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TRANSIÇÃO DEFESA-ATAQUE

Autor: Enric Soriano
Fotos: Shutterstock.com

Este esporte, pela redação de
inumeráveis livros recentemente,
se inundou do paradigma da
complexidade ou sistêmico.

“Os momentos mais importantes do
jogo são o momento em que se perde
a bola e o momento em que se ganha”
José Mourinho

Este pensamento fez que a
concepção do jogo tivesse
mudado muito nos últimos anos,
até considerar o jogo como
“integridade inabalável”.

“ “O jogo é uma unidade indivisível,
não tem momento defensivo sem
momento ofensivo. Ambos constituem
uma unidade funcional” Juanma Lillo
62
Edição nº78

Tática

Entende-se o jogo como um
todo no que uma situação não
se pode entender sem saber que
aconteceu anteriormente.

© Artigo publicado em www.futbol-tactico.com

Tática

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Edição nº78
“O jogo não se pode reduzir, porque em cada parte do jogo, em cada fase está contendo tudo, e o
análise deve partir do todo a parte e não ao revés, como estamos acostumados” Adrián Cervera
Que o jogo seja um todo não quer dizer que não possamos
DESTINGUIR diferentes momentos no jogo.
Diferenciar entre os momentos que temos a
bola, os que não temos e os momentos em que
possamos recuperá-la ou a perdê-la nos ajudará
a entender o jogo de uma melhor forma. Isso si,
pese a poder distinguir diversos momentos,
SEPARÁ-LOS SERIA UM ERRO. Nossa fase
defensiva depende do desenvolvimento de
nossa fase ofensiva anterior, e vice-versa.
“Não podemos esquecer na hora de realizar
nosso Modelo de Jogo que estes momentos
estão inter-relacionados e que cada um
depende em grande medida do que aconteceu
no momento anterior” Adrián Cervera.

que permite o continuo ou dinâmica do jogo,
está insertado nos momentos imediatamente
anteriores e imediatamente posteriores, e forma
parte da compreensão global do jogo”.
Como bem assinala Sellés, permitir a dinâmica
do jogo (que distingue momentos com e
sem bola) não tem porque não respeitar a
compreensão global do jogo (que entende o jogo
como um todo indivisível).
A chave está em NÃO SEPARAR, ainda que
para compreender tudo melhor será necessário
DISTINGUIR as partes. Para distinguir sem
separar Sellés fala de insertar-se nos momentos
imediatamente anteriores e posteriores.

As transições são momentos de
desorganização cujo objetivo é voltar ao
estado de organização o antes possível.
Aproveitar a desorganização do rival será a
chave. De feito, são incontáveis os estudos
que demostram que mais dos 50% dos gols
se produzem nos momentos imediatamente
posteriores a recuperar a bola. Por isso é tão
importante dominar este tipo de situações:
para receber muitos menos gols e marcar
muitos mais.

Aqui serão de vital importância os momentos em
que se perde a bola e se recupera a mesma. É a
dinâmica do jogo a que dão lugar as denominadas
transições, os passos de um momento a outro.
“A eficácia nas transições depende, em grande
medida, da tomada de consciência por parte
do jogador, da natureza do jogo, é dizer, da
compreensão do ciclo de jogo, determinado pelas
continuadas mudanças de posse da bola, é dizer, a
contínua correlação ataque-defesa ataque.” Óscar
Cano

TRANSIÇÃO
DEFESA-ATAQUE

A definição de “transição” com a que mais me
identifico é a que fez Rubén Sellés para a revista
Fútbol-Táctico na que definiu transição como
“momento de articulação do jogo entre o momento
ofensivo e o momento defensivo (e vice-versa),
Edição nº78

Tática

Um dos porquês nos dá Casais ao dizer que
“é um dos momentos onde a organização
coletiva é mais difícil, e de sua resolução
efetiva se derivam grande parte das
situações que desequilibram o resultado
final”. Porque a organização coletiva é mais
difícil? Simplesmente porque se produz uma
mudança na organização (de defensiva a
ofensiva e vice-versa). A mudança é incerteza,
e a incerteza é incontrolável. Tão importante
é saber controlar como conviver no caos (um
contínuo neste esporte, que por sua natureza
é o que mais incerteza tem).

O futebol é um esporte que tem que respeitar um
ciclo ou dinâmica de jogo, em função das vezes
que o móvel muda de equipe possuidora, pelo
que se passará constantemente de ter a bola a
não tê-la. Adaptar-se a dinâmica de jogo resultará
fundamental para conseguir um grande resultado.

64

A importância das transições no jogo é
transcendental. Como diz José Mourinho “os
dois momentos mais importantes do jogo
é o momento em que se perde a bola e o
momento em que se ganha”.

“A transição defesa-ataque é a situação na
que se recupera a bola e se começam a aplicar
os princípios táticos ofensivos para construir e
finalizar o ataque” Miguel Ángel Lotina

© Artigo publicado em www.futbol-tactico.com

Tática

65
Edição nº78
Para entender melhor este momento do jogo distinguiremos 3 fases (fase defensiva e movimentos
preparatórios, recuperação de bola e despregue) pondo em prática o que comentava Rubén Sellés: as
transições se insertam nos momentos imediatamente anteriores (movimentos preparatórios) e posteriores
(despregue).

José Guilherme Oliveira, “nós defendemos de determinada forma para atacar de determinada forma
e atacamos de uma certa maneira, porque somos capazes de defender de uma forma compatível. Os
aspectos defensivos sempre têm que estar relacionados com os aspectos ofensivos, senão jamais
conseguiremos um jogo de qualidade!”. Sendo o jogo um todo, não nos convém que nossa fase
defensiva seja de cor preta e nossa fase ofensiva seja de cor branca. Trataremos fazer que nosso jogo/
tudo seja o mais homogéneo/complementário possível, e isso passa por não desintegrar as partes que
o compõe e fazer que seja o mais parecidas possível.

DEFESA ORGANIZADA
“O «momento ofensivo» começa antes de ter a
bola [com a garantia de um equilíbrio ofensivo
na defesa] e que o «momento defensivo»
começa antes de tê-la perdido [com a garantia
de um equilíbrio defensivo em ataque]” Víctor
Fernández
“Um contra-ataque se pode planejar, se planteia
desde que esta defendendo. Onde defendo,
onde quero roubar, a que homens situo por
diante para fazer a transição defesa-ataque...”
Francisco Ruíz Beltrán
O desenvolvimento da nossa defesa organizada
permitirá que depois de recuperar, possamos
atacar de uma forma ou outra, progredindo por
dentro ou por fora, mais rápido ou mais lento,
melhor ou pior...

66
Edição nº78

E é que não tem que esquecer que o objetivo da
nossa defesa organizada não só é o de destruir
o ataque rival, senão que também devemos
começar a construir nosso ataque próprio desde
nossa defesa.
“O «não ter a bola» não implica que tenhamos
que esquecer-nos da organização ofensiva
que preconizamos. Para nós, a «organização
defensiva» pode (e deve) ser concebida em
função da forma como se quer, em seguida,
atacar. Não só tendo o cuidado de definir a (s)
zona (s) onde se tentará recuperar a bola, como
também ponderando a própria configuração
estrutural defensiva da equipe”. Nuno Amieiro
Para construir nosso ataque desde nossa defesa
tem que tentar que nossa organização defensiva
seja similar, ou melhor, dito, complementária a
nossa organização ofensiva. Como comenta

Táctica

“É possível delinear a «organização defensiva»
em términos especiais pensando também em
como se vai atacar. Isso é o posicionamento
defensivo (a ocupação espacial) pode depender
de suas características ofensivas.” Juanma Lillo
“Devemos organizar-nos defensivamente
para atacar (melhor), isso é, com o objetivo de
posteriormente atacar de uma forma concreta. A
intenção deve ser roubar a bola, e roubá-la para
algo, para atacar.” Manolo Preciado
“Se, se defende para atacar, a organização
defensiva de uma equipe deve emanar (partir)
da sua organização ofensiva. Se tenta, com

