SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 9
Descargar para leer sin conexión
CONHEÇA A HISTÓRIA DE ALGUMAS MULHERES QUE
TRANSFORMARAM SUAS VIDAS POR MEIO DE POLÍTICAS
PÚBLICAS E MOSTRAM A FORÇA FEMININA QUE VEM DO CAMPO
Esta é a nossa luta
A FETAEP desenvolveu esta cartilha com o objetivo de apresentar os importantes
resultados da participação das mulheres na ação sindical, criando, adequando
e melhorando políticas públicas específicas para mulheres, de forma que pu-
dessem atender às necessidades das famílias
e à inclusão da mulher na produção de alimen-
tos e na gestão das propriedades familiares.
Sempre tivemos o compromisso de fazer essa
discussão dentro de casa, na ação sindical, na
Federação, nos sindicatos, sem esquecer da
organização e do cuidado com a produção de
alimentos, com o desenvolvimento da produ-
ção orgânica e agroecológica, a organização
em associações e cooperativas, além da forma
como os produtos chegam ao mercado, carre-
gando as características de qualidade e tradição
da agricultura familiar. Esperamos que vocês
gostem da leitura e que as histórias inspirem
outras mulheres e jovens a desenvolverem seus
projetos, a se espelharem no que essas mulhe-
res e lideranças do nosso movimento sindical
já fazem com sucesso. Boa leitura!
Marcos Brambilla, presidente da FETAEP
Expediente
Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores Familiares do Paraná (FETAEP)
Diretoria executiva: Marcos Junior Brambilla (presidente), Ivone Francisca de Souza (1ª
vice-presidente e secretária de Mulheres e Políticas Sociais), José Amauri Denck
(secretário de Finanças, Administração e Formação) e Alexandre Leal dos Santos
(secretário-geral e secretário de Juventude, Política Agrária e Meio Ambiente).
Organização: Maristânia Szulak Ize (assessora da secretaria de Mulheres e Políticas
Sociais), Vilênia Venâncio Porto Aguiar (assessora da CONTAG) e Larissa Jedyn
(jornalista).
Projeto gráfico: Pixsul Studio. Impressão: Gráfica Graciosa. Tiragem: 10 mil. Ano: 2023.
FETAEP – Rua Piquiri, 890, Rebouças, Curitiba/PR, CEP 80230-140, (41) 3149-9200 / (41)
3322-8711 – www.fetaep.org.br – fetaep@fetaep.org.br
É com muito orgulho que trazemos, nesta cartilha de mulheres realizada pela
FETAEP, em parceria com o SENAR Paraná, a história de mulheres rurais, que
transformaram suas realidades, acessando políticas públicas, inovando e bus-
cando direitos conquistados por meio das lutas do sistema CONTAG - Confede-
ração, Federação e Sindicatos de Trabalhadores
e Agricultores Familiares, ao longo dos seus
mais de 60 anos em defesa de mulheres ho-
mens jovens e pessoas de terceira idade do
campo. Apesar da nossa importância para a
produção e da nossa contribuição para o cres-
cimento do país, ainda nos dias de hoje esse
trabalho é invisibilizado. Nossos direitos foram
conquistados em décadas de luta em defesa
da saúde pública, da educação de qualidade,
da segurança e da previdência. Nosso desafio
imediato é construir uma grandiosa Marcha
das Margaridas para fortalecer, implementar e
garantir esses direitos não só para as mulheres
rurais, mas a todas que enfrentam uma socie-
dade injusta e desigual. Boa leitura e espera-
mos que os exemplos dessas mulheres sirvam
de inspiração.
Ivone Francisca de Souza,
secretária de Mulheres da FETAEP
Inspiração e empoderamento
A história
das mulheres
no MSTTR
NA LINHA DO TEMPO,
LUTAS POR DIREITOS
BÁSICOS E POR
REPRESENTATIVIDADE
NO CAMPO
As mulheres agricultoras familiares
reafirmam seu modo de vida e so-
mam força na construção de um Brasil
soberano, agroecológico, democráti-
co, justo, igualitário e livre de violên-
cia. Responsáveis pela produção de
alimentos saudáveis, pela comida de
verdade que alimenta as suas famílias
e comunidades, e garante a seguran-
ça alimentar, essas mulheres alimen-
tam a luta para garantir a sustentabi-
lidade da vida. O caminho nunca foi
fácil, mas as mulheres agricultoras e
trabalhadoras rurais se posicionam,
lutam e vêm conquistando espaço e
representatividade na sociedade.
Os desafios atuais enfrentados pelo
MSTTR é garantir a democracia com
igualdade e fortalecimento da parti-
cipação política das mulheres, imple-
mentando, por exemplo, a paridade
entre homens e mulheres nos cargos
de direção das instâncias sindicais.
Mas essa briga já foi por direitos ainda
mais básicos. A começar pela atuação
da trabalhadora rural alagoana Mar-
garida Alves, uma das primeiras mu-
lheres a exercer um cargo na direção
sindical do país, que esteve à frente
na luta pelos direitos básicos dos tra-
balhadores rurais, como carteira de
trabalho assinada, 13º salário, jornada
de trabalho de oito horas, férias, além
de defender o fim do trabalho infantil.
Margarida foi assassinada em 1983 e
acabou inspirando outras mulheres
a engrossarem o movimento. Na linha
do tempo a seguir, uma cronologia
significativa, em que os verbos “ali-
mentar” e “florescer” reforçam o sen-
tido da luta.
• 1985 – O debate
sobre a participação
das mulheres no MSTTR
ganhou peso no 4º
Congresso Nacional dos
Trabalhadores Rurais,
que contou com 3% de
participação das
mulheres
• 1988 – Na nova
Constituição Federal, a
mulher trabalhadora
rural passou a ter
direito à propriedade, a
ter direito ao título de
domínio e a concessão
de uso da terra,
independentemente de
seu estado civil, além
de passar a ter direito
ao benefício da
previdência (inclusive
auxilio maternidade),
tanto na área urbana
como a rural
• 1989 – As
trabalhadoras rurais da
CONTAG conquistaram
a criação da Comissão
Nacional Provisória da
Trabalhadora Rural
• 1990 – A organização
das mulheres do
campo, das florestas e
das águas foi ampliado
para níveis municipais
e estaduais
• 1998 – O 7º
Congresso Nacional
dos Trabalhadores
Rurais acrescentou um
T de Trabalhadoras
em sua sigla CNTTR,
aprovou a política
afirmativa de cota de
no mínimo 30% de
mulheres na executiva
da CONTAG e teve a
participação histórica
de 42% de mulheres
na delegação
• 2000 – A Marcha das
Margaridas contra a
fome, a pobreza e a
violência sexista reuniu
mais de 20 mil
mulheres e foi o marco
do crescimento do
protagonismo político
das mulheres. Em 2003,
o movimento reuniu 40
mil mulheres, em 2007
foram 70 mil e, nas
edições de 2011, 2015
e 2019, mais de 100 mil
mulheres participaram
da Marcha
• 2013 –
Conquistamos a
aprovação da
paridade que
aconteceu no 11º
Congresso de
Trabalhadores e
Trabalhadoras Rurais
• 2019 – O MSTTR
conseguiu manter o
direito da mulher
rural em se aposentar
aos 55 anos de idade
e para o homem
60 anos
4 5
4 5
A FORÇA QUE VEM DAS MULHERES FETAEP
6 7
O QUE É A MARCHA DAS
MARGARIDAS?
É uma ampla ação estratégica das mu-
lheres do campo, da floresta e das
águas para conquistar visibilidade, re-
conhecimento social, político e cidada-
nia plena. A Marcha se constrói a partir
de amplo processo formativo, de deba-
te, ação política e mobilização, desen-
volvido pelas mulheres desde suas co-
munidades, municípios e estados, até
chegar às ruas da capital do País.
Coordenada pela CONTAG, suas 27 Fe-
derações e mais de 4 mil Sindicatos fili-
ados, a Marcha das Margaridas se cons-
trói em parceria com os movimentos de
mulheres trabalhadoras, centrais sindi-
cais e organizações internacionais.
Desde o seu surgimento, no ano 2000,
a Marcha vem se construindo como a
maior e mais efetiva ação de luta das
mulheres do campo, da floresta e das
águas, contra a exploração, a dominação
e todas as formas de violência e em fa-
vor de igualdade, autonomia e liberda-
de para as mulheres.
QUEM SÃO AS MARGARIDAS?
São as mulheres trabalhadoras do cam-
po, da floresta e das águas, que em mar-
cha tecem suas experiências comuns de
vida e luta.
Quando surgiram no espaço público, as
Margaridas se afirmaram como traba-
lhadoras rurais. A partir da Marcha de
2007 passaram a se nomear “mulheres
do campo e da floresta”. Em 2015, a de-
nominação “mulheres das águas” foi in-
cluída, para afirmar a diversidade das
mulheres rurais, como agricultoras fa-
miliares, camponesas, sem-terra, acam-
padas, assentadas, assalariadas, traba-
lhadoras rurais, artesãs, extrativistas,
quebradeiras de coco, seringueiras, pes-
cadoras, ribeirinhas, quilombolas, indí-
genas e tantas outras identidades cons-
truídas no país.
Somos todas
Margaridas
O movimento sindical abraça a grande
