O documento discute o declínio do boxe como esporte de destaque no Brasil e no mundo. Ele analisa como o boxe perdeu espaço na mídia e como o surgimento do MMA afetou a popularidade do esporte. Também apresenta entrevistas com um medalhista olímpico de boxe e com uma lenda do boxe brasileiro, que comentam sobre as dificuldades atuais do esporte em termos de apoio e incentivo.
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Revista Ágora
1. ágoraRevista Laboratório do Curso de Jornalismo do
Centro Universitário Newton Paiva
aNo vii
1o
seMestRe 2014
revista
o mar De água
Doce secou
o nível da represa de três marias é um dos mais baixos da história,
provocando mudanças profundas na vida das pessoas que moram na região
2. Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
3. Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
editorial
Por Dayane Cristina e Filipe Diniz
O que é aprender jornalismo de revista? Basicamente,
o processo passa primeiro por entender como funciona os
textos dos magazines: a linguagem, os gêneros textuais e a
tipologia. Depois, é interessante compreender as diferen-
ças em relação ao jornal impresso, marcado pela periodici-
dade diária, o modelo factual de abordagem da notícia e o
modo menos subjetivo da narrativa jornalística.
No artigo “Revistas: desafio pedagógico no ensino de
Jornalismo”, de Marli dos Santos e Mônica Caprino, publi-
cado na Revista Brasileira de Ensino de Jornalismo
(Rebej), pode-se elencar características próprias que dife-
renciam a linguagem das revistas em relação aos diários.
Por exemplo: “títulos nominais (em contraposição ao
esquema sujeito-verbo-predicado do jornal diário); possibi-
lidade de uso de adjetivos e coloquialismos; presença de
elementos narrativos e descritivos; ênfase aos personagens
e falas com possibilidade de apresentação em forma de
diálogos e travessões”. No entanto, dependendo da linha
editorial, a norma culta poderá entrar em cena.
Além disso, o texto de revista privilegia o conceito de
tonalidade que, conforme Sérgio Vilas Boas, no livro “O
Estilo Magazine”, é caracterizado pela dramaticidade, o
humor, a ironia, o espetacular entre outros elementos
composicionais empregados.
Contudo, todos esses conceitos abordados não funcio-
nariam, para nós, estudantes, sem uma base de aplicação;
nesse caso, a produção de uma revista experimental, pro-
duzida em laboratório.
O ponto de partida para isso foi a escolha da linha edi-
torial. No debate realizado com o professor, ficou decidida
a produção de uma revista de variedades, para termos,
entre outras possibilidades, a liberdade na definição dos
temas a serem abordados.
Corroborando então com os argumentos de Santos e
Caprino, a etapa seguinte foi a orientação individual dos
grupos de repórteres pelo professor, para a observação do
fato e a captação de informação, por meio de entrevistas,
a fim de se produzir a peça final, respeitando as editorias
escolhidas: economia, cultura, internacional, sociedade,
tecnologia, comportamento, saúde entre outras.
Os detalhes abordados acima são alguns caminhos bási-
cos para o fazer jornalístico, no que se refere às revistas.
Portanto, aprender “Jornalismo de revista” é ter os ele-
mentos conceituais necessários para aprofundar a notícia
de uma maneira diferente das outras mídias. É dar outras
percepções ao fato. É submeter o ponto de vista da revista
ao crivo do leitor, com maior liberdade. Enfim, é praticar...
Boa leitura!
Do conceito
à prática:
o aprendizado
do Jornalismo
para revista”
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SEMESTRE 2014
sumário
ágoraRevista Laboratório do Curso de Jornalismo do
Centro Universitário Newton Paiva
revista
Presidente do Grupo Splice
Antônio Roberto Beldi
Reitor
João Paulo Beldi
Vice-Reitora
Juliana Salvador Ferreira
Diretor Administrativo e
Financeiro
Marcelo Vinicius Santos Chaves
Secretária Geral
Jacqueline Guimarães Ribeiro
Coordenadora da Escola de
Comunicação
Juliana Dias
EDITOR DA REVISTA
Prof. Edwaldo Cordeiro
Apoio Técnico:
Núcleo de Publicações Acadêmicas do
Centro Universitário Newton Paiva
http://npa.newtonpaiva.br/npa
Cinthia Mara da Fonseca Pacheco
Editora de Arte e
Projeto Gráfico
Helô Costa - RP 127/MG
DIAGRAMAÇÃO
Kênia Cristina
Márcio Júnio
Estagiários do Curso de Jornalismo
34 a 35
5 a 9
24 a 26
fotografia
sociedade
entrevista
5. Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
PÁGINA 5
A persistência de
um medalhista olímpico
ENTREVISTA
Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
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Pugilista brasileiro, 25 anos, natural de Vitória. Um boxeador técnico, ágil, medalhista em campeonatos
nacionais e internacionais. Esquiva Falcão, como é mundialmente conhecido, coleciona conquistas
importantes na carreira. As principais delas são as medalhas de prata no Pan-americano de Boxe, no
Campeonato Sul-americano, e, claro, a mais importantes de todas: a prata olímpica dos jogos de Londres.
Feito que o consagrou como o segundo boxeador brasileiro a ganhar uma medalha na história da
participação do país em Olimpíadas. Em entrevista à Ágora, entre outros assuntos, ele conta um pouco
como foi a trajetória para obter reconhecimento e o momento por que passa o esporte no Brasil.
Fotos arquivo pessoal
6.
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SEMESTRE 2014
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Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
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parte de uma Olimpíada e lá eu dei
o meu melhor, trazendo no peito
uma medalha de prata para o
Brasil e para todos os que fazem
parte da nobre arte.
A remuneração de um boxe-
ador é boa?
Depende da situação em que
você se encontra. Depende da
categoria ou do que o atleta possa
agregar. Na verdade, não é muito
boa pelo menos no boxe amador.
Para mim, é uma situação que
poderia melhorar.
E a transição do boxe olím-
pico para o profissional, há
alguma mudança nítida?
Sim. Foi uma mudança difícil
de ser feita, mas foi a melhor
escolha. Minha vontade era gran-
de de fazer parte das olimpíadas
em 2016 no Brasil, mas acredito
que a minha parte como atleta e
boxeador amador eu já fiz nas
Olimpíadas de 2012, em Londres.
Fui em busca de um sonho e con-
quistei. Agora é hora de seguir
um novo caminho, dando esse
novo passo que o boxe colocou na
minha frente. Só tenho a agrade-
cer a Deus por estar no boxe pro-
fissional hoje e por estar trazendo
as vitórias, mostrando cada vez
mais o boxe brasileiro. Costumo
dizer no final da minha luta: ‘o
boxe brasileiro voltou’.
E a bronca no irmão,
Yamaguchi?
Conheço muito bem o jeito do
meu irmão, do profissional que ele
é, mas como irmão e amigo comen-
tei com ele que não é hora das
brincadeiras.
Só tenho a agradecer a Deus por estar no boxe
profissional hoje e por estar trazendo as vitórias,
mostrando cada vez mais o boxe brasileiro.
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SEMESTRE 2014
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“Beijando a lona”
O que aconteceu com o boxe? Esporte desapareceu das transmissões de Tvs
abertas e a produção de fenômenos como Tyson e Holyfield parece ter sido extinta
ESPORTE
Por Frederico Vieira, Rafael Martins
e Márcio Junio
Nos anos 1970, 80 e 90 eram
comuns as noites em que o sofá de
casa virava uma espécie de arquiban-
cada, a pipoca era o prato principal e
os amigos se reuniam para acompa-
nhar um esporte considerado febre: o
boxe. Todos os preparativos eram
para assistir a um peso-pesado que
hoje está “beijando a lona”. Será?
Quando Mike Tyson, Holyfield e
outros grande pugilistas subiam ao
ringue, as lutas eram imperdíveis, era
espetáculo garantido na tela da TV. No
Brasil,Maguila,Popóeoutrosenchiam
os brasileiros de orgulho, carregando o
nome do país pelo mundo.
O boxe figurava entre os princi-
pais esportes do planeta. A exis-
tência de grandes ídolos e as refe-
rências como Tyson impulsiona-
ram o nome da luta. As luvas ver-
melhas ganharam valor de merca-
do, e a marca boxe cresceu. A bolsa
de aposta tornou-se milionária, e
isso se mantém até hoje, apesar do
sumiço. Como afirma o prof.
Rangel Medeiros, praticante do
esporte há sete anos: “Apesar de
não ter tanto espaço como antiga-
mente, os maiores salários do
mundo ainda são dos pugilistas”.
Além do mais, outras modalida-
des de luta nasceram paralela-
mente à evolução do boxe. No final
do anos 90, surgia o vale-tudo por
meio dos irmãos Gracie, caracteri-
zado pela junção de vários estilos
de lutas. Inicialmente, a ideia era
apenas colocar à prova a eficácia
de cada arte marcial, mas a ascen-
são foi meteórica. Surgia assim um
tal de MMA. Chegou forte, desfe-
riu duros golpes, principalmente
na visibilidade do boxe, mas não o
bastante para o nocautear de vez.
O crescimento do MMA é consi-
derado, por muitos, uma das causas
da baixa no boxe. A efetivação da
modalidade com a criação do UFC
(Ultimate Fighting Championship)
chamou bastante atenção, muito
em função do show, das lutas per-
formáticas que proporciona.
Enquanto isso, os grandes pugi-
listas se aposentaram, e a renova-
ção de ídolos parece não ter acon-
tecido. Além disso, o boxe perdeu
espaço na grande mídia, principal-
mente na TV aberta. Mesmo assim,
os lutadores atuais contam com
altíssimo salários e patrocínios.
Por outro lado, vários atletas
batalham em condições desfavorá-
veis, submetendo-se a uma rotina
de treinamentos árduos e quase
sempre sem remuneração, fazen-
do com que boxeadores com
potencial para o esporte abandone
a categoria e busque outras moda-
lidades mais rentáveis.
Medeiros acredita que o espor-
te ainda tem o seu valor. “Todo
atleta de MMA aprende diversos
golpes de boxe, faz parte da sua
preparação”. O professor volta a
lembrar sobre os valores e divulga-
ção no mundo da luta. “Os eventos
de UFC são mais frequentes, a
divulgação é maior. Mas se compa-
rar o salário com um pugilista,
ainda estão muito abaixo”.
Arquivo pessoal
9. Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
PÁgiNa 9
Em Belo Horizonte encontramos
uma lenda viva do pugilismo mineiro.
trata-se de Fued Mattar, primeiro
campeão brasileiro no esporte. Hoje,
com 71 anos, o mineiro guarda com
carinho as lembranças do tempo que
subia ao ringue.
Na década de 60 e 70, era quase
impossível segurar as mãos ágeis de
Fued. Segundo ele, foram mais de
200 lutas e menos de 20 derrotas.
Desde 1956, lutando no antigo
ginásio do Paissandu, local onde se
construiu a rodoviária de Belo
Horizonte anos mais tarde, Mattar
relembra o passado: “No meu tempo
o boxe era uma febre, todo mundo
assistia. Já fui parado muitas vezes na
rua para dar autógrafos, parecia cele-
bridade“, relembra a gargalhadas.
Segundo ele, desde a década de
60 os pugilistas sofrem com a falta de
apoio no esporte, que nunca foi o
pilar de sustento. E essa realidade
dura acontece até hoje. “um boxea-
dor tem que lutar primeiro é no seu
dia-a-dia, depois contra os adversá-
rios. Eu trabalhava para me susten-
tar. Anos depois, comecei a lutar em
outros estados, para ganhar notorie-
dade e patrocínio”, desabafa Fued.
Na categoria peso-pena, foi cam-
peão brasileiro. Por pouco não se
classificou para os jogos Pan-
americanos de Chicago; treinou na
academia da Polícia Militar de Minas
Gerais e, em 1972, encerrou a carrei-
ra com vitória, é claro. Após deixar os
ringues, não abandonou o esporte, foi
treinador e presidente da Federação
Mineira de Boxe, até 1996. Por lá
chegou a emprestar até o telefone da
própria casa, por falta de apoio. “Fui
várias vezes até a Secretaria de
Esporte, mas não éramos atendidos.
Promovia eventos para não deixar o
boxe acabar, mas sem investimento e
apoio é difícil”.
Mattar é um dos grandes ícones
do esporte. Já viveu os dois lados da
moeda. Ainda assim ele avalia a situ-
ação do boxe como preocupante, pois
a falta de apoio e incentivo são uma
das principais dificuldades, segundo
o ex-pugilista. “O boxe não é mais
como era antes”, desabafa.