© Artículo publicado en www.futbol-tactico.com

isso, potenciar a forma como se pretende atacar”
Nuno Amieiro
Se nossos homens mais adiantados destacam
por se domínio do desmarque de ruptura e
nossos meio-centros o fazem por seus envios
em longo, fazer um pressing algo não seria o
mais recomendável, já que no momento da
recuperação, esta se faria em campo rival, e
não disporíamos de espaços a expor. Seria
mais conveniente fazer um repregue intensivo,
“animando” aos adversários mais atrasados a
adiantar sua posição e inclusive incorporar-se
ao ataque, deixando espaços a suas costas
que poderíamos aproveitar enormemente. São
múltiplos os gols que se fazem por contra-

Táctica

Edição nº78

67
ataques diretos: tão simples como correr
para o espaço e enviar ali a bola. Simples
se dispõe dos jogadores capazes de fazêlo perfeitamente.

defender organizada, já que condicionam mais
o ataque rival situando-se para atacar (transição
ofensiva) que participando ativamente na defesa”.
Alberto González

“As equipes são aquelas que durante
todas as fases do jogo têm em conta estes
princípios, e que através dos movimentos
compensadores reequilibram a equipe
prevendo constantemente as possíveis
perdas de bola ou possíveis recuperações”
Dani Fernández

Por tanto os compensadores são os jogadores que
ficam por diante da linha de bola, preferentemente
perto do meio-campo (pode ter jogadores
por diante da linha da bola que não estão
compensando, senão defendendo ativamente),
sem defender diretamente aparentemente, ainda
que suas ações tenham inclusive mais resultado
que as de alguns de seus companheiros ao
impedir as incorporações de adversários.

Dentro da nossa defesa organizada
deveremos indicar que compensadores
realizaremos, não só perseguindo o
objetivo de facilitar o labor a nossos
companheiros no momento em que
recuperam a bola, senão também de
captar a atenção dos defensores diretos
impedindo sua incorporação ao ataque.

Ainda que isso não seja o principal objetivo dos
compensadores, senão o de manter o equilíbrio
ofensivo durante a fase defensiva, além de ser
uma referência para o primeiro passe, para
satisfazer o desenvolvimento da transição defesaataque:

Como indica Juanma Lillo “os
compensadores são movimentos que
realizam os jogadores que não intervêm
diretamente na defesa para preparar o
ataque, com os objetivos de não perder
a ocupação racional do campo, de estar
em condições de atacar imediatamente,
de preparar mentalmente o momento
ofensivo ocupando espaços vitais do
jogo que possam utilizar-se para iniciar o

• Por uma parte podem distanciar-se dos seus
opositores diretos ocupando zonas de pouca
influência convertendo-se em homens livres
e referências do primeiro passe depois da
recuperação.
Um primeiro passe que assegura o mantimento
da posse e permite a eliminação de rivais, ao ser
em progressão. Esta função era muito habitual
no Real Madrid de José Mourinho, no que Özil
era a referência do primeiro passe e ele ativava a
transição. Esta referência do primeiro passe pode
ser fixa (sempre ocupar corredor lateral de lado de
recuperação) ou contextual (em função de onde
se movam os opositores, nos separaremos deles
para serem homens livres com possibilidades de
recepção).

ataque, e de obrigar aos oponentes diretos
a que se preocupe mais de defender que
de atacar” e também tem que atender a
Roberto Olabe quando diz que “sempre
os jogadores mais distanciados da bola
terão algo que fazer..., quando um jogador
rouba a bola, os companheiros estarão em
disposição para recebê-lo nas melhores
condições e no melhor lugar possível”.

• Por outra parte podem fixar a seus pares,
levando-os para um costado, liberando o
lado contrário e criando o que alguns autores
chamaram zona de velocidade ou surpresa, já que

“Pode ser interessante que certos
jogadores não passem por fase de
68
Edição nº78

Tática

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Tática

69
Edição nº78
são espaços livres muito amplos pelos que as incorporações (pertencentes a 2ª ondada) podem chegar
em progressão.

Estes “stops” nos ajudarão a reorganizar-nos (podendo servir como meios atrasados) e desde essa
melhor organização, poder recuperar a bola de forma total. Além de que cortando a dinâmica ou
continuidade no jogo da equipe rival, podemos reajustar desequilíbrios que se deem algo muito lógico
quando falamos de faltas táticas. Cortar a dinâmica do jogo quando a situação nos é favorável seria
um erro. Muitos jogadores com fama de recuperadores tão só são “stopprs” do ataque rival. Não
recuperam porque depois das suas ações a bola volta a estar no poder da equipe rival.
“Quando um jogador, jogando em zona, ganha a bola, se dá meia volta e sabe onde estão colocados
os companheiros. Sabe que pode jogar, porque sabe que, com uma situação similar, os companheiros
têm que ocupar aqueles espaços”. José Antonio Camacho
“Quando recupero a bola
é mais fácil jogar, porque
já sei onde estão meus
companheiros, já sei onde
estão posicionados. Ao
estar tudo ordenado
é muito fácil sair ao
ataque”. Tiago (jogador
do Atlético de Madrid)
“A primeira intenção
da equipe, no
momento da
recuperação, é
buscar
a maior
brevidade
e nas melhores
condições, sacar a bola dos
espaços foi intervindo.” Óscar
Cano

RECUPERAÇÃO DE BOLA
“Devemos organizar-nos defensivamente para
atacar (melhor), isso é, com o objetivo de
posteriormente atacar de uma forma concreta. A
intenção deve ser roubar a bola, e roubá-la para
algo, para atacar.” Manolo Preciado

“Saber que em determinada posição tem
um companheiro, que desde o ponto de vista
geométrico tem algo construído no terreno de
jogo que lhes permite adiantar a ação” José
Mourinho.

“Todo esforço defensivo se elabora para obter
a recuperação da bola em zonas favoráveis e
produzir desde elas as condições necessárias
para atacar o gol contrário” Óscar Cano

“A equipe, quando defende, está organizada
como quer (compartilha uma organização
coletiva conhecida), significando isso que,
quando parte para a transição ofensiva, o jogo
«se produz» em função do que é rotineiro.” José
Mourinho.

A recuperação da bola se presume como uma
das chaves para o desenvolvimento da transição
defesa-ataque. Mas será assim sempre que
falemos de uma recuperação TOTAL. Falaremos
de recuperação total quando depois de
recuperar a posse da bola, se manterá a mesma
geralmente mediante um passe de segurança.
Uma recuperação que nos permita atacar (de um
modo concreto).

Partindo de que defendemos para poder atacar,
de nada serve recuperar a bola se a perde.
Quando se deem faltas, interceptações ou
despejes que depois de realizar-se a equipe rival
segue com a posse da bola, não falaremos de
recuperação de bola (já que não se recupera),
senão que falaremos de cortes na dinâmica de

O passe de segurança é
fundamental. Passar a bola a um
companheiro com superioridade
posicional para assegurar o
mantimento da bola. Chave
será ter referências de onde
estão nossos companheiros
para assim poder encontrálos, e para isso será primordial
ter uma organização ofensiva perto da defensiva.

ataque da equipe rival.
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Edição nº78

Tática

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Tática

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Edição nº78
Sendo sempre a organização uma referência
para saber onde estão nossos companheiros
(tanto em ataque como em defesa). Para
encontrar a esse companheiro livre falaremos de
“sair da zona de pressão”. Distanciar a bola das
zonas com maior densidade de rivais e desde
essa liberdade assegurar a possibilidade de
desenvolver uma ofensiva.
É preferível que o passe se faça para diante,
para eliminar rapidamente contrários e desde
esse desequilíbrio rival buscar o gol, progredindo
no jogo e aproximando-nos ao gol desde a
primeira conexão.

