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FACULDADE LUCIANO FEIJÃ0
CURSO: DIREITO PERÍODO 2007.2
DISCIPLINA: PORTUGUÊS INSTRUMENTAL E LINGUAGEM JURÍDICA
PROFESSOR: CLEANO CARVALHO
O DISCURSO DISSERTATIVO DE CARÁTER CIENTÍFICO
Observe os dois enunciados abaixo:
a) A inflação corrói o salário do operário.
b) Eu afirmo que a inflação corrói o salário do operário.
Qualquer enunciado pressupõe que alguém o tenha produzido, uma vez que nenhuma
construção lingüística surge sem que alguém a tenha elaborado. Os dois enunciados acima
pretendem transmitir o mesmo conteúdo: a inflação corrói o salário do operário. Há, no entanto,
uma diferença entre eles. No primeiro, o enunciador ausentou-se do enunciado, não colocando
nele nem o “eu”, que indica aquele que fala, nem um verbo que significa o ato de dizer. No
segundo, ao contrário, ao dizer “eu afirmo”, o enunciador inseriu-se no enunciado, explicitando
quem é o responsável por sua produção. No primeiro caso, pretende-se criar um efeito de
sentido de objetividade, pois se enfatizam as informações a serem transmitidas; no segundo, o
que se quer é criar um efeito de sentido de subjetividade, mostrando que a informação
veiculada é o ponto de vista de um indivíduo sobre a realidade.
Usa-se um ou outro modo de construir os enunciados em função dos sentidos que se quer
criar. Há textos que são mais convincentes se forem elaborados de maneira a criar efeitos de
sentido de objetividade..Outros persuadem melhor se mostrarem um efeito de subjetividade.
O discurso dissertativo de caráter científico deve ser elaborado de maneira a criar um efeito
de sentido de objetividade, pois pretende dar destaque ao conteúdo das afirmações feitas e
não à subjetividade de quem as proferiu. Quer concentrar o debate nesse foco e por isso adota
expedientes que, de um lado, procuram neutralizar a presença do enunciador nos enunciados
e, de outro, põem em destaque os enunciados, como se eles se substituíssem por si
mesmos.É claro que se trata de um artifício lingüístico, porque sempre, por trás do discurso
enunciado, está o enunciador com sua visão de mundo.
Para neutralizar a presença do enunciador, isto é, daquele que produz o enunciado, usam-
se certos procedimentos lingüísticos:
a) evitam-se os verbos de dizer na primeira pessoa (digo, acho, afirmo, penso...)
b) dá-se ao enunciado um caráter coletivo (impessoal)
c) usa-se o padrão culto da língua.
Discurso é a atividade comunicativa capaz de gerar sentido, desenvolvida entre interlocutores.
Além dos enunciados verbais, engloba outros elementos do processo comunicativo que
também participam da construção do sentido do texto.
O DISCURSO CITADO EM OUTROS GÊNEROS: A CITAÇÃO
Além dos gêneros narrativos, outros gêneros podem fazer uso do discurso citado: a notícia,
a reportagem, o texto argumentativo, o científico e outros. A esse tipo de discurso chamamos
citação.
Observe o texto abaixo:
Ao fazer o filme A lista de Schindler, o diretor Steven Spielberg
era constantemente assediado por sobreviventes do Holocausto, que lhe
pediam para filmar suas histórias pessoais.Surgiu-lhe, então, a idéia de fundar
1
o Shoah Foundation for Visual History (Fundação Shoah), que, desde
1994,coleta depoimentos dos sobreviventes.O projeto engloba 31 idiomas, 53
países e quase 4 mil voluntários e deverá entrevistar cerca de 60 mil pessoas
até l999 (...)
Segundo Spielberg, “Todos esses testemunhos contam uma
só história. Dentro dessa história coletiva, existem milhões delas que ainda não
foram contadas e, dessas, 60 mil que conseguimos salvar. Todas são muito
importantes, pois estão inseridas no mesmo acontecimento.”
(Época, 27/7/98)
Você deve ter observado que no 2º parágrafo é inserida uma voz que não pertence ao autor
do texto, mas a Spielberg. A fala do cineasta foi reproduzida diretamente, conforme indicação
das aspas.
Também é possível fazer uso do discurso citado de forma indireta. No caso, é preciso tomar
cuidado para não distorcer as idéias originais do autor. Veja como, no fragmento seguinte, que
discute a viabilidade da eutanásia, o autor faz uso da citação direta e da citação indireta:
A fórmula que o projeto do Código Penal propõe é das
mais brandas. Ela apenas determina o que o papa João Paulo II já considerou
aceitável. (forma indireta)
Na Encíclica “Evangelium Vitae”, o papa afirma que rejeitar
meios extraordinários e desproporcionais de manutenção da vida “expressa a
aceitação da condição humana diante da morte”.