Marcha das Margaridas, que reforça a
representatividade feminina no dia a
dia da luta, funciona como importante
instrumento de articulação política e,
sobretudo, dá voz a milhares de
mulheres que atuam na preservação
da vida, das famílias e da natureza
Quem são as nossas Margaridas
Somos muitas em solo paranaense. Na lida diária, nas agroindústrias, na
plantação, nos sindicatos, todas somos fundamentais para o crescimento do
movimento sindical, para a valorização da agricultura familiar, para os cuidados
com as famílias paranaenses. Cuidamos umas das outras e olhamos por todos,
defendendo políticas públicas justas e os nossos direitos. Aqui, relacionamos
margaridas que coordenam as nossas mulheres agricultoras familiares nos
municípios, buscam novas participantes e seguem fortes nesta luta conjunta!
Rozangela Correia
Gil, de Altônia, é
a Coordenadora
de Mulheres da
Regional 3 -
Noroeste/
Umuarama
Nelsi Bado, de
Matelândia, é a
Coordenadora de
Mulheres da
Regional 2 -
Oeste
Neusa Mariano
Gonçalves Silva,
de Jaboti, é a
Coordenadora
de Mulheres da
Regional 7 -
Norte Pioneiro
Vera Lúcia Lemes,
de Ortigueira, é a
Coordenadora de
Mulheres da
Regional 9 -
Vale do Ivaí
Cleide Libarino da
Silva, de Paraíso
do Norte,
liderança feminina
na Regional 4 -
Noroeste/
Paranavaí
Regina Lescio
Barbato, de
Moreira Sales, é
a Coordenadora
de Mulheres da
Regional 5 -
Campo Mourão
Maria de Fátima
de Carvalho, de
Arapongas, é a
Coordenadora de
Mulheres da
Regional 6 -
Norte
Helena Koop,
de São João, é
a Coordenadora
de Mulheres da
Regional 1 -
Sudoeste
Adenilda Korchak,
de Boa Ventura
de São Roque, é
a Coordenadora
de Mulheres da
Regional 8 -
Centro-Sul
Marli Catarina
Vieira da Rocha,
de Tijucas do Sul,
é a Coordenadora
de Mulheres da
Regional 10 -
Curitiba
A FORÇA QUE VEM DAS MULHERES FETAEP
8 9
O CAMPO É MINHA ESCOLA
A jovem Meiriele Ramos da Silva, 20 anos, é de Boa Ventura de São Roque e viu
sua vida mudar depois de participar de um curso de técnica em agroecologia
na Casa Familiar Rural. Dentro do conceito de pedagogia de alternância, reco-
nhecendo a identidade e realidade do campo, onde o aluno
passa uma semana aprendendo as matérias curriculares do
ensino médio e outra semana colocando em prática o que
aprendeu. Ela que ganhou terras do pai em regime de como-
dato, passou a exercitar a sucessão rural com inovação e in-
formação. Seu projeto venceu o Prêmio Novos Rurais, do Ins-
tituto Souza Cruz, e ela recebeu R$ 3.000, que investiu em
cercas, lonas, estufa, mudas melhoradas reestruturando as-
sim a propriedade. A menina que foi assentada da reforma
agrária em Novo Paraíso, ajudava em casa na lavoura que
mantinha com o pai, a mãe e dois irmãos, hoje sonha alto.
“Sou mulher, sou do campo, recebi ensinamentos que nun-
ca imaginei, aprendi a encontrar alternativas de renda den-
tro da minha atividade, a ir atrás de políticas públicas e
hoje sei que posso construir o meu futuro”, comenta.
EDUCAÇÃO EMANCIPADORA
Para Sandra Paula Bonetti, 34 anos, de São Jorge do Oeste, a educação e o
sindicalismo foram seus pontos de mudança. “Meus pais sempre participaram
da comunidade, de associações, cooperativas, eram sindicalizados desde que
Mulheres do campo que
vão para a luta
Conheça a história de mulheres que transformaram suas
vidas por meio de políticas públicas e mostram que o
sonho de uma vida feliz e próspera no campo é possível
me conheço por gente. Cresci nesse contexto, participando
dessas ações, integrando grupos de jovens. Foi aí que resolvi
estudar, cheguei a me afastar, mas entendi que a educação
e o pertencimento promovido pelo movimento sindical
eram os meus caminhos”, diz ela, que integra a diretoria
da Fetaep e, atualmente, é secretária de Meio Ambiente
da Contag.
Quando entrou na faculdade de História, na Unioeste,
entendeu o sindicalismo e o movimento sindical. Perce-
beu que queria chegar mais perto da sua realidade no
campo e pensou em cursar Agronomia e Zootecnia, mas
ainda eram teóricos demais na sua ótica. Voltou para a
comunidade, assumiu a coordenação de jovens do mu-
nicípio e descobriu a licenciatura de Educação do Campo,
na UTFPR de Dois Vizinhos. “Participei da turma piloto. O curso contemplava
Agronomia e Zootecnia, mas com um viés mais voltado à agroecologia e à
cooperativa. Eu finalmente me encontrei dentro do curso e do movimento sin-
dical, entrei como bolsista e acompanhei as escolas do campo e as escolas
familiares. Entendi que tudo começa pela educação. Existe uma Sandra antes
da universidade e outra depois. A educação no campo me deu a sensação de
pertencimento que eu buscava e por isso entendo que este é o um caminho
importante para a emancipação e para a criação da identidade”, conta.
AGROECOLOGIA É O CAMINHO
No começo dos anos 2000, a agricultora Inês Pa-
ladini, de Altônia, participou de alguns cursos so-
bre agroecologia e sobre os perigos dos defensivos
usados nas plantações – tanto para a natureza
quanto para a saúde das pessoas. Foi aí que ela
passou a migrar suas plantações para o cultivo or-
gânico. Pimenta, pó de café, algumas ervas e casca
de ovos passaram a fazer as vezes dos produtos
químicos, sua terra ficou mais saudável e a produção
até melhorou. Atualmente Inês cultiva flores, alimen-
tos e ervas, muitas delas que usa nos atendimentos
de saúde que faz na igreja do município.
A FORÇA QUE VEM DAS MULHERES FETAEP
10 11
“Eu sempre fui atrás de novidades, no Sindicato me uni às mulheres, que me
chamavam para as assembleias, reuniões, no Paraná e em Brasília, estou parti-
cipando da edição Estadual da Enfoc Mulheres e Jovens. E sempre que participo
das ações sindicais, procuro levar minha experiência e transmitir às mulheres a
importância de uma vida livre de agrotóxicos. Está nas mãos das mulheres o
cuidado, a preservação da natureza e da família”, comenta ela, que participou
da formação em Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICs) da
Contag. Quando perguntada se trocaria o campo pela cidade, responde rápido:
“Nunca. Pelo contrário, quero trazer mais gente pra cá!”, brinca.
NEGÓCIO DE FAMÍLIA
A infância de Diane Jussara Zimmermann, 40 anos, de Capitão Leônidas Marques,
foi em meio aos tachos de melado da pequena fábrica da família. A doce vida
na produção da agroindústria Biase ditou sua rotina até Diane se casar, em 2000.
Ela saiu de casa e do negócio. Dez anos depois, o pai resolveu parar e passar a
colher para os filhos. Diane, o marido e os filhos resolveram voltar para a lida.
“Meu pai sempre falava do sonho da empresa, não queria perder marca que já
estava há 38 anos no mercado. Ele sempre nos falava da importância desse
patrimônio. Eu trabalhava em outro lugar e um dia pedi um conselho à minha
ex-patroa. Ela foi mostrando que aí estava o meu futuro! Pedi a conta e assumi
tudo. Hoje eu cuido mais da par-
te financeira, o marido das ven-
das e os filhos na produção, mas
todos podem cobrir uns aos ou-
tros”, explica.
Às vezes, seus métodos e modernidades são questionadas pelo pai, mas ela vai
mostrando o seu estilo à frente dos negócios. “Sou mulher, fico agradecida por
ter esta oportunidade, mas sei das minhas responsabilidades. Aprendi muito
sozinha, só tenho o segundo grau – meu pai foi só até a quarta série. Quero
evoluir. Para mim, é uma vitória ter uma família, estar com ela e tocar um negócio
nosso. Sei que dou conta, que tenho valor, talento e muita força”, diz ela, que
sempre se aconselha no STTR do município e com o presidente de lá, o Cláudio
Zeni, que a estimula a incrementar o negócio. “Nós já fomos para Curitiba na
AgriFamiliar, fomos para a feira da agroindústria familiar no ShowRural em
Cascavel. Sempre estamos buscando oportunidades para melhorar a fábrica,
por meio de investimentos, novos pontos de venda e formas de gestão.”
LUGAR DE MULHER É ONDE ELA QUISER
Desde o tempo em que cruzava quatro quilômetros por um cafezal para ir à
escola, Izolina de Fátima Messias Vertuan, 58 anos, de Itambé, entendeu que o
seu esforço a levaria onde quisesse. Mas sempre acompanhado de esperteza,
afinal, se optasse pelo caminho tradicional, teria outros
dois ou três quilômetros pela frente. A vida a ensinou
a ter empenho e boas ideias. Quando casou com
Sérgio, por exemplo, o acompanhou na colheita de
café, mas a intuição a fez apostar numa proposta