Em caso de não ser possível buscaremos zonas
menos densas para buscar ali a progressão; o
faremos desde um passe diagonal ou horizontal
que nos permita sair da zona de pressão
mudando a orientação do jogo.
Se o rival nos dissuade o lado contrário
impedindo-nos levar ali a bola, daremos o passe
de segurança para trás, sem levar a cabo um
dos nossos objetivos (a progressão no jogo) de
forma imediata a recuperação, mas assegurando
a posse da bola (objetivo principal) que nos
permitirá buscar essa progressão de forma mais
mediata.

• Favorecer a progressão no jogo: o recuperador
se encontra de cara ao gol rival (podendose perfilar como diretor do contra-ataque,
progredindo em condução) tendo visão do que
acontece por diante dele, podendo fazer chegar
à bola a jogadores mais adiantados (valorando o
timing desmarque-passe, sendo o desmarque o
que marca o passe e não ao revés)
• A maior visão lhe permite detectar as
zonas preferentes de progressão, aquelas
menos densas de rivais ou aquelas nas
que se encontram nossos jogadores mais
desequilibradores.
“um primeiro aspecto que consideramos
fundamental para entender corretamente o
«momento defensivo» em função do ataque,

vai unida a definição da (s) zona (s) onde se
procurará recuperar a bola, definição que, nos
parece, deve ser analisada tanto em função
do «padrão de jogo ofensivo» desejado, como
em função das próprias características dos
jogadores.” Nuno Amieiro.
A zona de recuperação nos indicará em grande
medida como realizar o contragolpe. Terá que
valorar o contexto do roubo (grau de dificuldade
para sair da zona de pressão, quantidade de
jogadores por diante e por detrás da linha da bola,
tendo mais ou menos opções tanto de progressão
no jogo como de cobertura ofensiva que nos
permita dar o passe de segurança). Mas o mais
importante é de onde parte o processo de contraataque.

Muitas vezes não é necessário esse passe de segurança para assegurar a posse da bola. Muitas
recuperações (totais) se conseguem mediante antecipações, Diz Dani Fernandez que “a maioria de
contras não nascem de roubos, costumam nascer de antecipações”. E a maioria de transições defesaataque que nascem de antecipações costumam ser relativamente exitosas. E isso é porque desde a
antecipação cumprimos vários de nossos objetivos:
• Recuperação: o jogador que recupera se faz com a bola. Antecipando-se consegue eliminar a
vários contrários, saindo imediatamente da zona de pressão formada pelos rivais próximos a zona
de recuperação, ou evitando que a mesma zona de pressão não se forme, por não ter muitos rivais
próximos a essa zona.
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Edição nº78

Tática

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Tática

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Edição nº78
Atendendo as consequências funcionais que têm a zona de recuperação, têm várias conclusões às
que atender, para conseguir a ótima zona de roubo em função de nossas possiblidades como equipe,
complementando uma altura (zona 1, 2 ou 3) o corredor (dentro ou fora) que mais lhe corresponda:
• Realizaram-se repregue médio ou intensivo,
ao ter tantos metros que recorrer desde a zona
de recuperação até o gol adversário, muitas
vezes será necessário desenvolver o ataque
por cada um dos corredores para assim poder
progredir eficientemente no jogo, já que se só
utilizássemos um corredor (o de zona de roubo)
nos seria impossível progredir, já que o rival
tampará o avance com maior preferência o
corredor no que se desenvolva o jogo (o corredor
ativo).
Por tanto deveremos buscar o avance por
zonas menos densas (corredores passivos)
no desenvolvimento do nosso contra-ataque.
Atendendo a isso, buscaremos a recuperação
em corredor lateral, por sua maior facilidade, e
porque de todos os modos deveremos ocupar

os 3 corredores no processo de contra-ataque;
sendo inútil em muitas ocasiões buscar a
recuperação dentro, onde é mais difícil conseguilo, se não podemos realizar o contra-ataque só
por esse corredor.
• Realizamos uma pressão alta (em disposição
de repregue avançado) será porque em transição
defesa-ataque buscaremos a finalização rápida
aproveitando a aproximação ao gol rival. Assim
que para permitir essa vertiginosidade depois
da recuperação, fará que valorize em muitos
casos, pese a sua maior dificuldade, a tentativa
de recuperação dentro. Depois do roubo temos
o gol aí, sem ser a miúdo necessário combinar,
podendo recuperar e finalizar. Em caso de
recuperar fora, ao ter que voltar dentro, essa
imediata finalização seria impossível.

Também tem que conhecer o contexto da recuperação enquanto ao número de jogadores que na zona
ativa se encontram, e o valor qualitativo que aportam estes jogadores, tanto da mesma equipe como
do rival. Falaremos de superioridades e inferioridades posicionais e numéricas, que condicionarão nas
posições: uma superioridade numérica (quantitativa) facilmente, ainda que nem sempre, poderá traduzirse em uma superioridade posicional (qualitativa). Este contexto determinará as decisões que possamos
tomar.
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Edição nº78

Tática

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Outro aspecto fundamental no momento de recuperação é a famosa mudança de rol, uma mudança de
rol que nos facilitará o desenvolvimento da seguinte fase do contra-ataque: o despregue. Sendo o jogo
um todo, uma integridade inquebrantável, deve ter uma mentalidade não reducionista do jogo; deve ter
uma única mentalidade (como
único é o jogo): a mentalidade
de jogar. Também é certo que
pese a ser uma unidade o
jogo, esta não é homogênea,
podemos distinguir (sem
separar) distintos aspectos,
como os distintos momentos de
jogo. Tampouco a mentalidade
de jogar é homogênea,
devido a que em função de
cada momento de jogo essa
mentalidade se aproximará mais
a uns aspectos do jogo ou a
outros.
“Não se deve falar de equipes
que tenham uma velocidade
para mudar de mentalidade
em ataque e defesa, senão
equipes que tenham uma só
mentalidade: JOGAR” Juanma
Lillo
“No futebol, não tem tempo entre atacar e defender, ou o tempo é imperceptível para nós, posto que
o passe de uma fase a outra é eminente, interatuam constantemente; não tem intervalo de tempo no
que não passe nada entre uma ação e outra: quando roubo, já estou atacando nesse roubo, e quando
perco, já estou defendendo na própria perda.” David Dóniga Lara.
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Tática

Edição nº78
“A imprevisibilidade do jogo obriga as equipes
a constantes mudanças de rol”. O problema na
compreensão do jogo foi considerar cada fase
como um compartimento fechado. Fruto dessa
cerração mental surge ideias como a “mudança
de chip” para passar de uma fase a outra.

outras funções. Essa aproximação não será uma
mudança radical, porque como comentamos,
durante o processo defensivo já estamos
pensando no ataque (todo o desenvolvimento da
defesa organizada influi no processo de contraataque).

Quando essa mudança de chip ou mentalidade
não deve ser tal. As fases estão superpostas,
quando estou em fase “Ataque Organizado”
devo estar também em “Organização Defensiva”
os jogadores que por sua situação não possam
participar ativamente já devem estar situados de
forma que a futura perda de bola não seja um
problema” Adrián Cervera.

A aproximação é progressiva começando no
processo defensivo, aproximando-nos pouco
a pouco a essas futuras funções, sendo no
momento de recuperação quando se produz
uma aproximação maior a estas novas funções.
Maior, mas não total.

