11OO
SEMESTRE 2014SEMESTRE 2014
PÁgiNa 15PÁgiNa 15
crimeia — referenDo
para quê, se o resultaDo
era pré-anunciaDo?
A península conta com cerca de 60% da população,
dos cerca de 2 milhões de habitantes, formada por
russos. Apenas 24% dela é formada por ucranianos
iNterNaCioNal
Por Jéssica Ribeiro e José Oswaldo Costa
O mundo assiste, alarmado, ao
desenrolar da crise na Crimeia,
região do extremo sul da ucrânia.
Alarmado porque a Rússia ameaçou
invadir o país caso o referendo rea-
lizado em março não fosse respeita-
do, já que a maioria da população
da península, banhada pelo Mar
Negro, decidiu pela anexação ao
país do presidente Vladimir Putin.
A ucrânia, contrária à separação,
não concordou com a decisão e o
imbróglio foi parar na Organização
das Nações unidas (ONu). Mas por
que realizar um referendo se o
resultado dele era pré-anunciado?
A história da anexação da
Crimeia ao império Russo data do
ano de 1783. Após trocar de mãos
algumas vezes, em outubro de
1921 foi criada a República
Soviética Socialista Autônoma da
Crimeia (RSSAC), tornando-se
parte da extinta união Soviética.
Em 1944, Stalin ordenou punir a
região por um suposto envolvi-
mento com os nazistas e pela cria-
ção de legiões antissoviéticas.Com
isso, toda a população de tártaros
da Crimeia foi enviada para exílio
na ásia Central. Estima-se que
46% dos deportados morreram de
fome e doenças.
Em junho daquele ano, as
populações armênia, búlgara e
grega da Crimeia também foram
deportadas para a ásia Central. Ao
fim do verão de 1944, a “purifica-
ção étnica” havia sido completada.
tal contexto ajuda a explicar o
porquê de, hoje, a península con-
tar com cerca de 60% da popula-
ção, dos cerca de 2 milhões de
habitantes, formada por russos.
Apenas 24% dela é formada por
ucranianos. Os tártaros remanes-
centes não ultrapassam muito os
15% da população total e são, por
questões óbvias, fortemente con-
trários à anexação. Estes últimos
retornaram para a Crimeia após a
independência da ucrânia, com o
fim da união Soviética.
levando-se em conta ainda a
questão da formação atual da
população da Crimeia, majoritaria-
mente russa, o jornalista portu-
guês Henrique Monteiro, em arti-
go publicado no dia 7 de março no
site Expresso com o título de
Criméia – a história não justifica
nada, descreveu a situação ao
dizer que “a liberdade da região
não pode ser reclamada como se a
história tivesse começado com
Stalin ou com uma falsificação
sobre a população histórica da
zona. A liberdade da Crimeia terá
de ser o resultado de negociações
que levem em conta a situação
atual, o desejo dos seus habitantes
e os interesses ucranianos e rus-
sos. Mas não pode resultar da sim-
ples vontade de uma maioria que
foi imposta à força no território e
que finge ali estar desde tempos
imemoriais”, observa.
Ou seja, o referendo realizado
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SEMESTRE 2014
PÁgiNa 16
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SEMESTRE 2014SEMESTRE 2014
PÁgiNa 16PÁgiNa 16
em março tinha um desfecho – a
aprovação da anexação à Rússia –
mais do que esperado. Não é difícil
concluir que sequer deveria ter
sido feito. Qual o resultado prático
da realização de um referendo
direcionado à anexação de uma
península a determinado país,
quando se sabe que a grande maio-
ria da população da península é
originária daquele que pretende
anexá-la? Algo um tanto quanto
redundante, desnecessário. Além
disso, o resultado “oficial” infor-
mou que houve aprovação de 95%
dos eleitores quando, em uma pes-
quisa realizada antes do referendo,
revelou que apenas 42% dos habi-
tantes eram favoráveis à anexação.
Este fato levantou suspeitas, e
tanto os Estados unidos, como a
união Europeia, informaram que a
votação não seria reconhecida pela
comunidade internacional. Afinal,
parece evidente a fraude do resul-
tado. Fato é que, no final de março,
a ONu levou à votação uma resolu-
ção com o intuito de declarar invá-
lido o referendo. No fim, a resolu-
ção ucraniana foi aprovada com
100 votos a favor, 11 contra e 58
abstenções. Outros 24 Estados
membros não votaram. Diplomatas
ocidentais definiram o resultado
como um sucesso diplomático para
a ucrânia, sendo que Estados
unidos e delegações europeias dis-
seram que ela revelou o isolamento
da Rússia nessa questão.
Pelos números apresentados pela
pesquisa realizada antes da consulta,
fica claro que até mesmo alguns rus-
sos residentes na Crimeia não dese-
javam a anexação. Sem este proces-
so, a península, bem como a ucrânia,
passaria a fazer parte da união
Europeia, situação economicamente
mais interessante. Porém, se é inte-
ressante permanecer com a ucrânia
e entrar para a união Europeia,
porque alguns habitantes são favorá-
veis à anexação?
Conforme o prof. José luiz
Niemeyer, “aqueles que são favo-
ráveis à anexação esperam receber
benefícios econômicos e sociais da
Rússia. Para a Crimeia, a anexação
pode representar ganhos logísticos
e econômicos, com o forte capita-
lismo de Estado praticado pela
“mãe” Rússia”, explica.
Certo é que a Rússia se valeu
de dois importantes subterfúgios:
o grande número de russos moran-
do na península e a enorme influ-
ência econômica e militar para
provocar pressão. De qualquer
forma, ela sairia vencedora no
“embate”, o que torna o referendo
algo totalmente inócuo e desne-
cessário. Foi um “teatro” montado
pelos russos, dizem vários analis-
tas internacionais.
A Crimeia possui regime de
República Autônoma (divisão admi-
nistrativa semelhante a uma provín-
cia) e faz parte da ucrânia desde
1954. Naquele ano, o então líder
soviético Nikita Kruschev transferiu o
território em um gesto simbólico de
amizade. No entanto, o interesse
russo, agora, é proveniente, principal-
mente, da localização da península,
que fica às margens do Mar Negro. É
o único porto de águas quentes da
Rússia que permite acesso ao
Mediterrâneo, ligação marítima para
toda a Europa, áfrica e saída para o
Atlântico. Há também ligação com o
Oceano Índico, por meio do canal de
Suez. Além disso, seus portos servem
para escoar a produção agrícola da
ucrânia e de pontos de exportação,
para a Europa, do gás natural russo.
A Crimeia é uma grande produ-
tora de grãos e vinhos. Possui ter-
ras ricas para a agricultura, com
forte atuação na produção alimen-
tícia. Ainda há a questão militar,
uma vez que a marinha russa pos-
sui uma base na cidade de
Sebastopol há 230 anos. Os navios
e submarinos baseados neste porto
podem alcançar o Mediterrâneo
com facilidade para chegar ao
Oriente Médio e aos Bálcãs.
Com o colapso da união
Soviética, em 1991, havia certo
desejo local de que a Crimeia dei-
xasse a ucrânia e se tornasse
parte da Rússia. Porém, legislado-
res decidiram não autorizar o
movimento, criando tensões com
os russos.
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SEMESTRE 2014
PÁgiNa 17
No fim de 2013, o então presi-
dente da ucrânia, Viktor
Yanukovych, decidiu recusar um
acordo que estreitaria os laços do
seu país com a união Europeia –
acordo que era costurado há três
anos. Ao invés disso, resolveu sinali-
zar com uma aproximação com a
Rússia. Na época, os ucranianos
chegaram a admitir que a decisão
fora baseada nas pressões que os
russos exerciam, como a ameaça de
cortar o fornecimento de gás natu-
ral e a tomada de medidas protecio-
nistas contra produtos ucranianos.
Após o anúncio desta aproximação,
oposição e parte da população (pró-
-união Europeia) tomaram as ruas
em manifestações que acabaram
em violência e mortes. No início do
ano, os protestos ficaram mais vio-
lentos, com a presença de armas de
fogo em ambos os lados do conflito.
Cerca de 100 pessoas morreram e
outras centenas ficaram feridas,
incluindo policiais.
Em fevereiro, Yanukovych foi
destituído do poder e as eleições
presidenciais que acontecem no
fim do ano foram antecipadas para
maio. Neste período de hiato,
quem governa a ucrânia é o oposi-
tor Oleksander turchynov, presi-
dente do Parlamento. Ele infor-
mou que dialogaria com a Rússia,
para melhorar as relações entre os
países, mas a integração com a
união Europeia viria em primeiro
lugar. Dessa forma, tanto a Rússia
como os ucranianos pró-russos
entenderam que havia acontecido,
na verdade, um golpe de Estado. E
os conflitos continuaram.
Após o referendo na Crimeia e a
suposta “vitória” da vontade da
maioria, Putin assinou um tratado
de adesão e enviou tropas à região,
além de invadir postos militares na
ucrânia. Este país, por sua vez,
considerou a ação como uma
declaração de guerra e preparou
todo o seu território para uma pos-
sível invasão. No leste, onde a
maioria também é russa, o movi-
mento pró-Rússia ganhou força e
militantes invadiram prédios
governamentais. A guerra civil
esteve bem próxima, colocando
frente a frente militantes pró-
-união Europeia e militantes pró-
-Rússia, todos irmãos, todos ucra-
nianos. Segundo a ONu, quase
130 pessoas, entre soldados, sepa-
ratistas e civis morreram em atos
de violência desde o início da ope-
ração “antiterrorista”, lançada pela
capital, Kiev, em abril para retomar
o controle das cidades do leste.
Antes da eleição em maio do
novo presidente ucraniano Petro
Poroshenko, Putin ordenou a reti-
rada das tropas que realizavam
manobras na fronteira com a
ucrânia, que mobilizou até 40 mil
homens, segundo fontes ociden-
tais, sob o pretexto de manobras e
testes militares. Porém, até o
momento, tanto Estados unidos
como a OtAN (Organização do
tratado do Atlântico Norte) afir-
mam que não há qualquer prova
de que o Exército russo tenha ini-
ciado a retirada. A tensão no local,
portanto, continua.
o cerne da questão!
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SEMESTRE 2014SEMESTRE 2014
PÁgiNa 17PÁgiNa 17
TáRTaROS
O tártaro pertence à família das línguas turcomanas, que inclui azerbaijano, basquir, cazaque, iacuto,
nodai, quirguiz, turco, turcomeno, tuvínio e uzbeque. Algumas dessas línguas são tão parecidas que, até
certo ponto, as pessoas conseguem se entender. Por muitos séculos, havia uma relação entre tártaros,
mongóis e turcos. Os falantes das línguas turcomanas são encontrados aos milhões no mundo inteiro. Hoje
cerca de 4 milhões de pessoas vivem na multirracial República da tartária, localizada no extremo leste da
Rússia europeia. Nas ruas das cidades da tartária, falam-se tanto o tártaro como o russo, e os jornais,
livros, rádio e televisão fazem o mesmo. Os teatros exibem peças em tártaro sobre a história, o folclore e o
cotidiano da etnia. Os tártaros eram caçadores e criadores de gado. Ainda hoje, a culinária tradicional
deles inclui vários pratos com carne.
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SEMESTRE 2014
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“O medo que algum dia o
mar também vire sertão...”
Com a falta de chuvas e o nível da água baixíssimo, a represa de
Três Marias preocupa moradores e empresários da região
MEIO AMBIENTE
Por Armando Mariano, Paula Rabelo e
Rafael Phillipe
“Eu não vi o mar, eu vi a lagoa”.
Com esse trecho do poema de
Carlos Drummond de Andrade,
pode-se descrever a situação preo-
cupante do lago de Três Marias.
Onde antes se via um oceano de
água doce, hoje apenas sobraram
pequenos córregos, terra e pouquís-
sima água. O famoso “Mar de
Minas” está praticamente seco, afe-
tando seriamente a vida das pessoas
que vivem na região.
Com o objetivo de fornecer ener-
gia para 80% do norte de Minas
Gerais, a represa foi inaugurada em
1969. Formado o lago, a bela paisa-
gem atraiu novos moradores, turis-
tas e empreendedores para o local,
que tem como atividade econômica
as atividades de pescas e de hotela-
ria, com diferentes pousadas e
hotéis. No entanto, com o nível da
água mais baixo da última década, o
lago está tornando difícil a vida de
muita gente. Lanchas e embarca-
ções, por exemplo, sofrem para
navegar, isso sem falar nos riscos de
acidentes que aumentam drastica-
mente.
Lúcio Vieira, guia de pesca local,
conta que tem sido complicado con-
seguir clientes nos últimos meses.
Segundo ele, algumas pessoas ficam
com receio de fazer um passeio de
barco ou lancha, já que os troncos e
tocos estão substituindo a água.
“Realmente está difícil para nave-
gar com segurança. Por mais que a
gente preste atenção, sempre acer-
tamos alguma galhada. É muito
perigoso pilotar com o nível da água
tão baixo, e isso acaba afastando os
clientes”, relata Vieira.
Às margens da represa, visitan-
tes e moradores se reuniam para
admirar o belo cartão-postal minei-
ro. Em época de cheia, a água inva-
dia as varandas e terreiros das casas.
Porém, nos últimos meses, em vez
de água, são pedras, barrancos e
galhos secos que compõem a cena.
O tão falado Mar Doce está se trans-
formando em sertão.
Com as últimas notícias, mui-
tos pescadores amadores que pro-
curam a região deixaram de visitar
o local. Rosilene Mariano, gerente
de uma pousada, localizada na
cidade de São José do Buriti, disse
que está passando por dificulda-
des, pois a procura de clientes tem
sido cada vez menor. “Sentimos a
diferença. Com a represa cheia
ficamos sempre lotados, mas com
esta seca, poucas pessoas estão
vindo”, afirma.
Mas, nesta situação preocupan-
te, ninguém é mais prejudicado do
que os ribeirinhos. Eles necessitam
da represa para sobreviverem, reti-
rando seu sustento, na maioria das
vezes, dos pescados e da criação de
peixes em gaiolas. Com as águas
baixas e a pesca afetada, como eles
estão vivendo?
Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
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O pirata do mar sem água
Um “pescador de ilu-
sões”. Esse é Rogério
Boldrini, ribeirinho conhe-
cido da região de Três
Marias. Nascido no
Espírito Santo, precisa-
mente na cidade de
Vitória, decidiu morar em
Minas Gerais a partir do
ano 2000, depois de se
encantar com a região.
Segundo ele, na época, a
represa era um verdadeiro
Jardim do Éden. “Já fiz de
tudo um pouco nesta vida.
Viajei para vários lugares e
morei em diferentes esta-
dos, mas quando conheci
o famoso Mar de Minas,
me apaixonei. Não pude
resistir a tanta beleza reu-
nida em um só lugar”,
relembra o pescador.
Mais conhecido como
capitão Jack Sparrow,
famoso personagem de
Johnny Depp no filme
Piratas do Caribe, Boldrini
brinca ao falar do apelido,
dizendo que o personagem
não chega aos seus pés:
“Se ele soubesse metade
do que eu passei, teria se
aposentado de vergonha.
Já naufraguei, fui picado
por cobras peçonhentas,
lutei com onças nas matas
e tive um dedo da mão
arrancado por uma pira-
nha”, conta mostrando as
cicatrizes das batalhas.
Mas, para ele, quem
dera a vida fosse apenas de
contos fabulosos e de brin-
cadeiras. Segundo o capi-
tão, Três Marias já foi o
céu; porém, hoje, é um
verdadeiro inferno para o
pescador. Boldrini diz que
a represa já não é mais a
mesma. Ele teme pelo pior:
o desaparecimento. De
acordo com o pirata, os
tempos mudaram, e o mar
não está mais para peixe.
“Quando me mudei pra cá,
pescava todos os dias.
Minha renda mensal era
bem estável, e, na segunda
semana do mês, já estava
com o salário na mão. Hoje,
com esta seca, passo difi-
culdades. Já não pego tan-
tos peixes como antes e,
muitas vezes, não tenho
nem o que comer”, lamen-
ta.
O pescador pratica-
mente aposentou as
varas e as redes de pesca,
tirando o sustento agora
do artesanato. Linhas,
iscas e acessórios que
antes capturavam pei-
xes, hoje fazem parte do
acervo de colares, brin-
cos e pulseiras do ribeiri-
nho. “Não tenho opção.
Ou vendo artesanato ou
continuo passando fome.
É claro que ainda passo
dificuldades, pois o
dinheiro que ganho com
isso não é muito. Serve
apenas para me manter
vivo”, relata em lágrimas.
Boldrini, o Sparrow
brasileiro, afirma que,
apesar do cenário triste
em que a represa se
encontra, ainda acredita
que ela suba o nível nova-
mente um dia. “Só me
resta confiar em Deus e
pedir que nos ajude.
Espero que no ano que
vem chova muito e o lago
se recupere, fazendo tudo
voltar ao normal”
Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
PÁgiNa 20
Afinal, por que o baixo
nível da represa causa tantos
problemas? Ítalo de Carvalho,
biólogo, diz que os desequilí-
brios devido à falta de água
são muitos e afetam a fauna
local. “Primeiramente, há um
problema de temperatura.
Com a carência de chuvas, a
tendência do lago é esquen-
tar. Esse fator influencia no
comportamento dos peixes,
pois pode afetar sua reprodu-
ção e fazer com que eles pro-
curem locais mais fundos,
onde a temperatura é mais
baixa. isso se torna um obstá-
culo para os pescadores, pois
dificulta as capturas diárias”,
explica.
O biólogo disse ainda que,
além do aumento da tempera-
tura, o baixo nível acaba cau-
sando uma aglomeração de pei-
xes em locais pequenos. Dessa
forma, a disputa por alimentos e
a predação entre as espécies são
maiores. “Com pouca água há
menos vegetação. Sem vegeta-
ção, há pouco alimento, e isso
acaba prejudicando toda a
cadeia alimentar do ecossiste-
ma”, observa.
Carvalho ressalta que a
culpa não é da natureza, e,
sim, dos seres humanos.
Segundo ele, o Brasil inteiro
está passando pela mesma
situação de três Marias, pois
o Aquecimento Global está
cobrando o preço. ”Não temos
mais estações bem definidas.
Está tudo desregulado. Esse
problema é mundial, e cabe a
nós tentarmos reverter esta
situação”, defende.
Além disso, o biólogo é contra
a construção de represas, isso
porque existem outras formas
menos impactantes de se gerar
energia. “As barragens impedem
os peixes de subirem as corredei-
ras para se reproduzirem. isso
leva à diminuição da quantidade.
Parece que ninguém está nem aí
para a natureza. O dinheiro gasto
em futebol dava para se investir
em fontes mais ecológicas de
energia. um exemplo é a eólica”,
explica revoltado.
especialistas
FotosArmandoMariano
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SEMESTRE 2014
PÁgiNa 21
Decidimos entrevistar uma
moradora antiga da região para
saber se o argumento de Ítalo de
Carvalho está correto. Maria do
Carmo, 76, mora na cidade de São
José do Buriti desde que nasceu.
Segundo ela, quando criança, cos-
tumava ir pescar para passar o
tempo e trazer comida para casa.
Porém, o cenário era bem diferen-
te de hoje. “Antigamente não havia
a represa. tinha apenas um córre-
go que desaguava no Rio São
Francisco. Mas, a quantidade e
variedade de peixes era bem maior
do que nos dias de hoje”, conta.
Segundo ela, o número de ani-
mais existentes no local era sur-
preendente. Além disso, o tama-
nho dos peixes impressionava.
“Certa vez em uma pescaria
amarrei a linha em um galho
grosso, isquei um peixe pequeno
no anzol e joguei na água. Não
deu outra, quase fui parar dentro
do córrego. Demorei mais de uma
hora para vencer o peixe, e quan-
do eu o vi, me impressionei. Era
um Surubim de mais de 20 qui-
los”, conta sorridente.
Apesar de saber dos bene-
fícios que a represa gerou, como,
por exemplo, o aumento do núme-
ro de empregos, na opinião da
antiga moradora, a vida era melhor
antes de sua construção. De acor-
do com ela, a natureza estava em
pleno equilíbrio e ninguém passa-
va por dificuldades. “Vivíamos de
forma bem simples, mas éramos
felizes. O Velho Chico era um
paraíso, com seus peixes enormes
e em grande quantidade. Sempre
satisfazia a todos. Hoje em dia
tudo mudou. A represa foi constru-
ída e trouxe seus benefícios, mas
também trouxe o desequilíbrio”,
lamenta.
De fato, sendo benéfica ou
não, a represa de três Marias está
em situação crítica. As comportas
da barragem foram fechadas para
impedir que o nível da água caia
ainda mais. Mas, sem fluxo, a
energia deixa de ser gerada e as
cidades da região são prejudica-
das. O quintal dos mineiros está
deixando uma dúvida na cabeça
de todos. Será que esse mar vai
virar sertão?
antes
Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
PÁgiNa 22
me Digas o que queres
e te Direi qual aplicativo BaiXar...
