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Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História
UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS
IV Simpósio Nacional Anônimos na História:
“Indignações, sujeitos e histórias...”
Anais Eletrônicos - N⁰01-2013.
ISSN:
São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 1
ISSN:
Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História
UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS
Anais Eletrônicos – 2013
Título: Anais Eletrônicos – IV Simpósio Nacional Anônimos na História:
“Indignações, sujeitos e histórias...”
ISSN:
Organizadores:
Antônio Lindvaldo Sousa
Andreza Silva Mattos
Claudefranklin Monteiro Santos
Priscilla Araujo Guarino Silveira
Edição: 1
Ano da Edição: 2013
Local de Edição: São Cristóvão-SE
Tipo de Suporte: Internet
Editora: UFS
São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 2
ISSN:
Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História
UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS
Organização dos Anais Eletrônicos:
Antônio Lindvaldo Sousa
Andreza Silva Mattos
Claudefranklin Monteiro Santos
Priscilla Araujo Guarino Silveira
Revisão:
Andreza Silva Mattos
Priscilla Araujo Guarino Silveira
Diagramação:
Andreza Silva Mattos
Eduardo Augusto Santos Silva
Priscilla Araujo Guarino Silveira
Capa:
Andreza Silva Mattos
Priscilla Araujo Guarino Silveira
Arte-finalização:
Andreza Silva Mattos
Priscilla Araujo Guarino Silveira
Organização Do Evento:
Antônio Lindvaldo Sousa
Comissão Organizadora Adjunta:
Adailton Andrade dos Santos – GPCIR/UFS
Andre Luiz Sá De Jesus- GPCIR/UFS
Andréa Bandeira - UEP
Andreza Silva Mattos - GPCIR/UFS/ PROHIS
Aquilino José De Brito Neto - GPCIR/UFS/ PROHIS
Claudefranklin Monteiro Santos - GPCIR/UFS
Eduardo Augusto Santos Silva - GPCIR/UFS
Jose Andrade Sá - GPCIR/UFS
Josefa Eliene Dos Santos - GPCIR/UFS
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ISSN:
Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História
UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS
Leonardo Matos Feitoza - GPCIR/UFS/ PROHIS
Lina Aras - UFBA
Mônica Liz Miranda - UFVJN
Priscilla Araujo Guarino Silveira - GPCIR/UFS/ PROHIS
Tamires Dos Anjos Oliveira- GPCIR/UFS
Ygo Araújo Ferro – UFAL
Valeria Maria Santana Oliveira – UNIT-EAD/ANPUNH/CESAD-UFS
Comissão Cientifica:
João Mouzart de Oliveira Junior – UFS/NPPA
Mateus Antonio de Almeida Neto – CESAD/UFS
Marcio Gomes de Santana Matos – UNIT
Rita Leoser da Silva Andrade – CESAD/UFS
Rivanaldo Oliveira - GPCIR/UFS
Igor Diniz Araujo- GPCIR-UFS
Conselho Consultivo:
Magno Francisco de Jesus Santos
Ane Luíse Silva Mecenas Santos
Mônica Liz Miranda
Valéria Maria Santana Oliveira
Claudefranklin Monteiro Santos
Andréa Bandeira
Monitores:
Barbara Barbosa dos Santos
Cacilda Messias de Jesus Santiago
Carla Gracyelle de Sousa Santos
Cassiano Celestino de Jesus
Edla Tuane Monteiro Andrade
Géssica Conceição Alves Santos
Gilmar Castilho de Lima
Isabela Chagas Santos
Jessica Messias dos Santos
Josineide Luciano Almeida Santos
Mayra Ferreira Barreto
Nerita Carvalho Figueiredo
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ISSN:
Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História
UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS
Observação: A adequação técnico-linguística dos textos é de responsabilidade
dos autores.
Apoio:
DHI- Departamento de História
PROHIS- Programa de Pos-graduação em História
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ISSN:
Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História
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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
S612a
Simpósio Nacional Anônimos na História: “Indignações, sujeitos e
histórias...” (4. : 2013, : São Cristóvão, SE)
Anais [recurso eletrônico]: IV Simpósio Nacional Anônimos na
História: “Indignações, sujeitos e histórias...”: 04 a 08 de junho de
2013, São Cristóvão, SE / Organizadores: Antônio Lindvaldo
Souza... [et al.]. – São Cristóvão: Universidade Federal de
Sergipe, Grupo de Pesquisa Culturas, Identidades e
Religiosidades, 2013.
1 Anais Eletrônicos.
ISSN
1. História. 2. Sergipe - História. 3. Cultura. 4. Identidade social.
5. Religiosidade. 6. Memória. 7. Arqueologia. 8. Movimentos sociais. I.
Souza, Antônio Lindvaldo. II. Título. III. Título: “Indignações, sujeitos e
histórias...”
CDU 93/94
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Sumário
I - APRESENTAÇÃO 11
II - PROGRAMAÇÃO DO SIMPÓSIO 12
III - SIMPÓSIOS TEMÁTICOS LIVRES: TEXTOS
COMPLETOS
15
SIMPÓSIO I
Coordenadora: Andreza Silva Mattos
“CAÇA AS BRUXAS”: VIOLÊNCIA E DISPUTA POLÍTICA PELO
PODER LOCAL NA VILA DE N. SRA. DAS DORES EM 1906-1907
Thiago José Menezes da Silva
16
A MORTE COMO UM DRAMA SOCIAL: O CASO DE ZULNURA
MOTTA
Rafael Santa Rosa Cerqueira
25
ANÁLISE BIOARQUEOLÓGICA REALIZADA EM SEPULTURA
DE NÃO ADULTO DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO SÃO JOSÉ II
Madson de Souza Fontes
Olívia Alexandre de Carvalho
32
FUTEBOL, CINEMA E POLÍTICA: A DITADURA URUGUAIA E O
MUNDIALITO EM 1980
Adson do Espírito Santo
41
A VIDA NAS FÁBRICAS: COTIDIANO DAS MULHERES
OPERÁRIAS EM SERGIPE (1950-1956)
Wagner Emmanoel Menezes Santos
50
OS TRABALHADORES EM AÇÃO: A IMPRENSA OPERÁRIA
ALAGOANA (1912/1920)
Shuellen Sablyne Peixoto da Silva
60
PARA ALÉM DOS MUROS DA FÁBRICA: O CASO ENTRE A AD
CONFIANÇA, O FUTEBOL E A IDENTIDADE.
Sakay de Brito
68
ORGANIZAÇÃO SINDICAL DOCENTE EM SIMÃO DIAS:
HISTÓRIA E MEMÓRIA DE UM MOVIMENTO SOCIAL (1990-
1994)
Antonio José dos Santos Júnior
83
UMA MANIFESTAÇÃO DIONISÍACA NA CIDADE DE SÃO
MIGUEL DO ALEIXO
Josevania Souza de Jesus Fonseca
113
E OS BISPOS BRASILEIROS FORAM A ROMA: REFLEXÕES
SOBRE O EPISCOPADO BRASILEIRO NO CONCÍLIO
VATICANO II
128
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Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História
UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS
Eduardo Augusto Santos Silva
VACINAÇÃO E CONFLITO NA URBE: UM OLHAR SOBRE A
REVOLTA DA VACINA (1904)
Luiz Paulo Santos Bezerra
137
AS OCUPAÇÕES DE TERRAS NO BRASIL: A LUTA PELO
ACESSO A TERRA NO GOVERNO DE FHC (1999-2002)
Joselane da Silva Tenório
145
“LEMBRANÇAS E SABORES...”: ALIMENTAÇÃO SEGUNDO
DEPOIMENTOS DE DONA BABY DURANTE A SUA
TRAJETÓRIA NA USINA PEDRAS (1969 - 1972)
Andreza Silva Mattos
Priscilla Araujo Guarino Silveira
152
SIMPÓSIO II
Coordenadora: Priscilla Araujo Guarino Silveira
MAXIXE: EVIDÊNCIAS DE CIRCULARIDADE CULTURAL
Aquilino José de Brito Neto
167
HISTÓRIA E MEMÓRIA: ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A
“FEBRE DE MEMÓRIA” NA CONTEMPORANEIDADE
Jéssica da Silva Souza
180
IMAGINÁRIOS E VESTIMENTAS: DIÁLOGO ENTRE
IMAGINÁRIO MEDIEVAL, COTIDIANO E ROUPAS USADAS NA
CIDADE DA BAHIA
Marcos Ferreira Gonçalves
187
OS SONS QUE VÊM DA MEMÓRIA: OS TESTEMUNHOS SOBRE
A DITADURA QUE PARTEM DOS DEPOIMENTOS DE DOIS
MÚSICOS
Mislene Vieira dos Santos
198
PERSPECTIVAS DA COMUNIDADE MARGINALIZADA –
BAIRRO SANTA MARIA
Maria Aline Matos de Oliveira
Taís Danielle Alcântara de Araújo Silva
211
ENTRE MARIAS E CLARAS: VIVÊNCIAS DE ALGUMAS
MULHERES EM SERGIPE DEL REY, NO PERÍODO DOS
SETECENTOS
Elielma Barbosa Lisboa
Rafael Ribeiro
219
ANSELMO E SOLEDAD: CAMINHOS CRUZADOS
Isabela Chagas Santos
229
MADRE ALBERTINA BRASIL: RECORTES DE UMA
TRAJETÓRIA NO ESTADO DE SERGIPE (1954 – 1978)
Ana Paula Soares Lima
Cora Linhares dos Santos
238
DA PRAÇA DA LAVOURA À FEIRA DOS RATOS:
PATRIMÔNIOS E MEMÓRIAS DE EUNÁPOLIS-BA
Levi Sena Cunha
Neide Gonçalves de Oliveira
247
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TRAJETÓRIA, MEMÓRIA E PRÁTICAS EDUCATIVAS:
REPRESENTAÇÕES DA CONFIGURAÇÃO DOCENTE NA
GRANDE ARACAJU (1950 A 1970)
Anderson Teixeira de Souza
Raylane Andreza Dias Navarro Barreto
257
HISTÓRIA E MEMÓRIA DA CASA DO OUVIDOR EM SERGIPE
D’EL REY
Adailton dos Santos Andrade
267
O SERTÃO COLONIAL NA BERLINDA DO SANTO OFÍCIO:
DIVERGENTES PERCEPÇÕES SOBRE UM MEIO SOCIAL
HÍBRIDO (1589-1595)
Andreza Silva Mattos
Priscilla Araujo Guarino Silveira
276
SIMPÓSIO III
Coordenadoras: Andreza Silva Mattos e Priscilla Araujo Guarino Silveira
IDENTIDADE RECRIADA: OS “BRASILEIROS” DO BENIM
Gladston Oliveira dos Passos
287
MEMÓRIAS DO “HOSPITAL VELHO”: AS RUÍNAS DO
HOSPITAL SÃO JOÃO DE DEUS EM LARANJEIRAS (SE) E SUA
REPRESENTAÇÃO SOCIAL
Danielle de Oliveira Cavalcante
293
ENTRE TRILHOS E CAMINHOS: OS BONDES EM ARACAJU, NO
PERÍODO DE 1900 A 1950.
Luciana de Souza Santos
Maria Carla Andrade de Carvalho
306
“CUBÍCULOS ÚMIDOS E IMUNDOS”: A PENITENCIÁRIA
MODELO DE ARACAJU (1926-1960)
Mariana Emanuelle Barreto de Gois
316
QUADRILHA JUNINA EM ARACAJU – UMA PEÇA DE
CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA (DÉCADAS 1980/1990)
Gilvan de Oliveira Fiel
329
(DES) VENTURAS POÉTICAS DE MANOEL ALVES MACHADO
(1874-1897)
Igor Diniz Araújo
339
“SOB O MANTO ACOLHEDOR DO ROSÁRIO”: A IRMANDADE
NEGRA NA VILA DE SANTA LUZIA.
Ivo Rangel Fontes Lima
Bruna Ribeiro dos Santos
351
TEATRO, DA ACRÓPOLE AO LAGARTO:
CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEATRO NO MUNDO E A
HISTÓRIA DO TEATRO LAGARTENSE
Ailton Silva dos Santos
359
CHOÇAS E CHOUPANAS: FRAGMENTOS DA HISTÓRIA DAS
MORADIAS ESCRAVAS NAS TERRAS SERGIPANAS (1763-1888)
Joceneide Cunha
373
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UMA ESCOLA SEM DEUS E MESTRES SEM FÉ: O
REGULAMENTO DE 04 DE JULHO DE 1881 E A INDIGNAÇÃO
DO VIGÁRIO ENCOMENDADO DA FREGUESIA DE ARACAJU
Leonardo Matos Feitoza
381
CIBERESPAÇO: A DIREITA NO MEIO DIGITAL
Luzimary dos Santos Rocha
390
UM FLÂNEUR TRANSATLÂNTICO: PATRIMÔNIO CULTURAL
EM SITES E BLOGS SERGIPANOS E PORTUGUESES
Giceli Andrade Rocha Santos
398
PESSOAS ANÔNIMAS, VIOLÊNCIAS DECLARADAS
Antonio Clarindo Barbosa de Souza
406
CAPITÃES DE SALVADOR: A MARGINALIZAÇÃO SOCIAL NA
OBRA CAPITÃES DA AREIA DE JORGE AMADO
Anne Micheline Souza Gama
416
A HISTÓRIA ORAL COMO EXPERIÊNCIA PSICANALÍTICA
Luis Eduardo Pina Lima
426
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Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História
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I - APRESENTAÇÃO
O Simpósio Nacional Anônimos na História é realizado de dois em dois
anos pelo GPCIR – Grupo de pesquisa “Culturas, Identidades e Religiosidades”
CNPQ/UFS. Seguindo a direção da mesma temática dos últimos simpósios que
trabalharam com a temática dos direitos humanos, o tema deste ano é
“Indignação, Sujeitos e Histórias”.
Segundo o dicionário da língua portuguesa do Instituto Antônio Houaiss
(p.1605), indignado é um “enfurecido”, “revoltado”, “tomado por indignação”.
O termo “indignação” é um sentimento humano de cólera ou de desprezo
experimentado diante da indignidade, injustiça, afronta; repulsa e revolta.
Independentemente da situação social dos sujeitos, ricos ou pobres,
burgueses ou operários, suas trajetórias de vidas e, principalmente, suas relativas
liberdades, são desconhecidas pelo grande público. Pouco sabemos sobre as
ações de sujeitos comuns na nossa história. Todos eles entram na categoria de
“ANÔNIMOS”.
O modelo de enxergar exemplos de ações de anônimos e levá-los para o
campo da História escrita não se restringe ao modelo de uma “História vista de
baixo”, como alternativa para substituir uma “História vista de cima”, que revela
indivíduos considerados grandes homens pela História Universal. Busca-se
encontrar esses anônimos a partir da micro-história, do cotidiano na relação
entre o particular e o geral. Assim, possivelmente, uma indignação de um sujeito
e o entendimento do pertencimento do mesmo iluminariam entender uma
discussão maior.
E para quê averiguarmos suas trajetórias de vidas, como fez Carlo
Ginzburg ao estudar um moleiro anônimo, desconhecido de todos? O que levou
esse historiador a contar a história de um indivíduo perseguido pela inquisição?
O mundo vivido e as representações do moleiro dizem muito sobre o tempo dele
e ao mesmo tempo nos fazem dialogar com o nosso, com as nossas incertezas do
presente. Gente como Menocchio, perscrutado por Ginzburg, diz muito sobre as
inúmeras possibilidades do fazer humano, das vicissitudes históricas.
É sobre essa inspiração que projetamos este evento denominado
Simpósio Nacional Anônimos na História.
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II - PROGRAMAÇÃO
IV Simpósio Nacional Anônimos na História:
“Indignações, sujeitos e histórias...”
DATA E HORÁRIO EVENTO
DIA 04 DE JUNHO – TERÇA- FEIRA
Das 08 às 12h • Minicursos
Coordenação: Josefa Eliene dos Santos
e Tamires dos Anjos Oliveira.
• Credenciamento
Coordenação: Josefa Eliene dos Santos e
Tamires dos Anjos Oliveira.
Local do credenciamento: Sala do GPCIR
no Departamento de História da UFS.
Das 17 às 19h • Solenidade de entrega das
homenagens a sujeitos anônimos
na História.
Apresentação do Coral do Banese.
Coordenação: Leonardo Matos Feitoza e
Priscilla Araujo Guarino Silveira.
Coordenação do cerimonial: Aquilino José
de Brito Neto.
• Entrega de certificados de
conclusão do curso HISTÓRIA DE
SERGIPE PARA A TERCEIRA
IDADE.
Coordenação: Eduardo Augusto Santos Silva
e Tamires dos Anjos Oliveira.
Local: Museu da Gente Sergipana.
DIA 05 DE JUNHO – QUARTA- FEIRA
Das 08 às 12h • Minicursos
Coordenação: Josefa Eliene dos Santos e
Tamires dos Anjos Oliveira.
Das 19 às 22h • Solenidade de abertura do IV
SIMPÓSIO ANÔNIMOS NA
HISTÓRIA.
Apresentação Cultural
Coordenação: Aquilino José de Brito Neto.
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• Conferência de abertura:
“Anonimato e indignação no pós-abolição
no Rio de Janeiro e no Sudeste brasileiro”.
Conferencista: Profª. Drª. Marta Abreu
(UFF)
Apresentação: Profº. Dr. Antônio Lindvaldo
Sousa
Local: Sociedade SEMEAR
DIA 06 DE JUNHO – QUINTA- FEIRA
Das 08 às 12h • Minicursos
Coordenação: Josefa Eliene dos Santos e
Tamires dos Anjos Oliveira.
Das 14 às 17h • Sessões de comunicações
Coordenação: Andreza Silva Mattos e
Priscilla Araújo Guarino Silveira.
Das 19:00 às 20:30h
• Mesa Redonda “A”
“O projeto História de Sergipe para a
terceira idade: sujeitos, trajetórias de
vidas e indignações”.
Coordenação da mesa:
Profº. Dr. Antônio Lindvaldo
Sousa/GPCIR/CNPq/UFS/PROHIS/
Local: Auditório da Reitoria – UFS
Campus de São Cristóvão
Das 20:30 às 22h • Mesa Redonda “B”
"As indignações que cercam o Ensino de
História”.
Coordenação da mesa:
Profª. Msc. Mônica Lins Miranda/UFVJM
Local: Auditório da Reitoria – UFS
Campus de São Cristóvão
DIA 07 DE JUNHO – SEXTA-FEIRA
Das 08 às 12h • Minicursos
Coordenação: Josefa Eliene dos Santos e
Tamires dos Anjos Oliveira.
Das 14 às 17h • Sessões de comunicações
Coordenação: Andreza Silva Mattos e
Priscilla Araújo Guarino Silveira.
São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 13
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Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História
UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS
Das 19:00 às 20:30h • Mesa-redonda “C”
“Mulheres em movimento”
Coordenação da mesa:
Profª. Drª. Andrea Bandeira/GPCIR/UEP
Local: Auditório da Reitoria – UFS
Campus de São Cristóvão
Das 20:30 às 22h • Mesa-redonda “D”
“Anônimos e indignados na pós-
modernidade: estranhos, desenraizados e
desorientados”.
Coordenação da mesa:
Profº. Dr. Santiago Silva de
Andrade/GPCIR/CNPq/AGES
Local: Auditório da Reitoria – UFS
Campus de São Cristóvão
DIA 08 DE JUNHO – SÁBADO
Das 8 às 12h SAÍDA DE ARACAJU PARA A
FAZENDA SANTA CRUZ -
LARANJEIRAS. Entrega de certificados
aos monitores do curso: História de
Sergipe para a Terceira Idade.
Das 14 às 18h Culto Ecumênico
São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 14
ISSN:
Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História
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SIMPÓSIOS TEMÁTICOS LIVRES:
TEXTOS COMPLETOS
“CAÇA AS BRUXAS”: VIOLÊNCIA E DISPUTA POLÍTICA PELO PODER LOCAL
NA VILA DE N. SRA. DAS DORES EM 1906-1907
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Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História
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Thiago José Menezes da Silva*
RESUMO:
A proposta deste artigo é demostrar que o assassinato de Emiliano José de Lima,
ocorrido na vila de N. Sra. Das Dores, está relacionado com a “caça as bruxas”, perseguições
e atentados empreendidas contra os partidários de Fausto Cardoso, decretada pelos olimpistas
após o assassinato do Senador Olímpio Campos. Esse crime foi o resultado do acirramento
político na Vila, que foi intensificado a partir da Revolta de 1906, que contou com a
participação do Coronel Vicente Porto e sua Legião Dorense. Além disso, mostra como
lideres políticos e servidores públicos utilizavam seus cargos para defenderem interesses
privados. E como a Polícia, as autoridades Judiciárias e os gestores públicos foram ineficiente
no exercício de suas funções e na tentativa de manutenção da ordem.
PALAVRAS-CHAVE: N. Sra. Das Dores, Coronelismo, Revolta de 1906 e Criminalidade.
1 – INTRODUÇÃO:
A proposta deste artigo é demostrar que o assassinato de Emiliano José de Lima,
ocorrido na vila de N. Sra. Das Dores, está relacionado com a “caça as bruxas”, perseguições
e atentados empreendidas contra os partidários de Fausto Cardoso, decretada pelos olimpistas
após o assassinato do Senador Olímpio Campos.
A escolha desse objeto de pesquisa deve-se ao fato que, através do estudo de um
caso particular, o crime acima exposto surgiu uma oportunidade para traçar um breve
painel do coronelismo1
na vila dos Enforcados.
O início do século XX, primeiros anos da República no Brasil, foi um período de
*
Graduado em História pela Universidade Tiradentes em 2007 e Especializado em Ensino de História: Novas
Abordagens em 2010.
1
Para Ibarê Danta é uma forma de representação política exercida por determinados proprietários sobre os
trabalhadores rurais, tempo que se impõem como intermediário entre as massas do campo e as oligarquias
estaduais, tendo como objetivo a manutenção da estrutura de dominação. (DANTAS, 1987, p. 18)
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turbulência política que marcou a História do Estado devido a Revolta de 1906 e seus
desdobramentos. Esses fatos, juntamente com uma crise econômica, geraram instabilidades
políticas e disputas em várias localidades de Sergipe. Então, foi a partir desse contexto
político-social e da análise deste processo, encontrado no Arquivo do Judiciário do
Estado de Sergipe2
, que surgiu a seguinte indagação: Qual a relação do assassinato de
Emiliano José de Lima com a disputa do poder local na vila de N. Sra. Das Dores e com
a Revolta de 1906?
Para responder esta questão foi realizado o levantamento bibliográfico sobre o tema
apresentado, após esta catalogação foi feito uma seleção e análise, enfatizando os pontos a
serem abordados. Igualmente, analisado o jornal Correio de Aracaju do ano de 1907, com o
objetivo de entender como o jornal retratou as perseguições e atentados ocorridos na vila.
Sendo assim, esta pesquisa tornou-se em uma oportunidade de contribuir com a
História da cidade de N. Sra. Das Dores/SE, realizando o resgate da memória local, através do
estudo das disputadas políticas e pelo poder ocorridas na primeira década do século XX.
Assim como, é uma oportunidade de trabalhar com processos criminais, fontes históricas que
flagram homens e mulheres, de várias posições sociais, agindo e descrevendo relações
cotidianas.
2 - A REVOLTA DE 1906 E A VILA DE N. SRA. DAS DORES:
Nos primeiros anos da Republica no Brasil, a política em Sergipe era dominada pela
oligarquia Olimpista, que ganhou mais autonomia com a política dos governadores criada por
Campos Sales. Em Sergipe esse grupo político sofreu bastante com a oposição feita pelo
então Deputado Fausto Cardoso e seus partidários, que tentaram acabar com o domínio dos
Olimpista na política sergipana.