As citações diretas devem ser exatas, textuais e vir entre aspas duplas. Recomenda-se que
a indicação da fonte, ou seja, da pessoa que fez a declaração, seja feita antes da citação,
como ocorre no texto em estudo (“Segundo Spielberg”).
EXERCÍCIOS
01. Reescreva o texto abaixo transformando o discurso direto em indireto, e vice-versa,
fazendo as adaptações necessárias. Não se esqueça de usar os sinais de pontuação
adequados.
(...) Tomo meu café com pão dormido, que não á tão ruim assim. E enquanto tomo café
vou me lembrando de um homem modesto que conheci antigamente. Quando vinha deixar o
pão à porta do apartamento ele apertava a campainha, mas, para não incomodar os
moradores, avisava gritando:
- Não é ninguém, é o padeiro!
Interroguei-o uma vez: o tivera a idéia como tivera a idéia de gritar aquilo?
“Então você não é ninguém?”
Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera aquilo de ouvido.Muitas vezes lhe
acontecera de bater a campainha de uma casa e ser atendido por uma empregada ou outra
pessoa qualquer, e ouvir uma voz que vinha lá de dentro perguntando que era; e ouvir a
pessoa que o atendera dizer para dentro:”não é ninguém, não senhora, é o padeiro”.Assim
ficara sabendo que não era ninguém...
Ele me contou isso sem mágoa nenhuma e se despediu sorrindo.
(Rubem Braga. Ai de ti, Copacabana. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1960.p.43-4)
02. Destaque dos textos abaixo os trechos correspondentes ao discurso indireto livre:
a) Chegou à porta, olhou as folhas amarelas das catingueiras. Suspirou. Deus não
havia de permitir outra desgraça. Agitou a cabeça e procurou ocupações para
entreter-se. Tomou a cuia grande, encaminhou-se ao banheiro, encheu de água o
caco das galinhas, endireitou o poleiro. Em seguida foi ao quintalzinho regar os
craveiros e as panelas de losna.
(Graciliano Ramos)
2
b) Ouviu o falatório desconexo do bêbado, caiu numa indecisão dolorosa. Ele também
dizia palavras sem sentido, conversava à toa. Mas irou-se com a comparação, deu
murradas na parede. Era bruto, sim senhor, nunca havia aprendido, não sabia
explicar-se. Estava preso por isto? Como era? Então mete-se um homem na cadeia
porque ele não sabe falar direito? Que mal fazia a brutalidade dele? Vivia
trabalhando feito um escravo.
(Graciliano Ramos)
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  • 1. FACULDADE LUCIANO FEIJÃ0 CURSO: DIREITO PERÍODO 2007.2 DISCIPLINA: PORTUGUÊS INSTRUMENTAL E LINGUAGEM JURÍDICA PROFESSOR: CLEANO CARVALHO O DISCURSO DISSERTATIVO DE CARÁTER CIENTÍFICO Observe os dois enunciados abaixo: a) A inflação corrói o salário do operário. b) Eu afirmo que a inflação corrói o salário do operário. Qualquer enunciado pressupõe que alguém o tenha produzido, uma vez que nenhuma construção lingüística surge sem que alguém a tenha elaborado. Os dois enunciados acima pretendem transmitir o mesmo conteúdo: a inflação corrói o salário do operário. Há, no entanto, uma diferença entre eles. No primeiro, o enunciador ausentou-se do enunciado, não colocando nele nem o “eu”, que indica aquele que fala, nem um verbo que significa o ato de dizer. No segundo, ao contrário, ao dizer “eu afirmo”, o enunciador inseriu-se no enunciado, explicitando quem é o responsável por sua produção. No primeiro caso, pretende-se criar um efeito de sentido de objetividade, pois se enfatizam as informações a serem transmitidas; no segundo, o que se quer é criar um efeito de sentido de subjetividade, mostrando que a informação veiculada é o ponto de vista de um indivíduo sobre a realidade. Usa-se um ou outro modo de construir os enunciados em função dos sentidos que se quer criar. Há textos que são mais convincentes se forem elaborados de maneira a criar efeitos de sentido de objetividade..Outros persuadem melhor se mostrarem um efeito de subjetividade. O discurso dissertativo de caráter científico deve ser elaborado de maneira a criar um efeito de sentido de objetividade, pois pretende dar destaque ao conteúdo das afirmações feitas e não à subjetividade de quem as proferiu. Quer concentrar o debate nesse foco e por isso adota expedientes que, de um lado, procuram neutralizar a presença do enunciador nos enunciados e, de outro, põem em destaque os enunciados, como se eles se substituíssem por si mesmos.