de trabalho em uma chácara em Doutor Camargo.
"Eu disse vamos. Meu marido ficou com receio, mas
em 15 dias mudamos. Foi muito bom. Ficamos por
três anos e só voltamos porque minha sogra ficou
doente", lembra.
A vida deu outro empurrão e Izolina não demorou a
descobrir novos rumos, agora, nas feiras em Maringá.
Nesta época já eram filiados ao STTR do município e
começou a se envolver nos eventos das mulheres.
"Quando fui convidada, fiquei louca para ir, mas pergun-
tei ao meu marido para ver o que ele achava. Eu já tinha a minha resposta, o
meu desejo, ele apenas confirmou o que eu já sabia", brinca. Izolina nunca foi
mulher de ficar quieta ou de esperar pela decisão dos outros.
Assim como aderiu ao movimento sindical, divide as rédeas dos negócios com
o marido, toca suas vendas de pamonha em feiras, decide os financiamentos,
Pronaf Mulher
A inclusão de mulheres no processo produ-
tivo incrementa o empreendedorismo femi-
nino, gera renda, amplia a autonomia e o
protagonismo da mulher nas propriedades
rurais. Esta linha cobre investimentos em ati-
vidades agropecuárias e não-agropecuárias,
como artesanato, turismo rural, e produção
de alimentos processados (biscoitos, geleias,
queijos). Mesmo com características próprias,
o Pronaf Mulher tem as mesmas condições
das outras linhas do Pronaf, com relação a
taxas de juros e limites de crédito.
A FORÇA QUE VEM DAS MULHERES FETAEP
12 13
construiu uma estufa para produzir
seus morangos orgânicos, melhorou
a casa e compartilha com a família
uma vida feliz, próspera e, sobretudo,
com um importante sentimento de
pertencimento e de poder de escolha.
"Lugar de mulher é onde ela quer, não
é? Então, estou dentro. É preciso ter
coragem de lutar pelo que a gente
quer", comenta ela, enquanto chama
outras mulheres (e os homens) a tam-
bém exercitarem o empoderamento.
DE OLHO NOS DIREITOS
Cesaltina Almeida Barandas, 76 anos,
veio de São Paulo criança e mora em
São Jorge do Ivaí. Há 50 anos, mais
precisamente, na mesma casa, com o
marido Agostinho.
Os dois construíram juntos a vida na roça e de lá não pensam em sair. "Criamos
nossas filhas, temos nossos netos, nossa casa, nosso trabalho. O campo é o nosso
lar", comenta ela, dizendo que eles ainda mantêm o cultivo de milho e soja.
Segundo Cesaltina, desde que o casal se aproximou do STTR, as coisas melhoraram.
Antes, eles trabalhavam, mas não tinham noção dos direitos. "Quando conhecemos
o seu Antonio Casagrande (presidente do sindicato), ele foi nos explicando e
nos ajudou a ter acesso a muita coisa, como a aposentadoria", comenta.
"Quando chegou o tempo de a gente se aposentar, Seu Antonio já nos procurou,
trouxe os documentos, foi tudo muito fácil. Eu escutava outras pessoas falando
que o processo foi complicado, então nem imaginava que poderia contar com
o beneficio", diz.
A experiência foi tão boa, que eles acabaram se envolvendo ainda mais com as
atividades do sindicato e, a quem quiser um conselho, avisam pra abrir os olhos
para os direitos! "Temos muita gente boa lutando pelos nossos direitos. Nosso
papel é estar atento e apoiar o movimento."
Compras governamentais
• A Lei 16.751/2010 institui o aumento
gradativo da alimentação escolar orgâ-
nica até chegar em 100% em 2030 e o
Decreto Estadual 4.211/2020 realiza
sua regulamentação;
• As Compras Governamentais aumen-
taram o poder de negociação dos agri-
cultores e agricultoras familiares frente
as outras oportunidades de mercado
como feiras locais e atravessadores;
• O Edital de chamada pública poderá
classificar as propostas segundo crité-
rios de priorização para: agricultores fa-
miliares do município; grupos de mu-
lheres organizadas em associações ou
cooperativas; produção agroecológica
ou orgânica; comunidades tradicionais,
quilombolas ou indígenas; assentamen-
tos da reforma agrária. (Os grupos pri-
oritários poderão mudar, atenção sem-
pre aos grupos priorizados em cada edi-
tal vigente.)
• O encontro da alimentação escolar
com a agricultura familiar tem promo-
vido uma importante transformação na
alimentação escolar, ao permitir que
alimentos saudáveis e com vínculo re-
gional, produzidos diretamente pela
agricultura familiar, possam ser consu-
midos diariamente pelos alunos da rede
pública de todos o Brasil.
• Na maioria das propriedades, as mu-
lheres são as principais responsáveis
pelo processamento da produção, trans-
formando o alimento in natura, agre-
gando maior valor à produção.
Previdência Rural
Em 2019, o MSTTR conseguiu manter o direito da mulher rural em
se aposentar aos 55 anos de idade e para o homem 60 anos.
Benefício para a pessoa que comprove: o mínimo de 180 meses
trabalhados na atividade rural; e a idade mínima de 60 anos para
homens e 55 anos para mulheres.
Empregados, contribuintes individuais e trabalhadores avulsos rurais
também têm direito à aposentadoria com diminuição de idade, des-
de que tenham trabalhado todo o tempo na condição de trabalhador
rural. Caso não comprovem o tempo mínimo de trabalho necessário
apenas como segurado especial, o trabalhador pode somar o tempo
de trabalho urbano e pedir o benefício quando alcançar os 60 anos,
se for mulher, e os 65 anos, se for homem. Para mais informações,
procure o STTR do seu município.
A FORÇA QUE VEM DAS MULHERES FETAEP
14 15
E agora,
companheiras?
A secretária nacional de
Mulheres da Contag, Mazé
Morais, comenta os novos
desafios das mulheres do
campo e das mulheres do
movimento sindical
O nosso desafio como mulheres do movimento sindical se soma aos desafios
que, como agricultoras familiares, enfrentamos no nosso cotidiano. Nós, mulheres
da agricultura familiar, atuamos na produção de alimentos, no resgate e con-
servação das sementes, temos um papel fundamental para a sustentabilidade
da vida e para a segurança alimentar e nutricional deste país. No entanto, vivemos
as piores condições de acesso à terra, ao crédito e à assistência técnica. Além
de muitas de nós vivenciarmos diversas situações de violência.
Apesar da importância do nosso trabalho para a produção e reprodução da
vida, ele ainda é silencioso e invisível. Foi diante dessa constatação que nos
organizamos, ainda nos anos 1980, para reivindicar o nosso direito à sindicalização
e aos direitos sociais. Hoje, a expressão maior deste nosso processo de auto-
organização é sem dúvida a Marcha
das Margaridas.
Contudo, apesar de termos avançado
em nosso histórico de luta e organi-
zação e de termos obtidos muitas
conquistas, ainda nos defrontamos
com as desigualdades de gênero em
nossa vida cotidiana seja na agricul-
tura familiar, seja no espaço sindical.
Por isso, não podemos parar de mar-
char e em 2023 estaremos novamen-
te ocupando as ruas de Brasília. E esta
Marcha se revestirá de uma grande
importância, primeiro pelo momento
político em que ela ocorrerá e, depois,
porque ela nos fortalece para enfren-
tar dois grandes desafios.
Um deles é (re)conquistar direitos e
pautar políticas públicas que valorize
o nosso trabalho como agricultoras
familiares e reconheça a importância
dele para a produção de alimentos,
que reconheça que temos direito à
saúde, a educação, a cultura, ao lazer,
a uma renda e uma aposentadoria
digna. E isso é muito valoroso, prin-
cipalmente, se levarmos em conta
que nos últimos anos vivemos tem-
pos duros, de ataques brutais aos di-
reitos, de desmonte das políticas pú-
blicas para a agricultura familiar, além
de termos enfrentado uma pandemia.
O outro grande desafio é potencializar
nossa organização como mulheres
dentro do movimento sindical, para
ampliar a nossa representatividade
como agricultoras familiares. Nesse
sentido, precisamos apontar estraté-
gias para implementação da paridade
entre homens e mulheres no MSTTR,
afinal, somos uma força política sig-
nificativa, não apenas pela nossa im-
portância para a sustentabilidade po-
lítico-financeira do movimento, mas
também pelo poder de mobilização
e inserção na base sindical.
Portanto, o nosso desafio imediato,
entre tantos outros, é construir uma
grandiosa Marcha das Margaridas
para fortalecer a nossa representati-
vidade no movimento sindical, mos-
trar para a sociedade a nossa dispo-
sição em reconstruir o Brasil e uma
sociedade do bem viver.
(41) 99986-0955
(41) 3149-9200 / (41) 3322-8711
fetaep@fetaep.org.br
@fetaep
@fetaep
www.fetaep.org.br

