SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 27
Descargar para leer sin conexión
FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ
  UNIVERSIDADE DE FORTALEZA – UNIFOR
  CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS
  PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO EM DIREITO
  MESTRADO EM DIREITO CONSTITUCIONAL
  DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR
  PROFESSOR: ROSENDO




A UTILIZAÇÃO DA SALA DE AULA COMO LOCAL DE
                  PESQUISA




               Francisco José Gomes da Silva
                  Matrícula nº 0724518-1




                      Fortaleza - CE
                       Junho, 2008
SUMÁRIO


Introdução.....................................................................................................................   00
1 O educar para a Pesquisa............................................................................................            00
2 A Humanização da Ação Pedagógica.........................................................................                       00
3 A Superação da Educação Bancária............................................................................ 00
4 A Dialogicidade nos cursos de Direito.......................................................................                    00
5 A Influência da Tecnologia na Educação Contemporânea.........................................                                   00
6 Metodologia ...............................................................................................................     00
Conclusão....................................................................................................................... 00
Referências..................................................................................................................... 00
INTRODUÇÃO

      O trabalho ora me tela tem por escopo apresentar a nova realidade do aprendizado em sala
de aula. A modernidade atingiu de forma rápida os bancos escolares e acadêmicos deixando
ultrapassado o sistema de ensino de outrora, que consistia apenas em ensinamentos orais entre
mestres e alunos.

      Atualmente, o desenvolvimento tecnológico oportunizou a melhoria do ensino com estudos
virtuais, debates on line, realização de experiências e observação de fenômenos em tempo real.
Essas novas técnicas solucionam um problema deveras antigo, que era o marasmo das técnicas de
repetição utilizadas em salas de aulas. Hodiernamente as discussões enriquecem de sobremaneira
o entendimento dos alunos, pois é possível absorver opiniões de inúmeras pessoas sobre um
mesmo fato, com observações e análises distintas, de acordo com o cotidiano de cada um, o que
proporciona a disseminação da cultura e a aproximação dos conhecimentos da realidade que os
cercam.

      Desse modo, pretende-se elaborar um estudo demonstrando a potencialidade da sala de aula
como um espaço físico e material a ser aproveitado para pesquisas no ensino superior, em
particular, no ensino jurídico.

      A aprendizagem universitária pressupõe, por parte do aluno, a aquisição e o domínio de
conhecimentos, métodos e técnicas científicas de forma crítica. Faz parte dessa aprendizagem
adquirir progressiva autonomia na aquisição de conhecimentos, para que se tornem capazes de
refletir, optar, comparar, pesquisar e emitir opiniões.

      Através da pesquisa, o aluno começa a se co-responsabilizar por buscar informações, a
aprender a localizá-las, a analisá-las, a relacionar novos dados com os anteriores, a estabelecer
parâmetros, registros, trabalhos com novos dados e a redigir conclusões a fim de solucionar
problemas.

      Nesta situação, a aprendizagem se torna cada vez mais significativa para o aprendiz. O
novo modelo de sala de aula, com disponibilização de recursos de multimídia, internet,
audiovisual, dentre outras ferramentas que despertam o interesse do aluno, certamente capacitará
de forma melhor os estudantes. Desta forma, a pesquisa levará ao diálogo crítico e criativo com a
realidade, desenvolvendo a elaboração própria e a capacidade de intervenção.

      Pesquisar em educação é um princípio educativo-científico, exige competência. Pesquisa
não é cópia. Ela deve ser encarada como produção através do que foi lido, refletido, comparado e
selecionado. É fundamental que na sala de aula haja métodos que “ensinem” a pesquisar. A
Universidade é o campo do pesquisador, pois lá estão disponíveis as ferramentas para o aluno
buscar o que lhe parecer de melhor para unir a teoria e a prática.
1 O EDUCAR PARA A PESQUISA

     Iniciaremos o presente tópico destacando os ensinamentos do professor Lucke et al (1991,
p. __) no tocante a educação e pesquisa:

                                   A pesquisar não se restringe a seus aspectos sofisticados mais conhecidos,
                                   que supõe domínio de instrumentações pouco acessíveis. Também não
                                   significa apenas esforço teórico, mera descoberta de lógicas e sistemas,
                                   simples experimentações laboratoriais. Ainda, não se esgota em ritos
                                   tipicamente acadêmicos com se fosse atividades exclusivas.

     Em primeiro lugar, pesquisa significa diálogo crítico, criativo e dinâmico com a realidade,
culminando na elaboração própria e na capacidade de intervenção. Em tese, pesquisa é a atitude
do “aprender a aprender” e, como tal, faz parte de todo o processo educativo e emancipatório que
deve ser estimulado desde o pré-escolar até os estudos mais profundos da pós–graduação. Quanto
ao estágio escolar inicial à pesquisa tem um caráter interativo, explora os questionamentos e
desenvolve construções alternativas de conhecimento. O segundo estágio de estudo é mais
avançado, vai além dos questionamentos e suposições; nessa seara de conhecimento deve-se
buscar apoio científico para fundamentar as novas descobertas.

     Podemos colocar isto mal ao insinuar que pesquisa pode ser “qualquer coisa”, recaindo no
lado oposto da extrema sofisticação. Não é o caso, pois estamos nos movimentando no espaço
típico da qualidade formal e política, não de qualquer coisa. Pesquisa, tanto como princípio
científico quanto educativo, exige profunda competência e renovação incessante.

     Em segundo lugar, a pesquisa fundamenta o ensino e evita que este seja um simples repasse
de cópias. Ensinar perpetua a função da escola e da universidade, mas não se pode mais tomar
como ação auto-suficiente. Quem pesquisa tem o que ensinar; deve, pois, ensinar a produzir e não
a copiar. Quem não pesquisa nada tem a ensinar, pois apenas ensina a copiar.

     Em terceiro lugar, a pesquisa aponta para a direção correta da aprendizagem, que deve ser
elevada a “aprender a aprender”. Aprender é uma necessidade vital, de ordem instrumental, mas a
emancipação se processa pelo aprender a aprender. É fundamental, portanto, “ensinar” a
pesquisar, ou seja, superar a mera aprendizagem, sempre que possível. No fundo, só aprende
quem aprende a aprender. Tanto a escola quanto a universidade não buscam o aprendiz, mas o
pesquisador ou o mestre capaz de produzir projetos próprios.
Em quarto lugar, a pesquisa acolhe na mesma dignidade teoria e prática, desde que se trate
de dialogar com a realidade. Cada processo concreto de pesquisa pode acentuar mais teoria ou
prática; pode interessar-se mais pelo conhecimento ou pela intervenção; pode insistir mais em
forma ou em política. Todavia, como processo completo, toda teoria precisa confrontar-se com a
prática e toda prática precisa retornar a teoria.

      É preciso rever e repensar, portanto, os paradigmas que norteiam o atual ensino jurídico
pátrio, sob pena de formação de profissionais sem a necessária competência. Despertar para esse
problema é evitar a vitória do descaso dentro das universidades brasileiras. O papel dos antigos
professores e suas técnicas de repetição para proporcionar o aprendizado foi superado pelo tempo
e, principalmente, pela omissão sobre o papel ético-jurídico que é chamado de um jurista.

      Deve ser feita uma maior conscientização dos estudantes sobre a importância do ensino,
também é preciso que eles sejam avaliados por meio de pesquisas, trabalhos, debates e provas a
respeito de suas descobertas e conhecimentos. O ensino-aprendizagem no campo jurídico é muito
amplo e prima facie supera o mero apego ao positivismo legal e ao estudo de suas lacunas.

      De outra forma, dentre tantas criações humanas, a argumentação e a hermenêutica, por
exemplo, de longa data discursada por Aristóteles (cfe. Perelmann, Viehweg, Alexy, Dworkin
etc…), que nos legou uma forma de pensar e refletir os problemas que, em suma, representa não
apenas uma mera teoria, mas uma reflexão sobre a práxis e a "capacidade de um contato
compreensivo com os homens" (Gadamer), são tônicas que se coadunam com as ferramentas
naturais do ser humano e que deveriam retomar um lugar seguro nas grades curriculares.
Infelizmente, ousamos apenas reproduzir o que já se encontra em outros programas aplicáveis a
outros ambientes e a outras propostas.

      A ciência humana em sua essência propicia oportunidades participativas e democráticas
sem desprezar os limites ou podar as contribuições de cada elemento do processo ensino-
aprendizagem, torna possível compreender, refletir, pensar e respirar como um ser humano,
biológica e afetivamente como um ser factível que é, sem desprezar o seu meio e o seu mundo.
Daí poder dizer-se que o ensino–aprendizagem se torna cada vez mais interativo. O arbítrio ficará
mais arejado, partindo-se de um ponto real e não de meras imposições teorias, “sorrisos irônicos e
até mordazes”, como adverte o doutrinador Reale (0000, p. 00), quando se refere à arte como
requisito para a formação de um jurista, tornar-se-ão frutos apenas de preconceitos e inseguranças
da ignorância.

      Com efeito, adicionados os ideais pautados no Princípio de Evitabilidade de Conflitos,
volta-se para uma concepção de prevenção de conflitos, ou seja, para o desenvolvimento
científico de “pré-soluções para inexistência de controvérsias” em eventuais questões sócio -
jurídicas, embora possa parecer algo de inovador não o é. A composição, a autocomposição e a
mediação são técnicas aplicadas antes do nascimento da lide que já demonstraram a possibilidade
de uma pré-solução de pré-conflitos, com finalidade maior de não se alcançar a “zona de
conflitos”.

      Machiavel ensinou que: “Guerra existe, se existente o guerreiro com animus de guerrear.
Paz, de outra banda, reinará se inexistente aquele sujeito com aquela vontade ou por pura
convivência entre pacíficos”. Dá para imaginar as conseqüências trágicas, quando, em caso de
guerra, o guerreiro se utiliza de suas características enquanto ser pensante e elege seus ideais,
pelos quais acredita para justificar a batalha, com intuito único de atingir o seu fim.

      Logo, contrariamente aos ensinamentos da atual vertente, parte-se hoje da mesma premissa
com que se criam normas, porque se sabe que certamente alguém irá burlá-las ou pelo menos,
num segundo momento, violá-la. De qualquer forma, surgirá um conflito e o operador do direito
preparado academicamente tão somente para este momento surge para resolvê-lo.

      Ademais, para incentivar ações e idéias antecipatórias não devemos esquecer a estampa
educacional das lições de Paulo Freire na relação docente-discente, in verbis: “não há educação
sem amor. O amor implica luta contra o egoísmo. Quem não é capaz de amar os seres inacabados
não pode educar. Não há educação imposta, como não há amor imposto. Quem não ama não
compreende o próximo, não o respeita”.

      Assim, “humanizar o ensino jurídico” se impõe como uma necessidade. Os reflexos são
inevitáveis. Banir a frieza das leis, a começar pelos próprios operadores do direito, não significa
desprezar o sistema jus positivista (vigente em nosso meio), quer dizer atender aos verdadeiros
preceitos ético-jurídicos, doravante e principalmente pelos novos juristas, que devem primar pela
paz social, fraternidade e justiça entre os homens.
O direito é o sustentáculo da sociedade e seus operadores devem ter ciência de que o
conhecimento resulta do estudo, sem o estudo não se aplicam as normas como se deve. Dessa
forma, a justiça não é feita e a sociedade poderá vir a trocar sua organização pela anarquia,
refugando a tão necessária figura do Estado Democrático de Direito.

      Por derradeiro, é sempre salutar rememorar as palavras do altissonante Francesco
Carnelutti: “se o pintor não ama seu modelo o retrato nada vale, e se o juiz não ama o indiciado
em vão pensa poder alcançar justiça”.

      Diante do exposto, resta demonstrado que urge nos cursos jurídicos em geral uma reforma
para promover a valorização do ensino e uma nova postura para o estudante de direito. Este deve
direcionar seus estudos com atenção aos princípios, às normas e, principalmente, às inovações
legislativas, tudo para que haja dinâmica em sua aprendizagem e facilitação em sua atuação, o
que proporcionará uma sociedade mais justa, fraterna e ética.


2 A HUMANIZAÇÃO DA AÇÃO PEDAGÓGICA

      Paulo Freire, em sua obra Pedagogia do Oprimido, discutiu a questão da “vocação” e da
“desumanização”. Para o professor a “vocação” humanitária individual no sentido do “eu” que
busca respostas para solucionar seus problemas visa alcançar a cidadania, a justiça, o “ser mais”
e, por que não dizer, a própria felicidade, como realização pessoal e coletiva. A “desumanização”
consiste no “ser menos”, como antítese do pensamento anteriormente descrito, no sentido de
opressão e injustiça.

      A questão da “vocação” e da “desumanização” apresenta-se como uma dialética humana
verificada por Freud, na obra Mal-estar da Civilização, entre um “criar” e um “instinto de
destruição”, que prevalece nos caminhos da sociedade contemporânea belicista, apesar dos
avanços consciências já obtidos.

      No ensino jurídico, tal dialética pode ser verificada em situações nas quais tanto discentes
como docentes se apresentam em posições opostas, ora humanizados, ora como desumanizados.
A antítese é bem delimitada pelo processo de ensino que acaba por transformar vocações e
ideais em um discurso racional falsamente neutro, dogmático e tecnicista, cuja existência
somente se justifica para a manutenção de privilégios e desigualdades sociais seculares.

      Dentro desse contexto, as faculdades, em sua maioria, passam a ser representantes de um
pensamento unívoco de mercado, mantendo os perfis dos futuros profissionais dentro de um
modelo que reproduz os mesmos valores tradicionais surgidos no Liberalismo nos futuros
detentores da função de operacionalizar a Jurisdição.

      Verifica-se aí um ciclo vicioso a indicar o caminho enviesado a seguir: uma postura
dogmática e tradicional dos docentes e uma formação direcionada aos discentes em favor de um
contexto excludente de mercado, díspar da realidade social.

      Uma possível resposta na tentativa de minimizar tais antagonismos está na instauração de
uma pedagogia jurídica conscientizadora, que visa formar uma nova racionalidade tendente a
influenciar a estrutura econômica da sociedade, partindo da premissa da tutela dos Direitos
Humanos. Esse processo educativo pressupõe críticas teóricas, mas também efetiva interação
com a realidade.

      Isso se faz pela conjugação do ensino e da pesquisa com a extensão, cujo efeito maior é a
saída do mundo das idéias dos bancos escolares em busca do enfrentamento da realidade,
verificado na práxis do arrostamento de problemas sociais. Humanização ocasionada pelo
impacto que a realidade produz como embasamento da teoria, fazendo a todos, docentes e
discentes, visualizarem-se como responsáveis pelo presente e futuro da sociedade.

      Desse modo, uma metodologia de intervenção deve gerar condições para uma mudança
individual na percepção dos discursos da racionalidade jurídica em face de seus conflitos reais
com a efetiva aplicabilidade dos Direitos Humanos. Daí se pensar nas possibilidades de atuação
de um grupo de estudos capaz de formar operadores do Direito com “vocação” para as
responsabilidades e missões sociais, ou, ao menos, com a noção de que as salas de aula podem
significar uma caricatura mal acabada da realidade social brasileira.