A facilidade da
compra de
smartphones faz
com que as pessoas
possam explorar
as facilidades que
os aplicativos
podem oferecer
teCNoloGia
Por laura Senra, Manuel Carvalho,
Rayza Kamke
Você está em um bairro da zona sul e precisa ir
para um na região norte, mas não sabe qual o
melhor caminho. Você abre um aplicativo (app) e
coloca a localização atual e onde quer ir. Em instan-
tes ele traça a rota mais simples para você chegar ao
destino. Fácil, não? Atualmente não é preciso medir
esforços para nada, ou quase nada. Você tem no
celular maneiras simples de resolver alguns proble-
mas. A lista de apps, para isso, vem se tornando cada
vez maior.
É comum ver aparelhos celulares nas mãos das
pessoas e perceber a inúmera variedade de ferra-
mentas incluídas nele. Os programas caíram no
gosto dos brasileiros e, hoje, correspondem a 1,4%
da produção tecnológica no país. Com o aumento da
venda de aparelhos celulares e com a tecnologia
avançando a cada dia, os aplicativos são essenciais
no cotidiano do consumidor.
Por causa disso, nota-se que os aparelhos antigos
estão sendo substituídos pelos mais modernos.
usufruir das funcionalidades de milhares de apps
tem se tornado essencial na hora de comprar um
novo aparelho. Felipe Meirelles, desenvolvedor de
aplicativos, explica: “uma variedade grande de servi-
ços surgiram ou migraram para atender a esta
demanda, impulsionando ainda mais a indústria de
apps no Brasil”.
ler um livro, assistir filmes, escutar música, aces-
sar uma rede social ou jogar um game são algumas
das inúmeras variedades de aplicativos presentes nos
mais novos aparelhos celulares, essenciais hoje no
cotidiano do consumidor. Para quase tudo existe um
tipo de app para se utilizar. E a explicação é somente
uma: é mais fácil e rápido usar um aplicativo do que
abrir um site no celular.
Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
PÁgiNa 23
Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva |
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| Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
Para Cleisson lima, 21, os
aplicativos são sinônimos de
simplificação e agilidade. O
estudante de Jornalismo afir-
ma conseguir acompanhar as
notícias do mundo com facili-
dade e eficiência, o que o
“deixa ligado” nas coisas que
acontecem ao seu redor.
Cleisson ressalta a praticida-
de em se manter nas redes
sociais por meio das ferra-
mentas, simplificando a área
de comunicação. “Não dá
para ficar desatualizado com
as coisas que andam aconte-
cendo por aí. Com os aplica-
tivos eu vejo o que está rolan-
do em tempo real, além de
bater um papo com as pesso-
as”, ressalta.
Para quem mora longe da
família, os aplicativos podem
ser um jeito fácil e econômi-
co de matar a saudade. luana
Bazzi, 19, saiu de Rondônia
para realizar o sonho de estu-
dar Odontologia no interior
de São Paulo. Aplicativos de
comunicação como WhatsApp,
Facebook ou Skype trazem o
conforto de se sentir perto
daqueles que fazem tanta
falta. “É muito grande a
importância destes aplicati-
vos para mim. Consigo apar-
tar minha necessidade de
manter contato com a família
aonde quer que eu esteja, e a
baixo custo”, conta.
Além dos aplicativos de
comunicação, luana utiliza
diariamente ferramentas que
possibilitam pedir suas refei-
ções em seu próprio smar-
tphone. Segundo a estudan-
te, além da variedade de
opções, o atendimento é rápi-
do, tem várias formas de
pagamento, e agiliza bastante
para quem não tem tempo.
“Hoje é impossível viver sem
essa tecnologia”, defende.
O uso de aplicativos vem se
tornando frequente, mais até
do que os maiores sites de ser-
viço encontrados. O que antes
faziam os consumidores liga-
rem um computador, hoje é
feito na palma da mão, e de
maneira simplificada. Os apps
não costumam ultrapassar base
de dados para não ficarem
pesados no celular. O sucesso é
tamanho que até as maiores
marcas e lojas estão se renden-
do a esta funcionalidade.
Não é novidade que as
mulheres adoram ir às com-
pras. Se sair de casa e ir ao
shopping era um problema,
hoje não é mais. Aplicativos
trazem a praticidade de se
fazer consultas online se
algum produto que você preci-
sa está em promoção, ou
quantas quantidades há no
estoque. Para Cinthia Xavier,
20, além do lazer, os aplicati-
vos de compra trazem pratici-
dade, já que não é preciso
utilizar um computador para
fazer pesquisas diárias. “Eu
ganhei muito mais tempo e
com uma economia que cabe
no meu bolso!”, analisou. Os
aplicativos mostram para ela,
diariamente, ofertas em shop-
pings de Belo Horizonte
Se de um lado o número de
usuários de aplicativos cresce, do
outro, desenvolvedores quebram a
cabeça para criar programas que
facilitem e satisfaçam os consumi-
dores. Erick Alves, desenvolvedor
web, comprou seu primeiro iPho-
ne em 2009 e achou fantástica a
ideia de poder criar aplicativos
que possam servir para entreter e
facilitar a vida das pessoas. No
mesmo ano, iniciou os estudos na
faculdade, no curso Sistema de
informações e desenvolveu seu
primeiro aplicativo.
Com apenas 24 anos, está ter-
minando a pós-graduação em
Aplicativos Móveis e já lançou o
“Xavecador”, recurso para canta-
das e o “Minha Série”, para as
pessoas que frequentam academia
poderem colocar as informações
de sua ficha de treino e consultar.
“Além de ficar mais organizado e
com algumas funcionalidades
legais, ainda ajuda o ambiente,
diminuindo o uso de papel”, obser-
va Alves. Ambos os aplicativos
estão disponíveis na Play Store e
contabilizam mais de 100 mil
downloads cada.
Mas nem tudo são flores. Para
ser disponibilizado na Apple Store
(loja de aplicativos da Apple), é
preciso ter CNPJ e patente alta
para que o aplicativo fique no ar.
Já na Play Store (loja de aplicati-
vos do sistema Android), o envio
dos aplicativos é extremamente
fácil. “Em questão de 30 minutos
eu já conseguia encontrar meu
aplicativo na loja e compartilhar
nas redes sociais com os meus
amigos”, conta.
De acordo com a empresa de
pesquisas tecnológicas Gartner, no
Brasil a venda de aparelhos smar-
tphones cresceu 170% no último
ano. O aumento do consumo dos
aparelhos influencia diretamente
no mercado de criação de progra-
mas e aplicativos.
a web comendo poeira
a mão que desenvolve
usuários
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SEMESTRE 2014
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“Geração Z” não sabe brincar
Segundo sociólogo, crianças têm abandonado brinquedos e jogos
tradicionais e passado mais tempo em frente ao computador,
gerando uma espécie de “autismo social”
SOCIEDADE
Por Dayane Cristina, Henrique Coutinho e
Sueli Azevedo
Onde está a amarelinha, o pega-
-pega, a queimada, o pião, a peteca?
As crianças não brincam mais na
rua? Não se divertem mais no par-
quinho do bairro? E as panelinhas
de barro e os objetos reciclados?
Elas não querem mais criá-los? As
novas tecnologias chegaram para
tomar o lugar desse tipo de diver-
são? Agora, as crianças preferem
ficar sozinhas com o computador a
se divertirem com outras?
Essas são algumas das pergun-
tas que vêm à nossa mente quando
pensamos em brincadeiras e brin-
quedos que ficaram para trás. A
psicóloga Daniela Borja explica
que as crianças desta época são
parte da chamada Geração Z, pois
convivem com a tecnologia desde o
nascimento. “É praticamente ine-
vitável que o mundo virtual não
apenas marque as histórias delas,
como também oriente seu processo
de aprendizagem”, afirma.
Para a psicóloga, o contato da
criança com as novas tecnologias
pode exercer um duplo papel: pro-
picia acesso a diversas informa-
ções e contribui para a autonomia;
mas, por outro lado, dificulta a
postura crítica e estimula a impul-
sividade e o imediatismo.
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Ainda segundo a especialista, o
excesso de tempo em frente ao
computador, por exemplo, pode
promover dependência e desesti-
mular o contato com outras pesso-
as. Pode, inclusive, dificultar brin-
cadeiras, organização do tempo e
a tolerância à frustração, tão fun-
damental para o convívio social.
Em um passado não muito dis-
tante, era possível ver crianças
brincando de bola na rua, fazendo
roupinhas de boneca, sujando-se
de tanto rolar no chão, na grama,
na lama. A maioria delas ainda não
tinha acesso às novas tecnologias,
como celular, computador ou vídeo
games. Por isso, elas interagiam
mais. Uma ia à casa da outra para
brincar ou várias se juntavam em
um só lugar, como no parque ou na
pracinha. Bola, pipa, bambolê,
varetas e bolinhas de gude esta-
vam sempre presentes na roda de
amigos. Esses brinquedos faziam a
alegria da garotada, que se entro-
sava cada vez mais.
Na escola, elas não viam a hora de
o sinal para o recreio tocar para irem
logo brincar com os coleguinhas.
A secretária Suelen Marins é um
exemplo de pessoa que aproveitou a
infância brincando na rua com os
amigos e familiares. Ela fala de
alguns brinquedos que a divertiam,
como um boneco de pano, Barbies e
bambolês. “Era um boneco de
cobertor. Gostava muito dele. Eu
também era frenética no bambolê”.
Para ela, nos dias de hoje, é
quase impossível ver uma cena com
crianças com esses brinquedos na
rua. “Elas não vivem”, critica.
Amarelinha, passa anel, jogo do
mico, da memória e quebra-cabeças.
São inúmeras as brincadeiras que
tanto divertiam no passado. A maioria
delas precisava ser realizada entre
duas ou mais pessoas. Nunca seria
possível, por exemplo, uma pessoa
brincar sozinha de pega-pega, escon-
de-esconde ou pula-corda. Portanto,
era necessário interação, encontrar
companheiros para brincar.
Isso é nostálgico e nos leva a
refletir sobre a proximidade e
intensidade dos relacionamentos
de amizade no passado.
Realmente o mundo mudou,
como prova o relato de Suelen. O
avanço da tecnologia contribuiu para
que tais mudanças aconteçam de
maneira mais rápida. As novas ferra-
mentas tecnológicas têm tomado o
espaço das interações pessoais e, con-
sequentemente, da socialização.
Fotos Sueli Azevedo
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um exemplo de lugar que
ainda valoriza objetos e ações
que norteavam as antigas inte-
rações sociais é o Museu dos
Brinquedos. Situado em Belo
Horizonte (Avenida Afonso
Pena, 2564 - Funcionários), o
espaço possui acervo com apro-
ximadamente sete mil brinque-
dos, entre bonecas, carrinhos,
bolas, peças didáticas e outros
objetos. Segundo a educadora
Nayara Aline de Souza, o foco
do Museu é o resgate das brin-
cadeiras. O local recebe visitas
individuais e de grupos escola-
res. Os pais levam os filhos para
ver os brinquedos com os quais
brincavam na infância.
A visita é dividida em três
momentos. O primeiro deles é a
apresentação do acervo. Em
seguida, os visitantes participam
de oficinas de criação de brin-
quedos, produzidos com mate-
riais de baixo custo ou reciclá-
veis. Depois, é a hora do resgate
de brincadeiras antigas. Adultos
podem relembrá-las e muitas
crianças têm a oportunidade de
conhecê-las pela primeira vez.
“O principal do Museu, que a
gente sempre gosta de abordar, é
a oportunidade de os pais esta-
rem brincando com os filhos”,
ressalta Nayara.
Não podemos negar que a
chegada das novas tecnologias
tem ajudado as crianças, por
exemplo, nos trabalhos da
escola e no processo de apren-
dizagem. Mas, se usada de
forma errada, ela também
pode ser uma arma de desso-
cialização, como
dizem os especia-
listas, uma vez
que isso provoca
o distancia-
mento entre as
pessoas.
Pessoas de classe alta sempre
tiveram acesso às tecnologias pri-
meiro. Hoje, no entanto, o quadro
parece ter mudado, pois é difícil
encontrar alguém que não tenha um
celular. E as crianças não ficam de
fora da lista de “atualizados”. Se há
alguns anos alguém ganhava um
computador de presente no aniver-
sário de 15 anos, agora uma criança
ganha um tablet antes de completar
um terço dessa idade.
Muitos pensam que não há pro-
blemas nisso. Afinal, o mundo está
em constante evolução e as crianças
precisam acompanhar a tendência.
Mas não é bem assim.
Segundo o sociólogo e professor
Rudá Ricci, há uma profunda con-
trovérsia no meio acadêmico a res-
peito do impacto das novas tecnolo-
gias. Segundo ele, as crianças pos-
suem, até os oito anos de idade, uma
visão de mundo denominada paraló-
gica, que cria uma experiência fan-
tasiosa, uma projeção. Sem ela, não
é possível desenvolver a capacidade
artística, da poesia, do teatro e,
inclusive, da representação social
(da autoridade, por exemplo). As
crianças mergulhadas no mundo
matemático e binário das novas tec-
nologias tornam-se ansiosas, imedia-
tistas e profundamente racionais,
atrofiando as outras dimensões da
inteligência e vivência humanas.
Na opinião do professor, as redes
sociais, por exemplo, formam comu-
nidades fechadas de adolescentes e
juvenis. Essa dinâmica gera o que os
ingleses denominam, hoje, de comu-
nidades de “pares de idade”, as quais
definem comportamentos, valores,
hábitos e, até mesmo, linguagem.
isso resulta na diminuição do tempo
de convívio familiar, verificado nos
últimos anos nos grandes centros
urbanos. “Passar horas na frente do
computador gera uma espécie de
“autismo social”, em que só há espa-
ço para sua pequena comunidade
virtual (ou até menos, quando todo o
espaço é tomado pelos jogos virtu-
ais)”, explica o sociólogo: “A intera-
ção é o processo básico de socializa-
ção”, frisa.
Crianças precisam interagir com
outras não apenas porque tal conví-
vio possibilita o desenvolvimento da
inteligência, mas também porque,
ao se relacionarem, são aprendidas
regras para a vida em sociedade.
É importante deixar um pouco
de lado o celular, o computador e o
vídeo game, e buscar brincadeiras
que requerem mais movimento e
brinquedos manuais.
Para Daniela, as crianças preci-
sam desenvolver coordenação moto-
ra, tanto geral como fina. Atividades
físicas e brincadeiras ao ar livre são
algumas das possibilidades de desen-
volvimento, como equilíbrio, força e
noção de esquema corporal. Os tra-
balhos manuais, por sua vez, contri-
buem para o desenvolvimento da
coordenação motora fina, essencial
para a escrita.
lev Vygotsky, psicólogo russo
com várias publicações acerca do
desenvolvimento humano e da
educação, observou que as brinca-
deiras são exercícios que anteci-
pam as experiências adultas. Para
explicar a ideia de Vygotsky, Rudá
diz que brincar com a miniatura de
um veículo, por exemplo, projeta a
criança para dentro do carro real.
“Quantos de nós não “lutou até a
morte” com um exército imaginá-
rio ou “andou na corda bamba”
para atravessar um desfiladeiro”,
pergunta. “todos esses exercícios
ficcionais nos colocam numa reali-
dade projetada em algo próximo da
teleologia (estudo filosófico dos
fins, isto é, do propósito, objetivo
ou finalidade da humanidade)”.
interação socialainda há esperança
Revista ÁgoRa
pessoas.pessoas.
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não é para proteger “bandido”!
Por que existe a concepção de que os Direitos Humanos
foram criados apenas para defender criminosos?
SOCIEDADE
Por João Vitor Cirilo, João Paulo Freitas e
Felipe Freitas
Rocinha, Capão Redondo,
Pavão-pavãozinho, Carandiru,
Complexo do Alemão, Guarujá, o
Ônibus 174, Realengo. Eloá Cristina
Pimentel, Fabiane Maria de Jesus, o
menino João Hélio Fernandes,
Amarildo Dias de Souza e DG.
O que todos esses locais e pesso-
as têm em comum? Todos eles foram
“palco” ou vítimas de violência.
Segundo reportagem divulgada
pelo jornal O Globo, o Brasil regis-
trou, em 2012, o maior número
absoluto de assassinatos da história,
é o que revela a nova versão do
Mapa da Violência. Nada menos do
que 56.337 pessoas foram mortas
naquele ano, num acréscimo de
7,9% frente a 2011. É a taxa mais
alta de homicídios desde 1980, a
qual leva em conta o crescimento
da população, que também aumen-
tou 7%, totalizando 29 vítimas fatais
para cada 100 mil habitantes.
O levantamento, ainda de acor-
do com o jornal, foi baseado no
Sistema de Informações de
Mortalidade (SIM), do Ministério
da Saúde, que tem como fonte os
atestados de óbito emitidos em
todo o país. O sociólogo Júlio
Jacobo Waiselfisz é o autor do
Mapa. As taxas são 50 a 100 vezes
maiores do que a de países como o
Japão. E isso marca o quanto ainda
é preciso percorrer para chegar a
uma taxa minimamente civilizada,
argumenta o sociólogo em entre-
vista para o periódico.
As estatísticas referentes a
homicídios em 2012, portanto, são
recordes dentro da série histórica
do SIM.
Mas quem são os personagens
desses números? Certamente não
são a elite brasileira. Mesmo com a
atuação de entidades defensora
dos Direitos Humanos, para se ter
uma ideia, a cada 100 mil negros,
36 morrem. Quando comparamos
com as pessoas não consideradas
negras, esse número cai para
menos da metade, 15,2. Os dados
são de um estudo do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea), baseado em números do
Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).
Então, para que servem os
Direitos Humanos?
Certamente, não foram cria-
dos para defender bandidos.
Entretanto, essa é uma ideia
altamente disseminada em
nossa sociedade, onde a violên-
cia, infelizmente, já se tornou
algo comum.
Cansada de ver a impunida-
de imperar, a população se
revolta cada vez mais. Capitão
Nascimento, personagem do
ator Wagner Moura no filme
“Tropa de Elite”, soltou uma de
suas pérolas relacionada ao
assunto. “Só que tem muito
intelectualzinho de esquerda
que ganha a vida defendendo
vagabundo com papo de Direitos
Humanos”. Bom! Não é por aí.
Para William Santos, presi-
dente da Comissão de Direitos
Humanos da Ordem dos
Advogados do Brasil em Minas
Gerais (OAB-MG), “a questão
dos Direitos Humanos é muito
mais universal. Em nosso
país, por exemplo, é uma
questão nova, só existe de
1988 pra cá. Muitas coisas
precisam avançar”.
Para Santos, a justificativa
para a justiça com as próprias
mãos é a impunidade. “Isso
leva as pessoas a crerem que
outros têm muito mais direitos
do que os cidadãos comuns. Na
verdade, é uma fala distorcida,
preconceituosa. Quem não pre-
cisa de Direitos Humanos é que
fala isso”, observa.
Maria do Rosário de Oliveira,
advogada do Centro Nacional
de Defesa dos Direitos
Humanos da População em
Situação de Rua e Catadores de
Material Reciclável, também
lamenta a opinião preconceitu-
osa das pessoas. “É preocupan-
te. Isso revela um total desco-
nhecimento acerca do tema e
uma demanda necessária e
urgente a ser trabalhada nas
escolas e em todos os espaços
de formação, na mídia, que é
formadora de opinião. Mudar
essa visão é uma responsabili-
dade do Estado”, frisa.
Questão mais ampla
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Declaração universal
dos Direitos
humanos
Proclamada e adotada pela reso-
lução 217 A, pela Assembleia Geral
das Nações unidas, em 10 de
Dezembro de 1948, nela, todos os
membros da família têm direitos
iguais e inalienáveis. Fundamenta-
se na liberdade, justiça e paz no
mundo. Seu principal objetivo é
promover o respeito através do ensi-
no e da educação.
Além disso, segundo a
Declaração, todas as pessoas nas-
cem livres e iguais em dignidade e
direitos. Elas devem agir com
honestidade perante seus seme-
lhantes. E não existe distinção de
cor, sexo, raça, língua, religião, opi-
nião política ou classe social. todos
são iguais, mantendo assim seu
contexto de liberdade igualitária.
Apesar de os Direitos Humanos
existirem há pelo menos 65 anos,
no Brasil ainda é novo. No entanto,
seus preceitos são uma questão uni-
versal e têm relação com nossa
última Constituição, em vigor desde
1988. “Aqueles dispositivos conti-
dos no artigo 5º da Constituição,
dos Direitos e Garantias individuais
e Coletivos, são uma cópia dos 30
artigos da Declaração universal dos
Direitos Humanos, elaborada pela
ONu”, segundo o presidente da
Comissão de Direitos Humanos da
OAB-MG, Wiliam Santos.
“O Brasil é signatário desde
1948 e de diversos tratados e con-
venções acerca do tema. A atual
Constituição materializou o assun-
to, sobretudo nos seus artigos 5º e
6º. Quando pensamos nesses
direitos, pensamos nos elementa-
res e fundamentais, como: mora-
dia, saúde, educação, lazer, traba-
lho, liberdade de ir e vir, garantia
da integridade física... Sem esque-
cer que o respeito à dignidade da
pessoa humana é fundamento da
república Federativa do Brasil,
assegurado em seu artigo 1º”,
observa a advogada Maria do
Rosário de Oliveira.
Mas há aqueles que acham
que Direitos Humanos é para
proteger criminosos, e os argu-
mentos para isso são muitos.