Entre os anos de 1889 a 1907, o Estado vivia uma crise econômica gerada,
principalmente, devido a queda nas exportações do açúcar. Para tentar amenizar a situação
financeira, o Governo adotou medidas que acabaram desagradando a diversos setores da
2
Foram encontrados na caixa nº 80 /02x – 1907/1908 da Comarca de N. Sra. Das Dores, quinze processos
criminais, sendo seis de homicídios (art. 294) e os outros crimes tipificados nos artigos 303, 304 e 330 do
código penal vigente do período. Entre eles se encontrava o processo que tratava do assassinato de Emiliano
José de Lima.
São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 17
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sociedade. Além disso, a crise gerou grande inquietação da classe dominante, que ficou com
medo de que a situação afetasse o equilíbrio social vigente.
Uma dessas medidas foi o aumento da fiscalização nas casas comerciais. Ela
provocou o fechamento de alguns estabelecimentos que não aguentaram a carga de impostos.
E ainda gerou um confronto entre os interesses do comércio e os da agricultura, que foi
traduzido em crescente insatisfação contra o Governo e o partido que o apoiava. Assim,
comerciantes passaram a fazer coro com os excluídos do Governo, que vinham na queda do
olimpismo a solução de todos os problemas.
[...] enquanto os agentes do fisco usam frequentemente de violência para conseguir
realizar a cobrança. A força pública foi empregada no cerco a casas comerciais, na
prisão e espaldeiramento de negociantes, chegando muita mercadoria a ser
penhorada para o pagamento do imposto devido.” (SOUZA, 1985:41)
Para agravar a crise, o Estado sofreu queda de sua principal fonte de renda, e passou
a contar ainda com o ônus dos encargos conferidos pela federalização do país. Assim, o
Governo procurou garantir a própria sobrevivência pela socialização das perdas da
agroindústria canavieira, agravando os impostos sobre as outras atividades, sem entretanto
conseguir reduzir aqueles que eram cobrados sobre a produção do açúcar.
Em julho de 1906, o Governo realizou o confisco de mercadorias em lojas do
município de Maruim, sob pretexto de cobrança de impostos. Comerciantes, feirantes e
retalhistas passaram a fazer coro contra as medidas. Além disso, marchantes e açougueiros
acabaram sendo presos e a suas mercadorias eram destruídas por agentes do Governo. A
repressão acabou levando os oposicionistas a realimentarem a hipótese da revolução para
chegar ao poder e resolver os problemas do Estado.
O Jornal de Sergipe divulgava – sem nunca transcrever – o conteúdo de artigos de
Fausto Cardoso, publicados no Rio, considerando a possibilidade de uma reação
sanguinolenta” diante da violência e das perseguições sofridas pelos eleitores
oposicionistas. A celebração da vitória do novo partido trouxe, paradoxalmente, à
tona a tese da reação armada. É que o júbilo oposicionistas foi causa de vários atos
de repressão. Prisões, espaldeiramento, eleitores no tronco, passeatas dispersadas,
agressões de todo o tipo, pareceram instalar a descrença na vitória eleitoral como
São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 18
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passo importante na evolução que conduziria a oposição ao poder.. ( SOUZA,
1985:108)
A crise econômica, o aumento dos impostos e o confisco de mercadorias levaram o
grupo da oposição liderado por Fausto Cardoso a iniciar a Revolta. Na noite de 23 de agosto
de 1906, membros do Corpo Policial deslocaram-se para o interior do Estado, com o objetivo
de unir-se aos batalhões populares liderados pelos chefes progressistas. Os revoltosos
apossaram-se da administração e das finanças de alguns municípios, e prenderam os mais
destacados olimpistas.
A ação do “exército revolucionário” no período de 23 a 27 de agosto consistiu
basicamente na ocupação das sedes municipais de Maruim, Nossa Senhora das
Dores, Laranjeiras, Rosário, Itabaiana, Divina Pastora e seu povoado Santa Rosa.
Consta ainda que os progressistas dominavam Itaporanga e Propriá. Toda a ação
inicial se concentrou no levantamento de fundos para a manutenção da tropa.
(SOUZA, 1985:199)
Para demonstrar força e responder à chegada das forças federais, os faustistas,
passaram a controlar o interior e, decidiram concentrar suas tropas em Divina Pastora, devido
a boa posição estratégica.
Em Nossa Sra. Das Dores, o coronel Vicente Porto com sua legião, composto com
cerca de 400 homens, assaltou a Exatoria, e exigiu a entrega do saldo em cofre, e os
comerciantes foram obrigados a contribuir com quantias em dinheiro e os proprietários rurais
entregavam gado para a alimentação das tropas. Após seguiu para Divina Pastora.
Com a morte de Fausto Cardoso, e a reposição do Governo ao poder, a força federal
partiu para o interior e encontraram as cidades abandonadas. Mesmo assim, a caça aos
progressistas continuou, sendo intensificada após a morte do Senador Olímpio Campos que
reacendeu o ódio aos progressistas e iniciou a “caça às bruxas” aos aliados e partidários de
Fausto Cardoso em todo o Estado, mesmo o Governo fazendo a promessa de anistia aos
participantes da Revolta.
A memória de Olímpio Campos era perpetuada nas missas que se celebravam
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em todo o Estado, nas mensagens de pêsames e coroas fúnebres que
chegavam. Os olimpistas temiam agora pelo futuro de seu partido enquanto
os progressistas aguardavam, com pavor, a repressão que se esperava.
(SOUZA, 1985:229)
Em N. Sra. Das Dores o ponto alto da caça aos progressistas e das disputas pelo
poder local que envolvia Vicente Porto e Malaquias Curvelo foi o bárbaro assassinato de
Emiliano José de Lima, relatado no Correio de Aracaju do dia 21 de fevereiro de 1907 como o
Chanfalho em N. Sra. Das Dores.
3 - A “CAÇA AS BRUXAS” NA VILA DE N. SRA. DAS DORES:
A vila de N. Sra. Das Dores, criada através da resolução provincial nº 555, de 11 de
julho de 1859, teve sua história marcada pelo extermínio de povos indígenas praticado pelos
portugueses; por secas prolongadas; por epidemias e febres que vitimaram centenas de
pessoas3
e por crimes praticados por lideres locais e seus correligionários.
Após a Revolta de 1906 e a morte do Senador Olímpio Campos, perseguições e
atentados tornaram-se frequentes na Vila. O Jornal Correio de Aracaju, durante os meses de
janeiro, fevereiro e março de 1907, divulgou várias notícias sobre a disputa política existente
no município entre o coronel Vicente Porto e Malaquias Curvelo e seus partidários.
Em 10 de fevereiro de 1907, o Correio de Aracaju, jornal de propriedade de João de
Menezes, publicava artigo anonimo denunciando a violência no município e algumas praticas
de Malaquias Curvelo, chefe político local, e de seus adeptos.
O chefe político d'aqui, o sr. Malaquias Curvelo, sem um motivo que justifique
plenamente a sua causa, manda fazer um portão para o cemitério, arvorando-se do
direito de ficar com a chave do mesmo e seus respectivos rendimentos; ao contrário,
porém, do que informam ao Estado, esse portão não foi ainda assentado e, ipso facto
não podia ter sido quebrado pelo padre Justiniano. O que sei é que elle está prompto,
notando eu a presteza com que foi encomendado e a tardança para ser collocado.4
O autor do texto informa que os espancamentos continuam acontecendo e que devido
3
Ver, CARVALHO, João Paulo Araújo de. As dores da Vila das Dores, publicado na 5ª edição do informativo
cultural MEMÓRIAS DORENSES. N. Sra. das Dores (SE): outubro de 2009
4
Correio de Aracaju, ano II, nº 20, p. 3 (10 jan. 1907)
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a este fatos, pessoas deixavam o município devido a insegurança e a falta de liberdade.
O espaldeiramentos continua e o número de foragidos é enorme. Seria longuissimo
enumeral-os, mas, dentre elles, cito os Srs. Pedro Telles e Sabino Severiano, homens
trabalhadores, arranchados como vulgarmente se diz, cujo único crime é não
pertencerem ao grupo do Sr. Malaquias. (CORREIO DE ARACAJU, 10-01-1907)
Ele relata também que um grupo de homens armados juntamente com soldados do
corpo de polícia transformou a feira da véspera de natal numa praça de guerra.
Um natal in nomine. Não houve um tabaréo que tivesse coragem de vir à feira, pois
ella estava transformada n'uma praça de guerra. As poucas pessoas que à assistiram à
feira e a missa, celebrada pelo Vigário Justiniano, foram d'aqui mesmo e as que se
julgam na graça do sr. Malaquias. 5
E por fim, ele solicita a ajuda do Presidente do Estado e explica que não assinou o
texto porque nesta terra não se tem liberdade, e por isso, tem medo de sofrer perseguições.
Tivessem estas palavras algum valor perante a mais alta auctoridade do Estado eu
rogaria ao Exmº Presidente que contivesse o odio do Sr. Malaquias e seus soldados,
que procurasse apaziguar esta terra que o sustenta materialmente visto como elle é
exactor e ao que me consta, é este o seu único meio de vida.6
Esses denuncias divulgadas pelo jornal através dos telegramas recebidos da Vila,
relatavam, como pode-se constatar, eventos ocorridos no ano de 1906. Todavia, no ano
seguinte, 1907, as perseguições e arbitrariedade continuaram a acontecer. E no dia 13 de
janeiro, é divulgado telegrama com novas notícias de arbitrariedade ocorridas na vila.
Os negociantes d'aqui estão aterrorizados pela continuação das prisões e das
violências injustas praticadas contra pessoâs valorosas desta villa, pedimos a V. a
caridade de uma providência. O quartel esta repleto de cunhados e irmãos de Sabino
e Severiano, foragidos, e contra quem o sr. Delegado de Polícia vota ódio imortal.7
Servidores públicos que trabalhavam na vila, também, foram vítimas das
perseguições políticas e abusos praticados na vila. Foi o que podemos constatar no telegrama
enviado pelo primeiro suplente de Juiz Federal, o Sr. Luiz Correia de Azevedo (Correio de
Aracaju, 1907. p. 2) “Eu e meu filho fomos desacatados pelo delegado de polícia e seu irmão
5
Op. Cit.
6
Op. Cit.
7
Correio de Aracaju, ano II, nº 21, p. 3 (13 jan. 1907)
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Manuel Prudente, sargento de policia aqui licenciado.”
Já no dia 17 de fevereiro de 1907, o Correio de Aracaju divulga mais um telegrama
recebido de N. Sra. Das Dores direcionado ao Presidente do Estado.
Na pequena e infeliz villa de N. Sra. Das Dores, contrastando com a illusão que a
nossa boa fé acastellará, acabava de morrer morto à pancadas como um cão sem
dono, um pobre, um livre homem filho do povo, que sêde hygienica da policia fez
victima indefeza no meio da rua, à luz do dia e aos olhos das multidões.
O que hão de dizer lá por fora?
E é esta a paz de Sergipe!?
Paz de sabre em punho, punhal à cintura e carabina a tiracollo. Entretanto estamos
certos de que o chefe do Estado não auctoriza isso...8
E continua:
Que vale a calma da capital, se pelo interior, se pelo regaço do Estado, o crime, a
desordem, a violência, o flagello horrivel vae minando o lar, chagando a alma
popular e cavando fundas ulceras no coração das famílias?...9
Sr. Presidente do Estado, impedi as consequencias funestas que impreterivelmente
serão o factor desses inclassificaveis absurdos praticados toda a hora por esses falsos
amigos vossos que outra cousa não procuram sinão anthipathias e odios do povo
para o vosso governo já tão pertubados por acontecimentos tristes10
Intitulada de Desordem – Espancamentos e mortes, essa notícia anunciava o bárbaro
assassinato ocorrido na terra dos Enforcados, fato que tornou-se o ponto alta das disputas na
vila.
Povo aterrorizado, continuam bárbaros espancamentos. Segunda-feira espancados
quatro fereiros sem motivos justificáveis; hoje horroso espancamento em um
mentecapto, produzindo morte imediata. Soldados criminosos continuam livres.
Imploramos piedade, providências que sejam respeitadas.11
Esse crime foi um dos ponto alto das perseguições empreendidas no município N.
Sra. Das Dores. O brutal assassinato de Emiliano José de Lima praticado por soldados do
corpo policial destacados na Vila que ocorreu em 13 de fevereiro de 1907.
Assassinado por pertencer ao grupo do coronel Vicente Porto, a morte de Emiliano
8
Correio de Aracaju, ano II, nº 31, p. 1. (17 fev. 1907)
9
Op. Cit.
10
Op. Cit.
11
Correio de Aracaju, ano II, nº 31, p. 1 (17 fev. 1907)
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chocou todo o Estado. Como relata Acrísio Torres12
, tal fato deixou a história do Estado
manchada de sangue pela mãos daqueles que deveriam proteger o povo.
Na história dos crimes políticos, em Sergipe, ocorreu em 1907, em Nossa Senhora
das Dores, um dos mais sangrentos. Um desses crimes hediondos, que definem uma
situação, que envergonham um povo. Numa palavra, humilhantes para a civilização
humana. Não despertou, na época, menor assombro que os crimes modernos. E,
certamente, maior revolta, por se tratar de um assassinato de que foram autores
soldados do corpo de polícia, de Sergipe, destacados naquele município, cenário de
violências, crimes, muito sangue. Foi, de fato, uma página sangrenta, esculpida pelo
sabre de soldado da polícia. Na verdade, pelos que eram os mantenedores da ordem
pública, os defensores da vida e direitos dos cidadãos, da segurança social, enfim,
que os vestia, alimentava e armava com dinheiro do povo. (TORRES, 199: 39-40)
O Jornal Correio de Aracaju, no dia 21 de fevereiro de 1907, divulga matéria
jornalistica expondo protesto de repúdio e revolta sobre o fato ocorrido na vila. E apresenta
algumas características da vítima que era considerado pela população da cidade como:
um homem do povo, inofensivo e bom, pelos seus costumes e pelo proceder, foi
cercada pelos policiais que, insultara-o, espancara-o, tortura-o, enchera-o a boca de
areia e com os pulsos amarrados em cordas, arrastara-o pela estrada.
Após a realização da perícia no corpo da vítima, os médicos legistas Dr. Alexandre
Freire e Manoel Borges constataram que a morte ocorreu imediatamente após os ferimentos.
Segundo laudo pericial, publicado na mesma matéria, o corpo da vitima tinha as seguintes
lesões:
...verificamos que a desgraçada vitima era portadora das seguintes lesões: Em toda
região do thorax e abdomem, dezesseis largas e extensas contusões, arroxeadas e
cruzando-se em diversas direções; no braço, antibraço, dorso da mão direita, onze
contusões e um ferimento de três centímetro de extensão na face interna do punho,
deixando a descoberto a artéria cubical; oito contusões e dois ferimentos penetrantes
no braço e antibraço esquerdo, notando-se que no terço inferior de cada um dos
antibraços havia uma contusão completamente circular como a que pudesse ser
produzida pela pressão de uma corda; diversas contusões no rosto e excoriamento de
epiderme, anegrada, e impregnada de terra, estando a boca completamente repleta de
poera arenosa; uma solução de continuidade, ainda sangrando, na região occipital
com fratura do osso correspondente; nas regiões dorsal, lombar e sacra as contusões
atingiram a um numero tal, que não nos foi possível contá-las, não só por ter
produzido uma só e vasta echymose, seguida em diversos pontos de hemorragias
externa, como pela excoflação geral, de cor escura, ocasionada pela infiltração de
partículas terrenas, evidenciando que o corpo foi arrastado pelo solo. Notamos ainda
12
"Cenas da Vida Sergipana, 2 " Acrísio Torres " SERGIPE/CRIMES POLÍTICOS, I", Thesaurus Editora,
prefácio de Orlando Dantas.
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e finalmente diversas contusões nas pernas e excoriamento da face posterior de
ambos os calcanhares.13
À vista desses fatos, percebemos o quanto as disputas pelo poder local na cidade
levou o medo à população que era vítima dos abusos e de todo o tipo de violência praticado
pelos correligionários, do líder político e Malaquias Curvelo.
4 – CONCLUSÃO:
Pelo tudo exposto, evidencia-se que as disputas pelo poder local na vila de N. Sra.
Das Dores foram acirradas depois da participação do coronel Vicente Porto na Revolta de
1906, com sua “Legião”. E que após a morte dos dois lideres da revolta as disputas na vila se
agravaram mais ainda. Malaquias Curvelo, no exercício de suas funções públicas, utilizou seu
cargo e outros servidores públicos para empreender perseguições e ataques que transformaram
a cidade em um cenário de guerra.
Portanto, ficou demonstrado que o assassinato de Emiliano José de Lima foi
resultado do acirramento político na Vila de N. Sra. Das Dores, que teve sua origem a partir
da caça aos progressistas promovida pelos olimpistas. E também comprova que a Polícia, as
autoridades Judiciárias e os gestores públicos foram ineficiente no exercício de suas funções,
na tentativa de manutenção da ordem, porque utilizavam seus cargos para defenderem seus
interesses pessoais.
5 – BIBLIOGRAFIA:
CARVALHO, João Paulo Araújo de. Enforcados: lenda ou “história do índio em Sergipe”?
IN: Memórias Dorenses: Informativo Cultural do Projeto Memórias de N. Sra. Das
Dores. Ano 5, nº 5, outubro de 2009.
CARVALHO, João Paulo Araújo de. O coronelismo na “Terra dos Enforcados”: um estudo
a partir de Vicente Ferreira de Figueiredo Porto. IN: Memórias Dorenses: Informativo
13
Correio de Aracaju, ano II, nº 32, p. 2. (21 fev. 1907)
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Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História
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Cultural do Projeto Memórias de N. Sra. Das Dores. Ano 3, nº 3, outubro de 2007.
CARVALHO, João Paulo Araújo de. Sinhô Porto, a legião dorense e a política na Vila das
Dores. IN: Memórias Dorenses: Informativo Cultural do Projeto Memórias de N. Sra.
Das Dores. Ano 5, nº 5, outubro de 2009.
DANTAS, Ibarê. Coronelismo e dominação. Aracaju: UFS / PROEX / CECAC /
Programa Editorial, 1987.
DINIZ, Diana M de Faro Leal; Dantas, Beatriz Gois; Santos, Lenalda Andrade;
Gonçalves, Maria de Andrade; Almeida, Maria da G Santana de. Textos para a história de
Sergipe. Aracaju: UFS/BANESE, 1991
SOUSA, Antônio Lindvaldo. "Homens que tem parte com o Diabo..." : violência, medo e
ordem pública no cotidiano dos habitantes das fronterias e do agreste de Itabaiana, SE (1889-
1930). Dissertação (Mestrado em História) - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas,
UFMG, 1996.
SOUZA, Terezinha Oliva de. Impasses do Federalismo Brasileiro (Sergipe e a Revolta de
Fausto Cardoso). Ed. Paz e Terra, 1985.
TORRES, Acrísio. Cenas da Vida Sergipana, 2 SERGIPE/CRIMES POLÍTICOS, I",
Thesaurus Editora, prefácio de Orlando Dantas.
A MORTE COMO UM DRAMA SOCIAL: O CASO DE ZULNURA MOTTA
RAFAEL SANTA ROSA CERQUEIRA*
RESUMO
*
Mestrando em História pela Universidade Federal de Alagoas – PPGH/UFAL; Bolsista CAPES.
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Zulnara Motta nasceu em 19 de maio de 1884, falecendo no dia 16 de março de 1897, aos 13
anos de idade. O jornal A Noticia entre os dias 10 de março a 23 de abril publicou
informações sobre o estado de saúde, trespasse e as diversas demonstrações de pesar pela
morte da filha do coronel Apulchro Motta. Desta forma, o presente artigo abordará a morte de
Zulnara como um drama social, emergindo perspectivas de estudo da morte como um
espetáculo social, considerando-a uma verdadeira “vitrine social” daqueles que se faziam
presentes.
PALAVRAS-CHAVE: Morte, Drama, Espetáculo, Zulnara Motta.
INTRODUÇÃO
Filha do consórcio matrimonial entre Apulchro Motta e Dona Dejanira, nasceu em 19
de maio de 1884, falecendo na cidade de São Cristovão a meia noite do dia 16 de março de
1897, aos 13 anos, “idade em que a mulher québra o casúlo da infancia e irrompe ao sol
dourada e tremula”, conforme apontou o jornal A Notícia de 17 de março de 1897.
Norteado pela História Cultural, o presente ensaio entende que:
[...] a morte, toda morte, é um acontecimento traumático para a comunidade: uma
verdadeira crise, que pode ser dominada mediante a adoção de ritos que
transformam o acontecimento biológico num processo social, controlando a
passagem do cadáver putrescente (objeto instável e ameaçador por excelência) a
esqueleto. (GINZBURG, 2001: 88)
Portanto, buscando compreender a morte como um drama social capaz de comover um
determinado grupo, analisaremos o falecimento de Zulnara Motta, delineando os
comportamentos e ritos diante do óbito desta criança, perpassando pelas relações sociais
existentes entre familiares e amigos. Para tal empreitada, foi realizada uma busca no periódico
A Notícia entre os dias 10 de março a 23 de abril de 1897, um total de 16 publicações
coligidas com informações sobre o estado de saúde, trespasse e as demonstrações de pesar
através dos telegramas enviados para família de Zulnara.
No entanto, ao abordar a morte de Zulnara como um drama social – tema pouco
recorrente na produção historiográfica –, emerge uma nova perspectiva de estudo na qual a
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morte é tratada como um espetáculo social, vista por muitos membros da sociedade
aracajuana do final do século XIX como uma verdadeira “vitrine social” (RIBEIRO, 2008:
194).
A MORTE DE ZULNURA MOTTA
Aracaju no final de século XIX não gozava de uma infraestrutura que beneficiasse a
saúde de sua população, segundo o historiador Ibarê Dantas “suas ruas não dispunham de
calçamento, nem de energia elétrica e as residências não contavam com água encanada ou
esgoto” (2004: 18). Outro fator prejudicial à saúde de seus habitantes era a presença constante
de febres decorrentes da grande presença de mangues e pântanos existentes na cidade que
“tornavam mais arriscada a vida de seus habitantes, mesmo porque os próprios recursos da
medicina de então eram bastante precários” (DANTAS, 2004: 19).
Nesse ínterim, com a enfermidade agravada, os pais de Zulnara, orientados por um
médico resolvem transferir sua filha para cidade de São Cristovão. No entanto, o periódico A
Noticia de 10 de março de 1897 traz em suas páginas a informação de um telegrama enviado
de São Cristovão expondo as condições da filha do “presadissimo collega e amigo Apulchro
Motta”, comunicando “que infelizmente agrravam-se os padecimentos da graciosa Zulnara”.
Porém, dois dias depois o mesmo impresso traz uma nota informando que:
Zulnara Motta, a filha do nosso estremecido amigo Apulchro Motta, secretário do
governo e chefe político desta cidade, sabemol-o por telegramma, está melhor. Bem
haja o clima bemfazejo de S. Cristovão que restitue a essa convalescente querida a
saude e a felicidade de seus exiremosissimos paes!14
A informação contagiante que estampava a página do periódico A Noticia sobre a
melhora do estado de saúde de Zulnara durou apenas 4 dias, padecendo na madrugada do dia
16 de março. Coube ao referido órgão, no dia 17 – pela parte da tarde quando começava a
circular pela capital –, tornar público a morte da filha de Apulchro Mota, divulgando que “o
enterro effectuar-se-há no momento em que este jornal estiver a sahir. Sahirá o prestito da
casa do coronel Apulchro Motta, na rua de Pacatuba até o cemitério desta cidade.”15
14
Jornal A Noticia de 12 de março de 1897.
15
Jornal A Noticia de 17 de março de 1897.
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A MORTE COMO UM DRAMA SOCIAL
Outrora, a morte era considerada um drama familiar que se estendia para os amigos
mais próximos. Eram eles os responsáveis por velar e sepultar o corpo, garantindo ao morto
um trespasse acompanhado por aqueles que estavam presentes – na sua grande maioria – em
sua vida. Entretanto, esta perspectiva da morte como um “drama familiar” foi alterada, e em
Sergipe no final do século XIX, tomando Zulnara Motta como objeto de estudo, nota-se que o
fim da vida se transforma em um “drama social” capaz de arregimentar diversas pessoas em
cidades e estados diferentes.