Atualmente, todos sabem que o boxe não é mais o principal
esporte de luta no mundo. O MMA ganhou espaço e, a cada dia
que passa, aumenta a legião de fãs. Fizemos uma pequena pes-
quisa para saber se as pessoas acompanham o boxe. No total, 50
foram entrevistadas, em diferentes faixas etárias. Com base nos
dados, chegamos à conclusão que realmente o esporte tão tradi-
cional vem perdendo espaço.
enquete
à moDa antiga
Algo inimaginável anos
atrás, a cada dia as mulhe-
res buscam mais espaço no
mundo da luta. A procura
pelo boxe, na maioria dos
casos, é para dar um
nocaute nos quilinhos a
mais. A luta feminina não
é só socos e esquivas. Ou
melhor, é totalmente volta-
da para melhorar o condi-
cionamento físico.
De acordo com o prof.
igor Simões Santos, a
mulher que procura o boxe
é aquela que não tem paci-
ência para caminhar em
uma esteira. “Elas prefe-
rem o boxe, que o aeróbico
comum. Pois além de ter o
mesmo resultado, as alunas
ainda aprendem uma luta”.
Ele ainda explica os
benefícios: “Aumenta a fle-
xibilidade e agilidade, toni-
fica a musculatura e
melhora o preparo físico. E
isso é saúde”.
Camila Coutinho, aluna
de boxe há seis meses,
confirma. Ela disse que já
nas primeiras semanas viu
a diferença e sentiu o
corpo melhor. E a perda de
peso veio com o tempo. A
explicação para isso é sim-
ples, conforme o professor:
“A nossa aula aqui é mais
solta, 20% dela é ligada
diretamente ao boxe. Os
outros 80% são voltados
para a parte aeróbica”.
Mas isso não quer dizer
que a aula é light.
De acordo com a prati-
cante Gláucia Bicalho, não
há moleza: “A gente não
para. E isso é bom, faz
muita diferença no dia-a-
-dia. temos muito mais
ânimo para fazer as coisas”.
mulher e BoXe
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SEMESTRE 2014
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O que são as
agências de
classificação
de risco?
Elas são responsáveis por categorizar países e
empresas como bons ou maus pagadores,
interferindo diretamente na vida das pessoas
ECONOMIA
$Por Carolina Roque, Homero Dumont,
João Gabriel Sousa
Agosto de 2012. A nota de crédi-
to dos Estados Unidos é rebaixada.
O país, pela primeira vez em sua
história, deixa de ser um tripo A e
passa a ser AA+. Em junho do ano
passado, o Brasil teve sua nota revi-
sada. Não era mais “estável”, e, sim,
“negativa”. E a União Europeia? No
olho da crise de 2008, também viu
sua nota despencar. Mas por quem?
Pelas chamadas agências de classi-
ficação de risco.
Poucos conhecem qual é o ver-
dadeiro papel das agências. Mas
elas influenciam diretamente a
vida de pessoas, empresas e países.
As mais famosas desse segmen-
to são a Standarts and Poor’s,
Fitch e Moodys. O economista
Eduardo Campos explica que os
dados recebidos por elas vêm de
diversas fontes, e, por isso, tornam
as informações mais confiáveis.
“Essas agências se baseiam em
informações enviadas pelo ‘emis-
sor’, país ou empresa que vai rece-
ber a nota, e por fontes de merca-
do consideradas confiáveis. Os téc-
nicos das agências avaliam toda a
situação financeira do emissor”.
Conforme o economista, o que
vem depois disso é a combinação dos
dados recebidos com aqueles obtidos
por análises da economia mundial e
de especialistas da iniciativa privada.
A mistura desses dados resulta no
chamado rating: a opinião da agência
quanto à capacidade do emissor em
cumprir com as dívidas.
Dependendo da nota recebida,
a economia de um país pode fluir
melhor ou afundar de vez. A certe-
za de que um Estado é um bom
pagador o coloca em destaque
quando o assunto é angariar inves-
timentos, já o que o mundo capita-
lista sempre visa ao lucro. Por
outro lado, a constatação de que
um país tem grandes chances de
dar um calote faz não só com que
novos investidores desistam de
financiá-lo, mas também faz com
que os velhos abandonem o barco.
11.
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$$
Como nada é para sempre, as
agências revisam as notas periodi-
camente. Caso uma nova análise
dos títulos indique que a qualidade
de seu crédito diminuiu, ou que
está mais suscetível a não honrar
seus compromissos futuros, a agên-
cia pode rebaixar ou até mesmo
suspender notas. “Quando empre-
sas ou países estão em situação
pior, necessitam de um acompa-
nhamento dinâmico. Nessas horas,
a simples perspectiva de melhora
ou piora conta muito”, explica o
economista. Da mesma maneira,
se as dívidas forem pagas e a eco-
nomia do país voltar a fluir melhor,
a nota é aumentada.
Canadá, França, Alemanha,
Estados unidos, irlanda, Reino
unido, Noruega, Suíça e Suécia
são países que possuem as maiores
notas de rating nas três principais
agências de classificação de risco,
Standard & Poor’s, Fitch e Moody’s.
Não por acaso, estão entre os paí-
ses que possuem os maiores PiB’s,
que sempre estão no topo de
rankings de educação e do iDH.
Ainda acha que as notas das agên-
cias de classificação de risco não têm
relação nenhuma com sua vida?
o que acontece depois
das temidas classificações?
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SEMESTRE 2014
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Da informaliDaDe ao
empreenDeDorismo
Em Belo Horizonte, o ano de 2014 iniciou com
queda de cerca de 18 mil trabalhadores informais,
um decréscimo de 12,9% de 2012 para 2013
eCoNomia
Por Filipe Diniz e bruna Motti
‘Há sete anos, Pedro luis
Marques desembarcou no Brasil.
Oriundo da cidade de Oaxaca de
Juárez, região sudeste do México,
veio a Belo Horizonte para conhe-
cer pessoalmente a mineira
letícia Guimarães, por quem se
apaixonou pela internet. Depois
de constituir família, o jovem
decidiu não retornar ao seu país.
Pedro então iniciou a batalha pela
busca de renda.
Por gostar bastante de cozi-
nhar, começou a servir tacos, típi-
co prato mexicano, primeiro para
a família de letícia e amigos.
Depois, com o aval de todos pelo
sabor da comida, ele pensou em
abrir um negócio: adquiriu um
trailer e passou a vender a iguaria
em feiras de alimentação em bair-
ros da região noroeste da capital.
A iniciativa deu certo, e o casal
passou a ser mais um a optar pelo
trabalho informal, do qual sobrevi-
ve expressiva parte da população
brasileira.
Segundo pesquisas realizadas
sobre a informalidade, 2014 come-
çou com cerca de 18 mil trabalha-
dores informais a menos em Belo
Horizonte, representando uma
queda de 12,9% em relação a 2012
para 2013. Em 2012, o panorama
era de 139 mil informais e, em
2013, tal número passou para 121
mil. Os dados foram divulgados
em março pela Fundação João
Pinheiro e pela Pesquisa
de Emprego e Desemprego (PED),
desenvolvida em parceria com a
Secretaria de Estado de trabalho
e Desenvolvimento Social
(Sedese) e o Departamento
intersindical e Estudos
Socioeconômicos (Dieese).
Para o coordenador técnico
da FJP, Plínio de Campos Souza,
a expectativa é que haja uma
queda ainda maior nos próximos
meses. “A carteira assinada é uma
das razões da redução dos infor-
mais, já que o número de traba-
lhadores com registro aumentou
2,4%, alcançando 1.183 milhões
de pessoas somente em setembro
de 2013. Fora isso, o salário médio
desses trabalhadores também
aumentou, passando de R$ 1,375
para R$1,478, um acréscimo sig-
nificante de 7,5%”, explica.
Souza também esclarece que a
migração para o emprego formal
se dá, principalmente, entre os
trabalhadores de menor receita.
“Quem tem rendimento mais alto
permanece sem assinar carteira,
por receio de não conseguir
ganhos compatíveis no mercado
formal. É uma escolha difícil para
muitos, mas tem que ser feita, já
que traz mais segurança, como a
contribuição previdenciária, fundo
de garantia por tempo de serviço e
seguro desemprego”, observa.
O economista leonardo
Rodrigues ressalta vantagens
para quem opta por sair da infor-
malidade, para empreender: “O
registro no Cadastro Nacional de
Pessoas Jurídicas (CNPJ) facilita
a abertura de conta bancária,
pedidos de empréstimos e emis-
sões de notas fiscais, além de
prestar auxílio jurídico junto aos
credores”.
14. Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
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Pequena empresa
De acordo com os especialis-
tas, para quem decide montar o
próprio negócio, a opção pode ser
o Programa Microempreendedor
Individual (MEI), do governo
Federal. Conforme informações
do MEI, para ser um microempre-
sário é necessário faturar no
máximo até R$ 60 mil por ano e
não ter participação em outra
empresa como sócio ou titular.
Também é possível ter um empre-
gado contratado que receba o
salário mínimo ou o piso da cate-
goria. “O MEI será enquadrado no
Simples Nacional e ficará isento
de alguns tributos federais, como
o imposto de renda, PIS, Cofins,
IPI e Csll. Com essas contribui-
ções, o microempreendedor terá
acesso a benefícios como aposen-
tadoria, auxílio maternidade e
doença”, explica Rodrigues.
Pensando nas garantias traba-
lhistas e na produção limitada por
conta do espaço do trailer, a famí-
lia Guimarães Marques viveu
novas expectativas. Empreendeu
e, em outubro de 2013, a taqueria
“Tá com Tudo” foi inaugurada no
bairro Alípio de Melo. “Tínhamos o
sonho de ter nosso próprio restau-
rante e aumentar a capacidade
produtiva, para que pudéssemos
receber melhor nossos clientes. O
espaço também permite divulgar
outros elementos da cultura mexi-
cana, como, por exemplo: a músi-
ca”, ressalta Guimarães.
Em relação aos desafios enfrenta-
dos, foram taxativos: “Com certeza,
para nós, o mais desafiador foram as
questões burocráticas e legais, princi-
palmente por eu não ser brasileiro.
Mesmo com a ajuda de profissionais
da área financeira, gostamos de saber
quais as obrigações legais e fiscais
que teríamos, já que queremos estar
em dia com tudo”, frisa o empresário.
Para isso, Letícia procurou se
qualificar. Fez o curso de “Gestão
para Mulheres” na Fundação Dom
Cabral, e “Plano de Negócios” no
Serviço de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas de Minas Gerais (Sebrae),
com o intuito de ficar sempre atenta
às mudanças e melhorias.
Sobre a visão futura do empreen-
dimento, querem sempre crescer e se
qualificarem. Mas ao serem questio-
nados se o trailer sempre fará parte
dos planos, dizem: “Ele é muito bom
de se trabalhar e muito divertido
também. É comum no caminho
para os locais onde vamos as pesso-
as gritarem “arriba” ou, “andale,
andale”. Gostamos dessa alegria e
ela tem tudo a ver com nossa
forma de viver o negócio”, destaca.
Apesar do cenário da economia
informal estar em queda, ainda é
perceptível atividades do mercado
varejista de alimentação, roupas e
eletrônicos sendo comercializadas
em shoppings populares e feiras
de Belo Horizonte. A carga tribu-
tária e a burocracia administrati-
va por parte do governo são os
grandes vilões no processo de for-
malização, o que, na maioria das
vezes, chega a inviabilizar possí-
veis negócios, embora a formali-
dade ofereça maior segurança ao
trabalhador.
Montar o próprio negócio,
mesmo que informalmente, conti-
nua sendo o sonho da maioria dos
brasileiros. Muitas vezes, pela falta
de dinheiro para começar uma
empresa de maneira formal, os
novos empresários conseguem, aos
poucos, dar forma ao próprio negó-
cio. Raphaela Noé, de 28 anos,
estava cansada de trabalhar para
outras pessoas e resolveu ser a pró-
pria chefe. Com um investimento
de quase R$ 3 mil, fez um curso
técnico de capacitação, adquiriu o
material necessário e se tornou
especialista em unhas de gel. Ela
conta que escolheu o produto por-
que faz sucesso entre as mulheres,
e é algo que ela mesma já usava há
alguns anos: “Sempre tive o sonho
de ter meu próprio negócio, e a
unha de gel foi a oportunidade que
eu vi para poder começar”.
A divulgação do empreendi-
mento é feita boca a boca, pelo
Instagram e, em breve, pelo
Facebook: “as redes sociais são
formas gratuitas de divulgação
que repercutem de maneira posi-
tiva no meu trabalho, não preciso
gastar muito para mostrar que as
unhas ficam maravilhosas”.
Para atrair a clientela, os preços
iniciais são bem abaixo dos encon-
trados no mercado, cerca de 40%,
impossibilitando, por causa disso,
manter um salão próprio. A jovem
atende na própria casa. Com o
lucro que consegue, a empresária
começa a recuperar o investimento
inicial e faz planos: “Ano que vem
quero ter minha própria esmalte-
ria”, sonha a jovem empresária, que
parece não querer mesmo voltar a
trabalhar para outras pessoas.