Dito isso, a mudança do rol em se não existe:
o rol sempre é o mesmo, é jogar. O que sim se
produzirá no momento da recuperação será não
uma mudança de rol, senão uma aproximação a

Por tanto não tem mudança, senão aproximação;
dentro de um rol único. Antecipar-se ao que pode
passar aproximar-se a isso mais rapidamente
que o adversário, nos ajudará muito mais que o
famoso “mudança de rol”

DESPREGUE
“Despois da recuperação de bola, a
primeira ideia é avançar para diante
aproveitando os momentos de desequilíbrio
de equipe adversária. Devemos passar da
redução de espaços a amplitude ofensiva.
Abrir o frente de ataque e descongestionar a
zona na que se recuperou a bola buscando
saída por outro lado” Miguel Ángel Lotina

O despregue, como o nome indica, é uma
separação dos componentes da equipe (sem
perder por isso a organização no jogo).
Manifestar amplitude e profundidade desde o
momento em que se recupera a bola, fazendo
que o como de ação da equipe defensora
aumente, aumentando em muitas ocasiões, de
forma consequente, a dificuldade do processo de
organização defensiva rival.
Ampliar as distâncias de relação entre nossos
jogadores, provocando em ocasiões que
também cresçam as distâncias de relação entre
adversários e assim criar espaços que nos
facilitarão avançar, criar zonas de progressão.
Dentro da fase de despregue, o objetivo
primordial será o de chegar ao gol adversário.
Para consegui-lo deveremos manifestar um
claro sentimento de progressão. Ser profundos.
Tratar de avançar de forma rápida, ou ao menos
a maior velocidade que a do repregue do rival,
para aproveitar assim sua desorganização, sem
permitir sua reorganização.

Também terá que entender que a progressão
de bola deverá levar implícita a progressão de
jogadores. Não só para poder seguir progredindo
tendo opções por diante da linha de bola, senão
para manter uma unidade ofensiva, seguir
estando juntos.
Uma unidade ofensiva que nos facilitará a
adaptação de forma eficaz ao ciclo do jogo (ante
um passo a organização defensiva se tem perda,
ou ataque organizado se tem reorganização
defensiva rival).
Desde a proximidade dos homens atrasados
podem manifestar um equilíbrio que nos facilitará
as coisas.
“A velocidade de execução do contra-ataque
é aquela que permite seu desenvolvimento
eficaz, não reduz a términos quantitativos. Às
vezes, um retrocesso, um passe de mais, ou
frear-se, proporciona as condições idôneas para
aproveitar os desequilíbrios desmedidos do rival,
alinha favoravelmente uma boa quantidade das
possibilidades de concluir com êxito”. Óscar
Cano

“Tempo de ação pertencente ao momento
de transição defesa-ataque, que se inserta
dentro do momento ofensivo, permitindo a
continuação da dinâmica ou continuo de
jogo, em que a equipe que recuperou a bola
se dispõe a realizar as ações individuais,
grupais e coletivas pertinentes para poder
realizar com êxito seu momento ofensivo”
Rubén Sellés
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Edição nº78

Tática

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Tática

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Edição nº78
A propósito desta progressão de jogadores, e a velocidade da progressão da bola, se constituirão as
diversas ondadas, cada qual com suas características:
• 1ª ondada: Estará constituída preferentemente pelos jogadores que ficaram compensando enquanto
nosso bloqueio defendia. O objetivo será finalizar o antes possível. Para isso, o contra-ataque direto
será a manifestação mais empregada. Buscaremos as costas da linha defensiva rival, ajustando
o passe ao desmarque de ruptura (timing), e tentando os mais adiantados aproveitar os intervalos
que se produzem entre os jogadores da última linha defensiva. Será importante a posição dos mais
adiantados (normalmente
1 ou 2 jogadores); que
deverão bascular (pese
a estar por diante da
linha da bola) em relação
a circulação de bola
adversária, de modo
que se encontrem, no
momento da recuperação,
no lado forte da bola, de
modo que possam sacar
proveito de qualquer
despeje orientado. Para
evitar o fora de jogo e
arrancar antes que o
adversário (permitindo-lhe isso tirar metros de vantagem na carreira) seria interessante à utilização de
desmarques “em arco”, seguindo trajetórias curvilíneas, Além de favorecer ao possuidor a chegada do
estimulo durante o inicio do desmarque, quando a carreira ainda é bastante horizontal, facilitando assim
a tomada de decisão correta (estímulo chega antes, percepção precoce)
• 2ª ondada: Neste caso falaríamos de um contra-ataque organizado, que já disporia de mais
jogadores: aos jogadores mais adiantados se irão somando alguns dos jogadores que defendiam
por detrás da linha da bola. Isso se deverá a impossibilidade de penetrar diretamente entre a linha
defensiva rival. A
dificuldade de progressão
obrigará aos mais
adiantados a esperar, a
temporizar para permitir a
chegada de companheiros
que possibilitem um
desenvolvimento do
processo de contraataque mais fluido de
novo. Os jogadores que

78
Edição nº78

Tática

se incorporam deverão
saber aproveitar aqueles

© Artigo publicado em

espaços criados pelas ações dos jogadores que constituíam a 1ª ondada. Os primeiros poderiam ter
fixado adversário que favorecessem a penetração dos jogadores que vinha desde atrás. Dentro desta
ondada também será importante perceber quando é impossível seguir progredindo, e em vez de por
em risco a posse da bola, permitir a constituição da 3ª ondada: e um passo a ataque organizado,
utilizando outras vias para chegar ao gol rival.
• 3ª ondada: é o passo a ataque organizado pela não consecução de um contra-ataque fluido. Em
algum caso seria possível o desenvolvimento de um ataque rápido, se a equipe adversária ainda não
se organizou convenientemente.
Neste momento de passo a ataque organizado teria um reparto espacial mais coerente, buscando
a organização ofensiva, tentando conseguir a já nomeada unidade ofensiva que nos proporcione o
equilíbrio necessário, sobre tudo, para poder fazer frente a uma possível perda. O objetivo é favorecer
o passo ao seguinte momento de jogo, o ataque organizado.

“Se quando recupero não estou limpo, buscar
ao companheiro melhor encontrado para dirigir o
contra” Dani Fernández.
“Os companheiros melhor capacitados para
dirigir o contra-ataque se apresentam de maneira
imediata” Óscar Cano
O diretor do contra-ataque é algo a ter em conta
no desenvolvimento do contra-ataque. Um diretor
de contra-ataque, um lançador, um condutor,
que conduza a bola por onde a situação do jogo
requer.
Um condutor que perceba as zonas preferentes
de progressão, que saiba quando acudir a zonas
menos densas.

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Um jogador que desde a condução do contraataque seja capaz de fixar adversários em pós de
permitir aos jogadores que estão construindo as
seguintes ondadas sejam capazes de perceber
e aproveitar os espaços que ele criou com essa
fixação.

Muitas vezes o diretor do contra-ataque será
um dos jogadores que ficou compensando,
aproveitando essa separação do par que lhe
permitirá receber em zonas liberadas de oposição,
podendo-se girar para poder começar a conduzir
o contra-ataque. Neste caso o diretor do contraataque pertenceria a 1ª ondada.

Tática

79
Edição nº78
Têm casos nos que o primeiro receptor não tem possibilidade de girar-se pelo deslizamento de seu par.
Nestes casos costuma-se deixar de cara a um jogador da 2ª ondada, fazendo que este último, ao poder
estar de cara ao gol rival, seja o diretor do contra-ataque.
Em ocasiões se buscará a determinados jogadores para conduzir o contra-ataque por suas próprias
características (grande condução de bola, boa interpretação dos momentos de dar o último passe, saber
perceber as zonas preferentes de progressão...) e outras vezes serão as circunstâncias da própria
situação do jogo as que indicarão que deve ser o condutor do contra-ataque (recepção sem oposição,
espaço por diante para conduzir...)