As redes sociais, por exemplo,
constituem um dos principais
territórios de difamação das
leis de proteção às pessoas.
revolta
Estamos falando de uma
das maiores discussões atuais
da sociedade brasileira: deve-se
ou não reduzir a maioridade
penal para 16 anos? Seria essa
uma solução? Quando pergun-
tamos a especialistas e pessoas
envolvidas na área, a resposta é
sempre negativa:
— As cadeias não são sím-
bolo de recuperação e dignifi-
cação de infratores, mas, sim,
escolas do crime, onde seres
humanos são expostos a situa-
ções degradantes e insalubres.
Desta forma, colocar jovens
num sistema prisional falido
seria apenas qualificar novos
adultos na prática de crimes,
opina a advogada Joyce Ferreira
de Freitas.
— Se resolvesse, seria a sal-
vação do Brasil. Mas pensemos
em um exemplo: um menor de
16 anos que rouba uma bala, e
um outro que comete latrocínio
(roubo seguido de morte), terão
pela justiça o mesmo tratamen-
to. isso é ilegal, imoral, uma
injustiça”, posiciona-se Santos.
Santos explica que um dos
problemas na questão da
maioridade penal no Brasil é a
utilização dos menores de
idade como uma espécie de
“escudo” para os mais velhos.
“Na verdade, quem está por
trás disso são maiores de
idade, que utilizam os meno-
res para puxarem para si a
culpa de crimes para ficarem
isentos, pegando pena menor.
Não acredito que somente o
endurecimento da lei vá apa-
ziguar ou pacificar a socieda-
de”, observa.
maioridade penal
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também é dever do Estado
amparar as pessoas que vivem nas
ruas, conforme explica a advogada
Maria do Rosário de Oliveira. “O
Brasil hoje conta com uma política
nacional para a população em situ-
ação de rua, regulamentada pelo
Decreto Federal número 7.053, de
2009. Ela traz diretrizes gerais a
serem observadas pelos Estados e
Municípios e vem na linha de
assegurar a dignidade dessas pes-
soas, combater as violências come-
tidas contra elas e garantir o aces-
so às Políticas Públicas, sobretudo
as essenciais e de emergência,
como moradia, saúde, proteção,
educação e alimentação”.
uma pesquisa realizada pelo
Ministério do Desenvolvimento
Social em 71 municípios do Brasil,
incluindo capitais e cidades com
mais de 300 mil habitantes, evi-
denciou a presença de quase 32
mil pessoas adultas em situação de
rua, deixando de fora cidades como
Belo Horizonte, São Paulo, Porto
Alegre e Recife. “Como pode-se
perceber, as pesquisas sobre a con-
tabilização da população em situa-
ção de rua ainda possuem fragili-
dades (pelos recortes realizados) e
são realizadas de maneira frag-
mentada. Elas indicam a impor-
tância da contabilização desse
grupo populacional”, avalia a advo-
Aqueles que cometem gran-
des crimes, cujas penas podem
ultrapassar a pena máxima,
merecem ou não pagar da forma
mais dura possível?
Apesar de ser um desejo de
parte da população, como um
espelho da revolta existente na
atualidade, a pena de morte não
é possível do ponto de vista legal,
segundoosespecialistas.Existem
artigos na Constituição Federal
que impedem a execução até de
emendas constitucionais, ou
seja, não podem ser alteradas:
são as chamadas Cláusulas
Pétreas. Exemplos são as ques-
tões de soberania, democracia e
direito à vida, esta última encon-
trada no art. 5º.
Segundo Santos, isso não
solucionaria o problema. “É um
princípio que não pode nem ser
passível de emenda e não vai
resolver o problema da criminali-
dade. Até porque, se acontecer, o
mais prejudicado será aquele que
sempre ficou à margem da lei,
aquele que nunca teve direito a
uma defesa decente”, analisa.
É importante lembrar que o
Brasil já adotou a pena de morte,
como no caso de tiradentes,
enforcado em 1792. “Não é um
processo que trará benefício,
porque só pobre e preto vão mor-
rer, pode ter certeza”, reforça
Santos, caso o país adotasse
medidas como essa.
pena de morte
moradores de rua
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“tinha BeBiDo um pouco e Bati”...
O drama de quem já sofreu acidente de trânsito. Para aqueles
que conseguiram sobreviver, os traumas causam impactos psicológicos
e até na vida social. E as leis criadas para conter os
desastres automobilísticos parecem inócuas
trÂNsito
Por ana luiza gonçalves, ana Paula
Moreira e João Marcelo Drumond
As estradas de Minas Gerais há
tempos preocupam motoristas de
todo o país que por elas precisam
trafegar. Frequentemente são noti-
ciados acidentes, e, muitos deles,
quando não acontecem mortes,
provocam sequelas graves nas víti-
mas. A BR-381, por exemplo, é
considerada uma das vias com
maior ocorrência de acidentes no
Brasil, segundo as autoridades de
trânsito. Em 2011, por exemplo, as
colisões frontais e transversais
somaram 70 das 115 vítimas regis-
tradas nas estradas, conforme
levantamento realizado pelo
Departamento Nacional de
infraestrutura de transportes
(Dnit), garantindo ao trecho entre
Belo Horizonte e João Monlevade,
portanto, o simpático apelido de
“Rodovia da Morte”.
Segundo pesquisas realizadas
pelo Mapa da Violência, do Centro
Brasileiro de Estudos latino-
Americanos, no Brasil as principais
causas de acidentes relacionam-se
à mistura de álcool e volante, e o
excesso de velocidade. Ainda,
segundo o Mapa, os casos vêm
aumentando nos últimos anos e a
inércia das autoridades fragiliza
cada vez mais o sistema de trânsito
no país.
As iniciativas dos governantes,
conforme a Socióloga Miriam de
Alcântara, são ineficientes e pouco
contribuem com a diminuição dos
acidentes. “Fazer algo para a
melhoria do trânsito é algo bem
caro e traz ‘prejuízos’ políticos para
os interesses individuais dos pode-
rosos. O estado não faz nada e a
população está cada vez mais alie-
nada diante da situação”, critica.
A executiva luciana Bastos
conhece bem o que é sofrer um
acidente grave: “Eu era recepcio-
nista e, no retorno para casa, dormi
no volante. tinha bebido um pouco
e bati no ônibus”, confessa. Somado
a isso, ela lamenta a questão do
socorro no momento da batida.
— O grande problema do aci-
dente foi que o motorista, por mais
que não estivesse errado, deveria
ter parado para me socorrer, e isso
não aconteceu”.
Segundo a psicóloga e professo-
ra Sylvia Flores, o acidente, além
de afetar o estado físico do indiví-
duo, pode alterar o quadro psicoló-
gico da pessoa, provocando uma
série de consequências na vida
social. Ela observa que os aciden-
tes estão para além de qualquer
tipo de violência física ao indiví-
duo. “Os traumas físicos são evi-
dentes e podem, sim, ser para a
vida toda. Mas o trauma psicológi-
co afeta diretamente a vida da pes-
soa em sociedade, sua socialização
e adaptação ficam comprometi-
das”.
Ainda, segundo a psicóloga, “o
problema começa na educação das
pessoas ou na falta dela, não pode-
mos fazer do jeito que queremos no
trânsito. Políticas públicas podem
produzir conscientização desde a
infância”, analisa.
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críticas
A maioria das críticas das víti-
mas é direcionada ao governo,
responsável pela manutenção,
equilíbrio e funcionamento das
estradas. O advogado leandro
Augusto Deodato sofreu um aci-
dente na marginal do Anel
Rodoviário, em Belo Horizonte,
quando, em uma descida, não
conseguiu parar, e bateu em um
outro veículo. “Foi um grande
susto. Só percebemos que a situa-
ção era crítica quando ela, de fato,
aconteceu com a gente”, lembra.
Para o advogado, a qualificação
dos motoristas e a manutenção das
pistas devem ser medidas imediatas.
Em 2000 entrou em vigor o
Novo Código Brasileiro de
trânsito, obrigando, por exemplo,
o uso do cinto de segurança, apa-
rato até então não utilizado pelos
motoristas. Agora, existe a famosa
lei Seca (11.705), medida das
autoridades para evitar o número
de acidentes devido ao consumo
de álcool. Mas parece que não
está sendo o suficiente. isso por-
que a situação é de âmbito social,
conforme as vítimas.
Érica uba sofreu a violência
do trânsito e compartilha o drama
vivido, após acidente autobílistico
no Anel Rodoviario, em 2004.
Segundo ela, uma carreta com
mais de 25 toneladas de minério
de ferro estava desgovernada e
colidiu com seu automovel e em
mais 11 veículos, em um mons-
truoso engavetamento. Ela foi
arremessada contra o carro da
frente e a mureta que divide as
pistas, lembra emocionada a
cena.
— Meu carro subiu à mureta,
percorreu cerca de 100m, derrubou
dois postes e capotou na contra-
mão, parando de cabeça pra baixo.
Por quase dois meses, a vítima
conviveu com o pavor do cheiro
de combustível; além disso, por
muito tempo, ela teve pânico de
parar em semáforos ou qualquer
situação em que possa ocasionar
uma batida traseira. Com o passar
do tempo, o medo foi reduzido,
contudo, diante de qualquer con-
gestionamento, Érica fica apreen-
siva. Então, evita ser o ultimo
carro. “O Brasil inteiro precisa
dessa concientizção. temo pelo
trânsito de todo o país, viajo muito
a trabalho e, infelizmente, as pes-
soas se comportam como se esti-
vessem competindo”.
Érica ressalta ainda que o Anel
Rodoviário é um trecho bastante
perigoso, pois as carretas e cami-
nhões simplesmente ignoram a
presença dos veículos menores, e
afirma ser uma grande defensora
do transporte ferroviário.
Érica fez algumas seções com
um psicólogo com o objetivo de
voltar a dirigir normalmente, já
que trabalha como representante
comercial e necessita dirigir para
trabalhar. As seções ajudaram a
externar o medo.
A representante comercial
acredita que a diminuição de veí-
culos de carga seria um grande
avanço, para diminuir os índices
de acidentes; além disso, para ela,
é preciso novas estradas e siste-
mas mais eficientes de controle
de velocidade.
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ElE nãO é
O CulPaDO
O cão é apenas um hospedeiro da leishmaniose: entretanto, é o mais injustiçado.
Mesmo que todos fossem extintos, o problema continuaria existindo...
saÚde
Apesar de existir há mais de um
século, a leishmaniose ainda é pouco
conhecida e assustadora. A doença
atinge não só os cães, mas também os
seres humanos e assusta, muito divi-
do à falta de informação. O que mui-
tas pessoas não sabem é que ela não
é contagiosa e, sim, infecciosa. Além
disso, um cão que possui o parasita,
mas não apresenta sintomas clínicos,
não é um animal doente, é apenas
um portador do protozoário.
O Brasil, juntamente com a
Espanha, possui os melhores profis-
sionais em relação a estudos sobre a
doença, prevenção e tratamento.
Apesar disso, é o único país que usa a
política da eliminação do hospedeiro,
não a do transmissor.
A fim de encontrar animais conta-
minados, os centros de zoonoses rea-
lizam visitas para fazer testes de san-
gue, os quais detectam apenas se o
animal é portador do protozoário ou
não. Em casos positivos, o governo
incentiva os proprietários a encami-
nharem os animais para a eutanásia,
ao invés de estimular o tratamento.
Em países desenvolvidos, é proibido,
por lei, a eutanásia, como forma de
controle da epidemia.
Belo Horizonte é a capital com
maior índice de mortalidade em
função da doença. Ela chega a 12%,
enquanto a média nacional é de
6%. Em função disso, pesquisado-
res da universidade Federal de
Minas Gerais (uFMG) estão cami-
nhando para desenvolver uma vaci-
na contra a leishmaniose, para o
homem. A previsão é de que até
2015 os testes já estejam concluídos
e, futuramente, a vacina poderá
circular no mercado.
TRanSMiSSãO
Ocorre por meio da picada de
insetos hematófagos — aqueles que
se alimentam de sangue — conheci-
dos como flebótomos.
Os parasitas vivem e se multipli-
cam no interior das células que fazem
parte do sistema de defesa do indiví-
duo, chamadas macrófagos. Os
nomes dos insetos transmissores
variam de acordo com a região, e os
mais populares são: mosquito palha,
birigui, cangalhinha e palhinha.
Hoje já existem mais de vinte
espécies de parasitas. Além dos cães,
a enfermidade ataca animais silves-
tres e urbanos; entretanto, é impres-
cindível ter consciência de que eles
não transmitem a doença. A contami-
nação ocorre apenas pela picada do
inseto que estiver infectado.
A leishmaniose também pode
atacar os humanos. Nesse caso, a
contaminação e a transmissão se
assemelham à dos animal, pois
ambas só acontecem através da
picada do mosquito. Ela pode se
desenvolver de duas formas: a pri-
meira é a leishmaniose tegumentar
que caracteriza-se por feridas na
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pele, localizadas na maioria das
vezes nas partes descobertas do
corpo. tardiamente, podem surgir
feridas nas mucosas do nariz, na
boca e na garganta. Essa forma de
leishmaniose é conhecida como
“ferida brava”. A outra é a leishma-
niose visceral, uma doença sistêmi-
ca, pois acomete vários órgãos inter-
nos, principalmente o fígado, o baço
e a medula óssea, mas também
pode atacar a pele, que é a maior
víscera do corpo. Esse tipo acomete
principalmente crianças de até dez
anos. Após essa idade torna-se
menos frequente. Ela é uma doença
de evolução longa, podendo durar
alguns meses ou até ultrapassar o
período de um ano.
Vale lembrar mais uma vez que
leishmaniose não é contagiosa e
que só a contrai quem for picado
pelo transmissor.
“Quando recebi o resultado do
exame da minha Nina, fiquei deses-
perada e só pensava como isso acon-
teceu se ela estava tão saudável e sem
nada que apontasse estar doente”,
conta a cabeleireira e maquiadora
ivana luzia Fernandes. Muitas vezes
a doença passa sem ser percebida,
pelo fato de os sinais serem assinto-
máticos em 60% dos casos. Já em
outros casos, eles só começam a apa-
recer quando a leishmaniose já está
avançada. Quando existe sintomas,
os mais comuns são feridas em torno
do focinho e da orelha, unhas cres-
cendo em excesso, perda de apetite
e queda dos pelos. Além disso, o
animal pode apresentar secreção nos
olhos, emagrecimento, fraqueza e
desânimo. É importantíssimo acen-
tuar que um animal pode apresentar
um desses sintomas, mas não estar
doente.
inevitavelmente, ao receber o
resultado positivo pela zoonose, a
primeira reação é um choque por
parte da família, e a atitude ime-
diata vai depender do valor que o
cão tem para ela. Posteriormente,
serão analisados outros fatores
como a vontade do dono de tratar
ou não, o estado físico em que o
animal e seus donos se encontram
e, principalmente, se os mesmos
possuem o conhecimento do trata-
mento, porque se depender dos
órgãos públicos responsáveis, o
animal é imediatamente levado
para ser sacrificado.
“Nossa rotina em casa segue a
mesma. Muito amor e brincadeiras.
Não sinto medo dela, só sentiria a
pior das criaturas se não tentasse
fazer nada por ela, e a entregasse à
própria sorte”, diz ivana. Entretanto,
a condição financeira é quem pode-
rá definir o que será feito futura-
mente. Segundo o médico veteri-
nário Marcelo Jácome, dificilmen-
te se pode estimar um valor exato
para o tratamento, pois cada caso é
um caso. Os custos vão depender
muito da saúde, peso e idade do
animal, e se outras infecções se
fazem presentes.
A aposentada Maria das Graças
Amaro da Fonseca possui três cães.
um deles é a Belinha, de sete
anos, que há um ano e meio vive
com a leishmaniose. Segundo dona
Maria, seu dia-a-dia nunca deixou
de ser normal. O que mudou foi a
frequência das idas ao veterinário.
Agora é no mínimo mensal. Ela
conta, ainda, que o preço dos medi-
camentos não fugiram do seu orça-
mento, e que ela paga por cada
remédio cerca de R$ 30,00.
“um fator grave e que acontece
muito, é o fato de o exame ser só
uma triagem e mostrar se o animal
teve contato com o protozoário ou
não, havendo, assim, falsos positi-
vos em grandes números”, relata o
veterinário. Para resultados mais
precisos, segundo ele, é necessário
um acompanhamento dos animais
para a confirmação do diagnóstico.
Vale frisar que existe um trata-
mento com medicações veteriná-
rias de uso oral, e hoje no mercado
há uma vacina que garante 98% de
proteção, por isso ela é muito reco-
mendada. Entretanto, não há dis-
tribuição gratuita pelo Ministério
da Saúde e o preço atual gira em
torno de R$ 95,00 por dose, sendo
que são necessárias três.
Associadas à vacina é aconselhável
utilizar outras formas de preven-
ção, sendo uma das principais a
coleira repelente para combater o
inseto vetor.
“Hoje estamos bem, amanhã só
Deus sabe. Sei dos meus deveres,
mas conheço também meus direi-
tos. temos, por lei, direito garanti-
do de tratar nossos amados e que-
ridos cães. Nunca abandone seu
amigo nesta hora”, desabafa ivana.
“Quando recebi o
resultado do exame
da minha Nina,
fiquei desesperada e
só pensava como
isso aconteceu se ela
estava tão saudável
e sem nada que
apontasse estar
doente”
Fotos arquivos pessoais
Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
PÁgiNa 34
ExPRESSãO E SEnSibiliDaDE
nO OlhaR
Além da técnica e da
tecnologia utilizadas
atualmente, a
fotografia também é
considerada uma
arte. É por meio
dela que momentos
únicos podem ser
eternizados no
tempo
Cultura
Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
PÁGINA 35
Por Camila Chagas, Jéssica Rayanne e
Raquel Durães
As cenas captadas no momento
ideal faz toda diferença para as foto-
grafias. Isso porque elas trazem à
tona lembranças de um tempo que
não volta mais. A saudade de épo-
cas passadas, das pessoas que parti-
ram e de tantos outros momentos
inesquecíveis são algo presentifica-
do nelas. Mais do que uma simples
imagem fixada no papel, o que
parece importar mais na fotografia
é o sentimento que ela desperta em
quem as vê.
Por meio das lentes das câmeras
da máquina junto à sensibilidade do
olhar de um fotógrafo, a fotografia
permite a captação de imagens his-
tóricas que, como diz o velho ditado
popular, valem mais que mil pala-
vras. Mesmo sem conhecer o con-
texto social que as cercam, o fato é
que podemos sentir todo o seu
conteúdo expressivo. Sim! Sentir.
“A Menina Afegã” de Steve McCurry,
por exemplo, fotografada em 1984,
pode ser considerada uma das mais
belas e expressivas da história.
Imagens emblemáticas
Além da foto de McCurry, outras
imagens também estão no topo das
que retratam fortes sentimentos e
realidades sociais. Independente da
época em que foram feitas, as foto-
grafias sempre causam impacto em
que as vê. Fotógrafa e jornalista,
Januária Vargas ressalta as emoções
que as imagens podem passar.
— Essas fotos carregam múlti-
plos sentimentos e não foi por acaso
que foram premiadas e destacadas
no mundo. Mesmo sendo fotogra-
fias antigas, elas nunca foram
esquecidas, pois marcaram um
período que significou muito para a
história da humanidade, da vivên-
cia dos retratados ou de um povo
específico.
Já para Tibério França, estudio-
so e crítico de fotografia, é preciso
destacar ainda mais a atemporali-
dade dessa forma artística.
— A fotografia é uma linguagem
universal e atemporal. A dignidade
humana é algo que percebemos, ou
não, nas imagens, independente do
período em que foi feita, ou em
alguns casos, exatamente por isso.
Sendo assim, as fotos merecem
ser analisadas e contempladas de
forma profunda e com olhar crítico,
pois expressam os extremos, em
todos os sentidos.
Guto Muniz, fotógrafo e profes-
sor do Centro Universitário Newton
Paiva, explica:
— De formas distintas, elas são
muito fortes. As fotografias têm
impactos diferentes, mas todas têm
uma carga emocional intensa. As
imagens ainda causam diversas
reflexões, porque as histórias se
repetem. A guerra do Vietnã, por
exemplo, passou, mas as guerras
permanecem, As crianças continu-
am sofrendo do mesmo jeito. Todos
os momentos continuam da mesma
forma.
Sharbat Gula foi fotografada
aos doze anos pelo fotógrafo
Steve McCurry, em junho de
1984, no acampamento de refu-
giados Nasir Bagh, no Paquistão,
durante a guerra contra a inva-
são soviética. Sua imagem foi
publicada na capa da National
Geographic em junho de 1985 e,
devido à expressividade de seu
rosto e dos belos olhos verdes
carregados de medo, a capa se
transformou numa das mais
famosas da revista e do mundo.
Guto reconhece que essa é uma
fotografia que mais lhe chama
atenção.
— A expressividade do olhar
da garota é muito impactante.
Parece que ela conta toda sua
história de vida e submissão só
com o olhar. A impressão é que
ela finalmente mostrou o rosto
para revelar isso para as pesso-
as. Como falam os olhos dessa
menina!