Verdadeiros “acontecimentos sociais”, os enterros eram “manifestações emocionantes
da vida social” (RODRIGUES, 1997:12), dignos de ocuparem as páginas dos jornais. Neste
panorama, a morte de Zulnara foi digna de nota, sendo minuciosamente detalhada pelo jornal
A Noticia. Segundo o referido impresso:
O feretro sahio da casa do nosso desolado amigo coronel Apulchro Motta, pae da
morta, acompanhado por todos os seus amigos e pelos que lhe são ligados por
sympathia e dedicação. O feretro, de accordo com os symbolos usados pelos povos
latinos, ia revistido de azul, um doce azul que lembrava bem um canto tranquilo do
céo.16
Nesse ínterim, o prestígio do coronel Apulchro Motta foi determinante para que o
funeral de sua filha fosse bastante concorrido, nele estavam presentes o Presidente do Estado,
chefe de polícia, diretor do Diario Official, inspetor do tesouro, chefe da recebedoria,
empregados da secretária do governo, representes dos jornais, entre outras pessoas dos órgãos
governamentais de Sergipe naquele período. Por conseguinte, o funeral de Zulnara Motta
serviu para mostrar a teatralização da morte, na qual são entrelaçadas as relações sociais de
amizade e poder neste momento de dor.
Então, como expressar a morte? Através de poesias, alguns amigos buscaram
expressar o sentimento de pesar pela morte da filha do coronel. O amigo Alvares de Faria, em
seus últimos versos disse:
16
Ibid.
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Dizem que sete palmos desta terra,
urna bastante que teu corpo encerra,
guardarão tua forma eternamente!
E emtanto, ó flor que a morte decepára,
nem toda a terra conterá, Zulnara,
a magua que teu pae ferido sente!17
Em uma coroa de flores enviada por Ananias, Eudoxia e Dolores, seguia outra dedicatória em
verso:
Em suave e branda aragem
Com simples e com ternura,
Fizeste tu a passagem
Do teu berço á sepultura.
Passaste voando breve
como um riso de esperança.
A terra te seja leve!
Dorme teu somno, creança!18
Além das poesias, as condolências referentes à morte de Zulnara foram realizadas
através de coroas mortuárias, num quantitativo de 18 arroladas pelo jornal A Noticia de 18 de
março de 1897. Outra forma de prestar pêsames daqueles que não podiam se fazer presente no
funeral, eram através dos telegramas enviados de diversas localidades do país, totalizando 26
cidades. O grande número de telegramas, que estamparam as páginas do referido periódico
entre os dias 18 de março a 13 de abril de 1897 atestam o prestígio social do pai de Zulnara.
Chama-nos a atenção que no drama da morte de uma filha, cerca de aproximadamente 95%
dos telegramas foram endereçados ao pai, cabendo à mãe um percentual ínfimo, indicando o
papel secundário da mulher na sociedade sergipana do final do século XIX.
Portanto, os telegramas impressos nos jornais serviam para suprir “o desejo de ter toda
exibição possível” (RIBEIRO, 2008: 190), teatralizando a morte em um drama social que
comove não somente os familiares e amigos, mas as diversas esferas da sociedade aracajuana
que vão prestigiar o morto, ao tempo de se fazerem vistos neste acontecimento social capaz de
17
Ibid
18
Jornal A Noticia de 18 de março de 1897.
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coadunar ricos e pobres, homens e mulheres, adultos e crianças, afinal “a morte era um
espetáculo público do qual ninguém pensaria em esquivar-se e no qual acontecia o que se
buscava” (ARIÈS, 2012: 89).
CONCLUSÃO
Teceremos algumas considerações finais, pois, a trajetória da pesquisa ainda tem um
longo percurso a ser percorrido. No entanto, o estudo da morte como um drama social capaz
de coadunar diferentes estratos da sociedade aracajuana no final do século XIX em torno do
óbito de Zulnara Motta, abre novas perspectivas no âmbito da História Cultural. Haja vista as
palavras de Chartier:
[...] pode pensar-se uma história cultural do social que tome por objecto a
compreensão das formas e dos motivos – ou, por outras palavras, das representações
do mundo social – que, à revelia dos actores sociais, traduzem as suas posições e
interesses objectivamente confrontados e que paralelamente, descrevem a sociedade
tal como pensam que ela é, ou como gostariam que fosse. (CHARTIER, 2002:19)
Portanto, o estudo da morte como um drama social, tomando o caso de Zulnura Motta,
ilustra como determinadas mortes eram recebidas pela sociedade aracajuana da primeira
república. Outrem, os jornais, por meio de suas notas necrológicas davam publicidade à morte
dos cidadãos aracajuanos, convidando toda sociedade para comparecerem as cerimônias em
torno da morte, tornando-a uma vitrine social. Afinal, “a morte ideal não devia ser uma morte
solitária, privada. Ela se encontrava mais integrada ao cotidiano extradoméstico da vida,
desenhando uma fronteira tênue entre o privado e o público.” (REIS, 1997: 104)
Não obstante, as relações políticas e econômicas ficavam evidentes, os laços de
amizade eram reafirmados, os cortejos eram pomposos e vultosos, inúmeros telegramas eram
enviados de toda parte do país para os familiares. Assim, se criava uma teatralização deste
processo repleto de personagens que escrevem poesias em homenagem à morta, que choram,
que se comovem e que desejam ser vistos neste acontecimento social aberto ao público.
Enfim, estes “personagens do drama fúnebre se distribuíam através do espaço e o papel que
representavam a partir de seus lugares – daí a importância de se atentar para o lado cênico
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daqueles funerais. Havia uma integração do teatro da vida e do teatro da morte [...]” (REIS,
1997:141).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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capitalista. In: A evolução urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IPLANRIO/ZAHAR,
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BARRETO, Lima. Contos completos. Organização e introdução: Lilia Moritz Schwarcz. São
Paulo: Companhia das Letras, 2010.
CHARTIER, Roger. História Cultural: entre práticas e representações. Tradução de Maria
Manuela Galhardo. Aglés – Portugal: Difel, 2002.
DANTAS, Ibarê. História de Sergipe: República (1889-2000). Rio de Janeiro: Tempo
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ANÁLISE BIOARQUEOLÓGICA REALIZADA EM SEPULTURA DE NÃO
ADULTO DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO SÃO JOSÉ II
Madson de Souza Fontes19
Olívia Alexandre de Carvalho20
RESUMO
Neste trabalho serão apresentados resultados da análise de uma sepultura de criança do sítio
São José II, como estudo de caso. Métodos antropológicos foram aplicados para descrever e
interpretar os eventos fúnebres que ocorreram antes, durante e depois do sepultamento. Com
base na descrição e interpretação do posicionamento do indivíduo dentro da sepultura e seu
grupo etário foi possível sustentar a hipótese inicial deste trabalha e fomentar que estudos
19
Graduado em Arqueologia Bacharelado pela Universidade Federal de Sergipe.
20
Doutora em Bioantropologia pela Universidade de Genebra, professora adjunta do curso de graduação em
Arqueologia Bacharelado da UFS.
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sejam realizados embasados na ideia de que o contexto funerário pré-histórico é portador de
identidades que estão representadas na materialidade das estruturas funerárias, seja por meio
de objetos e formas comuns, seja do próprio indivíduo.
Palavras-chave: Bioarqueologia – Sítio Arqueológico São José II – Práticas Mortuárias –
Bioantropologia.
INTRODUÇÃO
A Arqueologia, enquanto associada ao pensamento antropológico, tem-se debruçado
sobretudo nas últimas décadas à reconstituição das sociedades pretéritas, enfatizando os
aspectos da estrutura e organização social, subsistência e estilo de vida (BINFORD &
BINFORD, 1968:17; LEROI-GOURHAN & BREZILLON, 1972:25; JOCHIM, 1976:48,
CLARKE, 1977:27; YELLEN 1977: 29; NEVES, 1980:9).
A Antropologia Biológica pré-histórica, por sua vez, só recentemente começou a contribuir de
forma sistêmica para a recuperação de padrões de comportamento nas sociedades humanas.
Tradicionalmente a Antropologia Biológica ateve-se à tipologia e classificação do aspecto
físico do homem (NEVES, 1984:13).
A utilização das técnicas analíticas das ciências naturais tem fornecido à Arqueologia um
arcabouço relevante para uma interpretação contextual cada vez mais consistente
estruturalmente fundamentada. A análise dos caracteres bióticos e abióticos constitui a base
elementar de uma ramificação da Arqueologia, denominada Bioarqueologia.
Em algumas pesquisas realizadas em sítios arqueológicos pré-históricos no Nordeste
brasileiro é possível perceber a presença de sepultamentos humanos. E, mesmo diante da
quantidade de enterramentos humanos em diversos sítios arqueológicos, pouco tem-se olhado
para a prática mortuária infantil e adolescente dentro dos mesmos. Sendo assim, este estudo
vem a contribuir com os estudos existentes e resultados publicados sobre o assunto.
Esta investigação tem como principal objetivo analisar de forma comparativa se há ou não
diferenciação da prática funerária em inumações infantis e adolescentes em relação aos
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demais enterramentos no sítio São José II e pontuar elementos identitários para cada grupo
etário através do contexto funerário, propondo uma discussão inicial sobre o tema. Assim
sendo, a hipótese desta pesquisa é que há aspectos diferenciados referentes à prática fúnebre e
ao fator idade nos enterramentos do sítio em estudo.
Por empecilhos enfrentados em relação ao tempo, a metodologia aplicada pela equipe do PAX
(Projeto de Arqueologia de Xingó) aos remanescentes humanos fora a retirada em blocos e
encapsulamento em envoltórios de gesso, preservando a forma original a qual o indivíduo fora
depositado na sepultura, permitindo posteriormente uma análise cautelosa e limitada em
laboratório.
A forma de deposição do indivíduo na sepultura, o enxoval funerário que o circunda e a
ausência de qualquer acompanhamento fúnebre contribuem diretamente para a construção de
um padrão de enterramento e reconstituição de parte das atividades realizadas sobre o cadáver
dentro do grupo etário a que pertence.
MATERIAL DE METODOLOGIA
O material ósseo humano, que foi analisado é proveniente do sítio pré-histórico São José II,
localizado no município de Delmiro Gouveia, Estado de Alagoas, salvo durante o trabalho de
salvamento arqueológico, coordenado pela arqueóloga Cleonice Vergne, e realizado pelo
Projeto de Arqueologia de Xingó (PAX), entre 1993 e 1994, na área de edificação da Usina
Hidrelétrica de Xingó. Hoje, devido à barragem, o sítio encontra-se totalmente submerso pelas
águas do rio São Francisco.
O sepultamento 23 foi encaminhado ao Laboratório de Bioarqueologia, do Núcleo de
Arqueologia - UFS, campus de Laranjeiras, onde todas as análises foram realizadas, e é parte
do projeto “Paleoantropologia dos Remanescentes Humanos no Acervo do Museu de
Arqueologia de Xingó (MAX/UFS): Consolidação do Laboratório de Bioantropologia do
Núcleo de Arqueologia (NAR), Campus de Laranjeiras/UFS”, coordenado pela professora
Olívia Alexandre de Carvalho, financiado pelo CNPq.
A coleta razoável de carvão proveniente de fogueiras encontradas no sítio permitiu a obtenção
da datação absoluta por meio do método radiocarbono: 3500±110 BP (BETA-86739)
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corresponde ao enterramento 06, encontrado a 3,75m de profundidade, e 4140±90 BP (BETA-
86740) dada aos 3,95m de profundidade. Esta proveniente de carvão encontrado em restos de
fogueira (CARVALHO, 2007:51).
Por se tratar de um trabalho de salvamento arqueológico, a metodologia aplicada pela equipe
do PAX aos remanescentes humanos fora a retirada em blocos e encapsulamento em
envoltórios de gesso, preservando a posição original do indivíduo dentro da estrutura
funerária a ele destinada, e possibilitando que estudos sejam realizados posteriormente de
forma cautelosa e limitada.
Deste modo, a aplicação de métodos arqueotanatológicos desta pesquisa deu-se por etapas
tendo como dorso as metodologias apresentadas por Duday (2006:32) e Duarte (2003:45),
estas serão aqui expostas separadamente, obedecendo cada fase e abordando, quando
necessário, as adaptações indispensáveis a este trabalho.
• Levantamento bibliográfico: com o objetivo de buscar tanto informações referentes ao
contexto arqueológico, onde o sítio está inserido, como trabalhos já realizados com
ênfase em práticas funerárias relacionadas a não adultos no período pré-histórico.
• Identificação da sepultura: coletar dados gerais do sepultamento, antes que os trabalhos
de exumação sejam iniciados. Para tal faz-se necessário registrar tanto por meio de
desenho, quanto fotograficamente o sepultamento; identificar o contexto e atribuir uma
numeração identificativa para cada indivíduo da sepultura e descrever todo o
sepultamento em seu estado atual.
• Evidenciação dos vestígios arqueológicos: é necessário que as características da
superfície e demais evidências sejam devidamente documentadas gráfica e
fotograficamente. Havendo um mapeamento e a coleta dos mesmos. Logo é delimitado
um limite para esta sepultura e somente assim, dar-se-á início a remoção do sedimento
fazendo uso de pincéis, a este procedimento dar-se o nome decapagem.
• Análise do sepultamento: esta nos permite compreender a lógica do processo
deposicional dos restos humanos no local antes de qualquer desarticulação; as
alterações causadas por fatores externos sejam eles antrópicos ou ambientais e verificar
a existência de enxoval fúnebre associado ao sepultamento.
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• Exumação do esqueleto: efetuar o levantamento antropológico individualizado de todas
as peças osteológicas, atribuindo-lhes um número de ordem, descrevendo-as conforme
posição, conservação, patologias e determinação da idade, além de referenciar todas as
peças ósseas e os materiais a elas associadas.
• Acondicionamento do material: envolver o material individualmente em plástico do
tipo bolha ou papel alumínio e alocar em embalagens devidamente etiquetadas e
posteriormente agrupar em sacolas maiores conforme partes anatômicas, sendo
necessária também a identificação. Acondicionar o material em caixas plásticas
perfuradas e fechadas. Na parte externa de cada caixa será afixado um inventário
contento cada peça ali acomodada.
Não havendo variabilidade sedimentológica, a decapagem deu-se em duas etapas: a remoção
das peças ósseas, a priori evidenciadas superficialmente e a exumação dos ossos não
evidenciados em trabalhos anteriores.
Os critérios escolhidos para estimativa da idade à morte, tratando-se de indivíduo não adulto,
fora o grau de desenvolvimento dentário proposto por Ubelaker (1989:81), que consiste na
observação macroscópica dos dentes irrompidos e a sequência eruptiva dos mesmos. Este
processo é extremamente relevante na determinação da idade dos indivíduos não adultos
(SCHEUER E BLACK, 2000:78), pois está em processo de maturação biológica.
Às evidências ante-mortem buscou-se observar tanto macro como microscopicamente a
existência ou não de paleopatologias na amostra, sejam elas ósseas ou dentárias. Havendo nas
peças osteológicas qualquer indício de caso patológico seriam comparados com os casos
apresentados por Aufderheide e Martín (1998:198). Já as marcas post-mortem foram
observadas com o auxílio de lupa e microscópio eletrônico, e em seguida classificadas como
resultado da prática funerária (posição do indivíduo na sepultura, acompanhamento mortuário,
localização do sepultamento no espaço destinado às inumações) e tafonomia.
Para o acondicionamento do material foram adquiridas caixas arquivos plásticas para o
acondicionamento de todo o material analisado. Porém antes de serem acondicionadas
algumas peças foram restauradas com cola Paraloide B-72 diluída em solução aquosa de
Peróxido de Hidrogênio (H2O2), e acomodadas em sacos plásticos etiquetados e lacrados para
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melhor preservação do acervo. Em cada caixa fora afixada na parte externa uma lista onde
consta o nome de cada fragmento ali acondicionado.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A documentação, tanto fotográfica quanto do desenho em escala gráfica do sepultamento, nos
forneceu informações sobre a distribuição dos remanescentes humanos sobre a sepultura.
Estas informações são primordiais para a reconstituição da prática após a exumação, pois uma
vez retirado o vestígio do seu contexto sem qualquer documentação quanto a sua localização
dentro da sepultura, torna-se inviável qualquer reconstituição fidedigna do seu
posicionamento original dentro do ambiente funerário no qual estava inserido.
Na camada A: que consiste na superfície inicial do sepultamento. Nesta foram observados
fragmentos de costelas sobre um úmero fragmentado em suas epífises. Paralelo ao úmero
estava um osso logo inicialmente não identificado. Por toda a superfície do sepultamento pôde
ser notada a presença de fragmentos de costelas e ossos não identificados. Ainda foram
registrados ossos do crânio que também não possível de identificação.
Na camada B: de 0 cm a 5 cm de profundidade foram alguns fragmentos de costelas foram
depositados aleatoriamente sobre a face posterior da epífise distal da ulna esquerda, também
fragmentada. Foram também visualizados fragmentos dos parietais com sua face
endocraniana voltada para cima. Próximos aos fragmentos dos parietais encontravam-se três
metacarpos não identificados e fragmentos da pelve.
Na camada C: de 5 cm a 10 cm foram evidenciados completamente um rádio esquerdo e um
rádio esquerdo, ambos com a face anterior voltada pra cima e colocados um paralelo ao outro.
Ainda foram observados partes dos ossos parietais e temporal direito ainda articulados entre
si. Uma tíbia esquerda fragmentada, com sua face medial voltada para o solo encontrava-se
próxima aos ossos cranianos evidenciados. Alguns fragmentos pélvicos sobre fragmentos
sacrais também foram observados próximos à tíbia. Por toda a camada havia a presença de
fragmentos de costelas.
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Na camada D: de 10 cm a 15 cm de profundidade foram visualizados conjuntos de ossos não
identificados próximos aos ossos longos evidenciados na camada C e conjuntos de ossos
contendo falanges, um semilunar, alguns metacarpos e fragmentos de costelas. O crânio
bastante comprometido e fraturas post mortem na região dos parietais. Sobre o
posicionamento do crânio, este manteve-se com o osso frontal voltado para o solo,
possibilitando a visualização das fraturas nos parietais. Toda a parte endocraniana manteve-se
preenchida com sedimento, ocasionado pelas fraturas presentes no próprio crânio.
Na camada E: 15 cm a 20 cm de profundidade foram visualizados os primeiros fragmentos
de ossos longos de um segundo indivíduo, porém as peças não puderam ser identificadas
anatomicamente. Ainda foram evidenciados sobrepostos a um conjunto de ossos, contendo
fragmentos de costelas e fragmentos de vértebras, que também não puderam ser identificadas
quanto a sua posição anatômica. Próximos ao conjunto de fragmentos de vértebras e cotelas
estavam fragmentos da pelve, dois úmeros intactos, de lateralizações distintas, em posições
paralelas e ambos com a face posterior voltado para cima. Os dois úmeros pertencem ao
mesmo indivíduo, que aparentemente trata-se de um adolescente.
Na camada F: de 20 cm a 25 cm de profundidade foram visualizados dois fêmures
fragmentados, posicionados paralelamente, ambos com a face anterior voltada para o solo.
Também pôde ser observada uma concentração de fragmentos de um segundo crânio, sem
nenhuma conexão anatômica. Uma fíbula esquerda, com a face anterior voltada para baixo,
um conjunto de ossos não identificados ao lado da fíbula esquerda, fragmentos de ossos de
criança distribuídos aleatoriamente e fragmentos de vértebras e costelas por toda a superfície
da camada F.
Na camada G: 25 cm a 30 cm de profundidade foram evidenciados fragmentos de ossos não
identificados, falanges, metatarsos e fragmentos de costela. Após a exumação destes últimos
vestígios, nada mais foi observado.
Após o trabalho de exumação, cada peça pôde ser analisada em laboratório. Os indivíduos
foram identificados com a numeração 17.1 e 17.2, seguindo a ordem de visualização nas
etapas da decapagem e a identificação dos indivíduos por peças ósseas.
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Quanto ao fator etário, pôde-se fazer inferência apenas na idade do indivíduo 17.1. Por
apresentar ossos possíveis de análise e mensuração. Tais observações resultaram em um
indivíduo com idade entre 15 a 16 anos. Já no caso do indivíduo 17.2, não houve a
possibilidade de realizar a diagnose etária, por apresentar um alto grau de fragmentação do
material osteológico, porém em uma visão macroscópica fora possível enquadrá-lo no grupo
dos indivíduos não adultos.
O crânio estava extremamente comprometido, tornando-se inviável a verificação do processo
de sinostose exocraniana. Já os ossos longos apresentaram-se fragmentados impossibilitando
que as mensurações fossem realizadas. Também não foram identificadas quaisquer
anormalidades de caráter patológico, degenerativo ou traumático nos esqueletos. E a ausência
da mandíbula, do maxila e dos dentes impossibilitou a diagnose patológica bocal em ambos os
casos.
A análise das atribuições post mortem resultou na identificação de fraturas, fissuras e leves
esfoliações na região periostal, em decorrência da umidade, do Ph do solo e de bioturbações
de insetos e raízes de plantas. Algumas manchas escuras, presentes em alguns ossos, foram
identificadas tanto de procedência fúngica, quanto de procedência corrosiva, devido a acidez
do solo
CONCLUSÃO
Assim como existem formas diversas de expressões humanas de viver, há distintas maneiras
de manifestar também a visão sobre a morte e tudo que a envolve. Sendo a amostra analisada
quantitativamente insuficiente para qualquer afirmativa referente à visão cultural da morte
presente no sítio São José II, teceremos apenas alguns comentários sobre o sepultamento 17.
Levando em consideração os resultados da análise quanto: a estimativa etária; a posição do
indivíduo dentro da sepultura; a ausência de patologias ósseas e dentárias; e a inexistência de
qualquer objeto que viesse a caracterizar a cultura material associada ao sepultamento 17, a
hipótese inicial de que a distinção da prática mortuária estar ligada ao grupo etário se sustenta
quando comparamos estes mesmos resultados com estudos mais específicos relacionados aos
demais enterramentos adultos do mesmo sítio.
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Por conseguinte, este trabalho vem a fomentar que estudos sejam realizados embasados na
ideia de que o contexto funerário pré-histórico é portador de identidades que estão
representadas na materialidade das estruturas funerárias, seja por meio de objetos e formas
comuns, seja do próprio indivíduo.
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FUTEBOL, CINEMA E POLÍTICA: A DITADURA URUGUAIA E O MUNDIALITO
EM 1980
ADSON DO ESPÍRITO SANTO*
RESUMO
Em diversos momentos da história podemos perceber que o futebol teve seu prestígio e
popularidade, apropriados por diversos governos, com o intuito de que este esporte atuasse
como embaixador de suas ideologias. Porém o futebol possui o fator imprevisibilidade, dentro
e fora dos campos, fazendo com que isto nem sempre ocorra da maneira esperada. Neste
trabalho iremos discutir como a ditadura uruguaia tentou utilizar-se do poder aglutinador de
massas e da popularidade do futebol, para seduzir a população a seu favor, através do
Mundialito realizado no país em 1980 com o aval da FIFA. Nosso estudo partirá da análise da
película Mundialito (Sebastian Bednarik, Uruguai, 2010), tendo como arcabouço teórico para
análise do objeto de estudo em questão os conceitos sobre cinema de Marc Ferro, e os
conceitos sociológicos acerca do futebol de Eric Dunning e Nobert Elias.
PALAVRAS-CHAVES: Cinema – Futebol – Política - Uruguai
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Introdução
Como um elefante branco na sua sala de estar. O futebol atualmente é um esporte que
não passa despercebido por nenhum de nós, até mesmo aqueles que não gostam do esporte,
tem contato com o mesmo constantemente no seu dia-a-dia, seja através de comerciais
televisivos, outdoors, noticiários em telejornais ou até mesmo em seu almoço, ao passo que os
programas esportivos predominam nas principais emissoras de televisão aberta brasileira,
neste horário.