Boca a boca
15. Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
PÁgiNa 15
Revista ÁgoRaRevista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva || Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 11OO
SEMESTRE 2014SEMESTRE 2014
PÁgiNa 15PÁgiNa 15
crimeia — referenDo
para quê, se o resultaDo
era pré-anunciaDo?
A península conta com cerca de 60% da população,
dos cerca de 2 milhões de habitantes, formada por
russos. Apenas 24% dela é formada por ucranianos
iNterNaCioNal
Por Jéssica Ribeiro e José Oswaldo Costa
O mundo assiste, alarmado, ao
desenrolar da crise na Crimeia,
região do extremo sul da ucrânia.
Alarmado porque a Rússia ameaçou
invadir o país caso o referendo rea-
lizado em março não fosse respeita-
do, já que a maioria da população
da península, banhada pelo Mar
Negro, decidiu pela anexação ao
país do presidente Vladimir Putin.
A ucrânia, contrária à separação,
não concordou com a decisão e o
imbróglio foi parar na Organização
das Nações unidas (ONu). Mas por
que realizar um referendo se o
resultado dele era pré-anunciado?
A história da anexação da
Crimeia ao império Russo data do
ano de 1783. Após trocar de mãos
algumas vezes, em outubro de
1921 foi criada a República
Soviética Socialista Autônoma da
Crimeia (RSSAC), tornando-se
parte da extinta união Soviética.
Em 1944, Stalin ordenou punir a
região por um suposto envolvi-
mento com os nazistas e pela cria-
ção de legiões antissoviéticas.Com
isso, toda a população de tártaros
da Crimeia foi enviada para exílio
na ásia Central. Estima-se que
46% dos deportados morreram de
fome e doenças.
Em junho daquele ano, as
populações armênia, búlgara e
grega da Crimeia também foram
deportadas para a ásia Central. Ao
fim do verão de 1944, a “purifica-
ção étnica” havia sido completada.
tal contexto ajuda a explicar o
porquê de, hoje, a península con-
tar com cerca de 60% da popula-
ção, dos cerca de 2 milhões de
habitantes, formada por russos.
Apenas 24% dela é formada por
ucranianos. Os tártaros remanes-
centes não ultrapassam muito os
15% da população total e são, por
questões óbvias, fortemente con-
trários à anexação. Estes últimos
retornaram para a Crimeia após a
independência da ucrânia, com o
fim da união Soviética.
levando-se em conta ainda a
questão da formação atual da
população da Crimeia, majoritaria-
mente russa, o jornalista portu-
guês Henrique Monteiro, em arti-
go publicado no dia 7 de março no
site Expresso com o título de
Criméia – a história não justifica
nada, descreveu a situação ao
dizer que “a liberdade da região
não pode ser reclamada como se a
história tivesse começado com
Stalin ou com uma falsificação
sobre a população histórica da
zona. A liberdade da Crimeia terá
de ser o resultado de negociações
que levem em conta a situação
atual, o desejo dos seus habitantes
e os interesses ucranianos e rus-
sos. Mas não pode resultar da sim-
ples vontade de uma maioria que
foi imposta à força no território e
que finge ali estar desde tempos
imemoriais”, observa.
Ou seja, o referendo realizado
16. Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
PÁgiNa 16
Revista ÁgoRaRevista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva || Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 11OO
SEMESTRE 2014SEMESTRE 2014
PÁgiNa 16PÁgiNa 16
em março tinha um desfecho – a
aprovação da anexação à Rússia –
mais do que esperado. Não é difícil
concluir que sequer deveria ter
sido feito. Qual o resultado prático
da realização de um referendo
direcionado à anexação de uma
península a determinado país,
quando se sabe que a grande maio-
ria da população da península é
originária daquele que pretende
anexá-la? Algo um tanto quanto
redundante, desnecessário. Além
disso, o resultado “oficial” infor-
mou que houve aprovação de 95%
dos eleitores quando, em uma pes-
quisa realizada antes do referendo,
revelou que apenas 42% dos habi-
tantes eram favoráveis à anexação.
Este fato levantou suspeitas, e
tanto os Estados unidos, como a
união Europeia, informaram que a
votação não seria reconhecida pela
comunidade internacional. Afinal,
parece evidente a fraude do resul-
tado. Fato é que, no final de março,
a ONu levou à votação uma resolu-
ção com o intuito de declarar invá-
lido o referendo. No fim, a resolu-
ção ucraniana foi aprovada com
100 votos a favor, 11 contra e 58
abstenções. Outros 24 Estados
membros não votaram. Diplomatas
ocidentais definiram o resultado
como um sucesso diplomático para
a ucrânia, sendo que Estados
unidos e delegações europeias dis-
seram que ela revelou o isolamento
da Rússia nessa questão.
Pelos números apresentados pela
pesquisa realizada antes da consulta,
fica claro que até mesmo alguns rus-
sos residentes na Crimeia não dese-
javam a anexação. Sem este proces-
so, a península, bem como a ucrânia,
passaria a fazer parte da união
Europeia, situação economicamente
mais interessante. Porém, se é inte-
ressante permanecer com a ucrânia
e entrar para a união Europeia,
porque alguns habitantes são favorá-
veis à anexação?
Conforme o prof. José luiz
Niemeyer, “aqueles que são favo-
ráveis à anexação esperam receber
benefícios econômicos e sociais da
Rússia. Para a Crimeia, a anexação
pode representar ganhos logísticos
e econômicos, com o forte capita-
lismo de Estado praticado pela
“mãe” Rússia”, explica.
Certo é que a Rússia se valeu
de dois importantes subterfúgios:
o grande número de russos moran-
do na península e a enorme influ-
ência econômica e militar para
provocar pressão. De qualquer
forma, ela sairia vencedora no
“embate”, o que torna o referendo
algo totalmente inócuo e desne-
cessário. Foi um “teatro” montado
pelos russos, dizem vários analis-
tas internacionais.
A Crimeia possui regime de
República Autônoma (divisão admi-
nistrativa semelhante a uma provín-
cia) e faz parte da ucrânia desde
1954. Naquele ano, o então líder
soviético Nikita Kruschev transferiu o
território em um gesto simbólico de
amizade. No entanto, o interesse
russo, agora, é proveniente, principal-
mente, da localização da península,
que fica às margens do Mar Negro. É
o único porto de águas quentes da
Rússia que permite acesso ao
Mediterrâneo, ligação marítima para
toda a Europa, áfrica e saída para o
Atlântico. Há também ligação com o
Oceano Índico, por meio do canal de
Suez. Além disso, seus portos servem
para escoar a produção agrícola da
ucrânia e de pontos de exportação,
para a Europa, do gás natural russo.
A Crimeia é uma grande produ-
tora de grãos e vinhos. Possui ter-
ras ricas para a agricultura, com
forte atuação na produção alimen-
tícia. Ainda há a questão militar,
uma vez que a marinha russa pos-
sui uma base na cidade de
Sebastopol há 230 anos. Os navios
e submarinos baseados neste porto
podem alcançar o Mediterrâneo
com facilidade para chegar ao
Oriente Médio e aos Bálcãs.
Com o colapso da união
Soviética, em 1991, havia certo
desejo local de que a Crimeia dei-
xasse a ucrânia e se tornasse
parte da Rússia. Porém, legislado-
res decidiram não autorizar o
movimento, criando tensões com
os russos.
17. Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
PÁgiNa 17
No fim de 2013, o então presi-
dente da ucrânia, Viktor
Yanukovych, decidiu recusar um
acordo que estreitaria os laços do
seu país com a união Europeia –
acordo que era costurado há três
anos. Ao invés disso, resolveu sinali-
zar com uma aproximação com a
Rússia. Na época, os ucranianos
chegaram a admitir que a decisão
fora baseada nas pressões que os
russos exerciam, como a ameaça de
cortar o fornecimento de gás natu-
ral e a tomada de medidas protecio-
nistas contra produtos ucranianos.
Após o anúncio desta aproximação,
oposição e parte da população (pró-
-união Europeia) tomaram as ruas
em manifestações que acabaram
em violência e mortes. No início do
ano, os protestos ficaram mais vio-
lentos, com a presença de armas de
fogo em ambos os lados do conflito.
Cerca de 100 pessoas morreram e
outras centenas ficaram feridas,
incluindo policiais.
Em fevereiro, Yanukovych foi
destituído do poder e as eleições
presidenciais que acontecem no
fim do ano foram antecipadas para
maio. Neste período de hiato,
quem governa a ucrânia é o oposi-
tor Oleksander turchynov, presi-
dente do Parlamento. Ele infor-
mou que dialogaria com a Rússia,
para melhorar as relações entre os
países, mas a integração com a
união Europeia viria em primeiro
lugar. Dessa forma, tanto a Rússia
como os ucranianos pró-russos
entenderam que havia acontecido,
na verdade, um golpe de Estado. E
os conflitos continuaram.
Após o referendo na Crimeia e a
suposta “vitória” da vontade da
maioria, Putin assinou um tratado
de adesão e enviou tropas à região,
além de invadir postos militares na
ucrânia. Este país, por sua vez,
considerou a ação como uma
declaração de guerra e preparou
todo o seu território para uma pos-
sível invasão. No leste, onde a
maioria também é russa, o movi-
mento pró-Rússia ganhou força e
militantes invadiram prédios
governamentais. A guerra civil
esteve bem próxima, colocando
frente a frente militantes pró-
-união Europeia e militantes pró-
-Rússia, todos irmãos, todos ucra-
nianos. Segundo a ONu, quase
130 pessoas, entre soldados, sepa-
ratistas e civis morreram em atos
de violência desde o início da ope-
ração “antiterrorista”, lançada pela
capital, Kiev, em abril para retomar
o controle das cidades do leste.
Antes da eleição em maio do
novo presidente ucraniano Petro
Poroshenko, Putin ordenou a reti-
rada das tropas que realizavam
manobras na fronteira com a
ucrânia, que mobilizou até 40 mil
homens, segundo fontes ociden-
tais, sob o pretexto de manobras e
testes militares. Porém, até o
momento, tanto Estados unidos
como a OtAN (Organização do
tratado do Atlântico Norte) afir-
mam que não há qualquer prova
de que o Exército russo tenha ini-
ciado a retirada. A tensão no local,
portanto, continua.
o cerne da questão!
Revista ÁgoRaRevista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva || Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 11OO
SEMESTRE 2014SEMESTRE 2014
PÁgiNa 17PÁgiNa 17
TáRTaROS
O tártaro pertence à família das línguas turcomanas, que inclui azerbaijano, basquir, cazaque, iacuto,
nodai, quirguiz, turco, turcomeno, tuvínio e uzbeque. Algumas dessas línguas são tão parecidas que, até
certo ponto, as pessoas conseguem se entender. Por muitos séculos, havia uma relação entre tártaros,
mongóis e turcos. Os falantes das línguas turcomanas são encontrados aos milhões no mundo inteiro. Hoje
cerca de 4 milhões de pessoas vivem na multirracial República da tartária, localizada no extremo leste da
Rússia europeia. Nas ruas das cidades da tartária, falam-se tanto o tártaro como o russo, e os jornais,
livros, rádio e televisão fazem o mesmo. Os teatros exibem peças em tártaro sobre a história, o folclore e o
cotidiano da etnia. Os tártaros eram caçadores e criadores de gado. Ainda hoje, a culinária tradicional
deles inclui vários pratos com carne.
18. Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
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“O medo que algum dia o
mar também vire sertão...”
Com a falta de chuvas e o nível da água baixíssimo, a represa de
Três Marias preocupa moradores e empresários da região
MEIO AMBIENTE
Por Armando Mariano, Paula Rabelo e
Rafael Phillipe
“Eu não vi o mar, eu vi a lagoa”.
Com esse trecho do poema de
Carlos Drummond de Andrade,
pode-se descrever a situação preo-
cupante do lago de Três Marias.
Onde antes se via um oceano de
água doce, hoje apenas sobraram
pequenos córregos, terra e pouquís-
sima água. O famoso “Mar de
Minas” está praticamente seco, afe-
tando seriamente a vida das pessoas
que vivem na região.
Com o objetivo de fornecer ener-
gia para 80% do norte de Minas
Gerais, a represa foi inaugurada em
1969. Formado o lago, a bela paisa-
gem atraiu novos moradores, turis-
tas e empreendedores para o local,
que tem como atividade econômica
as atividades de pescas e de hotela-
ria, com diferentes pousadas e
hotéis. No entanto, com o nível da
água mais baixo da última década, o
lago está tornando difícil a vida de
muita gente. Lanchas e embarca-
ções, por exemplo, sofrem para
navegar, isso sem falar nos riscos de
acidentes que aumentam drastica-
mente.