Durante 17 anos, Steve
McCurry realizou uma busca
pela garota e, em janeiro de
2002, achou a menina e pôde
saber seu nome. Já uma mulher
de 30 anos, Sharbat Gula vive
numa aldeia distante do
Afeganistão. É uma mulher tra-
dicional pastún, casada e mãe de
três filhos.
Reflexos da alma
“A expressividade
do olhar da garota
é muito
impactante. Parece
que ela conta toda
sua história de
vida e submissão
só com o olhar”
Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
PÁGINA 36
A Menina do Vietnã
Em 8 de junho de 1972, um
avião norte-americano bombar-
deou a população de Trang Bang
com napalm, produto inflamável
à base de gasolina gelificada. No
local estava a pequena Kim Phuc
e sua família. Com as roupas em
chamas, a menina de nove anos
corria em meio ao povo desespe-
rada e, no momento em que suas
roupas haviam sido consumidas,
o fotógrafo Nic Ut registrou a
imagem. Ela ajudou ao mundo a
conhecer os horrores da guerra
no país asiático. E há quem diga
que ela ajudou também a pôr fim
no conflito tempos depois.
— Essa foto retrata o desespe-
ro, a tristeza e o desamparo das
crianças fugindo do bombardeio.
Sempre penso nelas sendo fruto
de algo criado pelos adultos (a
guerra), e no sofrimento no qual
elas levarão para a vida toda”,
observa Januária.
Após fotografá-la, Nic a levou a
um hospital, onde a garota ficou
internada durante 14 meses, sendo
submetida a 17 cirurgias de enxerto
de pele. Atualmente, Kim Phuc está
casada, com dois filhos e reside no
Canadá, onde preside a Fundação
Kim Phuc, dedicada a ajudar crian-
ças vítimas da guerra. Além disso,
também se tornou embaixadora da
UNESCO.
“Essa foto retrata
o desespero, a
tristeza e o
desamparo das
crianças fugindo
do bombardeio.
Sempre penso
nelas sendo fruto
de algo criado
pelos adultos
(a guerra), e no
sofrimento no
qual elas levarão
para a vida toda”
Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
PÁGINA 37
Um dos mais recentes trabalhos
e, provavelmente, um dos mais dis-
cutidos são as fotografias de Tuca
Vieira. A famosa foto da “Favela de
Paraisópolis” é, talvez, o registro
mais claro e preciso do contraste
social de algumas cidades do
Brasil. A foto foi feita há cerca de
dez anos para a Folha de São Paulo
e levou grande fama. Apesar disso,
em relatos no seu site pessoal, o
autor da imagem fala como se sen-
tiu menosprezado.
— Recentemente, encontrei
uma foto minha no Facebook, sem
nenhuma menção à autoria, mas
com centenas de comentários.
Ninguém ali se perguntava quem
fez a foto. [...] Ela foi feita há
cerca de dez anos e até hoje rece-
bo pedidos do mundo inteiro para
reproduzi-la em livros, revistas e
material didático. Devo muito a
ela. Projetou meu trabalho, me
deu prêmios, me levou a exposi-
ções aqui e no exterior. Mas o fato
é que a imagem me fugiu do con-
trole. Em 2007, ela foi mostrada
na Tate Modern, em Londres, em
uma exposição chamada Cidades
Globais. Era o cartaz, o convite, o
folder, o cartão-postal e até o cra-
chá da exposição, que incluía
gente como o fotógrafo alemão
Andreas Gursky. Foi quando per-
cebi que olhavam para essa foto
como se não houvesse um autor. A
foto era importante, mas eu não.
Comecei a ser apresentado como
‘Tuca, the guy who took that pic-
ture’. Não pensem que é fácil tirar
uma foto como essa. Ela faz parte
de uma série de fotos que fiz
nessa época sobre São Paulo, e
não é fruto do acaso. [...] Às vezes
essa foto me enche o saco. Tenho
projetos novos para mostrar, mas
a cena de Paraisópolis com frequ-
ência ofusca outros trabalhos.
Será que tudo mais que eu fizer
nunca vai ter a importância dessa
única foto?”, escreve em carta.
Favela de Paraisópolis “Às vezes essa
foto me enche o
saco. Tenho
projetos novos
para mostrar,
mas a cena de
Paraisópolis
com frequência
ofusca outros
trabalhos. Será
que tudo mais
que eu fizer
nunca vai ter a
importância
dessa única
foto?”
Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
PÁGINA 38
Em 1994, o fotógrafo Sudanês
Kevin Carter venceu o Prêmio
Pulitzer de fotojornalismo com
uma foto tomada na região de
Ayod (aldeia em Suam), que via-
jou o mundo inteiro. A figura
esquelética de uma pequena garo-
ta, totalmente desnutrida, recos-
tando-se sobre a terra, sendo
vigiada por uma criatura de bicos
pontudos, um abutre, à espera da
morte. Esta foi uma das fotografia
mais polêmicas da história, pois
mostrou um dilema constante de
muitos fotógrafos. Fazer a foto ou
ajudar a criança?
Januária explica o sentimento
que muitos profissionais da área
enfrentam diariamente:
— Nessas horas pensamos
como a profissão de fotógrafo é
dolorosa, por ter que retratar
momentos tão tristes. E, às vezes,
nos sentimos culpados por regis-
trar a cena, ao invés de ajudar as
pessoas que precisam. Pelo que já
li sobre o autor da foto, Kevin
Carter, ele cometeu suicídio.
A discussão em torno da foto foi
tão longa e séria que, de fato, qua-
tro meses depois, tomado de culpa
e dependente de drogas, Kevin
Carter suicidou-se. Os prêmios
que Carter levou pela foto e o reco-
nhecimento do seu trabalho não
foram suficientes para aliviar o
peso em não ter ajudado a criança.
— Se estivesse no lugar dele,
faria a foto. Não tenho dúvida
nenhuma em relação a isso. Acho
que seria impossível não fotografar
e não aproveitar o momento para
mostrar a realidade. O que se faz
depois da foto é outra história.
Mas acredito que, naquela situa-
ção, eu só poderia tomar medidas
paliativas, mas a morte era algo
certo, afirma Guto.
Espreitando a morte“A profissão de
fotógrafo é
dolorosa, por ter
que retratar
momentos tão
tristes. E, às
vezes, nos
sentimos
culpados por
registrar a cena,
ao invés de
ajudar as pessoas
que precisam.
Pelo que já li
sobre o autor da
foto, Kevin Carter,
ele cometeu
suicídio”
Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
PÁGINA 39
Com o passar do tempo, os profis-
sionais e seus equipamentos fotográ-
ficos sofreram mudanças e, até hoje,
são submetidos a constantes avanços
tecnológicos. Mas, levando em conta
a afirmação de Tibério, “os meios
evoluem, mas a fotografia continua
sendo fotografia, senão vira vídeo, gif,
animação, computer graphics entre
outras modernidades”.
Devido à internet, muitas pessoas
saem da zona de conforto e buscam
seguir outras vertentes na fotografia,
sejam em cursos online, criando gru-
pos de estudos e conquistando dife-
rentes clientelas. Isso abre os hori-
zontes e amplia a área de conheci-
mento de cada um.
Entretanto, hoje em dia virou
moda qualquer pessoa se autono-
mear fotógrafo, apenas por ter equi-
pamento profissional. Mas, será que
no meio dessa multidão de fotógra-
fos existem aqueles que ainda tra-
balham com a sensibilidade do
olhar? “Com certeza podemos reco-
nhecer as pessoas que exercem a
profissão por amor, não somente
por dinheiro ou status. Algumas,
mesmo sem ter um bom equipa-
mento, conseguem fazer imagens
surpreendentes e repletas de senti-
mentos. E há pessoas com uma
megaestrutura que fazem fotos
superficiais”, afirma Januária.
Apesar de existirem fotógrafos e
‘fotógrafos’, Tibério também pontua a
importância de bons equipamentos.
“Fotografia trata de representação;
portanto, um bom fotógrafo é aquele
capaz de transmitir a mensagem do
evento naquele momento histórico, e
o equipamento pode ajudar, sendo
ele um iPhone ou uma Hasselblad,
depende de cada caso. O que faz um
bom fotógrafo é o uso que ele faz do
produto de seu trabalho, onde e
quando ele aparece”.
Fotógrafos e “fotógrafos”
“Devido à facilidade da manipulação, os aparelhos
parecem funcionar em função do homem. Devido à sua
complexidade, parece que o homem funciona em função
dos aparelhos. Na realidade, homem e aparelho se
coimplicam, e vão formar um amarrado de
funcionamento: a máquina funciona em função do
fotógrafo, se, e somente se, este funcionar em função
da máquina”. (Flusser, 1982)
Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
PÁgiNa 40
seriáticos, com muito orgulho
As séries norte-americanas evidenciam a potência da
indústria cinematográfica dos Estados Unidos; no Brasil,
elas conquistam cada vez mais telespectadores
Cultura
Por Daniel Reis, Pâmela Matos e
Shirlei Rossana
— Você viu o último episódio de
Game Of Thrones?
— Menina, nem te conto que o
David Clarke está vivo!
Essas são conversas típicas a res-
peito das séries, em rodas de amigos,
na escola ou no trabalho. Produtos
culturais com forte impacto social,
elas atingem públicos distintos no
mundo inteiro e, muitas vezes, refle-
tem a realidade política, social, eco-
nômica e ideológica das pessoas.
São mais de 140 produções na
ativa, sem contar as reprises.
Os aficionados, conhecidos como
seriáticos, evidencia o boom entre
pessoas, por mexer com a cabeça de
jovens e adultos, devido às tramas
bem elaboradas e personagens envol-
ventes. Em praticamente todos os
lugares há alguém comentando ou,
sem querer, soltando algum spoiler,
ou seja, revelações do enredo. São
inúmeras as páginas em redes sociais
dedicadas às séries e, constantemen-
te, os personagens viram assuntos
mais comentados no twitter.
FEbRE
As séries norte-americanas come-
çaram a fazer sucesso há várias déca-
das, graças a “SOS Malibu”, “Starsky
e Hutch”, “Dallas” entre outras.
Depois de uma aparente queda no
consumo desses produtos,
“Supernatural” parece ter impulsio-
nado novamente a trilha de sucesso
das produções de séries. Com a
estrondosa repercussão na mídia, a
narrativa dos irmãos caçadores de
demônios ganhou espaço no SBt.
Na Record, “CSi” coleciona fãs de
todas as idades, quebrando, inclusive,
paradigmas a respeito do que se pas-
sava no horário nobre da televisão
brasileira.
Mas por que assistir série virou
“febre” entre os brasileiros?
— Acho que o brasileiro sempre
foi muito ligado em televisão, e a
diversidade que as séries trouxeram
só fez aumentar essa paixão em ter
alguma história para acompanhar. É
maravilhoso comentar com o amigo o
episódio que acabou de assistir, expli-
ca a seriática Ana Souza.
— Existem muitas séries, para
todos os gostos, sempre tem um
assunto que vai agradar a algum
público. Elas também acompanham
o crescimento e a vida de muitas pes-
soas, passam a fazer parte de suas
rotinas e estão sempre nos tópicos de
conversa com os amigos, fazendo
com que a identificação seja muito
maior, observa Stephanie Alípio, tam-
bém apaixonada por séries.
 lost é a série de Tv mais assistida no
brasil.
 a série televisiva mais assistida de
todos os tempos foi baywatch, de acordo
com o livro dos recordes. Ela, que ficou
conhecida no brasil como S.O.S. Malibu, foi
ao ar entre os anos de 1989 e 2001 e, segun-
do o guinness, chegou a ser assistida por
cerca de 1,1 bilhão de pessoas por semana
em mais de 140 países. O único continente
para onde baywatch não foi transmitida foi
a antártida. Para quem não se lembra, esse
foi o seriado que imortalizou a atriz Pamela
anderson como a sexy salva-vidas C.J.
Parker. a série se passava nas praias da
Califórnia e teve 11 temporadas.
CuRiOSiDaDES
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Revista Ágora

  • 1. ágoraRevista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva aNo vii 1o seMestRe 2014 revista o mar De água Doce secou o nível da represa de três marias é um dos mais baixos da história, provocando mudanças profundas na vida das pessoas que moram na região
  • 2. Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014
  • 3. Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 editorial Por Dayane Cristina e Filipe Diniz O que é aprender jornalismo de revista? Basicamente, o processo passa primeiro por entender como funciona os textos dos magazines: a linguagem, os gêneros textuais e a tipologia. Depois, é interessante compreender as diferen- ças em relação ao jornal impresso, marcado pela periodici- dade diária, o modelo factual de abordagem da notícia e o modo menos subjetivo da narrativa jornalística. No artigo “Revistas: desafio pedagógico no ensino de Jornalismo”, de Marli dos Santos e Mônica Caprino, publi- cado na Revista Brasileira de Ensino de Jornalismo (Rebej), pode-se elencar características próprias que dife- renciam a linguagem das revistas em relação aos diários. Por exemplo: “títulos nominais (em contraposição ao esquema sujeito-verbo-predicado do jornal diário); possibi- lidade de uso de adjetivos e coloquialismos; presença de elementos narrativos e descritivos; ênfase aos personagens e falas com possibilidade de apresentação em forma de diálogos e travessões”. No entanto, dependendo da linha editorial, a norma culta poderá entrar em cena. Além disso, o texto de revista privilegia o conceito de tonalidade que, conforme Sérgio Vilas Boas, no livro “O Estilo Magazine”, é caracterizado pela dramaticidade, o humor, a ironia, o espetacular entre outros elementos composicionais empregados. Contudo, todos esses conceitos abordados não funcio- nariam, para nós, estudantes, sem uma base de aplicação; nesse caso, a produção de uma revista experimental, pro- duzida em laboratório. O ponto de partida para isso foi a escolha da linha edi- torial. No debate realizado com o professor, ficou decidida a produção de uma revista de variedades, para termos, entre outras possibilidades, a liberdade na definição dos temas a serem abordados. Corroborando então com os argumentos de Santos e Caprino, a etapa seguinte foi a orientação individual dos grupos de repórteres pelo professor, para a observação do fato e a captação de informação, por meio de entrevistas, a fim de se produzir a peça final, respeitando as editorias escolhidas: economia, cultura, internacional, sociedade, tecnologia, comportamento, saúde entre outras. Os detalhes abordados acima são alguns caminhos bási- cos para o fazer jornalístico, no que se refere às revistas. Portanto, aprender “Jornalismo de revista” é ter os ele- mentos conceituais necessários para aprofundar a notícia de uma maneira diferente das outras mídias. É dar outras percepções ao fato. É submeter o ponto de vista da revista ao crivo do leitor, com maior liberdade. Enfim, é praticar... Boa leitura! Do conceito à prática: o aprendizado do Jornalismo para revista”
  • 4. Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 sumário ágoraRevista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva revista Presidente do Grupo Splice Antônio Roberto Beldi Reitor João Paulo Beldi Vice-Reitora Juliana Salvador Ferreira Diretor Administrativo e Financeiro Marcelo Vinicius Santos Chaves Secretária Geral Jacqueline Guimarães Ribeiro Coordenadora da Escola de Comunicação Juliana Dias EDITOR DA REVISTA Prof. Edwaldo Cordeiro Apoio Técnico: Núcleo de Publicações Acadêmicas do Centro Universitário Newton Paiva http://npa.newtonpaiva.br/npa Cinthia Mara da Fonseca Pacheco Editora de Arte e Projeto Gráfico Helô Costa - RP 127/MG DIAGRAMAÇÃO Kênia Cristina Márcio Júnio Estagiários do Curso de Jornalismo 34 a 35 5 a 9 24 a 26 fotografia sociedade entrevista
  • 5. Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 PÁGINA 5 A persistência de um medalhista olímpico ENTREVISTA Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 PÁGINA 5 Pugilista brasileiro, 25 anos, natural de Vitória. Um boxeador técnico, ágil, medalhista em campeonatos nacionais e internacionais. Esquiva Falcão, como é mundialmente conhecido, coleciona conquistas importantes na carreira. As principais delas são as medalhas de prata no Pan-americano de Boxe, no Campeonato Sul-americano, e, claro, a mais importantes de todas: a prata olímpica dos jogos de Londres. Feito que o consagrou como o segundo boxeador brasileiro a ganhar uma medalha na história da participação do país em Olimpíadas. Em entrevista à Ágora, entre outros assuntos, ele conta um pouco como foi a trajetória para obter reconhecimento e o momento por que passa o esporte no Brasil. Fotos arquivo pessoal
  • 6.
  • 7. Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 PÁGINA 7 Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 PÁGINA 7 parte de uma Olimpíada e lá eu dei o meu melhor, trazendo no peito uma medalha de prata para o Brasil e para todos os que fazem parte da nobre arte. A remuneração de um boxe- ador é boa? Depende da situação em que você se encontra. Depende da categoria ou do que o atleta possa agregar. Na verdade, não é muito boa pelo menos no boxe amador. Para mim, é uma situação que poderia melhorar. E a transição do boxe olím- pico para o profissional, há alguma mudança nítida? Sim. Foi uma mudança difícil de ser feita, mas foi a melhor escolha. Minha vontade era gran- de de fazer parte das olimpíadas em 2016 no Brasil, mas acredito que a minha parte como atleta e boxeador amador eu já fiz nas Olimpíadas de 2012, em Londres. Fui em busca de um sonho e con- quistei. Agora é hora de seguir um novo caminho, dando esse novo passo que o boxe colocou na minha frente. Só tenho a agrade- cer a Deus por estar no boxe pro- fissional hoje e por estar trazendo as vitórias, mostrando cada vez mais o boxe brasileiro. Costumo dizer no final da minha luta: ‘o boxe brasileiro voltou’. E a bronca no irmão, Yamaguchi? Conheço muito bem o jeito do meu irmão, do profissional que ele é, mas como irmão e amigo comen- tei com ele que não é hora das brincadeiras. Só tenho a agradecer a Deus por estar no boxe profissional hoje e por estar trazendo as vitórias, mostrando cada vez mais o boxe brasileiro.