Más contenido relacionado

La actualidad más candente

La actualidad más candente (20)

A Mulher no Mercado de Trabalho
A Mulher no Mercado de TrabalhoA Mulher no Mercado de Trabalho
A Mulher no Mercado de Trabalho
 
Políticas públicas sefaz
Políticas públicas sefazPolíticas públicas sefaz
Políticas públicas sefaz
 
Movimentos sociais e educação
Movimentos sociais e educaçãoMovimentos sociais e educação
Movimentos sociais e educação
 
Oficina2
Oficina2Oficina2
Oficina2
 
SUAS e a população em situação de rua.
SUAS e a população em situação de rua.SUAS e a população em situação de rua.
SUAS e a população em situação de rua.
 
CURSO ASSOCIATIVISMO 1
CURSO ASSOCIATIVISMO 1CURSO ASSOCIATIVISMO 1
CURSO ASSOCIATIVISMO 1
 
Cidadania
CidadaniaCidadania
Cidadania
 
Os Movimentos Sociais
Os Movimentos Sociais Os Movimentos Sociais
Os Movimentos Sociais
 
Desigualdades raciais no brasil
Desigualdades raciais no brasilDesigualdades raciais no brasil
Desigualdades raciais no brasil
 
Politicas publicas
Politicas publicasPoliticas publicas
Politicas publicas
 
Direitos e cidadania
Direitos e cidadaniaDireitos e cidadania
Direitos e cidadania
 
Trabalho e sociedade no brasil
Trabalho e sociedade no brasilTrabalho e sociedade no brasil
Trabalho e sociedade no brasil
 
Saúde e qualidade de vida
Saúde e qualidade de vidaSaúde e qualidade de vida
Saúde e qualidade de vida
 
Agricultura familiar no Brasil
Agricultura familiar no BrasilAgricultura familiar no Brasil
Agricultura familiar no Brasil
 
Hortaliça orgânica
Hortaliça orgânicaHortaliça orgânica
Hortaliça orgânica
 
Administração rural
Administração ruralAdministração rural
Administração rural
 
DIREITOS HUMANOS E MEIO AMBIENTE
DIREITOS HUMANOS E MEIO AMBIENTEDIREITOS HUMANOS E MEIO AMBIENTE
DIREITOS HUMANOS E MEIO AMBIENTE
 
Desigualdade Social
Desigualdade SocialDesigualdade Social
Desigualdade Social
 
A mulher e o mercado de trabalho
A mulher e o mercado de trabalhoA mulher e o mercado de trabalho
A mulher e o mercado de trabalho
 
Qualificação Mestrado
Qualificação MestradoQualificação Mestrado
Qualificação Mestrado
 

Similar a Cartilha MULHERES Rurais - FETAEP

F2308caderno de-textos-para-estudos-e-debates---marcha-das-margaridas-2015 ve...
F2308caderno de-textos-para-estudos-e-debates---marcha-das-margaridas-2015 ve...F2308caderno de-textos-para-estudos-e-debates---marcha-das-margaridas-2015 ve...
F2308caderno de-textos-para-estudos-e-debates---marcha-das-margaridas-2015 ve...jjmleo
 
Cartilha Marcha das Margaridas
Cartilha Marcha das MargaridasCartilha Marcha das Margaridas
Cartilha Marcha das MargaridasPaulo Souza
 
Jornal da FETAEP - edição 156 - Março de 2018
Jornal da FETAEP - edição 156 - Março de 2018Jornal da FETAEP - edição 156 - Março de 2018
Jornal da FETAEP - edição 156 - Março de 2018FETAEP
 
Carta Política I CFF
Carta Política I CFFCarta Política I CFF
Carta Política I CFFFeab Brasil
 
A força das pessoas contra a pobreza
A força das pessoas contra a pobrezaA força das pessoas contra a pobreza
A força das pessoas contra a pobrezaOxfam Brasil
 
Jornal da FETAEP edição 135 - Março de 2016
Jornal da FETAEP edição 135 - Março de 2016Jornal da FETAEP edição 135 - Março de 2016
Jornal da FETAEP edição 135 - Março de 2016FETAEP
 
Jornal da FETAEP edição 114 - Março de 2014
Jornal da FETAEP edição 114 - Março de 2014Jornal da FETAEP edição 114 - Março de 2014
Jornal da FETAEP edição 114 - Março de 2014FETAEP
 
Autonomia e cidadania políticas de organização produtiva
Autonomia e cidadania políticas de organização produtivaAutonomia e cidadania políticas de organização produtiva
Autonomia e cidadania políticas de organização produtivaiicabrasil
 
Economia feminista e soberania alimentar: Avanços e desafios.
Economia feminista e soberania alimentar: Avanços e desafios.Economia feminista e soberania alimentar: Avanços e desafios.
Economia feminista e soberania alimentar: Avanços e desafios.Oxfam Brasil
 
Mulheres geral power point campanha 2
Mulheres geral power point campanha 2Mulheres geral power point campanha 2
Mulheres geral power point campanha 2Stefany Feniman
 
Direitos Da Mulher
Direitos Da MulherDireitos Da Mulher
Direitos Da MulherCRRA
 
28e7c5_395611b9e6a44600ba472687501c3c51.pdf
28e7c5_395611b9e6a44600ba472687501c3c51.pdf28e7c5_395611b9e6a44600ba472687501c3c51.pdf
28e7c5_395611b9e6a44600ba472687501c3c51.pdfssusercb5ce11
 
Projeto de Transições - Mst Contestado
Projeto de Transições - Mst ContestadoProjeto de Transições - Mst Contestado
Projeto de Transições - Mst Contestadoabrasolua
 
Livreto mulher
Livreto mulherLivreto mulher
Livreto mulherFdrh Rs
 
Apresentaçao Adriana Galvão CBA-Agroecologia2013
Apresentaçao Adriana Galvão CBA-Agroecologia2013Apresentaçao Adriana Galvão CBA-Agroecologia2013
Apresentaçao Adriana Galvão CBA-Agroecologia2013Agroecologia
 
20150728 Workshop: Desafios da Urbanização de Cidades - Maria das Graças de ...
20150728 Workshop: Desafios da Urbanização de Cidades - Maria das  Graças de ...20150728 Workshop: Desafios da Urbanização de Cidades - Maria das  Graças de ...
20150728 Workshop: Desafios da Urbanização de Cidades - Maria das Graças de ...Development Workshop Angola
 
Um país dentro de casa, por Marconi Perillo
Um país dentro de casa, por Marconi PerilloUm país dentro de casa, por Marconi Perillo
Um país dentro de casa, por Marconi PerilloMarconi Perillo
 
Balanço da Secretaria da Mulher de Caruaru
Balanço da Secretaria da Mulher de CaruaruBalanço da Secretaria da Mulher de Caruaru
Balanço da Secretaria da Mulher de CaruaruJohnny Pequeno
 
Estatísticas rurais e a economia feminista: um olhar sobre o trabalho das mul...
Estatísticas rurais e a economia feminista: um olhar sobre o trabalho das mul...Estatísticas rurais e a economia feminista: um olhar sobre o trabalho das mul...
Estatísticas rurais e a economia feminista: um olhar sobre o trabalho das mul...iicabrasil
 

Similar a Cartilha MULHERES Rurais - FETAEP (20)

F2308caderno de-textos-para-estudos-e-debates---marcha-das-margaridas-2015 ve...
F2308caderno de-textos-para-estudos-e-debates---marcha-das-margaridas-2015 ve...F2308caderno de-textos-para-estudos-e-debates---marcha-das-margaridas-2015 ve...
F2308caderno de-textos-para-estudos-e-debates---marcha-das-margaridas-2015 ve...
 
Cartilha Marcha das Margaridas
Cartilha Marcha das MargaridasCartilha Marcha das Margaridas
Cartilha Marcha das Margaridas
 
Jornal da FETAEP - edição 156 - Março de 2018
Jornal da FETAEP - edição 156 - Março de 2018Jornal da FETAEP - edição 156 - Março de 2018
Jornal da FETAEP - edição 156 - Março de 2018
 
Carta Política I CFF
Carta Política I CFFCarta Política I CFF
Carta Política I CFF
 
A força das pessoas contra a pobreza
A força das pessoas contra a pobrezaA força das pessoas contra a pobreza
A força das pessoas contra a pobreza
 
Jornal da FETAEP edição 135 - Março de 2016
Jornal da FETAEP edição 135 - Março de 2016Jornal da FETAEP edição 135 - Março de 2016
Jornal da FETAEP edição 135 - Março de 2016
 
Jornal da FETAEP edição 114 - Março de 2014
Jornal da FETAEP edição 114 - Março de 2014Jornal da FETAEP edição 114 - Março de 2014
Jornal da FETAEP edição 114 - Março de 2014
 
Autonomia e cidadania políticas de organização produtiva
Autonomia e cidadania políticas de organização produtivaAutonomia e cidadania políticas de organização produtiva
Autonomia e cidadania políticas de organização produtiva
 
Economia feminista e soberania alimentar: Avanços e desafios.
Economia feminista e soberania alimentar: Avanços e desafios.Economia feminista e soberania alimentar: Avanços e desafios.
Economia feminista e soberania alimentar: Avanços e desafios.
 
