O documento discute o descaso do poder público em relação aos desastres naturais recorrentes no Brasil, que ceifam vidas e destroem lares. Aponta que a ocupação desordenada de áreas de risco, ignorando normas de segurança, é tolerada pelas autoridades por motivos políticos, colocando populações em situação de vulnerabilidade. Defende que a participação cidadã é necessária para pressionar por mudanças e maior responsabilidade dos governantes.
2. A Terra também grita. E sangra, e chora. A Terra está enferma e ameaçada. Bem como a humanidade.
3. O que está em crise é o modelo de sociedade e o sentido de vida que adotamos. Os tempos atuais nos urgem a buscar mudanças e novos paradigmas civilizatórios.
4. As autoridades costumam repetir que as tragédias não têm uma única causa, – seriam resultantes de uma soma inesperada de fatores.
5. A cada temporal, os políticos carregam nas tintas do imponderável. “ Nunca choveu tanto”, “a água dos rios atingiu volume recorde”, “fomos pegos de surpresa”.
6. No entanto, à custa de centenas de mortes e prejuízos incalculáveis, impõe-se outra vez a dura realidade: O descaso do poder público.
7. O descaso do poder público é o fator primordial a explicar a dimensão dos estragos causados pela chuva não apenas no Rio, mas também em São Paulo, Minas e pelo país afora.
8. O descaso do poder público, o desinteresse e alheamento pelo bem coletivo. E toda a dor e todo o sofrimento por eles ocasionados.
9. Salta aos olhos a incapacidade das esferas governamentais de prevenir as tragédias que se repetem, ignorando as medidas necessárias para proteger as populações das áreas de risco.
10. E o fato é que o assunto é tratado no dia a dia de todas as esferas de governo como se fosse mais uma banalidade a cargo da burocracia federal. Não é.
12. Funcionários de pelo menos cinco ministérios – Meio Ambiente, Cidades, Transportes, Bem-Estar Social e Integração Nacional–...
13. ...já deveriam ter passado pelas cidades da região serrana do estado nos últimos anos e observado que a ocupação das encostas não podia acabar bem.
14. Um colunista do jornal Folha de São Paulo chega a questionar que talvez cinco ministérios não sejam suficientes para cuidar do assunto, e propõe a criação de mais um, o Ministério da Catástrofe.
16. Quantas vidas ainda haverão de ser ceifadas pelo descaso e pela cegueira social que acomete nossos políticos e governantes?
17. Com a tolerância, e até o estímulo irresponsável do poder público, áreas sob risco permanente de deslizamentos são ocupadas desordenadamente.
18. Normas de edificação são ignoradas, os cuidados com a cobertura florestal e com a impermeabilização do solo são considerados dispensáveis.
19. Não se trata apenas de incompetência técnica nem falta de recursos. Muitas vezes, por motivos políticos, autoridades não se dispõem a pagar o preço de remover os habitantes das áreas ameaçadas.
20. Estas mesmas autoridades, muitas vezes, facilitaram a sua ocupação, criando redutos eleitorais em terrenos predestinados à tragédia.
21. A omissão das autoridades só pode ser chamada de criminosa, quando suas vítimas, mais uma vez, se contam às centenas nestes dias.
22. Criança de nove anos de idade, vítima dos deslizamentos, é enterrada em Petrópolis/RJ.
23. “ O ser humano nasce para uma vida longa e plena. E se ele morre antes de seu termo, que acontece com a vida não vivida?”
24. “ Para onde vão suas alegrias e dores? Os pensamentos que não teve tempo de contemplar, os atos que não cumpriu?”
25. Cada pessoa é única. No oceano da existência, nenhuma gota se repete.
26. A dor sempre lacerante de quem perde um parente de modo inesperado.
27. “ Meu nome? Não sou mais ninguém.” Desabafo de morador de Friburgo que carrega o caixão da filha. Atrás dele, o corpo da mulher.