  • 8. Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 PÁGINA 8 “Beijando a lona” O que aconteceu com o boxe? Esporte desapareceu das transmissões de Tvs abertas e a produção de fenômenos como Tyson e Holyfield parece ter sido extinta ESPORTE Por Frederico Vieira, Rafael Martins e Márcio Junio Nos anos 1970, 80 e 90 eram comuns as noites em que o sofá de casa virava uma espécie de arquiban- cada, a pipoca era o prato principal e os amigos se reuniam para acompa- nhar um esporte considerado febre: o boxe. Todos os preparativos eram para assistir a um peso-pesado que hoje está “beijando a lona”. Será? Quando Mike Tyson, Holyfield e outros grande pugilistas subiam ao ringue, as lutas eram imperdíveis, era espetáculo garantido na tela da TV. No Brasil,Maguila,Popóeoutrosenchiam os brasileiros de orgulho, carregando o nome do país pelo mundo. O boxe figurava entre os princi- pais esportes do planeta. A exis- tência de grandes ídolos e as refe- rências como Tyson impulsiona- ram o nome da luta. As luvas ver- melhas ganharam valor de merca- do, e a marca boxe cresceu. A bolsa de aposta tornou-se milionária, e isso se mantém até hoje, apesar do sumiço. Como afirma o prof. Rangel Medeiros, praticante do esporte há sete anos: “Apesar de não ter tanto espaço como antiga- mente, os maiores salários do mundo ainda são dos pugilistas”. Além do mais, outras modalida- des de luta nasceram paralela- mente à evolução do boxe. No final do anos 90, surgia o vale-tudo por meio dos irmãos Gracie, caracteri- zado pela junção de vários estilos de lutas. Inicialmente, a ideia era apenas colocar à prova a eficácia de cada arte marcial, mas a ascen- são foi meteórica. Surgia assim um tal de MMA. Chegou forte, desfe- riu duros golpes, principalmente na visibilidade do boxe, mas não o bastante para o nocautear de vez. O crescimento do MMA é consi- derado, por muitos, uma das causas da baixa no boxe. A efetivação da modalidade com a criação do UFC (Ultimate Fighting Championship) chamou bastante atenção, muito em função do show, das lutas per- formáticas que proporciona. Enquanto isso, os grandes pugi- listas se aposentaram, e a renova- ção de ídolos parece não ter acon- tecido. Além disso, o boxe perdeu espaço na grande mídia, principal- mente na TV aberta. Mesmo assim, os lutadores atuais contam com altíssimo salários e patrocínios. Por outro lado, vários atletas batalham em condições desfavorá- veis, submetendo-se a uma rotina de treinamentos árduos e quase sempre sem remuneração, fazen- do com que boxeadores com potencial para o esporte abandone a categoria e busque outras moda- lidades mais rentáveis. Medeiros acredita que o espor- te ainda tem o seu valor. “Todo atleta de MMA aprende diversos golpes de boxe, faz parte da sua preparação”. O professor volta a lembrar sobre os valores e divulga- ção no mundo da luta. “Os eventos de UFC são mais frequentes, a divulgação é maior. Mas se compa- rar o salário com um pugilista, ainda estão muito abaixo”. Arquivo pessoal
  • 9. Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 PÁgiNa 9 Em Belo Horizonte encontramos uma lenda viva do pugilismo mineiro. trata-se de Fued Mattar, primeiro campeão brasileiro no esporte. Hoje, com 71 anos, o mineiro guarda com carinho as lembranças do tempo que subia ao ringue. Na década de 60 e 70, era quase impossível segurar as mãos ágeis de Fued. Segundo ele, foram mais de 200 lutas e menos de 20 derrotas. Desde 1956, lutando no antigo ginásio do Paissandu, local onde se construiu a rodoviária de Belo Horizonte anos mais tarde, Mattar relembra o passado: “No meu tempo o boxe era uma febre, todo mundo assistia. Já fui parado muitas vezes na rua para dar autógrafos, parecia cele- bridade“, relembra a gargalhadas. Segundo ele, desde a década de 60 os pugilistas sofrem com a falta de apoio no esporte, que nunca foi o pilar de sustento. E essa realidade dura acontece até hoje. “um boxea- dor tem que lutar primeiro é no seu dia-a-dia, depois contra os adversá- rios. Eu trabalhava para me susten- tar. Anos depois, comecei a lutar em outros estados, para ganhar notorie- dade e patrocínio”, desabafa Fued. Na categoria peso-pena, foi cam- peão brasileiro. Por pouco não se classificou para os jogos Pan- americanos de Chicago; treinou na academia da Polícia Militar de Minas Gerais e, em 1972, encerrou a carrei- ra com vitória, é claro. Após deixar os ringues, não abandonou o esporte, foi treinador e presidente da Federação Mineira de Boxe, até 1996. Por lá chegou a emprestar até o telefone da própria casa, por falta de apoio. “Fui várias vezes até a Secretaria de Esporte, mas não éramos atendidos. Promovia eventos para não deixar o boxe acabar, mas sem investimento e apoio é difícil”. Mattar é um dos grandes ícones do esporte. Já viveu os dois lados da moeda. Ainda assim ele avalia a situ- ação do boxe como preocupante, pois a falta de apoio e incentivo são uma das principais dificuldades, segundo o ex-pugilista. “O boxe não é mais como era antes”, desabafa. Atualmente, todos sabem que o boxe não é mais o principal esporte de luta no mundo. O MMA ganhou espaço e, a cada dia que passa, aumenta a legião de fãs. Fizemos uma pequena pes- quisa para saber se as pessoas acompanham o boxe. No total, 50 foram entrevistadas, em diferentes faixas etárias. Com base nos dados, chegamos à conclusão que realmente o esporte tão tradi- cional vem perdendo espaço. enquete à moDa antiga Algo inimaginável anos atrás, a cada dia as mulhe- res buscam mais espaço no mundo da luta. A procura pelo boxe, na maioria dos casos, é para dar um nocaute nos quilinhos a mais. A luta feminina não é só socos e esquivas. Ou melhor, é totalmente volta- da para melhorar o condi- cionamento físico. De acordo com o prof. igor Simões Santos, a mulher que procura o boxe é aquela que não tem paci- ência para caminhar em uma esteira. “Elas prefe- rem o boxe, que o aeróbico comum. Pois além de ter o mesmo resultado, as alunas ainda aprendem uma luta”. Ele ainda explica os benefícios: “Aumenta a fle- xibilidade e agilidade, toni- fica a musculatura e melhora o preparo físico. E isso é saúde”. Camila Coutinho, aluna de boxe há seis meses, confirma. Ela disse que já nas primeiras semanas viu a diferença e sentiu o corpo melhor. E a perda de peso veio com o tempo. A explicação para isso é sim- ples, conforme o professor: “A nossa aula aqui é mais solta, 20% dela é ligada diretamente ao boxe. Os outros 80% são voltados para a parte aeróbica”. Mas isso não quer dizer que a aula é light. De acordo com a prati- cante Gláucia Bicalho, não há moleza: “A gente não para. E isso é bom, faz muita diferença no dia-a- -dia. temos muito mais ânimo para fazer as coisas”. mulher e BoXe
  • 10. Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 PÁGINA 10 O que são as agências de classificação de risco? Elas são responsáveis por categorizar países e empresas como bons ou maus pagadores, interferindo diretamente na vida das pessoas ECONOMIA $Por Carolina Roque, Homero Dumont, João Gabriel Sousa Agosto de 2012. A nota de crédi- to dos Estados Unidos é rebaixada. O país, pela primeira vez em sua história, deixa de ser um tripo A e passa a ser AA+. Em junho do ano passado, o Brasil teve sua nota revi- sada. Não era mais “estável”, e, sim, “negativa”. E a União Europeia? No olho da crise de 2008, também viu sua nota despencar. Mas por quem? Pelas chamadas agências de classi- ficação de risco. Poucos conhecem qual é o ver- dadeiro papel das agências. Mas elas influenciam diretamente a vida de pessoas, empresas e países. As mais famosas desse segmen- to são a Standarts and Poor’s, Fitch e Moodys. O economista Eduardo Campos explica que os dados recebidos por elas vêm de diversas fontes, e, por isso, tornam as informações mais confiáveis. “Essas agências se baseiam em informações enviadas pelo ‘emis- sor’, país ou empresa que vai rece- ber a nota, e por fontes de merca- do consideradas confiáveis. Os téc- nicos das agências avaliam toda a situação financeira do emissor”. Conforme o economista, o que vem depois disso é a combinação dos dados recebidos com aqueles obtidos por análises da economia mundial e de especialistas da iniciativa privada. A mistura desses dados resulta no chamado rating: a opinião da agência quanto à capacidade do emissor em cumprir com as dívidas. Dependendo da nota recebida, a economia de um país pode fluir melhor ou afundar de vez. A certe- za de que um Estado é um bom pagador o coloca em destaque quando o assunto é angariar inves- timentos, já o que o mundo capita- lista sempre visa ao lucro. Por outro lado, a constatação de que um país tem grandes chances de dar um calote faz não só com que novos investidores desistam de financiá-lo, mas também faz com que os velhos abandonem o barco.
  • 11.
  • 12. Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 PÁgiNa 12 $$ Como nada é para sempre, as agências revisam as notas periodi- camente. Caso uma nova análise dos títulos indique que a qualidade de seu crédito diminuiu, ou que está mais suscetível a não honrar seus compromissos futuros, a agên- cia pode rebaixar ou até mesmo suspender notas. “Quando empre- sas ou países estão em situação pior, necessitam de um acompa- nhamento dinâmico. Nessas horas, a simples perspectiva de melhora ou piora conta muito”, explica o economista. Da mesma maneira, se as dívidas forem pagas e a eco- nomia do país voltar a fluir melhor, a nota é aumentada. Canadá, França, Alemanha, Estados unidos, irlanda, Reino unido, Noruega, Suíça e Suécia são países que possuem as maiores notas de rating nas três principais agências de classificação de risco, Standard & Poor’s, Fitch e Moody’s. Não por acaso, estão entre os paí- ses que possuem os maiores PiB’s, que sempre estão no topo de rankings de educação e do iDH. Ainda acha que as notas das agên- cias de classificação de risco não têm relação nenhuma com sua vida? o que acontece depois das temidas classificações?
  • 13. Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 PÁgiNa 13 Da informaliDaDe ao empreenDeDorismo Em Belo Horizonte, o ano de 2014 iniciou com queda de cerca de 18 mil trabalhadores informais, um decréscimo de 12,9% de 2012 para 2013 eCoNomia Por Filipe Diniz e bruna Motti ‘Há sete anos, Pedro luis Marques desembarcou no Brasil. Oriundo da cidade de Oaxaca de Juárez, região sudeste do México, veio a Belo Horizonte para conhe- cer pessoalmente a mineira letícia Guimarães, por quem se apaixonou pela internet. Depois de constituir família, o jovem decidiu não retornar ao seu país. Pedro então iniciou a batalha pela busca de renda. Por gostar bastante de cozi- nhar, começou a servir tacos, típi- co prato mexicano, primeiro para a família de letícia e amigos. Depois, com o aval de todos pelo sabor da comida, ele pensou em abrir um negócio: adquiriu um trailer e passou a vender a iguaria em feiras de alimentação em bair- ros da região noroeste da capital. A iniciativa deu certo, e o casal passou a ser mais um a optar pelo trabalho informal, do qual sobrevi- ve expressiva parte da população brasileira. Segundo pesquisas realizadas sobre a informalidade, 2014 come- çou com cerca de 18 mil trabalha- dores informais a menos em Belo Horizonte, representando uma queda de 12,9% em relação a 2012 para 2013. Em 2012, o panorama era de 139 mil informais e, em 2013, tal número passou para 121 mil. Os dados foram divulgados em março pela Fundação João Pinheiro e pela Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), desenvolvida em parceria com a Secretaria de Estado de trabalho e Desenvolvimento Social (Sedese) e o Departamento intersindical e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Para o coordenador técnico da FJP, Plínio de Campos Souza, a expectativa é que haja uma queda ainda maior nos próximos meses. “A carteira assinada é uma das razões da redução dos infor- mais, já que o número de traba- lhadores com registro aumentou 2,4%, alcançando 1.183 milhões de pessoas somente em setembro de 2013. Fora isso, o salário médio desses trabalhadores também aumentou, passando de R$ 1,375 para R$1,478, um acréscimo sig- nificante de 7,5%”, explica. Souza também esclarece que a migração para o emprego formal se dá, principalmente, entre os trabalhadores de menor receita. “Quem tem rendimento mais alto permanece sem assinar carteira, por receio de não conseguir ganhos compatíveis no mercado formal. É uma escolha difícil para muitos, mas tem que ser feita, já que traz mais segurança, como a contribuição previdenciária, fundo de garantia por tempo de serviço e seguro desemprego”, observa. O economista leonardo Rodrigues ressalta vantagens para quem opta por sair da infor- malidade, para empreender: “O registro no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) facilita a abertura de conta bancária, pedidos de empréstimos e emis- sões de notas fiscais, além de prestar auxílio jurídico junto aos credores”.
  • 14. Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 PÁGINA 14 Pequena empresa De acordo com os especialis- tas, para quem decide montar o próprio negócio, a opção pode ser o Programa Microempreendedor Individual (MEI), do governo Federal. Conforme informações do MEI, para ser um microempre- sário é necessário faturar no máximo até R$ 60 mil por ano e não ter participação em outra empresa como sócio ou titular. Também é possível ter um empre- gado contratado que receba o salário mínimo ou o piso da cate- goria. “O MEI será enquadrado no Simples Nacional e ficará isento de alguns tributos federais, como o imposto de renda, PIS, Cofins, IPI e Csll. Com essas contribui- ções, o microempreendedor terá acesso a benefícios como aposen- tadoria, auxílio maternidade e doença”, explica Rodrigues. Pensando nas garantias traba- lhistas e na produção limitada por conta do espaço do trailer, a famí- lia Guimarães Marques viveu novas expectativas. Empreendeu e, em outubro de 2013, a taqueria “Tá com Tudo” foi inaugurada no bairro Alípio de Melo. “Tínhamos o sonho de ter nosso próprio restau- rante e aumentar a capacidade produtiva, para que pudéssemos receber melhor nossos clientes. O espaço também permite divulgar outros elementos da cultura mexi- cana, como, por exemplo: a músi- ca”, ressalta Guimarães. Em relação aos desafios enfrenta- dos, foram taxativos: “Com certeza, para nós, o mais desafiador foram as questões burocráticas e legais, princi- palmente por eu não ser brasileiro. Mesmo com a ajuda de profissionais da área financeira, gostamos de saber quais as obrigações legais e fiscais que teríamos, já que queremos estar em dia com tudo”, frisa o empresário. Para isso, Letícia procurou se qualificar. Fez o curso de “Gestão para Mulheres” na Fundação Dom Cabral, e “Plano de Negócios” no Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae), com o intuito de ficar sempre atenta às mudanças e melhorias. Sobre a visão futura do empreen- dimento, querem sempre crescer e se qualificarem. Mas ao serem questio- nados se o trailer sempre fará parte dos planos, dizem: “Ele é muito bom de se trabalhar e muito divertido também. É comum no caminho para os locais onde vamos as pesso- as gritarem “arriba” ou, “andale, andale”. Gostamos dessa alegria e ela tem tudo a ver com nossa forma de viver o negócio”, destaca. Apesar do cenário da economia informal estar em queda, ainda é perceptível atividades do mercado varejista de alimentação, roupas e eletrônicos sendo comercializadas em shoppings populares e feiras de Belo Horizonte. A carga tribu- tária e a burocracia administrati- va por parte do governo são os grandes vilões no processo de for- malização, o que, na maioria das vezes, chega a inviabilizar possí- veis negócios, embora a formali- dade ofereça maior segurança ao trabalhador. Montar o próprio negócio, mesmo que informalmente, conti- nua sendo o sonho da maioria dos brasileiros. Muitas vezes, pela falta de dinheiro para começar uma empresa de maneira formal, os novos empresários conseguem, aos poucos, dar forma ao próprio negó- cio. Raphaela Noé, de 28 anos, estava cansada de trabalhar para outras pessoas e resolveu ser a pró- pria chefe. Com um investimento de quase R$ 3 mil, fez um curso técnico de capacitação, adquiriu o material necessário e se tornou especialista em unhas de gel. Ela conta que escolheu o produto por- que faz sucesso entre as mulheres, e é algo que ela mesma já usava há alguns anos: “Sempre tive o sonho de ter meu próprio negócio, e a unha de gel foi a oportunidade que eu vi para poder começar”. A divulgação do empreendi- mento é feita boca a boca, pelo Instagram e, em breve, pelo Facebook: “as redes sociais são formas gratuitas de divulgação que repercutem de maneira posi- tiva no meu trabalho, não preciso gastar muito para mostrar que as unhas ficam maravilhosas”. Para atrair a clientela, os preços iniciais são bem abaixo dos encon- trados no mercado, cerca de 40%, impossibilitando, por causa disso, manter um salão próprio. A jovem atende na própria casa. Com o lucro que consegue, a empresária começa a recuperar o investimento inicial e faz planos: “Ano que vem quero ter minha própria esmalte- ria”, sonha a jovem empresária, que parece não querer mesmo voltar a trabalhar para outras pessoas. Boca a boca
  • 15. Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 PÁgiNa 15 Revista ÁgoRaRevista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva || Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 11OO SEMESTRE 2014SEMESTRE 2014 PÁgiNa 15PÁgiNa 15 crimeia — referenDo para quê, se o resultaDo era pré-anunciaDo? A península conta com cerca de 60% da população, dos cerca de 2 milhões de habitantes, formada por russos. Apenas 24% dela é formada por ucranianos iNterNaCioNal Por Jéssica Ribeiro e José Oswaldo Costa O mundo assiste, alarmado, ao desenrolar da crise na Crimeia, região do extremo sul da ucrânia. Alarmado porque a Rússia ameaçou invadir o país caso o referendo rea- lizado em março não fosse respeita- do, já que a maioria da população da península, banhada pelo Mar Negro, decidiu pela anexação ao país do presidente Vladimir Putin. A ucrânia, contrária à separação, não concordou com a decisão e o imbróglio foi parar na Organização das Nações unidas (ONu). Mas por que realizar um referendo se o resultado dele era pré-anunciado? A história da anexação da Crimeia ao império Russo data do ano de 1783. Após trocar de mãos algumas vezes, em outubro de 1921 foi criada a República Soviética Socialista Autônoma da Crimeia (RSSAC), tornando-se parte da extinta união Soviética. Em 1944, Stalin ordenou punir a região por um suposto envolvi- mento com os nazistas e pela cria- ção de legiões antissoviéticas.Com isso, toda a população de tártaros da Crimeia foi enviada para exílio na ásia Central. Estima-se que 46% dos deportados morreram de fome e doenças. Em junho daquele ano, as populações armênia, búlgara e grega da Crimeia também foram deportadas para a ásia Central. Ao fim do verão de 1944, a “purifica- ção étnica” havia sido completada. tal contexto ajuda a explicar o porquê de, hoje, a península con- tar com cerca de 60% da popula- ção, dos cerca de 2 milhões de habitantes, formada por russos. Apenas 24% dela é formada por ucranianos. Os tártaros remanes- centes não ultrapassam muito os 15% da população total e são, por questões óbvias, fortemente con- trários à anexação. Estes últimos retornaram para a Crimeia após a independência da ucrânia, com o fim da união Soviética. levando-se em conta ainda a questão da formação atual da população da Crimeia, majoritaria- mente russa, o jornalista portu- guês Henrique Monteiro, em arti- go publicado no dia 7 de março no site Expresso com o título de Criméia – a história não justifica nada, descreveu a situação ao dizer que “a liberdade da região não pode ser reclamada como se a história tivesse começado com Stalin ou com uma falsificação sobre a população histórica da zona. A liberdade da Crimeia terá de ser o resultado de negociações que levem em conta a situação atual, o desejo dos seus habitantes e os interesses ucranianos e rus- sos. Mas não pode resultar da sim- ples vontade de uma maioria que foi imposta à força no território e que finge ali estar desde tempos imemoriais”, observa. Ou seja, o referendo realizado
  • 16. Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 PÁgiNa 16 Revista ÁgoRaRevista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva || Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 11OO SEMESTRE 2014SEMESTRE 2014 PÁgiNa 16PÁgiNa 16 em março tinha um desfecho – a aprovação da anexação à Rússia – mais do que esperado. Não é difícil concluir que sequer deveria ter sido feito. Qual o resultado prático da realização de um referendo direcionado à anexação de uma península a determinado país, quando se sabe que a grande maio- ria da população da península é originária daquele que pretende anexá-la? Algo um tanto quanto redundante, desnecessário. Além disso, o resultado “oficial” infor- mou que houve aprovação de 95% dos eleitores quando, em uma pes- quisa realizada antes do referendo, revelou que apenas 42% dos habi- tantes eram favoráveis à anexação. Este fato levantou suspeitas, e tanto os Estados unidos, como a união Europeia, informaram que a votação não seria reconhecida pela comunidade internacional. Afinal, parece evidente a fraude do resul- tado. Fato é que, no final de março, a ONu levou à votação uma resolu- ção com o intuito de declarar invá- lido o referendo. No fim, a resolu- ção ucraniana foi aprovada com 100 votos a favor, 11 contra e 58 abstenções. Outros 24 Estados membros não votaram. Diplomatas ocidentais definiram o resultado como um sucesso diplomático para a ucrânia, sendo que Estados unidos e delegações europeias dis- seram que ela revelou o isolamento da Rússia nessa questão. Pelos números apresentados pela pesquisa realizada antes da consulta, fica claro que até mesmo alguns rus- sos residentes na Crimeia não dese- javam a anexação. Sem este proces- so, a península, bem como a ucrânia, passaria a fazer parte da união Europeia, situação economicamente mais interessante. Porém, se é inte- ressante permanecer com a ucrânia e entrar para a união Europeia, porque alguns habitantes são favorá- veis à anexação? Conforme o prof. José luiz Niemeyer, “aqueles que são favo- ráveis à anexação esperam receber benefícios econômicos e sociais da Rússia. Para a Crimeia, a anexação pode representar ganhos logísticos e econômicos, com o forte capita- lismo de Estado praticado pela “mãe” Rússia”, explica. Certo é que a Rússia se valeu de dois importantes subterfúgios: o grande número de russos moran- do na península e a enorme influ- ência econômica e militar para provocar pressão. De qualquer forma, ela sairia vencedora no “embate”, o que torna o referendo algo totalmente inócuo e desne- cessário. Foi um “teatro” montado pelos russos, dizem vários analis- tas internacionais. A Crimeia possui regime de República Autônoma (divisão admi- nistrativa semelhante a uma provín- cia) e faz parte da ucrânia desde 1954. Naquele ano, o então líder soviético Nikita Kruschev transferiu o território em um gesto simbólico de amizade. No entanto, o interesse russo, agora, é proveniente, principal- mente, da localização da península, que fica às margens do Mar Negro. É o único porto de águas quentes da Rússia que permite acesso ao Mediterrâneo, ligação marítima para toda a Europa, áfrica e saída para o Atlântico. Há também ligação com o Oceano Índico, por meio do canal de Suez. Além disso, seus portos servem para escoar a produção agrícola da ucrânia e de pontos de exportação, para a Europa, do gás natural russo. A Crimeia é uma grande produ- tora de grãos e vinhos. Possui ter- ras ricas para a agricultura, com forte atuação na produção alimen- tícia. Ainda há a questão militar, uma vez que a marinha russa pos- sui uma base na cidade de Sebastopol há 230 anos. Os navios e submarinos baseados neste porto podem alcançar o Mediterrâneo com facilidade para chegar ao Oriente Médio e aos Bálcãs. Com o colapso da união Soviética, em 1991, havia certo desejo local de que a Crimeia dei- xasse a ucrânia e se tornasse parte da Rússia. Porém, legislado- res decidiram não autorizar o movimento, criando tensões com os russos.