BIBLIOGRAFIA
• AMIEIRO, N. Defensa en zona en fútbol (McSports)
• CANO MORENO, O. Modelo de juego del FCB (McSports)
• CANO MORENO, O. Juego de posición del FCB (McSports)
• CASÁIS, L. La fase de transición en fútbol (McSports)
• CERVERA, A. Modelo organizacional-estratégico de entrenamiento en fútbol (McSports)
• DÓNIGA LARA, D. Transiciones en fútbol (Blog Fútbol Ofensivo)
• FERNÁNDEZ, D. Nuevas aportaciones a la táctica (McSports)
• FERNÁNDEZ, D. Modelo de juego del RCDE cadete A (no publicado)
• GONZÁLEZ, A. Dinámica del juego desde la perspectiva de las transiciones (Ponencia)
• GONZÁLEZ, A y colaboradores. Las transiciones en el fútbol: Marco teórico y aplicación práctica.
• SELLÉS, R. Transiciones, mucho más que un momento de juego (Fútbol-Táctico)
• SELLÉS, R. Guía para el trabajo de las transiciones desde la Periodización Táctica (Fútbol-Táctico)
80
Edição nº78

Tática

© Artigo publicado em www.futbol-tactico.com

Tática

81
Edição nº78

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  • 1. TRANSIÇÃO DEFESA-ATAQUE Autor: Enric Soriano Fotos: Shutterstock.com Este esporte, pela redação de inumeráveis livros recentemente, se inundou do paradigma da complexidade ou sistêmico. “Os momentos mais importantes do jogo são o momento em que se perde a bola e o momento em que se ganha” José Mourinho Este pensamento fez que a concepção do jogo tivesse mudado muito nos últimos anos, até considerar o jogo como “integridade inabalável”. “ “O jogo é uma unidade indivisível, não tem momento defensivo sem momento ofensivo. Ambos constituem uma unidade funcional” Juanma Lillo 62 Edição nº78 Tática Entende-se o jogo como um todo no que uma situação não se pode entender sem saber que aconteceu anteriormente. © Artigo publicado em www.futbol-tactico.com Tática 63 Edição nº78
  • 2. “O jogo não se pode reduzir, porque em cada parte do jogo, em cada fase está contendo tudo, e o análise deve partir do todo a parte e não ao revés, como estamos acostumados” Adrián Cervera Que o jogo seja um todo não quer dizer que não possamos DESTINGUIR diferentes momentos no jogo. Diferenciar entre os momentos que temos a bola, os que não temos e os momentos em que possamos recuperá-la ou a perdê-la nos ajudará a entender o jogo de uma melhor forma. Isso si, pese a poder distinguir diversos momentos, SEPARÁ-LOS SERIA UM ERRO. Nossa fase defensiva depende do desenvolvimento de nossa fase ofensiva anterior, e vice-versa. “Não podemos esquecer na hora de realizar nosso Modelo de Jogo que estes momentos estão inter-relacionados e que cada um depende em grande medida do que aconteceu no momento anterior” Adrián Cervera. que permite o continuo ou dinâmica do jogo, está insertado nos momentos imediatamente anteriores e imediatamente posteriores, e forma parte da compreensão global do jogo”. Como bem assinala Sellés, permitir a dinâmica do jogo (que distingue momentos com e sem bola) não tem porque não respeitar a compreensão global do jogo (que entende o jogo como um todo indivisível). A chave está em NÃO SEPARAR, ainda que para compreender tudo melhor será necessário DISTINGUIR as partes. Para distinguir sem separar Sellés fala de insertar-se nos momentos imediatamente anteriores e posteriores. As transições são momentos de desorganização cujo objetivo é voltar ao estado de organização o antes possível. Aproveitar a desorganização do rival será a chave. De feito, são incontáveis os estudos que demostram que mais dos 50% dos gols se produzem nos momentos imediatamente posteriores a recuperar a bola. Por isso é tão importante dominar este tipo de situações: para receber muitos menos gols e marcar muitos mais. Aqui serão de vital importância os momentos em que se perde a bola e se recupera a mesma. É a dinâmica do jogo a que dão lugar as denominadas transições, os passos de um momento a outro. “A eficácia nas transições depende, em grande medida, da tomada de consciência por parte do jogador, da natureza do jogo, é dizer, da compreensão do ciclo de jogo, determinado pelas continuadas mudanças de posse da bola, é dizer, a contínua correlação ataque-defesa ataque.” Óscar Cano TRANSIÇÃO DEFESA-ATAQUE A definição de “transição” com a que mais me identifico é a que fez Rubén Sellés para a revista Fútbol-Táctico na que definiu transição como “momento de articulação do jogo entre o momento ofensivo e o momento defensivo (e vice-versa), Edição nº78 Tática Um dos porquês nos dá Casais ao dizer que “é um dos momentos onde a organização coletiva é mais difícil, e de sua resolução efetiva se derivam grande parte das situações que desequilibram o resultado final”. Porque a organização coletiva é mais difícil? Simplesmente porque se produz uma mudança na organização (de defensiva a ofensiva e vice-versa). A mudança é incerteza, e a incerteza é incontrolável. Tão importante é saber controlar como conviver no caos (um contínuo neste esporte, que por sua natureza é o que mais incerteza tem). O futebol é um esporte que tem que respeitar um ciclo ou dinâmica de jogo, em função das vezes que o móvel muda de equipe possuidora, pelo que se passará constantemente de ter a bola a não tê-la. Adaptar-se a dinâmica de jogo resultará fundamental para conseguir um grande resultado. 64 A importância das transições no jogo é transcendental. Como diz José Mourinho “os dois momentos mais importantes do jogo é o momento em que se perde a bola e o momento em que se ganha”. “A transição defesa-ataque é a situação na que se recupera a bola e se começam a aplicar os princípios táticos ofensivos para construir e finalizar o ataque” Miguel Ángel Lotina © Artigo publicado em www.futbol-tactico.com Tática 65 Edição nº78
  • 3. Para entender melhor este momento do jogo distinguiremos 3 fases (fase defensiva e movimentos preparatórios, recuperação de bola e despregue) pondo em prática o que comentava Rubén Sellés: as transições se insertam nos momentos imediatamente anteriores (movimentos preparatórios) e posteriores (despregue). José Guilherme Oliveira, “nós defendemos de determinada forma para atacar de determinada forma e atacamos de uma certa maneira, porque somos capazes de defender de uma forma compatível. Os aspectos defensivos sempre têm que estar relacionados com os aspectos ofensivos, senão jamais conseguiremos um jogo de qualidade!”. Sendo o jogo um todo, não nos convém que nossa fase defensiva seja de cor preta e nossa fase ofensiva seja de cor branca. Trataremos fazer que nosso jogo/ tudo seja o mais homogéneo/complementário possível, e isso passa por não desintegrar as partes que o compõe e fazer que seja o mais parecidas possível. DEFESA ORGANIZADA “O «momento ofensivo» começa antes de ter a bola [com a garantia de um equilíbrio ofensivo na defesa] e que o «momento defensivo» começa antes de tê-la perdido [com a garantia de um equilíbrio defensivo em ataque]” Víctor Fernández “Um contra-ataque se pode planejar, se planteia desde que esta defendendo. Onde defendo, onde quero roubar, a que homens situo por diante para fazer a transição defesa-ataque...” Francisco Ruíz Beltrán O desenvolvimento da nossa defesa organizada permitirá que depois de recuperar, possamos atacar de uma forma ou outra, progredindo por dentro ou por fora, mais rápido ou mais lento, melhor ou pior... 66 Edição nº78 E é que não tem que esquecer que o objetivo da nossa defesa organizada não só é o de destruir o ataque rival, senão que também devemos começar a construir nosso ataque próprio desde nossa defesa. “O «não ter a bola» não implica que tenhamos que esquecer-nos da organização ofensiva que preconizamos. Para nós, a «organização defensiva» pode (e deve) ser concebida em função da forma como se quer, em seguida, atacar. Não só tendo o cuidado de definir a (s) zona (s) onde se tentará recuperar a bola, como também ponderando a própria configuração estrutural defensiva da equipe”. Nuno Amieiro Para construir nosso ataque desde nossa defesa tem que tentar que nossa organização defensiva seja similar, ou melhor, dito, complementária a nossa organização ofensiva. Como comenta Táctica “É possível delinear a «organização defensiva» em