3 A SUPERAÇÃO DA EDUCAÇÃO BANCÁRIA
Paulo Freire caracteriza a “educação bancária” como o procedimento metodológico de
ensino que privilegia o ato de repetição e memorização do conteúdo ensinado. Assim, o docente,
por meio de aulas expositivas, “deposita” na cabeça do aluno conceitos que serão exigidos
posteriormente em avaliações, quando então obterá o “extrato” daquilo que foi “depositado”.

      A afirmação da predominância da “educação bancária” no ensino jurídico deve ser vista
com seriedade. Tal análise se faz a partir da constatação do excesso de teoria que circunda as
salas de aula das Faculdades de Direito. Questionar, negar a legitimidade das estruturas jurídicas
arcaicas não é algo possível na “educação bancária”, pois, pelo ensino tradicional, meramente
expositivo, cabe ao aluno apenas assimilar a realidade teórica transmitida pelo professor.
Memorizar e repetir são as saídas possíveis, já que serão essas as atividades mentais a serem
exigidas nas avaliações, usualmente caracterizadas como “provas”.

      Mantida a prevalência das aulas expositivas como procedimento didático-pedagógico,
muito pouco se pode fazer para alterar o atual estado das coisas em matéria de ensino jurídico,
pois tais perfis de competências e habilidades são referenciais inadequados à formação
profissional competente para atender às demandas sociais atuais.

      Segundo Paulo Freire, essa estrutura expositiva é capaz de reduzir o ensino a algo
insubsistente, muito aquém da possibilitar de uma efetividade do processo de ensino e da
aprendizagem em face do mundo real. Nesse sentido, regras jurídicas potencialmente injustas ou
até tecnicamente incorretas (inconstitucionais), por vezes contrárias aos interesses da maioria da
população, têm sua racionalidade e aceitação reproduzida nos cenários das salas de aula através
dos discursos recriados nas transmissões dos docentes. Como exemplo, o que dizer da validação
jurídica das ditaduras?

      Criam-se, daí, como se pode pressupor, profissionais “bancários” do Direito, com atuações
centradas nas racionalidades jurídicas assimiladas na academia.

      A antítese a esse estado de coisas inicia-se com a exigência da presença de um docente com
perfil de agente humanizador, apto a utilizar conteúdos e metodologias de ensino sensíveis às
transformações culturais e às novas demandas sociais existentes. Isso é necessário porque se deve
levar em consideração que o docente de hoje nada mais é do que o aluno do ensino jurídico de
ontem, potencialmente educado mediante a utilização de aulas expositivas “bancárias”.


4 A DIALOGICIDADE NOS CURSOS DE DIREITO

      Dialogicidade, segundo Paulo Freire, está em permitir aos alunos agir e refletir sobre a ação
pedagógica realizada, diferente de um mero refletir exclusivo da mente do professor. Aí se chega
à práxis, ou a “teoria do fazer”, com ação e reflexão simultâneas e recíprocas.

      O diálogo ganha importância ao permitir a liberdade de expressão, ao conceder aos
participantes do processo de ensino e aprendizagem o controle da ação. Dialogar para refletir,
dizer para construir seu entendimento. Não há como questionar sem diálogo, pois monólogo
significa imposição do conhecimento. Dialogar significa expor-se em público, combater a
imposição de conteúdos e ajustar coletivamente a compreensão dialética do conhecimento
problematizado, por novas vias de esclarecimento.

      Dialogar no Ensino Jurídico é necessário e viável. Discutir teses doutrinárias; enfrentar
jurisprudências conflitantes; questionar leis com base em princípios constitucionais e
humanitários; sugerir e investigar novas abordagens; é algo acessível ao professor do Direito.
Não se trata de o próprio professor apresentar o questionamento e sua solução, trata-se de
permitir ao aluno, individualmente ou em grupo, buscar a resolução do conflito, constituindo
criativamente soluções.

      Em via adversa, a ação antidialógica dos professores restaria como paradigma da estrutura
tradicional imposta, no sentido de conduzir a aprendizagem dos alunos à repetição e à
memorização de conceitos preconcebidos sobre a realidade jurídica e social, a qual também lhe
foi posta durante sua formação.

      A mudança para a ação docente dialógica está na adoção do lema cooperação em sala de
aula, na qual o professor deixa o seu papel de propagandista de regras jurídicas e passa a
desempenhar, lado a lado com seus alunos, uma parceria transformadora da sociedade, na revisão
do sentido de suas regras. Nesse processo, a interação e a cooperação entre professor e alunos são
fundamentais para o desenvolvimento das atividades de ensino dialógicas. Se na abordagem
tradicional ou “educação bancária” o professor se coloca em um pedestal de autoridade
afastando-se do contado direto com os alunos, na abordagem pedagógica crítica esse contato não
pode mais ser evitado.

      Com essa mudança, o professor dialógico passa acompanhar o desenvolvimento da história
educacional dos alunos. Aqui surge o ponto de rompimento com a tradicional escola jurídica, das
aulas magistrais ou expositivas. O surgimento do processo pedagógico dialógico, senão novo, ao
menos é mais democrático, no qual o professor não é o operador do direito, mas o educador de
fato. Ele tem o dever de garantir aos alunos o máximo de acesso eficaz e crítico ao conhecimento
proposto no conteúdo programático, alicerçado na realidade existencial do grupo e nos seus
pontos fortes individualizados.

      Outra ação dialógica a ser adotada está na organização profissional da atividade
pedagógica. A organização tem início com a preparação do conteúdo programático a ser
ministrado no ano, semestre, bimestre, mês, aula, e finda com o feedback reprogramático das
avaliações realizadas. Caracteriza um processo cíclico de auto e heteroconhecimento, obtido por
meio de avaliações, capaz de orientar o professor a conhecer as aptidões de seus alunos.

      O início da ação dialógica organizadora se dá antes do contato entre professor e aluno, e
depende da escolha de opções para o conteúdo programático a ser debatido com os alunos.
Opções de conteúdo não devem só permitir aos alunos pensar criticamente sobre o estudo no
semestre ou ano letivo, mas também estar de acordo com sua percepção da realidade. Ou seja,
eleger um conteúdo programático sob a forma de uma pedagogia crítica requer a dialogicidade da
dialogicidade, na montagem cooperativa dos conteúdos a serem objeto de futuro diálogo em sala
de aula.

      Um exemplo bem sucedido de investigação para a elaboração de um conteúdo
programático seria aquele em que se leva em consideração, por meio de questionários,
entrevistas, dissertações, a realidade daquele determinado grupo de alunos, sempre focando a
aprendizagem em tópicos correlacionados com a base vivencial em que estão situados.

      Quanto ao processo de avaliação na pedagogia crítica de Paulo Freire, a avaliação escolar
tem um significado diverso daquele verificado na "educação bancária" tradicional dos cursos de
Direito. Aqui, a avaliação é diagnóstica e somativa, seus intuitos são de possibilitar ao professor
medir o rendimento dos alunos com vistas na análise de seu próprio rendimento como educador.
Nesse sentido, a avaliação não mais atua como um instrumento punitivo ou retributivo, mas como
um ato de constatação se a ação do professor possibilitou a seus alunos cumprir os objetivos
traçados na programação das atividades.

      A partir da formulação dos conteúdos, passa-se à preparação central da metodologia de
trabalho em sala de aula, tendo por base o processo de problematização dos conhecimentos em
face da realidade. Problematizar a partir da própria realidade do aluno é permitir que ele possa
refletir sobre sua situação social, percebendo-a no contexto histórico.

      A problematização é essencial no processo de ensino e aprendizagem dialógico, visto que
possibilita aos alunos assumir um papel questionador dos conteúdos. Permite também, instigar a
heurística de alternativas jurídicas para a solução dos conflitos, ou seja, a criatividade necessária
para inovar e melhorar a eficácia do sistema jurídico e jurisdicional.

      Como ressalta Paulo Freire, todo processo de mudança crítica deve respeitar em primeiro
lugar a estrutura tradicional cristalizada. Logo, a dialogicidade educacional não busca eliminar o
tradicional ("oprimir o opressor"), mas apenas contribuir para o seu aprimoramento constante.
Desse modo, qualquer modificação para melhor, na busca do "ser mais", consiste em garantir a
todos a liberdade de posicionamento, de expressão e de manutenção de sua práxis educacional.

      Em geral, isso representa um grande dilema existencial não só para o ensino jurídico, mas
para a atividade educacional em todas as áreas do conhecimento, pois a busca por "ser mais"
implica comparar e também permitir que o "ser mais" advenha do outro, cuja visão de mundo
seja diversa e se mantenha.

      Daí o entendimento de Paulo Freire de que só há liberdade e libertação individual quando
se entende a posição do outro e não lhe repete os atos na mesma oportunidade (exemplo do aluno
crítico ao processo pedagógico, que depois assume a idêntica postura de professor tradicional).
Evoluir é antes de tudo aprender a respeitar diferenças e agir com intencionalidade
transformadora, mas sem imposições, educando pelo auto-exemplo.
Isso implica em buscar e demonstrar em suas ações aquilo que seja "melhor para todos"
dentro de uma realidade em que sua ação possa ser vista, copiada, criticada e, até mesmo,
aprimorada, representando um ciclo de aprendizagem onde todos evoluem continuamente.
Contrariando os versos cantados por Elis Regina, "ainda somos os mesmos", porém não mais
"vivemos como os nossos pais...".

     Comumente temos ouvido falar que a sociedade industrial está dando lugar à sociedade da
informação e da comunicação, que estamos vivendo na era do conhecimento e que os países para
desenvolverem-se economicamente precisam aplicar mais verbas na educação. Nessa nova
sociedade as fontes de riqueza e poder vão depender da capacidade de geração de conhecimento e
processamento de informação. Vemos os setores da informação e da comunicação em franco
crescimento e expansão. O que representa de fato essa grande importância atribuída à educação?
Por que o desenvolvimento econômico de um país hoje depende do grau de conhecimento de sua
população?

     Para Manuel Castells (1999) mede-se o nível de desenvolvimento de uma sociedade pelo
seu grau de conexão. Portanto a educação tem que estar voltada para a pedagogia dos multimeios,
para a capacidade de manuseio de grande quantidade de informações, para a leitura e escrita de
hipertextos, para indivíduos que saibam buscar, escolher e desfrutar este mundo. Precisamos
repensar nossos investimentos para que não apliquemos recursos em projetos vãos, pois o
desperdício não pode mais acontecer, porque ele representa não só pouca riqueza, como também
má qualidade de vida.

     Lévy (2000) vai dizer que a interconexão dos computadores do planeta, a que ele chama de
ciberespaço, tende a tornar-se a principal infra-estrutura de produção, transação e gerenciamentos
econômicos. Para ele será em breve o principal equipamento coletivo internacional da memória,
pensamento e comunicação. Daí a necessidade de uma educação voltada para o desenvolvimento
científico, tecnológico e para a diminuição das diferenças sociais e culturais, através da melhoria
da qualidade do ato pedagógico e em investimentos em recursos informacionais, tendo em vista a
importância econômica destas políticas. O importante é que as escolas estejam abertas para a
incorporação de novos hábitos, comportamentos, percepções, demandas e tecnologias, cumprindo
a sua função de contribuir para a formação de indivíduos capazes de exercer plenamente a sua
cidadania, participando dos processos de transformação e construção da realidade, produzindo
mais e gerando mais riquezas. Não necessitamos mais de uma reserva de excluídos, como no
capitalismo arcaico, mas sim precisamos de pessoas produtivas, pois não há tecnologia de ponta
sem mão de obra qualificada.

     Figueiredo (1995) ressalta que a educação tem que se adaptar às necessidades das
sociedades e que os desafios atuais são muitos tanto no campo social, cultural e econômico, antes
mesmo que tecnológico. A escola precisa ser reinventada, deve mudar seu papel de ditadora de
conteúdos. Sua preocupação atual precisa ser a de dar suporte para a autonomia do aluno, para
formar autodidatas. Uma educação interativa, colaborativa e cooperativa, numa construção
coletiva do saber. Não podemos nos esquecer que a língua e a cultura são veículos extrafronteiros
promotores da economia.

     Estamos habituados a ouvir os discursos oficiais apenas como discursos, sendo a prática
bem outra, mas agora quando os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) apontam para a
necessidade da educação se posicionar na luta de frente contra as exclusões, contribuindo para a
promoção e integração social, como prática efetiva, é preciso levar a sério, porque quanto mais
excluídos tivermos, mais pobres seremos. Se nossos dirigentes não conseguirem compreender
este novo paradigma, não se efetivarão as políticas públicas voltadas para a área do
conhecimento: reformas da infra-estrutura física das escolas, redirecionamento dos objetivos
educacionais e capacitação de professores/as (eventos que levem o professor e a professora a
reflexão, e não eventos com o objetivo de impingir a ideologia); e não haverá como o Brasil
produzir mais e com melhor qualidade, ficando à margem do mercado mundial.

     A educação precisa realmente, se for de interesse da população brasileira, sair deste estado
de mendicância em que vivemos, de uma prática efetiva em seu dia a dia na luta de frente contra
a exclusão, a favor da promoção e da integração social, porque um país sem excluídos produz
mais e é mais rico. Pessoas conscientes e participativas produzem mais, melhor e geram mais
riquezas para seu município, estado e país. Não é um pensamento romântico, é um pensamento
realista e racional. E se a escola cumpriu tão bem o seu papel na exclusão social, ela terá também
capacidade de promover a integração social.

     Para Litto, em primeiro lugar, “cada instituição educacional deve elaborar e executar a sua
própria proposta pedagógica. Cada grupo de professores que compõem o corpo docente de uma
entidade educacional tem o direito e a obrigação de traçar o plano arquitetônico da aprendizagem
de sua instituição”.

      A escola contemporânea oferta recursos físicos, didáticos e pedagógicos suficientes para
um bom desempenho no ensino-aprendizagem, por exemplo: refeitórios, que são espaços que
possibilitam encontros e trocas de experiências entre os elementos que compõem a comunidade
escolar; salas de aula aparelhadas com televisores e dvd’s; bibliotecas regularmente renovadas
com livros atualizados, trabalhos acadêmicos e documentários, com variados e interessantes
assuntos; esportes; e a informática.

      São recursos ricos que talvez, por culpa da instituição, da administração, dos professores,
de todos juntos, ou da simples falta de hábito em trabalhar com a diversidade, não estão sendo
explorados como deveriam.

      A meu ver, nosso primeiro passo é o da consciência da importância da preservação física do
prédio e de seus equipamentos. E o segundo passo é começarmos a pensar em como utilizar com
mais freqüência e de forma mais eficaz esses recursos que estão a nossa disposição.

      É preciso saber aproveitar a oportunidade da elaboração desse plano em nossa escola para
avançarmos em nossas questões pedagógicas, com vistas a solucionar problemas que nos afligem.
Se não soubermos aproveitar esse momento, continuaremos com os mesmos tipos de problemas
por mais alguns anos.