É claro que se trata de um artifício lingüístico, porque sempre, por trás do discurso enunciado, está o enunciador com sua visão de mundo. Para neutralizar a presença do enunciador, isto é, daquele que produz o enunciado, usam- se certos procedimentos lingüísticos: a) evitam-se os verbos de dizer na primeira pessoa (digo, acho, afirmo, penso...) b) dá-se ao enunciado um caráter coletivo (impessoal) c) usa-se o padrão culto da língua. Discurso é a atividade comunicativa capaz de gerar sentido, desenvolvida entre interlocutores. Além dos enunciados verbais, engloba outros elementos do processo comunicativo que também participam da construção do sentido do texto. O DISCURSO CITADO EM OUTROS GÊNEROS: A CITAÇÃO Além dos gêneros narrativos, outros gêneros podem fazer uso do discurso citado: a notícia, a reportagem, o texto argumentativo, o científico e outros. A esse tipo de discurso chamamos citação. Observe o texto abaixo: Ao fazer o filme A lista de Schindler, o diretor Steven Spielberg era constantemente assediado por sobreviventes do Holocausto, que lhe pediam para filmar suas histórias pessoais.Surgiu-lhe, então, a idéia de fundar 1
  • 2. o Shoah Foundation for Visual History (Fundação Shoah), que, desde 1994,coleta depoimentos dos sobreviventes.O projeto engloba 31 idiomas, 53 países e quase 4 mil voluntários e deverá entrevistar cerca de 60 mil pessoas até l999 (...) Segundo Spielberg, “Todos esses testemunhos contam uma só história. Dentro dessa história coletiva, existem milhões delas que ainda não foram contadas e, dessas, 60 mil que conseguimos salvar. Todas são muito importantes, pois estão inseridas no mesmo acontecimento.” (Época, 27/7/98) Você deve ter observado que no 2º parágrafo é inserida uma voz que não pertence ao autor do texto, mas a Spielberg. A fala do cineasta foi reproduzida diretamente, conforme indicação das aspas. Também é possível fazer uso do discurso citado de forma indireta. No caso, é preciso tomar cuidado para não distorcer as idéias originais do autor. Veja como, no fragmento seguinte, que discute a viabilidade da eutanásia, o autor faz uso da citação direta e da citação indireta: A fórmula que o projeto do Código Penal propõe é das mais brandas. Ela apenas determina o que o papa João Paulo II já considerou aceitável. (forma indireta) Na Encíclica “Evangelium Vitae”, o papa afirma que rejeitar meios extraordinários e desproporcionais de manutenção da vida “expressa a aceitação da condição humana diante da morte”. As citações diretas devem ser exatas, textuais e vir entre aspas duplas. Recomenda-se que a indicação da fonte, ou seja, da pessoa que fez a declaração, seja feita antes da citação, como ocorre no texto em estudo (“Segundo Spielberg”). EXERCÍCIOS 01. Reescreva o texto abaixo transformando o discurso direto em indireto, e vice-versa, fazendo as adaptações necessárias. Não se esqueça de usar os sinais de pontuação adequados. (...) Tomo meu café com pão dormido, que não á tão ruim assim. E enquanto tomo café vou me lembrando de um homem modesto que conheci antigamente. Quando vinha deixar o pão à porta do apartamento ele apertava a campainha, mas, para não incomodar os moradores, avisava gritando: - Não é ninguém, é o padeiro! Interroguei-o uma vez: o tivera a idéia como tivera a idéia de gritar aquilo? “Então você não é ninguém?” Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera aquilo de ouvido.Muitas vezes lhe acontecera de bater a campainha de uma casa e ser atendido por uma empregada ou outra pessoa qualquer, e ouvir uma voz que vinha lá de dentro perguntando que era; e ouvir a pessoa que o atendera dizer para dentro:”não é ninguém, não senhora, é o padeiro”.Assim ficara sabendo que não era ninguém... Ele me contou isso sem mágoa nenhuma e se despediu sorrindo. (Rubem Braga. Ai de ti, Copacabana. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1960.p.43-4) 02. Destaque dos textos abaixo os trechos correspondentes ao discurso indireto livre: a) Chegou à porta, olhou as folhas amarelas das catingueiras. Suspirou. Deus não havia de permitir outra desgraça. Agitou a cabeça e procurou ocupações para entreter-se. Tomou a cuia grande, encaminhou-se ao banheiro, encheu de água o caco das galinhas, endireitou o poleiro. Em seguida foi ao quintalzinho regar os craveiros e as panelas de losna. (Graciliano Ramos) 2
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