  • 17. Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 PÁgiNa 17 No fim de 2013, o então presi- dente da ucrânia, Viktor Yanukovych, decidiu recusar um acordo que estreitaria os laços do seu país com a união Europeia – acordo que era costurado há três anos. Ao invés disso, resolveu sinali- zar com uma aproximação com a Rússia. Na época, os ucranianos chegaram a admitir que a decisão fora baseada nas pressões que os russos exerciam, como a ameaça de cortar o fornecimento de gás natu- ral e a tomada de medidas protecio- nistas contra produtos ucranianos. Após o anúncio desta aproximação, oposição e parte da população (pró- -união Europeia) tomaram as ruas em manifestações que acabaram em violência e mortes. No início do ano, os protestos ficaram mais vio- lentos, com a presença de armas de fogo em ambos os lados do conflito. Cerca de 100 pessoas morreram e outras centenas ficaram feridas, incluindo policiais. Em fevereiro, Yanukovych foi destituído do poder e as eleições presidenciais que acontecem no fim do ano foram antecipadas para maio. Neste período de hiato, quem governa a ucrânia é o oposi- tor Oleksander turchynov, presi- dente do Parlamento. Ele infor- mou que dialogaria com a Rússia, para melhorar as relações entre os países, mas a integração com a união Europeia viria em primeiro lugar. Dessa forma, tanto a Rússia como os ucranianos pró-russos entenderam que havia acontecido, na verdade, um golpe de Estado. E os conflitos continuaram. Após o referendo na Crimeia e a suposta “vitória” da vontade da maioria, Putin assinou um tratado de adesão e enviou tropas à região, além de invadir postos militares na ucrânia. Este país, por sua vez, considerou a ação como uma declaração de guerra e preparou todo o seu território para uma pos- sível invasão. No leste, onde a maioria também é russa, o movi- mento pró-Rússia ganhou força e militantes invadiram prédios governamentais. A guerra civil esteve bem próxima, colocando frente a frente militantes pró- -união Europeia e militantes pró- -Rússia, todos irmãos, todos ucra- nianos. Segundo a ONu, quase 130 pessoas, entre soldados, sepa- ratistas e civis morreram em atos de violência desde o início da ope- ração “antiterrorista”, lançada pela capital, Kiev, em abril para retomar o controle das cidades do leste. Antes da eleição em maio do novo presidente ucraniano Petro Poroshenko, Putin ordenou a reti- rada das tropas que realizavam manobras na fronteira com a ucrânia, que mobilizou até 40 mil homens, segundo fontes ociden- tais, sob o pretexto de manobras e testes militares. Porém, até o momento, tanto Estados unidos como a OtAN (Organização do tratado do Atlântico Norte) afir- mam que não há qualquer prova de que o Exército russo tenha ini- ciado a retirada. A tensão no local, portanto, continua. o cerne da questão! Revista ÁgoRaRevista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva || Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 11OO SEMESTRE 2014SEMESTRE 2014 PÁgiNa 17PÁgiNa 17 TáRTaROS O tártaro pertence à família das línguas turcomanas, que inclui azerbaijano, basquir, cazaque, iacuto, nodai, quirguiz, turco, turcomeno, tuvínio e uzbeque. Algumas dessas línguas são tão parecidas que, até certo ponto, as pessoas conseguem se entender. Por muitos séculos, havia uma relação entre tártaros, mongóis e turcos. Os falantes das línguas turcomanas são encontrados aos milhões no mundo inteiro. Hoje cerca de 4 milhões de pessoas vivem na multirracial República da tartária, localizada no extremo leste da Rússia europeia. Nas ruas das cidades da tartária, falam-se tanto o tártaro como o russo, e os jornais, livros, rádio e televisão fazem o mesmo. Os teatros exibem peças em tártaro sobre a história, o folclore e o cotidiano da etnia. Os tártaros eram caçadores e criadores de gado. Ainda hoje, a culinária tradicional deles inclui vários pratos com carne.
  • 18. Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 PÁGINA 18 “O medo que algum dia o mar também vire sertão...” Com a falta de chuvas e o nível da água baixíssimo, a represa de Três Marias preocupa moradores e empresários da região MEIO AMBIENTE Por Armando Mariano, Paula Rabelo e Rafael Phillipe “Eu não vi o mar, eu vi a lagoa”. Com esse trecho do poema de Carlos Drummond de Andrade, pode-se descrever a situação preo- cupante do lago de Três Marias. Onde antes se via um oceano de água doce, hoje apenas sobraram pequenos córregos, terra e pouquís- sima água. O famoso “Mar de Minas” está praticamente seco, afe- tando seriamente a vida das pessoas que vivem na região. Com o objetivo de fornecer ener- gia para 80% do norte de Minas Gerais, a represa foi inaugurada em 1969. Formado o lago, a bela paisa- gem atraiu novos moradores, turis- tas e empreendedores para o local, que tem como atividade econômica as atividades de pescas e de hotela- ria, com diferentes pousadas e hotéis. No entanto, com o nível da água mais baixo da última década, o lago está tornando difícil a vida de muita gente. Lanchas e embarca- ções, por exemplo, sofrem para navegar, isso sem falar nos riscos de acidentes que aumentam drastica- mente. Lúcio Vieira, guia de pesca local, conta que tem sido complicado con- seguir clientes nos últimos meses. Segundo ele, algumas pessoas ficam com receio de fazer um passeio de barco ou lancha, já que os troncos e tocos estão substituindo a água. “Realmente está difícil para nave- gar com segurança. Por mais que a gente preste atenção, sempre acer- tamos alguma galhada. É muito perigoso pilotar com o nível da água tão baixo, e isso acaba afastando os clientes”, relata Vieira. Às margens da represa, visitan- tes e moradores se reuniam para admirar o belo cartão-postal minei- ro. Em época de cheia, a água inva- dia as varandas e terreiros das casas. Porém, nos últimos meses, em vez de água, são pedras, barrancos e galhos secos que compõem a cena. O tão falado Mar Doce está se trans- formando em sertão. Com as últimas notícias, mui- tos pescadores amadores que pro- curam a região deixaram de visitar o local. Rosilene Mariano, gerente de uma pousada, localizada na cidade de São José do Buriti, disse que está passando por dificulda- des, pois a procura de clientes tem sido cada vez menor. “Sentimos a diferença. Com a represa cheia ficamos sempre lotados, mas com esta seca, poucas pessoas estão vindo”, afirma. Mas, nesta situação preocupan- te, ninguém é mais prejudicado do que os ribeirinhos. Eles necessitam da represa para sobreviverem, reti- rando seu sustento, na maioria das vezes, dos pescados e da criação de peixes em gaiolas. Com as águas baixas e a pesca afetada, como eles estão vivendo?
  • 19. Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 PÁGINA 19 O pirata do mar sem água Um “pescador de ilu- sões”. Esse é Rogério Boldrini, ribeirinho conhe- cido da região de Três Marias. Nascido no Espírito Santo, precisa- mente na cidade de Vitória, decidiu morar em Minas Gerais a partir do ano 2000, depois de se encantar com a região. Segundo ele, na época, a represa era um verdadeiro Jardim do Éden. “Já fiz de tudo um pouco nesta vida. Viajei para vários lugares e morei em diferentes esta- dos, mas quando conheci o famoso Mar de Minas, me apaixonei. Não pude resistir a tanta beleza reu- nida em um só lugar”, relembra o pescador. Mais conhecido como capitão Jack Sparrow, famoso personagem de Johnny Depp no filme Piratas do Caribe, Boldrini brinca ao falar do apelido, dizendo que o personagem não chega aos seus pés: “Se ele soubesse metade do que eu passei, teria se aposentado de vergonha. Já naufraguei, fui picado por cobras peçonhentas, lutei com onças nas matas e tive um dedo da mão arrancado por uma pira- nha”, conta mostrando as cicatrizes das batalhas. Mas, para ele, quem dera a vida fosse apenas de contos fabulosos e de brin- cadeiras. Segundo o capi- tão, Três Marias já foi o céu; porém, hoje, é um verdadeiro inferno para o pescador. Boldrini diz que a represa já não é mais a mesma. Ele teme pelo pior: o desaparecimento. De acordo com o pirata, os tempos mudaram, e o mar não está mais para peixe. “Quando me mudei pra cá, pescava todos os dias. Minha renda mensal era bem estável, e, na segunda semana do mês, já estava com o salário na mão. Hoje, com esta seca, passo difi- culdades. Já não pego tan- tos peixes como antes e, muitas vezes, não tenho nem o que comer”, lamen- ta. O pescador pratica- mente aposentou as varas e as redes de pesca, tirando o sustento agora do artesanato. Linhas, iscas e acessórios que antes capturavam pei- xes, hoje fazem parte do acervo de colares, brin- cos e pulseiras do ribeiri- nho. “Não tenho opção. Ou vendo artesanato ou continuo passando fome. É claro que ainda passo dificuldades, pois o dinheiro que ganho com isso não é muito. Serve apenas para me manter vivo”, relata em lágrimas. Boldrini, o Sparrow brasileiro, afirma que, apesar do cenário triste em que a represa se encontra, ainda acredita que ela suba o nível nova- mente um dia. “Só me resta confiar em Deus e pedir que nos ajude. Espero que no ano que vem chova muito e o lago se recupere, fazendo tudo voltar ao normal”
  • 20. Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 PÁgiNa 20 Afinal, por que o baixo nível da represa causa tantos problemas? Ítalo de Carvalho, biólogo, diz que os desequilí- brios devido à falta de água são muitos e afetam a fauna local. “Primeiramente, há um problema de temperatura. Com a carência de chuvas, a tendência do lago é esquen- tar. Esse fator influencia no comportamento dos peixes, pois pode afetar sua reprodu- ção e fazer com que eles pro- curem locais mais fundos, onde a temperatura é mais baixa. isso se torna um obstá- culo para os pescadores, pois dificulta as capturas diárias”, explica. O biólogo disse ainda que, além do aumento da tempera- tura, o baixo nível acaba cau- sando uma aglomeração de pei- xes em locais pequenos. Dessa forma, a disputa por alimentos e a predação entre as espécies são maiores. “Com pouca água há menos vegetação. Sem vegeta- ção, há pouco alimento, e isso acaba prejudicando toda a cadeia alimentar do ecossiste- ma”, observa. Carvalho ressalta que a culpa não é da natureza, e, sim, dos seres humanos. Segundo ele, o Brasil inteiro está passando pela mesma situação de três Marias, pois o Aquecimento Global está cobrando o preço. ”Não temos mais estações bem definidas. Está tudo desregulado. Esse problema é mundial, e cabe a nós tentarmos reverter esta situação”, defende. Além disso, o biólogo é contra a construção de represas, isso porque existem outras formas menos impactantes de se gerar energia. “As barragens impedem os peixes de subirem as corredei- ras para se reproduzirem. isso leva à diminuição da quantidade. Parece que ninguém está nem aí para a natureza. O dinheiro gasto em futebol dava para se investir em fontes mais ecológicas de energia. um exemplo é a eólica”, explica revoltado. especialistas FotosArmandoMariano
  • 21. Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 PÁgiNa 21 Decidimos entrevistar uma moradora antiga da região para saber se o argumento de Ítalo de Carvalho está correto. Maria do Carmo, 76, mora na cidade de São José do Buriti desde que nasceu. Segundo ela, quando criança, cos- tumava ir pescar para passar o tempo e trazer comida para casa. Porém, o cenário era bem diferen- te de hoje. “Antigamente não havia a represa. tinha apenas um córre- go que desaguava no Rio São Francisco. Mas, a quantidade e variedade de peixes era bem maior do que nos dias de hoje”, conta. Segundo ela, o número de ani- mais existentes no local era sur- preendente. Além disso, o tama- nho dos peixes impressionava. “Certa vez em uma pescaria amarrei a linha em um galho grosso, isquei um peixe pequeno no anzol e joguei na água. Não deu outra, quase fui parar dentro do córrego. Demorei mais de uma hora para vencer o peixe, e quan- do eu o vi, me impressionei. Era um Surubim de mais de 20 qui- los”, conta sorridente. Apesar de saber dos bene- fícios que a represa gerou, como, por exemplo, o aumento do núme- ro de empregos, na opinião da antiga moradora, a vida era melhor antes de sua construção. De acor- do com ela, a natureza estava em pleno equilíbrio e ninguém passa- va por dificuldades. “Vivíamos de forma bem simples, mas éramos felizes. O Velho Chico era um paraíso, com seus peixes enormes e em grande quantidade. Sempre satisfazia a todos. Hoje em dia tudo mudou. A represa foi constru- ída e trouxe seus benefícios, mas também trouxe o desequilíbrio”, lamenta. De fato, sendo benéfica ou não, a represa de três Marias está em situação crítica. As comportas da barragem foram fechadas para impedir que o nível da água caia ainda mais. Mas, sem fluxo, a energia deixa de ser gerada e as cidades da região são prejudica- das. O quintal dos mineiros está deixando uma dúvida na cabeça de todos. Será que esse mar vai virar sertão? antes
  • 22. Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 PÁgiNa 22 me Digas o que queres e te Direi qual aplicativo BaiXar... A facilidade da compra de smartphones faz com que as pessoas possam explorar as facilidades que os aplicativos podem oferecer teCNoloGia Por laura Senra, Manuel Carvalho, Rayza Kamke Você está em um bairro da zona sul e precisa ir para um na região norte, mas não sabe qual o melhor caminho. Você abre um aplicativo (app) e coloca a localização atual e onde quer ir. Em instan- tes ele traça a rota mais simples para você chegar ao destino. Fácil, não? Atualmente não é preciso medir esforços para nada, ou quase nada. Você tem no celular maneiras simples de resolver alguns proble- mas. A lista de apps, para isso, vem se tornando cada vez maior. É comum ver aparelhos celulares nas mãos das pessoas e perceber a inúmera variedade de ferra- mentas incluídas nele. Os programas caíram no gosto dos brasileiros e, hoje, correspondem a 1,4% da produção tecnológica no país. Com o aumento da venda de aparelhos celulares e com a tecnologia avançando a cada dia, os aplicativos são essenciais no cotidiano do consumidor. Por causa disso, nota-se que os aparelhos antigos estão sendo substituídos pelos mais modernos. usufruir das funcionalidades de milhares de apps tem se tornado essencial na hora de comprar um novo aparelho. Felipe Meirelles, desenvolvedor de aplicativos, explica: “uma variedade grande de servi- ços surgiram ou migraram para atender a esta demanda, impulsionando ainda mais a indústria de apps no Brasil”. ler um livro, assistir filmes, escutar música, aces- sar uma rede social ou jogar um game são algumas das inúmeras variedades de aplicativos presentes nos mais novos aparelhos celulares, essenciais hoje no cotidiano do consumidor. Para quase tudo existe um tipo de app para se utilizar. E a explicação é somente uma: é mais fácil e rápido usar um aplicativo do que abrir um site no celular.
  • 23. Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 PÁgiNa 23 Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | PÁgiNa 23 | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 Para Cleisson lima, 21, os aplicativos são sinônimos de simplificação e agilidade. O estudante de Jornalismo afir- ma conseguir acompanhar as notícias do mundo com facili- dade e eficiência, o que o “deixa ligado” nas coisas que acontecem ao seu redor. Cleisson ressalta a praticida- de em se manter nas redes sociais por meio das ferra- mentas, simplificando a área de comunicação. “Não dá para ficar desatualizado com as coisas que andam aconte- cendo por aí. Com os aplica- tivos eu vejo o que está rolan- do em tempo real, além de bater um papo com as pesso- as”, ressalta. Para quem mora longe da família, os aplicativos podem ser um jeito fácil e econômi- co de matar a saudade. luana Bazzi, 19, saiu de Rondônia para realizar o sonho de estu- dar Odontologia no interior de São Paulo. Aplicativos de comunicação como WhatsApp, Facebook ou Skype trazem o conforto de se sentir perto daqueles que fazem tanta falta. “É muito grande a importância destes aplicati- vos para mim. Consigo apar- tar minha necessidade de manter contato com a família aonde quer que eu esteja, e a baixo custo”, conta. Além dos aplicativos de comunicação, luana utiliza diariamente ferramentas que possibilitam pedir suas refei- ções em seu próprio smar- tphone. Segundo a estudan- te, além da variedade de opções, o atendimento é rápi- do, tem várias formas de pagamento, e agiliza bastante para quem não tem tempo. “Hoje é impossível viver sem essa tecnologia”, defende. O uso de aplicativos vem se tornando frequente, mais até do que os maiores sites de ser- viço encontrados. O que antes faziam os consumidores liga- rem um computador, hoje é feito na palma da mão, e de maneira simplificada. Os apps não costumam ultrapassar base de dados para não ficarem pesados no celular. O sucesso é tamanho que até as maiores marcas e lojas estão se renden- do a esta funcionalidade. Não é novidade que as mulheres adoram ir às com- pras. Se sair de casa e ir ao shopping era um problema, hoje não é mais. Aplicativos trazem a praticidade de se fazer consultas online se algum produto que você preci- sa está em promoção, ou quantas quantidades há no estoque. Para Cinthia Xavier, 20, além do lazer, os aplicati- vos de compra trazem pratici- dade, já que não é preciso utilizar um computador para fazer pesquisas diárias. “Eu ganhei muito mais tempo e com uma economia que cabe no meu bolso!”, analisou. Os aplicativos mostram para ela, diariamente, ofertas em shop- pings de Belo Horizonte Se de um lado o número de usuários de aplicativos cresce, do outro, desenvolvedores quebram a cabeça para criar programas que facilitem e satisfaçam os consumi- dores. Erick Alves, desenvolvedor web, comprou seu primeiro iPho- ne em 2009 e achou fantástica a ideia de poder criar aplicativos que possam servir para entreter e facilitar a vida das pessoas. No mesmo ano, iniciou os estudos na faculdade, no curso Sistema de informações e desenvolveu seu primeiro aplicativo. Com apenas 24 anos, está ter- minando a pós-graduação em Aplicativos Móveis e já lançou o “Xavecador”, recurso para canta- das e o “Minha Série”, para as pessoas que frequentam academia poderem colocar as informações de sua ficha de treino e consultar. “Além de ficar mais organizado e com algumas funcionalidades legais, ainda ajuda o ambiente, diminuindo o uso de papel”, obser- va Alves. Ambos os aplicativos estão disponíveis na Play Store e contabilizam mais de 100 mil downloads cada. Mas nem tudo são flores. Para ser disponibilizado na Apple Store (loja de aplicativos da Apple), é preciso ter CNPJ e patente alta para que o aplicativo fique no ar. Já na Play Store (loja de aplicati- vos do sistema Android), o envio dos aplicativos é extremamente fácil. “Em questão de 30 minutos eu já conseguia encontrar meu aplicativo na loja e compartilhar nas redes sociais com os meus amigos”, conta. De acordo com a empresa de pesquisas tecnológicas Gartner, no Brasil a venda de aparelhos smar- tphones cresceu 170% no último ano. O aumento do consumo dos aparelhos influencia diretamente no mercado de criação de progra- mas e aplicativos. a web comendo poeira a mão que desenvolve usuários
  • 24. Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 PÁGINA 24 “Geração Z” não sabe brincar Segundo sociólogo, crianças têm abandonado brinquedos e jogos tradicionais e passado mais tempo em frente ao computador, gerando uma espécie de “autismo social” SOCIEDADE Por Dayane Cristina, Henrique Coutinho e Sueli Azevedo Onde está a amarelinha, o pega- -pega, a queimada, o pião, a peteca? As crianças não brincam mais na rua? Não se divertem mais no par- quinho do bairro? E as panelinhas de barro e os objetos reciclados? Elas não querem mais criá-los? As novas tecnologias chegaram para tomar o lugar desse tipo de diver- são? Agora, as crianças preferem ficar sozinhas com o computador a se divertirem com outras? Essas são algumas das pergun- tas que vêm à nossa mente quando pensamos em brincadeiras e brin- quedos que ficaram para trás. A psicóloga Daniela Borja explica que as crianças desta época são parte da chamada Geração Z, pois convivem com a tecnologia desde o nascimento. “É praticamente ine- vitável que o mundo virtual não apenas marque as histórias delas, como também oriente seu processo de aprendizagem”, afirma. Para a psicóloga, o contato da criança com as novas tecnologias pode exercer um duplo papel: pro- picia acesso a diversas informa- ções e contribui para a autonomia; mas, por outro lado, dificulta a postura crítica e estimula a impul- sividade e o imediatismo.