      O autor elabora uma lista de características que considera importantes para um ambiente de
aprendizagem, que segundo ele não é uma “receita” ou um conjunto de práticas capazes de
garantir o sucesso. Cada instituição elege alguns itens da lista e os trabalha com maior ou menor
intensidade. Esta lista foi feita a partir de observações do autor de escolas brasileiras e do
exterior, de leitura especializada e de conclaves profissionais. É um ponto de partida para a
reflexão da escola de hoje. Desta forma, ele aduz sem ordem hierárquica alguma que é preciso
traçar um plano arquitetônico para a aprendizagem, respeitar os estilos individuais de
aprendizagem de cada um, sem tentativas de forçar alguém a ter o mesmo desempenho em todas
as áreas de conhecimento.

      É preciso hoje encorajar a aprendizagem profunda, a capacidade de transferir conceitos de
um domínio para o outro. Procurar desenvolver as competências necessárias para a sobrevivência
no mundo contemporâneo, identificando problemas, acessando informações e filtrando-as,
tomando decisões e sabendo se comunicar com eficácia. Ter sempre no ensino-aprendizagem
uma visão multidisciplinar do mundo, enxergando e compreendendo as inter-relações entre as
coisas e os fatos pela maneira de estudar as matérias. Saber desenvolver projetos viabilizando a
participação através de levantamento de hipóteses e descobertas de novos conhecimentos. Fazer
uso constante de textos impressos e da multimídia, com textos em forma visual e sonora.
Enfatizar o trabalho realizado em colaboração com colegas locais e à distância. Criar ambientes
de aprendizagem e de trabalho ricos em apoios tecnológicos de todos os tipos. Avaliar através de
portfólios montados pelos alunos no decorrer do curso.

     José Manuel Moran é hoje no Brasil um dos mais renomados escritores que influencia uma
educação “inovadora” com uso de novas tecnologias, não só no ensino superior onde acontece a
sua experiência, mas também no ensino fundamental e médio, induzindo-nos a reflexões sobre os
modernos métodos e técnicas de ensino. É um profundo conhecedor da comunicação e da
educação. Atualmente exerce as funções de professor de Novas Tecnologias no Programa de
Educação e Curriculum da PUC-SP, Assessor do Ministério de Educação para avaliação de
cursos à distância e Coordenador de Tecnologia da Faculdade Sumaré – SP. Este texto a que faço
referência será apresentado no próximo Congresso da ABED – Associação Brasileira de
Educação a Distância, de 2 a 4 de setembro de 2002, em São Paulo.

     Moran nos fala de um ensino semipresencial que integra atividades docentes em sala de
aula e outras em ambientes virtuais, integrando de forma equilibrada o processo ensino-
aprendizagem presencial com o virtual, virtualizando o ensino presencial e presencializando o
ensino a distância. Os encontros em um mesmo espaço físico vão se combinar com encontros
virtuais à distância através da Internet. E as conexões on-line, em tempo real, vão permitir que
professores e alunos interajam e formem pequenas comunidades de aprendizagem, que
certamente favorecerão encontros que nos tiram do isolamento.

     Esses dizeres me provocam uma reflexão: não dá para se mover dentro de antigos
paradigmas, é preciso se pensar em um novo paradigma, em novos métodos, novas técnicas,
dentro dessa nova mentalidade de ensino.

     Para o autor, o objetivo tanto dos cursos presenciais como dos cursos virtuais é um só: que
os alunos aprendam. “Podem mudar algumas formas de ensinar, de organizar a aprendizagem, as
mídias, mas no conjunto os processos são semelhantes”. A comunicação on-line vai influenciar
tanto na pedagogia dos cursos presenciais como na pedagogia dos cursos à distância. Estamos
assistindo a uma convergência de métodos e técnicas de ensino-aprendizagem nestas duas
modalidades de ensino.

      Para Moran, tanto no ensino presencial como no ensino a distância vamos correr o risco de
fornecer diplomas a alunos sem saber se eles realmente aprenderam. Sabemos que a
aprendizagem se dá de forma ampla em ambientes ricos de interação e de apoio: eventos,
congressos, seminários, grupos de pesquisa, laboratórios, bibliotecas, restaurantes, entre outros.

      E a meu ver uma avaliação só pode ser “eficiente” se tiver cunho ideológico, se eu souber
exatamente qual o resultado que quero do produto sem me preocupar com o desenvolvimento
individual, com as qualidades de cada aluno. Se eu quero um tipo de indivíduo com tais e tais
características, no final eu poderei avaliar se consegui ou não esse tipo de indivíduo; porém se o
que eu quero é que cada um tenha o desenvolvimento dentro de suas próprias expectativas, aí
então me foge esse poder de avaliar. Há uma dimensão não avaliável dentro de todo o processo
educativo. E essa talvez seja a dimensão mais significativa. Daí a avaliação através de portfólios
ser a mais adequada.

      Desta forma, novas questões básicas estão sendo colocadas na educação presencial e na
educação à distância: Como organizar o processo de aprendizagem alternando e integrando a aula
física com a aula on-line?; Como organizar o processo de aprendizagem à distância de forma
mais participativa, envolvente e capaz de equilibrar o individual e o grupal?
      Temos que ter em vista que precisamos educar para o presencial, para o virtual e para a
possibilidade de se continuar aprendendo em ambientes virtuais, acessando páginas da Internet,
pesquisando textos, recebendo e enviando mensagens, discutindo questões em fóruns ou em salas
de aula virtuais, divulgando pesquisas e projetos.

      A Internet vai nos possibilitar a flexibilização da forma de organização de momentos de
sala de aula e momentos de aprendizagem virtual de forma integrada e alternada. Precisamos
criar a cultura da educação on-line dentro das instituições educacionais, tanto para os professores
quanto para os alunos. A instituição precisa apoiar os professores mais familiarizados com as
tecnologias que dispõem para possibilitar a experimentação e a criação da cultura por meio
virtual.
Sem dúvidas, a aprendizagem se dá mais pela experimentação do que só pela audição.
Precisamos incentivar a pesquisa para que o aluno se mova, corra atrás, vivencie, entre em
contato, comunique os resultados e reflita, com o objetivo de fazer a aprendizagem acontecer de
forma mais profunda. Somente envolvendo os alunos em processos participativos e afetivos
poderemos conseguir a motivação tanto no campo presencial como no virtual. A autonomia e a
organização pessoal são dois aspectos indispensáveis para a aprendizagem à distância.

     Não podemos mais continuar com a mentalidade conteudista a que estamos habituados, a
ênfase agora deve ser no aluno individualmente considerado e na interação desse aluno com o
professor sempre tendo em vista a construção do conhecimento, a busca por um equilíbrio do
individual com o grupal, num processo cooperativo, aproximando o pensar do viver.

     Somente podemos educar para a autonomia através de processos fundamentalmente
participativos, interativos e libertadores, respeitando as diferenças, incentivando, apoiando e
orientando. As mudanças na educação dependem, mais do que de novas tecnologias, de
educadores, gestores e alunos intelectual e emocionalmente maduros. Pessoas curiosas,
entusiasmadas, abertas e capazes de motivar e dialogar, focando a aprendizagem pela
experiência, ação e reflexão, desenvolvendo projetos, buscando solucionar problemas,
incentivando a pesquisa, a comunicação e a análise de significados, garantindo uma
aprendizagem significativa através da integração do presencial com o virtual.

5    A      INFLUÊNCIA              DA      TECNOLOGIA                NA        EDUCAÇÃO
CONTEMPORÂNEA

     Atualmente, os antigos métodos de diálogo e repetição vêm sendo gradativamente
substituídos por inovadores recursos tecnológicos que desapertam o interesse e facilitam o
aprendizado dos alunos.

     A evolução é marcante em todos os campos da vida humana. Hoje é possível receber e
enviar informações, pagar contas, acompanhar fenômenos e acontecimentos importantes em
tempo real, de várias partes do mundo. Esse turbilhão de informações deve ser adaptado, ficando
sempre a serviço dos homens.
Nessa seara, a sala de aula não poderia ficar para trás. A maioria das instituições de ensino
já deixa a dispor de seus estudantes aparelhos como computadores, dvd’s, televisões, dentre
outros facilitadores da aprendizagem.

     A evolução trouxe também a economia e a redução do esforço laboral dos professores, pois
um profissional do ensino pode ministrar sua aula de uma sala aparelhada com retroprojetor
multimídia e essa mesma aula pode ser repassada em tempo real para milhares de alunos. Essa
interação aprendizado e tecnologia tem feito com que os profissionais da área de ensino se
reciclem cada vez mais no intuito de acompanhar as novas tendências do ensino.

     Há uma década saber ligar um computador para muitos era sinônimo de sofrimento e
vergonha, atualmente tudo mudou, a informatização foi popularizada e desde os mais jovens até
os mais idosos já se familiarizaram com a figura do computador.

     A informática apareceu como uma ferramenta para facilitar e organizar o trabalho e a
aprendizagem humana e é indispensável para o bom funcionamento do País.

     A figura do professor de dono absoluto do saber foi alterada para um facilitador de
assimilação de conteúdo, que deve trabalhar em um ambiente que tenha disponível todos os
recursos tecnológicos para desapertar a atenção dos alunos para a importância e necessidade de
desenvolvimento do conhecimento.

     As histórias, tanto individuais quanto coletivas, a cidadania e a criatividade se fazem
necessárias para que o processo de educação seja preferencialmente delineado pelo desafio
formativo ou educativo.

     Dessa forma, é preciso tornar a educação parceira da evolução para que crianças e jovens,
que serão os adultos do futuro, cheguem à maturidade sabendo usar os benefícios da tecnologia a
seu favor.


6 METODOLOGIA

     Num primeiro momento é preciso nos conhecer, criar laços, mapear os grupos, as pessoas e
reorganizar o processo de ensino-aprendizagem: a seqüência das leituras, as atividades, as
pesquisas individuais e de grupo, o cronograma e a metodologia. Em um segundo momento,
podemos passar para o campo virtual e aproveitar as suas vantagens: flexibilidade de tempo e de
lugar para acessar. Os grupos podem com facilidade criar seus espaços de comunicação para
trocar resultados. Em um terceiro momento, podemos voltar a nos encontrar fisicamente para
aprofundar os resultados obtidos no campo virtual, fazendo sínteses e partindo para uma nova
etapa de aprendizagem, sempre envolvendo os alunos com práticas, leituras e reflexões.

      O curso deve ser planejado como um todo e estar aberto para incorporações que se fizerem
necessárias, visando valorizar as qualidades dos alunos. Nas primeiras aulas o importante é
motivar os alunos para o curso, criar boas expectativas, estabelecer laços de confiança e organizar
o processo de aprendizagem. Esses primeiros encontros devem ser agradáveis, interessantes e
cativantes. E isso não depende somente do professor, mas de toda a instituição. Os alunos em
conjunto com os professores precisam antes de tudo acreditar que vale a pena participar desse
processo coletivo de aprendizagem.

      Podemos usar as novas tecnologias para uma boa apresentação do curso através do
PowerPoint ou de outros recursos informáticos, inclusive a Internet. O importante é que se crie
um clima de apoio, de incentivo e de afeto. Depois das primeiras aulas presenciais, podemos
marcar uma primeira leitura virtual de um texto e o início da primeira pesquisa. Os alunos lerão o
texto e compartilharão suas observações com os demais membros do grupo. Após, volta-se ao
presencial para aprofundar o debate sobre as questões em foco. O ritmo do presencial-virtual
dependerá de cada professor e do grau de maturidade da turma. Equilibrando o presencial com o
virtual poderemos alcançar bons resultados a um custo menor de deslocamento, evitar perda de
tempo, além de flexibilizar um melhor gerenciamento da aprendizagem. O grande desafio
educacional hoje em todo o mundo é o aprender a ensinar e a aprender integrando ambientes
presenciais e virtuais.

      Dentro desse contexto Moran adverte:

                                   É importante neste processo dinâmico de aprender pesquisando, utilizar
                                   todos os recursos, todas as técnicas possíveis por cada professor, por cada
                                   instituição, por cada classe: integrar as dinâmicas tradicionais com as
                                   inovadoras, a escrita com o audiovisual, o texto seqüencial com o
                                   hipertexto, o encontro presencial com o virtual.
                                   [...]
                                   Cada curso, cada professor vai fazer isso de forma semelhante e ao mesmo
                                   tempo diferente. Não podemos padronizar e impor um modelo único do
presencial-virtual. Cada área do conhecimento precisa mais ou menos do
                                      presencial. É importante experimentar, avaliar e avançar até termos
                                      segurança do ponto de equilíbrio na gestão do virtual e do presencial.
                                      Creio que a área de humanas e a de exatas ou biológicos não podem, em
                                      princípio, seguir o mesmo esquema. O ponto de equilíbrio entre o
                                      presencial e o virtual pode ser diferente.

     A resistência dos professores às inovações e às mudanças ora se iniciadas pode ser vencida
com a intensificação de cursos, palestras, reuniões e atividades que envolvam o tema. É preciso
continuar chamando os alunos à participação. Participação como parte, com co-responsabilidade,
proporcionando crescimento para a autonomia e não atitudes de libertinagem e amorais.

     Outro desafio importante é trabalhar as estruturas organizacionais das escolas. Vencer o
medo do imprevisível talvez seja a maior dificuldade. O debate aberto com todos os envolvidos
no processo educativo se torna fundamental. Pouco se tem feito neste aspecto, o que torna mais
complexo este processo. O que não pode é deixá-lo de lado como se viesse a reboque de todas as
outras mudanças.

     É necessário intensificar os diálogos, expor as diferenças, ou seja, vivenciar intensamente
cada etapa do processo, respeitando o momento de cada um em seu processo de desenvolvimento
para a autonomia, para a liberdade.

     Enfatizando este contexto, Benetti (1995, p. 31) anuncia o surgimento da sociedade do
conhecimento:

                                      [...] não podemos mais pensar como se fazia antigamente, que bastava sair
                                      da escola com o diploma que, profissionalmente, estava resolvido o nosso
                                      problema. Agora quem não estudar continuamente vai, a médio prazo
                                      perder seu emprego ou ser colocado à margem do trabalho. E,
                                      infelizmente, precisamos de cada vez mais educação, porque a quantidade
                                      de avanços tecnológicos, hoje em dia é fantástica. Nada dura muito tempo.
                                      O conhecimento está se renovando muito rapidamente [...].

