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Universidade da Amazônia
As Asas de um
Anjo
(Peça)
de José de Alencarde José de Alencarde José de Alencarde José de Alencar
NEAD – NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Av. Alcindo Cacela, 287 – Umarizal
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As Asas de um Anjo
de José de Alencar
PREFÁCIO DA PEÇA
(advertência e prólogo da primeira edição – 1859)
A boa vontade dos editores, que o ano passado deram à estampa O Demônio
Familiar, traz agora à luz da imprensa As Asas de um Anjo, no momento em que
tudo me afasta das lidas literárias.
O muito que tinha a dizer e criticar sobre a minha obra e as censuras de que
fui alvo, deixo-o pois à reflexão dos homens esclarecidos; bem como deixo aos
metodistas da literatura e da arte a sua classificação de escola realista.
A realidade, ou melhor, a naturalidade, a reprodução da natureza e da vida
social no romance e na comédia, não a considero uma escola ou um sistema; mas o
único elemento da literatura: a sua alma. O servilismo do espírito eivado pela
imitação clássica ou estrangeira, e os delírios da imaginação tomada do louco
desejo de inovar são aberrações passageiras; desvairada um momento, a literatura
volta, trazida pela força irresistível, ao belo, que é a verdade. Se disseram que
alguma vez copiam-se da natureza e da vida cenas repulsivas, que a decência, o
gosto e a delicadeza não toleram, concordo. Mas aí o defeito não está na literatura,
e sim no literato; não é a arte que renega do belo; é o artista, que não soube dar ao
quadro esses toques divinos que doiram as trevas mais espessas da corrupção e da
miséria.
Nas convulsões da matéria humana, no tripúdio dos vícios, na fase a mais
torpe da existência social, há sempre no fundo do vaso uma inteligência e um
coração; é a razão e o sentimento em tortura; é a luz e o perfume a apagar-se; são
as cores da palheta. Se com elas o pincel não desenha sobre o fundo negro um
quadro harmonioso, os olhos não sabem ver, ou a mão não sabe reproduzir.
Censurem pois As Asas de Um Anjo porque lhe falte uma ou outra dessas
condições; porque ou os reflexos ou as refrações das cenas sejam imperfeitas. Mas
não censurem nela a tendência da literatura moderna – apelidando-a de realismo.
Sobre a acusação de imoralidade que lançaram à comédia, e que afinal
traduziu-se em uma proibição policial, escuso defender-me depois do artigo que
publiquei no Diário do Rio de Janeiro, e que servirá de prólogo ao livro impresso,
como serviu de protesto ao drama retirado da cena.
A crítica sensata e judiciosa, já expressa no jornalismo pelo Sr. Dr. F.
Otaviano, já discutida em conversa por companheiros de letras, pronunciou-se
contra o epílogo. Um pensa que terminada a ação naturalmente no 4o. ato, tudo
quanto siga é estranho ao drama. Outros entendem que a regeneração surge
imprevista, e consuma-se rápida, deixando por isso de calar no espírito do
espectador, fortemente impressionado pelas cenas anteriores.
Não contestarei essa opinião, a que aliás o público por algum daqueles
motivos, parece ter dado razão. Direi somente que sem o epílogo o pensamento da
minha comédia ficaria incompleto; ela seria apenas uma nova encarnação do velho
tipo de Manon Lescaut; encarnação brasileira, é verdade; mas por isso mesmo
desbotada e macilenta, porque a vida exterior da nossa corte não podia emprestar-
lhe as cores e o brilho das grandes cidades européias.
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3
O livro nasce do espírito, como a planta brota da terra; simples, borbulha a
princípio, pulula, germina, abrolha as folhas, esgalha, copa-se e floresce por fim. Se
o cultor da planta vai-lhe moldando os ramos enfezados, esladroando-lhe os renovos
que podem minguar o tronco, a seiva criadora substitui quanto a mão do homem
corrige; mas se descuidado deixa que a planta cresça com os seus defeitos, pode
cortar-lhe o galho rasteiro, forçar-lhe a haste arqueada; a árvore ficará mutilada,
porém sempre mal parecida.
Assim é o livro; assim foi com As Asas de um Anjo.
Depois de concluída a comédia e representada; depois de partido esse fio
que prende a obra ainda inédita ao espírito que a criou, era impossível matar o livro;
mas torcer-lhe o molde, dar-lhe outra configuração, excedia à vontade e às forças do
autor. Creio mesmo que tudo quanto saísse dessa superfetação literária seria
monstruoso e disforme.
Prefiro pois – embora reconheça até certo ponto a justeza da crítica – deixar a
comédia com os seus defeitos, mas com a espontaneidade de sua invenção. As
criações da imaginação também têm a sua virgindade; e muitas vezes a razão não
se anima a corrigi-las, com receio de murchar-lhes a flor.
As alterações que fiz no original, levado à cena, e aprovado pelo
Conservatório, são unicamente de estilo; castiguei a frase quando não me pareceu
natural; dei em alguns pontos melhor torneio ao diálogo; mas na ação dramática, e
no pensamento que ela exprime, nem de leve toquei.
Entretanto se algum dia, o que não espero, cessar o interdito policial, e
entenderem que o epílogo pode prejudicar o efeito cênico, não me oporei a
semelhante supressão; antes estimarei que ela se faça, porque será a solução
prática da questão de arte que aventou o desenlace da tragédia.