Lúcio Vieira, guia de pesca local,
conta que tem sido complicado con-
seguir clientes nos últimos meses.
Segundo ele, algumas pessoas ficam
com receio de fazer um passeio de
barco ou lancha, já que os troncos e
tocos estão substituindo a água.
“Realmente está difícil para nave-
gar com segurança. Por mais que a
gente preste atenção, sempre acer-
tamos alguma galhada. É muito
perigoso pilotar com o nível da água
tão baixo, e isso acaba afastando os
clientes”, relata Vieira.
Às margens da represa, visitan-
tes e moradores se reuniam para
admirar o belo cartão-postal minei-
ro. Em época de cheia, a água inva-
dia as varandas e terreiros das casas.
Porém, nos últimos meses, em vez
de água, são pedras, barrancos e
galhos secos que compõem a cena.
O tão falado Mar Doce está se trans-
formando em sertão.
Com as últimas notícias, mui-
tos pescadores amadores que pro-
curam a região deixaram de visitar
o local. Rosilene Mariano, gerente
de uma pousada, localizada na
cidade de São José do Buriti, disse
que está passando por dificulda-
des, pois a procura de clientes tem
sido cada vez menor. “Sentimos a
diferença. Com a represa cheia
ficamos sempre lotados, mas com
esta seca, poucas pessoas estão
vindo”, afirma.
Mas, nesta situação preocupan-
te, ninguém é mais prejudicado do
que os ribeirinhos. Eles necessitam
da represa para sobreviverem, reti-
rando seu sustento, na maioria das
vezes, dos pescados e da criação de
peixes em gaiolas. Com as águas
baixas e a pesca afetada, como eles
estão vivendo?
19. Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
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O pirata do mar sem água
Um “pescador de ilu-
sões”. Esse é Rogério
Boldrini, ribeirinho conhe-
cido da região de Três
Marias. Nascido no
Espírito Santo, precisa-
mente na cidade de
Vitória, decidiu morar em
Minas Gerais a partir do
ano 2000, depois de se
encantar com a região.
Segundo ele, na época, a
represa era um verdadeiro
Jardim do Éden. “Já fiz de
tudo um pouco nesta vida.
Viajei para vários lugares e
morei em diferentes esta-
dos, mas quando conheci
o famoso Mar de Minas,
me apaixonei. Não pude
resistir a tanta beleza reu-
nida em um só lugar”,
relembra o pescador.
Mais conhecido como
capitão Jack Sparrow,
famoso personagem de
Johnny Depp no filme
Piratas do Caribe, Boldrini
brinca ao falar do apelido,
dizendo que o personagem
não chega aos seus pés:
“Se ele soubesse metade
do que eu passei, teria se
aposentado de vergonha.
Já naufraguei, fui picado
por cobras peçonhentas,
lutei com onças nas matas
e tive um dedo da mão
arrancado por uma pira-
nha”, conta mostrando as
cicatrizes das batalhas.
Mas, para ele, quem
dera a vida fosse apenas de
contos fabulosos e de brin-
cadeiras. Segundo o capi-
tão, Três Marias já foi o
céu; porém, hoje, é um
verdadeiro inferno para o
pescador. Boldrini diz que
a represa já não é mais a
mesma. Ele teme pelo pior:
o desaparecimento. De
acordo com o pirata, os
tempos mudaram, e o mar
não está mais para peixe.
“Quando me mudei pra cá,
pescava todos os dias.
Minha renda mensal era
bem estável, e, na segunda
semana do mês, já estava
com o salário na mão. Hoje,
com esta seca, passo difi-
culdades. Já não pego tan-
tos peixes como antes e,
muitas vezes, não tenho
nem o que comer”, lamen-
ta.
O pescador pratica-
mente aposentou as
varas e as redes de pesca,
tirando o sustento agora
do artesanato. Linhas,
iscas e acessórios que
antes capturavam pei-
xes, hoje fazem parte do
acervo de colares, brin-
cos e pulseiras do ribeiri-
nho. “Não tenho opção.
Ou vendo artesanato ou
continuo passando fome.
É claro que ainda passo
dificuldades, pois o
dinheiro que ganho com
isso não é muito. Serve
apenas para me manter
vivo”, relata em lágrimas.
Boldrini, o Sparrow
brasileiro, afirma que,
apesar do cenário triste
em que a represa se
encontra, ainda acredita
que ela suba o nível nova-
mente um dia. “Só me
resta confiar em Deus e
pedir que nos ajude.
Espero que no ano que
vem chova muito e o lago
se recupere, fazendo tudo
voltar ao normal”
20. Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
PÁgiNa 20
Afinal, por que o baixo
nível da represa causa tantos
problemas? Ítalo de Carvalho,
biólogo, diz que os desequilí-
brios devido à falta de água
são muitos e afetam a fauna
local. “Primeiramente, há um
problema de temperatura.
Com a carência de chuvas, a
tendência do lago é esquen-
tar. Esse fator influencia no
comportamento dos peixes,
pois pode afetar sua reprodu-
ção e fazer com que eles pro-
curem locais mais fundos,
onde a temperatura é mais
baixa. isso se torna um obstá-
culo para os pescadores, pois
dificulta as capturas diárias”,
explica.
O biólogo disse ainda que,
além do aumento da tempera-
tura, o baixo nível acaba cau-
sando uma aglomeração de pei-
xes em locais pequenos. Dessa
forma, a disputa por alimentos e
a predação entre as espécies são
maiores. “Com pouca água há
menos vegetação. Sem vegeta-
ção, há pouco alimento, e isso
acaba prejudicando toda a
cadeia alimentar do ecossiste-
ma”, observa.
Carvalho ressalta que a
culpa não é da natureza, e,
sim, dos seres humanos.
Segundo ele, o Brasil inteiro
está passando pela mesma
situação de três Marias, pois
o Aquecimento Global está
cobrando o preço. ”Não temos
mais estações bem definidas.
Está tudo desregulado. Esse
problema é mundial, e cabe a
nós tentarmos reverter esta
situação”, defende.
Além disso, o biólogo é contra
a construção de represas, isso
porque existem outras formas
menos impactantes de se gerar
energia. “As barragens impedem
os peixes de subirem as corredei-
ras para se reproduzirem. isso
leva à diminuição da quantidade.
Parece que ninguém está nem aí
para a natureza. O dinheiro gasto
em futebol dava para se investir
em fontes mais ecológicas de
energia. um exemplo é a eólica”,
explica revoltado.
especialistas
FotosArmandoMariano
21. Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
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Decidimos entrevistar uma
moradora antiga da região para
saber se o argumento de Ítalo de
Carvalho está correto. Maria do
Carmo, 76, mora na cidade de São
José do Buriti desde que nasceu.
Segundo ela, quando criança, cos-
tumava ir pescar para passar o
tempo e trazer comida para casa.
Porém, o cenário era bem diferen-
te de hoje. “Antigamente não havia
a represa. tinha apenas um córre-
go que desaguava no Rio São
Francisco. Mas, a quantidade e
variedade de peixes era bem maior
do que nos dias de hoje”, conta.
Segundo ela, o número de ani-
mais existentes no local era sur-
preendente. Além disso, o tama-
nho dos peixes impressionava.
“Certa vez em uma pescaria
amarrei a linha em um galho
grosso, isquei um peixe pequeno
no anzol e joguei na água. Não
deu outra, quase fui parar dentro
do córrego. Demorei mais de uma
hora para vencer o peixe, e quan-
do eu o vi, me impressionei. Era
um Surubim de mais de 20 qui-
los”, conta sorridente.
Apesar de saber dos bene-
fícios que a represa gerou, como,
por exemplo, o aumento do núme-
ro de empregos, na opinião da
antiga moradora, a vida era melhor
antes de sua construção. De acor-
do com ela, a natureza estava em
pleno equilíbrio e ninguém passa-
va por dificuldades. “Vivíamos de
forma bem simples, mas éramos
felizes. O Velho Chico era um
paraíso, com seus peixes enormes
e em grande quantidade. Sempre
satisfazia a todos. Hoje em dia
tudo mudou. A represa foi constru-
ída e trouxe seus benefícios, mas
também trouxe o desequilíbrio”,
lamenta.
De fato, sendo benéfica ou
não, a represa de três Marias está
em situação crítica. As comportas
da barragem foram fechadas para
impedir que o nível da água caia
ainda mais. Mas, sem fluxo, a
energia deixa de ser gerada e as
cidades da região são prejudica-
das. O quintal dos mineiros está
deixando uma dúvida na cabeça
de todos. Será que esse mar vai
virar sertão?
antes
22. Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
PÁgiNa 22
me Digas o que queres
e te Direi qual aplicativo BaiXar...
A facilidade da
compra de
smartphones faz
com que as pessoas
possam explorar
as facilidades que
os aplicativos
podem oferecer
teCNoloGia
Por laura Senra, Manuel Carvalho,
Rayza Kamke
Você está em um bairro da zona sul e precisa ir
para um na região norte, mas não sabe qual o
melhor caminho. Você abre um aplicativo (app) e
coloca a localização atual e onde quer ir. Em instan-
tes ele traça a rota mais simples para você chegar ao
destino. Fácil, não? Atualmente não é preciso medir
esforços para nada, ou quase nada. Você tem no
celular maneiras simples de resolver alguns proble-
mas. A lista de apps, para isso, vem se tornando cada
vez maior.
É comum ver aparelhos celulares nas mãos das
pessoas e perceber a inúmera variedade de ferra-
mentas incluídas nele. Os programas caíram no
gosto dos brasileiros e, hoje, correspondem a 1,4%
da produção tecnológica no país. Com o aumento da
venda de aparelhos celulares e com a tecnologia
avançando a cada dia, os aplicativos são essenciais
no cotidiano do consumidor.
Por causa disso, nota-se que os aparelhos antigos
estão sendo substituídos pelos mais modernos.
usufruir das funcionalidades de milhares de apps
tem se tornado essencial na hora de comprar um
novo aparelho. Felipe Meirelles, desenvolvedor de
aplicativos, explica: “uma variedade grande de servi-
ços surgiram ou migraram para atender a esta
demanda, impulsionando ainda mais a indústria de
apps no Brasil”.
ler um livro, assistir filmes, escutar música, aces-
sar uma rede social ou jogar um game são algumas
das inúmeras variedades de aplicativos presentes nos
mais novos aparelhos celulares, essenciais hoje no
cotidiano do consumidor. Para quase tudo existe um
tipo de app para se utilizar. E a explicação é somente
uma: é mais fácil e rápido usar um aplicativo do que
abrir um site no celular.
23. Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
PÁgiNa 23
Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva |
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| Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
Para Cleisson lima, 21, os
aplicativos são sinônimos de
simplificação e agilidade. O
estudante de Jornalismo afir-
ma conseguir acompanhar as
notícias do mundo com facili-
dade e eficiência, o que o
“deixa ligado” nas coisas que
acontecem ao seu redor.
Cleisson ressalta a praticida-
de em se manter nas redes
sociais por meio das ferra-
mentas, simplificando a área
de comunicação. “Não dá
para ficar desatualizado com
as coisas que andam aconte-
cendo por aí. Com os aplica-
tivos eu vejo o que está rolan-
do em tempo real, além de
bater um papo com as pesso-
as”, ressalta.
Para quem mora longe da
família, os aplicativos podem
ser um jeito fácil e econômi-
co de matar a saudade. luana
Bazzi, 19, saiu de Rondônia
para realizar o sonho de estu-
dar Odontologia no interior
de São Paulo. Aplicativos de
comunicação como WhatsApp,
Facebook ou Skype trazem o
conforto de se sentir perto
daqueles que fazem tanta
falta. “É muito grande a
importância destes aplicati-
vos para mim. Consigo apar-
tar minha necessidade de
manter contato com a família
aonde quer que eu esteja, e a
baixo custo”, conta.
Além dos aplicativos de
comunicação, luana utiliza
diariamente ferramentas que
possibilitam pedir suas refei-
ções em seu próprio smar-
tphone. Segundo a estudan-
te, além da variedade de
opções, o atendimento é rápi-
do, tem várias formas de
pagamento, e agiliza bastante
para quem não tem tempo.
“Hoje é impossível viver sem
essa tecnologia”, defende.
O uso de aplicativos vem se
tornando frequente, mais até
do que os maiores sites de ser-
viço encontrados. O que antes
faziam os consumidores liga-
rem um computador, hoje é
feito na palma da mão, e de
maneira simplificada. Os apps
não costumam ultrapassar base
de dados para não ficarem
pesados no celular. O sucesso é
tamanho que até as maiores
marcas e lojas estão se renden-
do a esta funcionalidade.