  • 25. Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 PÁGINA 25 Ainda segundo a especialista, o excesso de tempo em frente ao computador, por exemplo, pode promover dependência e desesti- mular o contato com outras pesso- as. Pode, inclusive, dificultar brin- cadeiras, organização do tempo e a tolerância à frustração, tão fun- damental para o convívio social. Em um passado não muito dis- tante, era possível ver crianças brincando de bola na rua, fazendo roupinhas de boneca, sujando-se de tanto rolar no chão, na grama, na lama. A maioria delas ainda não tinha acesso às novas tecnologias, como celular, computador ou vídeo games. Por isso, elas interagiam mais. Uma ia à casa da outra para brincar ou várias se juntavam em um só lugar, como no parque ou na pracinha. Bola, pipa, bambolê, varetas e bolinhas de gude esta- vam sempre presentes na roda de amigos. Esses brinquedos faziam a alegria da garotada, que se entro- sava cada vez mais. Na escola, elas não viam a hora de o sinal para o recreio tocar para irem logo brincar com os coleguinhas. A secretária Suelen Marins é um exemplo de pessoa que aproveitou a infância brincando na rua com os amigos e familiares. Ela fala de alguns brinquedos que a divertiam, como um boneco de pano, Barbies e bambolês. “Era um boneco de cobertor. Gostava muito dele. Eu também era frenética no bambolê”. Para ela, nos dias de hoje, é quase impossível ver uma cena com crianças com esses brinquedos na rua. “Elas não vivem”, critica. Amarelinha, passa anel, jogo do mico, da memória e quebra-cabeças. São inúmeras as brincadeiras que tanto divertiam no passado. A maioria delas precisava ser realizada entre duas ou mais pessoas. Nunca seria possível, por exemplo, uma pessoa brincar sozinha de pega-pega, escon- de-esconde ou pula-corda. Portanto, era necessário interação, encontrar companheiros para brincar. Isso é nostálgico e nos leva a refletir sobre a proximidade e intensidade dos relacionamentos de amizade no passado. Realmente o mundo mudou, como prova o relato de Suelen. O avanço da tecnologia contribuiu para que tais mudanças aconteçam de maneira mais rápida. As novas ferra- mentas tecnológicas têm tomado o espaço das interações pessoais e, con- sequentemente, da socialização. Fotos Sueli Azevedo
  • 26. Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 PÁgiNa 26 um exemplo de lugar que ainda valoriza objetos e ações que norteavam as antigas inte- rações sociais é o Museu dos Brinquedos. Situado em Belo Horizonte (Avenida Afonso Pena, 2564 - Funcionários), o espaço possui acervo com apro- ximadamente sete mil brinque- dos, entre bonecas, carrinhos, bolas, peças didáticas e outros objetos. Segundo a educadora Nayara Aline de Souza, o foco do Museu é o resgate das brin- cadeiras. O local recebe visitas individuais e de grupos escola- res. Os pais levam os filhos para ver os brinquedos com os quais brincavam na infância. A visita é dividida em três momentos. O primeiro deles é a apresentação do acervo. Em seguida, os visitantes participam de oficinas de criação de brin- quedos, produzidos com mate- riais de baixo custo ou reciclá- veis. Depois, é a hora do resgate de brincadeiras antigas. Adultos podem relembrá-las e muitas crianças têm a oportunidade de conhecê-las pela primeira vez. “O principal do Museu, que a gente sempre gosta de abordar, é a oportunidade de os pais esta- rem brincando com os filhos”, ressalta Nayara. Não podemos negar que a chegada das novas tecnologias tem ajudado as crianças, por exemplo, nos trabalhos da escola e no processo de apren- dizagem. Mas, se usada de forma errada, ela também pode ser uma arma de desso- cialização, como dizem os especia- listas, uma vez que isso provoca o distancia- mento entre as pessoas. Pessoas de classe alta sempre tiveram acesso às tecnologias pri- meiro. Hoje, no entanto, o quadro parece ter mudado, pois é difícil encontrar alguém que não tenha um celular. E as crianças não ficam de fora da lista de “atualizados”. Se há alguns anos alguém ganhava um computador de presente no aniver- sário de 15 anos, agora uma criança ganha um tablet antes de completar um terço dessa idade. Muitos pensam que não há pro- blemas nisso. Afinal, o mundo está em constante evolução e as crianças precisam acompanhar a tendência. Mas não é bem assim. Segundo o sociólogo e professor Rudá Ricci, há uma profunda con- trovérsia no meio acadêmico a res- peito do impacto das novas tecnolo- gias. Segundo ele, as crianças pos- suem, até os oito anos de idade, uma visão de mundo denominada paraló- gica, que cria uma experiência fan- tasiosa, uma projeção. Sem ela, não é possível desenvolver a capacidade artística, da poesia, do teatro e, inclusive, da representação social (da autoridade, por exemplo). As crianças mergulhadas no mundo matemático e binário das novas tec- nologias tornam-se ansiosas, imedia- tistas e profundamente racionais, atrofiando as outras dimensões da inteligência e vivência humanas. Na opinião do professor, as redes sociais, por exemplo, formam comu- nidades fechadas de adolescentes e juvenis. Essa dinâmica gera o que os ingleses denominam, hoje, de comu- nidades de “pares de idade”, as quais definem comportamentos, valores, hábitos e, até mesmo, linguagem. isso resulta na diminuição do tempo de convívio familiar, verificado nos últimos anos nos grandes centros urbanos. “Passar horas na frente do computador gera uma espécie de “autismo social”, em que só há espa- ço para sua pequena comunidade virtual (ou até menos, quando todo o espaço é tomado pelos jogos virtu- ais)”, explica o sociólogo: “A intera- ção é o processo básico de socializa- ção”, frisa. Crianças precisam interagir com outras não apenas porque tal conví- vio possibilita o desenvolvimento da inteligência, mas também porque, ao se relacionarem, são aprendidas regras para a vida em sociedade. É importante deixar um pouco de lado o celular, o computador e o vídeo game, e buscar brincadeiras que requerem mais movimento e brinquedos manuais. Para Daniela, as crianças preci- sam desenvolver coordenação moto- ra, tanto geral como fina. Atividades físicas e brincadeiras ao ar livre são algumas das possibilidades de desen- volvimento, como equilíbrio, força e noção de esquema corporal. Os tra- balhos manuais, por sua vez, contri- buem para o desenvolvimento da coordenação motora fina, essencial para a escrita. lev Vygotsky, psicólogo russo com várias publicações acerca do desenvolvimento humano e da educação, observou que as brinca- deiras são exercícios que anteci- pam as experiências adultas. Para explicar a ideia de Vygotsky, Rudá diz que brincar com a miniatura de um veículo, por exemplo, projeta a criança para dentro do carro real. “Quantos de nós não “lutou até a morte” com um exército imaginá- rio ou “andou na corda bamba” para atravessar um desfiladeiro”, pergunta. “todos esses exercícios ficcionais nos colocam numa reali- dade projetada em algo próximo da teleologia (estudo filosófico dos fins, isto é, do propósito, objetivo ou finalidade da humanidade)”. interação socialainda há esperança Revista ÁgoRa pessoas.pessoas.
  • 27. Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 PÁGINA 27 não é para proteger “bandido”! Por que existe a concepção de que os Direitos Humanos foram criados apenas para defender criminosos? SOCIEDADE Por João Vitor Cirilo, João Paulo Freitas e Felipe Freitas Rocinha, Capão Redondo, Pavão-pavãozinho, Carandiru, Complexo do Alemão, Guarujá, o Ônibus 174, Realengo. Eloá Cristina Pimentel, Fabiane Maria de Jesus, o menino João Hélio Fernandes, Amarildo Dias de Souza e DG. O que todos esses locais e pesso- as têm em comum? Todos eles foram “palco” ou vítimas de violência. Segundo reportagem divulgada pelo jornal O Globo, o Brasil regis- trou, em 2012, o maior número absoluto de assassinatos da história, é o que revela a nova versão do Mapa da Violência. Nada menos do que 56.337 pessoas foram mortas naquele ano, num acréscimo de 7,9% frente a 2011. É a taxa mais alta de homicídios desde 1980, a qual leva em conta o crescimento da população, que também aumen- tou 7%, totalizando 29 vítimas fatais para cada 100 mil habitantes. O levantamento, ainda de acor- do com o jornal, foi baseado no Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, que tem como fonte os atestados de óbito emitidos em todo o país. O sociólogo Júlio Jacobo Waiselfisz é o autor do Mapa. As taxas são 50 a 100 vezes maiores do que a de países como o Japão. E isso marca o quanto ainda é preciso percorrer para chegar a uma taxa minimamente civilizada, argumenta o sociólogo em entre- vista para o periódico. As estatísticas referentes a homicídios em 2012, portanto, são recordes dentro da série histórica do SIM. Mas quem são os personagens desses números? Certamente não são a elite brasileira. Mesmo com a atuação de entidades defensora dos Direitos Humanos, para se ter uma ideia, a cada 100 mil negros, 36 morrem. Quando comparamos com as pessoas não consideradas negras, esse número cai para menos da metade, 15,2. Os dados são de um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), baseado em números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Então, para que servem os Direitos Humanos? Certamente, não foram cria- dos para defender bandidos. Entretanto, essa é uma ideia altamente disseminada em nossa sociedade, onde a violên- cia, infelizmente, já se tornou algo comum. Cansada de ver a impunida- de imperar, a população se revolta cada vez mais. Capitão Nascimento, personagem do ator Wagner Moura no filme “Tropa de Elite”, soltou uma de suas pérolas relacionada ao assunto. “Só que tem muito intelectualzinho de esquerda que ganha a vida defendendo vagabundo com papo de Direitos Humanos”. Bom! Não é por aí. Para William Santos, presi- dente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil em Minas Gerais (OAB-MG), “a questão dos Direitos Humanos é muito mais universal. Em nosso país, por exemplo, é uma questão nova, só existe de 1988 pra cá. Muitas coisas precisam avançar”. Para Santos, a justificativa para a justiça com as próprias mãos é a impunidade. “Isso leva as pessoas a crerem que outros têm muito mais direitos do que os cidadãos comuns. Na verdade, é uma fala distorcida, preconceituosa. Quem não pre- cisa de Direitos Humanos é que fala isso”, observa. Maria do Rosário de Oliveira, advogada do Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos da População em Situação de Rua e Catadores de Material Reciclável, também lamenta a opinião preconceitu- osa das pessoas. “É preocupan- te. Isso revela um total desco- nhecimento acerca do tema e uma demanda necessária e urgente a ser trabalhada nas escolas e em todos os espaços de formação, na mídia, que é formadora de opinião. Mudar essa visão é uma responsabili- dade do Estado”, frisa. Questão mais ampla
  • 28. Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 PÁgiNa 28 Declaração universal dos Direitos humanos Proclamada e adotada pela reso- lução 217 A, pela Assembleia Geral das Nações unidas, em 10 de Dezembro de 1948, nela, todos os membros da família têm direitos iguais e inalienáveis. Fundamenta- se na liberdade, justiça e paz no mundo. Seu principal objetivo é promover o respeito através do ensi- no e da educação. Além disso, segundo a Declaração, todas as pessoas nas- cem livres e iguais em dignidade e direitos. Elas devem agir com honestidade perante seus seme- lhantes. E não existe distinção de cor, sexo, raça, língua, religião, opi- nião política ou classe social. todos são iguais, mantendo assim seu contexto de liberdade igualitária. Apesar de os Direitos Humanos existirem há pelo menos 65 anos, no Brasil ainda é novo. No entanto, seus preceitos são uma questão uni- versal e têm relação com nossa última Constituição, em vigor desde 1988. “Aqueles dispositivos conti- dos no artigo 5º da Constituição, dos Direitos e Garantias individuais e Coletivos, são uma cópia dos 30 artigos da Declaração universal dos Direitos Humanos, elaborada pela ONu”, segundo o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-MG, Wiliam Santos. “O Brasil é signatário desde 1948 e de diversos tratados e con- venções acerca do tema. A atual Constituição materializou o assun- to, sobretudo nos seus artigos 5º e 6º. Quando pensamos nesses direitos, pensamos nos elementa- res e fundamentais, como: mora- dia, saúde, educação, lazer, traba- lho, liberdade de ir e vir, garantia da integridade física... Sem esque- cer que o respeito à dignidade da pessoa humana é fundamento da república Federativa do Brasil, assegurado em seu artigo 1º”, observa a advogada Maria do Rosário de Oliveira. Mas há aqueles que acham que Direitos Humanos é para proteger criminosos, e os argu- mentos para isso são muitos. As redes sociais, por exemplo, constituem um dos principais territórios de difamação das leis de proteção às pessoas. revolta Estamos falando de uma das maiores discussões atuais da sociedade brasileira: deve-se ou não reduzir a maioridade penal para 16 anos? Seria essa uma solução? Quando pergun- tamos a especialistas e pessoas envolvidas na área, a resposta é sempre negativa: — As cadeias não são sím- bolo de recuperação e dignifi- cação de infratores, mas, sim, escolas do crime, onde seres humanos são expostos a situa- ções degradantes e insalubres. Desta forma, colocar jovens num sistema prisional falido seria apenas qualificar novos adultos na prática de crimes, opina a advogada Joyce Ferreira de Freitas. — Se resolvesse, seria a sal- vação do Brasil. Mas pensemos em um exemplo: um menor de 16 anos que rouba uma bala, e um outro que comete latrocínio (roubo seguido de morte), terão pela justiça o mesmo tratamen- to. isso é ilegal, imoral, uma injustiça”, posiciona-se Santos. Santos explica que um dos problemas na questão da maioridade penal no Brasil é a utilização dos menores de idade como uma espécie de “escudo” para os mais velhos. “Na verdade, quem está por trás disso são maiores de idade, que utilizam os meno- res para puxarem para si a culpa de crimes para ficarem isentos, pegando pena menor. Não acredito que somente o endurecimento da lei vá apa- ziguar ou pacificar a socieda- de”, observa. maioridade penal
  • 29. Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 PÁgiNa 29 também é dever do Estado amparar as pessoas que vivem nas ruas, conforme explica a advogada Maria do Rosário de Oliveira. “O Brasil hoje conta com uma política nacional para a população em situ- ação de rua, regulamentada pelo Decreto Federal número 7.053, de 2009. Ela traz diretrizes gerais a serem observadas pelos Estados e Municípios e vem na linha de assegurar a dignidade dessas pes- soas, combater as violências come- tidas contra elas e garantir o aces- so às Políticas Públicas, sobretudo as essenciais e de emergência, como moradia, saúde, proteção, educação e alimentação”. uma pesquisa realizada pelo Ministério do Desenvolvimento Social em 71 municípios do Brasil, incluindo capitais e cidades com mais de 300 mil habitantes, evi- denciou a presença de quase 32 mil pessoas adultas em situação de rua, deixando de fora cidades como Belo Horizonte, São Paulo, Porto Alegre e Recife. “Como pode-se perceber, as pesquisas sobre a con- tabilização da população em situa- ção de rua ainda possuem fragili- dades (pelos recortes realizados) e são realizadas de maneira frag- mentada. Elas indicam a impor- tância da contabilização desse grupo populacional”, avalia a advo- Aqueles que cometem gran- des crimes, cujas penas podem ultrapassar a pena máxima, merecem ou não pagar da forma mais dura possível? Apesar de ser um desejo de parte da população, como um espelho da revolta existente na atualidade, a pena de morte não é possível do ponto de vista legal, segundoosespecialistas.Existem artigos na Constituição Federal que impedem a execução até de emendas constitucionais, ou seja, não podem ser alteradas: são as chamadas Cláusulas Pétreas. Exemplos são as ques- tões de soberania, democracia e direito à vida, esta última encon- trada no art. 5º. Segundo Santos, isso não solucionaria o problema. “É um princípio que não pode nem ser passível de emenda e não vai resolver o problema da criminali- dade. Até porque, se acontecer, o mais prejudicado será aquele que sempre ficou à margem da lei, aquele que nunca teve direito a uma defesa decente”, analisa. É importante lembrar que o Brasil já adotou a pena de morte, como no caso de tiradentes, enforcado em 1792. “Não é um processo que trará benefício, porque só pobre e preto vão mor- rer, pode ter certeza”, reforça Santos, caso o país adotasse medidas como essa. pena de morte moradores de rua
  • 30. Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 PÁgiNa 30 Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 PÁgiNa 30 “tinha BeBiDo um pouco e Bati”... O drama de quem já sofreu acidente de trânsito. Para aqueles que conseguiram sobreviver, os traumas causam impactos psicológicos e até na vida social. E as leis criadas para conter os desastres automobilísticos parecem inócuas trÂNsito Por ana luiza gonçalves, ana Paula Moreira e João Marcelo Drumond As estradas de Minas Gerais há tempos preocupam motoristas de todo o país que por elas precisam trafegar. Frequentemente são noti- ciados acidentes, e, muitos deles, quando não acontecem mortes, provocam sequelas graves nas víti- mas. A BR-381, por exemplo, é considerada uma das vias com maior ocorrência de acidentes no Brasil, segundo as autoridades de trânsito. Em 2011, por exemplo, as colisões frontais e transversais somaram 70 das 115 vítimas regis- tradas nas estradas, conforme levantamento realizado pelo Departamento Nacional de infraestrutura de transportes (Dnit), garantindo ao trecho entre Belo Horizonte e João Monlevade, portanto, o simpático apelido de “Rodovia da Morte”. Segundo pesquisas realizadas pelo Mapa da Violência, do Centro Brasileiro de Estudos latino- Americanos, no Brasil as principais causas de acidentes relacionam-se à mistura de álcool e volante, e o excesso de velocidade. Ainda, segundo o Mapa, os casos vêm aumentando nos últimos anos e a inércia das autoridades fragiliza cada vez mais o sistema de trânsito no país. As iniciativas dos governantes, conforme a Socióloga Miriam de Alcântara, são ineficientes e pouco contribuem com a diminuição dos acidentes. “Fazer algo para a melhoria do trânsito é algo bem caro e traz ‘prejuízos’ políticos para os interesses individuais dos pode- rosos. O estado não faz nada e a população está cada vez mais alie- nada diante da situação”, critica. A executiva luciana Bastos conhece bem o que é sofrer um acidente grave: “Eu era recepcio- nista e, no retorno para casa, dormi no volante. tinha bebido um pouco e bati no ônibus”, confessa. Somado a isso, ela lamenta a questão do socorro no momento da batida. — O grande problema do aci- dente foi que o motorista, por mais que não estivesse errado, deveria ter parado para me socorrer, e isso não aconteceu”. Segundo a psicóloga e professo- ra Sylvia Flores, o acidente, além de afetar o estado físico do indiví- duo, pode alterar o quadro psicoló- gico da pessoa, provocando uma série de consequências na vida social. Ela observa que os aciden- tes estão para além de qualquer tipo de violência física ao indiví- duo. “Os traumas físicos são evi- dentes e podem, sim, ser para a vida toda. Mas o trauma psicológi- co afeta diretamente a vida da pes- soa em sociedade, sua socialização e adaptação ficam comprometi- das”. Ainda, segundo a psicóloga, “o problema começa na educação das pessoas ou na falta dela, não pode- mos fazer do jeito que queremos no trânsito. Políticas públicas podem produzir conscientização desde a infância”, analisa.
  • 31. Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 PÁgiNa 31 críticas A maioria das críticas das víti- mas é direcionada ao governo, responsável pela manutenção, equilíbrio e funcionamento das estradas. O advogado leandro Augusto Deodato sofreu um aci- dente na marginal do Anel Rodoviário, em Belo Horizonte, quando, em uma descida, não conseguiu parar, e bateu em um outro veículo. “Foi um grande susto. Só percebemos que a situa- ção era crítica quando ela, de fato, aconteceu com a gente”, lembra. Para o advogado, a qualificação dos motoristas e a manutenção das pistas devem ser medidas imediatas. Em 2000 entrou em vigor o Novo Código Brasileiro de trânsito, obrigando, por exemplo, o uso do cinto de segurança, apa- rato até então não utilizado pelos motoristas. Agora, existe a famosa lei Seca (11.705), medida das autoridades para evitar o número de acidentes devido ao consumo de álcool. Mas parece que não está sendo o suficiente. isso por- que a situação é de âmbito social, conforme as vítimas. Érica uba sofreu a violência do trânsito e compartilha o drama vivido, após acidente autobílistico no Anel Rodoviario, em 2004. Segundo ela, uma carreta com mais de 25 toneladas de minério de ferro estava desgovernada e colidiu com seu automovel e em mais 11 veículos, em um mons- truoso engavetamento. Ela foi arremessada contra o carro da frente e a mureta que divide as pistas, lembra emocionada a cena. — Meu carro subiu à mureta, percorreu cerca de 100m, derrubou dois postes e capotou na contra- mão, parando de cabeça pra baixo. Por quase dois meses, a vítima conviveu com o pavor do cheiro de combustível; além disso, por muito tempo, ela teve pânico de parar em semáforos ou qualquer situação em que possa ocasionar uma batida traseira. Com o passar do tempo, o medo foi reduzido, contudo, diante de qualquer con- gestionamento, Érica fica apreen- siva. Então, evita ser o ultimo carro. “O Brasil inteiro precisa dessa concientizção. temo pelo trânsito de todo o país, viajo muito a trabalho e, infelizmente, as pes- soas se comportam como se esti- vessem competindo”. Érica ressalta ainda que o Anel Rodoviário é um trecho bastante perigoso, pois as carretas e cami- nhões simplesmente ignoram a presença dos veículos menores, e afirma ser uma grande defensora do transporte ferroviário. Érica fez algumas seções com um psicólogo com o objetivo de voltar a dirigir normalmente, já que trabalha como representante comercial e necessita dirigir para trabalhar. As seções ajudaram a externar o medo. A representante comercial acredita que a diminuição de veí- culos de carga seria um grande avanço, para diminuir os índices de acidentes; além disso, para ela, é preciso novas estradas e siste- mas mais eficientes de controle de velocidade.