Fim

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  • 1. www.nead.unama.br 1 Universidade da Amazônia As Asas de um Anjo (Peça) de José de Alencarde José de Alencarde José de Alencarde José de Alencar NEAD – NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Av. Alcindo Cacela, 287 – Umarizal CEP: 66060-902 Belém – Pará Fones: (91) 210-3196 / 210-3181 www.nead.unama.br E-mail: uvb@unama.br
  • 2. www.nead.unama.br 2 As Asas de um Anjo de José de Alencar PREFÁCIO DA PEÇA (advertência e prólogo da primeira edição – 1859) A boa vontade dos editores, que o ano passado deram à estampa O Demônio Familiar, traz agora à luz da imprensa As Asas de um Anjo, no momento em que tudo me afasta das lidas literárias. O muito que tinha a dizer e criticar sobre a minha obra e as censuras de que fui alvo, deixo-o pois à reflexão dos homens esclarecidos; bem como deixo aos metodistas da literatura e da arte a sua classificação de escola realista. A realidade, ou melhor, a naturalidade, a reprodução da natureza e da vida social no romance e na comédia, não a considero uma escola ou um sistema; mas o único elemento da literatura: a sua alma. O servilismo do espírito eivado pela imitação clássica ou estrangeira, e os delírios da imaginação tomada do louco desejo de inovar são aberrações passageiras; desvairada um momento, a literatura volta, trazida pela força irresistível, ao belo, que é a verdade. Se disseram que alguma vez copiam-se da natureza e da vida cenas repulsivas, que a decência, o gosto e a delicadeza não toleram, concordo. Mas aí o defeito não está na literatura, e sim no literato; não é a arte que renega do belo; é o artista, que não soube dar ao quadro esses toques divinos que doiram as trevas mais espessas da corrupção e da miséria. Nas convulsões da matéria humana, no tripúdio dos vícios, na fase a mais torpe da existência social, há sempre no fundo do vaso uma inteligência e um coração; é a razão e o sentimento em tortura; é a luz e o perfume a apagar-se; são as cores da palheta. Se com elas o pincel não desenha sobre o fundo negro um quadro harmonioso, os olhos não sabem ver, ou a mão não sabe reproduzir. Censurem pois As Asas de Um Anjo porque lhe falte uma ou outra dessas condições; porque ou os reflexos ou as refrações das cenas sejam imperfeitas. Mas não censurem nela a tendência da literatura moderna – apelidando-a de realismo. Sobre a acusação de imoralidade que lançaram à comédia, e que afinal traduziu-se em uma proibição policial, escuso defender-me depois do artigo que publiquei no Diário do Rio de Janeiro, e que servirá de prólogo ao livro impresso, como serviu de protesto ao drama retirado da cena. A crítica sensata e judiciosa, já expressa no jornalismo pelo Sr. Dr. F. Otaviano, já discutida em conversa por companheiros de letras, pronunciou-se contra o epílogo. Um pensa que terminada a ação naturalmente no 4o. ato, tudo quanto siga é estranho ao drama. Outros entendem que a regeneração surge imprevista, e consuma-se rápida, deixando por isso de calar no espírito do espectador, fortemente impressionado pelas cenas anteriores. Não contestarei essa opinião, a que aliás o público por algum daqueles motivos, parece ter dado razão. Direi somente que sem o epílogo o pensamento da minha comédia ficaria incompleto; ela seria apenas uma nova encarnação do velho tipo de Manon Lescaut; encarnação brasileira, é verdade; mas por isso mesmo desbotada e macilenta, porque a vida exterior da nossa corte não podia emprestar- lhe as cores e o brilho das grandes cidades européias.
  • 3. www.nead.unama.br 3 O livro nasce do espírito, como a planta brota da terra; simples, borbulha a princípio, pulula, germina, abrolha as folhas, esgalha, copa-se e floresce por fim. Se o cultor da planta vai-lhe moldando os ramos enfezados, esladroando-lhe os renovos que podem minguar o tronco, a seiva criadora substitui quanto a mão do homem corrige; mas se descuidado deixa que a planta cresça com os seus defeitos, pode cortar-lhe o galho rasteiro, forçar-lhe a haste arqueada; a árvore ficará mutilada, porém sempre mal parecida. Assim é o livro; assim foi com As Asas de um Anjo. Depois de concluída a comédia e representada; depois de partido esse fio que prende a obra ainda inédita ao espírito que a criou, era impossível matar o livro; mas torcer-lhe o molde, dar-lhe outra configuração, excedia à vontade e às forças do autor. Creio mesmo que tudo quanto saísse dessa superfetação literária seria monstruoso e disforme. Prefiro pois – embora reconheça até certo ponto a justeza da crítica – deixar a comédia com os seus defeitos, mas com a espontaneidade de sua invenção. As criações da imaginação também têm a sua virgindade; e muitas vezes a razão não se anima a corrigi-las, com receio de murchar-lhes a flor. As alterações que fiz no original, levado à cena, e aprovado pelo Conservatório, são unicamente de estilo; castiguei a frase quando não me pareceu natural; dei em alguns pontos melhor torneio ao diálogo; mas na ação dramática, e no pensamento que ela exprime, nem de leve toquei. Entretanto se algum dia, o que não espero, cessar o interdito policial, e entenderem que o epílogo pode prejudicar o efeito cênico, não me oporei a semelhante supressão; antes estimarei que ela se faça, porque será a solução prática da questão de arte que aventou o desenlace da tragédia. Fim