Em outubro de 2005, tivemos a oportunidade de ver a força que este esporte possui.
A Costa do Marfim venceu o Sudão por 3 a 1 e garantiu a classificação para a primeira
Copa do Mundo da história do país. Logo após o jogo, Drogba, junto com seus
companheiros, se ajoelhou no vestiário e implorou, ao vivo na televisão nacional, que a
guerra civil na Costa do Marfim tivesse um fim. Uma semana depois, uma trégua foi
anunciada. (Schmidt, 2013)
Apesar de possuir tal força na sociedade atual, o futebol não é um objeto de estudo
frequentemente visitado pelos pesquisadores. Ao contrário, por muito tempo este esporte foi
marginalizado pelos cientistas sociais, com a exceção do hoolinganismo, que parece ter
conseguido atrair a atenção dos sociólogos. Podemos perceber que até 1980, os escritos acerca
do futebol eram predominantemente realizados por profissionais da Educação Física. Assim
os estudos sociológicos sobre o futebol ainda possuem vários pontos a serem aclarados.
Atualmente destacam-se nos estudos sociológicos acerca do futebol a França e a Inglaterra,
que deram inicio a estas pesquisas há mais de 30 anos. Vê-se assim uma necessidade de
estudar a sociologia do futebol tanto no Uruguai como em toda a América Latina, pois através
deste é possível enxergar com um novo olhar as estruturas sociais e políticas regionais.
Neste artigo discutiremos como o futebol foi explorado politicamente pelo governo
civil-militar do Uruguai no Mundialito (Copa del oro) em 1980, realizado no país, com o
apoio da FIFA (Federation International Football Association), no intuito de comemorar os
50 anos da realização da primeira copado mundo. Recentemente este tema foi explorado
através da película Mundialito (Sebatian Benadrik, 2010), que buscou uma série de
depoimentos dos “atores” da época, de direita ou de esquerda, trazendo à tona um ponto da
história do futebol Uruguaio, que diferentemente das outras conquistas futebolísticas não é
comemorada.
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Para analisar um objeto de pesquisa tão amplo como o futebol, é necessário flutuar
pelo diversos campos das ciências humanas, diante da explicação simplória que obteríamos,
caso nos retesemos apenas ao campo da história. Essa preocupação é quase um consenso, por
exemplo, o historiador Hillario Franco Junior, em sua obra A dança dos Deuses, define o
futebol como um objeto cultural total, e em sua análise percorre pelo campo da antropologia,
sociologia, psicologia por exemplo. Diante desta necessidade em articular os diversos campos
das ciências, para termos uma maior dimensão do futebol, os escritos sociológicos de Nobert
Elias e Eric Dunning são fundamentais para se entender a relação futebol, poder e sociedade.
Origens e Popularização do futebol
Para entendermos a popularização desse esporte é necessário remontarmos a meados
do século XIX na Inglaterra Industrial. Pouco tempo após seu nascimento, o futebol já
desfrutava de uma grande popularidade, principalmente entre as camadas populares, pois,
diferentemente dos esportes praticados pelas classes mais altas da sociedade, como o Pólo, e o
remo, por exemplo, que necessitavam de certa estrutura e um maior investimento, bastava
apenas uma bola para que ocorresse uma partida de futebol.
No que tange a sua difusão mundo afora, o futebol pegou uma “carona” no
capitalismo, sendo a Inglaterra a principal potência capitalista da época, a exportação do
futebol para suas colônias se deu através dos marinheiros, trabalhadores e militares que foram
cuidar dos negócios imperiais da rainha. Além do mais o futebol foi utilizado como um
laboratório de preparação física e mental para os ingleses, assim como afirma Gilberto
Agostinho citando Elias:
Tratava-se da possibilidade concreta de competir e buscar através do esporte não só
a tão almejada honra como também a sensação de lidar com um objetivo que
conduzia ao aperfeiçoamento. Neste sentido, a experiência vivenciada pelo
esportista era capaz de torna-lo apto a liberar, no momento oportuno, as descargas
de violência contida por uma sociedade tão rigidamente marcada pelo controle das
pulsões. (In. AGOSTINHO, 2002: 20).
Por muito tempo acreditou-se que os desportos eram uma prática complementar a vida
do operário, um meio encontrado por estes de fugir do sedentarismo imposto pelo seu
trabalho, ou como muitos pensavam, o lazer de uma maneira em geral, seria a merecida
compensação para os sacrifícios que o dia-a-dia do trabalho exigia. Porém a analise de Elias e
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Dunning mudaram a concepção que se havia para com os esportes. Seguindo ainda a linha de
pensamento destes autores, o futebol representa um confronto mimético, e a excitação de sua
prática estaria relacionada ao processo de civilização da sociedade.
O domínio da conduta e da sensibilidade tornou-se mais rigoroso, mais diferenciado
e abrangendo tudo, mas, também, mais regular, mais moderado e banindo quer
excessos de autopunição quer de auto complacência. A mudança encontrou a sua
expressão num termo novo, lançado por Erasmo de Roterdã e utilizado em muitos
outros países como símbolo de um novo refinamento das maneiras, o termo
«civilidade», que mais tarde deu origem ao verbo «civilizar» (ELIAS E
DUNNING, 1995:41).
.
Com esse novo direcionamento da sociedade ao controle da violência, onde cada vez
mais os problemas sociais deixavam de ser resolvidos por meio da violência, e os indivíduos
deveriam controlar suas pulsões e emoções ao máximo, seja no trabalho, ou no convívio
social, para que a sociedade pudesse funcionar segundo suas novas diretrizes, os praticantes
dos desportos, no geral, liberavam suas pulsões e emoções, por meio da violência controlada
que os desportos possibilitavam.
Atualmente ainda é possível perceber a grande influência inglesa na difusão do esporte
pelo mundo, através dos nomes que os times possuíam na época e que por ventura ainda os
detêm, como o Corinthians no Brasil, claramente influenciado pelo clube inglês, os New
Ollds Boy’s na Argentina, Argentinos Juniors. No princípio as escalações eram predominadas
pelos ingleses (marinheiros ou metalúrgicos), assim como o vocabulário do esporte era
dominado por palavras inglesas (back, teams, corner,etc), aos poucos houve uma
incorporação do futebol a cultura popular e essas palavras foram, aos poucos, sendo
substituídas.
Após a regulamentação, que deu status ao futebol, ele deixou de ser uma prática
tornando-se um esporte e sua difusão foi crescente. Em muitos casos o futebol foi apenas
incorporado aos clubes que já existiam, como no Brasil e Argentina por exemplo.
Logo os jornais começaram a dar cada vez mais destaque ao futebol, posteriormente
foi a vez do rádio, que passou a transmitir partidas de futebol internacionais, tornando o
futebol um dos assuntos mais comentado nas conversas masculinas ao lado do sexo.
A popularidade do futebol na Inglaterra certamente está associada às conquistas dos
direitos trabalhistas do operariado inglês. Com as folgas aos sábados a partir do meio dia, e a
consequente ampliação dos horários de lazer, marcaram fortemente os horizontes e
perspectivas esportivas na Inglaterra. Este reflexo é comprovado nas arquibancadas:
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Boa demonstração desta realidade pode ser constatada a partir do perfil do público
nos estádios, que deixou de ser formado pelas classes médias já no final do século
XIX. Na finalíssima da FA CUP de 1887, 27.000 pessoas marcaram presença no
crystall pallace. Menos de vinte anos depois em 1902, a final da mesma competição
contava com um público de cerca de 110.000 espectadores, formados por operários
em sua maior parte. (AGOSTINHO, 2002:23).
Aos poucos os clubes europeus sentiram a necessidade de uma organização como a
Association Football (FA) da Inglaterra, para organizar suas ligas e regras, assim formaram a
Federation International Football Association, que logo se tornara o maior expoente do
esporte no mundo, em uma frase épica de um dos seus maiores presidentes, o francês Julles
Rimet (1921 – 1954), demonstra o tamanho da importância e abrangência da instituição que
ele estava à frente representava “A FIFA é um império onde o sol nunca se põe”.
A Celeste Olímpica: apontamentos sobre a seleção de futebol do Uruguai
A história vitoriosa da seleção uruguaia de futebol começou cedo. Nas olimpíadas de
1924 em Paris conquistaram sua primeira medalha de ouro, fato que ocorreu novamente em
1928 nos Jogos Olímpicos de Amsterdã. Tendo uma seleção de grande potencial em mãos, o
presidente uruguaio Cimpisgueti, passou a demonstrar o grande interesse em realizar a
primeira Copa do Mundo em seu país. Embora a data dos jogos coincidisse com o centenário
da Independência do país, assim o mundial seria a cereja do bolo uruguaio. Os uruguaios
contaram ainda com a falta de concorrência europeia para sediar o mundial, que devido ao
colapso econômico com o qual estavam envolvidos não se candidataram a sediá-la. Os
anfitriões tiveram como principal obstáculo convencer as principais seleções do mundo a
deslocarem-se ao Uruguai numa viagem de navio que duraria 18 dias, contando com o apoio
da FIFA, os organizadores conseguiram reunir algumas das principais seleções da Europa.
No fim o Uruguai acabou se consagrando campeão vencendo a Argentina pelo placar
de 4 x 2 na final. Isso aconteceu diante de mais de 100.000 torcedores que foram ao delírio no
estádio centenário construído especialmente para o evento. A segunda conquista épica da
celeste aconteceu em 1950, no Maracanã, diste acontecimento os brasileiros lembram bem.
Frente ao maior público de Copas do Mundo 199.854 pessoas, o Uruguai conseguiu o
inacreditável. Venceu a seleção brasileira que havia goleado todos os adversários, e a mesma
seleção uruguaia venceu por placares apertados em jogos difíceis, sem dúvidas este foi o
maior feito da Celeste Olímpica até hoje.
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O Mundialito (1980) e a nova versão trazida à tona pela película de Bednarik
O Mundialito ou A Copa del oro, torneio de futebol que envolveu somente seleções
campeãs do mundo ou vice-campeãs, participaram o Brasil, Uruguai, Itália, Alemanha,
Holanda e Argentina. O evento foi realizado no Uruguai em 1980, seus idealizadores - os
militares alinhavados ao regime ditatorial e a FIFA, que na época era presidida pelo brasileiro
João Havelange – afirmavam que o evento esportivo foi realizado somente em comemoração
aos 50 anos da primeira Copa do Mundo organizada pela FIFA, que acontecera neste mesmo
país em 1930. Porém a película Mundialito (Sebastian Bednarik, Uruguai, 2010) questiona tal
afirmação, ao passo que, o diretor mostra através de depoimentos dos “atores” da época que
existe a possibilidade dos militares terem se apropriado do prestígio do futebol para
conquistar a população novamente a seu favor. Ou ainda ter o evento sido a coroação de uma
vitória no plebiscito no mês anterior, que decidiria continuidade ou não do regime ditatorial,
na fundação da chamada “Nova República”, diante de tanta convicção que cercava os
militares. Porém a população uruguaia surpreendeu o mundo ao rejeitar a proposta dos
militares.
Bednarik teve a ideia de realizar esta película devido a uma subvalorizarão desta
conquista para a sua geração, buscando desvendar tais motivos para que esta conquista,
ficasse guardada em suas mentes de maneira difusa.
A ideia saiu do pouco que se falava sobre esse evento. Era algo que tinha ficado para
a minha geração como uma recordação nebulosa (...) me interessava saber o motivo,
por que nós, uruguaios, sempre comemoramos e festejamos campeonatos como o de
1930 e o de 1950, mas o de 1980, que também é importante, não era comemorado
(MORISAWA, 2010).
Uma curiosidade foi à forma de financiar a competição, que veio da iniciativa privada,
mas incluiu a ajuda de investidores ilustres, como Ex-ministro da Itália, Silvio Berlusconi,
que na época ensaiava os primeiros passos de seu império na mídia italiana.
Durante a investigação, nos demos conta que a relação com a ditadura era muito
grande, inclusive com a questão do plebiscito. Mas o que me interessava era o leque
de opiniões sobre essas memórias. Muitos lembravam como algo péssimo e outros
como uma catarse (MORISAWA, 2010).
O filme, que é uma coprodução entre Brasil e Uruguai orçada em US$ 300 mil, um
valor alto para as produções uruguaias, e deve se exibida em telas brasileiras no último
trimestre de 2012.
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Conclusão
A conquista da Copa del Oro, mais conhecida como Mundialito, ocorreu nos mesmos
moldes da vitória uruguaia sobre o Brasil na Copa de 1950, mas em vez do Maracanã o palco
foi o estádio Centenário. No entanto, o orgulho apagou-se em meio a questões políticas que,
segundo o filme, podem ter sido o propósito do campeonato em primeiro lugar, como afirma
o primeiro presidente eleito após o fim da ditadura José Maria Sanguinetti na película em
questão, “Sempre os governos usaram os esportes como maneira de associar aos êxitos e os
governo autoritários muito mais, por exemplo, 78 foi inesquecível eu estava no monumental
de Nuñez, e o que se via foi toda uma interpretação oficial, do governo e foi um sucesso”
( Sebastian Bednarik, 2010).
A ditadura uruguaia detém suas especificidades em alguns pontos quando comparadas
as outras na América Latina. Os militares foram se apoderando do poder aos poucos,
existindo continuidades entre as políticas anteriores ao golpe e posteriores, assim a
instauração da ditadura uruguaia não foi um golpe brusco, como afirma YAFFÉ:
... el golpe de Estado no debe ser entendido como el origen único y absoluto de la
dictadura. Esta se habría ido gestando en el período previo, y por tanto el golpe
puede ser explicado más bien como un resultado, como la culminación de un
proceso de progresiva instalación del autoritarismo a lo largo de los años sesenta y
principios de los setenta. (YAFFÉ, 2012:14).
Os militares, a principio trabalhava em conjunto com os civis, e mantiveram o
presidente eleito aparecido Mendéz, revelando aí uma parceria entre os militares e parte da
população. O terrorismo de estado implantado no Uruguai esteve presente em todo o período
da ditadura (1973-1985), porém sua intensidade ou a necessidade de repressão aos grupos de
resistência variaram ao longo deste período, entre 1975-1979 viu-se o terror da ditadura
uruguaia, neste período o número de exilados e desaparecidos políticos foi enorme.
Es precisamente en el período 1975-1979 cuando la represión llegó a niveles tales
que puede hablarse de la instauración de una situación de terrorismo de estado en el
sentido estricto del término. Es decir: la represión adquiere tal magnitud, tanto en
intensidad (métodos) como extensión (víctimas) que el miedo a sufrir las
consecuencias de la represión se vuelve un factor clave para desalentar o desactivar
cualquier intento de organización y resistencia. (YAFFÉ, 2012:20).
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Com a vitória da seleção uruguaia no Mundialito, através de um tempo de longa
duração, pode-se analisar a reminiscência de uma estrutura social ligada ao futebol, se tomar
como referência dois momentos distintos na história recente uruguaia. Primeiramente a
conquista da Copa do Mundo em 1930 e a conquista do Mundialito em 1980. Dessa forma,
percebe-se a forte aproximação entre o futebol e a sociedade uruguaia, como o historiador
Gerado Caetano aponta no inicio da película:
o futebol no Uruguai é com um grande cenário de construção de mitos, assim
surgem os grandes relatos com as grandes figuras reconhecidas como tais e assim se
constroem certas histórias que finalmente terminam tendo uma projeção filosofante.
Os registros dos triunfos desportivos de 24, 28, 30 e 50 se referem lembranças de
eventos que se dão em momentos de democracia plena e prosperidade.
Assim, ao final do torneio com a consagração do Uruguai, houve uma grande
excitação da torcida, fazendo com que esta relembrasse seu passado recente, glorioso no
futebol, democrático em suas relações sociais e de economia próspera. Para Nobert Elias e
Eric Dunning, numa sociedade tão autocontrolada como as sociedades atuais, os espectadores
do futebol ao saborearem uma excitação mimética de num confronto entre duas equipes,
tendem a uma manifestação mais aberta e livre na companhia de outras pessoas:
(os espectadores) Tal como na vida real, podem agitar-se entre esperanças de
sucesso e medos de derrota; e, nesse caso, ativam-se sentimentos muito fortes, num
quadro imaginário, e a sua manifestação aberta na companhia de muitas outras
pessoas pode ser a mais agradável e libertadora de todas, porque na sociedade, de
um modo geral, as pessoas estão mais isoladas e tem poucas oportunidades para
manifestações coletivas de sentimentos intensos.” (ELIAS E DUNNING, 1995:71-
72).
Ao flutuar pelas diversas emoções, que um jogo de futebol pode despertar em uma
torcida, a esperança da vitória, a tristeza de uma derrota, a excitação provocada por uma
virada no placar quase inacreditável, a torcida uruguaia extravasou as tensões sociais, contra a
ditadura, após o jogo, cantando ao final do jogo já fora do estádio centenário "el se va acabar,
se va acabar, la dictadura militar”, transcendo o frágil limiar entre vida real e jogo mimético,
conforme o posicionamento de Elias e Dunning quanto ao valor que uma vitória mimética
pode ter:
...Se as tensões despertam numa sociedade mais alargada, se ai as restrições sobre os
sentimentos intensos enfraquecem e o nível de hostilidade e ódio entre os diferentes
grupos se eleva a serio, a linha divisória que separa o jogo e aquilo que não é jogo,
confrontos miméticos e reais, pode ficar pouco nítida. Nesses casos, a derrota no
terreno de jogo pode evocar a amarga sensação de derrota na vida real e um apelo de
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vingança. Uma vitória mimética pode apelar a continuação do triunfo numa batalha
fora do terreno de jogo.(ELIAS E DUNNING, 1995: 72).
Ao fim do Mundialito, o evento foi um sucesso em termos de execução, passando a
imagem de um país em desenvolvimento para o mundo, mesmo que tal fato não fosse
realidade. Por outro lado os militares acabaram duplamente derrotados, tendo seus planos em
longo prazo frustrados, primeiro com a derrota no plebiscito referente a fundação da chamada
“nova republica”, seguida poucos meses depois, pela excitação da população após a vitória
da sua seleção, provocando uma onda nacionalista, que marca o declínio da ditadura, tendo
seu fim em 1985.
A película acaba tendo uma atualidade e importância histórica fundamental. Ao passo
que segundo os pressupostos de Marc Ferro, o filme pode ser utilizado como fonte histórica,
trazendo às claras, depoimentos dos atores da época, revelando uma história por diversas
vezes “esquecida” nos documentos oficiais. Diante disto a película traz depoimentos tanto da
resistência à ditadura quanto de militares e civis que a apoiaram, depoimentos fundamentais
para se entender a ditadura uruguaia e a América Latina em estudos futuros.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
AGOSTINO, Gilberto. Vencer ou morrer – futebol, geopolítica e identidade nacional. Rio
de Janeiro: Mauad, 2002.
ELIAS, N. O processo civilizador: uma história dos costumes. Rio de Janeiro: Zahar, 1994.
v. 1.
ELIAS, N.; DUNNING, E. A busca da excitação. Lisboa: Memória e Sociedade, 1995.
FRANCO JR., Hilário. A dança dos deuses: futebol, sociedade, cultura. São Paulo:
Companhia das Letras, 2007.
GIULIANOTTI, Richard. Sociologia do futebol: dimensões históricas e socioculturais do
esporte das multidões. São Paulo: Nova Alexandria, 2002.
MUNDIALITO. Direção: Sebastian Bednarik. Uruguai, Brasil. 72 min. Coral Filmes em co-
produção com: V2 Cinema. 2010.
MORISAWA, Mariane. Entrevista concedia ao portal Ultimo Segundo do IG em 30/09/2010
Disponível em:
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http://ultimosegundo.ig.com.br/festivalrio/entrevista+com+o+diretor+uruguaio+sebastian+be
dnarik/n1237787680165.html Ultimo acesso: 30/04/2013
SCHMIDT, Felipe. Herói nacional, Yaya Touré sonha com título da Copa Africana:
'Está na hora'. Globoesporte.com, Rio de Janeiro. 2013. Disponível em:
http://globoesporte.globo.com/futebol/copa-africana-de-nacoes/noticia/2013/01/heroi-
nacional-yaya-toure-sonha-com-titulo-da-copa-africana-esta-na-hora.html Ultimo acesso em
29/04/2013
YAFFÉ, Jaime. La dictadura uruguaya (1973-1985): nuevas perspectivas de
investigación e interpretación historiográfica. Revista de Estudos Ibero-Americanos, Porto
Alegre, v. 38, n. 1, p. 13-26, jan./jun. 2012
A VIDA NAS FÁBRICAS: COTIDIANO DAS MULHERES OPERÁRIAS EM
SERGIPE (1950-1956)21
WAGNER EMMANOEL MENEZES SANTOS22
Resumo: O artigo pretende analisar como era o cotidiano das mulheres operárias no interior
das fábricas sergipanas, na década de 1950. Percebe-se que elas tinham uma vida dobrada,
pois, além de trabalharem nas fábricas, também eram donas de casa e tinham que manter o lar
em perfeita condição. Nas fábricas, as operárias sofriam assédio moral e sexual,
principalmente dos representantes dos seus patrões. O cotidiano é aqui entendido como,
principalmente, a história dos “marginalizados”, o dia a dia da gente comum, enfim, as
minúcias sociais que cercam as operárias. Nesse artigo, foram utilizados os jornais Gazeta
Socialista e Fôlha Popular como fontes para compreender e analisar como era o cotidiano das
mulheres operárias.
Palavras-Chaves: Fábricas, operários, Gazeta Socialista e Fôlha Popular.
21
Trabalho apresentado ao curso de Pós-Graduação em Ensino de História: Novas Abordagens como requisito
para obtenção do título de Especialista, pela Faculdade São Luís de França, sob a orientação da Profª. Msc.
Andreza Santos Cruz Maynard.