     O autor afirma que a escola como agência detentora e promotora do saber, determinada e
determinante das relações sociais, formatada e formadora de valores e crenças sociais, precisa se
modernizar e buscar trazer para si perspectivas de mudanças que atendam aos novos anseios de
aprendizagem. Ou a escola se abre para as novas tecnologias, amplia as questões do
conhecimento, procura redefinir os papéis e as relações daqueles nela atuam, ou continuará sendo
um grande animal pré-histórico em plena era pós-moderna que não consegue se adaptar às
questões emergentes de mudanças.
De acordo com Garcia (1993), no mundo mecanicista, o trabalho do professor pode ser
caracterizado por duas fases distintas: a seleção e a exposição. Na primeira fase, o professor
seleciona o conteúdo, organiza, sistematiza didaticamente seu principal material de apoio: o livro
didático. Na segunda fase, há o contato direto com os alunos, o giz e a lousa são ferramentas
básicas das aulas expositivas, além da apresentação de conteúdo e realização de trabalhos
individuais. Os professores não levam em consideração fatores como: sucesso ou o fracasso da
aprendizagem de seus alunos, a ampliação da cultura dos mesmos, participação dos pais ou
responsáveis, estrutura da escola, função dos administradores da escola e políticas educacionais.

      Por isso, a sociedade educacional exige um novo perfil para os profissionais do ensino, com
capacidade para traçar estratégias, compreender, analisar, criticar, captar e interpretar a realidade
em função do conhecimento disponível em suportes diversos, especialmente os virtuais.

      Na opinião de Frank Moretti, diretor do Centro de Novas Mídias para o Ensino de
Aprendizagem da Universidade de Colúmbia, nos Estados Unidos o novo perfil do professor
deve ser o de: “Aprender com os jovens, buscar oportunidades para enxergar adiante e ser, acima
de tudo, humilde”. Essa afirmativa é justificada pela entrada maciça de novas tecnologias na sala
de aula, o que proporciona aos alunos o aprendizado das matérias por conta própria, diminuindo
assim a previsão do professor nas respostas às perguntas que supostamente o aluno não conhece.
O professor passa a ser um estrategista, um solucionador de problemas.

      Para Nevado (1997): “o uso pedagógico das novas tecnologias oferece a alunos e
professores a chance de poder esclarecer suas duvidas promovendo o estudo em grupo com
estudantes separados geograficamente, permitindo-lhes a discussão de temas do mesmo
interesse”.

      Através de novas tecnologias, o aluno sairá de seu isolamento e enriquecerá seus
conhecimentos de forma individual ou grupal. Poderá, ainda, fazer perguntas, manifestar idéias e
opiniões, fazer leituras mais globais, assumir a palavra, confrontar idéias e pensamentos e,
definitivamente, enxergar a sala de aula como algo diferente de um confinamento entre quatro
paredes. Isto significa que o uso de novas tecnologias ajudará a criar uma nova dinâmica
pedagógica interativa que por certo influenciará a construção da escola do futuro.
Conforme amplamente demonstrado, cabe à escola e aos educadores utilizar e
disponibilizar essas novas tecnologias educacionais para tornar os atos de aprendizagem mais
interativos, concretos e cooperativos.

      A pesquisa na área de informática educativa tem evoluído nos últimos anos, contudo tal
mercado ainda deixa um pouco a desejar.

      O uso do computador na educação brasileira, embora implantado de maneira gradual e
lenta, muito contribui para a educação em geral, desde a pré-escola até o ensino superior,
inclusive para a educação especial destinada aos portadores de deficiência.

      Teixeira (1997) esclarece que: “No Brasil, chegamos tarde à sociedade industrial e se isso
se repetir agora amargaremos séculos de atraso social”. Não teremos outro jeito a não ser recitar o
trágico epitáfio de Voltaire: “Quem não vive o espírito de seu tempo, vive apenas os males do seu
tempo”.
CONCLUSÃO

      Destes breves apontamentos, depreendem-se a extraordinária necessidade de valorizar o
docente enquanto elemento-chave na elaboração e consecução de ações teórico-reflexivas que
deverão ir além das regras, dos fatos, dos procedimentos e das teorias pré-estabelecidas pela
investigação científica.

      Para tanto, é imprescindível que se busquem ferramentas que, segundo Vygotsky (1987),
lhe possibilitem a reflexão na ação, no sentido de não somente aplicar técnicas já consagradas ou
métodos de pesquisa estandardizados, mas aprender a elaborar novas estratégias para seu fazer
pedagógico, novos rumos para a compreensão da realidade, enfim, novas perspectivas para
abordar, enfrentar e resolver problemas com que se depare.

      Não parece haver qualquer dúvida a respeito da cobrança que a sociedade faz em relação ao
professor: do muito que lhe é exigido e do pouco que lhe é ofertado em contrapartida. Exige-se
do docente uma postura profissional irrepreensível, atitudes equilibradas e democráticas para com
os alunos, coerência, segurança, conhecimentos abrangentes e habilidades pedagógicas ideais em
todo o contexto educativo, solicitando-se, taxativamente, maior cooperação e interação social
dentro e fora do âmbito escolar. Contudo, no mais das vezes, o docente tem que conviver em um
espaço social conturbado, pouco receptivo e bastante hostil, frente à iminência de negar sua
própria pessoa e dissociar-se de suas contingências vitais no desempenho de sua tarefa
educacional. Pergunta-se: Poderá ele viver na corda-bamba por ter que diuturnamente enfrentar
situações tão divergentes e conflitantes? Como manter-se emocional e afetivamente equilibrado?
Como fazer para conseguir tal objetivo?

      No entanto, felizmente, o desgaste e o estresse a que os docentes hodiernamente ainda são
submetidos não conseguiram afastá-los da convicção de que seus trabalhos são mais que um
dever: são escolhas feitas a partir da certeza de que são instrumentos fundamentais e decisivos na
modificação da sociedade e na construção de um presente e de um futuro melhores, através da
formação de cidadãos mais conscientes e críticos.

     Sem dúvidas, ainda há extensos e difíceis percursos a serem trilhados para que o
profissional docente seja adequadamente valorizado e respeitado. Por outro lado, temos a
convicção de que a docência é uma das tarefas mais dignas do ser humano e de que nela se pode
expressar plenamente a geratividade e o constante enriquecimento do saber. A docência é,
indubitavelmente, uma das mais completas e frutíferas formas de integração entre os indivíduos,
com incalculáveis repercussões na construção da sociedade do futuro.
REFERÊNCIAS

BAGNO, Marcos. Pesquisa na Escola: o que é, como se faz. 18. ed. São Paulo: Loyola, 2004.

BEHRENS, Marilda Aparecida. Paradigma da complexidade. Petrópoles: Vozes, 2006.

DEMO, Pedro. Certeza da incerteza: ambivalência do conhecimento e da vida. Brasília:
Plano, 2000.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários a prática educativa. 35. ed. São
Paulo: Paz e Terra, 2007.

HERNANDEZ, Ivane Calvo. ENRICONE, Delcia. GRILLO, Marlene. Ensino Revisão Crítica.
Porto Alegre: Sagra, 1988.

HESSEN, Johannes. Teoria do Conhecimento. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

HILTON, Japiassu. Nem Tudo é Relativo. A Questão da Verdade. São Paulo: Letras. & Letras,
2000.

HUSSERL, E. Idéias diretrizes. São Paulo, 1978.

LADRIÈRE, J. Filosofia e práxis cientifica. Rio de Janeiro, 1978.


LUCKMANN, Thomas; BERGER Peter L. A construção social da realidade. 26. ed. Rio de
Janeiro: Vozes, 2006.

ZILLES, Urbano. Teoria do Conhecimento. 5.ed. Porto Alegre: Edipucrs, 2006.

Más contenido relacionado

La actualidad más candente

Gefopi na teoria da indissociabilidade ensino, pesquisa e extensão
Gefopi na teoria da indissociabilidade ensino, pesquisa e extensãoGefopi na teoria da indissociabilidade ensino, pesquisa e extensão
Gefopi na teoria da indissociabilidade ensino, pesquisa e extensãoAndréa Kochhann
 
Pesquisando o ensino de ciências por investigação na educação básica utilizan...
Pesquisando o ensino de ciências por investigação na educação básica utilizan...Pesquisando o ensino de ciências por investigação na educação básica utilizan...
Pesquisando o ensino de ciências por investigação na educação básica utilizan...Ronaldo Santana
 
A aula de ciências nas séries iniciais do ensino fundamental ações que
A aula de ciências nas séries iniciais do ensino fundamental ações queA aula de ciências nas séries iniciais do ensino fundamental ações que
A aula de ciências nas séries iniciais do ensino fundamental ações quepibidbio
 
Formação de professor e o ensino de ciencias
Formação de professor e o ensino de cienciasFormação de professor e o ensino de ciencias
Formação de professor e o ensino de cienciasArminda Almeida da Rosa
 
Web caderno-4
Web caderno-4Web caderno-4
Web caderno-4luci96
 
Historia da ciencia no ensino medio
Historia da ciencia no ensino medioHistoria da ciencia no ensino medio
Historia da ciencia no ensino medioFabiano Antunes
 
Apresentação paradigmas
Apresentação paradigmas Apresentação paradigmas
Apresentação paradigmas Claudio Oliveira
 
Pratica e ensino de ciencia marandino
Pratica e ensino de ciencia   marandinoPratica e ensino de ciencia   marandino
Pratica e ensino de ciencia marandinoryanfilho
 
áReas de conhecimento e integração curricular
áReas de conhecimento e integração curricularáReas de conhecimento e integração curricular
áReas de conhecimento e integração curricularEdna Mattos
 
Doc dsc nome_arqui20170612151541
Doc dsc nome_arqui20170612151541Doc dsc nome_arqui20170612151541
Doc dsc nome_arqui20170612151541Evandro Brandão
 
Formação docente ciencias e biologia
Formação docente ciencias e biologiaFormação docente ciencias e biologia
Formação docente ciencias e biologiaMary Carneiro Rezende
 
O professor, seu saber, sua pesquisa menga ludke
O professor, seu saber, sua pesquisa menga ludkeO professor, seu saber, sua pesquisa menga ludke
O professor, seu saber, sua pesquisa menga ludkeJéssica Rodrigues'
 
Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia no Brasil: Legiti...
Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia no Brasil: Legiti...Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia no Brasil: Legiti...
Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia no Brasil: Legiti...Solange Soares
 
Realidade do ensino por investigação na práxis dos professores dos anos inici...
Realidade do ensino por investigação na práxis dos professores dos anos inici...Realidade do ensino por investigação na práxis dos professores dos anos inici...
Realidade do ensino por investigação na práxis dos professores dos anos inici...Ronaldo Santana
 
Pedagogia (modulo ii) Ética profissional docente e gestão de conflitos na sal...
Pedagogia (modulo ii) Ética profissional docente e gestão de conflitos na sal...Pedagogia (modulo ii) Ética profissional docente e gestão de conflitos na sal...
Pedagogia (modulo ii) Ética profissional docente e gestão de conflitos na sal...WadanoHelerNatxariWa
 
41 a historia-da-ciencia-no-ensino-da-termodinamica-revisado
41 a historia-da-ciencia-no-ensino-da-termodinamica-revisado41 a historia-da-ciencia-no-ensino-da-termodinamica-revisado
41 a historia-da-ciencia-no-ensino-da-termodinamica-revisadoFabiano Antunes
 
RESENHA CRÍTICA - EAD: entre os marcos conceituais e históricos e a represent...
RESENHA CRÍTICA - EAD: entre os marcos conceituais e históricos e a represent...RESENHA CRÍTICA - EAD: entre os marcos conceituais e históricos e a represent...
RESENHA CRÍTICA - EAD: entre os marcos conceituais e históricos e a represent...Everton Renaud
 
Ensino de química por meio de atividades
Ensino de química por meio de atividadesEnsino de química por meio de atividades
Ensino de química por meio de atividadesaleciam18
 

La actualidad más candente (20)

Gefopi na teoria da indissociabilidade ensino, pesquisa e extensão
Gefopi na teoria da indissociabilidade ensino, pesquisa e extensãoGefopi na teoria da indissociabilidade ensino, pesquisa e extensão
Gefopi na teoria da indissociabilidade ensino, pesquisa e extensão
 
Pesquisando o ensino de ciências por investigação na educação básica utilizan...
Pesquisando o ensino de ciências por investigação na educação básica utilizan...Pesquisando o ensino de ciências por investigação na educação básica utilizan...
Pesquisando o ensino de ciências por investigação na educação básica utilizan...
 
A aula de ciências nas séries iniciais do ensino fundamental ações que
A aula de ciências nas séries iniciais do ensino fundamental ações queA aula de ciências nas séries iniciais do ensino fundamental ações que
A aula de ciências nas séries iniciais do ensino fundamental ações que
 
Formação de professor e o ensino de ciencias
Formação de professor e o ensino de cienciasFormação de professor e o ensino de ciencias
Formação de professor e o ensino de ciencias
 
Fundamentos e Metodologia de Ciencias
Fundamentos e Metodologia de CienciasFundamentos e Metodologia de Ciencias
Fundamentos e Metodologia de Ciencias
 
Web caderno-4
Web caderno-4Web caderno-4
Web caderno-4
 
Historia da ciencia no ensino medio
Historia da ciencia no ensino medioHistoria da ciencia no ensino medio
Historia da ciencia no ensino medio
 
Apresentação paradigmas
Apresentação paradigmas Apresentação paradigmas
Apresentação paradigmas
 
Prof reflexivo alarcao01
Prof reflexivo   alarcao01Prof reflexivo   alarcao01
Prof reflexivo alarcao01
 
Pratica e ensino de ciencia marandino
Pratica e ensino de ciencia   marandinoPratica e ensino de ciencia   marandino
Pratica e ensino de ciencia marandino
 
áReas de conhecimento e integração curricular
áReas de conhecimento e integração curricularáReas de conhecimento e integração curricular
áReas de conhecimento e integração curricular
 
Doc dsc nome_arqui20170612151541
Doc dsc nome_arqui20170612151541Doc dsc nome_arqui20170612151541
Doc dsc nome_arqui20170612151541
 
Formação docente ciencias e biologia
Formação docente ciencias e biologiaFormação docente ciencias e biologia
Formação docente ciencias e biologia
 
O professor, seu saber, sua pesquisa menga ludke
O professor, seu saber, sua pesquisa menga ludkeO professor, seu saber, sua pesquisa menga ludke
O professor, seu saber, sua pesquisa menga ludke
 
Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia no Brasil: Legiti...
Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia no Brasil: Legiti...Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia no Brasil: Legiti...
Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia no Brasil: Legiti...
 
Realidade do ensino por investigação na práxis dos professores dos anos inici...
Realidade do ensino por investigação na práxis dos professores dos anos inici...Realidade do ensino por investigação na práxis dos professores dos anos inici...
Realidade do ensino por investigação na práxis dos professores dos anos inici...
 
Pedagogia (modulo ii) Ética profissional docente e gestão de conflitos na sal...
Pedagogia (modulo ii) Ética profissional docente e gestão de conflitos na sal...Pedagogia (modulo ii) Ética profissional docente e gestão de conflitos na sal...
Pedagogia (modulo ii) Ética profissional docente e gestão de conflitos na sal...
 
41 a historia-da-ciencia-no-ensino-da-termodinamica-revisado
41 a historia-da-ciencia-no-ensino-da-termodinamica-revisado41 a historia-da-ciencia-no-ensino-da-termodinamica-revisado
41 a historia-da-ciencia-no-ensino-da-termodinamica-revisado
 
RESENHA CRÍTICA - EAD: entre os marcos conceituais e históricos e a represent...
RESENHA CRÍTICA - EAD: entre os marcos conceituais e históricos e a represent...RESENHA CRÍTICA - EAD: entre os marcos conceituais e históricos e a represent...
RESENHA CRÍTICA - EAD: entre os marcos conceituais e históricos e a represent...
 
Ensino de química por meio de atividades
Ensino de química por meio de atividadesEnsino de química por meio de atividades
Ensino de química por meio de atividades
 

Similar a A utilização da sala de aula como local de pesquisa

PESQUISA E EDUCAÇÃO: REFLETINDO A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA CIENTÍFICA NO CAMPO...
PESQUISA E EDUCAÇÃO: REFLETINDO A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA CIENTÍFICA NO CAMPO...PESQUISA E EDUCAÇÃO: REFLETINDO A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA CIENTÍFICA NO CAMPO...
PESQUISA E EDUCAÇÃO: REFLETINDO A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA CIENTÍFICA NO CAMPO...Tamiris Cerqueira
 
A pesquisa como instrumento de ensino
A pesquisa como instrumento de ensinoA pesquisa como instrumento de ensino
A pesquisa como instrumento de ensinoalcanceassessoria
 
Gre – sertão do alto pajeú
Gre – sertão do alto pajeúGre – sertão do alto pajeú
Gre – sertão do alto pajeúMascleide Lima
 
50218032 modulo-mtc-2011-ivana-schnitman
50218032 modulo-mtc-2011-ivana-schnitman50218032 modulo-mtc-2011-ivana-schnitman
50218032 modulo-mtc-2011-ivana-schnitmanHidematuda
 
Marie Skłodowska Curie - Episódios de Ensino: Contribuições ao Ensino de Ciên...
Marie Skłodowska Curie - Episódios de Ensino: Contribuições ao Ensino de Ciên...Marie Skłodowska Curie - Episódios de Ensino: Contribuições ao Ensino de Ciên...
Marie Skłodowska Curie - Episódios de Ensino: Contribuições ao Ensino de Ciên...Karoline dos Santos Tarnowski
 
Metodologia da pesquisa em ciências da educação
Metodologia da pesquisa em ciências da educação Metodologia da pesquisa em ciências da educação
Metodologia da pesquisa em ciências da educação Patrícia Éderson Dias
 
PESQUISA EDUCACIONAL ENTRE CONHECIMENTOS, POLÍTICAS E PRÁTICAS: ESPECIFICIDAD...
PESQUISA EDUCACIONAL ENTRE CONHECIMENTOS, POLÍTICAS E PRÁTICAS: ESPECIFICIDAD...PESQUISA EDUCACIONAL ENTRE CONHECIMENTOS, POLÍTICAS E PRÁTICAS: ESPECIFICIDAD...
PESQUISA EDUCACIONAL ENTRE CONHECIMENTOS, POLÍTICAS E PRÁTICAS: ESPECIFICIDAD...Jeaninerodermel1
 
Portfolio prática morfofisio final
Portfolio prática  morfofisio finalPortfolio prática  morfofisio final
Portfolio prática morfofisio finalRegis Ferreira
 
Artigo científico a pesquisa como meio emancipatório no processo de expansã...
Artigo científico   a pesquisa como meio emancipatório no processo de expansã...Artigo científico   a pesquisa como meio emancipatório no processo de expansã...
Artigo científico a pesquisa como meio emancipatório no processo de expansã...Larissa Thaís
 
Sociologia filosofia-e-lingua-portugues fael
Sociologia filosofia-e-lingua-portugues faelSociologia filosofia-e-lingua-portugues fael
Sociologia filosofia-e-lingua-portugues faelLuiz Carlos Silva
 
Pesquisa, princípio científco e educativo
Pesquisa, princípio científco e educativoPesquisa, princípio científco e educativo
Pesquisa, princípio científco e educativoKatiucef
 
Slide share pesquisa, princípio científco e educativo
Slide share pesquisa, princípio científco e educativoSlide share pesquisa, princípio científco e educativo
Slide share pesquisa, princípio científco e educativoKatiucef
 
Trabalho cooperativo e coordenado. Entrevista com Jurjo Torres Santomé
Trabalho cooperativo e coordenado. Entrevista com Jurjo Torres SantoméTrabalho cooperativo e coordenado. Entrevista com Jurjo Torres Santomé
Trabalho cooperativo e coordenado. Entrevista com Jurjo Torres SantoméJurjo Torres Santomé
 
Psicologia-da-Educacao-e-da-Aprendizagem-1-Copia-1.pdf
Psicologia-da-Educacao-e-da-Aprendizagem-1-Copia-1.pdfPsicologia-da-Educacao-e-da-Aprendizagem-1-Copia-1.pdf
Psicologia-da-Educacao-e-da-Aprendizagem-1-Copia-1.pdfDaylanneBrando
 

Similar a A utilização da sala de aula como local de pesquisa (20)

PESQUISA E EDUCAÇÃO: REFLETINDO A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA CIENTÍFICA NO CAMPO...
PESQUISA E EDUCAÇÃO: REFLETINDO A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA CIENTÍFICA NO CAMPO...PESQUISA E EDUCAÇÃO: REFLETINDO A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA CIENTÍFICA NO CAMPO...
PESQUISA E EDUCAÇÃO: REFLETINDO A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA CIENTÍFICA NO CAMPO...
 
A pesquisa como instrumento de ensino
A pesquisa como instrumento de ensinoA pesquisa como instrumento de ensino
A pesquisa como instrumento de ensino
 
Gre – sertão do alto pajeú
Gre – sertão do alto pajeúGre – sertão do alto pajeú
Gre – sertão do alto pajeú
 
Pacto caderno ciencias da natureza
Pacto caderno ciencias da natureza Pacto caderno ciencias da natureza
Pacto caderno ciencias da natureza
 
50218032 modulo-mtc-2011-ivana-schnitman
50218032 modulo-mtc-2011-ivana-schnitman50218032 modulo-mtc-2011-ivana-schnitman
50218032 modulo-mtc-2011-ivana-schnitman
 
Ctsa Eja 4
Ctsa Eja 4Ctsa Eja 4
Ctsa Eja 4
 
Marie Skłodowska Curie - Episódios de Ensino: Contribuições ao Ensino de Ciên...
Marie Skłodowska Curie - Episódios de Ensino: Contribuições ao Ensino de Ciên...Marie Skłodowska Curie - Episódios de Ensino: Contribuições ao Ensino de Ciên...
Marie Skłodowska Curie - Episódios de Ensino: Contribuições ao Ensino de Ciên...
 
Metodologia da pesquisa em ciências da educação
Metodologia da pesquisa em ciências da educação Metodologia da pesquisa em ciências da educação
Metodologia da pesquisa em ciências da educação
 
PESQUISA EDUCACIONAL ENTRE CONHECIMENTOS, POLÍTICAS E PRÁTICAS: ESPECIFICIDAD...
PESQUISA EDUCACIONAL ENTRE CONHECIMENTOS, POLÍTICAS E PRÁTICAS: ESPECIFICIDAD...PESQUISA EDUCACIONAL ENTRE CONHECIMENTOS, POLÍTICAS E PRÁTICAS: ESPECIFICIDAD...
PESQUISA EDUCACIONAL ENTRE CONHECIMENTOS, POLÍTICAS E PRÁTICAS: ESPECIFICIDAD...
 
Portfolio prática morfofisio final
Portfolio prática  morfofisio finalPortfolio prática  morfofisio final
Portfolio prática morfofisio final
 
Artigo científico a pesquisa como meio emancipatório no processo de expansã...
Artigo científico   a pesquisa como meio emancipatório no processo de expansã...Artigo científico   a pesquisa como meio emancipatório no processo de expansã...
Artigo científico a pesquisa como meio emancipatório no processo de expansã...
 
Sociologia filosofia-e-lingua-portugues fael
Sociologia filosofia-e-lingua-portugues faelSociologia filosofia-e-lingua-portugues fael
Sociologia filosofia-e-lingua-portugues fael
 
Apresentação1
Apresentação1Apresentação1
Apresentação1
 
Pesquisa, princípio científco e educativo
Pesquisa, princípio científco e educativoPesquisa, princípio científco e educativo
Pesquisa, princípio científco e educativo
 
Slide share pesquisa, princípio científco e educativo
Slide share pesquisa, princípio científco e educativoSlide share pesquisa, princípio científco e educativo
Slide share pesquisa, princípio científco e educativo
 
Pesquisa
PesquisaPesquisa
Pesquisa
 
Trabalho cooperativo e coordenado. Entrevista com Jurjo Torres Santomé
Trabalho cooperativo e coordenado. Entrevista com Jurjo Torres SantoméTrabalho cooperativo e coordenado. Entrevista com Jurjo Torres Santomé
Trabalho cooperativo e coordenado. Entrevista com Jurjo Torres Santomé
 
Psicologia-da-Educacao-e-da-Aprendizagem-1-Copia-1.pdf
Psicologia-da-Educacao-e-da-Aprendizagem-1-Copia-1.pdfPsicologia-da-Educacao-e-da-Aprendizagem-1-Copia-1.pdf
Psicologia-da-Educacao-e-da-Aprendizagem-1-Copia-1.pdf
 
DESAFIOS DA EDUCAÇÃO.pdf
DESAFIOS DA EDUCAÇÃO.pdfDESAFIOS DA EDUCAÇÃO.pdf
DESAFIOS DA EDUCAÇÃO.pdf
 
DESAFIOS DA EDUCAÇÃO.pdf
DESAFIOS DA EDUCAÇÃO.pdfDESAFIOS DA EDUCAÇÃO.pdf
DESAFIOS DA EDUCAÇÃO.pdf
 

A utilização da sala de aula como local de pesquisa

  • 1. FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA – UNIFOR CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO EM DIREITO MESTRADO EM DIREITO CONSTITUCIONAL DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR PROFESSOR: ROSENDO A UTILIZAÇÃO DA SALA DE AULA COMO LOCAL DE PESQUISA Francisco José Gomes da Silva Matrícula nº 0724518-1 Fortaleza - CE Junho, 2008
  • 2. SUMÁRIO Introdução..................................................................................................................... 00 1 O educar para a Pesquisa............................................................................................ 00 2 A Humanização da Ação Pedagógica......................................................................... 00 3 A Superação da Educação Bancária............................................................................ 00 4 A Dialogicidade nos cursos de Direito....................................................................... 00 5 A Influência da Tecnologia na Educação Contemporânea......................................... 00 6 Metodologia ............................................................................................................... 00 Conclusão....................................................................................................................... 00 Referências..................................................................................................................... 00
  • 3. INTRODUÇÃO O trabalho ora me tela tem por escopo apresentar a nova realidade do aprendizado em sala de aula. A modernidade atingiu de forma rápida os bancos escolares e acadêmicos deixando ultrapassado o sistema de ensino de outrora, que consistia apenas em ensinamentos orais entre mestres e alunos. Atualmente, o desenvolvimento tecnológico oportunizou a melhoria do ensino com estudos virtuais, debates on line, realização de experiências e observação de fenômenos em tempo real. Essas novas técnicas solucionam um problema deveras antigo, que era o marasmo das técnicas de repetição utilizadas em salas de aulas. Hodiernamente as discussões enriquecem de sobremaneira o entendimento dos alunos, pois é possível absorver opiniões de inúmeras pessoas sobre um mesmo fato, com observações e análises distintas, de acordo com o cotidiano de cada um, o que proporciona a disseminação da cultura e a aproximação dos conhecimentos da realidade que os cercam. Desse modo, pretende-se elaborar um estudo demonstrando a potencialidade da sala de aula como um espaço físico e material a ser aproveitado para pesquisas no ensino superior, em particular, no ensino jurídico. A aprendizagem universitária pressupõe, por parte do aluno, a aquisição e o domínio de conhecimentos, métodos e técnicas científicas de forma crítica. Faz parte dessa aprendizagem adquirir progressiva autonomia na aquisição de conhecimentos, para que se tornem capazes de refletir, optar, comparar, pesquisar e emitir opiniões. Através da pesquisa, o aluno começa a se co-responsabilizar por buscar informações, a aprender a localizá-las, a analisá-las, a relacionar novos dados com os anteriores, a estabelecer parâmetros, registros, trabalhos com novos dados e a redigir conclusões a fim de solucionar problemas. Nesta situação, a aprendizagem se torna cada vez mais significativa para o aprendiz. O novo modelo de sala de aula, com disponibilização de recursos de multimídia, internet, audiovisual, dentre outras ferramentas que despertam o interesse do aluno, certamente capacitará
  • 4. de forma melhor os estudantes. Desta forma, a pesquisa levará ao diálogo crítico e criativo com a realidade, desenvolvendo a elaboração própria e a capacidade de intervenção. Pesquisar em educação é um princípio educativo-científico, exige competência. Pesquisa não é cópia. Ela deve ser encarada como produção através do que foi lido, refletido, comparado e selecionado. É fundamental que na sala de aula haja métodos que “ensinem” a pesquisar. A Universidade é o campo do pesquisador, pois lá estão disponíveis as ferramentas para o aluno buscar o que lhe parecer de melhor para unir a teoria e a prática.
  • 5. 1 O EDUCAR PARA A PESQUISA Iniciaremos o presente tópico destacando os ensinamentos do professor Lucke et al (1991, p. __) no tocante a educação e pesquisa: A pesquisar não se restringe a seus aspectos sofisticados mais conhecidos, que supõe domínio de instrumentações pouco acessíveis. Também não significa apenas esforço teórico, mera descoberta de lógicas e sistemas, simples experimentações laboratoriais. Ainda, não se esgota em ritos tipicamente acadêmicos com se fosse atividades exclusivas. Em primeiro lugar, pesquisa significa diálogo crítico, criativo e dinâmico com a realidade, culminando na elaboração própria e na capacidade de intervenção. Em tese, pesquisa é a atitude do “aprender a aprender” e, como tal, faz parte de todo o processo educativo e emancipatório que deve ser estimulado desde o pré-escolar até os estudos mais profundos da pós–graduação. Quanto ao estágio escolar inicial à pesquisa tem um caráter interativo, explora os questionamentos e desenvolve construções alternativas de conhecimento. O segundo estágio de estudo é mais avançado, vai além dos questionamentos e suposições; nessa seara de conhecimento deve-se buscar apoio científico para fundamentar as novas descobertas. Podemos colocar isto mal ao insinuar que pesquisa pode ser “qualquer coisa”, recaindo no lado oposto da extrema sofisticação. Não é o caso, pois estamos nos movimentando no espaço típico da qualidade formal e política, não de qualquer coisa. Pesquisa, tanto como princípio científico quanto educativo, exige profunda competência e renovação incessante. Em segundo lugar, a pesquisa fundamenta o ensino e evita que este seja um simples repasse de cópias. Ensinar perpetua a função da escola e da universidade, mas não se pode mais tomar como ação auto-suficiente. Quem pesquisa tem o que ensinar; deve, pois, ensinar a produzir e não a copiar. Quem não pesquisa nada tem a ensinar, pois apenas ensina a copiar. Em terceiro lugar, a pesquisa aponta para a direção correta da aprendizagem, que deve ser elevada a “aprender a aprender”. Aprender é uma necessidade vital, de ordem instrumental, mas a emancipação se processa pelo aprender a aprender. É fundamental, portanto, “ensinar” a pesquisar, ou seja, superar a mera aprendizagem, sempre que possível. No fundo, só aprende quem aprende a aprender. Tanto a escola quanto a universidade não buscam o aprendiz, mas o pesquisador ou o mestre capaz de produzir projetos próprios.
  • 6. Em quarto lugar, a pesquisa acolhe na mesma dignidade teoria e prática, desde que se trate de dialogar com a realidade. Cada processo concreto de pesquisa pode acentuar mais teoria ou prática; pode interessar-se mais pelo conhecimento ou pela intervenção; pode insistir mais em forma ou em política. Todavia, como processo completo, toda teoria precisa confrontar-se com a prática e toda prática precisa retornar a teoria. É preciso rever e repensar, portanto, os paradigmas que norteiam o atual ensino jurídico pátrio, sob pena de formação de profissionais sem a necessária competência. Despertar para esse problema é evitar a vitória do descaso dentro das universidades brasileiras. O papel dos antigos professores e suas técnicas de repetição para proporcionar o aprendizado foi superado pelo tempo e, principalmente, pela omissão sobre o papel ético-jurídico que é chamado de um jurista. Deve ser feita uma maior conscientização dos estudantes sobre a importância do ensino, também é preciso que eles sejam avaliados por meio de pesquisas, trabalhos, debates e provas a respeito de suas descobertas e conhecimentos. O ensino-aprendizagem no campo jurídico é muito amplo e prima facie supera o mero apego ao positivismo legal e ao estudo de suas lacunas. De outra forma, dentre tantas criações humanas, a argumentação e a hermenêutica, por exemplo, de longa data discursada por Aristóteles (cfe. Perelmann, Viehweg, Alexy, Dworkin etc…), que nos legou uma forma de pensar e refletir os problemas que, em suma, representa não apenas uma mera teoria, mas uma reflexão sobre a práxis e a "capacidade de um contato compreensivo com os homens" (Gadamer), são tônicas que se coadunam com as ferramentas naturais do ser humano e que deveriam retomar um lugar seguro nas grades curriculares. Infelizmente, ousamos apenas reproduzir o que já se encontra em outros programas aplicáveis a outros ambientes e a outras propostas. A ciência humana em sua essência propicia oportunidades participativas e democráticas sem desprezar os limites ou podar as contribuições de cada elemento do processo ensino- aprendizagem, torna possível compreender, refletir, pensar e respirar como um ser humano, biológica e afetivamente como um ser factível que é, sem desprezar o seu meio e o seu mundo. Daí poder dizer-se que o ensino–aprendizagem se torna cada vez mais interativo. O arbítrio ficará mais arejado, partindo-se de um ponto real e não de meras imposições teorias, “sorrisos irônicos e até mordazes”, como adverte o doutrinador Reale (0000, p. 00), quando se refere à arte como
  • 7. requisito para a formação de um jurista, tornar-se-ão frutos apenas de preconceitos e inseguranças da ignorância. Com efeito, adicionados os ideais pautados no Princípio de Evitabilidade de Conflitos, volta-se para uma concepção de prevenção de conflitos, ou seja, para o desenvolvimento científico de “pré-soluções para inexistência de controvérsias” em eventuais questões sócio - jurídicas, embora possa parecer algo de inovador não o é. A composição, a autocomposição e a mediação são técnicas aplicadas antes do nascimento da lide que já demonstraram a possibilidade de uma pré-solução de pré-conflitos, com finalidade maior de não se alcançar a “zona de conflitos”. Machiavel ensinou que: “Guerra existe, se existente o guerreiro com animus de guerrear. Paz, de outra banda, reinará se inexistente aquele sujeito com aquela vontade ou por pura convivência entre pacíficos”. Dá para imaginar as conseqüências trágicas, quando, em caso de guerra, o guerreiro se utiliza de suas características enquanto ser pensante e elege seus ideais, pelos quais acredita para justificar a batalha, com intuito único de atingir o seu fim. Logo, contrariamente aos ensinamentos da atual vertente, parte-se hoje da mesma premissa com que se criam normas, porque se sabe que certamente alguém irá burlá-las ou pelo menos, num segundo momento, violá-la. De qualquer forma, surgirá um conflito e o operador do direito preparado academicamente tão somente para este momento surge para resolvê-lo. Ademais, para incentivar ações e idéias antecipatórias não devemos esquecer a estampa educacional das lições de Paulo Freire na relação docente-discente, in verbis: “não há educação sem amor. O amor implica luta contra o egoísmo. Quem não é capaz de amar os seres inacabados não pode educar. Não há educação imposta, como não há amor imposto. Quem não ama não compreende o próximo, não o respeita”. Assim, “humanizar o ensino jurídico” se impõe como uma necessidade. Os reflexos são inevitáveis. Banir a frieza das leis, a começar pelos próprios operadores do direito, não significa desprezar o sistema jus positivista (vigente em nosso meio), quer dizer atender aos verdadeiros preceitos ético-jurídicos, doravante e principalmente pelos novos juristas, que devem primar pela paz social, fraternidade e justiça entre os homens.
  • 8. O direito é o sustentáculo da sociedade e seus operadores devem ter ciência de que o conhecimento resulta do estudo, sem o estudo não se aplicam as normas como se deve. Dessa forma, a justiça não é feita e a sociedade poderá vir a trocar sua organização pela anarquia, refugando a tão necessária figura do Estado Democrático de Direito. Por derradeiro, é sempre salutar rememorar as palavras do altissonante Francesco Carnelutti: “se o pintor não ama seu modelo o retrato nada vale, e se o juiz não ama o indiciado em vão pensa poder alcançar justiça”. Diante do exposto, resta demonstrado que urge nos cursos jurídicos em geral uma reforma para promover a valorização do ensino e uma nova postura para o estudante de direito. Este deve direcionar seus estudos com atenção aos princípios, às normas e, principalmente, às inovações legislativas, tudo para que haja dinâmica em sua aprendizagem e facilitação em sua atuação, o que proporcionará uma sociedade mais justa, fraterna e ética. 2 A HUMANIZAÇÃO DA AÇÃO PEDAGÓGICA Paulo Freire, em sua obra Pedagogia do Oprimido, discutiu a questão da “vocação” e da “desumanização”. Para o professor a “vocação” humanitária individual no sentido do “eu” que busca respostas para solucionar seus problemas visa alcançar a cidadania, a justiça, o “ser mais” e, por que não dizer, a própria felicidade, como realização pessoal e coletiva. A “desumanização” consiste no “ser menos”, como antítese do pensamento anteriormente descrito, no sentido de opressão e injustiça. A questão da “vocação” e da “desumanização” apresenta-se como uma dialética humana verificada por Freud, na obra Mal-estar da Civilização, entre um “criar” e um “instinto de destruição”, que prevalece nos caminhos da sociedade contemporânea belicista, apesar dos avanços consciências já obtidos. No ensino jurídico, tal dialética pode ser verificada em situações nas quais tanto discentes como docentes se apresentam em posições opostas, ora humanizados, ora como desumanizados.
  • 9. A antítese é bem delimitada pelo processo de ensino que acaba por transformar vocações e ideais em um discurso racional falsamente neutro, dogmático e tecnicista, cuja existência somente se justifica para a manutenção de privilégios e desigualdades sociais seculares. Dentro desse contexto, as faculdades, em sua maioria, passam a ser representantes de um pensamento unívoco de mercado, mantendo os perfis dos futuros profissionais dentro de um modelo que reproduz os mesmos valores tradicionais surgidos no Liberalismo nos futuros detentores da função de operacionalizar a Jurisdição. Verifica-se aí um ciclo vicioso a indicar o caminho enviesado a seguir: uma postura dogmática e tradicional dos docentes e uma formação direcionada aos discentes em favor de um contexto excludente de mercado, díspar da realidade social. Uma possível resposta na tentativa de minimizar tais antagonismos está na instauração de uma pedagogia jurídica conscientizadora, que visa formar uma nova racionalidade tendente a influenciar a estrutura econômica da sociedade, partindo da premissa da tutela dos Direitos Humanos. Esse processo educativo pressupõe críticas teóricas, mas também efetiva interação com a realidade. Isso se faz pela conjugação do ensino e da pesquisa com a extensão, cujo efeito maior é a saída do mundo das idéias dos bancos escolares em busca do enfrentamento da realidade, verificado na práxis do arrostamento de problemas sociais. Humanização ocasionada pelo impacto que a realidade produz como embasamento da teoria, fazendo a todos, docentes e discentes, visualizarem-se como responsáveis pelo presente e futuro da sociedade. Desse modo, uma metodologia de intervenção deve gerar condições para uma mudança individual na percepção dos discursos da racionalidade jurídica em face de seus conflitos reais com a efetiva aplicabilidade dos Direitos Humanos. Daí se pensar nas possibilidades de atuação de um grupo de estudos capaz de formar operadores do Direito com “vocação” para as responsabilidades e missões sociais, ou, ao menos, com a noção de que as salas de aula podem significar uma caricatura mal acabada da realidade social brasileira. 3 A SUPERAÇÃO DA EDUCAÇÃO BANCÁRIA
  • 10. Paulo Freire caracteriza a “educação bancária” como o procedimento metodológico de ensino que privilegia o ato de repetição e memorização do conteúdo ensinado. Assim, o docente, por meio de aulas expositivas, “deposita” na cabeça do aluno conceitos que serão exigidos posteriormente em avaliações, quando então obterá o “extrato” daquilo que foi “depositado”. A afirmação da predominância da “educação bancária” no ensino jurídico deve ser vista com seriedade. Tal análise se faz a partir da constatação do excesso de teoria que circunda as salas de aula das Faculdades de Direito. Questionar, negar a legitimidade das estruturas jurídicas arcaicas não é algo possível na “educação bancária”, pois, pelo ensino tradicional, meramente expositivo, cabe ao aluno apenas assimilar a realidade teórica transmitida pelo professor. Memorizar e repetir são as saídas possíveis, já que serão essas as atividades mentais a serem exigidas nas avaliações, usualmente caracterizadas como “provas”. Mantida a prevalência das aulas expositivas como procedimento didático-pedagógico, muito pouco se pode fazer para alterar o atual estado das coisas em matéria de ensino jurídico, pois tais perfis de competências e habilidades são referenciais inadequados à formação profissional competente para atender às demandas sociais atuais. Segundo Paulo Freire, essa estrutura expositiva é capaz de reduzir o ensino a algo insubsistente, muito aquém da possibilitar de uma efetividade do processo de ensino e da aprendizagem em face do mundo real. Nesse sentido, regras jurídicas potencialmente injustas ou até tecnicamente incorretas (inconstitucionais), por vezes contrárias aos interesses da maioria da população, têm sua racionalidade e aceitação reproduzida nos cenários das salas de aula através dos discursos recriados nas transmissões dos docentes. Como exemplo, o que dizer da validação jurídica das ditaduras? Criam-se, daí, como se pode pressupor, profissionais “bancários” do Direito, com atuações centradas nas racionalidades jurídicas assimiladas na academia. A antítese a esse estado de coisas inicia-se com a exigência da presença de um docente com perfil de agente humanizador, apto a utilizar conteúdos e metodologias de ensino sensíveis às transformações culturais e às novas demandas sociais existentes. Isso é necessário porque se deve
  • 11. levar em consideração que o docente de hoje nada mais é do que o aluno do ensino jurídico de ontem, potencialmente educado mediante a utilização de aulas expositivas “bancárias”. 4 A DIALOGICIDADE NOS CURSOS DE DIREITO Dialogicidade, segundo Paulo Freire, está em permitir aos alunos agir e refletir sobre a ação pedagógica realizada, diferente de um mero refletir exclusivo da mente do professor. Aí se chega à práxis, ou a “teoria do fazer”, com ação e reflexão simultâneas e recíprocas. O diálogo ganha importância ao permitir a liberdade de expressão, ao conceder aos participantes do processo de ensino e aprendizagem o controle da ação. Dialogar para refletir, dizer para construir seu entendimento. Não há como questionar sem diálogo, pois monólogo significa imposição do conhecimento. Dialogar significa expor-se em público, combater a imposição de conteúdos e ajustar coletivamente a compreensão dialética do conhecimento problematizado, por novas vias de esclarecimento. Dialogar no Ensino Jurídico é necessário e viável. Discutir teses doutrinárias; enfrentar jurisprudências conflitantes; questionar leis com base em princípios constitucionais e humanitários; sugerir e investigar novas abordagens; é algo acessível ao professor do Direito. Não se trata de o próprio professor apresentar o questionamento e sua solução, trata-se de permitir ao aluno, individualmente ou em grupo, buscar a resolução do conflito, constituindo criativamente soluções. Em via adversa, a ação antidialógica dos professores restaria como paradigma da estrutura tradicional imposta, no sentido de conduzir a aprendizagem dos alunos à repetição e à memorização de conceitos preconcebidos sobre a realidade jurídica e social, a qual também lhe foi posta durante sua formação. A mudança para a ação docente dialógica está na adoção do lema cooperação em sala de aula, na qual o professor deixa o seu papel de propagandista de regras jurídicas e passa a desempenhar, lado a lado com seus alunos, uma parceria transformadora da sociedade, na revisão do sentido de suas regras. Nesse processo, a interação e a cooperação entre professor e alunos são fundamentais para o desenvolvimento das atividades de ensino dialógicas. Se na abordagem
  • 12. tradicional ou “educação bancária” o professor se coloca em um pedestal de autoridade afastando-se do contado direto com os alunos, na abordagem pedagógica crítica esse contato não pode mais ser evitado. Com essa mudança, o professor dialógico passa acompanhar o desenvolvimento da história educacional dos alunos. Aqui surge o ponto de rompimento com a tradicional escola jurídica, das aulas magistrais ou expositivas. O surgimento do processo pedagógico dialógico, senão novo, ao menos é mais democrático, no qual o professor não é o operador do direito, mas o educador de fato. Ele tem o dever de garantir aos alunos o máximo de acesso eficaz e crítico ao conhecimento proposto no conteúdo programático, alicerçado na realidade existencial do grupo e nos seus pontos fortes individualizados. Outra ação dialógica a ser adotada está na organização profissional da atividade pedagógica. A organização tem início com a preparação do conteúdo programático a ser ministrado no ano, semestre, bimestre, mês, aula, e finda com o feedback reprogramático das avaliações realizadas. Caracteriza um processo cíclico de auto e heteroconhecimento, obtido por meio de avaliações, capaz de orientar o professor a conhecer as aptidões de seus alunos. O início da ação dialógica organizadora se dá antes do contato entre professor e aluno, e depende da escolha de opções para o conteúdo programático a ser debatido com os alunos. Opções de conteúdo não devem só permitir aos alunos pensar criticamente sobre o estudo no semestre ou ano letivo, mas também estar de acordo com sua percepção da realidade. Ou seja, eleger um conteúdo programático sob a forma de uma pedagogia crítica requer a dialogicidade da dialogicidade, na montagem cooperativa dos conteúdos a serem objeto de futuro diálogo em sala de aula. Um exemplo bem sucedido de investigação para a elaboração de um conteúdo programático seria aquele em que se leva em consideração, por meio de questionários, entrevistas, dissertações, a realidade daquele determinado grupo de alunos, sempre focando a aprendizagem em tópicos correlacionados com a base vivencial em que estão situados. Quanto ao processo de avaliação na pedagogia crítica de Paulo Freire, a avaliação escolar tem um significado diverso daquele verificado na "educação bancária" tradicional dos cursos de
  • 13. Direito. Aqui, a avaliação é diagnóstica e somativa, seus intuitos são de possibilitar ao professor medir o rendimento dos alunos com vistas na análise de seu próprio rendimento como educador. Nesse sentido, a avaliação não mais atua como um instrumento punitivo ou retributivo, mas como um ato de constatação se a ação do professor possibilitou a seus alunos cumprir os objetivos traçados na programação das atividades. A partir da formulação dos conteúdos, passa-se à preparação central da metodologia de trabalho em sala de aula, tendo por base o processo de problematização dos conhecimentos em face da realidade. Problematizar a partir da própria realidade do aluno é permitir que ele possa refletir sobre sua situação social, percebendo-a no contexto histórico. A problematização é essencial no processo de ensino e aprendizagem dialógico, visto que possibilita aos alunos assumir um papel questionador dos conteúdos. Permite também, instigar a heurística de alternativas jurídicas para a solução dos conflitos, ou seja, a criatividade necessária para inovar e melhorar a eficácia do sistema jurídico e jurisdicional. Como ressalta Paulo Freire, todo processo de mudança crítica deve respeitar em primeiro lugar a estrutura tradicional cristalizada. Logo, a dialogicidade educacional não busca eliminar o tradicional ("oprimir o opressor"), mas apenas contribuir para o seu aprimoramento constante. Desse modo, qualquer modificação para melhor, na busca do "ser mais", consiste em garantir a todos a liberdade de posicionamento, de expressão e de manutenção de sua práxis educacional. Em geral, isso representa um grande dilema existencial não só para o ensino jurídico, mas para a atividade educacional em todas as áreas do conhecimento, pois a busca por "ser mais" implica comparar e também permitir que o "ser mais" advenha do outro, cuja visão de mundo seja diversa e se mantenha. Daí o entendimento de Paulo Freire de que só há liberdade e libertação individual quando se entende a posição do outro e não lhe repete os atos na mesma oportunidade (exemplo do aluno crítico ao processo pedagógico, que depois assume a idêntica postura de professor tradicional). Evoluir é antes de tudo aprender a respeitar diferenças e agir com intencionalidade transformadora, mas sem imposições, educando pelo auto-exemplo.
  • 14. Isso implica em buscar e demonstrar em suas ações aquilo que seja "melhor para todos" dentro de uma realidade em que sua ação possa ser vista, copiada, criticada e, até mesmo, aprimorada, representando um ciclo de aprendizagem onde todos evoluem continuamente. Contrariando os versos cantados por Elis Regina, "ainda somos os mesmos", porém não mais "vivemos como os nossos pais...". Comumente temos ouvido falar que a sociedade industrial está dando lugar à sociedade da informação e da comunicação, que estamos vivendo na era do conhecimento e que os países para desenvolverem-se economicamente precisam aplicar mais verbas na educação. Nessa nova sociedade as fontes de riqueza e poder vão depender da capacidade de geração de conhecimento e processamento de informação. Vemos os setores da informação e da comunicação em franco crescimento e expansão. O que representa de fato essa grande importância atribuída à educação? Por que o desenvolvimento econômico de um país hoje depende do grau de conhecimento de sua população? Para Manuel Castells (1999) mede-se o nível de desenvolvimento de uma sociedade pelo seu grau de conexão. Portanto a educação tem que estar voltada para a pedagogia dos multimeios, para a capacidade de manuseio de grande quantidade de informações, para a leitura e escrita de hipertextos, para indivíduos que saibam buscar, escolher e desfrutar este mundo. Precisamos repensar nossos investimentos para que não apliquemos recursos em projetos vãos, pois o desperdício não pode mais acontecer, porque ele representa não só pouca riqueza, como também má qualidade de vida. Lévy (2000) vai dizer que a interconexão dos computadores do planeta, a que ele chama de ciberespaço, tende a tornar-se a principal infra-estrutura de produção, transação e gerenciamentos econômicos. Para ele será em breve o principal equipamento coletivo internacional da memória, pensamento e comunicação. Daí a necessidade de uma educação voltada para o desenvolvimento científico, tecnológico e para a diminuição das diferenças sociais e culturais, através da melhoria da qualidade do ato pedagógico e em investimentos em recursos informacionais, tendo em vista a importância econômica destas políticas. O importante é que as escolas estejam abertas para a incorporação de novos hábitos, comportamentos, percepções, demandas e tecnologias, cumprindo a sua função de contribuir para a formação de indivíduos capazes de exercer plenamente a sua cidadania, participando dos processos de transformação e construção da realidade, produzindo
  • 15. mais e gerando mais riquezas. Não necessitamos mais de uma reserva de excluídos, como no capitalismo arcaico, mas sim precisamos de pessoas produtivas, pois não há tecnologia de ponta sem mão de obra qualificada. Figueiredo (1995) ressalta que a educação tem que se adaptar às necessidades das sociedades e que os desafios atuais são muitos tanto no campo social, cultural e econômico, antes mesmo que tecnológico. A escola precisa ser reinventada, deve mudar seu papel de ditadora de conteúdos. Sua preocupação atual precisa ser a de dar suporte para a autonomia do aluno, para formar autodidatas. Uma educação interativa, colaborativa e cooperativa, numa construção coletiva do saber. Não podemos nos esquecer que a língua e a cultura são veículos extrafronteiros promotores da economia. Estamos habituados a ouvir os discursos oficiais apenas como discursos, sendo a prática bem outra, mas agora quando os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) apontam para a necessidade da educação se posicionar na luta de frente contra as exclusões, contribuindo para a promoção e integração social, como prática efetiva, é preciso levar a sério, porque quanto mais excluídos tivermos, mais pobres seremos. Se nossos dirigentes não conseguirem compreender este novo paradigma, não se efetivarão as políticas públicas voltadas para a área do conhecimento: reformas da infra-estrutura física das escolas, redirecionamento dos objetivos educacionais e capacitação de professores/as (eventos que levem o professor e a professora a reflexão, e não eventos com o objetivo de impingir a ideologia); e não haverá como o Brasil produzir mais e com melhor qualidade, ficando à margem do mercado mundial. A educação precisa realmente, se for de interesse da população brasileira, sair deste estado de mendicância em que vivemos, de uma prática efetiva em seu dia a dia na luta de frente contra a exclusão, a favor da promoção e da integração social, porque um país sem excluídos produz mais e é mais rico. Pessoas conscientes e participativas produzem mais, melhor e geram mais riquezas para seu município, estado e país. Não é um pensamento romântico, é um pensamento realista e racional. E se a escola cumpriu tão bem o seu papel na exclusão social, ela terá também capacidade de promover a integração social. Para Litto, em primeiro lugar, “cada instituição educacional deve elaborar e executar a sua própria proposta pedagógica. Cada grupo de professores que compõem o corpo docente de uma
  • 16. entidade educacional tem o direito e a obrigação de traçar o plano arquitetônico da aprendizagem de sua instituição”. A escola contemporânea oferta recursos físicos, didáticos e pedagógicos suficientes para um bom desempenho no ensino-aprendizagem, por exemplo: refeitórios, que são espaços que possibilitam encontros e trocas de experiências entre os elementos que compõem a comunidade escolar; salas de aula aparelhadas com televisores e dvd’s; bibliotecas regularmente renovadas com livros atualizados, trabalhos acadêmicos e documentários, com variados e interessantes assuntos; esportes; e a informática. São recursos ricos que talvez, por culpa da instituição, da administração, dos professores, de todos juntos, ou da simples falta de hábito em trabalhar com a diversidade, não estão sendo explorados como deveriam. A meu ver, nosso primeiro passo é o da consciência da importância da preservação física do prédio e de seus equipamentos. E o segundo passo é começarmos a pensar em como utilizar com mais freqüência e de forma mais eficaz esses recursos que estão a nossa disposição. É preciso saber aproveitar a oportunidade da elaboração desse plano em nossa escola para avançarmos em nossas questões pedagógicas, com vistas a solucionar problemas que nos afligem. Se não soubermos aproveitar esse momento, continuaremos com os mesmos tipos de problemas por mais alguns anos. O autor elabora uma lista de características que considera importantes para um ambiente de aprendizagem, que segundo ele não é uma “receita” ou um conjunto de práticas capazes de garantir o sucesso. Cada instituição elege alguns itens da lista e os trabalha com maior ou menor intensidade. Esta lista foi feita a partir de observações do autor de escolas brasileiras e do exterior, de leitura especializada e de conclaves profissionais. É um ponto de partida para a reflexão da escola de hoje. Desta forma, ele aduz sem ordem hierárquica alguma que é preciso traçar um plano arquitetônico para a aprendizagem, respeitar os estilos individuais de aprendizagem de cada um, sem tentativas de forçar alguém a ter o mesmo desempenho em todas as áreas de conhecimento. É preciso hoje encorajar a aprendizagem profunda, a capacidade de transferir conceitos de um domínio para o outro. Procurar desenvolver as competências necessárias para a sobrevivência no mundo contemporâneo, identificando problemas, acessando informações e filtrando-as,
  • 17. tomando decisões e sabendo se comunicar com eficácia. Ter sempre no ensino-aprendizagem uma visão multidisciplinar do mundo, enxergando e compreendendo as inter-relações entre as coisas e os fatos pela maneira de estudar as matérias. Saber desenvolver projetos viabilizando a participação através de levantamento de hipóteses e descobertas de novos conhecimentos. Fazer uso constante de textos impressos e da multimídia, com textos em forma visual e sonora. Enfatizar o trabalho realizado em colaboração com colegas locais e à distância. Criar ambientes de aprendizagem e de trabalho ricos em apoios tecnológicos de todos os tipos. Avaliar através de portfólios montados pelos alunos no decorrer do curso. José Manuel Moran é hoje no Brasil um dos mais renomados escritores que influencia uma educação “inovadora” com uso de novas tecnologias, não só no ensino superior onde acontece a sua experiência, mas também no ensino fundamental e médio, induzindo-nos a reflexões sobre os modernos métodos e técnicas de ensino. É um profundo conhecedor da comunicação e da educação. Atualmente exerce as funções de professor de Novas Tecnologias no Programa de Educação e Curriculum da PUC-SP, Assessor do Ministério de Educação para avaliação de cursos à distância e Coordenador de Tecnologia da Faculdade Sumaré – SP. Este texto a que faço referência será apresentado no próximo Congresso da ABED – Associação Brasileira de Educação a Distância, de 2 a 4 de setembro de 2002, em São Paulo. Moran nos fala de um ensino semipresencial que integra atividades docentes em sala de aula e outras em ambientes virtuais, integrando de forma equilibrada o processo ensino- aprendizagem presencial com o virtual, virtualizando o ensino presencial e presencializando o ensino a distância. Os encontros em um mesmo espaço físico vão se combinar com encontros virtuais à distância através da Internet. E as conexões on-line, em tempo real, vão permitir que professores e alunos interajam e formem pequenas comunidades de aprendizagem, que certamente favorecerão encontros que nos tiram do isolamento. Esses dizeres me provocam uma reflexão: não dá para se mover dentro de antigos paradigmas, é preciso se pensar em um novo paradigma, em novos métodos, novas técnicas, dentro dessa nova mentalidade de ensino. Para o autor, o objetivo tanto dos cursos presenciais como dos cursos virtuais é um só: que os alunos aprendam. “Podem mudar algumas formas de ensinar, de organizar a aprendizagem, as mídias, mas no conjunto os processos são semelhantes”. A comunicação on-line vai influenciar
  • 18. tanto na pedagogia dos cursos presenciais como na pedagogia dos cursos à distância. Estamos assistindo a uma convergência de métodos e técnicas de ensino-aprendizagem nestas duas modalidades de ensino. Para Moran, tanto no ensino presencial como no ensino a distância vamos correr o risco de fornecer diplomas a alunos sem saber se eles realmente aprenderam. Sabemos que a aprendizagem se dá de forma ampla em ambientes ricos de interação e de apoio: eventos, congressos, seminários, grupos de pesquisa, laboratórios, bibliotecas, restaurantes, entre outros. E a meu ver uma avaliação só pode ser “eficiente” se tiver cunho ideológico, se eu souber exatamente qual o resultado que quero do produto sem me preocupar com o desenvolvimento individual, com as qualidades de cada aluno. Se eu quero um tipo de indivíduo com tais e tais características, no final eu poderei avaliar se consegui ou não esse tipo de indivíduo; porém se o que eu quero é que cada um tenha o desenvolvimento dentro de suas próprias expectativas, aí então me foge esse poder de avaliar. Há uma dimensão não avaliável dentro de todo o processo educativo. E essa talvez seja a dimensão mais significativa. Daí a avaliação através de portfólios ser a mais adequada. Desta forma, novas questões básicas estão sendo colocadas na educação presencial e na educação à distância: Como organizar o processo de aprendizagem alternando e integrando a aula física com a aula on-line?; Como organizar o processo de aprendizagem à distância de forma mais participativa, envolvente e capaz de equilibrar o individual e o grupal? Temos que ter em vista que precisamos educar para o presencial, para o virtual e para a possibilidade de se continuar aprendendo em ambientes virtuais, acessando páginas da Internet, pesquisando textos, recebendo e enviando mensagens, discutindo questões em fóruns ou em salas de aula virtuais, divulgando pesquisas e projetos. A Internet vai nos possibilitar a flexibilização da forma de organização de momentos de sala de aula e momentos de aprendizagem virtual de forma integrada e alternada. Precisamos criar a cultura da educação on-line dentro das instituições educacionais, tanto para os professores quanto para os alunos. A instituição precisa apoiar os professores mais familiarizados com as tecnologias que dispõem para possibilitar a experimentação e a criação da cultura por meio virtual.
  • 19. Sem dúvidas, a aprendizagem se dá mais pela experimentação do que só pela audição. Precisamos incentivar a pesquisa para que o aluno se mova, corra atrás, vivencie, entre em contato, comunique os resultados e reflita, com o objetivo de fazer a aprendizagem acontecer de forma mais profunda. Somente envolvendo os alunos em processos participativos e afetivos poderemos conseguir a motivação tanto no campo presencial como no virtual. A autonomia e a organização pessoal são dois aspectos indispensáveis para a aprendizagem à distância. Não podemos mais continuar com a mentalidade conteudista a que estamos habituados, a ênfase agora deve ser no aluno individualmente considerado e na interação desse aluno com o professor sempre tendo em vista a construção do conhecimento, a busca por um equilíbrio do individual com o grupal, num processo cooperativo, aproximando o pensar do viver. Somente podemos educar para a autonomia através de processos fundamentalmente participativos, interativos e libertadores, respeitando as diferenças, incentivando, apoiando e orientando. As mudanças na educação dependem, mais do que de novas tecnologias, de educadores, gestores e alunos intelectual e emocionalmente maduros. Pessoas curiosas, entusiasmadas, abertas e capazes de motivar e dialogar, focando a aprendizagem pela experiência, ação e reflexão, desenvolvendo projetos, buscando solucionar problemas, incentivando a pesquisa, a comunicação e a análise de significados, garantindo uma aprendizagem significativa através da integração do presencial com o virtual. 5 A INFLUÊNCIA DA TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA Atualmente, os antigos métodos de diálogo e repetição vêm sendo gradativamente substituídos por inovadores recursos tecnológicos que desapertam o interesse e facilitam o aprendizado dos alunos. A evolução é marcante em todos os campos da vida humana. Hoje é possível receber e enviar informações, pagar contas, acompanhar fenômenos e acontecimentos importantes em tempo real, de várias partes do mundo. Esse turbilhão de informações deve ser adaptado, ficando sempre a serviço dos homens.
  • 20. Nessa seara, a sala de aula não poderia ficar para trás. A maioria das instituições de ensino já deixa a dispor de seus estudantes aparelhos como computadores, dvd’s, televisões, dentre outros facilitadores da aprendizagem. A evolução trouxe também a economia e a redução do esforço laboral dos professores, pois um profissional do ensino pode ministrar sua aula de uma sala aparelhada com retroprojetor multimídia e essa mesma aula pode ser repassada em tempo real para milhares de alunos. Essa interação aprendizado e tecnologia tem feito com que os profissionais da área de ensino se reciclem cada vez mais no intuito de acompanhar as novas tendências do ensino. Há uma década saber ligar um computador para muitos era sinônimo de sofrimento e vergonha, atualmente tudo mudou, a informatização foi popularizada e desde os mais jovens até os mais idosos já se familiarizaram com a figura do computador. A informática apareceu como uma ferramenta para facilitar e organizar o trabalho e a aprendizagem humana e é indispensável para o bom funcionamento do País. A figura do professor de dono absoluto do saber foi alterada para um facilitador de assimilação de conteúdo, que deve trabalhar em um ambiente que tenha disponível todos os recursos tecnológicos para desapertar a atenção dos alunos para a importância e necessidade de desenvolvimento do conhecimento. As histórias, tanto individuais quanto coletivas, a cidadania e a criatividade se fazem necessárias para que o processo de educação seja preferencialmente delineado pelo desafio formativo ou educativo. Dessa forma, é preciso tornar a educação parceira da evolução para que crianças e jovens, que serão os adultos do futuro, cheguem à maturidade sabendo usar os benefícios da tecnologia a seu favor. 6 METODOLOGIA Num primeiro momento é preciso nos conhecer, criar laços, mapear os grupos, as pessoas e reorganizar o processo de ensino-aprendizagem: a seqüência das leituras, as atividades, as pesquisas individuais e de grupo, o cronograma e a metodologia. Em um segundo momento,
  • 21. podemos passar para o campo virtual e aproveitar as suas vantagens: flexibilidade de tempo e de lugar para acessar. Os grupos podem com facilidade criar seus espaços de comunicação para trocar resultados. Em um terceiro momento, podemos voltar a nos encontrar fisicamente para aprofundar os resultados obtidos no campo virtual, fazendo sínteses e partindo para uma nova etapa de aprendizagem, sempre envolvendo os alunos com práticas, leituras e reflexões. O curso deve ser planejado como um todo e estar aberto para incorporações que se fizerem necessárias, visando valorizar as qualidades dos alunos. Nas primeiras aulas o importante é motivar os alunos para o curso, criar boas expectativas, estabelecer laços de confiança e organizar o processo de aprendizagem. Esses primeiros encontros devem ser agradáveis, interessantes e cativantes. E isso não depende somente do professor, mas de toda a instituição. Os alunos em conjunto com os professores precisam antes de tudo acreditar que vale a pena participar desse processo coletivo de aprendizagem. Podemos usar as novas tecnologias para uma boa apresentação do curso através do PowerPoint ou de outros recursos informáticos, inclusive a Internet. O importante é que se crie um clima de apoio, de incentivo e de afeto. Depois das primeiras aulas presenciais, podemos marcar uma primeira leitura virtual de um texto e o início da primeira pesquisa. Os alunos lerão o texto e compartilharão suas observações com os demais membros do grupo. Após, volta-se ao presencial para aprofundar o debate sobre as questões em foco. O ritmo do presencial-virtual dependerá de cada professor e do grau de maturidade da turma. Equilibrando o presencial com o virtual poderemos alcançar bons resultados a um custo menor de deslocamento, evitar perda de tempo, além de flexibilizar um melhor gerenciamento da aprendizagem. O grande desafio educacional hoje em todo o mundo é o aprender a ensinar e a aprender integrando ambientes presenciais e virtuais. Dentro desse contexto Moran adverte: É importante neste processo dinâmico de aprender pesquisando, utilizar todos os recursos, todas as técnicas possíveis por cada professor, por cada instituição, por cada classe: integrar as dinâmicas tradicionais com as inovadoras, a escrita com o audiovisual, o texto seqüencial com o hipertexto, o encontro presencial com o virtual. [...] Cada curso, cada professor vai fazer isso de forma semelhante e ao mesmo tempo diferente. Não podemos padronizar e impor um modelo único do
  • 22. presencial-virtual. Cada área do conhecimento precisa mais ou menos do presencial. É importante experimentar, avaliar e avançar até termos segurança do ponto de equilíbrio na gestão do virtual e do presencial. Creio que a área de humanas e a de exatas ou biológicos não podem, em princípio, seguir o mesmo esquema. O ponto de equilíbrio entre o presencial e o virtual pode ser diferente. A resistência dos professores às inovações e às mudanças ora se iniciadas pode ser vencida com a intensificação de cursos, palestras, reuniões e atividades que envolvam o tema. É preciso continuar chamando os alunos à participação. Participação como parte, com co-responsabilidade, proporcionando crescimento para a autonomia e não atitudes de libertinagem e amorais. Outro desafio importante é trabalhar as estruturas organizacionais das escolas. Vencer o medo do imprevisível talvez seja a maior dificuldade. O debate aberto com todos os envolvidos no processo educativo se torna fundamental. Pouco se tem feito neste aspecto, o que torna mais complexo este processo. O que não pode é deixá-lo de lado como se viesse a reboque de todas as outras mudanças. É necessário intensificar os diálogos, expor as diferenças, ou seja, vivenciar intensamente cada etapa do processo, respeitando o momento de cada um em seu processo de desenvolvimento para a autonomia, para a liberdade. Enfatizando este contexto, Benetti (1995, p. 31) anuncia o surgimento da sociedade do conhecimento: [...] não podemos mais pensar como se fazia antigamente, que bastava sair da escola com o diploma que, profissionalmente, estava resolvido o nosso problema. Agora quem não estudar continuamente vai, a médio prazo perder seu emprego ou ser colocado à margem do trabalho. E, infelizmente, precisamos de cada vez mais educação, porque a quantidade de avanços tecnológicos, hoje em dia é fantástica. Nada dura muito tempo. O conhecimento está se renovando muito rapidamente [...]. O autor afirma que a escola como agência detentora e promotora do saber, determinada e determinante das relações sociais, formatada e formadora de valores e crenças sociais, precisa se modernizar e buscar trazer para si perspectivas de mudanças que atendam aos novos anseios de aprendizagem. Ou a escola se abre para as novas tecnologias, amplia as questões do conhecimento, procura redefinir os papéis e as relações daqueles nela atuam, ou continuará sendo um grande animal pré-histórico em plena era pós-moderna que não consegue se adaptar às questões emergentes de mudanças.
  • 23. De acordo com Garcia (1993), no mundo mecanicista, o trabalho do professor pode ser caracterizado por duas fases distintas: a seleção e a exposição. Na primeira fase, o professor seleciona o conteúdo, organiza, sistematiza didaticamente seu principal material de apoio: o livro didático. Na segunda fase, há o contato direto com os alunos, o giz e a lousa são ferramentas básicas das aulas expositivas, além da apresentação de conteúdo e realização de trabalhos individuais. Os professores não levam em consideração fatores como: sucesso ou o fracasso da aprendizagem de seus alunos, a ampliação da cultura dos mesmos, participação dos pais ou responsáveis, estrutura da escola, função dos administradores da escola e políticas educacionais. Por isso, a sociedade educacional exige um novo perfil para os profissionais do ensino, com capacidade para traçar estratégias, compreender, analisar, criticar, captar e interpretar a realidade em função do conhecimento disponível em suportes diversos, especialmente os virtuais. Na opinião de Frank Moretti, diretor do Centro de Novas Mídias para o Ensino de Aprendizagem da Universidade de Colúmbia, nos Estados Unidos o novo perfil do professor deve ser o de: “Aprender com os jovens, buscar oportunidades para enxergar adiante e ser, acima de tudo, humilde”. Essa afirmativa é justificada pela entrada maciça de novas tecnologias na sala de aula, o que proporciona aos alunos o aprendizado das matérias por conta própria, diminuindo assim a previsão do professor nas respostas às perguntas que supostamente o aluno não conhece. O professor passa a ser um estrategista, um solucionador de problemas. Para Nevado (1997): “o uso pedagógico das novas tecnologias oferece a alunos e professores a chance de poder esclarecer suas duvidas promovendo o estudo em grupo com estudantes separados geograficamente, permitindo-lhes a discussão de temas do mesmo interesse”. Através de novas tecnologias, o aluno sairá de seu isolamento e enriquecerá seus conhecimentos de forma individual ou grupal. Poderá, ainda, fazer perguntas, manifestar idéias e opiniões, fazer leituras mais globais, assumir a palavra, confrontar idéias e pensamentos e, definitivamente, enxergar a sala de aula como algo diferente de um confinamento entre quatro paredes. Isto significa que o uso de novas tecnologias ajudará a criar uma nova dinâmica pedagógica interativa que por certo influenciará a construção da escola do futuro.
  • 24. Conforme amplamente demonstrado, cabe à escola e aos educadores utilizar e disponibilizar essas novas tecnologias educacionais para tornar os atos de aprendizagem mais interativos, concretos e cooperativos. A pesquisa na área de informática educativa tem evoluído nos últimos anos, contudo tal mercado ainda deixa um pouco a desejar. O uso do computador na educação brasileira, embora implantado de maneira gradual e lenta, muito contribui para a educação em geral, desde a pré-escola até o ensino superior, inclusive para a educação especial destinada aos portadores de deficiência. Teixeira (1997) esclarece que: “No Brasil, chegamos tarde à sociedade industrial e se isso se repetir agora amargaremos séculos de atraso social”. Não teremos outro jeito a não ser recitar o trágico epitáfio de Voltaire: “Quem não vive o espírito de seu tempo, vive apenas os males do seu tempo”.
  • 25. CONCLUSÃO Destes breves apontamentos, depreendem-se a extraordinária necessidade de valorizar o docente enquanto elemento-chave na elaboração e consecução de ações teórico-reflexivas que deverão ir além das regras, dos fatos, dos procedimentos e das teorias pré-estabelecidas pela investigação científica. Para tanto, é imprescindível que se busquem ferramentas que, segundo Vygotsky (1987), lhe possibilitem a reflexão na ação, no sentido de não somente aplicar técnicas já consagradas ou métodos de pesquisa estandardizados, mas aprender a elaborar novas estratégias para seu fazer pedagógico, novos rumos para a compreensão da realidade, enfim, novas perspectivas para abordar, enfrentar e resolver problemas com que se depare. Não parece haver qualquer dúvida a respeito da cobrança que a sociedade faz em relação ao professor: do muito que lhe é exigido e do pouco que lhe é ofertado em contrapartida. Exige-se do docente uma postura profissional irrepreensível, atitudes equilibradas e democráticas para com os alunos, coerência, segurança, conhecimentos abrangentes e habilidades pedagógicas ideais em todo o contexto educativo, solicitando-se, taxativamente, maior cooperação e interação social dentro e fora do âmbito escolar. Contudo, no mais das vezes, o docente tem que conviver em um espaço social conturbado, pouco receptivo e bastante hostil, frente à iminência de negar sua própria pessoa e dissociar-se de suas contingências vitais no desempenho de sua tarefa educacional. Pergunta-se: Poderá ele viver na corda-bamba por ter que diuturnamente enfrentar situações tão divergentes e conflitantes? Como manter-se emocional e afetivamente equilibrado? Como fazer para conseguir tal objetivo? No entanto, felizmente, o desgaste e o estresse a que os docentes hodiernamente ainda são submetidos não conseguiram afastá-los da convicção de que seus trabalhos são mais que um dever: são escolhas feitas a partir da certeza de que são instrumentos fundamentais e decisivos na
  • 26. modificação da sociedade e na construção de um presente e de um futuro melhores, através da formação de cidadãos mais conscientes e críticos. Sem dúvidas, ainda há extensos e difíceis percursos a serem trilhados para que o profissional docente seja adequadamente valorizado e respeitado. Por outro lado, temos a convicção de que a docência é uma das tarefas mais dignas do ser humano e de que nela se pode expressar plenamente a geratividade e o constante enriquecimento do saber. A docência é, indubitavelmente, uma das mais completas e frutíferas formas de integração entre os indivíduos, com incalculáveis repercussões na construção da sociedade do futuro.
  • 27. REFERÊNCIAS BAGNO, Marcos. Pesquisa na Escola: o que é, como se faz. 18. ed. São Paulo: Loyola, 2004. BEHRENS, Marilda Aparecida. Paradigma da complexidade. Petrópoles: Vozes, 2006. DEMO, Pedro. Certeza da incerteza: ambivalência do conhecimento e da vida. Brasília: Plano, 2000. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários a prática educativa. 35. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007. HERNANDEZ, Ivane Calvo. ENRICONE, Delcia. GRILLO, Marlene. Ensino Revisão Crítica. Porto Alegre: Sagra, 1988. HESSEN, Johannes. Teoria do Conhecimento. São Paulo: Martins Fontes, 2000. HILTON, Japiassu. Nem Tudo é Relativo. A Questão da Verdade. São Paulo: Letras. & Letras, 2000. HUSSERL, E. Idéias diretrizes. São Paulo, 1978. LADRIÈRE, J. Filosofia e práxis cientifica. Rio de Janeiro, 1978. LUCKMANN, Thomas; BERGER Peter L. A construção social da realidade. 26. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2006. ZILLES, Urbano. Teoria do Conhecimento. 5.ed. Porto Alegre: Edipucrs, 2006.