términos especiais pensando também em como se vai atacar. Isso é o posicionamento defensivo (a ocupação espacial) pode depender de suas características ofensivas.” Juanma Lillo “Devemos organizar-nos defensivamente para atacar (melhor), isso é, com o objetivo de posteriormente atacar de uma forma concreta. A intenção deve ser roubar a bola, e roubá-la para algo, para atacar.” Manolo Preciado “Se, se defende para atacar, a organização defensiva de uma equipe deve emanar (partir) da sua organização ofensiva. Se tenta, com © Artículo publicado en www.futbol-tactico.com isso, potenciar a forma como se pretende atacar” Nuno Amieiro Se nossos homens mais adiantados destacam por se domínio do desmarque de ruptura e nossos meio-centros o fazem por seus envios em longo, fazer um pressing algo não seria o mais recomendável, já que no momento da recuperação, esta se faria em campo rival, e não disporíamos de espaços a expor. Seria mais conveniente fazer um repregue intensivo, “animando” aos adversários mais atrasados a adiantar sua posição e inclusive incorporar-se ao ataque, deixando espaços a suas costas que poderíamos aproveitar enormemente. São múltiplos os gols que se fazem por contra- Táctica Edição nº78 67
  • 4. ataques diretos: tão simples como correr para o espaço e enviar ali a bola. Simples se dispõe dos jogadores capazes de fazêlo perfeitamente. defender organizada, já que condicionam mais o ataque rival situando-se para atacar (transição ofensiva) que participando ativamente na defesa”. Alberto González “As equipes são aquelas que durante todas as fases do jogo têm em conta estes princípios, e que através dos movimentos compensadores reequilibram a equipe prevendo constantemente as possíveis perdas de bola ou possíveis recuperações” Dani Fernández Por tanto os compensadores são os jogadores que ficam por diante da linha de bola, preferentemente perto do meio-campo (pode ter jogadores por diante da linha da bola que não estão compensando, senão defendendo ativamente), sem defender diretamente aparentemente, ainda que suas ações tenham inclusive mais resultado que as de alguns de seus companheiros ao impedir as incorporações de adversários. Dentro da nossa defesa organizada deveremos indicar que compensadores realizaremos, não só perseguindo o objetivo de facilitar o labor a nossos companheiros no momento em que recuperam a bola, senão também de captar a atenção dos defensores diretos impedindo sua incorporação ao ataque. Ainda que isso não seja o principal objetivo dos compensadores, senão o de manter o equilíbrio ofensivo durante a fase defensiva, além de ser uma referência para o primeiro passe, para satisfazer o desenvolvimento da transição defesaataque: Como indica Juanma Lillo “os compensadores são movimentos que realizam os jogadores que não intervêm diretamente na defesa para preparar o ataque, com os objetivos de não perder a ocupação racional do campo, de estar em condições de atacar imediatamente, de preparar mentalmente o momento ofensivo ocupando espaços vitais do jogo que possam utilizar-se para iniciar o • Por uma parte podem distanciar-se dos seus opositores diretos ocupando zonas de pouca influência convertendo-se em homens livres e referências do primeiro passe depois da recuperação. Um primeiro passe que assegura o mantimento da posse e permite a eliminação de rivais, ao ser em progressão. Esta função era muito habitual no Real Madrid de José Mourinho, no que Özil era a referência do primeiro passe e ele ativava a transição. Esta referência do primeiro passe pode ser fixa (sempre ocupar corredor lateral de lado de recuperação) ou contextual (em função de onde se movam os opositores, nos separaremos deles para serem homens livres com possibilidades de recepção). ataque, e de obrigar aos oponentes diretos a que se preocupe mais de defender que de atacar” e também tem que atender a Roberto Olabe quando diz que “sempre os jogadores mais distanciados da bola terão algo que fazer..., quando um jogador rouba a bola, os companheiros estarão em disposição para recebê-lo nas melhores condições e no melhor lugar possível”. • Por outra parte podem fixar a seus pares, levando-os para um costado, liberando o lado contrário e criando o que alguns autores chamaram zona de velocidade ou surpresa, já que “Pode ser interessante que certos jogadores não passem por fase de 68 Edição nº78 Tática © Artigo publicado em www.futbol-tactico.com Tática 69 Edição nº78
  • 5. são espaços livres muito amplos pelos que as incorporações (pertencentes a 2ª ondada) podem chegar em progressão. Estes “stops” nos ajudarão a reorganizar-nos (podendo servir como meios atrasados) e desde essa melhor organização, poder recuperar a bola de forma total. Além de que cortando a dinâmica ou continuidade no jogo da equipe rival, podemos reajustar desequilíbrios que se deem algo muito lógico quando falamos de faltas táticas. Cortar a dinâmica do jogo quando a situação nos é favorável seria um erro. Muitos jogadores com fama de recuperadores tão só são “stopprs” do ataque rival. Não recuperam porque depois das suas ações a bola volta a estar no poder da equipe rival. “Quando um jogador, jogando em zona, ganha a bola, se dá meia volta e sabe onde estão colocados os companheiros. Sabe que pode jogar, porque sabe que, com uma situação similar, os companheiros têm que ocupar aqueles espaços”. José Antonio Camacho “Quando recupero a bola é mais fácil jogar, porque já sei onde estão meus companheiros, já sei onde estão posicionados. Ao estar tudo ordenado é muito fácil sair ao ataque”. Tiago (jogador do Atlético de Madrid) “A primeira intenção da equipe, no momento da recuperação, é buscar a maior brevidade e nas melhores condições, sacar a bola dos espaços foi intervindo.” Óscar Cano RECUPERAÇÃO DE BOLA “Devemos organizar-nos defensivamente para atacar (melhor), isso é, com o objetivo de posteriormente atacar de uma forma concreta. A intenção deve ser roubar a bola, e roubá-la para algo, para atacar.” Manolo Preciado “Saber que em determinada posição tem um companheiro, que desde o ponto de vista geométrico tem algo construído no terreno de jogo que lhes permite adiantar a ação” José Mourinho. “Todo esforço defensivo se elabora para obter a recuperação da bola em zonas favoráveis e produzir desde elas as condições necessárias para atacar o gol contrário” Óscar Cano “A equipe, quando defende, está organizada como quer (compartilha uma organização coletiva conhecida), significando isso que, quando parte para a transição ofensiva, o jogo «se produz» em função do que é rotineiro.” José Mourinho. A recuperação da bola se presume como uma das chaves para o desenvolvimento da transição defesa-ataque. Mas será assim sempre que falemos de uma recuperação TOTAL. Falaremos de recuperação total quando depois de recuperar a posse da bola, se manterá a mesma geralmente mediante um passe de segurança. Uma recuperação que nos permita atacar (de um modo concreto). Partindo de que defendemos para poder atacar, de nada serve recuperar a bola se a perde. Quando se deem faltas, interceptações ou despejes que depois de realizar-se a equipe rival segue com a posse da bola, não falaremos de recuperação de bola (já que não se recupera), senão que falaremos de cortes na dinâmica de O passe de segurança é fundamental. Passar a bola a um companheiro com superioridade posicional para assegurar o mantimento da bola. Chave será ter referências de onde estão nossos companheiros para assim poder encontrálos, e para isso será primordial ter uma organização ofensiva perto da defensiva. ataque da equipe rival. 70 Edição nº78 Tática © Artigo publicado em www.futbol-tactico.com Tática 71 Edição nº78