Não é novidade que as
mulheres adoram ir às com-
pras. Se sair de casa e ir ao
shopping era um problema,
hoje não é mais. Aplicativos
trazem a praticidade de se
fazer consultas online se
algum produto que você preci-
sa está em promoção, ou
quantas quantidades há no
estoque. Para Cinthia Xavier,
20, além do lazer, os aplicati-
vos de compra trazem pratici-
dade, já que não é preciso
utilizar um computador para
fazer pesquisas diárias. “Eu
ganhei muito mais tempo e
com uma economia que cabe
no meu bolso!”, analisou. Os
aplicativos mostram para ela,
diariamente, ofertas em shop-
pings de Belo Horizonte
Se de um lado o número de
usuários de aplicativos cresce, do
outro, desenvolvedores quebram a
cabeça para criar programas que
facilitem e satisfaçam os consumi-
dores. Erick Alves, desenvolvedor
web, comprou seu primeiro iPho-
ne em 2009 e achou fantástica a
ideia de poder criar aplicativos
que possam servir para entreter e
facilitar a vida das pessoas. No
mesmo ano, iniciou os estudos na
faculdade, no curso Sistema de
informações e desenvolveu seu
primeiro aplicativo.
Com apenas 24 anos, está ter-
minando a pós-graduação em
Aplicativos Móveis e já lançou o
“Xavecador”, recurso para canta-
das e o “Minha Série”, para as
pessoas que frequentam academia
poderem colocar as informações
de sua ficha de treino e consultar.
“Além de ficar mais organizado e
com algumas funcionalidades
legais, ainda ajuda o ambiente,
diminuindo o uso de papel”, obser-
va Alves. Ambos os aplicativos
estão disponíveis na Play Store e
contabilizam mais de 100 mil
downloads cada.
Mas nem tudo são flores. Para
ser disponibilizado na Apple Store
(loja de aplicativos da Apple), é
preciso ter CNPJ e patente alta
para que o aplicativo fique no ar.
Já na Play Store (loja de aplicati-
vos do sistema Android), o envio
dos aplicativos é extremamente
fácil. “Em questão de 30 minutos
eu já conseguia encontrar meu
aplicativo na loja e compartilhar
nas redes sociais com os meus
amigos”, conta.
De acordo com a empresa de
pesquisas tecnológicas Gartner, no
Brasil a venda de aparelhos smar-
tphones cresceu 170% no último
ano. O aumento do consumo dos
aparelhos influencia diretamente
no mercado de criação de progra-
mas e aplicativos.
a web comendo poeira
a mão que desenvolve
usuários
24. Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
PÁGINA 24
“Geração Z” não sabe brincar
Segundo sociólogo, crianças têm abandonado brinquedos e jogos
tradicionais e passado mais tempo em frente ao computador,
gerando uma espécie de “autismo social”
SOCIEDADE
Por Dayane Cristina, Henrique Coutinho e
Sueli Azevedo
Onde está a amarelinha, o pega-
-pega, a queimada, o pião, a peteca?
As crianças não brincam mais na
rua? Não se divertem mais no par-
quinho do bairro? E as panelinhas
de barro e os objetos reciclados?
Elas não querem mais criá-los? As
novas tecnologias chegaram para
tomar o lugar desse tipo de diver-
são? Agora, as crianças preferem
ficar sozinhas com o computador a
se divertirem com outras?
Essas são algumas das pergun-
tas que vêm à nossa mente quando
pensamos em brincadeiras e brin-
quedos que ficaram para trás. A
psicóloga Daniela Borja explica
que as crianças desta época são
parte da chamada Geração Z, pois
convivem com a tecnologia desde o
nascimento. “É praticamente ine-
vitável que o mundo virtual não
apenas marque as histórias delas,
como também oriente seu processo
de aprendizagem”, afirma.
Para a psicóloga, o contato da
criança com as novas tecnologias
pode exercer um duplo papel: pro-
picia acesso a diversas informa-
ções e contribui para a autonomia;
mas, por outro lado, dificulta a
postura crítica e estimula a impul-
sividade e o imediatismo.
25. Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
PÁGINA 25
Ainda segundo a especialista, o
excesso de tempo em frente ao
computador, por exemplo, pode
promover dependência e desesti-
mular o contato com outras pesso-
as. Pode, inclusive, dificultar brin-
cadeiras, organização do tempo e
a tolerância à frustração, tão fun-
damental para o convívio social.
Em um passado não muito dis-
tante, era possível ver crianças
brincando de bola na rua, fazendo
roupinhas de boneca, sujando-se
de tanto rolar no chão, na grama,
na lama. A maioria delas ainda não
tinha acesso às novas tecnologias,
como celular, computador ou vídeo
games. Por isso, elas interagiam
mais. Uma ia à casa da outra para
brincar ou várias se juntavam em
um só lugar, como no parque ou na
pracinha. Bola, pipa, bambolê,
varetas e bolinhas de gude esta-
vam sempre presentes na roda de
amigos. Esses brinquedos faziam a
alegria da garotada, que se entro-
sava cada vez mais.
Na escola, elas não viam a hora de
o sinal para o recreio tocar para irem
logo brincar com os coleguinhas.
A secretária Suelen Marins é um
exemplo de pessoa que aproveitou a
infância brincando na rua com os
amigos e familiares. Ela fala de
alguns brinquedos que a divertiam,
como um boneco de pano, Barbies e
bambolês. “Era um boneco de
cobertor. Gostava muito dele. Eu
também era frenética no bambolê”.
Para ela, nos dias de hoje, é
quase impossível ver uma cena com
crianças com esses brinquedos na
rua. “Elas não vivem”, critica.
Amarelinha, passa anel, jogo do
mico, da memória e quebra-cabeças.
São inúmeras as brincadeiras que
tanto divertiam no passado. A maioria
delas precisava ser realizada entre
duas ou mais pessoas. Nunca seria
possível, por exemplo, uma pessoa
brincar sozinha de pega-pega, escon-
de-esconde ou pula-corda. Portanto,
era necessário interação, encontrar
companheiros para brincar.
Isso é nostálgico e nos leva a
refletir sobre a proximidade e
intensidade dos relacionamentos
de amizade no passado.
Realmente o mundo mudou,
como prova o relato de Suelen. O
avanço da tecnologia contribuiu para
que tais mudanças aconteçam de
maneira mais rápida. As novas ferra-
mentas tecnológicas têm tomado o
espaço das interações pessoais e, con-
sequentemente, da socialização.
Fotos Sueli Azevedo
26. Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
PÁgiNa 26
um exemplo de lugar que
ainda valoriza objetos e ações
que norteavam as antigas inte-
rações sociais é o Museu dos
Brinquedos. Situado em Belo
Horizonte (Avenida Afonso
Pena, 2564 - Funcionários), o
espaço possui acervo com apro-
ximadamente sete mil brinque-
dos, entre bonecas, carrinhos,
bolas, peças didáticas e outros
objetos. Segundo a educadora
Nayara Aline de Souza, o foco
do Museu é o resgate das brin-
cadeiras. O local recebe visitas
individuais e de grupos escola-
res. Os pais levam os filhos para
ver os brinquedos com os quais
brincavam na infância.
A visita é dividida em três
momentos. O primeiro deles é a
apresentação do acervo. Em
seguida, os visitantes participam
de oficinas de criação de brin-
quedos, produzidos com mate-
riais de baixo custo ou reciclá-
veis. Depois, é a hora do resgate
de brincadeiras antigas. Adultos
podem relembrá-las e muitas
crianças têm a oportunidade de
conhecê-las pela primeira vez.
“O principal do Museu, que a
gente sempre gosta de abordar, é
a oportunidade de os pais esta-
rem brincando com os filhos”,
ressalta Nayara.
Não podemos negar que a
chegada das novas tecnologias
tem ajudado as crianças, por
exemplo, nos trabalhos da
escola e no processo de apren-
dizagem. Mas, se usada de
forma errada, ela também
pode ser uma arma de desso-
cialização, como
dizem os especia-
listas, uma vez
que isso provoca
o distancia-
mento entre as
pessoas.
Pessoas de classe alta sempre
tiveram acesso às tecnologias pri-
meiro. Hoje, no entanto, o quadro
parece ter mudado, pois é difícil
encontrar alguém que não tenha um
celular. E as crianças não ficam de
fora da lista de “atualizados”. Se há
alguns anos alguém ganhava um
computador de presente no aniver-
sário de 15 anos, agora uma criança
ganha um tablet antes de completar
um terço dessa idade.
Muitos pensam que não há pro-
blemas nisso. Afinal, o mundo está
em constante evolução e as crianças
precisam acompanhar a tendência.
Mas não é bem assim.
Segundo o sociólogo e professor
Rudá Ricci, há uma profunda con-
trovérsia no meio acadêmico a res-
peito do impacto das novas tecnolo-
gias. Segundo ele, as crianças pos-
suem, até os oito anos de idade, uma
visão de mundo denominada paraló-
gica, que cria uma experiência fan-
tasiosa, uma projeção. Sem ela, não
é possível desenvolver a capacidade
artística, da poesia, do teatro e,
inclusive, da representação social
(da autoridade, por exemplo). As
crianças mergulhadas no mundo
matemático e binário das novas tec-
nologias tornam-se ansiosas, imedia-
tistas e profundamente racionais,
atrofiando as outras dimensões da
inteligência e vivência humanas.
Na opinião do professor, as redes
sociais, por exemplo, formam comu-
nidades fechadas de adolescentes e
juvenis. Essa dinâmica gera o que os
ingleses denominam, hoje, de comu-
nidades de “pares de idade”, as quais
definem comportamentos, valores,
hábitos e, até mesmo, linguagem.
isso resulta na diminuição do tempo
de convívio familiar, verificado nos
últimos anos nos grandes centros
urbanos. “Passar horas na frente do
computador gera uma espécie de
“autismo social”, em que só há espa-
ço para sua pequena comunidade
virtual (ou até menos, quando todo o
espaço é tomado pelos jogos virtu-
ais)”, explica o sociólogo: “A intera-
ção é o processo básico de socializa-
ção”, frisa.
Crianças precisam interagir com
outras não apenas porque tal conví-
vio possibilita o desenvolvimento da
inteligência, mas também porque,
ao se relacionarem, são aprendidas
regras para a vida em sociedade.
É importante deixar um pouco
de lado o celular, o computador e o
vídeo game, e buscar brincadeiras
que requerem mais movimento e
brinquedos manuais.
Para Daniela, as crianças preci-
sam desenvolver coordenação moto-
ra, tanto geral como fina. Atividades
físicas e brincadeiras ao ar livre são
algumas das possibilidades de desen-
volvimento, como equilíbrio, força e
noção de esquema corporal. Os tra-
balhos manuais, por sua vez, contri-
buem para o desenvolvimento da
coordenação motora fina, essencial
para a escrita.
lev Vygotsky, psicólogo russo
com várias publicações acerca do
desenvolvimento humano e da
educação, observou que as brinca-
deiras são exercícios que anteci-
pam as experiências adultas. Para
explicar a ideia de Vygotsky, Rudá
diz que brincar com a miniatura de
um veículo, por exemplo, projeta a
criança para dentro do carro real.
“Quantos de nós não “lutou até a
morte” com um exército imaginá-
rio ou “andou na corda bamba”
para atravessar um desfiladeiro”,
pergunta. “todos esses exercícios
ficcionais nos colocam numa reali-
dade projetada em algo próximo da
teleologia (estudo filosófico dos
fins, isto é, do propósito, objetivo
ou finalidade da humanidade)”.
interação socialainda há esperança
Revista ÁgoRa
pessoas.pessoas.
27. Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
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não é para proteger “bandido”!
Por que existe a concepção de que os Direitos Humanos
foram criados apenas para defender criminosos?
SOCIEDADE
Por João Vitor Cirilo, João Paulo Freitas e
Felipe Freitas
Rocinha, Capão Redondo,
Pavão-pavãozinho, Carandiru,
Complexo do Alemão, Guarujá, o
Ônibus 174, Realengo. Eloá Cristina
Pimentel, Fabiane Maria de Jesus, o
menino João Hélio Fernandes,
Amarildo Dias de Souza e DG.
O que todos esses locais e pesso-
as têm em comum? Todos eles foram
“palco” ou vítimas de violência.
Segundo reportagem divulgada
pelo jornal O Globo, o Brasil regis-
trou, em 2012, o maior número
absoluto de assassinatos da história,
é o que revela a nova versão do
Mapa da Violência. Nada menos do
que 56.337 pessoas foram mortas
naquele ano, num acréscimo de
7,9% frente a 2011. É a taxa mais
alta de homicídios desde 1980, a
qual leva em conta o crescimento
da população, que também aumen-
tou 7%, totalizando 29 vítimas fatais
para cada 100 mil habitantes.