Planejamento
PlanejamentoPlanejamento
Planejamento
 
Mulheres geral power point campanha 2
Mulheres geral power point campanha 2Mulheres geral power point campanha 2
Mulheres geral power point campanha 2
 
Direitos Da Mulher
Direitos Da MulherDireitos Da Mulher
Direitos Da Mulher
 
28e7c5_395611b9e6a44600ba472687501c3c51.pdf
28e7c5_395611b9e6a44600ba472687501c3c51.pdf28e7c5_395611b9e6a44600ba472687501c3c51.pdf
28e7c5_395611b9e6a44600ba472687501c3c51.pdf
 
Projeto de Transições - Mst Contestado
Projeto de Transições - Mst ContestadoProjeto de Transições - Mst Contestado
Projeto de Transições - Mst Contestado
 
Livreto mulher
Livreto mulherLivreto mulher
Livreto mulher
 
Apresentaçao Adriana Galvão CBA-Agroecologia2013
Apresentaçao Adriana Galvão CBA-Agroecologia2013Apresentaçao Adriana Galvão CBA-Agroecologia2013
Apresentaçao Adriana Galvão CBA-Agroecologia2013
 
20150728 Workshop: Desafios da Urbanização de Cidades - Maria das Graças de ...
20150728 Workshop: Desafios da Urbanização de Cidades - Maria das  Graças de ...20150728 Workshop: Desafios da Urbanização de Cidades - Maria das  Graças de ...
20150728 Workshop: Desafios da Urbanização de Cidades - Maria das Graças de ...
 
Um país dentro de casa, por Marconi Perillo
Um país dentro de casa, por Marconi PerilloUm país dentro de casa, por Marconi Perillo
Um país dentro de casa, por Marconi Perillo
 
Balanço da Secretaria da Mulher de Caruaru
Balanço da Secretaria da Mulher de CaruaruBalanço da Secretaria da Mulher de Caruaru
Balanço da Secretaria da Mulher de Caruaru
 
Estatísticas rurais e a economia feminista: um olhar sobre o trabalho das mul...
Estatísticas rurais e a economia feminista: um olhar sobre o trabalho das mul...Estatísticas rurais e a economia feminista: um olhar sobre o trabalho das mul...
Estatísticas rurais e a economia feminista: um olhar sobre o trabalho das mul...
 

Más de FETAEP

 Decreto 3002, 04 de agosto de 2023
 Decreto 3002, 04 de agosto de 2023 Decreto 3002, 04 de agosto de 2023
 Decreto 3002, 04 de agosto de 2023FETAEP
 
Cartilha PRONAF 2023/2024
Cartilha PRONAF 2023/2024Cartilha PRONAF 2023/2024
Cartilha PRONAF 2023/2024FETAEP
 
Cartilha PRONAF 2023/2024
Cartilha PRONAF 2023/2024Cartilha PRONAF 2023/2024
Cartilha PRONAF 2023/2024FETAEP
 
Relatório de Atividades 2022
Relatório de Atividades 2022Relatório de Atividades 2022
Relatório de Atividades 2022FETAEP
 
Jornal da FETAEP edição 183 - Fevereiro de 2023
Jornal da FETAEP edição 183 - Fevereiro de 2023Jornal da FETAEP edição 183 - Fevereiro de 2023
Jornal da FETAEP edição 183 - Fevereiro de 2023FETAEP
 
Jornal da FETAEP edição 182 - Setembro de 2022
Jornal da FETAEP edição 182 - Setembro de 2022Jornal da FETAEP edição 182 - Setembro de 2022
Jornal da FETAEP edição 182 - Setembro de 2022FETAEP
 
Cartilha de Orientação do PRONAF 2022/2023
Cartilha de Orientação do PRONAF 2022/2023Cartilha de Orientação do PRONAF 2022/2023
Cartilha de Orientação do PRONAF 2022/2023FETAEP
 
Relatório de Atividades 2021
Relatório de Atividades 2021Relatório de Atividades 2021
Relatório de Atividades 2021FETAEP
 
Jornal da FETAEP edição 181 - Abril de 2022
Jornal da FETAEP edição 181 - Abril de 2022Jornal da FETAEP edição 181 - Abril de 2022
Jornal da FETAEP edição 181 - Abril de 2022FETAEP
 
Jornal da FETAEP edição 180 - Fevereiro de 2022
Jornal da FETAEP edição 180 - Fevereiro de 2022Jornal da FETAEP edição 180 - Fevereiro de 2022
Jornal da FETAEP edição 180 - Fevereiro de 2022FETAEP
 
Cartilha Seja um associado - Faça parte dessa luta
Cartilha Seja um associado - Faça parte dessa lutaCartilha Seja um associado - Faça parte dessa luta
Cartilha Seja um associado - Faça parte dessa lutaFETAEP
 
Jornal da FETAEP edição 179 - Outubro de 2021
Jornal da FETAEP edição 179 - Outubro de 2021Jornal da FETAEP edição 179 - Outubro de 2021
Jornal da FETAEP edição 179 - Outubro de 2021FETAEP
 
Jornal da FETAEP edição 178 - Agosto de 2021
Jornal da FETAEP edição 178 - Agosto de 2021Jornal da FETAEP edição 178 - Agosto de 2021
Jornal da FETAEP edição 178 - Agosto de 2021FETAEP
 
Cartilha de Orientação do PRONAF 2021/2022
Cartilha de Orientação do PRONAF 2021/2022Cartilha de Orientação do PRONAF 2021/2022
Cartilha de Orientação do PRONAF 2021/2022FETAEP
 
Jornal da FETAEP edição 177 - Junho de 2021
Jornal da FETAEP edição 177 - Junho de 2021Jornal da FETAEP edição 177 - Junho de 2021
Jornal da FETAEP edição 177 - Junho de 2021FETAEP
 
Relatório de Atividades 2020
Relatório de Atividades 2020Relatório de Atividades 2020
Relatório de Atividades 2020FETAEP
 
Jornal da FETAEP edição 176 - Fevereiro de 2021
Jornal da FETAEP edição 176 - Fevereiro de 2021Jornal da FETAEP edição 176 - Fevereiro de 2021
Jornal da FETAEP edição 176 - Fevereiro de 2021FETAEP
 
Decreto n.º 6.928 - 222 de fevereiro de 2021 (Salário mínimo no Paraná)
Decreto n.º 6.928 - 222 de fevereiro de 2021 (Salário mínimo no Paraná)Decreto n.º 6.928 - 222 de fevereiro de 2021 (Salário mínimo no Paraná)
Decreto n.º 6.928 - 222 de fevereiro de 2021 (Salário mínimo no Paraná)FETAEP
 
Compras Governamentais: Oportunidade de mercado e renda para Agricultura Fami...
Compras Governamentais: Oportunidade de mercado e renda para Agricultura Fami...Compras Governamentais: Oportunidade de mercado e renda para Agricultura Fami...
Compras Governamentais: Oportunidade de mercado e renda para Agricultura Fami...FETAEP
 
Jornal da FETAEP edição 175 - Dezembro de 2020
Jornal da FETAEP edição 175 - Dezembro de 2020Jornal da FETAEP edição 175 - Dezembro de 2020
Jornal da FETAEP edição 175 - Dezembro de 2020FETAEP
 

Más de FETAEP (20)

 Decreto 3002, 04 de agosto de 2023
 Decreto 3002, 04 de agosto de 2023 Decreto 3002, 04 de agosto de 2023
 Decreto 3002, 04 de agosto de 2023
 
Cartilha PRONAF 2023/2024
Cartilha PRONAF 2023/2024Cartilha PRONAF 2023/2024
Cartilha PRONAF 2023/2024
 
Cartilha PRONAF 2023/2024
Cartilha PRONAF 2023/2024Cartilha PRONAF 2023/2024
Cartilha PRONAF 2023/2024
 
Relatório de Atividades 2022
Relatório de Atividades 2022Relatório de Atividades 2022
Relatório de Atividades 2022
 
Jornal da FETAEP edição 183 - Fevereiro de 2023
Jornal da FETAEP edição 183 - Fevereiro de 2023Jornal da FETAEP edição 183 - Fevereiro de 2023
Jornal da FETAEP edição 183 - Fevereiro de 2023
 
Jornal da FETAEP edição 182 - Setembro de 2022
Jornal da FETAEP edição 182 - Setembro de 2022Jornal da FETAEP edição 182 - Setembro de 2022
Jornal da FETAEP edição 182 - Setembro de 2022
 
Cartilha de Orientação do PRONAF 2022/2023
Cartilha de Orientação do PRONAF 2022/2023Cartilha de Orientação do PRONAF 2022/2023
Cartilha de Orientação do PRONAF 2022/2023
 
Relatório de Atividades 2021
Relatório de Atividades 2021Relatório de Atividades 2021
Relatório de Atividades 2021
 
Jornal da FETAEP edição 181 - Abril de 2022
Jornal da FETAEP edição 181 - Abril de 2022Jornal da FETAEP edição 181 - Abril de 2022
Jornal da FETAEP edição 181 - Abril de 2022
 
Jornal da FETAEP edição 180 - Fevereiro de 2022
Jornal da FETAEP edição 180 - Fevereiro de 2022Jornal da FETAEP edição 180 - Fevereiro de 2022
Jornal da FETAEP edição 180 - Fevereiro de 2022
 
Cartilha Seja um associado - Faça parte dessa luta
Cartilha Seja um associado - Faça parte dessa lutaCartilha Seja um associado - Faça parte dessa luta
Cartilha Seja um associado - Faça parte dessa luta
 
Jornal da FETAEP edição 179 - Outubro de 2021
Jornal da FETAEP edição 179 - Outubro de 2021Jornal da FETAEP edição 179 - Outubro de 2021
Jornal da FETAEP edição 179 - Outubro de 2021
 
Jornal da FETAEP edição 178 - Agosto de 2021
Jornal da FETAEP edição 178 - Agosto de 2021Jornal da FETAEP edição 178 - Agosto de 2021
Jornal da FETAEP edição 178 - Agosto de 2021
 
Cartilha de Orientação do PRONAF 2021/2022
Cartilha de Orientação do PRONAF 2021/2022Cartilha de Orientação do PRONAF 2021/2022
Cartilha de Orientação do PRONAF 2021/2022
 
Jornal da FETAEP edição 177 - Junho de 2021
Jornal da FETAEP edição 177 - Junho de 2021Jornal da FETAEP edição 177 - Junho de 2021
Jornal da FETAEP edição 177 - Junho de 2021
 
Relatório de Atividades 2020
Relatório de Atividades 2020Relatório de Atividades 2020
Relatório de Atividades 2020
 
Jornal da FETAEP edição 176 - Fevereiro de 2021
Jornal da FETAEP edição 176 - Fevereiro de 2021Jornal da FETAEP edição 176 - Fevereiro de 2021
Jornal da FETAEP edição 176 - Fevereiro de 2021
 
Decreto n.º 6.928 - 222 de fevereiro de 2021 (Salário mínimo no Paraná)
Decreto n.º 6.928 - 222 de fevereiro de 2021 (Salário mínimo no Paraná)Decreto n.º 6.928 - 222 de fevereiro de 2021 (Salário mínimo no Paraná)
Decreto n.º 6.928 - 222 de fevereiro de 2021 (Salário mínimo no Paraná)
 
Compras Governamentais: Oportunidade de mercado e renda para Agricultura Fami...
Compras Governamentais: Oportunidade de mercado e renda para Agricultura Fami...Compras Governamentais: Oportunidade de mercado e renda para Agricultura Fami...
Compras Governamentais: Oportunidade de mercado e renda para Agricultura Fami...
 
Jornal da FETAEP edição 175 - Dezembro de 2020
Jornal da FETAEP edição 175 - Dezembro de 2020Jornal da FETAEP edição 175 - Dezembro de 2020
Jornal da FETAEP edição 175 - Dezembro de 2020
 

Cartilha MULHERES Rurais - FETAEP

  • 1. CONHEÇA A HISTÓRIA DE ALGUMAS MULHERES QUE TRANSFORMARAM SUAS VIDAS POR MEIO DE POLÍTICAS PÚBLICAS E MOSTRAM A FORÇA FEMININA QUE VEM DO CAMPO
  • 2. Esta é a nossa luta A FETAEP desenvolveu esta cartilha com o objetivo de apresentar os importantes resultados da participação das mulheres na ação sindical, criando, adequando e melhorando políticas públicas específicas para mulheres, de forma que pu- dessem atender às necessidades das famílias e à inclusão da mulher na produção de alimen- tos e na gestão das propriedades familiares. Sempre tivemos o compromisso de fazer essa discussão dentro de casa, na ação sindical, na Federação, nos sindicatos, sem esquecer da organização e do cuidado com a produção de alimentos, com o desenvolvimento da produ- ção orgânica e agroecológica, a organização em associações e cooperativas, além da forma como os produtos chegam ao mercado, carre- gando as características de qualidade e tradição da agricultura familiar. Esperamos que vocês gostem da leitura e que as histórias inspirem outras mulheres e jovens a desenvolverem seus projetos, a se espelharem no que essas mulhe- res e lideranças do nosso movimento sindical já fazem com sucesso. Boa leitura! Marcos Brambilla, presidente da FETAEP Expediente Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores Familiares do Paraná (FETAEP) Diretoria executiva: Marcos Junior Brambilla (presidente), Ivone Francisca de Souza (1ª vice-presidente e secretária de Mulheres e Políticas Sociais), José Amauri Denck (secretário de Finanças, Administração e Formação) e Alexandre Leal dos Santos (secretário-geral e secretário de Juventude, Política Agrária e Meio Ambiente). Organização: Maristânia Szulak Ize (assessora da secretaria de Mulheres e Políticas Sociais), Vilênia Venâncio Porto Aguiar (assessora da CONTAG) e Larissa Jedyn (jornalista). Projeto gráfico: Pixsul Studio. Impressão: Gráfica Graciosa. Tiragem: 10 mil. Ano: 2023. FETAEP – Rua Piquiri, 890, Rebouças, Curitiba/PR, CEP 80230-140, (41) 3149-9200 / (41) 3322-8711 – www.fetaep.org.br – fetaep@fetaep.org.br É com muito orgulho que trazemos, nesta cartilha de mulheres realizada pela FETAEP, em parceria com o SENAR Paraná, a história de mulheres rurais, que transformaram suas realidades, acessando políticas públicas, inovando e bus- cando direitos conquistados por meio das lutas do sistema CONTAG - Confede- ração, Federação e Sindicatos de Trabalhadores e Agricultores Familiares, ao longo dos seus mais de 60 anos em defesa de mulheres ho- mens jovens e pessoas de terceira idade do campo. Apesar da nossa importância para a produção e da nossa contribuição para o cres- cimento do país, ainda nos dias de hoje esse trabalho é invisibilizado. Nossos direitos foram conquistados em décadas de luta em defesa da saúde pública, da educação de qualidade, da segurança e da previdência. Nosso desafio imediato é construir uma grandiosa Marcha das Margaridas para fortalecer, implementar e garantir esses direitos não só para as mulheres rurais, mas a todas que enfrentam uma socie- dade injusta e desigual. Boa leitura e espera- mos que os exemplos dessas mulheres sirvam de inspiração. Ivone Francisca de Souza, secretária de Mulheres da FETAEP Inspiração e empoderamento
  • 3. A história das mulheres no MSTTR NA LINHA DO TEMPO, LUTAS POR DIREITOS BÁSICOS E POR REPRESENTATIVIDADE NO CAMPO As mulheres agricultoras familiares reafirmam seu modo de vida e so- mam força na construção de um Brasil soberano, agroecológico, democráti- co, justo, igualitário e livre de violên- cia. Responsáveis pela produção de alimentos saudáveis, pela comida de verdade que alimenta as suas famílias e comunidades, e garante a seguran- ça alimentar, essas mulheres alimen- tam a luta para garantir a sustentabi- lidade da vida. O caminho nunca foi fácil, mas as mulheres agricultoras e trabalhadoras rurais se posicionam, lutam e vêm conquistando espaço e representatividade na sociedade. Os desafios atuais enfrentados pelo MSTTR é garantir a democracia com igualdade e fortalecimento da parti- cipação política das mulheres, imple- mentando, por exemplo, a paridade entre homens e mulheres nos cargos de direção das instâncias sindicais. Mas essa briga já foi por direitos ainda mais básicos. A começar pela atuação da trabalhadora rural alagoana Mar- garida Alves, uma das primeiras mu- lheres a exercer um cargo na direção sindical do país, que esteve à frente na luta pelos direitos básicos dos tra- balhadores rurais, como carteira de trabalho assinada, 13º salário, jornada de trabalho de oito horas, férias, além de defender o fim do trabalho infantil. Margarida foi assassinada em 1983 e acabou inspirando outras mulheres a engrossarem o movimento. Na linha do tempo a seguir, uma cronologia significativa, em que os verbos “ali- mentar” e “florescer” reforçam o sen- tido da luta. • 1985 – O debate sobre a participação das mulheres no MSTTR ganhou peso no 4º Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais, que contou com 3% de participação das mulheres • 1988 – Na nova Constituição Federal, a mulher trabalhadora rural passou a ter direito à propriedade, a ter direito ao título de domínio e a concessão de uso da terra, independentemente de seu estado civil, além de passar a ter direito ao benefício da previdência (inclusive auxilio maternidade), tanto na área urbana como a rural • 1989 – As trabalhadoras rurais da CONTAG conquistaram a criação da Comissão Nacional Provisória da Trabalhadora Rural • 1990 – A organização das mulheres do campo, das florestas e das águas foi ampliado para níveis municipais e estaduais • 1998 – O 7º Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais acrescentou um T de Trabalhadoras em sua sigla CNTTR, aprovou a política afirmativa de cota de no mínimo 30% de mulheres na executiva da CONTAG e teve a participação histórica de 42% de mulheres na delegação • 2000 – A Marcha das Margaridas contra a fome, a pobreza e a violência sexista reuniu mais de 20 mil mulheres e foi o marco do crescimento do protagonismo político das mulheres. Em 2003, o movimento reuniu 40 mil mulheres, em 2007 foram 70 mil e, nas edições de 2011, 2015 e 2019, mais de 100 mil mulheres participaram da Marcha • 2013 – Conquistamos a aprovação da paridade que aconteceu no 11º Congresso de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais • 2019 – O MSTTR conseguiu manter o direito da mulher rural em se aposentar aos 55 anos de idade e para o homem 60 anos 4 5 4 5
  • 4. A FORÇA QUE VEM DAS MULHERES FETAEP 6 7 O QUE É A MARCHA DAS MARGARIDAS? É uma ampla ação estratégica das mu- lheres do campo, da floresta e das águas para conquistar visibilidade, re- conhecimento social, político e cidada- nia plena. A Marcha se constrói a partir de amplo processo formativo, de deba- te, ação política e mobilização, desen- volvido pelas mulheres desde suas co- munidades, municípios e estados, até chegar às ruas da capital do País. Coordenada pela CONTAG, suas 27 Fe- derações e mais de 4 mil Sindicatos fili- ados, a Marcha das Margaridas se cons- trói em parceria com os movimentos de mulheres trabalhadoras, centrais sindi- cais e organizações internacionais. Desde o seu surgimento, no ano 2000, a Marcha vem se construindo como a maior e mais efetiva ação de luta das mulheres do campo, da floresta e das águas, contra a exploração, a dominação e todas as formas de violência e em fa- vor de igualdade, autonomia e liberda- de para as mulheres. QUEM SÃO AS MARGARIDAS? São as mulheres trabalhadoras do cam- po, da floresta e das águas, que em mar- cha tecem suas experiências comuns de vida e luta. Quando surgiram no espaço público, as Margaridas se afirmaram como traba- lhadoras rurais. A partir da Marcha de 2007 passaram a se nomear “mulheres do campo e da floresta”. Em 2015, a de- nominação “mulheres das águas” foi in- cluída, para afirmar a diversidade das mulheres rurais, como agricultoras fa- miliares, camponesas, sem-terra, acam- padas, assentadas, assalariadas, traba- lhadoras rurais, artesãs, extrativistas, quebradeiras de coco, seringueiras, pes- cadoras, ribeirinhas, quilombolas, indí- genas e tantas outras identidades cons- truídas no país. Somos todas Margaridas O movimento sindical abraça a grande Marcha das Margaridas, que reforça a representatividade feminina no dia a dia da luta, funciona como importante instrumento de articulação política e, sobretudo, dá voz a milhares de mulheres que atuam na preservação da vida, das famílias e da natureza Quem são as nossas Margaridas Somos muitas em solo paranaense. Na lida diária, nas agroindústrias, na plantação, nos sindicatos, todas somos fundamentais para o crescimento do movimento sindical, para a valorização da agricultura familiar, para os cuidados com as famílias paranaenses. Cuidamos umas das outras e olhamos por todos, defendendo políticas públicas justas e os nossos direitos. Aqui, relacionamos margaridas que coordenam as nossas mulheres agricultoras familiares nos municípios, buscam novas participantes e seguem fortes nesta luta conjunta! Rozangela Correia Gil, de Altônia, é a Coordenadora de Mulheres da Regional 3 - Noroeste/ Umuarama Nelsi Bado, de Matelândia, é a Coordenadora de Mulheres da Regional 2 - Oeste Neusa Mariano Gonçalves Silva, de Jaboti, é a Coordenadora de Mulheres da Regional 7 - Norte Pioneiro Vera Lúcia Lemes, de Ortigueira, é a Coordenadora de Mulheres da Regional 9 - Vale do Ivaí Cleide Libarino da Silva, de Paraíso do Norte, liderança feminina na Regional 4 - Noroeste/ Paranavaí Regina Lescio Barbato, de Moreira Sales, é a Coordenadora de Mulheres da Regional 5 - Campo Mourão Maria de Fátima de Carvalho, de Arapongas, é a Coordenadora de Mulheres da Regional 6 - Norte Helena Koop, de São João, é a Coordenadora de Mulheres da Regional 1 - Sudoeste Adenilda Korchak, de Boa Ventura de São Roque, é a Coordenadora de Mulheres da Regional 8 - Centro-Sul Marli Catarina Vieira da Rocha, de Tijucas do Sul, é a Coordenadora de Mulheres da Regional 10 - Curitiba
  • 5. A FORÇA QUE VEM DAS MULHERES FETAEP 8 9 O CAMPO É MINHA ESCOLA A jovem Meiriele Ramos da Silva, 20 anos, é de Boa Ventura de São Roque e viu sua vida mudar depois de participar de um curso de técnica em agroecologia na Casa Familiar Rural. Dentro do conceito de pedagogia de alternância, reco- nhecendo a identidade e realidade do campo, onde o aluno passa uma semana aprendendo as matérias curriculares do ensino médio e outra semana colocando em prática o que aprendeu. Ela que ganhou terras do pai em regime de como- dato, passou a exercitar a sucessão rural com inovação e in- formação. Seu projeto venceu o Prêmio Novos Rurais, do Ins- tituto Souza Cruz, e ela recebeu R$ 3.000, que investiu em cercas, lonas, estufa, mudas melhoradas reestruturando as- sim a propriedade. A menina que foi assentada da reforma agrária em Novo Paraíso, ajudava em casa na lavoura que mantinha com o pai, a mãe e dois irmãos, hoje sonha alto. “Sou mulher, sou do campo, recebi ensinamentos que nun- ca imaginei, aprendi a encontrar alternativas de renda den- tro da minha atividade, a ir atrás de políticas públicas e hoje sei que posso construir o meu futuro”, comenta. EDUCAÇÃO EMANCIPADORA Para Sandra Paula Bonetti, 34 anos, de São Jorge do Oeste, a educação e o sindicalismo foram seus pontos de mudança. “Meus pais sempre participaram da comunidade, de associações, cooperativas, eram sindicalizados desde que Mulheres do campo que vão para a luta Conheça a história de mulheres que transformaram suas vidas por meio de políticas públicas e mostram que o sonho de uma vida feliz e próspera no campo é possível me conheço por gente. Cresci nesse contexto, participando dessas ações, integrando grupos de jovens. Foi aí que resolvi estudar, cheguei a me afastar, mas entendi que a educação e o pertencimento promovido pelo movimento sindical eram os meus caminhos”, diz ela, que integra a diretoria da Fetaep e, atualmente, é secretária de Meio Ambiente da Contag. Quando entrou na faculdade de História, na Unioeste, entendeu o sindicalismo e o movimento sindical. Perce- beu que queria chegar mais perto da sua realidade no campo e pensou em cursar Agronomia e Zootecnia, mas ainda eram teóricos demais na sua ótica. Voltou para a comunidade, assumiu a coordenação de jovens do mu- nicípio e descobriu a licenciatura de Educação do Campo, na UTFPR de Dois Vizinhos. “Participei da turma piloto. O curso contemplava Agronomia e Zootecnia, mas com um viés mais voltado à agroecologia e à cooperativa. Eu finalmente me encontrei dentro do curso e do movimento sin- dical, entrei como bolsista e acompanhei as escolas do campo e as escolas familiares. Entendi que tudo começa pela educação. Existe uma Sandra antes da universidade e outra depois. A educação no campo me deu a sensação de pertencimento que eu buscava e por isso entendo que este é o um caminho importante para a emancipação e para a criação da identidade”, conta. AGROECOLOGIA É O CAMINHO No começo dos anos 2000, a agricultora Inês Pa- ladini, de Altônia, participou de alguns cursos so- bre agroecologia e sobre os perigos dos defensivos usados nas plantações – tanto para a natureza quanto para a saúde das pessoas. Foi aí que ela passou a migrar suas plantações para o cultivo or- gânico. Pimenta, pó de café, algumas ervas e casca de ovos passaram a fazer as vezes dos produtos químicos, sua terra ficou mais saudável e a produção até melhorou. Atualmente Inês cultiva flores, alimen- tos e ervas, muitas delas que usa nos atendimentos de saúde que faz na igreja do município.
  • 6. A FORÇA QUE VEM DAS MULHERES FETAEP 10 11 “Eu sempre fui atrás de novidades, no Sindicato me uni às mulheres, que me chamavam para as assembleias, reuniões, no Paraná e em Brasília, estou parti- cipando da edição Estadual da Enfoc Mulheres e Jovens. E sempre que participo das ações sindicais, procuro levar minha experiência e transmitir às mulheres a importância de uma vida livre de agrotóxicos. Está nas mãos das mulheres o cuidado, a preservação da natureza e da família”, comenta ela, que participou da formação em Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICs) da Contag. Quando perguntada se trocaria o campo pela cidade, responde rápido: “Nunca. Pelo contrário, quero trazer mais gente pra cá!”, brinca. NEGÓCIO DE FAMÍLIA A infância de Diane Jussara Zimmermann, 40 anos, de Capitão Leônidas Marques, foi em meio aos tachos de melado da pequena fábrica da família. A doce vida na produção da agroindústria Biase ditou sua rotina até Diane se casar, em 2000. Ela saiu de casa e do negócio. Dez anos depois, o pai resolveu parar e passar a colher para os filhos. Diane, o marido e os filhos resolveram voltar para a lida. “Meu pai sempre falava do sonho da empresa, não queria perder marca que já estava há 38 anos no mercado. Ele sempre nos falava da importância desse patrimônio. Eu trabalhava em outro lugar e um dia pedi um conselho à minha ex-patroa. Ela foi mostrando que aí estava o meu futuro! Pedi a conta e assumi tudo. Hoje eu cuido mais da par- te financeira, o marido das ven- das e os filhos na produção, mas todos podem cobrir uns aos ou- tros”, explica. Às vezes, seus métodos e modernidades são questionadas pelo pai, mas ela vai mostrando o seu estilo à frente dos negócios. “Sou mulher, fico agradecida por ter esta oportunidade, mas sei das minhas responsabilidades. Aprendi muito sozinha, só tenho o segundo grau – meu pai foi só até a quarta série. Quero evoluir. Para mim, é uma vitória ter uma família, estar com ela e tocar um negócio nosso. Sei que dou conta, que tenho valor, talento e muita força”, diz ela, que sempre se aconselha no STTR do município e com o presidente de lá, o Cláudio Zeni, que a estimula a incrementar o negócio. “Nós já fomos para Curitiba na AgriFamiliar, fomos para a feira da agroindústria familiar no ShowRural em Cascavel. Sempre estamos buscando oportunidades para melhorar a fábrica, por meio de investimentos, novos pontos de venda e formas de gestão.” LUGAR DE MULHER É ONDE ELA QUISER Desde o tempo em que cruzava quatro quilômetros por um cafezal para ir à escola, Izolina de Fátima Messias Vertuan, 58 anos, de Itambé, entendeu que o seu esforço a levaria onde quisesse. Mas sempre acompanhado de esperteza, afinal, se optasse pelo caminho tradicional, teria outros dois ou três quilômetros pela frente. A vida a ensinou a ter empenho e boas ideias. Quando casou com Sérgio, por exemplo, o acompanhou na colheita de café, mas a intuição a fez apostar numa proposta de trabalho em uma chácara em Doutor Camargo. "Eu disse vamos. Meu marido ficou com receio, mas em 15 dias mudamos. Foi muito bom. Ficamos por três anos e só voltamos porque minha sogra ficou doente", lembra. A vida deu outro empurrão e Izolina não demorou a descobrir novos rumos, agora, nas feiras em Maringá. Nesta época já eram filiados ao STTR do município e começou a se envolver nos eventos das mulheres. "Quando fui convidada, fiquei louca para ir, mas pergun- tei ao meu marido para ver o que ele achava. Eu já tinha a minha resposta, o meu desejo, ele apenas confirmou o que eu já sabia", brinca. Izolina nunca foi mulher de ficar quieta ou de esperar pela decisão dos outros. Assim como aderiu ao movimento sindical, divide as rédeas dos negócios com o marido, toca suas vendas de pamonha em feiras, decide os financiamentos, Pronaf Mulher A inclusão de mulheres no processo produ- tivo incrementa o empreendedorismo femi- nino, gera renda, amplia a autonomia e o protagonismo da mulher nas propriedades rurais. Esta linha cobre investimentos em ati- vidades agropecuárias e não-agropecuárias, como artesanato, turismo rural, e produção de alimentos processados (biscoitos, geleias, queijos). Mesmo com características próprias, o Pronaf Mulher tem as mesmas condições das outras linhas do Pronaf, com relação a taxas de juros e limites de crédito.
  • 7. A FORÇA QUE VEM DAS MULHERES FETAEP 12 13 construiu uma estufa para produzir seus morangos orgânicos, melhorou a casa e compartilha com a família uma vida feliz, próspera e, sobretudo, com um importante sentimento de pertencimento e de poder de escolha. "Lugar de mulher é onde ela quer, não é? Então, estou dentro. É preciso ter coragem de lutar pelo que a gente quer", comenta ela, enquanto chama outras mulheres (e os homens) a tam- bém exercitarem o empoderamento. DE OLHO NOS DIREITOS Cesaltina Almeida Barandas, 76 anos, veio de São Paulo criança e mora em São Jorge do Ivaí. Há 50 anos, mais precisamente, na mesma casa, com o marido Agostinho. Os dois construíram juntos a vida na roça e de lá não pensam em sair. "Criamos nossas filhas, temos nossos netos, nossa casa, nosso trabalho. O campo é o nosso lar", comenta ela, dizendo que eles ainda mantêm o cultivo de milho e soja. Segundo Cesaltina, desde que o casal se aproximou do STTR, as coisas melhoraram. Antes, eles trabalhavam, mas não tinham noção dos direitos. "Quando conhecemos o seu Antonio Casagrande (presidente do sindicato), ele foi nos explicando e nos ajudou a ter acesso a muita coisa, como a aposentadoria", comenta. "Quando chegou o tempo de a gente se aposentar, Seu Antonio já nos procurou, trouxe os documentos, foi tudo muito fácil. Eu escutava outras pessoas falando que o processo foi complicado, então nem imaginava que poderia contar com o beneficio", diz. A experiência foi tão boa, que eles acabaram se envolvendo ainda mais com as atividades do sindicato e, a quem quiser um conselho, avisam pra abrir os olhos para os direitos! "Temos muita gente boa lutando pelos nossos direitos. Nosso papel é estar atento e apoiar o movimento." Compras governamentais • A Lei 16.751/2010 institui o aumento gradativo da alimentação escolar orgâ- nica até chegar em 100% em 2030 e o Decreto Estadual 4.211/2020 realiza sua regulamentação; • As Compras Governamentais aumen- taram o poder de negociação dos agri- cultores e agricultoras familiares frente as outras oportunidades de mercado como feiras locais e atravessadores; • O Edital de chamada pública poderá classificar as propostas segundo crité- rios de priorização para: agricultores fa- miliares do município; grupos de mu- lheres organizadas em associações ou cooperativas; produção agroecológica ou orgânica; comunidades tradicionais, quilombolas ou indígenas; assentamen- tos da reforma agrária. (Os grupos pri- oritários poderão mudar, atenção sem- pre aos grupos priorizados em cada edi- tal vigente.) • O encontro da alimentação escolar com a agricultura familiar tem promo- vido uma importante transformação na alimentação escolar, ao permitir que alimentos saudáveis e com vínculo re- gional, produzidos diretamente pela agricultura familiar, possam ser consu- midos diariamente pelos alunos da rede pública de todos o Brasil. • Na maioria das propriedades, as mu- lheres são as principais responsáveis pelo processamento da produção, trans- formando o alimento in natura, agre- gando maior valor à produção. Previdência Rural Em 2019, o MSTTR conseguiu manter o direito da mulher rural em se aposentar aos 55 anos de idade e para o homem 60 anos. Benefício para a pessoa que comprove: o mínimo de 180 meses trabalhados na atividade rural; e a idade mínima de 60 anos para homens e 55 anos para mulheres. Empregados, contribuintes individuais e trabalhadores avulsos rurais também têm direito à aposentadoria com diminuição de idade, des- de que tenham trabalhado todo o tempo na condição de trabalhador rural. Caso não comprovem o tempo mínimo de trabalho necessário apenas como segurado especial, o trabalhador pode somar o tempo de trabalho urbano e pedir o benefício quando alcançar os 60 anos, se for mulher, e os 65 anos, se for homem. Para mais informações, procure o STTR do seu município.
  • 8. A FORÇA QUE VEM DAS MULHERES FETAEP 14 15 E agora, companheiras? A secretária nacional de Mulheres da Contag, Mazé Morais, comenta os novos desafios das mulheres do campo e das mulheres do movimento sindical O nosso desafio como mulheres do movimento sindical se soma aos desafios que, como agricultoras familiares, enfrentamos no nosso cotidiano. Nós, mulheres da agricultura familiar, atuamos na produção de alimentos, no resgate e con- servação das sementes, temos um papel fundamental para a sustentabilidade da vida e para a segurança alimentar e nutricional deste país. No entanto, vivemos as piores condições de acesso à terra, ao crédito e à assistência técnica. Além de muitas de nós vivenciarmos diversas situações de violência. Apesar da importância do nosso trabalho para a produção e reprodução da vida, ele ainda é silencioso e invisível. Foi diante dessa constatação que nos organizamos, ainda nos anos 1980, para reivindicar o nosso direito à sindicalização e aos direitos sociais. Hoje, a expressão maior deste nosso processo de auto- organização é sem dúvida a Marcha das Margaridas. Contudo, apesar de termos avançado em nosso histórico de luta e organi- zação e de termos obtidos muitas conquistas, ainda nos defrontamos com as desigualdades de gênero em nossa vida cotidiana seja na agricul- tura familiar, seja no espaço sindical. Por isso, não podemos parar de mar- char e em 2023 estaremos novamen- te ocupando as ruas de Brasília. E esta Marcha se revestirá de uma grande importância, primeiro pelo momento político em que ela ocorrerá e, depois, porque ela nos fortalece para enfren- tar dois grandes desafios. Um deles é (re)conquistar direitos e pautar políticas públicas que valorize o nosso trabalho como agricultoras familiares e reconheça a importância dele para a produção de alimentos, que reconheça que temos direito à saúde, a educação, a cultura, ao lazer, a uma renda e uma aposentadoria digna. E isso é muito valoroso, prin- cipalmente, se levarmos em conta que nos últimos anos vivemos tem- pos duros, de ataques brutais aos di- reitos, de desmonte das políticas pú- blicas para a agricultura familiar, além de termos enfrentado uma pandemia. O outro grande desafio é potencializar nossa organização como mulheres dentro do movimento sindical, para ampliar a nossa representatividade como agricultoras familiares. Nesse sentido, precisamos apontar estraté- gias para implementação da paridade entre homens e mulheres no MSTTR, afinal, somos uma força política sig- nificativa, não apenas pela nossa im- portância para a sustentabilidade po- lítico-financeira do movimento, mas também pelo poder de mobilização e inserção na base sindical. Portanto, o nosso desafio imediato, entre tantos outros, é construir uma grandiosa Marcha das Margaridas para fortalecer a nossa representati- vidade no movimento sindical, mos- trar para a sociedade a nossa dispo- sição em reconstruir o Brasil e uma sociedade do bem viver.
  • 9. (41) 99986-0955 (41) 3149-9200 / (41) 3322-8711 fetaep@fetaep.org.br @fetaep @fetaep www.fetaep.org.br