  • 6. Sendo sempre a organização uma referência para saber onde estão nossos companheiros (tanto em ataque como em defesa). Para encontrar a esse companheiro livre falaremos de “sair da zona de pressão”. Distanciar a bola das zonas com maior densidade de rivais e desde essa liberdade assegurar a possibilidade de desenvolver uma ofensiva. É preferível que o passe se faça para diante, para eliminar rapidamente contrários e desde esse desequilíbrio rival buscar o gol, progredindo no jogo e aproximando-nos ao gol desde a primeira conexão. Em caso de não ser possível buscaremos zonas menos densas para buscar ali a progressão; o faremos desde um passe diagonal ou horizontal que nos permita sair da zona de pressão mudando a orientação do jogo. Se o rival nos dissuade o lado contrário impedindo-nos levar ali a bola, daremos o passe de segurança para trás, sem levar a cabo um dos nossos objetivos (a progressão no jogo) de forma imediata a recuperação, mas assegurando a posse da bola (objetivo principal) que nos permitirá buscar essa progressão de forma mais mediata. • Favorecer a progressão no jogo: o recuperador se encontra de cara ao gol rival (podendose perfilar como diretor do contra-ataque, progredindo em condução) tendo visão do que acontece por diante dele, podendo fazer chegar à bola a jogadores mais adiantados (valorando o timing desmarque-passe, sendo o desmarque o que marca o passe e não ao revés) • A maior visão lhe permite detectar as zonas preferentes de progressão, aquelas menos densas de rivais ou aquelas nas que se encontram nossos jogadores mais desequilibradores. “um primeiro aspecto que consideramos fundamental para entender corretamente o «momento defensivo» em função do ataque, vai unida a definição da (s) zona (s) onde se procurará recuperar a bola, definição que, nos parece, deve ser analisada tanto em função do «padrão de jogo ofensivo» desejado, como em função das próprias características dos jogadores.” Nuno Amieiro. A zona de recuperação nos indicará em grande medida como realizar o contragolpe. Terá que valorar o contexto do roubo (grau de dificuldade para sair da zona de pressão, quantidade de jogadores por diante e por detrás da linha da bola, tendo mais ou menos opções tanto de progressão no jogo como de cobertura ofensiva que nos permita dar o passe de segurança). Mas o mais importante é de onde parte o processo de contraataque. Muitas vezes não é necessário esse passe de segurança para assegurar a posse da bola. Muitas recuperações (totais) se conseguem mediante antecipações, Diz Dani Fernandez que “a maioria de contras não nascem de roubos, costumam nascer de antecipações”. E a maioria de transições defesaataque que nascem de antecipações costumam ser relativamente exitosas. E isso é porque desde a antecipação cumprimos vários de nossos objetivos: • Recuperação: o jogador que recupera se faz com a bola. Antecipando-se consegue eliminar a vários contrários, saindo imediatamente da zona de pressão formada pelos rivais próximos a zona de recuperação, ou evitando que a mesma zona de pressão não se forme, por não ter muitos rivais próximos a essa zona. 72 Edição nº78 Tática © Artigo publicado em www.futbol-tactico.com Tática 73 Edição nº78
  • 7. Atendendo as consequências funcionais que têm a zona de recuperação, têm várias conclusões às que atender, para conseguir a ótima zona de roubo em função de nossas possiblidades como equipe, complementando uma altura (zona 1, 2 ou 3) o corredor (dentro ou fora) que mais lhe corresponda: • Realizaram-se repregue médio ou intensivo, ao ter tantos metros que recorrer desde a zona de recuperação até o gol adversário, muitas vezes será necessário desenvolver o ataque por cada um dos corredores para assim poder progredir eficientemente no jogo, já que se só utilizássemos um corredor (o de zona de roubo) nos seria impossível progredir, já que o rival tampará o avance com maior preferência o corredor no que se desenvolva o jogo (o corredor ativo). Por tanto deveremos buscar o avance por zonas menos densas (corredores passivos) no desenvolvimento do nosso contra-ataque. Atendendo a isso, buscaremos a recuperação em corredor lateral, por sua maior facilidade, e porque de todos os modos deveremos ocupar os 3 corredores no processo de contra-ataque; sendo inútil em muitas ocasiões buscar a recuperação dentro, onde é mais difícil conseguilo, se não podemos realizar o contra-ataque só por esse corredor. • Realizamos uma pressão alta (em disposição de repregue avançado) será porque em transição defesa-ataque buscaremos a finalização rápida aproveitando a aproximação ao gol rival. Assim que para permitir essa vertiginosidade depois da recuperação, fará que valorize em muitos casos, pese a sua maior dificuldade, a tentativa de recuperação dentro. Depois do roubo temos o gol aí, sem ser a miúdo necessário combinar, podendo recuperar e finalizar. Em caso de recuperar fora, ao ter que voltar dentro, essa imediata finalização seria impossível. Também tem que conhecer o contexto da recuperação enquanto ao número de jogadores que na zona ativa se encontram, e o valor qualitativo que aportam estes jogadores, tanto da mesma equipe como do rival. Falaremos de superioridades e inferioridades posicionais e numéricas, que condicionarão nas posições: uma superioridade numérica (quantitativa) facilmente, ainda que nem sempre, poderá traduzirse em uma superioridade posicional (qualitativa). Este contexto determinará as decisões que possamos tomar. 74 Edição nº78 Tática © Artigo publicado em Outro aspecto fundamental no momento de recuperação é a famosa mudança de rol, uma mudança de rol que nos facilitará o desenvolvimento da seguinte fase do contra-ataque: o despregue. Sendo o jogo um todo, uma integridade inquebrantável, deve ter uma mentalidade não reducionista do jogo; deve ter uma única mentalidade (como único é o jogo): a mentalidade de jogar. Também é certo que pese a ser uma unidade o jogo, esta não é homogênea, podemos distinguir (sem separar) distintos aspectos, como os distintos momentos de jogo. Tampouco a mentalidade de jogar é homogênea, devido a que em função de cada momento de jogo essa mentalidade se aproximará mais a uns aspectos do jogo ou a outros. “Não se deve falar de equipes que tenham uma velocidade para mudar de mentalidade em ataque e defesa, senão equipes que tenham uma só mentalidade: JOGAR” Juanma Lillo “No futebol, não tem tempo entre atacar e defender, ou o tempo é imperceptível para nós, posto que o passe de uma fase a outra é eminente, interatuam constantemente; não tem intervalo de tempo no que não passe nada entre uma ação e outra: quando roubo, já estou atacando nesse roubo, e quando perco, já estou defendendo na própria perda.” David Dóniga Lara. 75 www.futbol-tactico.com Tática Edição nº78
  • 8. “A imprevisibilidade do jogo obriga as equipes a constantes mudanças de rol”. O problema na compreensão do jogo foi considerar cada fase como um compartimento fechado. Fruto dessa cerração mental surge ideias como a “mudança de chip” para passar de uma fase a outra. outras funções. Essa aproximação não será uma mudança radical, porque como comentamos, durante o processo defensivo já estamos pensando no ataque (todo o desenvolvimento da defesa organizada influi no processo de contraataque). Quando essa mudança de chip ou mentalidade não deve ser tal. As fases estão superpostas, quando estou em fase “Ataque Organizado” devo estar também em “Organização Defensiva” os jogadores que por sua situação não possam participar ativamente já devem estar situados de forma que a futura perda de bola não seja um problema” Adrián Cervera. A aproximação é progressiva começando no processo defensivo, aproximando-nos pouco a pouco a essas futuras funções, sendo no momento de recuperação quando se produz uma aproximação maior a estas novas funções. Maior, mas não total. Dito isso, a mudança do rol em se não existe: o rol sempre é o mesmo, é jogar. O que sim se produzirá no momento da recuperação será não uma mudança de rol, senão uma aproximação a Por tanto não tem mudança, senão aproximação; dentro de um rol único. Antecipar-se ao que pode passar aproximar-se a isso mais rapidamente que o adversário, nos ajudará muito mais que o famoso “mudança de rol” DESPREGUE “Despois da recuperação de bola, a primeira ideia é avançar para diante aproveitando os momentos de desequilíbrio de equipe adversária. Devemos passar da redução de espaços a amplitude ofensiva. Abrir o frente de ataque e descongestionar a zona na que se recuperou a bola buscando saída por outro lado” Miguel Ángel Lotina O despregue, como o nome indica, é uma separação dos componentes da equipe (sem perder por isso a organização no jogo). Manifestar amplitude e profundidade desde o momento em que se recupera a bola, fazendo que o como de ação da equipe defensora aumente, aumentando em muitas ocasiões, de forma consequente, a dificuldade do processo de organização defensiva rival. Ampliar as distâncias de relação entre nossos jogadores, provocando em ocasiões que também cresçam as distâncias de relação entre adversários e assim criar espaços que nos facilitarão avançar, criar zonas de progressão. Dentro da fase de despregue, o objetivo primordial será o de chegar ao gol adversário. Para consegui-lo deveremos manifestar um claro sentimento de progressão. Ser profundos. Tratar de avançar de forma rápida, ou ao menos a maior velocidade que a do repregue do rival, para aproveitar assim sua desorganização, sem permitir sua reorganização. Também terá que entender que a progressão de bola deverá levar implícita a progressão de jogadores. Não só para poder seguir progredindo tendo opções por diante da linha de bola, senão para manter uma unidade ofensiva, seguir estando juntos. Uma unidade ofensiva que nos facilitará a adaptação de forma eficaz ao ciclo do jogo (ante um passo a organização defensiva se tem perda, ou ataque organizado se tem reorganização defensiva rival). Desde a proximidade dos homens atrasados podem manifestar um equilíbrio que nos facilitará as coisas. “A velocidade de execução do contra-ataque é aquela que permite seu desenvolvimento eficaz, não reduz a términos quantitativos. Às vezes, um retrocesso, um passe de mais, ou frear-se, proporciona as condições idôneas para aproveitar os desequilíbrios desmedidos do rival, alinha favoravelmente uma boa quantidade das possibilidades de concluir com êxito”. Óscar Cano “Tempo de ação pertencente ao momento de transição defesa-ataque, que se inserta dentro do momento ofensivo, permitindo a continuação da dinâmica ou continuo de jogo, em que a equipe que recuperou a bola se dispõe a realizar as ações individuais, grupais e coletivas pertinentes para poder realizar com êxito seu momento ofensivo” Rubén Sellés 76 Edição nº78 Tática © Artigo publicado em www.futbol-tactico.com Tática 77 Edição nº78
  • 9. A propósito desta progressão de jogadores, e a velocidade da progressão da bola, se constituirão as diversas ondadas, cada qual com suas características: • 1ª ondada: Estará constituída preferentemente pelos jogadores que ficaram compensando enquanto nosso bloqueio defendia. O objetivo será finalizar o antes possível. Para isso, o contra-ataque direto será a manifestação mais empregada. Buscaremos as costas da linha defensiva rival, ajustando o passe ao desmarque de ruptura (timing), e tentando os mais adiantados aproveitar os intervalos que se produzem entre os jogadores da última linha defensiva. Será importante a posição dos mais adiantados (normalmente 1 ou 2 jogadores); que deverão bascular (pese a estar por diante da linha da bola) em relação a circulação de bola adversária, de modo que se encontrem, no momento da recuperação, no lado forte da bola, de modo que possam sacar proveito de qualquer despeje orientado. Para evitar o fora de jogo e arrancar antes que o adversário (permitindo-lhe isso tirar metros de vantagem na carreira) seria interessante à utilização de desmarques “em arco”, seguindo trajetórias curvilíneas, Além de favorecer ao possuidor a chegada do estimulo durante o inicio do desmarque, quando a carreira ainda é bastante horizontal, facilitando assim a tomada de decisão correta (estímulo chega antes, percepção precoce) • 2ª ondada: Neste caso falaríamos de um contra-ataque organizado, que já disporia de mais jogadores: aos jogadores mais adiantados se irão somando alguns dos jogadores que defendiam por detrás da linha da bola. Isso se deverá a impossibilidade de penetrar diretamente entre a linha defensiva rival. A dificuldade de progressão obrigará aos mais adiantados a esperar, a temporizar para permitir a chegada de companheiros que possibilitem um desenvolvimento do processo de contraataque mais fluido de novo. Os jogadores que 78 Edição nº78 Tática se incorporam deverão saber aproveitar aqueles © Artigo publicado em espaços criados pelas ações dos jogadores que constituíam a 1ª ondada. Os primeiros poderiam ter fixado adversário que favorecessem a penetração dos jogadores que vinha desde atrás. Dentro desta ondada também será importante perceber quando é impossível seguir progredindo, e em vez de por em risco a posse da bola, permitir a constituição da 3ª ondada: e um passo a ataque organizado, utilizando outras vias para chegar ao gol rival. • 3ª ondada: é o passo a ataque organizado pela não consecução de um contra-ataque fluido. Em algum caso seria possível o desenvolvimento de um ataque rápido, se a equipe adversária ainda não se organizou convenientemente. Neste momento de passo a ataque organizado teria um reparto espacial mais coerente, buscando a organização ofensiva, tentando conseguir a já nomeada unidade ofensiva que nos proporcione o equilíbrio necessário, sobre tudo, para poder fazer frente a uma possível perda. O objetivo é favorecer o passo ao seguinte momento de jogo, o ataque organizado. “Se quando recupero não estou limpo, buscar ao companheiro melhor encontrado para dirigir o contra” Dani Fernández. “Os companheiros melhor capacitados para dirigir o contra-ataque se apresentam de maneira imediata” Óscar Cano O diretor do contra-ataque é algo a ter em conta no desenvolvimento do contra-ataque. Um diretor de contra-ataque, um lançador, um condutor, que conduza a bola por onde a situação do jogo requer. Um condutor que perceba as zonas preferentes de progressão, que saiba quando acudir a zonas menos densas. www.futbol-tactico.com Um jogador que desde a condução do contraataque seja capaz de fixar adversários em pós de permitir aos jogadores que estão construindo as seguintes ondadas sejam capazes de perceber e aproveitar os espaços que ele criou com essa fixação. Muitas vezes o diretor do contra-ataque será um dos jogadores que ficou compensando, aproveitando essa separação do par que lhe permitirá receber em zonas liberadas de oposição, podendo-se girar para poder começar a conduzir o contra-ataque. Neste caso o diretor do contraataque pertenceria a 1ª ondada. Tática 79 Edição nº78
  • 10. Têm casos nos que o primeiro receptor não tem possibilidade de girar-se pelo deslizamento de seu par. Nestes casos costuma-se deixar de cara a um jogador da 2ª ondada, fazendo que este último, ao poder estar de cara ao gol rival, seja o diretor do contra-ataque. Em ocasiões se buscará a determinados jogadores para conduzir o contra-ataque por suas próprias características (grande condução de bola, boa interpretação dos momentos de dar o último passe, saber perceber as zonas preferentes de progressão...) e outras vezes serão as circunstâncias da própria situação do jogo as que indicarão que deve ser o condutor do contra-ataque (recepção sem oposição, espaço por diante para conduzir...) BIBLIOGRAFIA • AMIEIRO, N. Defensa en zona en fútbol (McSports) • CANO MORENO, O. Modelo de juego del FCB (McSports) • CANO MORENO, O. Juego de posición del FCB (McSports) • CASÁIS, L. La fase de transición en fútbol (McSports) • CERVERA, A. Modelo organizacional-estratégico de entrenamiento en fútbol (McSports) • DÓNIGA LARA, D. Transiciones en fútbol (Blog Fútbol Ofensivo) • FERNÁNDEZ, D. Nuevas aportaciones a la táctica (McSports) • FERNÁNDEZ, D. Modelo de juego del RCDE cadete A (no publicado) • GONZÁLEZ, A. Dinámica del juego desde la perspectiva de las transiciones (Ponencia) • GONZÁLEZ, A y colaboradores. Las transiciones en el fútbol: Marco teórico y aplicación práctica. • SELLÉS, R. Transiciones, mucho más que un momento de juego (Fútbol-Táctico) • SELLÉS, R. Guía para el trabajo de las transiciones desde la Periodización Táctica (Fútbol-Táctico) 80 Edição nº78 Tática © Artigo publicado em www.futbol-tactico.com Tática 81 Edição nº78