O levantamento, ainda de acor-
do com o jornal, foi baseado no
Sistema de Informações de
Mortalidade (SIM), do Ministério
da Saúde, que tem como fonte os
atestados de óbito emitidos em
todo o país. O sociólogo Júlio
Jacobo Waiselfisz é o autor do
Mapa. As taxas são 50 a 100 vezes
maiores do que a de países como o
Japão. E isso marca o quanto ainda
é preciso percorrer para chegar a
uma taxa minimamente civilizada,
argumenta o sociólogo em entre-
vista para o periódico.
As estatísticas referentes a
homicídios em 2012, portanto, são
recordes dentro da série histórica
do SIM.
Mas quem são os personagens
desses números? Certamente não
são a elite brasileira. Mesmo com a
atuação de entidades defensora
dos Direitos Humanos, para se ter
uma ideia, a cada 100 mil negros,
36 morrem. Quando comparamos
com as pessoas não consideradas
negras, esse número cai para
menos da metade, 15,2. Os dados
são de um estudo do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea), baseado em números do
Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).
Então, para que servem os
Direitos Humanos?
Certamente, não foram cria-
dos para defender bandidos.
Entretanto, essa é uma ideia
altamente disseminada em
nossa sociedade, onde a violên-
cia, infelizmente, já se tornou
algo comum.
Cansada de ver a impunida-
de imperar, a população se
revolta cada vez mais. Capitão
Nascimento, personagem do
ator Wagner Moura no filme
“Tropa de Elite”, soltou uma de
suas pérolas relacionada ao
assunto. “Só que tem muito
intelectualzinho de esquerda
que ganha a vida defendendo
vagabundo com papo de Direitos
Humanos”. Bom! Não é por aí.
Para William Santos, presi-
dente da Comissão de Direitos
Humanos da Ordem dos
Advogados do Brasil em Minas
Gerais (OAB-MG), “a questão
dos Direitos Humanos é muito
mais universal. Em nosso
país, por exemplo, é uma
questão nova, só existe de
1988 pra cá. Muitas coisas
precisam avançar”.
Para Santos, a justificativa
para a justiça com as próprias
mãos é a impunidade. “Isso
leva as pessoas a crerem que
outros têm muito mais direitos
do que os cidadãos comuns. Na
verdade, é uma fala distorcida,
preconceituosa. Quem não pre-
cisa de Direitos Humanos é que
fala isso”, observa.
Maria do Rosário de Oliveira,
advogada do Centro Nacional
de Defesa dos Direitos
Humanos da População em
Situação de Rua e Catadores de
Material Reciclável, também
lamenta a opinião preconceitu-
osa das pessoas. “É preocupan-
te. Isso revela um total desco-
nhecimento acerca do tema e
uma demanda necessária e
urgente a ser trabalhada nas
escolas e em todos os espaços
de formação, na mídia, que é
formadora de opinião. Mudar
essa visão é uma responsabili-
dade do Estado”, frisa.
Questão mais ampla
28. Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
PÁgiNa 28
Declaração universal
dos Direitos
humanos
Proclamada e adotada pela reso-
lução 217 A, pela Assembleia Geral
das Nações unidas, em 10 de
Dezembro de 1948, nela, todos os
membros da família têm direitos
iguais e inalienáveis. Fundamenta-
se na liberdade, justiça e paz no
mundo. Seu principal objetivo é
promover o respeito através do ensi-
no e da educação.
Além disso, segundo a
Declaração, todas as pessoas nas-
cem livres e iguais em dignidade e
direitos. Elas devem agir com
honestidade perante seus seme-
lhantes. E não existe distinção de
cor, sexo, raça, língua, religião, opi-
nião política ou classe social. todos
são iguais, mantendo assim seu
contexto de liberdade igualitária.
Apesar de os Direitos Humanos
existirem há pelo menos 65 anos,
no Brasil ainda é novo. No entanto,
seus preceitos são uma questão uni-
versal e têm relação com nossa
última Constituição, em vigor desde
1988. “Aqueles dispositivos conti-
dos no artigo 5º da Constituição,
dos Direitos e Garantias individuais
e Coletivos, são uma cópia dos 30
artigos da Declaração universal dos
Direitos Humanos, elaborada pela
ONu”, segundo o presidente da
Comissão de Direitos Humanos da
OAB-MG, Wiliam Santos.
“O Brasil é signatário desde
1948 e de diversos tratados e con-
venções acerca do tema. A atual
Constituição materializou o assun-
to, sobretudo nos seus artigos 5º e
6º. Quando pensamos nesses
direitos, pensamos nos elementa-
res e fundamentais, como: mora-
dia, saúde, educação, lazer, traba-
lho, liberdade de ir e vir, garantia
da integridade física... Sem esque-
cer que o respeito à dignidade da
pessoa humana é fundamento da
república Federativa do Brasil,
assegurado em seu artigo 1º”,
observa a advogada Maria do
Rosário de Oliveira.
Mas há aqueles que acham
que Direitos Humanos é para
proteger criminosos, e os argu-
mentos para isso são muitos.
As redes sociais, por exemplo,
constituem um dos principais
territórios de difamação das
leis de proteção às pessoas.
revolta
Estamos falando de uma
das maiores discussões atuais
da sociedade brasileira: deve-se
ou não reduzir a maioridade
penal para 16 anos? Seria essa
uma solução? Quando pergun-
tamos a especialistas e pessoas
envolvidas na área, a resposta é
sempre negativa:
— As cadeias não são sím-
bolo de recuperação e dignifi-
cação de infratores, mas, sim,
escolas do crime, onde seres
humanos são expostos a situa-
ções degradantes e insalubres.
Desta forma, colocar jovens
num sistema prisional falido
seria apenas qualificar novos
adultos na prática de crimes,
opina a advogada Joyce Ferreira
de Freitas.
— Se resolvesse, seria a sal-
vação do Brasil. Mas pensemos
em um exemplo: um menor de
16 anos que rouba uma bala, e
um outro que comete latrocínio
(roubo seguido de morte), terão
pela justiça o mesmo tratamen-
to. isso é ilegal, imoral, uma
injustiça”, posiciona-se Santos.
Santos explica que um dos
problemas na questão da
maioridade penal no Brasil é a
utilização dos menores de
idade como uma espécie de
“escudo” para os mais velhos.
“Na verdade, quem está por
trás disso são maiores de
idade, que utilizam os meno-
res para puxarem para si a
culpa de crimes para ficarem
isentos, pegando pena menor.
Não acredito que somente o
endurecimento da lei vá apa-
ziguar ou pacificar a socieda-
de”, observa.
maioridade penal
29. Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
PÁgiNa 29
também é dever do Estado
amparar as pessoas que vivem nas
ruas, conforme explica a advogada
Maria do Rosário de Oliveira. “O
Brasil hoje conta com uma política
nacional para a população em situ-
ação de rua, regulamentada pelo
Decreto Federal número 7.053, de
2009. Ela traz diretrizes gerais a
serem observadas pelos Estados e
Municípios e vem na linha de
assegurar a dignidade dessas pes-
soas, combater as violências come-
tidas contra elas e garantir o aces-
so às Políticas Públicas, sobretudo
as essenciais e de emergência,
como moradia, saúde, proteção,
educação e alimentação”.
uma pesquisa realizada pelo
Ministério do Desenvolvimento
Social em 71 municípios do Brasil,
incluindo capitais e cidades com
mais de 300 mil habitantes, evi-
denciou a presença de quase 32
mil pessoas adultas em situação de
rua, deixando de fora cidades como
Belo Horizonte, São Paulo, Porto
Alegre e Recife. “Como pode-se
perceber, as pesquisas sobre a con-
tabilização da população em situa-
ção de rua ainda possuem fragili-
dades (pelos recortes realizados) e
são realizadas de maneira frag-
mentada. Elas indicam a impor-
tância da contabilização desse
grupo populacional”, avalia a advo-
Aqueles que cometem gran-
des crimes, cujas penas podem
ultrapassar a pena máxima,
merecem ou não pagar da forma
mais dura possível?
Apesar de ser um desejo de
parte da população, como um
espelho da revolta existente na
atualidade, a pena de morte não
é possível do ponto de vista legal,
segundoosespecialistas.Existem
artigos na Constituição Federal
que impedem a execução até de
emendas constitucionais, ou
seja, não podem ser alteradas:
são as chamadas Cláusulas
Pétreas. Exemplos são as ques-
tões de soberania, democracia e
direito à vida, esta última encon-
trada no art. 5º.
Segundo Santos, isso não
solucionaria o problema. “É um
princípio que não pode nem ser
passível de emenda e não vai
resolver o problema da criminali-
dade. Até porque, se acontecer, o
mais prejudicado será aquele que
sempre ficou à margem da lei,
aquele que nunca teve direito a
uma defesa decente”, analisa.
É importante lembrar que o
Brasil já adotou a pena de morte,
como no caso de tiradentes,
enforcado em 1792. “Não é um
processo que trará benefício,
porque só pobre e preto vão mor-
rer, pode ter certeza”, reforça
Santos, caso o país adotasse
medidas como essa.
pena de morte
moradores de rua
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Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
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“tinha BeBiDo um pouco e Bati”...
O drama de quem já sofreu acidente de trânsito. Para aqueles
que conseguiram sobreviver, os traumas causam impactos psicológicos
e até na vida social. E as leis criadas para conter os
desastres automobilísticos parecem inócuas
trÂNsito
Por ana luiza gonçalves, ana Paula
Moreira e João Marcelo Drumond
As estradas de Minas Gerais há
tempos preocupam motoristas de
todo o país que por elas precisam
trafegar. Frequentemente são noti-
ciados acidentes, e, muitos deles,
quando não acontecem mortes,
provocam sequelas graves nas víti-
mas. A BR-381, por exemplo, é
considerada uma das vias com
maior ocorrência de acidentes no
Brasil, segundo as autoridades de
trânsito. Em 2011, por exemplo, as
colisões frontais e transversais
somaram 70 das 115 vítimas regis-
tradas nas estradas, conforme
levantamento realizado pelo
Departamento Nacional de
infraestrutura de transportes
(Dnit), garantindo ao trecho entre
Belo Horizonte e João Monlevade,
portanto, o simpático apelido de
“Rodovia da Morte”.
Segundo pesquisas realizadas
pelo Mapa da Violência, do Centro
Brasileiro de Estudos latino-
Americanos, no Brasil as principais
causas de acidentes relacionam-se
à mistura de álcool e volante, e o
excesso de velocidade. Ainda,
segundo o Mapa, os casos vêm
aumentando nos últimos anos e a
inércia das autoridades fragiliza
cada vez mais o sistema de trânsito
no país.
As iniciativas dos governantes,
conforme a Socióloga Miriam de
Alcântara, são ineficientes e pouco
contribuem com a diminuição dos
acidentes. “Fazer algo para a
melhoria do trânsito é algo bem
caro e traz ‘prejuízos’ políticos para
os interesses individuais dos pode-
rosos. O estado não faz nada e a
população está cada vez mais alie-
nada diante da situação”, critica.
A executiva luciana Bastos
conhece bem o que é sofrer um
acidente grave: “Eu era recepcio-
nista e, no retorno para casa, dormi
no volante. tinha bebido um pouco
e bati no ônibus”, confessa. Somado
a isso, ela lamenta a questão do
socorro no momento da batida.
— O grande problema do aci-
dente foi que o motorista, por mais
que não estivesse errado, deveria
ter parado para me socorrer, e isso
não aconteceu”.
Segundo a psicóloga e professo-
ra Sylvia Flores, o acidente, além
de afetar o estado físico do indiví-
duo, pode alterar o quadro psicoló-
gico da pessoa, provocando uma
série de consequências na vida
social. Ela observa que os aciden-
tes estão para além de qualquer
tipo de violência física ao indiví-
duo. “Os traumas físicos são evi-
dentes e podem, sim, ser para a
vida toda. Mas o trauma psicológi-
co afeta diretamente a vida da pes-
soa em sociedade, sua socialização
e adaptação ficam comprometi-
das”.
Ainda, segundo a psicóloga, “o
problema começa na educação das
pessoas ou na falta dela, não pode-
mos fazer do jeito que queremos no
trânsito. Políticas públicas podem
produzir conscientização desde a
infância”, analisa.
31. Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
PÁgiNa 31
críticas
A maioria das críticas das víti-
mas é direcionada ao governo,
responsável pela manutenção,
equilíbrio e funcionamento das
estradas. O advogado leandro
Augusto Deodato sofreu um aci-
dente na marginal do Anel
Rodoviário, em Belo Horizonte,
quando, em uma descida, não
conseguiu parar, e bateu em um
outro veículo. “Foi um grande
susto. Só percebemos que a situa-
ção era crítica quando ela, de fato,
aconteceu com a gente”, lembra.
Para o advogado, a qualificação
dos motoristas e a manutenção das
pistas devem ser medidas imediatas.
Em 2000 entrou em vigor o
Novo Código Brasileiro de
trânsito, obrigando, por exemplo,
o uso do cinto de segurança, apa-
rato até então não utilizado pelos
motoristas. Agora, existe a famosa
lei Seca (11.705), medida das
autoridades para evitar o número
de acidentes devido ao consumo
de álcool. Mas parece que não
está sendo o suficiente. isso por-
que a situação é de âmbito social,
conforme as vítimas.
Érica uba sofreu a violência
do trânsito e compartilha o drama
vivido, após acidente autobílistico
no Anel Rodoviario, em 2004.
Segundo ela, uma carreta com
mais de 25 toneladas de minério
de ferro estava desgovernada e
colidiu com seu automovel e em
mais 11 veículos, em um mons-
truoso engavetamento. Ela foi
arremessada contra o carro da
frente e a mureta que divide as
pistas, lembra emocionada a
cena.
— Meu carro subiu à mureta,
percorreu cerca de 100m, derrubou
dois postes e capotou na contra-
mão, parando de cabeça pra baixo.
Por quase dois meses, a vítima
conviveu com o pavor do cheiro
de combustível; além disso, por
muito tempo, ela teve pânico de
parar em semáforos ou qualquer
situação em que possa ocasionar
uma batida traseira. Com o passar
do tempo, o medo foi reduzido,
contudo, diante de qualquer con-
gestionamento, Érica fica apreen-
siva. Então, evita ser o ultimo
carro. “O Brasil inteiro precisa
dessa concientizção. temo pelo
trânsito de todo o país, viajo muito
a trabalho e, infelizmente, as pes-
soas se comportam como se esti-
vessem competindo”.
Érica ressalta ainda que o Anel
Rodoviário é um trecho bastante
perigoso, pois as carretas e cami-
nhões simplesmente ignoram a
presença dos veículos menores, e
afirma ser uma grande defensora
do transporte ferroviário.
Érica fez algumas seções com
um psicólogo com o objetivo de
voltar a dirigir normalmente, já
que trabalha como representante
comercial e necessita dirigir para
trabalhar. As seções ajudaram a
externar o medo.
A representante comercial
acredita que a diminuição de veí-
culos de carga seria um grande
avanço, para diminuir os índices
de acidentes; além disso, para ela,
é preciso novas estradas e siste-
mas mais eficientes de controle
de velocidade.
32. Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
PÁgiNa 32
ElE nãO é
O CulPaDO
O cão é apenas um hospedeiro da leishmaniose: entretanto, é o mais injustiçado.
Mesmo que todos fossem extintos, o problema continuaria existindo...
saÚde
Apesar de existir há mais de um
século, a leishmaniose ainda é pouco
conhecida e assustadora. A doença
atinge não só os cães, mas também os
seres humanos e assusta, muito divi-
do à falta de informação. O que mui-
tas pessoas não sabem é que ela não
é contagiosa e, sim, infecciosa. Além
disso, um cão que possui o parasita,
mas não apresenta sintomas clínicos,
não é um animal doente, é apenas
um portador do protozoário.
O Brasil, juntamente com a
Espanha, possui os melhores profis-
sionais em relação a estudos sobre a
doença, prevenção e tratamento.
Apesar disso, é o único país que usa a
política da eliminação do hospedeiro,
não a do transmissor.
A fim de encontrar animais conta-
minados, os centros de zoonoses rea-
lizam visitas para fazer testes de san-
gue, os quais detectam apenas se o
animal é portador do protozoário ou
não. Em casos positivos, o governo
incentiva os proprietários a encami-
nharem os animais para a eutanásia,
ao invés de estimular o tratamento.
Em países desenvolvidos, é proibido,
por lei, a eutanásia, como forma de
controle da epidemia.
Belo Horizonte é a capital com
maior índice de mortalidade em
função da doença. Ela chega a 12%,
enquanto a média nacional é de
6%. Em função disso, pesquisado-
res da universidade Federal de
Minas Gerais (uFMG) estão cami-
nhando para desenvolver uma vaci-
na contra a leishmaniose, para o
homem. A previsão é de que até
2015 os testes já estejam concluídos
e, futuramente, a vacina poderá
circular no mercado.
TRanSMiSSãO
Ocorre por meio da picada de
insetos hematófagos — aqueles que
se alimentam de sangue — conheci-
dos como flebótomos.
Os parasitas vivem e se multipli-
cam no interior das células que fazem
parte do sistema de defesa do indiví-
duo, chamadas macrófagos. Os
nomes dos insetos transmissores
variam de acordo com a região, e os
mais populares são: mosquito palha,
birigui, cangalhinha e palhinha.
Hoje já existem mais de vinte
espécies de parasitas. Além dos cães,
a enfermidade ataca animais silves-
tres e urbanos; entretanto, é impres-
cindível ter consciência de que eles
não transmitem a doença. A contami-
nação ocorre apenas pela picada do
inseto que estiver infectado.
A leishmaniose também pode
atacar os humanos. Nesse caso, a
contaminação e a transmissão se
assemelham à dos animal, pois
ambas só acontecem através da
picada do mosquito. Ela pode se
desenvolver de duas formas: a pri-
meira é a leishmaniose tegumentar
que caracteriza-se por feridas na
33. Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
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pele, localizadas na maioria das
vezes nas partes descobertas do
corpo. tardiamente, podem surgir
feridas nas mucosas do nariz, na
boca e na garganta. Essa forma de
leishmaniose é conhecida como
“ferida brava”. A outra é a leishma-
niose visceral, uma doença sistêmi-
ca, pois acomete vários órgãos inter-
nos, principalmente o fígado, o baço
e a medula óssea, mas também
pode atacar a pele, que é a maior
víscera do corpo. Esse tipo acomete
principalmente crianças de até dez
anos. Após essa idade torna-se
menos frequente. Ela é uma doença
de evolução longa, podendo durar
alguns meses ou até ultrapassar o
período de um ano.
Vale lembrar mais uma vez que
leishmaniose não é contagiosa e
que só a contrai quem for picado
pelo transmissor.
“Quando recebi o resultado do
exame da minha Nina, fiquei deses-
perada e só pensava como isso acon-
teceu se ela estava tão saudável e sem
nada que apontasse estar doente”,
conta a cabeleireira e maquiadora
ivana luzia Fernandes. Muitas vezes
a doença passa sem ser percebida,
pelo fato de os sinais serem assinto-
máticos em 60% dos casos. Já em
outros casos, eles só começam a apa-
recer quando a leishmaniose já está
avançada. Quando existe sintomas,
os mais comuns são feridas em torno
do focinho e da orelha, unhas cres-
cendo em excesso, perda de apetite
e queda dos pelos. Além disso, o
animal pode apresentar secreção nos
olhos, emagrecimento, fraqueza e
desânimo. É importantíssimo acen-
tuar que um animal pode apresentar
um desses sintomas, mas não estar
doente.
inevitavelmente, ao receber o
resultado positivo pela zoonose, a
primeira reação é um choque por
parte da família, e a atitude ime-
diata vai depender do valor que o
cão tem para ela. Posteriormente,
serão analisados outros fatores
como a vontade do dono de tratar
ou não, o estado físico em que o
animal e seus donos se encontram
e, principalmente, se os mesmos
possuem o conhecimento do trata-
mento, porque se depender dos
órgãos públicos responsáveis, o
animal é imediatamente levado
para ser sacrificado.
“Nossa rotina em casa segue a
mesma. Muito amor e brincadeiras.
Não sinto medo dela, só sentiria a
pior das criaturas se não tentasse
fazer nada por ela, e a entregasse à
própria sorte”, diz ivana. Entretanto,
a condição financeira é quem pode-
rá definir o que será feito futura-
mente. Segundo o médico veteri-
nário Marcelo Jácome, dificilmen-
te se pode estimar um valor exato
para o tratamento, pois cada caso é
um caso. Os custos vão depender
muito da saúde, peso e idade do
animal, e se outras infecções se
fazem presentes.
A aposentada Maria das Graças
Amaro da Fonseca possui três cães.
um deles é a Belinha, de sete
anos, que há um ano e meio vive
com a leishmaniose. Segundo dona
Maria, seu dia-a-dia nunca deixou
de ser normal. O que mudou foi a
frequência das idas ao veterinário.
Agora é no mínimo mensal. Ela
conta, ainda, que o preço dos medi-
camentos não fugiram do seu orça-
mento, e que ela paga por cada
remédio cerca de R$ 30,00.
“um fator grave e que acontece
muito, é o fato de o exame ser só
uma triagem e mostrar se o animal
teve contato com o protozoário ou
não, havendo, assim, falsos positi-
vos em grandes números”, relata o
veterinário. Para resultados mais
precisos, segundo ele, é necessário
um acompanhamento dos animais
para a confirmação do diagnóstico.
Vale frisar que existe um trata-
mento com medicações veteriná-
rias de uso oral, e hoje no mercado
há uma vacina que garante 98% de
proteção, por isso ela é muito reco-
mendada. Entretanto, não há dis-
tribuição gratuita pelo Ministério
da Saúde e o preço atual gira em
torno de R$ 95,00 por dose, sendo
que são necessárias três.
Associadas à vacina é aconselhável
utilizar outras formas de preven-
ção, sendo uma das principais a
coleira repelente para combater o
inseto vetor.
“Hoje estamos bem, amanhã só
Deus sabe. Sei dos meus deveres,
mas conheço também meus direi-
tos. temos, por lei, direito garanti-
do de tratar nossos amados e que-
ridos cães. Nunca abandone seu
amigo nesta hora”, desabafa ivana.
“Quando recebi o
resultado do exame
da minha Nina,
fiquei desesperada e
só pensava como
isso aconteceu se ela
estava tão saudável
e sem nada que
apontasse estar
doente”
Fotos arquivos pessoais
34. Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
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ExPRESSãO E SEnSibiliDaDE
nO OlhaR
Além da técnica e da
tecnologia utilizadas
atualmente, a
fotografia também é
considerada uma
arte. É por meio
dela que momentos
únicos podem ser
eternizados no
tempo
Cultura
35. Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
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Por Camila Chagas, Jéssica Rayanne e
Raquel Durães
As cenas captadas no momento
ideal faz toda diferença para as foto-
grafias. Isso porque elas trazem à
tona lembranças de um tempo que
não volta mais. A saudade de épo-
cas passadas, das pessoas que parti-
ram e de tantos outros momentos
inesquecíveis são algo presentifica-
do nelas. Mais do que uma simples
imagem fixada no papel, o que
parece importar mais na fotografia
é o sentimento que ela desperta em
quem as vê.
Por meio das lentes das câmeras
da máquina junto à sensibilidade do
olhar de um fotógrafo, a fotografia
permite a captação de imagens his-
tóricas que, como diz o velho ditado
popular, valem mais que mil pala-
vras. Mesmo sem conhecer o con-
texto social que as cercam, o fato é
que podemos sentir todo o seu
conteúdo expressivo. Sim! Sentir.
“A Menina Afegã” de Steve McCurry,
por exemplo, fotografada em 1984,
pode ser considerada uma das mais
belas e expressivas da história.
Imagens emblemáticas
Além da foto de McCurry, outras
imagens também estão no topo das
que retratam fortes sentimentos e
realidades sociais. Independente da
época em que foram feitas, as foto-
grafias sempre causam impacto em
que as vê. Fotógrafa e jornalista,
Januária Vargas ressalta as emoções
que as imagens podem passar.
— Essas fotos carregam múlti-
plos sentimentos e não foi por acaso
que foram premiadas e destacadas
no mundo. Mesmo sendo fotogra-
fias antigas, elas nunca foram
esquecidas, pois marcaram um
período que significou muito para a
história da humanidade, da vivên-
cia dos retratados ou de um povo
específico.
Já para Tibério França, estudio-
so e crítico de fotografia, é preciso
destacar ainda mais a atemporali-
dade dessa forma artística.
— A fotografia é uma linguagem
universal e atemporal. A dignidade
humana é algo que percebemos, ou
não, nas imagens, independente do
período em que foi feita, ou em
alguns casos, exatamente por isso.
Sendo assim, as fotos merecem
ser analisadas e contempladas de
forma profunda e com olhar crítico,
pois expressam os extremos, em
todos os sentidos.
Guto Muniz, fotógrafo e profes-
sor do Centro Universitário Newton
Paiva, explica:
— De formas distintas, elas são
muito fortes. As fotografias têm
impactos diferentes, mas todas têm
uma carga emocional intensa. As
imagens ainda causam diversas
reflexões, porque as histórias se
repetem. A guerra do Vietnã, por
exemplo, passou, mas as guerras
permanecem, As crianças continu-
am sofrendo do mesmo jeito. Todos
os momentos continuam da mesma
forma.
Sharbat Gula foi fotografada
aos doze anos pelo fotógrafo
Steve McCurry, em junho de
1984, no acampamento de refu-
giados Nasir Bagh, no Paquistão,
durante a guerra contra a inva-
são soviética. Sua imagem foi
publicada na capa da National
Geographic em junho de 1985 e,
devido à expressividade de seu
rosto e dos belos olhos verdes
carregados de medo, a capa se
transformou numa das mais
famosas da revista e do mundo.
Guto reconhece que essa é uma
fotografia que mais lhe chama
atenção.
— A expressividade do olhar
da garota é muito impactante.
Parece que ela conta toda sua
história de vida e submissão só
com o olhar. A impressão é que
ela finalmente mostrou o rosto
para revelar isso para as pesso-
as. Como falam os olhos dessa
menina!
Durante 17 anos, Steve
McCurry realizou uma busca
pela garota e, em janeiro de
2002, achou a menina e pôde
saber seu nome. Já uma mulher
de 30 anos, Sharbat Gula vive
numa aldeia distante do
Afeganistão. É uma mulher tra-
dicional pastún, casada e mãe de
três filhos.
Reflexos da alma
“A expressividade
do olhar da garota
é muito
impactante. Parece
que ela conta toda
sua história de
vida e submissão
só com o olhar”
36. Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
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A Menina do Vietnã
Em 8 de junho de 1972, um
avião norte-americano bombar-
deou a população de Trang Bang
com napalm, produto inflamável
à base de gasolina gelificada. No
local estava a pequena Kim Phuc
e sua família. Com as roupas em
chamas, a menina de nove anos
corria em meio ao povo desespe-
rada e, no momento em que suas
roupas haviam sido consumidas,
o fotógrafo Nic Ut registrou a
imagem. Ela ajudou ao mundo a
conhecer os horrores da guerra
no país asiático. E há quem diga
que ela ajudou também a pôr fim
no conflito tempos depois.
— Essa foto retrata o desespe-
ro, a tristeza e o desamparo das
crianças fugindo do bombardeio.
Sempre penso nelas sendo fruto
de algo criado pelos adultos (a
guerra), e no sofrimento no qual
elas levarão para a vida toda”,
observa Januária.
Após fotografá-la, Nic a levou a
um hospital, onde a garota ficou
internada durante 14 meses, sendo
submetida a 17 cirurgias de enxerto
de pele. Atualmente, Kim Phuc está
casada, com dois filhos e reside no
Canadá, onde preside a Fundação
Kim Phuc, dedicada a ajudar crian-
ças vítimas da guerra. Além disso,
também se tornou embaixadora da
UNESCO.
“Essa foto retrata
o desespero, a
tristeza e o
desamparo das
crianças fugindo
do bombardeio.
Sempre penso
nelas sendo fruto
de algo criado
pelos adultos
(a guerra), e no
sofrimento no
qual elas levarão
para a vida toda”
37. Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
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Um dos mais recentes trabalhos
e, provavelmente, um dos mais dis-
cutidos são as fotografias de Tuca
Vieira. A famosa foto da “Favela de
Paraisópolis” é, talvez, o registro
mais claro e preciso do contraste
social de algumas cidades do
Brasil. A foto foi feita há cerca de
dez anos para a Folha de São Paulo
e levou grande fama. Apesar disso,
em relatos no seu site pessoal, o
autor da imagem fala como se sen-
tiu menosprezado.
— Recentemente, encontrei
uma foto minha no Facebook, sem
nenhuma menção à autoria, mas
com centenas de comentários.
Ninguém ali se perguntava quem
fez a foto. [...] Ela foi feita há
cerca de dez anos e até hoje rece-
bo pedidos do mundo inteiro para
reproduzi-la em livros, revistas e
material didático. Devo muito a
ela. Projetou meu trabalho, me
deu prêmios, me levou a exposi-
ções aqui e no exterior. Mas o fato
é que a imagem me fugiu do con-
trole. Em 2007, ela foi mostrada
na Tate Modern, em Londres, em
uma exposição chamada Cidades
Globais. Era o cartaz, o convite, o
folder, o cartão-postal e até o cra-
chá da exposição, que incluía
gente como o fotógrafo alemão
Andreas Gursky. Foi quando per-
cebi que olhavam para essa foto
como se não houvesse um autor. A
foto era importante, mas eu não.
Comecei a ser apresentado como
‘Tuca, the guy who took that pic-
ture’. Não pensem que é fácil tirar
uma foto como essa. Ela faz parte
de uma série de fotos que fiz
nessa época sobre São Paulo, e
não é fruto do acaso. [...] Às vezes
essa foto me enche o saco. Tenho
projetos novos para mostrar, mas
a cena de Paraisópolis com frequ-
ência ofusca outros trabalhos.
Será que tudo mais que eu fizer
nunca vai ter a importância dessa
única foto?”, escreve em carta.
Favela de Paraisópolis “Às vezes essa
foto me enche o
saco. Tenho
projetos novos
para mostrar,
mas a cena de
Paraisópolis
com frequência
ofusca outros
trabalhos. Será
que tudo mais
que eu fizer
nunca vai ter a
importância
dessa única
foto?”
38. Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
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Em 1994, o fotógrafo Sudanês
Kevin Carter venceu o Prêmio
Pulitzer de fotojornalismo com
uma foto tomada na região de
Ayod (aldeia em Suam), que via-
jou o mundo inteiro. A figura
esquelética de uma pequena garo-
ta, totalmente desnutrida, recos-
tando-se sobre a terra, sendo
vigiada por uma criatura de bicos
pontudos, um abutre, à espera da
morte. Esta foi uma das fotografia
mais polêmicas da história, pois
mostrou um dilema constante de
muitos fotógrafos. Fazer a foto ou
ajudar a criança?
Januária explica o sentimento
que muitos profissionais da área
enfrentam diariamente:
— Nessas horas pensamos
como a profissão de fotógrafo é
dolorosa, por ter que retratar
momentos tão tristes. E, às vezes,
nos sentimos culpados por regis-
trar a cena, ao invés de ajudar as
pessoas que precisam. Pelo que já
li sobre o autor da foto, Kevin
Carter, ele cometeu suicídio.
A discussão em torno da foto foi
tão longa e séria que, de fato, qua-
tro meses depois, tomado de culpa
e dependente de drogas, Kevin
Carter suicidou-se. Os prêmios
que Carter levou pela foto e o reco-
nhecimento do seu trabalho não
foram suficientes para aliviar o
peso em não ter ajudado a criança.
— Se estivesse no lugar dele,
faria a foto. Não tenho dúvida
nenhuma em relação a isso. Acho
que seria impossível não fotografar
e não aproveitar o momento para
mostrar a realidade. O que se faz
depois da foto é outra história.
Mas acredito que, naquela situa-
ção, eu só poderia tomar medidas
paliativas, mas a morte era algo
certo, afirma Guto.
Espreitando a morte“A profissão de
fotógrafo é
dolorosa, por ter
que retratar
momentos tão
tristes. E, às
vezes, nos
sentimos
culpados por
registrar a cena,
ao invés de
ajudar as pessoas
que precisam.
Pelo que já li
sobre o autor da
foto, Kevin Carter,
ele cometeu
suicídio”
39. Revista Ágora | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
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Com o passar do tempo, os profis-
sionais e seus equipamentos fotográ-
ficos sofreram mudanças e, até hoje,
são submetidos a constantes avanços
tecnológicos. Mas, levando em conta
a afirmação de Tibério, “os meios
evoluem, mas a fotografia continua
sendo fotografia, senão vira vídeo, gif,
animação, computer graphics entre
outras modernidades”.
Devido à internet, muitas pessoas
saem da zona de conforto e buscam
seguir outras vertentes na fotografia,
sejam em cursos online, criando gru-
pos de estudos e conquistando dife-
rentes clientelas. Isso abre os hori-
zontes e amplia a área de conheci-
mento de cada um.
Entretanto, hoje em dia virou
moda qualquer pessoa se autono-
mear fotógrafo, apenas por ter equi-
pamento profissional. Mas, será que
no meio dessa multidão de fotógra-
fos existem aqueles que ainda tra-
balham com a sensibilidade do
olhar? “Com certeza podemos reco-
nhecer as pessoas que exercem a
profissão por amor, não somente
por dinheiro ou status. Algumas,
mesmo sem ter um bom equipa-
mento, conseguem fazer imagens
surpreendentes e repletas de senti-
mentos. E há pessoas com uma
megaestrutura que fazem fotos
superficiais”, afirma Januária.
Apesar de existirem fotógrafos e
‘fotógrafos’, Tibério também pontua a
importância de bons equipamentos.
“Fotografia trata de representação;
portanto, um bom fotógrafo é aquele
capaz de transmitir a mensagem do
evento naquele momento histórico, e
o equipamento pode ajudar, sendo
ele um iPhone ou uma Hasselblad,
depende de cada caso. O que faz um
bom fotógrafo é o uso que ele faz do
produto de seu trabalho, onde e
quando ele aparece”.
Fotógrafos e “fotógrafos”
“Devido à facilidade da manipulação, os aparelhos
parecem funcionar em função do homem. Devido à sua
complexidade, parece que o homem funciona em função
dos aparelhos. Na realidade, homem e aparelho se
coimplicam, e vão formar um amarrado de
funcionamento: a máquina funciona em função do
fotógrafo, se, e somente se, este funcionar em função
da máquina”. (Flusser, 1982)
40. Revista ÁgoRa | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 1O
SEMESTRE 2014
PÁgiNa 40
seriáticos, com muito orgulho
As séries norte-americanas evidenciam a potência da
indústria cinematográfica dos Estados Unidos; no Brasil,
elas conquistam cada vez mais telespectadores
Cultura
Por Daniel Reis, Pâmela Matos e
Shirlei Rossana
— Você viu o último episódio de
Game Of Thrones?
— Menina, nem te conto que o
David Clarke está vivo!
Essas são conversas típicas a res-
peito das séries, em rodas de amigos,
na escola ou no trabalho. Produtos
culturais com forte impacto social,
elas atingem públicos distintos no
mundo inteiro e, muitas vezes, refle-
tem a realidade política, social, eco-
nômica e ideológica das pessoas.
São mais de 140 produções na
ativa, sem contar as reprises.
Os aficionados, conhecidos como
seriáticos, evidencia o boom entre
pessoas, por mexer com a cabeça de
jovens e adultos, devido às tramas
bem elaboradas e personagens envol-
ventes. Em praticamente todos os
lugares há alguém comentando ou,
sem querer, soltando algum spoiler,
ou seja, revelações do enredo. São
inúmeras as páginas em redes sociais
dedicadas às séries e, constantemen-
te, os personagens viram assuntos
mais comentados no twitter.
FEbRE
As séries norte-americanas come-
çaram a fazer sucesso há várias déca-
das, graças a “SOS Malibu”, “Starsky
e Hutch”, “Dallas” entre outras.
Depois de uma aparente queda no
consumo desses produtos,
“Supernatural” parece ter impulsio-
nado novamente a trilha de sucesso
das produções de séries. Com a
estrondosa repercussão na mídia, a
narrativa dos irmãos caçadores de
demônios ganhou espaço no SBt.
Na Record, “CSi” coleciona fãs de
todas as idades, quebrando, inclusive,
paradigmas a respeito do que se pas-
sava no horário nobre da televisão
brasileira.
Mas por que assistir série virou
“febre” entre os brasileiros?
— Acho que o brasileiro sempre
foi muito ligado em televisão, e a
diversidade que as séries trouxeram
só fez aumentar essa paixão em ter
alguma história para acompanhar. É
maravilhoso comentar com o amigo o
episódio que acabou de assistir, expli-
ca a seriática Ana Souza.
— Existem muitas séries, para
todos os gostos, sempre tem um
assunto que vai agradar a algum
público. Elas também acompanham
o crescimento e a vida de muitas pes-
soas, passam a fazer parte de suas
rotinas e estão sempre nos tópicos de
conversa com os amigos, fazendo
com que a identificação seja muito
maior, observa Stephanie Alípio, tam-
bém apaixonada por séries.
lost é a série de Tv mais assistida no
brasil.
a série televisiva mais assistida de
todos os tempos foi baywatch, de acordo
com o livro dos recordes. Ela, que ficou
conhecida no brasil como S.O.S. Malibu, foi
ao ar entre os anos de 1989 e 2001 e, segun-
do o guinness, chegou a ser assistida por
cerca de 1,1 bilhão de pessoas por semana
em mais de 140 países. O único continente
para onde baywatch não foi transmitida foi
a antártida. Para quem não se lembra, esse
foi o seriado que imortalizou a atriz Pamela
anderson como a sexy salva-vidas C.J.
Parker. a série se passava nas praias da
Califórnia e teve 11 temporadas.
CuRiOSiDaDES