  • 32. Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 PÁgiNa 32 ElE nãO é O CulPaDO O cão é apenas um hospedeiro da leishmaniose: entretanto, é o mais injustiçado. Mesmo que todos fossem extintos, o problema continuaria existindo... saÚde Apesar de existir há mais de um século, a leishmaniose ainda é pouco conhecida e assustadora. A doença atinge não só os cães, mas também os seres humanos e assusta, muito divi- do à falta de informação. O que mui- tas pessoas não sabem é que ela não é contagiosa e, sim, infecciosa. Além disso, um cão que possui o parasita, mas não apresenta sintomas clínicos, não é um animal doente, é apenas um portador do protozoário. O Brasil, juntamente com a Espanha, possui os melhores profis- sionais em relação a estudos sobre a doença, prevenção e tratamento. Apesar disso, é o único país que usa a política da eliminação do hospedeiro, não a do transmissor. A fim de encontrar animais conta- minados, os centros de zoonoses rea- lizam visitas para fazer testes de san- gue, os quais detectam apenas se o animal é portador do protozoário ou não. Em casos positivos, o governo incentiva os proprietários a encami- nharem os animais para a eutanásia, ao invés de estimular o tratamento. Em países desenvolvidos, é proibido, por lei, a eutanásia, como forma de controle da epidemia. Belo Horizonte é a capital com maior índice de mortalidade em função da doença. Ela chega a 12%, enquanto a média nacional é de 6%. Em função disso, pesquisado- res da universidade Federal de Minas Gerais (uFMG) estão cami- nhando para desenvolver uma vaci- na contra a leishmaniose, para o homem. A previsão é de que até 2015 os testes já estejam concluídos e, futuramente, a vacina poderá circular no mercado. TRanSMiSSãO Ocorre por meio da picada de insetos hematófagos — aqueles que se alimentam de sangue — conheci- dos como flebótomos. Os parasitas vivem e se multipli- cam no interior das células que fazem parte do sistema de defesa do indiví- duo, chamadas macrófagos. Os nomes dos insetos transmissores variam de acordo com a região, e os mais populares são: mosquito palha, birigui, cangalhinha e palhinha. Hoje já existem mais de vinte espécies de parasitas. Além dos cães, a enfermidade ataca animais silves- tres e urbanos; entretanto, é impres- cindível ter consciência de que eles não transmitem a doença. A contami- nação ocorre apenas pela picada do inseto que estiver infectado. A leishmaniose também pode atacar os humanos. Nesse caso, a contaminação e a transmissão se assemelham à dos animal, pois ambas só acontecem através da picada do mosquito. Ela pode se desenvolver de duas formas: a pri- meira é a leishmaniose tegumentar que caracteriza-se por feridas na
  • 33. Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 PÁgiNa 33 pele, localizadas na maioria das vezes nas partes descobertas do corpo. tardiamente, podem surgir feridas nas mucosas do nariz, na boca e na garganta. Essa forma de leishmaniose é conhecida como “ferida brava”. A outra é a leishma- niose visceral, uma doença sistêmi- ca, pois acomete vários órgãos inter- nos, principalmente o fígado, o baço e a medula óssea, mas também pode atacar a pele, que é a maior víscera do corpo. Esse tipo acomete principalmente crianças de até dez anos. Após essa idade torna-se menos frequente. Ela é uma doença de evolução longa, podendo durar alguns meses ou até ultrapassar o período de um ano. Vale lembrar mais uma vez que leishmaniose não é contagiosa e que só a contrai quem for picado pelo transmissor. “Quando recebi o resultado do exame da minha Nina, fiquei deses- perada e só pensava como isso acon- teceu se ela estava tão saudável e sem nada que apontasse estar doente”, conta a cabeleireira e maquiadora ivana luzia Fernandes. Muitas vezes a doença passa sem ser percebida, pelo fato de os sinais serem assinto- máticos em 60% dos casos. Já em outros casos, eles só começam a apa- recer quando a leishmaniose já está avançada. Quando existe sintomas, os mais comuns são feridas em torno do focinho e da orelha, unhas cres- cendo em excesso, perda de apetite e queda dos pelos. Além disso, o animal pode apresentar secreção nos olhos, emagrecimento, fraqueza e desânimo. É importantíssimo acen- tuar que um animal pode apresentar um desses sintomas, mas não estar doente. inevitavelmente, ao receber o resultado positivo pela zoonose, a primeira reação é um choque por parte da família, e a atitude ime- diata vai depender do valor que o cão tem para ela. Posteriormente, serão analisados outros fatores como a vontade do dono de tratar ou não, o estado físico em que o animal e seus donos se encontram e, principalmente, se os mesmos possuem o conhecimento do trata- mento, porque se depender dos órgãos públicos responsáveis, o animal é imediatamente levado para ser sacrificado. “Nossa rotina em casa segue a mesma. Muito amor e brincadeiras. Não sinto medo dela, só sentiria a pior das criaturas se não tentasse fazer nada por ela, e a entregasse à própria sorte”, diz ivana. Entretanto, a condição financeira é quem pode- rá definir o que será feito futura- mente. Segundo o médico veteri- nário Marcelo Jácome, dificilmen- te se pode estimar um valor exato para o tratamento, pois cada caso é um caso. Os custos vão depender muito da saúde, peso e idade do animal, e se outras infecções se fazem presentes. A aposentada Maria das Graças Amaro da Fonseca possui três cães. um deles é a Belinha, de sete anos, que há um ano e meio vive com a leishmaniose. Segundo dona Maria, seu dia-a-dia nunca deixou de ser normal. O que mudou foi a frequência das idas ao veterinário. Agora é no mínimo mensal. Ela conta, ainda, que o preço dos medi- camentos não fugiram do seu orça- mento, e que ela paga por cada remédio cerca de R$ 30,00. “um fator grave e que acontece muito, é o fato de o exame ser só uma triagem e mostrar se o animal teve contato com o protozoário ou não, havendo, assim, falsos positi- vos em grandes números”, relata o veterinário. Para resultados mais precisos, segundo ele, é necessário um acompanhamento dos animais para a confirmação do diagnóstico. Vale frisar que existe um trata- mento com medicações veteriná- rias de uso oral, e hoje no mercado há uma vacina que garante 98% de proteção, por isso ela é muito reco- mendada. Entretanto, não há dis- tribuição gratuita pelo Ministério da Saúde e o preço atual gira em torno de R$ 95,00 por dose, sendo que são necessárias três. Associadas à vacina é aconselhável utilizar outras formas de preven- ção, sendo uma das principais a coleira repelente para combater o inseto vetor. “Hoje estamos bem, amanhã só Deus sabe. Sei dos meus deveres, mas conheço também meus direi- tos. temos, por lei, direito garanti- do de tratar nossos amados e que- ridos cães. Nunca abandone seu amigo nesta hora”, desabafa ivana. “Quando recebi o resultado do exame da minha Nina, fiquei desesperada e só pensava como isso aconteceu se ela estava tão saudável e sem nada que apontasse estar doente” Fotos arquivos pessoais
  • 34. Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 PÁgiNa 34 ExPRESSãO E SEnSibiliDaDE nO OlhaR Além da técnica e da tecnologia utilizadas atualmente, a fotografia também é considerada uma arte. É por meio dela que momentos únicos podem ser eternizados no tempo Cultura
  • 35. Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 PÁGINA 35 Por Camila Chagas, Jéssica Rayanne e Raquel Durães As cenas captadas no momento ideal faz toda diferença para as foto- grafias. Isso porque elas trazem à tona lembranças de um tempo que não volta mais. A saudade de épo- cas passadas, das pessoas que parti- ram e de tantos outros momentos inesquecíveis são algo presentifica- do nelas. Mais do que uma simples imagem fixada no papel, o que parece importar mais na fotografia é o sentimento que ela desperta em quem as vê. Por meio das lentes das câmeras da máquina junto à sensibilidade do olhar de um fotógrafo, a fotografia permite a captação de imagens his- tóricas que, como diz o velho ditado popular, valem mais que mil pala- vras. Mesmo sem conhecer o con- texto social que as cercam, o fato é que podemos sentir todo o seu conteúdo expressivo. Sim! Sentir. “A Menina Afegã” de Steve McCurry, por exemplo, fotografada em 1984, pode ser considerada uma das mais belas e expressivas da história. Imagens emblemáticas Além da foto de McCurry, outras imagens também estão no topo das que retratam fortes sentimentos e realidades sociais. Independente da época em que foram feitas, as foto- grafias sempre causam impacto em que as vê. Fotógrafa e jornalista, Januária Vargas ressalta as emoções que as imagens podem passar. — Essas fotos carregam múlti- plos sentimentos e não foi por acaso que foram premiadas e destacadas no mundo. Mesmo sendo fotogra- fias antigas, elas nunca foram esquecidas, pois marcaram um período que significou muito para a história da humanidade, da vivên- cia dos retratados ou de um povo específico. Já para Tibério França, estudio- so e crítico de fotografia, é preciso destacar ainda mais a atemporali- dade dessa forma artística. — A fotografia é uma linguagem universal e atemporal. A dignidade humana é algo que percebemos, ou não, nas imagens, independente do período em que foi feita, ou em alguns casos, exatamente por isso. Sendo assim, as fotos merecem ser analisadas e contempladas de forma profunda e com olhar crítico, pois expressam os extremos, em todos os sentidos. Guto Muniz, fotógrafo e profes- sor do Centro Universitário Newton Paiva, explica: — De formas distintas, elas são muito fortes. As fotografias têm impactos diferentes, mas todas têm uma carga emocional intensa. As imagens ainda causam diversas reflexões, porque as histórias se repetem. A guerra do Vietnã, por exemplo, passou, mas as guerras permanecem, As crianças continu- am sofrendo do mesmo jeito. Todos os momentos continuam da mesma forma. Sharbat Gula foi fotografada aos doze anos pelo fotógrafo Steve McCurry, em junho de 1984, no acampamento de refu- giados Nasir Bagh, no Paquistão, durante a guerra contra a inva- são soviética. Sua imagem foi publicada na capa da National Geographic em junho de 1985 e, devido à expressividade de seu rosto e dos belos olhos verdes carregados de medo, a capa se transformou numa das mais famosas da revista e do mundo. Guto reconhece que essa é uma fotografia que mais lhe chama atenção. — A expressividade do olhar da garota é muito impactante. Parece que ela conta toda sua história de vida e submissão só com o olhar. A impressão é que ela finalmente mostrou o rosto para revelar isso para as pesso- as. Como falam os olhos dessa menina! Durante 17 anos, Steve McCurry realizou uma busca pela garota e, em janeiro de 2002, achou a menina e pôde saber seu nome. Já uma mulher de 30 anos, Sharbat Gula vive numa aldeia distante do Afeganistão. É uma mulher tra- dicional pastún, casada e mãe de três filhos. Reflexos da alma “A expressividade do olhar da garota é muito impactante. Parece que ela conta toda sua história de vida e submissão só com o olhar”
  • 36. Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 PÁGINA 36 A Menina do Vietnã Em 8 de junho de 1972, um avião norte-americano bombar- deou a população de Trang Bang com napalm, produto inflamável à base de gasolina gelificada. No local estava a pequena Kim Phuc e sua família. Com as roupas em chamas, a menina de nove anos corria em meio ao povo desespe- rada e, no momento em que suas roupas haviam sido consumidas, o fotógrafo Nic Ut registrou a imagem. Ela ajudou ao mundo a conhecer os horrores da guerra no país asiático. E há quem diga que ela ajudou também a pôr fim no conflito tempos depois. — Essa foto retrata o desespe- ro, a tristeza e o desamparo das crianças fugindo do bombardeio. Sempre penso nelas sendo fruto de algo criado pelos adultos (a guerra), e no sofrimento no qual elas levarão para a vida toda”, observa Januária. Após fotografá-la, Nic a levou a um hospital, onde a garota ficou internada durante 14 meses, sendo submetida a 17 cirurgias de enxerto de pele. Atualmente, Kim Phuc está casada, com dois filhos e reside no Canadá, onde preside a Fundação Kim Phuc, dedicada a ajudar crian- ças vítimas da guerra. Além disso, também se tornou embaixadora da UNESCO. “Essa foto retrata o desespero, a tristeza e o desamparo das crianças fugindo do bombardeio. Sempre penso nelas sendo fruto de algo criado pelos adultos (a guerra), e no sofrimento no qual elas levarão para a vida toda”
  • 37. Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 PÁGINA 37 Um dos mais recentes trabalhos e, provavelmente, um dos mais dis- cutidos são as fotografias de Tuca Vieira. A famosa foto da “Favela de Paraisópolis” é, talvez, o registro mais claro e preciso do contraste social de algumas cidades do Brasil. A foto foi feita há cerca de dez anos para a Folha de São Paulo e levou grande fama. Apesar disso, em relatos no seu site pessoal, o autor da imagem fala como se sen- tiu menosprezado. — Recentemente, encontrei uma foto minha no Facebook, sem nenhuma menção à autoria, mas com centenas de comentários. Ninguém ali se perguntava quem fez a foto. [...] Ela foi feita há cerca de dez anos e até hoje rece- bo pedidos do mundo inteiro para reproduzi-la em livros, revistas e material didático. Devo muito a ela. Projetou meu trabalho, me deu prêmios, me levou a exposi- ções aqui e no exterior. Mas o fato é que a imagem me fugiu do con- trole. Em 2007, ela foi mostrada na Tate Modern, em Londres, em uma exposição chamada Cidades Globais. Era o cartaz, o convite, o folder, o cartão-postal e até o cra- chá da exposição, que incluía gente como o fotógrafo alemão Andreas Gursky. Foi quando per- cebi que olhavam para essa foto como se não houvesse um autor. A foto era importante, mas eu não. Comecei a ser apresentado como ‘Tuca, the guy who took that pic- ture’. Não pensem que é fácil tirar uma foto como essa. Ela faz parte de uma série de fotos que fiz nessa época sobre São Paulo, e não é fruto do acaso. [...] Às vezes essa foto me enche o saco. Tenho projetos novos para mostrar, mas a cena de Paraisópolis com frequ- ência ofusca outros trabalhos. Será que tudo mais que eu fizer nunca vai ter a importância dessa única foto?”, escreve em carta. Favela de Paraisópolis “Às vezes essa foto me enche o saco. Tenho projetos novos para mostrar, mas a cena de Paraisópolis com frequência ofusca outros trabalhos. Será que tudo mais que eu fizer nunca vai ter a importância dessa única foto?”
  • 38. Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 PÁGINA 38 Em 1994, o fotógrafo Sudanês Kevin Carter venceu o Prêmio Pulitzer de fotojornalismo com uma foto tomada na região de Ayod (aldeia em Suam), que via- jou o mundo inteiro. A figura esquelética de uma pequena garo- ta, totalmente desnutrida, recos- tando-se sobre a terra, sendo vigiada por uma criatura de bicos pontudos, um abutre, à espera da morte. Esta foi uma das fotografia mais polêmicas da história, pois mostrou um dilema constante de muitos fotógrafos. Fazer a foto ou ajudar a criança? Januária explica o sentimento que muitos profissionais da área enfrentam diariamente: — Nessas horas pensamos como a profissão de fotógrafo é dolorosa, por ter que retratar momentos tão tristes. E, às vezes, nos sentimos culpados por regis- trar a cena, ao invés de ajudar as pessoas que precisam. Pelo que já li sobre o autor da foto, Kevin Carter, ele cometeu suicídio. A discussão em torno da foto foi tão longa e séria que, de fato, qua- tro meses depois, tomado de culpa e dependente de drogas, Kevin Carter suicidou-se. Os prêmios que Carter levou pela foto e o reco- nhecimento do seu trabalho não foram suficientes para aliviar o peso em não ter ajudado a criança. — Se estivesse no lugar dele, faria a foto. Não tenho dúvida nenhuma em relação a isso. Acho que seria impossível não fotografar e não aproveitar o momento para mostrar a realidade. O que se faz depois da foto é outra história. Mas acredito que, naquela situa- ção, eu só poderia tomar medidas paliativas, mas a morte era algo certo, afirma Guto. Espreitando a morte“A profissão de fotógrafo é dolorosa, por ter que retratar momentos tão tristes. E, às vezes, nos sentimos culpados por registrar a cena, ao invés de ajudar as pessoas que precisam. Pelo que já li sobre o autor da foto, Kevin Carter, ele cometeu suicídio”
  • 39. Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 PÁGINA 39 Com o passar do tempo, os profis- sionais e seus equipamentos fotográ- ficos sofreram mudanças e, até hoje, são submetidos a constantes avanços tecnológicos. Mas, levando em conta a afirmação de Tibério, “os meios evoluem, mas a fotografia continua sendo fotografia, senão vira vídeo, gif, animação, computer graphics entre outras modernidades”. Devido à internet, muitas pessoas saem da zona de conforto e buscam seguir outras vertentes na fotografia, sejam em cursos online, criando gru- pos de estudos e conquistando dife- rentes clientelas. Isso abre os hori- zontes e amplia a área de conheci- mento de cada um. Entretanto, hoje em dia virou moda qualquer pessoa se autono- mear fotógrafo, apenas por ter equi- pamento profissional. Mas, será que no meio dessa multidão de fotógra- fos existem aqueles que ainda tra- balham com a sensibilidade do olhar? “Com certeza podemos reco- nhecer as pessoas que exercem a profissão por amor, não somente por dinheiro ou status. Algumas, mesmo sem ter um bom equipa- mento, conseguem fazer imagens surpreendentes e repletas de senti- mentos. E há pessoas com uma megaestrutura que fazem fotos superficiais”, afirma Januária. Apesar de existirem fotógrafos e ‘fotógrafos’, Tibério também pontua a importância de bons equipamentos. “Fotografia trata de representação; portanto, um bom fotógrafo é aquele capaz de transmitir a mensagem do evento naquele momento histórico, e o equipamento pode ajudar, sendo ele um iPhone ou uma Hasselblad, depende de cada caso. O que faz um bom fotógrafo é o uso que ele faz do produto de seu trabalho, onde e quando ele aparece”. Fotógrafos e “fotógrafos” “Devido à facilidade da manipulação, os aparelhos parecem funcionar em função do homem. Devido à sua complexidade, parece que o homem funciona em função dos aparelhos. Na realidade, homem e aparelho se coimplicam, e vão formar um amarrado de funcionamento: a máquina funciona em função do fotógrafo, se, e somente se, este funcionar em função da máquina”. (Flusser, 1982)
  • 40. Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O SEMESTRE 2014 PÁgiNa 40 seriáticos, com muito orgulho As séries norte-americanas evidenciam a potência da indústria cinematográfica dos Estados Unidos; no Brasil, elas conquistam cada vez mais telespectadores Cultura Por Daniel Reis, Pâmela Matos e Shirlei Rossana — Você viu o último episódio de Game Of Thrones? — Menina, nem te conto que o David Clarke está vivo! Essas são conversas típicas a res- peito das séries, em rodas de amigos, na escola ou no trabalho. Produtos culturais com forte impacto social, elas atingem públicos distintos no mundo inteiro e, muitas vezes, refle- tem a realidade política, social, eco- nômica e ideológica das pessoas. São mais de 140 produções na ativa, sem contar as reprises. Os aficionados, conhecidos como seriáticos, evidencia o boom entre pessoas, por mexer com a cabeça de jovens e adultos, devido às tramas bem elaboradas e personagens envol- ventes. Em praticamente todos os lugares há alguém comentando ou, sem querer, soltando algum spoiler, ou seja, revelações do enredo. São inúmeras as páginas em redes sociais dedicadas às séries e, constantemen- te, os personagens viram assuntos mais comentados no twitter. FEbRE As séries norte-americanas come- çaram a fazer sucesso há várias déca- das, graças a “SOS Malibu”, “Starsky e Hutch”, “Dallas” entre outras. Depois de uma aparente queda no consumo desses produtos, “Supernatural” parece ter impulsio- nado novamente a trilha de sucesso das produções de séries. Com a estrondosa repercussão na mídia, a narrativa dos irmãos caçadores de demônios ganhou espaço no SBt. Na Record, “CSi” coleciona fãs de todas as idades, quebrando, inclusive, paradigmas a respeito do que se pas- sava no horário nobre da televisão brasileira. Mas por que assistir série virou “febre” entre os brasileiros? — Acho que o brasileiro sempre foi muito ligado em televisão, e a diversidade que as séries trouxeram só fez aumentar essa paixão em ter alguma história para acompanhar. É maravilhoso comentar com o amigo o episódio que acabou de assistir, expli- ca a seriática Ana Souza. — Existem muitas séries, para todos os gostos, sempre tem um assunto que vai agradar a algum público. Elas também acompanham o crescimento e a vida de muitas pes- soas, passam a fazer parte de suas rotinas e estão sempre nos tópicos de conversa com os amigos, fazendo com que a identificação seja muito maior, observa Stephanie Alípio, tam- bém apaixonada por séries.  lost é a série de Tv mais assistida no brasil.  a série televisiva mais assistida de todos os tempos foi baywatch, de acordo com o livro dos recordes. Ela, que ficou conhecida no brasil como S.O.S. Malibu, foi ao ar entre os anos de 1989 e 2001 e, segun- do o guinness, chegou a ser assistida por cerca de 1,1 bilhão de pessoas por semana em mais de 140 países. O único continente para onde baywatch não foi transmitida foi a antártida. Para quem não se lembra, esse foi o seriado que imortalizou a atriz Pamela anderson como a sexy salva-vidas C.J. Parker. a série se passava nas praias da Califórnia e teve 11 temporadas. CuRiOSiDaDES