22
Graduado em História pela Universidade Federal de Sergipe. Especialização pela Faculdade São Luís de
França, "Lato Sensu", em "Ensino de História: Novas Abordagens". Membro dos Grupos de Pesquisas "Cultura,
Memória e Política Contemporânea" (UFRB) e do "Poder, Cultura e Relações Sociais na História". Mestrando
em História (UFS). Orientadora Profa. Dr. Célia Costa Cardoso. Email: wemss@bol.com.br
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Anais número 01 2013 anônimos na história

  • 1. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS IV Simpósio Nacional Anônimos na História: “Indignações, sujeitos e histórias...” Anais Eletrônicos - N⁰01-2013. ISSN: São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 1 ISSN:
  • 2. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS Anais Eletrônicos – 2013 Título: Anais Eletrônicos – IV Simpósio Nacional Anônimos na História: “Indignações, sujeitos e histórias...” ISSN: Organizadores: Antônio Lindvaldo Sousa Andreza Silva Mattos Claudefranklin Monteiro Santos Priscilla Araujo Guarino Silveira Edição: 1 Ano da Edição: 2013 Local de Edição: São Cristóvão-SE Tipo de Suporte: Internet Editora: UFS São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 2 ISSN:
  • 3. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS Organização dos Anais Eletrônicos: Antônio Lindvaldo Sousa Andreza Silva Mattos Claudefranklin Monteiro Santos Priscilla Araujo Guarino Silveira Revisão: Andreza Silva Mattos Priscilla Araujo Guarino Silveira Diagramação: Andreza Silva Mattos Eduardo Augusto Santos Silva Priscilla Araujo Guarino Silveira Capa: Andreza Silva Mattos Priscilla Araujo Guarino Silveira Arte-finalização: Andreza Silva Mattos Priscilla Araujo Guarino Silveira Organização Do Evento: Antônio Lindvaldo Sousa Comissão Organizadora Adjunta: Adailton Andrade dos Santos – GPCIR/UFS Andre Luiz Sá De Jesus- GPCIR/UFS Andréa Bandeira - UEP Andreza Silva Mattos - GPCIR/UFS/ PROHIS Aquilino José De Brito Neto - GPCIR/UFS/ PROHIS Claudefranklin Monteiro Santos - GPCIR/UFS Eduardo Augusto Santos Silva - GPCIR/UFS Jose Andrade Sá - GPCIR/UFS Josefa Eliene Dos Santos - GPCIR/UFS São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 3 ISSN:
  • 4. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS Leonardo Matos Feitoza - GPCIR/UFS/ PROHIS Lina Aras - UFBA Mônica Liz Miranda - UFVJN Priscilla Araujo Guarino Silveira - GPCIR/UFS/ PROHIS Tamires Dos Anjos Oliveira- GPCIR/UFS Ygo Araújo Ferro – UFAL Valeria Maria Santana Oliveira – UNIT-EAD/ANPUNH/CESAD-UFS Comissão Cientifica: João Mouzart de Oliveira Junior – UFS/NPPA Mateus Antonio de Almeida Neto – CESAD/UFS Marcio Gomes de Santana Matos – UNIT Rita Leoser da Silva Andrade – CESAD/UFS Rivanaldo Oliveira - GPCIR/UFS Igor Diniz Araujo- GPCIR-UFS Conselho Consultivo: Magno Francisco de Jesus Santos Ane Luíse Silva Mecenas Santos Mônica Liz Miranda Valéria Maria Santana Oliveira Claudefranklin Monteiro Santos Andréa Bandeira Monitores: Barbara Barbosa dos Santos Cacilda Messias de Jesus Santiago Carla Gracyelle de Sousa Santos Cassiano Celestino de Jesus Edla Tuane Monteiro Andrade Géssica Conceição Alves Santos Gilmar Castilho de Lima Isabela Chagas Santos Jessica Messias dos Santos Josineide Luciano Almeida Santos Mayra Ferreira Barreto Nerita Carvalho Figueiredo São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 4 ISSN:
  • 5. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS Observação: A adequação técnico-linguística dos textos é de responsabilidade dos autores. Apoio: DHI- Departamento de História PROHIS- Programa de Pos-graduação em História São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 5 ISSN:
  • 6. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE S612a Simpósio Nacional Anônimos na História: “Indignações, sujeitos e histórias...” (4. : 2013, : São Cristóvão, SE) Anais [recurso eletrônico]: IV Simpósio Nacional Anônimos na História: “Indignações, sujeitos e histórias...”: 04 a 08 de junho de 2013, São Cristóvão, SE / Organizadores: Antônio Lindvaldo Souza... [et al.]. – São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe, Grupo de Pesquisa Culturas, Identidades e Religiosidades, 2013. 1 Anais Eletrônicos. ISSN 1. História. 2. Sergipe - História. 3. Cultura. 4. Identidade social. 5. Religiosidade. 6. Memória. 7. Arqueologia. 8. Movimentos sociais. I. Souza, Antônio Lindvaldo. II. Título. III. Título: “Indignações, sujeitos e histórias...” CDU 93/94 São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 6 ISSN:
  • 7. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS Sumário I - APRESENTAÇÃO 11 II - PROGRAMAÇÃO DO SIMPÓSIO 12 III - SIMPÓSIOS TEMÁTICOS LIVRES: TEXTOS COMPLETOS 15 SIMPÓSIO I Coordenadora: Andreza Silva Mattos “CAÇA AS BRUXAS”: VIOLÊNCIA E DISPUTA POLÍTICA PELO PODER LOCAL NA VILA DE N. SRA. DAS DORES EM 1906-1907 Thiago José Menezes da Silva 16 A MORTE COMO UM DRAMA SOCIAL: O CASO DE ZULNURA MOTTA Rafael Santa Rosa Cerqueira 25 ANÁLISE BIOARQUEOLÓGICA REALIZADA EM SEPULTURA DE NÃO ADULTO DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO SÃO JOSÉ II Madson de Souza Fontes Olívia Alexandre de Carvalho 32 FUTEBOL, CINEMA E POLÍTICA: A DITADURA URUGUAIA E O MUNDIALITO EM 1980 Adson do Espírito Santo 41 A VIDA NAS FÁBRICAS: COTIDIANO DAS MULHERES OPERÁRIAS EM SERGIPE (1950-1956) Wagner Emmanoel Menezes Santos 50 OS TRABALHADORES EM AÇÃO: A IMPRENSA OPERÁRIA ALAGOANA (1912/1920) Shuellen Sablyne Peixoto da Silva 60 PARA ALÉM DOS MUROS DA FÁBRICA: O CASO ENTRE A AD CONFIANÇA, O FUTEBOL E A IDENTIDADE. Sakay de Brito 68 ORGANIZAÇÃO SINDICAL DOCENTE EM SIMÃO DIAS: HISTÓRIA E MEMÓRIA DE UM MOVIMENTO SOCIAL (1990- 1994) Antonio José dos Santos Júnior 83 UMA MANIFESTAÇÃO DIONISÍACA NA CIDADE DE SÃO MIGUEL DO ALEIXO Josevania Souza de Jesus Fonseca 113 E OS BISPOS BRASILEIROS FORAM A ROMA: REFLEXÕES SOBRE O EPISCOPADO BRASILEIRO NO CONCÍLIO VATICANO II 128 São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 7 ISSN:
  • 8. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS Eduardo Augusto Santos Silva VACINAÇÃO E CONFLITO NA URBE: UM OLHAR SOBRE A REVOLTA DA VACINA (1904) Luiz Paulo Santos Bezerra 137 AS OCUPAÇÕES DE TERRAS NO BRASIL: A LUTA PELO ACESSO A TERRA NO GOVERNO DE FHC (1999-2002) Joselane da Silva Tenório 145 “LEMBRANÇAS E SABORES...”: ALIMENTAÇÃO SEGUNDO DEPOIMENTOS DE DONA BABY DURANTE A SUA TRAJETÓRIA NA USINA PEDRAS (1969 - 1972) Andreza Silva Mattos Priscilla Araujo Guarino Silveira 152 SIMPÓSIO II Coordenadora: Priscilla Araujo Guarino Silveira MAXIXE: EVIDÊNCIAS DE CIRCULARIDADE CULTURAL Aquilino José de Brito Neto 167 HISTÓRIA E MEMÓRIA: ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A “FEBRE DE MEMÓRIA” NA CONTEMPORANEIDADE Jéssica da Silva Souza 180 IMAGINÁRIOS E VESTIMENTAS: DIÁLOGO ENTRE IMAGINÁRIO MEDIEVAL, COTIDIANO E ROUPAS USADAS NA CIDADE DA BAHIA Marcos Ferreira Gonçalves 187 OS SONS QUE VÊM DA MEMÓRIA: OS TESTEMUNHOS SOBRE A DITADURA QUE PARTEM DOS DEPOIMENTOS DE DOIS MÚSICOS Mislene Vieira dos Santos 198 PERSPECTIVAS DA COMUNIDADE MARGINALIZADA – BAIRRO SANTA MARIA Maria Aline Matos de Oliveira Taís Danielle Alcântara de Araújo Silva 211 ENTRE MARIAS E CLARAS: VIVÊNCIAS DE ALGUMAS MULHERES EM SERGIPE DEL REY, NO PERÍODO DOS SETECENTOS Elielma Barbosa Lisboa Rafael Ribeiro 219 ANSELMO E SOLEDAD: CAMINHOS CRUZADOS Isabela Chagas Santos 229 MADRE ALBERTINA BRASIL: RECORTES DE UMA TRAJETÓRIA NO ESTADO DE SERGIPE (1954 – 1978) Ana Paula Soares Lima Cora Linhares dos Santos 238 DA PRAÇA DA LAVOURA À FEIRA DOS RATOS: PATRIMÔNIOS E MEMÓRIAS DE EUNÁPOLIS-BA Levi Sena Cunha Neide Gonçalves de Oliveira 247 São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 8 ISSN:
  • 9. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS TRAJETÓRIA, MEMÓRIA E PRÁTICAS EDUCATIVAS: REPRESENTAÇÕES DA CONFIGURAÇÃO DOCENTE NA GRANDE ARACAJU (1950 A 1970) Anderson Teixeira de Souza Raylane Andreza Dias Navarro Barreto 257 HISTÓRIA E MEMÓRIA DA CASA DO OUVIDOR EM SERGIPE D’EL REY Adailton dos Santos Andrade 267 O SERTÃO COLONIAL NA BERLINDA DO SANTO OFÍCIO: DIVERGENTES PERCEPÇÕES SOBRE UM MEIO SOCIAL HÍBRIDO (1589-1595) Andreza Silva Mattos Priscilla Araujo Guarino Silveira 276 SIMPÓSIO III Coordenadoras: Andreza Silva Mattos e Priscilla Araujo Guarino Silveira IDENTIDADE RECRIADA: OS “BRASILEIROS” DO BENIM Gladston Oliveira dos Passos 287 MEMÓRIAS DO “HOSPITAL VELHO”: AS RUÍNAS DO HOSPITAL SÃO JOÃO DE DEUS EM LARANJEIRAS (SE) E SUA REPRESENTAÇÃO SOCIAL Danielle de Oliveira Cavalcante 293 ENTRE TRILHOS E CAMINHOS: OS BONDES EM ARACAJU, NO PERÍODO DE 1900 A 1950. Luciana de Souza Santos Maria Carla Andrade de Carvalho 306 “CUBÍCULOS ÚMIDOS E IMUNDOS”: A PENITENCIÁRIA MODELO DE ARACAJU (1926-1960) Mariana Emanuelle Barreto de Gois 316 QUADRILHA JUNINA EM ARACAJU – UMA PEÇA DE CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA (DÉCADAS 1980/1990) Gilvan de Oliveira Fiel 329 (DES) VENTURAS POÉTICAS DE MANOEL ALVES MACHADO (1874-1897) Igor Diniz Araújo 339 “SOB O MANTO ACOLHEDOR DO ROSÁRIO”: A IRMANDADE NEGRA NA VILA DE SANTA LUZIA. Ivo Rangel Fontes Lima Bruna Ribeiro dos Santos 351 TEATRO, DA ACRÓPOLE AO LAGARTO: CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEATRO NO MUNDO E A HISTÓRIA DO TEATRO LAGARTENSE Ailton Silva dos Santos 359 CHOÇAS E CHOUPANAS: FRAGMENTOS DA HISTÓRIA DAS MORADIAS ESCRAVAS NAS TERRAS SERGIPANAS (1763-1888) Joceneide Cunha 373 São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 9 ISSN:
  • 10. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS UMA ESCOLA SEM DEUS E MESTRES SEM FÉ: O REGULAMENTO DE 04 DE JULHO DE 1881 E A INDIGNAÇÃO DO VIGÁRIO ENCOMENDADO DA FREGUESIA DE ARACAJU Leonardo Matos Feitoza 381 CIBERESPAÇO: A DIREITA NO MEIO DIGITAL Luzimary dos Santos Rocha 390 UM FLÂNEUR TRANSATLÂNTICO: PATRIMÔNIO CULTURAL EM SITES E BLOGS SERGIPANOS E PORTUGUESES Giceli Andrade Rocha Santos 398 PESSOAS ANÔNIMAS, VIOLÊNCIAS DECLARADAS Antonio Clarindo Barbosa de Souza 406 CAPITÃES DE SALVADOR: A MARGINALIZAÇÃO SOCIAL NA OBRA CAPITÃES DA AREIA DE JORGE AMADO Anne Micheline Souza Gama 416 A HISTÓRIA ORAL COMO EXPERIÊNCIA PSICANALÍTICA Luis Eduardo Pina Lima 426 São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 10 ISSN:
  • 11. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS I - APRESENTAÇÃO O Simpósio Nacional Anônimos na História é realizado de dois em dois anos pelo GPCIR – Grupo de pesquisa “Culturas, Identidades e Religiosidades” CNPQ/UFS. Seguindo a direção da mesma temática dos últimos simpósios que trabalharam com a temática dos direitos humanos, o tema deste ano é “Indignação, Sujeitos e Histórias”. Segundo o dicionário da língua portuguesa do Instituto Antônio Houaiss (p.1605), indignado é um “enfurecido”, “revoltado”, “tomado por indignação”. O termo “indignação” é um sentimento humano de cólera ou de desprezo experimentado diante da indignidade, injustiça, afronta; repulsa e revolta. Independentemente da situação social dos sujeitos, ricos ou pobres, burgueses ou operários, suas trajetórias de vidas e, principalmente, suas relativas liberdades, são desconhecidas pelo grande público. Pouco sabemos sobre as ações de sujeitos comuns na nossa história. Todos eles entram na categoria de “ANÔNIMOS”. O modelo de enxergar exemplos de ações de anônimos e levá-los para o campo da História escrita não se restringe ao modelo de uma “História vista de baixo”, como alternativa para substituir uma “História vista de cima”, que revela indivíduos considerados grandes homens pela História Universal. Busca-se encontrar esses anônimos a partir da micro-história, do cotidiano na relação entre o particular e o geral. Assim, possivelmente, uma indignação de um sujeito e o entendimento do pertencimento do mesmo iluminariam entender uma discussão maior. E para quê averiguarmos suas trajetórias de vidas, como fez Carlo Ginzburg ao estudar um moleiro anônimo, desconhecido de todos? O que levou esse historiador a contar a história de um indivíduo perseguido pela inquisição? O mundo vivido e as representações do moleiro dizem muito sobre o tempo dele e ao mesmo tempo nos fazem dialogar com o nosso, com as nossas incertezas do presente. Gente como Menocchio, perscrutado por Ginzburg, diz muito sobre as inúmeras possibilidades do fazer humano, das vicissitudes históricas. É sobre essa inspiração que projetamos este evento denominado Simpósio Nacional Anônimos na História. São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 11 ISSN:
  • 12. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS II - PROGRAMAÇÃO IV Simpósio Nacional Anônimos na História: “Indignações, sujeitos e histórias...” DATA E HORÁRIO EVENTO DIA 04 DE JUNHO – TERÇA- FEIRA Das 08 às 12h • Minicursos Coordenação: Josefa Eliene dos Santos e Tamires dos Anjos Oliveira. • Credenciamento Coordenação: Josefa Eliene dos Santos e Tamires dos Anjos Oliveira. Local do credenciamento: Sala do GPCIR no Departamento de História da UFS. Das 17 às 19h • Solenidade de entrega das homenagens a sujeitos anônimos na História. Apresentação do Coral do Banese. Coordenação: Leonardo Matos Feitoza e Priscilla Araujo Guarino Silveira. Coordenação do cerimonial: Aquilino José de Brito Neto. • Entrega de certificados de conclusão do curso HISTÓRIA DE SERGIPE PARA A TERCEIRA IDADE. Coordenação: Eduardo Augusto Santos Silva e Tamires dos Anjos Oliveira. Local: Museu da Gente Sergipana. DIA 05 DE JUNHO – QUARTA- FEIRA Das 08 às 12h • Minicursos Coordenação: Josefa Eliene dos Santos e Tamires dos Anjos Oliveira. Das 19 às 22h • Solenidade de abertura do IV SIMPÓSIO ANÔNIMOS NA HISTÓRIA. Apresentação Cultural Coordenação: Aquilino José de Brito Neto. São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 12 ISSN:
  • 13. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS • Conferência de abertura: “Anonimato e indignação no pós-abolição no Rio de Janeiro e no Sudeste brasileiro”. Conferencista: Profª. Drª. Marta Abreu (UFF) Apresentação: Profº. Dr. Antônio Lindvaldo Sousa Local: Sociedade SEMEAR DIA 06 DE JUNHO – QUINTA- FEIRA Das 08 às 12h • Minicursos Coordenação: Josefa Eliene dos Santos e Tamires dos Anjos Oliveira. Das 14 às 17h • Sessões de comunicações Coordenação: Andreza Silva Mattos e Priscilla Araújo Guarino Silveira. Das 19:00 às 20:30h • Mesa Redonda “A” “O projeto História de Sergipe para a terceira idade: sujeitos, trajetórias de vidas e indignações”. Coordenação da mesa: Profº. Dr. Antônio Lindvaldo Sousa/GPCIR/CNPq/UFS/PROHIS/ Local: Auditório da Reitoria – UFS Campus de São Cristóvão Das 20:30 às 22h • Mesa Redonda “B” "As indignações que cercam o Ensino de História”. Coordenação da mesa: Profª. Msc. Mônica Lins Miranda/UFVJM Local: Auditório da Reitoria – UFS Campus de São Cristóvão DIA 07 DE JUNHO – SEXTA-FEIRA Das 08 às 12h • Minicursos Coordenação: Josefa Eliene dos Santos e Tamires dos Anjos Oliveira. Das 14 às 17h • Sessões de comunicações Coordenação: Andreza Silva Mattos e Priscilla Araújo Guarino Silveira. São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 13 ISSN:
  • 14. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS Das 19:00 às 20:30h • Mesa-redonda “C” “Mulheres em movimento” Coordenação da mesa: Profª. Drª. Andrea Bandeira/GPCIR/UEP Local: Auditório da Reitoria – UFS Campus de São Cristóvão Das 20:30 às 22h • Mesa-redonda “D” “Anônimos e indignados na pós- modernidade: estranhos, desenraizados e desorientados”. Coordenação da mesa: Profº. Dr. Santiago Silva de Andrade/GPCIR/CNPq/AGES Local: Auditório da Reitoria – UFS Campus de São Cristóvão DIA 08 DE JUNHO – SÁBADO Das 8 às 12h SAÍDA DE ARACAJU PARA A FAZENDA SANTA CRUZ - LARANJEIRAS. Entrega de certificados aos monitores do curso: História de Sergipe para a Terceira Idade. Das 14 às 18h Culto Ecumênico São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 14 ISSN:
  • 15. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS SIMPÓSIOS TEMÁTICOS LIVRES: TEXTOS COMPLETOS “CAÇA AS BRUXAS”: VIOLÊNCIA E DISPUTA POLÍTICA PELO PODER LOCAL NA VILA DE N. SRA. DAS DORES EM 1906-1907 São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 15 ISSN:
  • 16. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS Thiago José Menezes da Silva* RESUMO: A proposta deste artigo é demostrar que o assassinato de Emiliano José de Lima, ocorrido na vila de N. Sra. Das Dores, está relacionado com a “caça as bruxas”, perseguições e atentados empreendidas contra os partidários de Fausto Cardoso, decretada pelos olimpistas após o assassinato do Senador Olímpio Campos. Esse crime foi o resultado do acirramento político na Vila, que foi intensificado a partir da Revolta de 1906, que contou com a participação do Coronel Vicente Porto e sua Legião Dorense. Além disso, mostra como lideres políticos e servidores públicos utilizavam seus cargos para defenderem interesses privados. E como a Polícia, as autoridades Judiciárias e os gestores públicos foram ineficiente no exercício de suas funções e na tentativa de manutenção da ordem. PALAVRAS-CHAVE: N. Sra. Das Dores, Coronelismo, Revolta de 1906 e Criminalidade. 1 – INTRODUÇÃO: A proposta deste artigo é demostrar que o assassinato de Emiliano José de Lima, ocorrido na vila de N. Sra. Das Dores, está relacionado com a “caça as bruxas”, perseguições e atentados empreendidas contra os partidários de Fausto Cardoso, decretada pelos olimpistas após o assassinato do Senador Olímpio Campos. A escolha desse objeto de pesquisa deve-se ao fato que, através do estudo de um caso particular, o crime acima exposto surgiu uma oportunidade para traçar um breve painel do coronelismo1 na vila dos Enforcados. O início do século XX, primeiros anos da República no Brasil, foi um período de * Graduado em História pela Universidade Tiradentes em 2007 e Especializado em Ensino de História: Novas Abordagens em 2010. 1 Para Ibarê Danta é uma forma de representação política exercida por determinados proprietários sobre os trabalhadores rurais, tempo que se impõem como intermediário entre as massas do campo e as oligarquias estaduais, tendo como objetivo a manutenção da estrutura de dominação. (DANTAS, 1987, p. 18) São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 16 ISSN:
  • 17. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS turbulência política que marcou a História do Estado devido a Revolta de 1906 e seus desdobramentos. Esses fatos, juntamente com uma crise econômica, geraram instabilidades políticas e disputas em várias localidades de Sergipe. Então, foi a partir desse contexto político-social e da análise deste processo, encontrado no Arquivo do Judiciário do Estado de Sergipe2 , que surgiu a seguinte indagação: Qual a relação do assassinato de Emiliano José de Lima com a disputa do poder local na vila de N. Sra. Das Dores e com a Revolta de 1906? Para responder esta questão foi realizado o levantamento bibliográfico sobre o tema apresentado, após esta catalogação foi feito uma seleção e análise, enfatizando os pontos a serem abordados. Igualmente, analisado o jornal Correio de Aracaju do ano de 1907, com o objetivo de entender como o jornal retratou as perseguições e atentados ocorridos na vila. Sendo assim, esta pesquisa tornou-se em uma oportunidade de contribuir com a História da cidade de N. Sra. Das Dores/SE, realizando o resgate da memória local, através do estudo das disputadas políticas e pelo poder ocorridas na primeira década do século XX. Assim como, é uma oportunidade de trabalhar com processos criminais, fontes históricas que flagram homens e mulheres, de várias posições sociais, agindo e descrevendo relações cotidianas. 2 - A REVOLTA DE 1906 E A VILA DE N. SRA. DAS DORES: Nos primeiros anos da Republica no Brasil, a política em Sergipe era dominada pela oligarquia Olimpista, que ganhou mais autonomia com a política dos governadores criada por Campos Sales. Em Sergipe esse grupo político sofreu bastante com a oposição feita pelo então Deputado Fausto Cardoso e seus partidários, que tentaram acabar com o domínio dos Olimpista na política sergipana. Entre os anos de 1889 a 1907, o Estado vivia uma crise econômica gerada, principalmente, devido a queda nas exportações do açúcar. Para tentar amenizar a situação financeira, o Governo adotou medidas que acabaram desagradando a diversos setores da 2 Foram encontrados na caixa nº 80 /02x – 1907/1908 da Comarca de N. Sra. Das Dores, quinze processos criminais, sendo seis de homicídios (art. 294) e os outros crimes tipificados nos artigos 303, 304 e 330 do código penal vigente do período. Entre eles se encontrava o processo que tratava do assassinato de Emiliano José de Lima. São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 17 ISSN:
  • 18. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS sociedade. Além disso, a crise gerou grande inquietação da classe dominante, que ficou com medo de que a situação afetasse o equilíbrio social vigente. Uma dessas medidas foi o aumento da fiscalização nas casas comerciais. Ela provocou o fechamento de alguns estabelecimentos que não aguentaram a carga de impostos. E ainda gerou um confronto entre os interesses do comércio e os da agricultura, que foi traduzido em crescente insatisfação contra o Governo e o partido que o apoiava. Assim, comerciantes passaram a fazer coro com os excluídos do Governo, que vinham na queda do olimpismo a solução de todos os problemas. [...] enquanto os agentes do fisco usam frequentemente de violência para conseguir realizar a cobrança. A força pública foi empregada no cerco a casas comerciais, na prisão e espaldeiramento de negociantes, chegando muita mercadoria a ser penhorada para o pagamento do imposto devido.” (SOUZA, 1985:41) Para agravar a crise, o Estado sofreu queda de sua principal fonte de renda, e passou a contar ainda com o ônus dos encargos conferidos pela federalização do país. Assim, o Governo procurou garantir a própria sobrevivência pela socialização das perdas da agroindústria canavieira, agravando os impostos sobre as outras atividades, sem entretanto conseguir reduzir aqueles que eram cobrados sobre a produção do açúcar. Em julho de 1906, o Governo realizou o confisco de mercadorias em lojas do município de Maruim, sob pretexto de cobrança de impostos. Comerciantes, feirantes e retalhistas passaram a fazer coro contra as medidas. Além disso, marchantes e açougueiros acabaram sendo presos e a suas mercadorias eram destruídas por agentes do Governo. A repressão acabou levando os oposicionistas a realimentarem a hipótese da revolução para chegar ao poder e resolver os problemas do Estado. O Jornal de Sergipe divulgava – sem nunca transcrever – o conteúdo de artigos de Fausto Cardoso, publicados no Rio, considerando a possibilidade de uma reação sanguinolenta” diante da violência e das perseguições sofridas pelos eleitores oposicionistas. A celebração da vitória do novo partido trouxe, paradoxalmente, à tona a tese da reação armada. É que o júbilo oposicionistas foi causa de vários atos de repressão. Prisões, espaldeiramento, eleitores no tronco, passeatas dispersadas, agressões de todo o tipo, pareceram instalar a descrença na vitória eleitoral como São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 18 ISSN:
  • 19. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS passo importante na evolução que conduziria a oposição ao poder.. ( SOUZA, 1985:108) A crise econômica, o aumento dos impostos e o confisco de mercadorias levaram o grupo da oposição liderado por Fausto Cardoso a iniciar a Revolta. Na noite de 23 de agosto de 1906, membros do Corpo Policial deslocaram-se para o interior do Estado, com o objetivo de unir-se aos batalhões populares liderados pelos chefes progressistas. Os revoltosos apossaram-se da administração e das finanças de alguns municípios, e prenderam os mais destacados olimpistas. A ação do “exército revolucionário” no período de 23 a 27 de agosto consistiu basicamente na ocupação das sedes municipais de Maruim, Nossa Senhora das Dores, Laranjeiras, Rosário, Itabaiana, Divina Pastora e seu povoado Santa Rosa. Consta ainda que os progressistas dominavam Itaporanga e Propriá. Toda a ação inicial se concentrou no levantamento de fundos para a manutenção da tropa. (SOUZA, 1985:199) Para demonstrar força e responder à chegada das forças federais, os faustistas, passaram a controlar o interior e, decidiram concentrar suas tropas em Divina Pastora, devido a boa posição estratégica. Em Nossa Sra. Das Dores, o coronel Vicente Porto com sua legião, composto com cerca de 400 homens, assaltou a Exatoria, e exigiu a entrega do saldo em cofre, e os comerciantes foram obrigados a contribuir com quantias em dinheiro e os proprietários rurais entregavam gado para a alimentação das tropas. Após seguiu para Divina Pastora. Com a morte de Fausto Cardoso, e a reposição do Governo ao poder, a força federal partiu para o interior e encontraram as cidades abandonadas. Mesmo assim, a caça aos progressistas continuou, sendo intensificada após a morte do Senador Olímpio Campos que reacendeu o ódio aos progressistas e iniciou a “caça às bruxas” aos aliados e partidários de Fausto Cardoso em todo o Estado, mesmo o Governo fazendo a promessa de anistia aos participantes da Revolta. A memória de Olímpio Campos era perpetuada nas missas que se celebravam São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 19 ISSN:
  • 20. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS em todo o Estado, nas mensagens de pêsames e coroas fúnebres que chegavam. Os olimpistas temiam agora pelo futuro de seu partido enquanto os progressistas aguardavam, com pavor, a repressão que se esperava. (SOUZA, 1985:229) Em N. Sra. Das Dores o ponto alto da caça aos progressistas e das disputas pelo poder local que envolvia Vicente Porto e Malaquias Curvelo foi o bárbaro assassinato de Emiliano José de Lima, relatado no Correio de Aracaju do dia 21 de fevereiro de 1907 como o Chanfalho em N. Sra. Das Dores. 3 - A “CAÇA AS BRUXAS” NA VILA DE N. SRA. DAS DORES: A vila de N. Sra. Das Dores, criada através da resolução provincial nº 555, de 11 de julho de 1859, teve sua história marcada pelo extermínio de povos indígenas praticado pelos portugueses; por secas prolongadas; por epidemias e febres que vitimaram centenas de pessoas3 e por crimes praticados por lideres locais e seus correligionários. Após a Revolta de 1906 e a morte do Senador Olímpio Campos, perseguições e atentados tornaram-se frequentes na Vila. O Jornal Correio de Aracaju, durante os meses de janeiro, fevereiro e março de 1907, divulgou várias notícias sobre a disputa política existente no município entre o coronel Vicente Porto e Malaquias Curvelo e seus partidários. Em 10 de fevereiro de 1907, o Correio de Aracaju, jornal de propriedade de João de Menezes, publicava artigo anonimo denunciando a violência no município e algumas praticas de Malaquias Curvelo, chefe político local, e de seus adeptos. O chefe político d'aqui, o sr. Malaquias Curvelo, sem um motivo que justifique plenamente a sua causa, manda fazer um portão para o cemitério, arvorando-se do direito de ficar com a chave do mesmo e seus respectivos rendimentos; ao contrário, porém, do que informam ao Estado, esse portão não foi ainda assentado e, ipso facto não podia ter sido quebrado pelo padre Justiniano. O que sei é que elle está prompto, notando eu a presteza com que foi encomendado e a tardança para ser collocado.4 O autor do texto informa que os espancamentos continuam acontecendo e que devido 3 Ver, CARVALHO, João Paulo Araújo de. As dores da Vila das Dores, publicado na 5ª edição do informativo cultural MEMÓRIAS DORENSES. N. Sra. das Dores (SE): outubro de 2009 4 Correio de Aracaju, ano II, nº 20, p. 3 (10 jan. 1907) São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 20 ISSN:
  • 21. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS a este fatos, pessoas deixavam o município devido a insegurança e a falta de liberdade. O espaldeiramentos continua e o número de foragidos é enorme. Seria longuissimo enumeral-os, mas, dentre elles, cito os Srs. Pedro Telles e Sabino Severiano, homens trabalhadores, arranchados como vulgarmente se diz, cujo único crime é não pertencerem ao grupo do Sr. Malaquias. (CORREIO DE ARACAJU, 10-01-1907) Ele relata também que um grupo de homens armados juntamente com soldados do corpo de polícia transformou a feira da véspera de natal numa praça de guerra. Um natal in nomine. Não houve um tabaréo que tivesse coragem de vir à feira, pois ella estava transformada n'uma praça de guerra. As poucas pessoas que à assistiram à feira e a missa, celebrada pelo Vigário Justiniano, foram d'aqui mesmo e as que se julgam na graça do sr. Malaquias. 5 E por fim, ele solicita a ajuda do Presidente do Estado e explica que não assinou o texto porque nesta terra não se tem liberdade, e por isso, tem medo de sofrer perseguições. Tivessem estas palavras algum valor perante a mais alta auctoridade do Estado eu rogaria ao Exmº Presidente que contivesse o odio do Sr. Malaquias e seus soldados, que procurasse apaziguar esta terra que o sustenta materialmente visto como elle é exactor e ao que me consta, é este o seu único meio de vida.6 Esses denuncias divulgadas pelo jornal através dos telegramas recebidos da Vila, relatavam, como pode-se constatar, eventos ocorridos no ano de 1906. Todavia, no ano seguinte, 1907, as perseguições e arbitrariedade continuaram a acontecer. E no dia 13 de janeiro, é divulgado telegrama com novas notícias de arbitrariedade ocorridas na vila. Os negociantes d'aqui estão aterrorizados pela continuação das prisões e das violências injustas praticadas contra pessoâs valorosas desta villa, pedimos a V. a caridade de uma providência. O quartel esta repleto de cunhados e irmãos de Sabino e Severiano, foragidos, e contra quem o sr. Delegado de Polícia vota ódio imortal.7 Servidores públicos que trabalhavam na vila, também, foram vítimas das perseguições políticas e abusos praticados na vila. Foi o que podemos constatar no telegrama enviado pelo primeiro suplente de Juiz Federal, o Sr. Luiz Correia de Azevedo (Correio de Aracaju, 1907. p. 2) “Eu e meu filho fomos desacatados pelo delegado de polícia e seu irmão 5 Op. Cit. 6 Op. Cit. 7 Correio de Aracaju, ano II, nº 21, p. 3 (13 jan. 1907) São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 21 ISSN:
  • 22. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS Manuel Prudente, sargento de policia aqui licenciado.” Já no dia 17 de fevereiro de 1907, o Correio de Aracaju divulga mais um telegrama recebido de N. Sra. Das Dores direcionado ao Presidente do Estado. Na pequena e infeliz villa de N. Sra. Das Dores, contrastando com a illusão que a nossa boa fé acastellará, acabava de morrer morto à pancadas como um cão sem dono, um pobre, um livre homem filho do povo, que sêde hygienica da policia fez victima indefeza no meio da rua, à luz do dia e aos olhos das multidões. O que hão de dizer lá por fora? E é esta a paz de Sergipe!? Paz de sabre em punho, punhal à cintura e carabina a tiracollo. Entretanto estamos certos de que o chefe do Estado não auctoriza isso...8 E continua: Que vale a calma da capital, se pelo interior, se pelo regaço do Estado, o crime, a desordem, a violência, o flagello horrivel vae minando o lar, chagando a alma popular e cavando fundas ulceras no coração das famílias?...9 Sr. Presidente do Estado, impedi as consequencias funestas que impreterivelmente serão o factor desses inclassificaveis absurdos praticados toda a hora por esses falsos amigos vossos que outra cousa não procuram sinão anthipathias e odios do povo para o vosso governo já tão pertubados por acontecimentos tristes10 Intitulada de Desordem – Espancamentos e mortes, essa notícia anunciava o bárbaro assassinato ocorrido na terra dos Enforcados, fato que tornou-se o ponto alta das disputas na vila. Povo aterrorizado, continuam bárbaros espancamentos. Segunda-feira espancados quatro fereiros sem motivos justificáveis; hoje horroso espancamento em um mentecapto, produzindo morte imediata. Soldados criminosos continuam livres. Imploramos piedade, providências que sejam respeitadas.11 Esse crime foi um dos ponto alto das perseguições empreendidas no município N. Sra. Das Dores. O brutal assassinato de Emiliano José de Lima praticado por soldados do corpo policial destacados na Vila que ocorreu em 13 de fevereiro de 1907. Assassinado por pertencer ao grupo do coronel Vicente Porto, a morte de Emiliano 8 Correio de Aracaju, ano II, nº 31, p. 1. (17 fev. 1907) 9 Op. Cit. 10 Op. Cit. 11 Correio de Aracaju, ano II, nº 31, p. 1 (17 fev. 1907) São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 22 ISSN:
  • 23. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS chocou todo o Estado. Como relata Acrísio Torres12 , tal fato deixou a história do Estado manchada de sangue pela mãos daqueles que deveriam proteger o povo. Na história dos crimes políticos, em Sergipe, ocorreu em 1907, em Nossa Senhora das Dores, um dos mais sangrentos. Um desses crimes hediondos, que definem uma situação, que envergonham um povo. Numa palavra, humilhantes para a civilização humana. Não despertou, na época, menor assombro que os crimes modernos. E, certamente, maior revolta, por se tratar de um assassinato de que foram autores soldados do corpo de polícia, de Sergipe, destacados naquele município, cenário de violências, crimes, muito sangue. Foi, de fato, uma página sangrenta, esculpida pelo sabre de soldado da polícia. Na verdade, pelos que eram os mantenedores da ordem pública, os defensores da vida e direitos dos cidadãos, da segurança social, enfim, que os vestia, alimentava e armava com dinheiro do povo. (TORRES, 199: 39-40) O Jornal Correio de Aracaju, no dia 21 de fevereiro de 1907, divulga matéria jornalistica expondo protesto de repúdio e revolta sobre o fato ocorrido na vila. E apresenta algumas características da vítima que era considerado pela população da cidade como: um homem do povo, inofensivo e bom, pelos seus costumes e pelo proceder, foi cercada pelos policiais que, insultara-o, espancara-o, tortura-o, enchera-o a boca de areia e com os pulsos amarrados em cordas, arrastara-o pela estrada. Após a realização da perícia no corpo da vítima, os médicos legistas Dr. Alexandre Freire e Manoel Borges constataram que a morte ocorreu imediatamente após os ferimentos. Segundo laudo pericial, publicado na mesma matéria, o corpo da vitima tinha as seguintes lesões: ...verificamos que a desgraçada vitima era portadora das seguintes lesões: Em toda região do thorax e abdomem, dezesseis largas e extensas contusões, arroxeadas e cruzando-se em diversas direções; no braço, antibraço, dorso da mão direita, onze contusões e um ferimento de três centímetro de extensão na face interna do punho, deixando a descoberto a artéria cubical; oito contusões e dois ferimentos penetrantes no braço e antibraço esquerdo, notando-se que no terço inferior de cada um dos antibraços havia uma contusão completamente circular como a que pudesse ser produzida pela pressão de uma corda; diversas contusões no rosto e excoriamento de epiderme, anegrada, e impregnada de terra, estando a boca completamente repleta de poera arenosa; uma solução de continuidade, ainda sangrando, na região occipital com fratura do osso correspondente; nas regiões dorsal, lombar e sacra as contusões atingiram a um numero tal, que não nos foi possível contá-las, não só por ter produzido uma só e vasta echymose, seguida em diversos pontos de hemorragias externa, como pela excoflação geral, de cor escura, ocasionada pela infiltração de partículas terrenas, evidenciando que o corpo foi arrastado pelo solo. Notamos ainda 12 "Cenas da Vida Sergipana, 2 " Acrísio Torres " SERGIPE/CRIMES POLÍTICOS, I", Thesaurus Editora, prefácio de Orlando Dantas. São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 23 ISSN:
  • 24. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS e finalmente diversas contusões nas pernas e excoriamento da face posterior de ambos os calcanhares.13 À vista desses fatos, percebemos o quanto as disputas pelo poder local na cidade levou o medo à população que era vítima dos abusos e de todo o tipo de violência praticado pelos correligionários, do líder político e Malaquias Curvelo. 4 – CONCLUSÃO: Pelo tudo exposto, evidencia-se que as disputas pelo poder local na vila de N. Sra. Das Dores foram acirradas depois da participação do coronel Vicente Porto na Revolta de 1906, com sua “Legião”. E que após a morte dos dois lideres da revolta as disputas na vila se agravaram mais ainda. Malaquias Curvelo, no exercício de suas funções públicas, utilizou seu cargo e outros servidores públicos para empreender perseguições e ataques que transformaram a cidade em um cenário de guerra. Portanto, ficou demonstrado que o assassinato de Emiliano José de Lima foi resultado do acirramento político na Vila de N. Sra. Das Dores, que teve sua origem a partir da caça aos progressistas promovida pelos olimpistas. E também comprova que a Polícia, as autoridades Judiciárias e os gestores públicos foram ineficiente no exercício de suas funções, na tentativa de manutenção da ordem, porque utilizavam seus cargos para defenderem seus interesses pessoais. 5 – BIBLIOGRAFIA: CARVALHO, João Paulo Araújo de. Enforcados: lenda ou “história do índio em Sergipe”? IN: Memórias Dorenses: Informativo Cultural do Projeto Memórias de N. Sra. Das Dores. Ano 5, nº 5, outubro de 2009. CARVALHO, João Paulo Araújo de. O coronelismo na “Terra dos Enforcados”: um estudo a partir de Vicente Ferreira de Figueiredo Porto. IN: Memórias Dorenses: Informativo 13 Correio de Aracaju, ano II, nº 32, p. 2. (21 fev. 1907) São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 24 ISSN:
  • 25. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS Cultural do Projeto Memórias de N. Sra. Das Dores. Ano 3, nº 3, outubro de 2007. CARVALHO, João Paulo Araújo de. Sinhô Porto, a legião dorense e a política na Vila das Dores. IN: Memórias Dorenses: Informativo Cultural do Projeto Memórias de N. Sra. Das Dores. Ano 5, nº 5, outubro de 2009. DANTAS, Ibarê. Coronelismo e dominação. Aracaju: UFS / PROEX / CECAC / Programa Editorial, 1987. DINIZ, Diana M de Faro Leal; Dantas, Beatriz Gois; Santos, Lenalda Andrade; Gonçalves, Maria de Andrade; Almeida, Maria da G Santana de. Textos para a história de Sergipe. Aracaju: UFS/BANESE, 1991 SOUSA, Antônio Lindvaldo. "Homens que tem parte com o Diabo..." : violência, medo e ordem pública no cotidiano dos habitantes das fronterias e do agreste de Itabaiana, SE (1889- 1930). Dissertação (Mestrado em História) - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, UFMG, 1996. SOUZA, Terezinha Oliva de. Impasses do Federalismo Brasileiro (Sergipe e a Revolta de Fausto Cardoso). Ed. Paz e Terra, 1985. TORRES, Acrísio. Cenas da Vida Sergipana, 2 SERGIPE/CRIMES POLÍTICOS, I", Thesaurus Editora, prefácio de Orlando Dantas. A MORTE COMO UM DRAMA SOCIAL: O CASO DE ZULNURA MOTTA RAFAEL SANTA ROSA CERQUEIRA* RESUMO * Mestrando em História pela Universidade Federal de Alagoas – PPGH/UFAL; Bolsista CAPES. São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 25 ISSN:
  • 26. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS Zulnara Motta nasceu em 19 de maio de 1884, falecendo no dia 16 de março de 1897, aos 13 anos de idade. O jornal A Noticia entre os dias 10 de março a 23 de abril publicou informações sobre o estado de saúde, trespasse e as diversas demonstrações de pesar pela morte da filha do coronel Apulchro Motta. Desta forma, o presente artigo abordará a morte de Zulnara como um drama social, emergindo perspectivas de estudo da morte como um espetáculo social, considerando-a uma verdadeira “vitrine social” daqueles que se faziam presentes. PALAVRAS-CHAVE: Morte, Drama, Espetáculo, Zulnara Motta. INTRODUÇÃO Filha do consórcio matrimonial entre Apulchro Motta e Dona Dejanira, nasceu em 19 de maio de 1884, falecendo na cidade de São Cristovão a meia noite do dia 16 de março de 1897, aos 13 anos, “idade em que a mulher québra o casúlo da infancia e irrompe ao sol dourada e tremula”, conforme apontou o jornal A Notícia de 17 de março de 1897. Norteado pela História Cultural, o presente ensaio entende que: [...] a morte, toda morte, é um acontecimento traumático para a comunidade: uma verdadeira crise, que pode ser dominada mediante a adoção de ritos que transformam o acontecimento biológico num processo social, controlando a passagem do cadáver putrescente (objeto instável e ameaçador por excelência) a esqueleto. (GINZBURG, 2001: 88) Portanto, buscando compreender a morte como um drama social capaz de comover um determinado grupo, analisaremos o falecimento de Zulnara Motta, delineando os comportamentos e ritos diante do óbito desta criança, perpassando pelas relações sociais existentes entre familiares e amigos. Para tal empreitada, foi realizada uma busca no periódico A Notícia entre os dias 10 de março a 23 de abril de 1897, um total de 16 publicações coligidas com informações sobre o estado de saúde, trespasse e as demonstrações de pesar através dos telegramas enviados para família de Zulnara. No entanto, ao abordar a morte de Zulnara como um drama social – tema pouco recorrente na produção historiográfica –, emerge uma nova perspectiva de estudo na qual a São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 26 ISSN:
  • 27. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS morte é tratada como um espetáculo social, vista por muitos membros da sociedade aracajuana do final do século XIX como uma verdadeira “vitrine social” (RIBEIRO, 2008: 194). A MORTE DE ZULNURA MOTTA Aracaju no final de século XIX não gozava de uma infraestrutura que beneficiasse a saúde de sua população, segundo o historiador Ibarê Dantas “suas ruas não dispunham de calçamento, nem de energia elétrica e as residências não contavam com água encanada ou esgoto” (2004: 18). Outro fator prejudicial à saúde de seus habitantes era a presença constante de febres decorrentes da grande presença de mangues e pântanos existentes na cidade que “tornavam mais arriscada a vida de seus habitantes, mesmo porque os próprios recursos da medicina de então eram bastante precários” (DANTAS, 2004: 19). Nesse ínterim, com a enfermidade agravada, os pais de Zulnara, orientados por um médico resolvem transferir sua filha para cidade de São Cristovão. No entanto, o periódico A Noticia de 10 de março de 1897 traz em suas páginas a informação de um telegrama enviado de São Cristovão expondo as condições da filha do “presadissimo collega e amigo Apulchro Motta”, comunicando “que infelizmente agrravam-se os padecimentos da graciosa Zulnara”. Porém, dois dias depois o mesmo impresso traz uma nota informando que: Zulnara Motta, a filha do nosso estremecido amigo Apulchro Motta, secretário do governo e chefe político desta cidade, sabemol-o por telegramma, está melhor. Bem haja o clima bemfazejo de S. Cristovão que restitue a essa convalescente querida a saude e a felicidade de seus exiremosissimos paes!14 A informação contagiante que estampava a página do periódico A Noticia sobre a melhora do estado de saúde de Zulnara durou apenas 4 dias, padecendo na madrugada do dia 16 de março. Coube ao referido órgão, no dia 17 – pela parte da tarde quando começava a circular pela capital –, tornar público a morte da filha de Apulchro Mota, divulgando que “o enterro effectuar-se-há no momento em que este jornal estiver a sahir. Sahirá o prestito da casa do coronel Apulchro Motta, na rua de Pacatuba até o cemitério desta cidade.”15 14 Jornal A Noticia de 12 de março de 1897. 15 Jornal A Noticia de 17 de março de 1897. São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 27 ISSN:
  • 28. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS A MORTE COMO UM DRAMA SOCIAL Outrora, a morte era considerada um drama familiar que se estendia para os amigos mais próximos. Eram eles os responsáveis por velar e sepultar o corpo, garantindo ao morto um trespasse acompanhado por aqueles que estavam presentes – na sua grande maioria – em sua vida. Entretanto, esta perspectiva da morte como um “drama familiar” foi alterada, e em Sergipe no final do século XIX, tomando Zulnara Motta como objeto de estudo, nota-se que o fim da vida se transforma em um “drama social” capaz de arregimentar diversas pessoas em cidades e estados diferentes. Verdadeiros “acontecimentos sociais”, os enterros eram “manifestações emocionantes da vida social” (RODRIGUES, 1997:12), dignos de ocuparem as páginas dos jornais. Neste panorama, a morte de Zulnara foi digna de nota, sendo minuciosamente detalhada pelo jornal A Noticia. Segundo o referido impresso: O feretro sahio da casa do nosso desolado amigo coronel Apulchro Motta, pae da morta, acompanhado por todos os seus amigos e pelos que lhe são ligados por sympathia e dedicação. O feretro, de accordo com os symbolos usados pelos povos latinos, ia revistido de azul, um doce azul que lembrava bem um canto tranquilo do céo.16 Nesse ínterim, o prestígio do coronel Apulchro Motta foi determinante para que o funeral de sua filha fosse bastante concorrido, nele estavam presentes o Presidente do Estado, chefe de polícia, diretor do Diario Official, inspetor do tesouro, chefe da recebedoria, empregados da secretária do governo, representes dos jornais, entre outras pessoas dos órgãos governamentais de Sergipe naquele período. Por conseguinte, o funeral de Zulnara Motta serviu para mostrar a teatralização da morte, na qual são entrelaçadas as relações sociais de amizade e poder neste momento de dor. Então, como expressar a morte? Através de poesias, alguns amigos buscaram expressar o sentimento de pesar pela morte da filha do coronel. O amigo Alvares de Faria, em seus últimos versos disse: 16 Ibid. São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 28 ISSN:
  • 29. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS Dizem que sete palmos desta terra, urna bastante que teu corpo encerra, guardarão tua forma eternamente! E emtanto, ó flor que a morte decepára, nem toda a terra conterá, Zulnara, a magua que teu pae ferido sente!17 Em uma coroa de flores enviada por Ananias, Eudoxia e Dolores, seguia outra dedicatória em verso: Em suave e branda aragem Com simples e com ternura, Fizeste tu a passagem Do teu berço á sepultura. Passaste voando breve como um riso de esperança. A terra te seja leve! Dorme teu somno, creança!18 Além das poesias, as condolências referentes à morte de Zulnara foram realizadas através de coroas mortuárias, num quantitativo de 18 arroladas pelo jornal A Noticia de 18 de março de 1897. Outra forma de prestar pêsames daqueles que não podiam se fazer presente no funeral, eram através dos telegramas enviados de diversas localidades do país, totalizando 26 cidades. O grande número de telegramas, que estamparam as páginas do referido periódico entre os dias 18 de março a 13 de abril de 1897 atestam o prestígio social do pai de Zulnara. Chama-nos a atenção que no drama da morte de uma filha, cerca de aproximadamente 95% dos telegramas foram endereçados ao pai, cabendo à mãe um percentual ínfimo, indicando o papel secundário da mulher na sociedade sergipana do final do século XIX. Portanto, os telegramas impressos nos jornais serviam para suprir “o desejo de ter toda exibição possível” (RIBEIRO, 2008: 190), teatralizando a morte em um drama social que comove não somente os familiares e amigos, mas as diversas esferas da sociedade aracajuana que vão prestigiar o morto, ao tempo de se fazerem vistos neste acontecimento social capaz de 17 Ibid 18 Jornal A Noticia de 18 de março de 1897. São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 29 ISSN:
  • 30. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS coadunar ricos e pobres, homens e mulheres, adultos e crianças, afinal “a morte era um espetáculo público do qual ninguém pensaria em esquivar-se e no qual acontecia o que se buscava” (ARIÈS, 2012: 89). CONCLUSÃO Teceremos algumas considerações finais, pois, a trajetória da pesquisa ainda tem um longo percurso a ser percorrido. No entanto, o estudo da morte como um drama social capaz de coadunar diferentes estratos da sociedade aracajuana no final do século XIX em torno do óbito de Zulnara Motta, abre novas perspectivas no âmbito da História Cultural. Haja vista as palavras de Chartier: [...] pode pensar-se uma história cultural do social que tome por objecto a compreensão das formas e dos motivos – ou, por outras palavras, das representações do mundo social – que, à revelia dos actores sociais, traduzem as suas posições e interesses objectivamente confrontados e que paralelamente, descrevem a sociedade tal como pensam que ela é, ou como gostariam que fosse. (CHARTIER, 2002:19) Portanto, o estudo da morte como um drama social, tomando o caso de Zulnura Motta, ilustra como determinadas mortes eram recebidas pela sociedade aracajuana da primeira república. Outrem, os jornais, por meio de suas notas necrológicas davam publicidade à morte dos cidadãos aracajuanos, convidando toda sociedade para comparecerem as cerimônias em torno da morte, tornando-a uma vitrine social. Afinal, “a morte ideal não devia ser uma morte solitária, privada. Ela se encontrava mais integrada ao cotidiano extradoméstico da vida, desenhando uma fronteira tênue entre o privado e o público.” (REIS, 1997: 104) Não obstante, as relações políticas e econômicas ficavam evidentes, os laços de amizade eram reafirmados, os cortejos eram pomposos e vultosos, inúmeros telegramas eram enviados de toda parte do país para os familiares. Assim, se criava uma teatralização deste processo repleto de personagens que escrevem poesias em homenagem à morta, que choram, que se comovem e que desejam ser vistos neste acontecimento social aberto ao público. Enfim, estes “personagens do drama fúnebre se distribuíam através do espaço e o papel que representavam a partir de seus lugares – daí a importância de se atentar para o lado cênico São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 30 ISSN:
  • 31. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS daqueles funerais. Havia uma integração do teatro da vida e do teatro da morte [...]” (REIS, 1997:141). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARIÈS, Philippe. História da Morte no Ocidente: da Idade Média aos nossos dias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012. ______. O homem perante a morte. Portugal: Publicações Europa-América, 2012. ABREU, Maurício de A. O Rio de Janeiro do século XIX: da cidade colonial à cidade capitalista. In: A evolução urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IPLANRIO/ZAHAR, 1987. BARRETO, Lima. Contos completos. Organização e introdução: Lilia Moritz Schwarcz. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. CHARTIER, Roger. História Cultural: entre práticas e representações. Tradução de Maria Manuela Galhardo. Aglés – Portugal: Difel, 2002. DANTAS, Ibarê. História de Sergipe: República (1889-2000). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2004. DELUMEAU, Jean. História do Medo no Ocidente 1300-1800: uma cidade sitiada. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. LIMA, Tânia Andrade. De Morcegos e caveiras a cruzes e livros: a representação da morte nos cemitérios cariocas do século XIX (estudo de identidade e mobilidades sociais) In: Anais do Museu Paulista. São Paulo. N. Ser. v.2 p.87-150 jan/dez. 1994. ______. Humores e odores: ordem corporal e ordem social no Rio de Janeiro, século XIX In: Hist. Cienc. Saúde – Manguinhos, v. 3, nº 3, Rio de Janeiro, nov/feb. 1996. p. 44-96. NUNES, Maria Thétis. Sergipe Provincial II (1840/1889). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2006. REIS, João José. A morte é uma festa: ritos fúnebres e revolta popular no Brasil do século XIX. São Paulo: Companhia das Letras, 1991. REIS, João José. O Cotidiano da morte no Brasil oitocentista. In: História da vida privada no Brasil: Império, p. 96-141. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. REZENDE, Eduardo Coelho Morgado. Cemitérios. São Paulo: Editora Necrópolis, 2007. São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 31 ISSN:
  • 32. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS REZENDE, Eduardo Coelho Morgado. O céu aberto na terra; uma leitura dos cemitérios de São Paulo na geografia urbana. São Paulo: E.C.M.Rezende, 2006. RIBEIRO, Marily Simões. Arqueologia das práticas mortuárias: uma abordagem historiográfica. São Paulo: Alameda, 2007. RIBEIRO, André Luiz Rosa. Urbanização, poder e práticas relativas á morte no sul da Bahia, 1880-1950. Salvador: FFCH / UFBA, 2008. 281f RODRIGUES, Cláudia. Lugares dos mortos na cidade dos vivos: tradições e transformações fúnebres no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, Departamento Geral de Documentação e Informação Cultural, Divisão de Editoração, 1997. PESAVENTO, Sandra Jatahy. História e História cultural. Belo Horizonte: Autêntica, 2008. SAMARA, Eni de Mesquita. História e Documento e Metodologia de Pesquisa. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. SILVA, Érika Amorim da. O Cotidiano da morte e a secularização dos cemitérios em Belém na segunda metade do século XIX (1850/1891). São Paulo: PUC/SP, 2005. 234f. ANÁLISE BIOARQUEOLÓGICA REALIZADA EM SEPULTURA DE NÃO ADULTO DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO SÃO JOSÉ II Madson de Souza Fontes19 Olívia Alexandre de Carvalho20 RESUMO Neste trabalho serão apresentados resultados da análise de uma sepultura de criança do sítio São José II, como estudo de caso. Métodos antropológicos foram aplicados para descrever e interpretar os eventos fúnebres que ocorreram antes, durante e depois do sepultamento. Com base na descrição e interpretação do posicionamento do indivíduo dentro da sepultura e seu grupo etário foi possível sustentar a hipótese inicial deste trabalha e fomentar que estudos 19 Graduado em Arqueologia Bacharelado pela Universidade Federal de Sergipe. 20 Doutora em Bioantropologia pela Universidade de Genebra, professora adjunta do curso de graduação em Arqueologia Bacharelado da UFS. São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 32 ISSN:
  • 33. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS sejam realizados embasados na ideia de que o contexto funerário pré-histórico é portador de identidades que estão representadas na materialidade das estruturas funerárias, seja por meio de objetos e formas comuns, seja do próprio indivíduo. Palavras-chave: Bioarqueologia – Sítio Arqueológico São José II – Práticas Mortuárias – Bioantropologia. INTRODUÇÃO A Arqueologia, enquanto associada ao pensamento antropológico, tem-se debruçado sobretudo nas últimas décadas à reconstituição das sociedades pretéritas, enfatizando os aspectos da estrutura e organização social, subsistência e estilo de vida (BINFORD & BINFORD, 1968:17; LEROI-GOURHAN & BREZILLON, 1972:25; JOCHIM, 1976:48, CLARKE, 1977:27; YELLEN 1977: 29; NEVES, 1980:9). A Antropologia Biológica pré-histórica, por sua vez, só recentemente começou a contribuir de forma sistêmica para a recuperação de padrões de comportamento nas sociedades humanas. Tradicionalmente a Antropologia Biológica ateve-se à tipologia e classificação do aspecto físico do homem (NEVES, 1984:13). A utilização das técnicas analíticas das ciências naturais tem fornecido à Arqueologia um arcabouço relevante para uma interpretação contextual cada vez mais consistente estruturalmente fundamentada. A análise dos caracteres bióticos e abióticos constitui a base elementar de uma ramificação da Arqueologia, denominada Bioarqueologia. Em algumas pesquisas realizadas em sítios arqueológicos pré-históricos no Nordeste brasileiro é possível perceber a presença de sepultamentos humanos. E, mesmo diante da quantidade de enterramentos humanos em diversos sítios arqueológicos, pouco tem-se olhado para a prática mortuária infantil e adolescente dentro dos mesmos. Sendo assim, este estudo vem a contribuir com os estudos existentes e resultados publicados sobre o assunto. Esta investigação tem como principal objetivo analisar de forma comparativa se há ou não diferenciação da prática funerária em inumações infantis e adolescentes em relação aos São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 33 ISSN:
  • 34. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS demais enterramentos no sítio São José II e pontuar elementos identitários para cada grupo etário através do contexto funerário, propondo uma discussão inicial sobre o tema. Assim sendo, a hipótese desta pesquisa é que há aspectos diferenciados referentes à prática fúnebre e ao fator idade nos enterramentos do sítio em estudo. Por empecilhos enfrentados em relação ao tempo, a metodologia aplicada pela equipe do PAX (Projeto de Arqueologia de Xingó) aos remanescentes humanos fora a retirada em blocos e encapsulamento em envoltórios de gesso, preservando a forma original a qual o indivíduo fora depositado na sepultura, permitindo posteriormente uma análise cautelosa e limitada em laboratório. A forma de deposição do indivíduo na sepultura, o enxoval funerário que o circunda e a ausência de qualquer acompanhamento fúnebre contribuem diretamente para a construção de um padrão de enterramento e reconstituição de parte das atividades realizadas sobre o cadáver dentro do grupo etário a que pertence. MATERIAL DE METODOLOGIA O material ósseo humano, que foi analisado é proveniente do sítio pré-histórico São José II, localizado no município de Delmiro Gouveia, Estado de Alagoas, salvo durante o trabalho de salvamento arqueológico, coordenado pela arqueóloga Cleonice Vergne, e realizado pelo Projeto de Arqueologia de Xingó (PAX), entre 1993 e 1994, na área de edificação da Usina Hidrelétrica de Xingó. Hoje, devido à barragem, o sítio encontra-se totalmente submerso pelas águas do rio São Francisco. O sepultamento 23 foi encaminhado ao Laboratório de Bioarqueologia, do Núcleo de Arqueologia - UFS, campus de Laranjeiras, onde todas as análises foram realizadas, e é parte do projeto “Paleoantropologia dos Remanescentes Humanos no Acervo do Museu de Arqueologia de Xingó (MAX/UFS): Consolidação do Laboratório de Bioantropologia do Núcleo de Arqueologia (NAR), Campus de Laranjeiras/UFS”, coordenado pela professora Olívia Alexandre de Carvalho, financiado pelo CNPq. A coleta razoável de carvão proveniente de fogueiras encontradas no sítio permitiu a obtenção da datação absoluta por meio do método radiocarbono: 3500±110 BP (BETA-86739) São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 34 ISSN:
  • 35. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS corresponde ao enterramento 06, encontrado a 3,75m de profundidade, e 4140±90 BP (BETA- 86740) dada aos 3,95m de profundidade. Esta proveniente de carvão encontrado em restos de fogueira (CARVALHO, 2007:51). Por se tratar de um trabalho de salvamento arqueológico, a metodologia aplicada pela equipe do PAX aos remanescentes humanos fora a retirada em blocos e encapsulamento em envoltórios de gesso, preservando a posição original do indivíduo dentro da estrutura funerária a ele destinada, e possibilitando que estudos sejam realizados posteriormente de forma cautelosa e limitada. Deste modo, a aplicação de métodos arqueotanatológicos desta pesquisa deu-se por etapas tendo como dorso as metodologias apresentadas por Duday (2006:32) e Duarte (2003:45), estas serão aqui expostas separadamente, obedecendo cada fase e abordando, quando necessário, as adaptações indispensáveis a este trabalho. • Levantamento bibliográfico: com o objetivo de buscar tanto informações referentes ao contexto arqueológico, onde o sítio está inserido, como trabalhos já realizados com ênfase em práticas funerárias relacionadas a não adultos no período pré-histórico. • Identificação da sepultura: coletar dados gerais do sepultamento, antes que os trabalhos de exumação sejam iniciados. Para tal faz-se necessário registrar tanto por meio de desenho, quanto fotograficamente o sepultamento; identificar o contexto e atribuir uma numeração identificativa para cada indivíduo da sepultura e descrever todo o sepultamento em seu estado atual. • Evidenciação dos vestígios arqueológicos: é necessário que as características da superfície e demais evidências sejam devidamente documentadas gráfica e fotograficamente. Havendo um mapeamento e a coleta dos mesmos. Logo é delimitado um limite para esta sepultura e somente assim, dar-se-á início a remoção do sedimento fazendo uso de pincéis, a este procedimento dar-se o nome decapagem. • Análise do sepultamento: esta nos permite compreender a lógica do processo deposicional dos restos humanos no local antes de qualquer desarticulação; as alterações causadas por fatores externos sejam eles antrópicos ou ambientais e verificar a existência de enxoval fúnebre associado ao sepultamento. São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 35 ISSN:
  • 36. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS • Exumação do esqueleto: efetuar o levantamento antropológico individualizado de todas as peças osteológicas, atribuindo-lhes um número de ordem, descrevendo-as conforme posição, conservação, patologias e determinação da idade, além de referenciar todas as peças ósseas e os materiais a elas associadas. • Acondicionamento do material: envolver o material individualmente em plástico do tipo bolha ou papel alumínio e alocar em embalagens devidamente etiquetadas e posteriormente agrupar em sacolas maiores conforme partes anatômicas, sendo necessária também a identificação. Acondicionar o material em caixas plásticas perfuradas e fechadas. Na parte externa de cada caixa será afixado um inventário contento cada peça ali acomodada. Não havendo variabilidade sedimentológica, a decapagem deu-se em duas etapas: a remoção das peças ósseas, a priori evidenciadas superficialmente e a exumação dos ossos não evidenciados em trabalhos anteriores. Os critérios escolhidos para estimativa da idade à morte, tratando-se de indivíduo não adulto, fora o grau de desenvolvimento dentário proposto por Ubelaker (1989:81), que consiste na observação macroscópica dos dentes irrompidos e a sequência eruptiva dos mesmos. Este processo é extremamente relevante na determinação da idade dos indivíduos não adultos (SCHEUER E BLACK, 2000:78), pois está em processo de maturação biológica. Às evidências ante-mortem buscou-se observar tanto macro como microscopicamente a existência ou não de paleopatologias na amostra, sejam elas ósseas ou dentárias. Havendo nas peças osteológicas qualquer indício de caso patológico seriam comparados com os casos apresentados por Aufderheide e Martín (1998:198). Já as marcas post-mortem foram observadas com o auxílio de lupa e microscópio eletrônico, e em seguida classificadas como resultado da prática funerária (posição do indivíduo na sepultura, acompanhamento mortuário, localização do sepultamento no espaço destinado às inumações) e tafonomia. Para o acondicionamento do material foram adquiridas caixas arquivos plásticas para o acondicionamento de todo o material analisado. Porém antes de serem acondicionadas algumas peças foram restauradas com cola Paraloide B-72 diluída em solução aquosa de Peróxido de Hidrogênio (H2O2), e acomodadas em sacos plásticos etiquetados e lacrados para São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 36 ISSN:
  • 37. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS melhor preservação do acervo. Em cada caixa fora afixada na parte externa uma lista onde consta o nome de cada fragmento ali acondicionado. RESULTADOS E DISCUSSÕES A documentação, tanto fotográfica quanto do desenho em escala gráfica do sepultamento, nos forneceu informações sobre a distribuição dos remanescentes humanos sobre a sepultura. Estas informações são primordiais para a reconstituição da prática após a exumação, pois uma vez retirado o vestígio do seu contexto sem qualquer documentação quanto a sua localização dentro da sepultura, torna-se inviável qualquer reconstituição fidedigna do seu posicionamento original dentro do ambiente funerário no qual estava inserido. Na camada A: que consiste na superfície inicial do sepultamento. Nesta foram observados fragmentos de costelas sobre um úmero fragmentado em suas epífises. Paralelo ao úmero estava um osso logo inicialmente não identificado. Por toda a superfície do sepultamento pôde ser notada a presença de fragmentos de costelas e ossos não identificados. Ainda foram registrados ossos do crânio que também não possível de identificação. Na camada B: de 0 cm a 5 cm de profundidade foram alguns fragmentos de costelas foram depositados aleatoriamente sobre a face posterior da epífise distal da ulna esquerda, também fragmentada. Foram também visualizados fragmentos dos parietais com sua face endocraniana voltada para cima. Próximos aos fragmentos dos parietais encontravam-se três metacarpos não identificados e fragmentos da pelve. Na camada C: de 5 cm a 10 cm foram evidenciados completamente um rádio esquerdo e um rádio esquerdo, ambos com a face anterior voltada pra cima e colocados um paralelo ao outro. Ainda foram observados partes dos ossos parietais e temporal direito ainda articulados entre si. Uma tíbia esquerda fragmentada, com sua face medial voltada para o solo encontrava-se próxima aos ossos cranianos evidenciados. Alguns fragmentos pélvicos sobre fragmentos sacrais também foram observados próximos à tíbia. Por toda a camada havia a presença de fragmentos de costelas. São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 37 ISSN:
  • 38. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS Na camada D: de 10 cm a 15 cm de profundidade foram visualizados conjuntos de ossos não identificados próximos aos ossos longos evidenciados na camada C e conjuntos de ossos contendo falanges, um semilunar, alguns metacarpos e fragmentos de costelas. O crânio bastante comprometido e fraturas post mortem na região dos parietais. Sobre o posicionamento do crânio, este manteve-se com o osso frontal voltado para o solo, possibilitando a visualização das fraturas nos parietais. Toda a parte endocraniana manteve-se preenchida com sedimento, ocasionado pelas fraturas presentes no próprio crânio. Na camada E: 15 cm a 20 cm de profundidade foram visualizados os primeiros fragmentos de ossos longos de um segundo indivíduo, porém as peças não puderam ser identificadas anatomicamente. Ainda foram evidenciados sobrepostos a um conjunto de ossos, contendo fragmentos de costelas e fragmentos de vértebras, que também não puderam ser identificadas quanto a sua posição anatômica. Próximos ao conjunto de fragmentos de vértebras e cotelas estavam fragmentos da pelve, dois úmeros intactos, de lateralizações distintas, em posições paralelas e ambos com a face posterior voltado para cima. Os dois úmeros pertencem ao mesmo indivíduo, que aparentemente trata-se de um adolescente. Na camada F: de 20 cm a 25 cm de profundidade foram visualizados dois fêmures fragmentados, posicionados paralelamente, ambos com a face anterior voltada para o solo. Também pôde ser observada uma concentração de fragmentos de um segundo crânio, sem nenhuma conexão anatômica. Uma fíbula esquerda, com a face anterior voltada para baixo, um conjunto de ossos não identificados ao lado da fíbula esquerda, fragmentos de ossos de criança distribuídos aleatoriamente e fragmentos de vértebras e costelas por toda a superfície da camada F. Na camada G: 25 cm a 30 cm de profundidade foram evidenciados fragmentos de ossos não identificados, falanges, metatarsos e fragmentos de costela. Após a exumação destes últimos vestígios, nada mais foi observado. Após o trabalho de exumação, cada peça pôde ser analisada em laboratório. Os indivíduos foram identificados com a numeração 17.1 e 17.2, seguindo a ordem de visualização nas etapas da decapagem e a identificação dos indivíduos por peças ósseas. São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 38 ISSN:
  • 39. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS Quanto ao fator etário, pôde-se fazer inferência apenas na idade do indivíduo 17.1. Por apresentar ossos possíveis de análise e mensuração. Tais observações resultaram em um indivíduo com idade entre 15 a 16 anos. Já no caso do indivíduo 17.2, não houve a possibilidade de realizar a diagnose etária, por apresentar um alto grau de fragmentação do material osteológico, porém em uma visão macroscópica fora possível enquadrá-lo no grupo dos indivíduos não adultos. O crânio estava extremamente comprometido, tornando-se inviável a verificação do processo de sinostose exocraniana. Já os ossos longos apresentaram-se fragmentados impossibilitando que as mensurações fossem realizadas. Também não foram identificadas quaisquer anormalidades de caráter patológico, degenerativo ou traumático nos esqueletos. E a ausência da mandíbula, do maxila e dos dentes impossibilitou a diagnose patológica bocal em ambos os casos. A análise das atribuições post mortem resultou na identificação de fraturas, fissuras e leves esfoliações na região periostal, em decorrência da umidade, do Ph do solo e de bioturbações de insetos e raízes de plantas. Algumas manchas escuras, presentes em alguns ossos, foram identificadas tanto de procedência fúngica, quanto de procedência corrosiva, devido a acidez do solo CONCLUSÃO Assim como existem formas diversas de expressões humanas de viver, há distintas maneiras de manifestar também a visão sobre a morte e tudo que a envolve. Sendo a amostra analisada quantitativamente insuficiente para qualquer afirmativa referente à visão cultural da morte presente no sítio São José II, teceremos apenas alguns comentários sobre o sepultamento 17. Levando em consideração os resultados da análise quanto: a estimativa etária; a posição do indivíduo dentro da sepultura; a ausência de patologias ósseas e dentárias; e a inexistência de qualquer objeto que viesse a caracterizar a cultura material associada ao sepultamento 17, a hipótese inicial de que a distinção da prática mortuária estar ligada ao grupo etário se sustenta quando comparamos estes mesmos resultados com estudos mais específicos relacionados aos demais enterramentos adultos do mesmo sítio. São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 39 ISSN:
  • 40. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS Por conseguinte, este trabalho vem a fomentar que estudos sejam realizados embasados na ideia de que o contexto funerário pré-histórico é portador de identidades que estão representadas na materialidade das estruturas funerárias, seja por meio de objetos e formas comuns, seja do próprio indivíduo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AUFDERHEIDE A. C, RODRIGUEZ MARTIN C. The Cambridge Encyclopedia of Human Paleopathology. Cambridge University Press. 1998. BINFORD, L. R. Mortuary Practices Their Study and Their Potential. In. BROWN, J. A (ed) Approaches to ten Social Dimensions of Mortuary Practices. Memoir of the Society for American Archaeology 25: 6-29, 1971. BINFORD, S. R.; BINFORD, L. R. New Perspectives in Archeology. Aldine Press, Chicago, 1968. CARVALHO, O. A. Biosnthropologie dês necrópoles de Justino et de São José II, Xingó, Brésil. Canindé do São Francisco: Museu de Arqueologia de Xingó, 2007. CLARKE, D. Spatial Archeology. Academic Press, London, 1977. DUARTE, C. Bioantropologia. In: MATEUS, J. E.; GARCIA, M. M. (Orgs.). Paleoecologia Humana e Arqueociência: um programa multidisciplinar para a arqueologia sob a tutela da cultura. Lisboa: Instituto Português de Arqueologia, p. 262-296, 2003. DUDAY, H. L’archéothanatologie ou l’archéologie de La mort. In: DUTOUR, O.; HUBLIN, J. J.; VANDERMEERSCH, B. (eds.), Objets et Méthodes en Paléoanthropologie. Paris: Comité Travaux Historiques et Scientifiques, p. 153-214, 2006. JOCHIM, M. A. Hunter-Gatherer subsistence and settlement: pre dictive model. Academic Press, New York, 1976. NEVE, W. A. Análise dos Moluscos do Sambaqui do Buracão. Ciência e Cultura, 32, 1980. São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 40 ISSN:
  • 41. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS NEVES, W. A. Incidência e distribuição das osteoartrites em grupos coletores do litoral do Paraná: uma abordagem osteobiográfica. Clio (Série Arqueológica), 6:47-62. 1984. SCHEUER, L.; BLACK, S. Developmental Juvenile Osteology. New York: Academic Press, 2000. UBELAKER, D. H. Human skeleton remains, excavation, analysis and interpretation. 2 ed. Washington D. C.: Taraxacum Press, 1989. YELLEN, J. Archeological Approaches to the Present. Academic Press, London, 1977. FUTEBOL, CINEMA E POLÍTICA: A DITADURA URUGUAIA E O MUNDIALITO EM 1980 ADSON DO ESPÍRITO SANTO* RESUMO Em diversos momentos da história podemos perceber que o futebol teve seu prestígio e popularidade, apropriados por diversos governos, com o intuito de que este esporte atuasse como embaixador de suas ideologias. Porém o futebol possui o fator imprevisibilidade, dentro e fora dos campos, fazendo com que isto nem sempre ocorra da maneira esperada. Neste trabalho iremos discutir como a ditadura uruguaia tentou utilizar-se do poder aglutinador de massas e da popularidade do futebol, para seduzir a população a seu favor, através do Mundialito realizado no país em 1980 com o aval da FIFA. Nosso estudo partirá da análise da película Mundialito (Sebastian Bednarik, Uruguai, 2010), tendo como arcabouço teórico para análise do objeto de estudo em questão os conceitos sobre cinema de Marc Ferro, e os conceitos sociológicos acerca do futebol de Eric Dunning e Nobert Elias. PALAVRAS-CHAVES: Cinema – Futebol – Política - Uruguai São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 41 ISSN:
  • 42. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS Introdução Como um elefante branco na sua sala de estar. O futebol atualmente é um esporte que não passa despercebido por nenhum de nós, até mesmo aqueles que não gostam do esporte, tem contato com o mesmo constantemente no seu dia-a-dia, seja através de comerciais televisivos, outdoors, noticiários em telejornais ou até mesmo em seu almoço, ao passo que os programas esportivos predominam nas principais emissoras de televisão aberta brasileira, neste horário. Em outubro de 2005, tivemos a oportunidade de ver a força que este esporte possui. A Costa do Marfim venceu o Sudão por 3 a 1 e garantiu a classificação para a primeira Copa do Mundo da história do país. Logo após o jogo, Drogba, junto com seus companheiros, se ajoelhou no vestiário e implorou, ao vivo na televisão nacional, que a guerra civil na Costa do Marfim tivesse um fim. Uma semana depois, uma trégua foi anunciada. (Schmidt, 2013) Apesar de possuir tal força na sociedade atual, o futebol não é um objeto de estudo frequentemente visitado pelos pesquisadores. Ao contrário, por muito tempo este esporte foi marginalizado pelos cientistas sociais, com a exceção do hoolinganismo, que parece ter conseguido atrair a atenção dos sociólogos. Podemos perceber que até 1980, os escritos acerca do futebol eram predominantemente realizados por profissionais da Educação Física. Assim os estudos sociológicos sobre o futebol ainda possuem vários pontos a serem aclarados. Atualmente destacam-se nos estudos sociológicos acerca do futebol a França e a Inglaterra, que deram inicio a estas pesquisas há mais de 30 anos. Vê-se assim uma necessidade de estudar a sociologia do futebol tanto no Uruguai como em toda a América Latina, pois através deste é possível enxergar com um novo olhar as estruturas sociais e políticas regionais. Neste artigo discutiremos como o futebol foi explorado politicamente pelo governo civil-militar do Uruguai no Mundialito (Copa del oro) em 1980, realizado no país, com o apoio da FIFA (Federation International Football Association), no intuito de comemorar os 50 anos da realização da primeira copado mundo. Recentemente este tema foi explorado através da película Mundialito (Sebatian Benadrik, 2010), que buscou uma série de depoimentos dos “atores” da época, de direita ou de esquerda, trazendo à tona um ponto da história do futebol Uruguaio, que diferentemente das outras conquistas futebolísticas não é comemorada. São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 42 ISSN:
  • 43. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS Para analisar um objeto de pesquisa tão amplo como o futebol, é necessário flutuar pelo diversos campos das ciências humanas, diante da explicação simplória que obteríamos, caso nos retesemos apenas ao campo da história. Essa preocupação é quase um consenso, por exemplo, o historiador Hillario Franco Junior, em sua obra A dança dos Deuses, define o futebol como um objeto cultural total, e em sua análise percorre pelo campo da antropologia, sociologia, psicologia por exemplo. Diante desta necessidade em articular os diversos campos das ciências, para termos uma maior dimensão do futebol, os escritos sociológicos de Nobert Elias e Eric Dunning são fundamentais para se entender a relação futebol, poder e sociedade. Origens e Popularização do futebol Para entendermos a popularização desse esporte é necessário remontarmos a meados do século XIX na Inglaterra Industrial. Pouco tempo após seu nascimento, o futebol já desfrutava de uma grande popularidade, principalmente entre as camadas populares, pois, diferentemente dos esportes praticados pelas classes mais altas da sociedade, como o Pólo, e o remo, por exemplo, que necessitavam de certa estrutura e um maior investimento, bastava apenas uma bola para que ocorresse uma partida de futebol. No que tange a sua difusão mundo afora, o futebol pegou uma “carona” no capitalismo, sendo a Inglaterra a principal potência capitalista da época, a exportação do futebol para suas colônias se deu através dos marinheiros, trabalhadores e militares que foram cuidar dos negócios imperiais da rainha. Além do mais o futebol foi utilizado como um laboratório de preparação física e mental para os ingleses, assim como afirma Gilberto Agostinho citando Elias: Tratava-se da possibilidade concreta de competir e buscar através do esporte não só a tão almejada honra como também a sensação de lidar com um objetivo que conduzia ao aperfeiçoamento. Neste sentido, a experiência vivenciada pelo esportista era capaz de torna-lo apto a liberar, no momento oportuno, as descargas de violência contida por uma sociedade tão rigidamente marcada pelo controle das pulsões. (In. AGOSTINHO, 2002: 20). Por muito tempo acreditou-se que os desportos eram uma prática complementar a vida do operário, um meio encontrado por estes de fugir do sedentarismo imposto pelo seu trabalho, ou como muitos pensavam, o lazer de uma maneira em geral, seria a merecida compensação para os sacrifícios que o dia-a-dia do trabalho exigia. Porém a analise de Elias e São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 43 ISSN:
  • 44. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS Dunning mudaram a concepção que se havia para com os esportes. Seguindo ainda a linha de pensamento destes autores, o futebol representa um confronto mimético, e a excitação de sua prática estaria relacionada ao processo de civilização da sociedade. O domínio da conduta e da sensibilidade tornou-se mais rigoroso, mais diferenciado e abrangendo tudo, mas, também, mais regular, mais moderado e banindo quer excessos de autopunição quer de auto complacência. A mudança encontrou a sua expressão num termo novo, lançado por Erasmo de Roterdã e utilizado em muitos outros países como símbolo de um novo refinamento das maneiras, o termo «civilidade», que mais tarde deu origem ao verbo «civilizar» (ELIAS E DUNNING, 1995:41). . Com esse novo direcionamento da sociedade ao controle da violência, onde cada vez mais os problemas sociais deixavam de ser resolvidos por meio da violência, e os indivíduos deveriam controlar suas pulsões e emoções ao máximo, seja no trabalho, ou no convívio social, para que a sociedade pudesse funcionar segundo suas novas diretrizes, os praticantes dos desportos, no geral, liberavam suas pulsões e emoções, por meio da violência controlada que os desportos possibilitavam. Atualmente ainda é possível perceber a grande influência inglesa na difusão do esporte pelo mundo, através dos nomes que os times possuíam na época e que por ventura ainda os detêm, como o Corinthians no Brasil, claramente influenciado pelo clube inglês, os New Ollds Boy’s na Argentina, Argentinos Juniors. No princípio as escalações eram predominadas pelos ingleses (marinheiros ou metalúrgicos), assim como o vocabulário do esporte era dominado por palavras inglesas (back, teams, corner,etc), aos poucos houve uma incorporação do futebol a cultura popular e essas palavras foram, aos poucos, sendo substituídas. Após a regulamentação, que deu status ao futebol, ele deixou de ser uma prática tornando-se um esporte e sua difusão foi crescente. Em muitos casos o futebol foi apenas incorporado aos clubes que já existiam, como no Brasil e Argentina por exemplo. Logo os jornais começaram a dar cada vez mais destaque ao futebol, posteriormente foi a vez do rádio, que passou a transmitir partidas de futebol internacionais, tornando o futebol um dos assuntos mais comentado nas conversas masculinas ao lado do sexo. A popularidade do futebol na Inglaterra certamente está associada às conquistas dos direitos trabalhistas do operariado inglês. Com as folgas aos sábados a partir do meio dia, e a consequente ampliação dos horários de lazer, marcaram fortemente os horizontes e perspectivas esportivas na Inglaterra. Este reflexo é comprovado nas arquibancadas: São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 44 ISSN:
  • 45. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS Boa demonstração desta realidade pode ser constatada a partir do perfil do público nos estádios, que deixou de ser formado pelas classes médias já no final do século XIX. Na finalíssima da FA CUP de 1887, 27.000 pessoas marcaram presença no crystall pallace. Menos de vinte anos depois em 1902, a final da mesma competição contava com um público de cerca de 110.000 espectadores, formados por operários em sua maior parte. (AGOSTINHO, 2002:23). Aos poucos os clubes europeus sentiram a necessidade de uma organização como a Association Football (FA) da Inglaterra, para organizar suas ligas e regras, assim formaram a Federation International Football Association, que logo se tornara o maior expoente do esporte no mundo, em uma frase épica de um dos seus maiores presidentes, o francês Julles Rimet (1921 – 1954), demonstra o tamanho da importância e abrangência da instituição que ele estava à frente representava “A FIFA é um império onde o sol nunca se põe”. A Celeste Olímpica: apontamentos sobre a seleção de futebol do Uruguai A história vitoriosa da seleção uruguaia de futebol começou cedo. Nas olimpíadas de 1924 em Paris conquistaram sua primeira medalha de ouro, fato que ocorreu novamente em 1928 nos Jogos Olímpicos de Amsterdã. Tendo uma seleção de grande potencial em mãos, o presidente uruguaio Cimpisgueti, passou a demonstrar o grande interesse em realizar a primeira Copa do Mundo em seu país. Embora a data dos jogos coincidisse com o centenário da Independência do país, assim o mundial seria a cereja do bolo uruguaio. Os uruguaios contaram ainda com a falta de concorrência europeia para sediar o mundial, que devido ao colapso econômico com o qual estavam envolvidos não se candidataram a sediá-la. Os anfitriões tiveram como principal obstáculo convencer as principais seleções do mundo a deslocarem-se ao Uruguai numa viagem de navio que duraria 18 dias, contando com o apoio da FIFA, os organizadores conseguiram reunir algumas das principais seleções da Europa. No fim o Uruguai acabou se consagrando campeão vencendo a Argentina pelo placar de 4 x 2 na final. Isso aconteceu diante de mais de 100.000 torcedores que foram ao delírio no estádio centenário construído especialmente para o evento. A segunda conquista épica da celeste aconteceu em 1950, no Maracanã, diste acontecimento os brasileiros lembram bem. Frente ao maior público de Copas do Mundo 199.854 pessoas, o Uruguai conseguiu o inacreditável. Venceu a seleção brasileira que havia goleado todos os adversários, e a mesma seleção uruguaia venceu por placares apertados em jogos difíceis, sem dúvidas este foi o maior feito da Celeste Olímpica até hoje. São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 45 ISSN:
  • 46. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS O Mundialito (1980) e a nova versão trazida à tona pela película de Bednarik O Mundialito ou A Copa del oro, torneio de futebol que envolveu somente seleções campeãs do mundo ou vice-campeãs, participaram o Brasil, Uruguai, Itália, Alemanha, Holanda e Argentina. O evento foi realizado no Uruguai em 1980, seus idealizadores - os militares alinhavados ao regime ditatorial e a FIFA, que na época era presidida pelo brasileiro João Havelange – afirmavam que o evento esportivo foi realizado somente em comemoração aos 50 anos da primeira Copa do Mundo organizada pela FIFA, que acontecera neste mesmo país em 1930. Porém a película Mundialito (Sebastian Bednarik, Uruguai, 2010) questiona tal afirmação, ao passo que, o diretor mostra através de depoimentos dos “atores” da época que existe a possibilidade dos militares terem se apropriado do prestígio do futebol para conquistar a população novamente a seu favor. Ou ainda ter o evento sido a coroação de uma vitória no plebiscito no mês anterior, que decidiria continuidade ou não do regime ditatorial, na fundação da chamada “Nova República”, diante de tanta convicção que cercava os militares. Porém a população uruguaia surpreendeu o mundo ao rejeitar a proposta dos militares. Bednarik teve a ideia de realizar esta película devido a uma subvalorizarão desta conquista para a sua geração, buscando desvendar tais motivos para que esta conquista, ficasse guardada em suas mentes de maneira difusa. A ideia saiu do pouco que se falava sobre esse evento. Era algo que tinha ficado para a minha geração como uma recordação nebulosa (...) me interessava saber o motivo, por que nós, uruguaios, sempre comemoramos e festejamos campeonatos como o de 1930 e o de 1950, mas o de 1980, que também é importante, não era comemorado (MORISAWA, 2010). Uma curiosidade foi à forma de financiar a competição, que veio da iniciativa privada, mas incluiu a ajuda de investidores ilustres, como Ex-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, que na época ensaiava os primeiros passos de seu império na mídia italiana. Durante a investigação, nos demos conta que a relação com a ditadura era muito grande, inclusive com a questão do plebiscito. Mas o que me interessava era o leque de opiniões sobre essas memórias. Muitos lembravam como algo péssimo e outros como uma catarse (MORISAWA, 2010). O filme, que é uma coprodução entre Brasil e Uruguai orçada em US$ 300 mil, um valor alto para as produções uruguaias, e deve se exibida em telas brasileiras no último trimestre de 2012. São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 46 ISSN:
  • 47. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS Conclusão A conquista da Copa del Oro, mais conhecida como Mundialito, ocorreu nos mesmos moldes da vitória uruguaia sobre o Brasil na Copa de 1950, mas em vez do Maracanã o palco foi o estádio Centenário. No entanto, o orgulho apagou-se em meio a questões políticas que, segundo o filme, podem ter sido o propósito do campeonato em primeiro lugar, como afirma o primeiro presidente eleito após o fim da ditadura José Maria Sanguinetti na película em questão, “Sempre os governos usaram os esportes como maneira de associar aos êxitos e os governo autoritários muito mais, por exemplo, 78 foi inesquecível eu estava no monumental de Nuñez, e o que se via foi toda uma interpretação oficial, do governo e foi um sucesso” ( Sebastian Bednarik, 2010). A ditadura uruguaia detém suas especificidades em alguns pontos quando comparadas as outras na América Latina. Os militares foram se apoderando do poder aos poucos, existindo continuidades entre as políticas anteriores ao golpe e posteriores, assim a instauração da ditadura uruguaia não foi um golpe brusco, como afirma YAFFÉ: ... el golpe de Estado no debe ser entendido como el origen único y absoluto de la dictadura. Esta se habría ido gestando en el período previo, y por tanto el golpe puede ser explicado más bien como un resultado, como la culminación de un proceso de progresiva instalación del autoritarismo a lo largo de los años sesenta y principios de los setenta. (YAFFÉ, 2012:14). Os militares, a principio trabalhava em conjunto com os civis, e mantiveram o presidente eleito aparecido Mendéz, revelando aí uma parceria entre os militares e parte da população. O terrorismo de estado implantado no Uruguai esteve presente em todo o período da ditadura (1973-1985), porém sua intensidade ou a necessidade de repressão aos grupos de resistência variaram ao longo deste período, entre 1975-1979 viu-se o terror da ditadura uruguaia, neste período o número de exilados e desaparecidos políticos foi enorme. Es precisamente en el período 1975-1979 cuando la represión llegó a niveles tales que puede hablarse de la instauración de una situación de terrorismo de estado en el sentido estricto del término. Es decir: la represión adquiere tal magnitud, tanto en intensidad (métodos) como extensión (víctimas) que el miedo a sufrir las consecuencias de la represión se vuelve un factor clave para desalentar o desactivar cualquier intento de organización y resistencia. (YAFFÉ, 2012:20). São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 47 ISSN:
  • 48. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS Com a vitória da seleção uruguaia no Mundialito, através de um tempo de longa duração, pode-se analisar a reminiscência de uma estrutura social ligada ao futebol, se tomar como referência dois momentos distintos na história recente uruguaia. Primeiramente a conquista da Copa do Mundo em 1930 e a conquista do Mundialito em 1980. Dessa forma, percebe-se a forte aproximação entre o futebol e a sociedade uruguaia, como o historiador Gerado Caetano aponta no inicio da película: o futebol no Uruguai é com um grande cenário de construção de mitos, assim surgem os grandes relatos com as grandes figuras reconhecidas como tais e assim se constroem certas histórias que finalmente terminam tendo uma projeção filosofante. Os registros dos triunfos desportivos de 24, 28, 30 e 50 se referem lembranças de eventos que se dão em momentos de democracia plena e prosperidade. Assim, ao final do torneio com a consagração do Uruguai, houve uma grande excitação da torcida, fazendo com que esta relembrasse seu passado recente, glorioso no futebol, democrático em suas relações sociais e de economia próspera. Para Nobert Elias e Eric Dunning, numa sociedade tão autocontrolada como as sociedades atuais, os espectadores do futebol ao saborearem uma excitação mimética de num confronto entre duas equipes, tendem a uma manifestação mais aberta e livre na companhia de outras pessoas: (os espectadores) Tal como na vida real, podem agitar-se entre esperanças de sucesso e medos de derrota; e, nesse caso, ativam-se sentimentos muito fortes, num quadro imaginário, e a sua manifestação aberta na companhia de muitas outras pessoas pode ser a mais agradável e libertadora de todas, porque na sociedade, de um modo geral, as pessoas estão mais isoladas e tem poucas oportunidades para manifestações coletivas de sentimentos intensos.” (ELIAS E DUNNING, 1995:71- 72). Ao flutuar pelas diversas emoções, que um jogo de futebol pode despertar em uma torcida, a esperança da vitória, a tristeza de uma derrota, a excitação provocada por uma virada no placar quase inacreditável, a torcida uruguaia extravasou as tensões sociais, contra a ditadura, após o jogo, cantando ao final do jogo já fora do estádio centenário "el se va acabar, se va acabar, la dictadura militar”, transcendo o frágil limiar entre vida real e jogo mimético, conforme o posicionamento de Elias e Dunning quanto ao valor que uma vitória mimética pode ter: ...Se as tensões despertam numa sociedade mais alargada, se ai as restrições sobre os sentimentos intensos enfraquecem e o nível de hostilidade e ódio entre os diferentes grupos se eleva a serio, a linha divisória que separa o jogo e aquilo que não é jogo, confrontos miméticos e reais, pode ficar pouco nítida. Nesses casos, a derrota no terreno de jogo pode evocar a amarga sensação de derrota na vida real e um apelo de São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 48 ISSN:
  • 49. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS vingança. Uma vitória mimética pode apelar a continuação do triunfo numa batalha fora do terreno de jogo.(ELIAS E DUNNING, 1995: 72). Ao fim do Mundialito, o evento foi um sucesso em termos de execução, passando a imagem de um país em desenvolvimento para o mundo, mesmo que tal fato não fosse realidade. Por outro lado os militares acabaram duplamente derrotados, tendo seus planos em longo prazo frustrados, primeiro com a derrota no plebiscito referente a fundação da chamada “nova republica”, seguida poucos meses depois, pela excitação da população após a vitória da sua seleção, provocando uma onda nacionalista, que marca o declínio da ditadura, tendo seu fim em 1985. A película acaba tendo uma atualidade e importância histórica fundamental. Ao passo que segundo os pressupostos de Marc Ferro, o filme pode ser utilizado como fonte histórica, trazendo às claras, depoimentos dos atores da época, revelando uma história por diversas vezes “esquecida” nos documentos oficiais. Diante disto a película traz depoimentos tanto da resistência à ditadura quanto de militares e civis que a apoiaram, depoimentos fundamentais para se entender a ditadura uruguaia e a América Latina em estudos futuros. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: AGOSTINO, Gilberto. Vencer ou morrer – futebol, geopolítica e identidade nacional. Rio de Janeiro: Mauad, 2002. ELIAS, N. O processo civilizador: uma história dos costumes. Rio de Janeiro: Zahar, 1994. v. 1. ELIAS, N.; DUNNING, E. A busca da excitação. Lisboa: Memória e Sociedade, 1995. FRANCO JR., Hilário. A dança dos deuses: futebol, sociedade, cultura. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. GIULIANOTTI, Richard. Sociologia do futebol: dimensões históricas e socioculturais do esporte das multidões. São Paulo: Nova Alexandria, 2002. MUNDIALITO. Direção: Sebastian Bednarik. Uruguai, Brasil. 72 min. Coral Filmes em co- produção com: V2 Cinema. 2010. MORISAWA, Mariane. Entrevista concedia ao portal Ultimo Segundo do IG em 30/09/2010 Disponível em: São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 49 ISSN:
  • 50. Anais Eletrônicos do IV Simpósio Nacional Anônimos na História UFS/GPCIR/CNPq/PROHIS http://ultimosegundo.ig.com.br/festivalrio/entrevista+com+o+diretor+uruguaio+sebastian+be dnarik/n1237787680165.html Ultimo acesso: 30/04/2013 SCHMIDT, Felipe. Herói nacional, Yaya Touré sonha com título da Copa Africana: 'Está na hora'. Globoesporte.com, Rio de Janeiro. 2013. Disponível em: http://globoesporte.globo.com/futebol/copa-africana-de-nacoes/noticia/2013/01/heroi- nacional-yaya-toure-sonha-com-titulo-da-copa-africana-esta-na-hora.html Ultimo acesso em 29/04/2013 YAFFÉ, Jaime. La dictadura uruguaya (1973-1985): nuevas perspectivas de investigación e interpretación historiográfica. Revista de Estudos Ibero-Americanos, Porto Alegre, v. 38, n. 1, p. 13-26, jan./jun. 2012 A VIDA NAS FÁBRICAS: COTIDIANO DAS MULHERES OPERÁRIAS EM SERGIPE (1950-1956)21 WAGNER EMMANOEL MENEZES SANTOS22 Resumo: O artigo pretende analisar como era o cotidiano das mulheres operárias no interior das fábricas sergipanas, na década de 1950. Percebe-se que elas tinham uma vida dobrada, pois, além de trabalharem nas fábricas, também eram donas de casa e tinham que manter o lar em perfeita condição. Nas fábricas, as operárias sofriam assédio moral e sexual, principalmente dos representantes dos seus patrões. O cotidiano é aqui entendido como, principalmente, a história dos “marginalizados”, o dia a dia da gente comum, enfim, as minúcias sociais que cercam as operárias. Nesse artigo, foram utilizados os jornais Gazeta Socialista e Fôlha Popular como fontes para compreender e analisar como era o cotidiano das mulheres operárias. Palavras-Chaves: Fábricas, operários, Gazeta Socialista e Fôlha Popular. 21 Trabalho apresentado ao curso de Pós-Graduação em Ensino de História: Novas Abordagens como requisito para obtenção do título de Especialista, pela Faculdade São Luís de França, sob a orientação da Profª. Msc. Andreza Santos Cruz Maynard. 22 Graduado em História pela Universidade Federal de Sergipe. Especialização pela Faculdade São Luís de França, "Lato Sensu", em "Ensino de História: Novas Abordagens". Membro dos Grupos de Pesquisas "Cultura, Memória e Política Contemporânea" (UFRB) e do "Poder, Cultura e Relações Sociais na História". Mestrando em História (UFS). Orientadora Profa. Dr. Célia Costa Cardoso. Email: wemss@bol.com.br São Cristóvão, de 04 a 08 de junho de 2013 Página 50 ISSN: