O documento resume uma entrevista com o CIO de um banco sobre os desafios da TI no setor financeiro. Ele discute três pontos principais: 1) a necessidade de adaptação às novas regulamentações de riscos e controles; 2) os desafios de manter a governança e alinhar a TI ao negócio; 3) a importância de buscar parcerias e pacotes para dar suporte à TI diante da crescente demanda.
1. Entrevista: Gilberto Rodrigues
CIO do Banco Rendimento
Para onde caminha a TI
nos bancos
Na opinião de Gilberto Rodrigues, CIO do Banco Rendimento, a TI não faz nada
sozinha. Acompanhe os melhores trechos da entrevista exclusiva em que o
executivo fala dos desafios, dos riscos e da governança de TI no setor financeiro
O
setor financeiro no Brasil é uma refe- nheiro para ter foco no risco. Claro que antes havia
rência mundial devido às exigências uma gestão disto, até porque o Banco Central sem-
regulatórias impostas pelo Banco Cen- pre teve um controle muito forte sobre os bancos.
tral e pelo contexto mundial, como a Estamos trabalhando nas adaptações de sistemas
Basileia. Como você vê esse cenário de contro- para coletar informações e saber trabalhar com
le e até que ponto a TI entra nesse contexto? elas, o que não fazíamos no passado.
A Basileia é um conjunto de regras para normati- Além desses controles de Basileia, o Banco Central
zar a forma de gerenciamento do risco e trata-se e a Receita Federal não aceitam mais o papel e
de uma gestão num grau de profundidade muito não dão mais 40 dias para a instituição financeira
grande. Nos últimos 30 anos, os bancos construíram passar uma informação do arquivo morto. Agora, o
seus sistemas pensando em automação e eficiência prazo de entrega de dados são 48 horas ou paga-
com foco no cliente e a preocupação de proporcio- mento de multa. Diante disso, a TI ainda precisa
nar o melhor atendimento. Agora, nossos investi- estar alinhada com o negócio, preocupada em
mentos vão além disso. ganhar dinheiro, conquistar clientes, se adequar as
novas mídias, estar atenta a competitividade, tudo
Desde 2000 estamos gastando um monte de di- ao mesmo tempo.
2. Com tudo isso acontecendo, um script meio COBIT meio ITIL. na mídia e todo mundo descobriu que
como você avalia esse es- Os bancos trabalham muito com troca o B do BRIC era o Brasil.
tágio de adaptação dessas de informações e elas precisam ser
regulamentações? tratadas como missão crítica, o que TI não faz nada sozinha
Desde 1995, uma série de regras foi justifica a necessidade de uma gestão
criada e tudo que fazíamos passava forte. Na minha opinião, está cada vez A saída seria uma nova postura
pelo Banco Central. Eu coloco o setor mais difícil fazer os quebra-galhos da TI? Buscar pacotes e/ou es-
financeiro brasileiro em um nível mui- que a TI fazia antigamente para acele- tabelecer parcerias seria uma
to bom de controle onde a adaptação rar as linhas de negócios. Temos que solução, mesmo não sendo a
para outros modelos e níveis não é fazer tudo isso sem perder a flexibili- cultura dos bancos?
muito complicado, o que é compli- dade e a agilidade. É a nossa realidade. Na verdade, ela
cado são os volumes que a coisa co- entrega muito mais se compararmos
meça a tomar. O desafio é incorporar Então essa governança de TI aos últimos anos, só que a demanda
o controle no dia a dia para, de fato, seria uma ferramenta para aumentou mais ainda. Além disso,
fazer uma gestão de risco e não só auxiliar os CIOs de bancos a tem uma gama enorme de canais
reportar dados para o Banco Central. enfrentarem esse cenário de eletrônicos, cada dia sai um novo
alguma maneira? equipamento e temos que adaptar
Não adianta comprar um sistema só A governança é importantíssima nossas aplicações para rodar nos
para gerar informação e não incorpo- porque ela obriga a TI a se estrutu- novos dispositivos, browsers, tablets
rar isso no seu cotidiano e trabalhar a rar, se compreender e melhorar. As e smartphones.
cultura de risco nas pessoas, princi- regulamentações dão à Tecnologia da
palmente risco operacional. Tudo é Informação a governança necessária, Imagina a legislação do Banco
muito importante, mas o risco opera- mas ao mesmo tempo, se ela não for Central. A cada 45 dias manda uma
cional é muito complicado. aplicada de uma maneira correta o circular informando as mudanças
resultado pode engessar o negócio. para uma nova versão de software,
E erro de TI vai acontecer sempre, temos que falar de riscos e controles,
TI é falha. Ela nunca vai conseguir O desafio está exatamente de Basileia, de lucro e o CIO ainda
entregar o backlog dos negócios, nessa medida? precisa se preocupar em ganhar
da área de risco, do compliance. O Sim. É aí que surge o “alinhar a TI ao dinheiro e vencer a concorrência. A
backlog de desenvolvimento da TI negócio”. A regra é essa e temos que vida da TI ficou difícil e realmente
é tão grande que ela não consegue adequar os dois lados para traba- precisa de ajuda.
executar, ela precisa de ajuda e isso lhar nesse cenário. Antes tudo era
para mim é começar a adotar paco- permitido, mas essas regras também E como superar esses desafios?
tes. Acredito que vamos ver muita vão chegar até as áreas business Alguns bancos vão fazer parcerias es-
gente comprar as coisas prontas para que a TI não fique sozinha com colhendo 3 ou 4 fornecedores nacio-
substituindo as antigas. a gestão do risco e que não só ela nais/mundiais para tentar tirar algum
seja responsabilizada por qualquer pacote de soluções. Mas tudo isso tem
Governança de TI problema operacional. que ser bem pensado para não adotar
tecnologias que causam dor de cabe-
Com esse cenário traçado, a O Brasil é referência na parte ça ao invés de sanar o problema. Por
TI já vem trabalhando em sua de controle e governança? isso acho que haverá um conjunto de
governança. Mas até que ponto Eu acho que estamos num patamar parceiros e dali vai sair o apoio para
esse movimento pode evoluir a muito bom. Com todas essas normati- resolver essas soluções.
fim de dar suporte ao negócio? zações e o controle do Banco Central
TI, por ser uma tarefa crítica, tem realmente nos deixa em uma situação A partir desse cenário, qual é a
que ter uma metodologia, regra e confortável. Existem riscos, mas eles lição de casa do CIO?
controle para todas as tarefas. O são controlados com uma boa gestão. Eu acho que é analisar as principais
nosso desafio é ter uma organização Acredito que isso faz parte do DNA do demandas e tentar decidir o que ele
atendendo todas as regulamen- sistema financeiro do Brasil, que no pode fazer por meio de pacote, o
tações, pois somos auditados por passado precisou inovar e criar uma que é crítico e precisa manter em
tudo que fazemos. Tanto auditoria solução para controlar uma inflação casa, o quanto ele vai pagar por uma
interna quanto externa, além da au- de 1000% ao ano. Para mim o País solução. Fora isso tem toda a parte
ditoria do Banco Central que segue sempre foi referência. Agora ele está de infraestrutura com um forte movi-
3. mento na terceirização para cuidar Eu vejo o cronograma assim: os E os benefícios, são
do operacional, que é o coração do bancos grandes já fizeram, os médios inquestionáveis?
banco. Mas a adoção não será radical, com capital aberto estão implemen- São? Há muitos desafios, pois a
tudo que estou falando é feito com tando neste ano e os pequenos e mudança não é só contábil, é você
análise para ver por onde começar, médios de capital fechado vão fazer começar a mostrar seus números
a mensagem principal é que não dá logo em seguida, acredito que o prazo de forma diferente, entender os
para fazer tudo sozinho. seja 2013. O importante é que existe resultados de maneira diferente,
um aprendizado de um para o outro, é mudar seu processo operacional
Conformidade tanto do regulador quanto por parte que existe há anos. E o pior é que
dos bancos. O regulador também nada do trabalho anterior é desfei-
E na sua visão de adaptação precisa olhar e aprender, entender as to, se tratando de governo brasi-
às conformidades, como será dificuldades de cada um para uma leiro o que vale é o atual modelo,
esse cronograma do IFRS? melhor aplicação. só em 2016 é que eles pretendem
Na minha visão o IFRS ainda nem convergir os sistemas.
começou. Falando do mercado em No fundo, acredito que os primeiros
geral, os grandes bancos já tiveram foram os pioneiros, para os peque- Mas uma coisa eu acho bom: ter
que entregar seus balanços com o nos e médios o desafio é maior uma norma única de avaliar os
IFRS. Mesmo pra eles, que tiveram porque não tem o capital intensi- bancos, isso me parece útil. Torna
um apoio financeiro e condições vo para fazer as modificações no mais justo e mais claro o que está
de capital para desenvolver um sistema, coletar dados que antes se fazendo nas instituições. Mas se
bom trabalho, estão atrasando não eram solicitados, uma série de essa regulamentação é a melhor, já
as entregas porque os resultados investimentos necessários. Essas não sei dizer. Às vezes a regulamen-
precisam ser avaliados e entendi- modificações precisam ser feitas, tação é descabida, não é conversa-
dos. É necessário interpretação das depois o sistema precisa rodar essas da, não é explicada. Mas tudo isso é
informações, ou seja, estamos num mudanças para coletar as informa- só começo e para tudo precisamos
período de maturação. ções para só então gerar o dado. dar o primeiro passo. zz
A Logica é uma empresa de serviço de negócios e tecnologia. Sediada no Reino Unido e com mais de 41 mil colaboradores ao
redor do mundo, oferece serviços de consultoria, integração de sistemas e outsourcing de TI para clientes do mundo inteiro. Com
forte presença na Europa, a Logica cria valores para os seus clientes ao integrar tecnologia, pessoas e processos. A companhia se
destaca pelo comprometimento em manter parcerias a longo prazo com seus clientes, aplicando conhecimento para criar respos-
tas inovadoras para as necessidades de negócio das companhias. A Logica está listada nas bolsas de Londres, Stock Exchange e
Euronext. Mais informações estão disponíveis em: www.logica.com.br