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Arritmais cardíacas na infância e adolescência
Autor: Rogério Braga Andalaft*
* Cardiologista Pediátrico pelo Instituto do Coração – Incor HC FMUSP
Médico Assistente da seção médica de Eletrofisiologia Clínica e Arritmias Cardíacas do
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia
Médico Assistente do Hospital do Coração – responsável pelo ambulatório de Arritmias na
Infância e Cardiopatias Congênitas - Associação Sanatórinho Sírio
Médico da Cardio Dinâmica
Introdução
Para compreendermos e tratarmos as arritmias cardíacas na infância é fundamental o
diagnóstico eletrocardiográfico correto que possibilita na maioria das vezes não só
fornecer um nome à doença, mas também possibilita o tratamento adequado a curto e
longo prazo. Na população pediátrica as variações anatômicas que podem ser oriundas
das diversas cardiopatias congênitas possíveis, assim como as arritmias que ocorrem no
pós operatório, fornecem uma condição especial a este grupo de pacientes. Neste
capitulo iniciaremos de maneira geral os princípios do diagnostico correto, passando na
sequência a descrição das principais arritmias que acometem a criança enfocando seu
diagnóstico e tratamento. Por fim elucidaremos condições especiais fruto do pós
operatório ou mesmo da evolução natural de algumas cardiopatias, enfocando as
nuances do tratamento que proporciona melhor suporte clínico a estas crianças.
Princípios do diagnóstico e tratamento das arritmias
Desta forma clássica podemos dividir as arritmias cardíacas em taquicardias e
bradicardias, baseado na análise da freqüência cardíaca. As taquicardias por sua vez
podem ser subdivididas de acordo com a duração dos complexos QRS em taquicardias
de complexos QRS largo ou estreito. Neste momento devemos lembrar que as crianças
de forma geral apresentam complexos QRS mais estreitos que os adultos de forma que
em algumas situações durações superiores a 100 ou 110 ms podem ser consideradas de
complexos QRS alargados. As taquicardias de complexos QRS alargados envolvem na
infância 5 diagnósticos possíveis: taquicardia ventricular, taquicardia supraventricular
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aberrante, taquicardia supraventricular com bloqueio de ramo pré existente, taquicardia
por reentrada AV antidrômica e fibrilação atrial associado à síndrome de WPW. Já as
taquicardias de complexos QRS estreitos envolvem as taquicardias supraventriculares
em sua forma clássica e uma forma especifica de taquicardia ventricular denominada
taquicardia ventricular fascicular. As taquicardias fasciculares mais freqüentes possuem
morfologia tipo BRD e hiper desvio a esquerda (tipo BDAS) e são responsivas ao
tratamento com bloqueadores de canal de cálcio. As taquicardias supraventriculares
devem ser investigadas quanto a sua regularidade de forma mais profunda,
principalmente quando o médico se depara a um paciente em crise na sala de
emergência. Quando dizemos que uma arritmia é irregular estamos analisando que o nó
atrioventricular não participa do circuito da arritmia estando apenas recebendo
estímulos que vem de um território superior, Nestas formas de arritmias o nó
atrioventricular (NAV) pode ser chamado de expectador da arritmia, o que em outras
palavras significa que para tratar esta arritmia posso controlar o ritmo retornando o
paciente ao ritmo sinusal ou controlar a resposta ventricular reduzindo a freqüência
cardíaca. Quando nos deparamos com uma taquicardia de complexos QRS estreitos e
regular a duvida que naturalmente surge é “ela realmente é regular”? Assim nestas
taquicardias podemos lançar mão de manobras ou fármacos como a adenosina na
tentativa de irregularizar a taquicardia. Quando realizamos uma manobra vagal ou
utilizamos adenosina e interrompemos a taquicardia retornando o paciente ao ritmo
sinusal, então sabemos que esta arritmia era “estritamente regular” e então poderíamos
dizer que o nó atrioventricular participava do circuito. Nos casos onde o nó AV
participa do circuito só nos resta cardioverter o paciente ao ritmo sinusal por manobras
mecânicas, químicas ou elétrica. Em algumas situações nas taquicardias de complexos
QRS estreitos e regulares, a aplicação de manobras vagais ou mesmo adenosina,
irregulariza a taquicardia, porem não a interrompe. Neste caso a irregularização da
taquicardia nos informa que o nó AV é um expectador da arritmia, isto é não participa
do circuito arritmogênico. Nestes casos a irregularização da arritmia, permite que
visualizemos o território supraventricular com maior facilidade possibilitando o
diagnóstico. Como o nó AV também não participa do circuito nesta arritmia, do ponto
de vista terapêutico, podemos controlar o ritmo retornando o paciente ao ritmo sinusal
ou controlar a freqüência ou resposta ventricular utilizando fármacos que aumentem o
grau de bloqueio do NAV (figura 1 e figura 2)
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Figura 1 – Esquema dos possíveis diagnósticos das taquicardias na infância
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Figura 2 – Esquema diagnóstico na sala de emergência que auxilia na identificação
das taquicardias de complexos QRs estreitos
Taquicardias de complexos QRS estreitos
Neste tópico será dado enfoque às diversas possibilidades de taquicardias de complexos
QRS estreito, analisando seu diagnóstico e tratamento. Iniciaremos para fins didáticos a
descrição de arritmias onde o NAV não participa do circuito, o que tecnicamente
significa que para o tratamento podemos controlar o ritmo ou controlar a freqüência
cardíaca. A origem fisiopatológica destas arritmias, estão baseadas na presença de um
foco hiperautomático, na presença de atividade debflagrada no território
supraventricular ou mesmo circuitos únicos ou múltiplos de reentrada no território
atrial.
Taquicardia sinusal
É a forma mais freqüente e comum de taquicardia na infância. Caracteriza-se pela
presença do ritmo sinusal (ondas P positivas em D1 e V6 e negativas em aVR). Esta
forma de taquicardia cujo ponto de corte varia com a idade do paciente é quase sempre
secundário à presença de um problema clinico: febre, infecção, uso de drogas vasoativas
desidratação, choque entre outros. De maneira geral o controle da causa de base gera a
normalização da freqüência cardíaca. Particular atenção deve ser dada às taquicardias
sinusais inapropriadas que geram freqüências cardíacas superiores a freqüência limite
para a idade e não são condizentes com a situação clinica do paciente para aquele
momento. Nos casos onde a FC é persistentemente elevada ou naqueles casos onde
ocorre a presença de sintomas, a utilização de medicamentos que ajam nas células do nó
sinusal pode ser necessária. Para controlar a resposta anormal da taquicardia sinusal
inapropriada podemos utilizar betabloqueadores (atenolol 1 a 2 mg/kg/dia ou diltiazem
1 a 2 mg/kg/dia, lembrando que não devemos utilizar bloqueadores de canais de cálcio
para paciente com idade inferior a um ano).
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Figura 3 - Traçado de Holter de uma criança com taquicardia sinusal. Nesta
taquivcardia não existe inicio e término súbito e a onda P tem morfologia da onda P
sinusal
Outro aspecto importante quando se analisa as taquicardias sinusais utilizando métodos
como o Holter, é que esta forma de taquicardia não se apresenta de forma paroxística,
isto é, não possui inicio ou término súbito.
Taquicardia atrial
Diferente da taquicardia sinusal esta forma de arritmia tem geralmente comportamento
paroxístico. Seu mecanismo de origem pode ser hiperautomatismo, atividade deflagrada
ou reentrada intra atrial única. Na análise do eletrocardiograma observamos a presença
de uma onda P gerando um complexo QRS de morfologia diferente da onda P sinusal
acima descrita. Geralmente são assintomáticas e frequentemente observadas no Holter
principalmente durante o período neonatal e em paciente portadores de cardiopatias
congênitas com distensão ou manipulação atrial durante procedimentos cirúrgicos.
Estão entre seus riscos principais o desenvolvimento de disfunção ventricular, nos casos
onde a freqüência cardíaca se mantém persistentemente elevada – taquicardiomiopatia.
Quando sustentadas ou associadas a cardiopatias congênitas costumam ser de difícil
controle. Muitas vezes, devido a esta dificuldade em controlar o ritmo, pode fazer o
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médico então optar por aumentar o grau de bloqueio atrioventricular e controlar a
resposta ventricular, visto que o NAV é expectador da arritmia que está ocorrendo no
território atrial. Para controlar o ritmo em pacientes com arritmias sustentadas ou com
repercussão clínica, podemos lançar mão de estratégias farmacológicas e não
farmacológicas, sendo que esta ultima envolve a cardioversão elétrica e as terapias por
cateter. Para controle do ritmo de forma química podemos utilizar fármacos conhecidos
na prática pediátrica como a amiodarona isoladamente ou em combinação com
betabloqueadores ou bloqueadores de canais de cálcio sempre respeitando os riscos e as
limitações de cada fármaco e associação. Nos últimos anos no ambulatório de arritmias
do Instituto Dante Pazzanese, utilizamos também outras classes de fármacos tais como a
propafenona e o sotalol com o intuito de que, em casos de uso prolongado possamos
evitar os efeitos colaterais indesejados da amiodarona. Outra possibilidade para
cardioversão destes pacientes ao ritmo sinusal envolve a utilização de métodos não
farmacológicos tais como a cardioversão elétrica externa ou a ablação por
radiofreqüência. Quanto à ablação por radiofreqüência sua utilização na infância ainda é
limitada, como também é limitado o sucesso na população adulta para arritmias atriais
(taquicardia atrial e fibrilação atrial). No entanto o uso dos métodos de ablação do foco
arritmogênico com radiofreqüência ou crioablação são muito promissores e nos
próximos anos se tornarão importantes armas do arsenal terapêutico na infância.
A localização adequada da origem da taquicardia atrial analisando o eixo da onda P no
ECG de 12 derivações pode nos auxiliar também a melhor forma de controle do ritmo
seja químico ou não farmacológico por ablação. Importante salientar que quando
utilizamos a cardioversão elétrica para retornar o paciente ao ritmo sinusal a
manutenção de um fármaco antiarrítmico é quase sempre necessária, de forma que nos
casos de recorrências a utilização de múltiplas cardioversões elétricas tem um efeito
deletério sobre o miocárdio e deve ser sempre evitada.
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Figura 4 - Traçado de Holter demonstrando o início súbito de uma taquicardia
atrial. Observe a mudança morfológica da onda T evidenciando a presença também
de uma onda P
Figura 4b – Traçado de Holter demonstrando saída súbita de uma taquicardia atrial
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Figura 5 – registro de uma taquicardia atrial durante o Holter. Observe o início
súbito e a presença de uma onda P “encravada” na onda T mudando sua morfologia
em relação a onda T de uma batimento normal
Figura 5b- – Taquicardia atrial durante um exame de Holter. Observe no segundo
canal a morfologia da onda P atrial diferente da onda P sinusal
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Durante o período perinatal o aumento da instabilidade elétrica do miocárdio atrial
combinado a elevada pressão arterial pulmonar proporciona condição ideal ao
surgimento de arritmias atriais (flutter ou taquicardia atrial por exemplo). Em algumas
circunstancias a prematuridade dos batimentos atriais é tão grande que encontra a
junção atrioventricular em seu período refratário o que impossibilita o aparecimento do
batimento ventricular. Nesta situação podemos encontrar freqüências cardíacas baixas,
ou intensa irregularidade dos batimentos ventriculares. Os exemplos abaixo
demonstram as diversas faces da mesma doença em um recém nascido encaminhado ao
setor de eletrofisiologia para avaliação de uma bradiarritmia, que na realidade era a
expressão de um bigeminismo atrial bloqueado. Nos casos com repercussão clínica da
bradicardia, a utilização de antiarrítmicos para suprimir o foco atrial precoce
isoladamente ou associada à proteção de um marcapasso provisório, pode ser necessária
(figuras 6 e 7).
Figura 6 – ECG de 12 derivações evidenciando a presença de bigeminismo atrial
bloqueado. Diagnóstico diferencial de BAV 2:1 com arritmia ventrículo fásica.
Observe a mudança morfológica da onda P bloqueada em V3 e V4 confirmando o
diagnóstico de bigeminismo atrial bloqueado
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Figura 7- Evolução do quadro após a introdução de antiarrítmicos em um RN de 4
dias. Observe que as extras sístoles atriais aintes bloqueadas se tornam mais tardias e
dão lugar a batimentos ectópicos e taquicardias conduzidas com aberrância
Muitas vezes, frente a uma taquicardia atrial refratária o controle do ritmo não é
possível, então nos beneficiando do fato de o NAV ser um expectador da arritmia
apenas recebendo os estímulos que provem de um território superior, podemos impedir
a passagem destes estímulos para o território ventricular aumentando o grau de bloqueio
atrioventricular. Para isto, também podemos utilizar medidas farmacológicas e não
farmacológicas. O uso de fármacos que aumentam o grau de bloqueio atrioventricular
são úteis para o controle da resposta ventricular de forma isolada ou combinada. Dentre
os fármacos mais utilizados estão os betabloqueadores, os bloqueadores de canais de
cálcio não dihidropiridinicos (diltiazem e verapamil) e os digitálicos. As combinações
mais freqüentes para o controle da resposta ventricular envolvem betabloqueadores com
digital. A utilização de bloqueadores de canais de cálcio e betabloqueadores aumenta de
forma significativa o risco de bloqueios avançados, e a combinação entre digitais e
bloqueadores de canal de cálcio incrementa o risco de intoxicação digitálica. Para
avaliarmos a eficácia das terapêuticas instituídas, o controle da FC ou do ritmo com
holter de 24 horas ou por períodos até mais prolongados (Holter de 7 dias) pode
fornecer subsídios importantes (análise da freqüência e número de taquicardias assim
como avaliação de pausas e da freqüência cardíaca média) para o ajuste dos fármacos
utilizados. O uso do ecocardiograma para monitorização da função ventricular também
é de extrema importância.
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Flutter atrial
Trata-se de uma arritmia de origem no território atrial devido a um circuito de macro
reentrada que pode se estabelecer circundando territórios anatômicos naturais (cava
superior e inferior, seio coronariano valva tricúspide) ou mesmo circundar uma cicatriz
ou uma valva manipulada cirurgicamente. No flutter atrial o NAV não participa do
circuito arritmogênico, sendo um expectador da arritmia abrindo então a possibilidade
de controlarmos o ritmo ou a resposta ventricular da arritmia. De incidência rara em
crianças e adolescentes com coração estruturalmente normal, torna-se a arritmia
supraventricular mais freqüente juntamente as taquicardias mediadas por feixes
acessórios (taquicardias por reentrada atrioventricular) no período perinatal. A condução
mais freqüente desta arritmia para os ventrículos é do tipo 2:1 gerando uma freqüência
ventricular ao redor de 300 bpm. Porem no período perinatal a resposta ventricular 1:1,
devido à imaturidade do NAV, facilitando a condução dos estímulos para os ventrículos
é freqüente. Quanto a freqüência da atividade elétrica atrial (naquelas arritmias com
circuito anti horário no átrio que se traduz pela negatividade das ondas F em D2 D3 e
aVF) encontramos FC ao redor de 300 bpm. Nos casos onde o circuito de
macrorrentrada atrial ocorre ao redor de cicatrizes cirúrgicas, por exemplo, a presença
de um circuito com sentido horário gera ondas F positivas nas derivações inferiores e
freqüências mais elevadas de atividade atrial. Do ponto de vista eletrocardiográfico,
podemos diferenciar uma taquicardia atrial de um flutter atrial analisando a presença de
linha isoelétrica entre duas ondas atriais. A ausência de linha isoelétrica nas derivações
do ECG denota a presença do circuito de macrorrentrada e consequentemente o
diagnóstico de flutter atrial.
Diferentemente da taquicardia atrial, em pacientes com coração estruturalmente normal,
principalmente no período neonatal, a reversão do flutter está associado a baixo índice
de recorrência sendo que muitas vezes podemos não utilizar fármacos para a
manutenção do ritmo. Nos casos recorrentes a associação de um fármaco antiarrítmicos,
betabloqueador ou digital pode ser necessária aguardando as condições de estabilização
do tecido miocárdio e a queda da pressão pulmonar ocorrerem.
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Figura 8 – Taquicardia supraventricular com FC de 300 bpm. Diagnóstico
diferencial entre taquicardia por reentrada atrioventricular e flutter atrial. Ambas
podem estar presentes no período perinatal
Para a reversão do flutter atrial ao ritmo sinusal utilizamos principalmente a
cardioversão elétrica com baixas dosagens (vide tabela de fármacos e doses), sendo que
a reversão química apresenta baixos índices de sucesso.
Em pacientes cardiopatas ou naqueles fora do período perinatal, a reversão para o ritmo
sinusal deve obedecer às mesmas regras da reversão de pacientes que apresentam flutter
na idade adulta. Pacientes com história pouco clara quanto ao início da taquicardia ou
em pacientes de evolução há mais de 48h a anticoagulação ,com cumarínicos e INR na
faixa (entre 2 e 3,5 ) por de 3 semanas, se faz necessário antes da CVE. Abaixo o
esquema clássico de preparo para reversão de uma fibrilação atrial/flutter atrial
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Figura 9– Esquema pra reversão da Fibrilação atrial baseada no uso prévio da
anticoagulação oral. A= Amiodarona, P= Propafenona, S= Sotalol, Q= Quinidina,
D= Disopiramida. Esquema clássico – retirado do acervo didático do Prof. Dr. Dalmo
Antonio Ribeiro Moreira e adaptado para uso na infância
A utilização do ecocardiograma transesofágico combinado ao uso de heparina não
fracionada ou de baixo peso molecular há mais de 12-24h pode dispensar a
anticoagulação previa à cardioversão elétrica. Neste ínterim, o controle da resposta
ventricular deve ser realizado para controle clínico do paciente. Pacientes cardiovertidos
devem permanecer anticoagulados por mais 4 semanas nos casos de coração
estruturalmente normal e CHADS2 menor que 2 . Nos casos de score maior que 2 ou
valvopatia, a anticoagulação deve persistir e os critérios para sua retirada ainda
permanecem incertos. Para pacientes onde a anticoagulação não é possível, mas o risco
de fenômenos tromboembólicos existem devido a score elevado, o uso de AAS ou
mesmo a combinação AAS e clopidrogrel (ACTIVE) é possível, mas esta ultima com
quase nenhuma experiência em crianças.
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Figura 10 - Flutter atrial com condução atrioventricular 2:1 – apresentação mais
comum em todas as faixas etárias
Figura 11 – Traçado de Holter em paciente portador de Tetralogia de Fallot
evidenciando flutter atrial com condução atrioventricular variável. Observe a
ausência de linha isoelétrica entre duas ondas F o que faz diagnóstico diferencial
com taquicardia sinusal
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Figura 12- Flutter atrial com alto grau de bloqueio atrioventricular e escape
ventricular por efeito de fármacos que bloqueiam o NAV para controle da resposta
ventricular
Fibrilação atrial
Esta arritmia é caracterizada por múltiplos micros circuitos de reentrada intra atrial.
Neste tipo de arritmia como no flutter atrial o NAV não participa do circuito
arritmogênico então podemos controlar o ritmo retornando ao ritmo sinusal ou apenas
controlar a resposta ventricular aumentando o grau de bloqueio da junção
atrioventricular. Raramente ocorre em pacientes pediátricos com coração
estruturalmente normal, ocorrendo apenas com maior incidência em pacientes
portadores de WPW na adolescência (nestes casos, responsável pelo risco de
mortalidade súbita devido a fibrilação atrial pré excitada). Em pacientes portadores de
cardiopatia congênita principalmente aqueles com manipulação atrial durante a correção
cirúrgica e pacientes portadores de cirurgias paliativas do tipo cavopulmonar, o
surgimento de fibrilação atrial no pós operatório tardio pode instabilizar o quadro
clínico e deteriorar a função miocárdica. Com o intuito de rastrear episódios
paroxísticos, o uso do Holter pode identificar precocemente mudanças do quadro, e a
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instituição precoce do tratamento antiarrítmico pode prevenir o remodelamento elétrico
que ajuda a manter a arritmia. Os cuidados para cardioversão elétrica ou quimica são os
mesmos do flutter atrial. Indícios em pacientes adultos demonstram que a propafenona
pode ser utilizado para reversão de quadros agudos com menos de 48h de evolução com
índice elevado de reversão. Casos com mais de 48 horas de evolução, ou pacientes
portadores de cardiopatia congênitas valvar ou com historia de inicio incerta, devem ser
anticoagulados previamente por 3 semanas (ou cardioversao guiada pelo ECO
transesofágico) antes de se tentar a cardioversão.
Figura 13- Traçado de Holter demonstrando fibrilação atrial de alta resposta
ventricular no pós operatório tardio de cirurgia tipo cavopulmonar
Pacientes cardiopatas valvares ou CHADS2 maior ou igual a 2 devem ser submetidos a
anticoagulação por longa data após a reversão ao ritmo sinusal.
Lembramos que muitas vezes em pacientes portadores de cardiopatias congênitas,
principalmente pacientes portadores de cirurgias paliativas para coração univentricular,
se torna necessária a profilaxia da instabilidade elétrica atrial que pode preceder o
surgimento da fibrilação atrial. Nestes paciented a supressão dos gatilhos por meio de
fármacos antiarrítmicos pode evitar o surgimento de episódios de fibrilação atrial que
podem ser fato limitante por exemplo, para indicação de cirurgia tipo cavopulmonar
total.
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Figura 14 – Presença de extra sístole supraventricular desencadeando
desorganização da atividade elétrica atrial para flutter atrial
Taquicardia Juncional
As taquicardias juncionais hiperautomáticas ocorrem com freqüência elevada no pós-
operatório de cirurgias com manipulação ventricular. Trata-se da arritmia mais
freqüente no pós-operatório de cardiopatias congênitas, ocorrendo nas primeiras horas
do pós operatório e podendo comprometer o estado hemodinâmico rapidamente devido
a elevada freqüência cardíaca, devido perda do sincronismo atrioventricular e a
refratariedade às medidas terapêuticas. Atualmente acredita-se que tempos de CEC
prolongados podem desencadear este tipo de arritmia. O diagnóstico desta forma de
taquicardia no pós-operatório envolve a documentação da dissociação atrioventricular
em uma taquicardia de complexos QRS estreitos. No entanto este achado
eletrocardiográfico pode desaparecer com estabelecimento da captura atrial retrograda,
podendo a onda P vir antes durante ou depois do complexo QRS.
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Figura 15 – Paciente de 6 anos de idade no POI de ventriculosseptoplastia evoluindo
com extra sístoles ventriculares freqüentes
Figura 16 – Taquicardia juncional JET no pós operatório de ventriculosseptoplastia
após o “warm-up” da taquicardia
Assim que estabelecemos o diagnóstico de uma taquicardia juncional de mecanismo
automático, como ocorre no pós-operatório, o tratamento deve ser instituído nos casos
mais graves ou naqueles onde existe possibilidade de deterioração do estado
hemodinâmico. As taquicardias juncionais não respondem bem às manobras de
cardioversão elétrica e habitualmente também não respondem a adenosina. Outra
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característica deste tipo de taquicardia é que conforme vai evoluindo o pós-operatório
nos casos estáveis hemodinâmica mente, existe uma grande possibilidade de reversão
espontânea. O diagnóstico e tratamento desta forma de arritmia no pós-operatório é
facilitada pela presença do eletrodo de marcapasso atrial que possibilita a clara
identificação da dissociação atrioventricular, e também possibilita o overdrive atrial da
arritmia e a utilização segura de fármacos antiaaritmicos sem a perda do sincronismo
atrioventricular. Para o tratamento da taquicardia juncional do período pós-operatório,
devemos se possível instituir a ventilação adequada do paciente e sedação quando estes
estiverem sob ventilação mecânica. Correção dos distúrbios metabólicos e ácido
básicos, infusão de sulfato de magnésio a 10% na dos de 0,5 a 0,7 ml/kg em bolus
também podem ser utilizados. Outra estratégia eficaz é manter hipotermia com
temperaturas entre 34 e 35 graus no intuito de diminuir o metabolismo. Quanto aos
fármacos antiarrítmicos podemos utilizar amiodarona na dose de 5 a 20mg/kg/dia no
entanto doses elevadas também estão associados a maior incidência de efeitos colaterais
e comprometimento da função ventricular. No instituto Dante Pazzanese de Cardiologia
habitualmente, suspendemos as medicações antiarrítmicas no pós-operatório de
cardiopatias congênitas (pacientes sem arritmias prévias a cirurgia) entre 30 e 60 dias de
pós-operatório
Taquicardias mantidas por reentrada com participação da junção
atrioventricular
Neste grupo encontramos as arritmias onde a junção atrioventricular participa do
circuito. Nestes casos a tentativa de irregularizar a arritmia seja com manobra vagal ou
adenosina interrompe a taquicardia, pois interrompe a taquicardia por bloquear o nó
atrioventricular.
Neste tipo de taquicardia podemos encontrar mecanismos de macroreentrada ou
mecanismos de microreentrada. As macroreentradas com a participação da junção
atrioventricular, denominadas taquicardias por reentrada atrioventricular. Os circuitos
de microreentrada dependem da presença de uma dupla via nodal e são denominadas
taquicardias por reentrada nodal
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Taquicardia por renntrada nodal
São menos freqüentes na infância e se estabelecem devido presença de uma dupla via
nodal. Nesta situação existem duas vias eletrofisiológicas para passagem do estimulo
pelo NAV. Nestes casos existe uma via alfa que conduz o estimulo lentamente e se
recupera rapidamente. Uma segunda via chamada beta que conduz o estimulo
rapidamente, porém se recupera lentamente. Em ritmo sinusal o batimento
habitualmente conduz pela via rápida. No entanto quando ocorre um batimento ectópico
precoce este estimulo pode encontrar a via rápida ainda no seu período refratário e
conduzir lentamente pela via lenta. Isto se reflete no ECG de superfície pelo
alargamento abrupto do intervalo PR fenômeno denominado duplo salto ou
comportamento dual da junção atrioventricular. Nesta situação se estímulo atende a
porção distal da via lenta e encontra a via rápida já recuperada, pode o estímulo
ascender de forma retrograda iniciando uma taquicardia onde na maioria das vezes a
onda P retrograda se insere dentro do complexo QRS ou no máximo no ponto J, se
apresentando no ECG como um falso R em V1 ou falso S em D2. Estas ondas são
chamadas de falsas, pois desaparecem quando o paciente retorna ao ritmo sinusal.
Figura 17- ECG de 12 derivações evidenciando taquicardia por reentrada nodal. Note
que não se visualiza a onda P (situação habitual)
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Figura 17 b – Reversão da taquicardia por reentrada nodal com adenosina
Figura 18 – ECG de 12 derivações em um garoto de 8 anos na vigência de
taquicardia por reentrada nodal. Observe a presença de r’ em V1 que desaparecerá
após a reversão configurando uma falsa onda R em V1 caracteristica da taquicardia
por reentrada nodal
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Figura 18b – ECG de 12 derivações após reversão para o ritmo sinusal. Note o
desaparecimento da r’ em V1 – (não houve modificação dos eletrodos entre os
exemplos 18 e 18b)
Taquicardias por reentrada atrioventricular
Estas taquicardias se estabelecem devido presença de um feixe acessório. Classicamente
podemos determinar dois grupos dentro desta arritmia. No primeiro grupo as vias
acessórias são aparerentes ao eletrocardiograma durante o ritmo sinusal cujo modelo
clássico e a presença de onda Delta na síndrome de pré-excitação ventricular. Quando
esta pré-excitação está associada a taquicardias, denominamos síndrome de Wolf
Parkinson White. Nesta síndrome mediada por vias acessórias podemos encontrar
taquicardias ortodrômicas (aquelas que descem para despolarizar a musculatura
ventricular via NAV e sobem novamente para os átrios pela via acessória estabelecendo
um circuito de reentrada) que são taquicardias de complexos QRS estreito. Podem
apresentar também taquicardias antidrômicas que são taquicardias de complexos QRS
largo e entram no diagnóstico diferencial com taquicardias ventriculares. Nas
taquicardias antidrômicas o estímulo desce para os ventrículos pelo feixe acessório, logo
o despolariza pela musculatura não especializada gerando complexos QRS alargados.
Outra forma mais rara de arritmia associada à síndrome de WPW é a fibrilação atrial
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pré- excitada que pode levar a fibrilação ventricular e morte súbita. Vale lembrar que
paciente portador de pré-excitação ventricular tem uma incidência aumentada de
fibrilação atrial em relação à população geral. O segundo grupo de taquicardias no
grupo dos feixes acessórios pertencem àqueles pacientes onde a analise da
eletrocardiografia de superfície (ECG e Holter) não demonstram pré-excitação
ventricular. Neste grupo só é possível o desenvolvimento de taquicardias ortodromicas,
visto que os feixes acessórios destes pacientes, têm condução no sentido ventrículo
atrial exclusivamente, o que no passado era conhecido por feixe anômalo oculto (i.e.
oculto no ECG em ritmo sinusal).
Quanto ao diagnóstico, é essencial o registro do traçado eletrocardiográfico da crise por
meio de Holter looper ou ECG de 12 derivações no pronto atendimento. Nos casos
portadores de pré-excitação a suspeita do mecanismo da taquicardia é em muito
facilitado. Para reversão da crise de taquicardia para ritmo sinusal podemos lançar Mão
de manobras vagais ou mesmo adenosina nas formas ortodrômicas. Nas taquicardias
antidrômicas a interrupção da taquicardia deve ser feita pela via acessória utilizando
drogas do grupo I ou drogas do grupo III. Não se deve utilizar adenosina para reversão
de taquicardias antidrômicas pelo risco relativo de fibrilação atrial pré-excitada.
Devemos lembrar que a adenosina baixa o limiar do átrio para fibrilação atrial e sua
infusão pode desencadear fibrilação atrial. Nos casos com instabilidade hemodinâmica a
cardioversão elétrica sincronizada deve ser imediatamente realizada.
No instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, utilizamos as seguinte estratégia
terapêutica: pacientes com idade inferior a 6 meses optamos por utilizar fármacos que
bloqueiem os feixes acessórios combinados ou não aos betabloqueadores quando
pacientes são portadores de WPW. Nos pacientes que não apresentam pré excitação
devemos realizar a profilaxia com medicações que atuem no NAV (betabloqueadores ou
bloqueadores de canais de cálcio - para pacientes acima de 1 ano). Pacientes acima de 6
meses e abaixo de 10 anos independente da presença de pré excitação optamos por
utilizar betabloqueadpores ou bloqueadores de canais de cálcio (acima de 1 ano) visto
que, estes pacientes com coração estruturalmente normal não apresenta risco aumentado
de FA e consequentemente morte súbita. Após os 10 anos caso não exista indicação
formal para ablação, ou nos casos onde a família rejeite a ablação por radiofreqüência
realizamos a profilaxia das taquicardias utilizando preferencialmente propafenona na
dose de 10 a 15mg/kg dia, no entanto a utilização de amiodarona e sotalol também é
possível.
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Nos pacientes portadores de pré-excitação ventricular a indicação de ablação por
radiofreqüência deve ser indicada nos casos de síncope, arritmias de difícil controle que
são interpretadas como falha terapêutica, fibrilação atrial associada à pré-excitação
(principalmente com intervalo de acoplamento inferior a 270 ms). Também deve ser
indicada em pacientes que desejam praticar atividade física intensa, e em pacientes que
desejem atuar em profissões de risco (motoristas profissionais, pilotos entre outras).
Famílias que após receberem as orientações sobre riscos e benefícios do procedimento e
desejarem a ablação, também devem ser encaminhadas. A utilização de métodos para
estratificação de risco da síndrome de WPW, englobam a avaliação do comportamento
da via acessória com Holter (na pesquisa de intermitência), teste ergométrico para
avaliação do comportamento da via acessória no esforço (buscando desaparecimento
abrupto da pré-excitação), cardioestimulação transesofágica e estudo eletrofisiológico
(para estimar o período refratário da via acessória). No Instituto Dante Pazzanese de
Cardiologia, optamos por utilizar na infância a cardioestimulação transesofágica como
opção ao estudo eletrofisiológico.
Figura 19 – ECG de 12 derivações em paciente de 6 anos em crise de TPSV por
reentrada atrioventricular. Observe FC elevada, infradesnivelamento > 2mm em V5 e
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V6, alternância elétrica visível neste ECG em D2 e onda P retrograda a mais de 70ms
do início do complexo QRS
Figura 20 – ECG com derivação esofágica (visível na derivação V1) evidenciando
RP’ de 120ms em uma taquicardia por reentrada atrioventricular
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Figura 21- Traçado de Holter em um adolescente evidenciando a presença de pré
excitação ventricular intermitente
Figura 22 – Taquicardia por reentrada atrioventricular antidrômica em paciente
portador de via anômala a direita
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Figura 23 – ECG de uma fibrilação atrial associada a WPW em um adolescente com
história de síncope. Observe a intensa irregularidade dos intervalos RR e complexos
QRS com diferentes durações
Figura 24 - Menina de 12 anos submetida a cardioestimulação transesofágica no
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia para investigação de taquicardia de início e
término súbito ainda sem diagnóstico
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Figura 24- Esquema de indicação de ablação por radiofreqüência na infância e
adolescência utilizado no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia
Arritmia ventriicular e taquicardia ventricular
Podemos classificar as arritmias ventriculares quanto a localização em arritmias de
ventrículo direito e arritmias de ventrículo esquerdo. De forma geral nas arritmias do
ventrículo direito observamos complexos QRS negativos em V1 (morfologia tipo BRE
e nas arritmias originadas do ventrículo esquerdo observamos complexos QRS positivos
em V1 (morfologia tipo BRE).
Nas arritmias do ventrículo esquerdo na infância (taquicardias ventriculares fasciculares
encontramos taquicardias com complexos QRS relativamente estreitos e morfologia tipo
BRD associado a hiperdesvio para esquerda(BDAS) – vide exemplo abaixo
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Figura evidenciando a presença de taquicardia ventricular fascicular em adolescente
de 14 anos com coração estruturalmente normal. Observe os complexos relativamente
estreitos e BRD associado a BDAS
Na infância as arritmias idiopáticas do ventrículo direito principalmente as originadas
da via de saída do ventrículo direito ganham importância. Sua benignidade quanto ao
risco de morte súbita leva o médico a utilizar predominantemente medicações
betabloqueadoras apenas para o tratamento dos sintomas. A ablação por radiofreqüência
pode ser realizada nos casos de desejo do paciente ou nas situações de risco expostas na
análise da síndrome de WPW. Casos que se apresentarem como taquicardias
ventriculares (diagnóstico diferencial feito utilizando os critérios de Brugada
modificados que apresentarem instabilidade hemodinâmica devem ser tratados com
cardioversão elétrica sincronizada de 2 a 4 J por Kg. No entanto é de suma importância
a diferenciação entre arritmia idiopática de ventrículo direito e displasia arritmogênica
do ventrículo direito o que veremos na evolução do capítulo
O papel das síndromes elétricas determinadas geneticamente
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Podemos determinar entre as crianças um grupo especifico de pacientes,que, a principio
,não apresentam doenças cardíacas estruturais mas, por condições genéticas especificas,
apresentam um risco maior de morte súbita devido a alterações canaliculares
(canaliculopatias). Da mesma forma existem condições onde modificações estruturais na
estrutura miocárdica, como na displasia arritmogênica de ventrículo direito, onde a
substituição progressiva do miocárdio por áreas de fibrose e ou gordura determinarão na
maioria das vezes eventos arrítmicos ventriculares graves na adolescência e principalmente
na idade adulta.
Nestas condições, o conhecimento destas entidades pelo pediatra pode determinar a
diferença entre a vida e a morte possibilitando o tratamento e a intervenção precoce,
minimizando assim os efeitos e riscos que podem levar a criança à morte
Pertencem ao grupo de doenças canaliculares a Síndrome do QT longo, a Síndrome de
Brugada, a taquicardia ventricular catecolaminérgica e a nova condição de Síndrome do
QT curto. Também nos deteremos na pesquisa da displasia arritmogênica de ventrículo
direito (situação que depende da busca ativa dos casos em fase inicial), em pacientes
portadores de arritmias ventriculares originadas do ventrículo direito .
Síndrome do QT longo congênito
Descrita inicialmente no inicio da década de 50, podemos determinar dois grandes grupos
baseados na sua forma genética de herança. Uma primeira forma autossômica recessiva,
também chamada pelo nome de seus descritores Jerve Lange Nilsen (JLN), e outra
autossômica dominante conhecida como Síndrome de Romano Ward. De maneira geral a
forma autossômica recessiva tem incidência que varia entre 1,6 a 6 casos por milhão de
habitantes, sendo caracterizada por pior evolução e associação com doenças extra
cardíacas particularmente casos de surdez congênita. A forma autossômica dominante
encontra incidência variando entre 1 caso para 5000 a 10000 habitantes, dados estes
provavelmente subestimados devido à falta de diagnóstico.
Quanto à mortalidade podemos encontrar índices elevados de eventos fatais alcançando
até 70% na evolução natural133-134
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Na era pré genômica já era possível o diagnóstico de duas formas autossômicas recessivas
e 7 formas autossômicas dominantes envolvendo comprometimento de diversos genes e
acometendo diferentes correntes iônicas. Hoje se acredita existir mais de 10 variações
genotípicas para a forma autossômica dominante. Os genes acometidos e as correntes
iônicas envolvidas nas 7 formas autossômicas dominantes principais encontram-se
demonstradas na figura abaixo:
Figura 25 – Figura do potencial de ação clássico e as principais alterações genéticas e
de correntes iônicas envolvidas na síndrome do QT longo congênito. Ikr - canais rápidos
de K, Ikr- canais lentos de K; INa- canais de sódio. Entre parênteses a descrição do gene
acometido
O diagnóstico da síndrome do QT longo congênito é baseado na análise do intervalo QT
(no eletrocardiograma) e na pesquisa de sinais e sintomas associados ao quadro clínico.
Assim podemos, na prática clínica, estabelecer um score de probabilidade diagnóstica
mais preciso e estabelecer as medidas terapêuticas.
A avaliação do intervalo QT pode ser feita no ECG de 12 derivações utilizando a
derivação onde o QT se mais facilmente visível (principalmente seu termino) e onde
possamos encontrar o intervalo mais longo o que geralmente ocorre nas derivações
precordiais. Devemos realizar a média de 3 a 5 batimentos para maior fidedignidade da
medida.
Alterações morfológicas da onda T, tipo alternância ou dismorfismos na onda T, tem
importância assim como a medida da dispersão do intervalo QT (diferença entre o maior
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e o menor QT de um eletrocardiograma de 12 derivações – valor limite 100 ms). Como na
infância, a FC varia conforme a idade o cálculo do intervalo QT corrigido pela fórmula
de Bazzet se torna mais importante. No entanto, a correção dos valores foi estabelecida
para FC variando entre 60 e 100 bpm o que muitas vezes é insuficiente.
Como limite superior da normalidade encontramos intervalo QT corrigido de 440ms.
Lembramos que para que os cálculos sejam precisos os intervalos devem ser médicos em
segundos antes de aplicarmos a Formula de Bazzet
Figura 26 – ECG de 12 derivações de um adolescente portador de síndrome de QT
longo congênito. Observe os maiores intervalos QT encontram-se nas precordiais
direitas
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Figura 27 – Formula de Bazzet observe que quando a onda U se funde a onda T a
medida do intervalo QTU é necessária. Se a onda T e a onda U estiverem distintas no
traçado eletrocardiográfico não se faz necessária a inclusão da onda U
A manifestação arrítmica clássica da síndrome do QT longo é uma taquicardia ventricular
polimórfica chamada Torsade de pointes. Do ponto de vista eletrocardiográfico esta
arritmia se caracteriza pela presença de uma taquicardia rápida com mudanças
freqüentes no eixo dos complexos QRS podendo ser auto limitada ou degenerar para
fibrilação ventricular.
Raramente o paciente com Torsade de pointes refere algum sintoma mesmo na
adolescência ou idade adulta. A principal manifestação clínica são episódios de sincope.
Nas forma autossômica dominante tipo I e II o estresse adrenérgico seja físico (LQT1) ou
auditivo/ emocional (LQT2) constitui o gatilho para os eventos,. Na síndrome do QT longo
tipo 3 a bradicardia é o gatilho principal para a arritmia se assemelhando muitas vezes à
Síndrome de Brugada (os eventos geralmente ocorrem no repouso).
A sequência clássica do torsade pointes envolve um batimento ectópico precoce seguido
de uma pequena pausa compensatória. Na sequência um batimento normal com uma onda
T bizarra é novamente seguido batimento precoce que gera o Torsade de pointes
“sequência curto-longo- curto”.
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Exames como o teste ergométrico e o Holter de 24 horas podem auxiliar no diagnóstico
diferencial demonstrando prolongamento do intervalo QT no esforço ou durante a noite
respectivamente.
Figura 28 – Holter demonstrando evolução auto limitada de um Torsade de pointes.
Observe a sequência “curto–longo-curto” gerando a taquicardia
Figura 29 – Detalhe do traçado eletrocardiográfico de um Holter demonstrando o início
de um Torsade de pointes. Observe a sequência “curto–longo-curto” gerando a
taquicardia.
Aos dados da análise do ECG devemos acrescentar dados clínicos da história do paciente
tais como: presença de Torsade pointes, alternância de onda T, baixa freqüência
cardíaca, história e tipo de síncope, historia familiar de QT longo ou morte súbita entre
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jovens.
Tabela 1 – Score diagnóstico para Síndrome do QT longo (<1 = baixa probabilidade;
2-3 = probabilidade intermediária; >4 alta probabilidade)
O tratamento adequado da síndrome do QT longo congênito passa pela estratificação de
risco para morte súbita identificando os principais fatores de risco de acordo com a forma
de apresentação clínica. O combate aos gatilhos deflagradores do Torsade de pointes,
assim como a profilaxia primaria e secundária de morte súbita com desfibriladores
implantáveis e marca-passos fazem parte do arsenal terapêutico. Podemos identificar
grupos de maior risco para morte súbita analisando as medidas do intervalo QT, as formas
de apresentação, o sexo , a presença de eventos prévios (síncope ou arritmias
ventriculares). Assim, pacientes com intervalos QT acima de 600 ms, história prévia de
síncope, forma LQT3,por exemplo, apresentam-se no grupo de alto risco e a terapia mais
agressiva com fármacos e desfibriladores implantáveis se faz necessária. O estudo genético
identificando formas de alto risco para morte súbita é uma possibilidade real para o futuro,
mas no momento encontram-se muito distantes dos consultórios cardiológicos.
Estudo recente com 3015 casos de QT longo observou que pacientes portadores de
LQT3, sexo masculino, história prévia de síncope e intervalos QT acima de 500 ms
encontram-se mais expostos a eventos súbitos e morte.140
Quanto à abordagem medicamentosa objetivamos principalmente diminuir o estresse
adrenérgico sobre o coração. O aumento do tônus simpático constitui a principal forma
de gatilho nas formas autossômicas dominantes 1 e 2. O uso de betabloqueadores em
altas doses, combinadas ou não com a terapia com marca-passo ou desfibriladores,
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reduzem de maneira significativa a mortalidade. Os fármacos utilizados são os
betabloqueadores que envolvem o propranolol (1 a 4 mg/kg/dia) , o nadolol (1 a 5
mg/Kg/dia –max 240mg) ou atenolol (1 a 2 mg/Kg/dia) facilmente encontrados em
nosso meio. Outras opções menos utilizadas para controle do estresse adrenérgico são a
denervação cardíaca e a ressecção do gânglio estrelado
Estudo recente tem demonstrado alta eficácia do tratamento com betabloqueadores no
tratamento de formas adrenérgico dependentes. Isto serviria como opção ao tratamento
primário com desfibriladores.
Tabela 2 – Estratificadores de risco e formas de profilaxia primária e secundária
Síndrome do QT longo ((Europace 2002; 4:3-18)
Síndrome de Brugada
Descrita inicialmente em 1992 pelos irmãos Brugada esta canaliculopatia que afeta os
canais de sódio e pode ter padrão familiar é causada por mutações no gene SCN5A. esta
mutação gera alterações eletrofisiológicas complexas e modificações clássicas no ECG
de superfície, especialmente nas derivações precordiais direitas.
Suas manifestações são raras no período neonatal, porém pode estar envolvida em casos
de morte súbita no berço.
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Podemos identificar além do eletrocardiograma típico da Síndrome de Brugada
(morfologia tipo bloqueio de ramo direito visível apenas de V1 a V3 e
supradesnivelamento do segmento ST com característica descendente e ondas T
negativas em V1 e V2 e supra desnivelamento de V3 – “padrão coved type”) outros dois
tipos de padrões eletrocardiográficos que devem ser investigados em pacientes com
quadros de síncope. Nestes casos testes farmacológicos com drogas do grupo I
(procainamida 10mg/kg, ajmalina 10 mg/kg ou flecainida 2 mg/kg) podem converter
estes traçados eletrocardiográficos no eletrocardiograma típico da síndrome com o
padrão “coved type”. Em nosso, meio pela escassez destes medicamentos no mercado
nacional, indícios indicam que o uso da propafenona também pode desmascarar o
eletrocardiograma típico.
Atualmente, no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, utilizamos 1,5 mg/Kg de
propafenona infundida em 20 minutos na tentativa de evidenciar o ECG típico da
Síndrome.
Figura 30 – Amostra de três tipos de ECG nas derivações precordiais V1,V2 e V3 de
cima para baixo respectivamente. Os pacientes com ECG tipo 2 e tipo 3 na vigência
de síncope necessitam de investigação com teste farmacológico
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Existem casos onde os achados típicos da síndrome assumem características
intermitentes. Desta forma, o aparecimento espontâneo das alterações elétricas denota
maior gravidade e seu desaparecimento de forma intermitente não tem valor prognóstico
de benignidade.
Figura 31 – ECG de 12 derivações de um paciente de 9 anos com história de síncope.
Observe as alterações típicas da Síndrome de Brugada em V1,V2 e V3
Figura 32 – ECG em V1,V2 e V3 de um adolescente com Síndrome de Brugada e
ECG “coved type”
Dentre os marcadores de pior prognóstico estão: sexo masculino, presença de síncope
prévia e padrão eletrocardiográfico espontâneo. Pacientes portadores de Síndrome de
Brugada associado à eventos arrítmicos documentados e ou síncope devem ser
encaminhados para implante de desfibrilador implantável. Os casos que se apresentam
com ECG tipo 1, porém sem histórico prévio de síncope, devem ser encaminhados para
o estudo eletrofisiológico com a finalidade de se desencadear arritmias ventriculares
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malignas (taquicardia ventricular sustentada e fibrilação ventricular) que sustentem a
implantação de um cardiodesfibrilador implantável (CDI).
As opções de tratamento clínico farmacológico não estão totalmente comprovadas.
Ataulmente se restringem ao uso de quinidina em baixas doses durante as tempestades
elétricas e ao uso de cilostozol (sem doses estipuladas na infância) em relatos
esporádicos.
Figura 33 – Pirâmide de risco dos pacientes com síndrome de Brugada . À esquerda
observamos risco relativo de morte súbita em comparação à população geral.
Taquicardia ventricular catecolaminérgica
Descrita inicialmente por Coumel em 1978 e mais extensivamente por Leenhardt em
1995, manifesta-se principalmente como um quadro de síncope recorrente relacionada
ao esforço físico e estresse emocional em crianças e jovens sem cardiopatia estrutural. O
estresse adrenérgico combinado a mutações no gene da rianodina (RyR2) ou da
calsequestrina desencadeiam episódios de taquicardia ventricular polimórfica ou
bidirecional, que podem culminar com fibrilação ventricular e morte.
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As taquicardias ventriculares catecolaminérgicas possuem uma alta mortalidade , em
torno de 30% a 50%, entre 20 e 30 anos de idade. Os fatores de pior prognóstico são: o
sexo masculino, a presença de alteração do RyR2 e manifestação clínica precoce 146-8
.
A terapia com betabloqueadores, visa primordialmente agir na situação deflagradora
evitando os episódios malignos. No entanto, nos pacientes onde a terapia anti
adrenérgica (que pode envolver também denervação cardíaca e ressecção do gânglio
estrelado) falha, a combinação com implante de desfibrilador implantável se faz
necessária.
Dentre os métodos diagnósticos utilizados no diagnóstico o Holter e principalmente o
teste ergométrico (que pode ser realizado em mãos experientes já abaixo dos 4 anos)
possibilita o diagnóstico dos mecanismos deflagradores, evidenciando padrões de
taquicardia ventricular polimórfica desencadeada pelo esforço. Nestes casos, o teste
ergomátrico serve não só para o diagnóstico, mas também para o controle terapêutico
comparativo após a terapia anti adrenérgica.
O cardiodesfibrilador implantável torna-se mandatório nos pacientes com resposta
ausente ou incompleta as medidas clínicas.
A avaliação genética familiar torna-se interessante à medida que pode identificar
portadores assintomáticos que se beneficiam de terapia como betabloqueador mais
precocemente. Também tem sido sugerido que a doença deve ser investigada em casos
de eventos cardíacos deflagrados durante a prática esportiva.
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Figura 34 e 35 – Teste ergométrico de criança de 3 anos e 11 meses evidenciando
taquicardia ventricular polimórfica induzida por esforço durante a investigação de
quadro de síncope.
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Displasia arritmogênica do ventrículo direito
De rara apresentação no período neonatal,esta anormalidade genética caracteriza-se pela
progressiva substituição da musculatura cardíaca por áreas de infiltração gordurosa e
fibrose. Este fato gera o substrato anatômico para o desenvolvimento de arritmias
ventriculares mantidas por circuitos de reentrada.
Como se trata de uma doença progressiva, raramente as manifestações ocorrem nos
primeiros anos de vida, porém quando isto acontece denota a gravidade do caso.
A principal manifestação clínica são arritmias ventriculares originadas do ventrículo
direito geralmente em sua via de saída (extra sístoles ventriculares negativas em V1 e
positivas na parede inferior –D2, D3 e aVF).
A investigação dos casos deve ser ativa e intensa, com a finalidade de identificar
precocemente os casos e instituir a terapêutica.
Seu diagnóstico diferencial principal é feito com arritmias idiopáticas da via de saída
do ventrículo direito que tem conotação benigna, sendo tratadas apenas quando
sintomáticas.
Para a investigação diagnóstica,que deve ser evolutiva e repetida em diversos momentos
da vida da criança e do adolescente, podemos lançar mão do eletrocardiograma de
superfície, do eletrocardiograma de alta resolução, do teste ergométrico e do Holter
além dos exames de imagem tais como a ecocardiografia bi e
tridimensional e a ressonância magnética do coração.
Desta forma, buscamos na análise laboratorial sinais sensíveis, tais como a presença de
ondas T negativas de V1 a V3 fora da infância e empastamento da porção terminal dos
complexos QRS (nadir do S final do QRS superior a 55ms – presente em 95% dos casos
adultos de displasia arritmogênica do VD) ou sinais específicos.
A presença de onda Épsilon (tradução eletrocardiográfica de superfície dos potenciais
tardios do ECGAR) é considerada um sinal específico de grande importância clínica .
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Alterações de magnitude nas câmaras direitas nos exames de imagem (dilatação ou
disfunção importantes do ventrículo direito) constituem sinais clínicos de peso no
diagnóstico desta doença. Raramente existe acometimento do ventrículo esquerdo, mas
quando isto ocorre esta associado a pior evolução. A detecção de infiltração gordurosa
nos exames de imagem como a RNM são característicos, mas nem sempre referidos. Da
mesma forma pacientes portadores de grande número de arritmias ventriculares
submetidos particularmente a RNM, pode receber falsos diagnósticos 152-54
.
Figura 36 – ECG demonstrando arritmia ventricular de via de saída do ventrículo
direito
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Figura 37 – ECG de uma adolescente de 14 anos portadora de displasia
arritmogênica de ventrículo direito. Presença de onda épsilon – Observe em V1 a
onda positiva juntamente ao final do complexo QRS
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Figura 38 – ECG de uma adolescente de 14 anos portadora de displasia
arritmogênica de ventrículo direito. Taquicardia ventricular originada do ventrículo
direito (negativa em V1). Observe a presença de dissociação atrioventricular em V1
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Figura 39 – RNM do coração eixo curto evidenciando grande dilatação da via de
saída do ventrículo direito em adolescente portadora de displasia arritmogênica de
ventrículo direito
Quanto à abordagem terapêutica, pacientes com eventos cardíacos (taquicardia
ventricular sustentada e fibrilação ventricular) devem ser encaminhados para profilaxia
secundária com desfibriladores implantáveis sempre associado à terapia antiarrítmica
(com sotalol ou amiodarona combinados ou não ao uso de betabloqueadores). Pacientes
que não apresentaram eventos, que os encaixem na profilaxia secundária, devem ser
tratados com medicação antiarrítmica e eventualmente ablação do foco arritmogênico,
com o intuito de modular a resposta aos fármacos. Também devemos estratificar o risco
destes pacientes encaminhando-os para o estudo eletrofisiológico com a intenção de
desencadear arritmias malignas e implantar o CDI como forma de profilaxia primária.
Miocárdio não compactado
A não compactação do miocárdio durante a vida fetal pode gerar graus variáveis de
disfunção miocárdica mecânica e elétrica.
A síndrome do miocárdio não compactado caracteriza-se pela presença de trabeculações
profundas no ventrículo esquerdo e relação ecocardiográfica do miocárdio não
compactado/miocárdio compacto maior que 2.
Os casos podem variar desde o simples diagnóstico ecocardiográfico ate casos de
disfunção ventricular e arritmias cardíacas severas que podem levar o paciente a morte.
Figura 40 – ECG 12 derivações evidenciando bloqueio de ramo esquerdo em criança
de 2 anos portadora de miocárdio não compactado
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Aproximadamente 75% dos casos apresentam alguma alteração eletrocardiográfica. As
manifestações mais freqüentes são sobrecarga ventricular, bloqueios de ramo, síndrome
de WPW e alterações da repolarização ventricular. As arritmias ventriculares são
complicações graves e podem levar a morte súbita. Apenas casos extremamente severos
se manifestam no período neonatal, no entanto 56% dos diagnósticos se estabelecem no
primeiro ano de vida. Outra complicação temida são os fenômenos tromboembólicos.
A incidência de arritmias variam nas diversas séries. Para arritmias ventriculares
encontramos incidência que caria entre 18 e 47%. Para arritmias supraventriculares a
incidência varia entre 13 e 29%
Figura 41 – ECG 12 derivações evidenciando taquicardia ventricular de complexos
QRS relativamente estreitos. O diagnóstico ficou facilitado pelo conhecimento da
presença de bloqueio de ramo esquerdo prévio – figura 40
O tratamento para as arritmias supraventriculares e ventriculares devem seguir os
preceitos gerais dependendo do diagnóstico e a profilaxia primária com desfibriladores
implantáveis para as arritmias malignas ainda não está totalmente estabelecida.
Arritmias Após Correção Cirúrgica de Cardiopatias Congênitas
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O período pós-operatório é contemplado por diversas formas de arritmias. Para fins
diagnósticos dividir as taquicardias em taquicardias de complexos QRS estreitos e
taquicardias de c omplexos QRS alargados. Quando no ECG visualizamos taquicardias
de complexos QRS largos na infância geralmente são de origem ventricular. No entanto a
presença de bloqueio no pos operatório pode dificultar o diagnostico. No entanto,
taquicardia supraventricular com aberrância de condução, ao contrário dos adultos, ocorre
em apenas 2% das crianças sem bloqueio de ramo pré existente. Na análise do ECG
devemos observar os limites da FC para as diferentes faixas etárias.
Tabela 3 - Freqüência cardíaca para as diferentes idades
Idade Min 5% Média 95% Max DP
0-24 h 85 94 119 145 145 16,1
1-7 dias 100 100 133 175 175 22,3
8-30 dias 115 115 163 190 190 19,9
1-3 meses 115 124 154 190 205 18,6
3-6 meses 115 111 140 179 205 21,0
6-12 meses 115 112 140 177 175 18,7
1-3 anos 100 98 126 163 190 19,8
3-5 anos 55 65 98 132 145 18,0
5-8 anos 70 70 96 115 145 16,1
8-12 anos 55 55 79 107 115 15,0
12-16 anos 55 55 75 102 115 13,5
Do ponto de vista temporal as arritmias podem ocorrer no período pós-operatório
precoce (onde a criança ainda esta no ambiente hospitalar) ou no período pós alta
hospitalar. Devido à grande variedade de cardiopatias congênitas podemos dividir as
cirurgias em cirurgias com manipulação atrial, cirurgias com manipulação ventricular,
cirurgias paliativas para a correção de coração univentricular (Cirurgias cavopulmonar)
e cirurgias que envolvem cardiopatias associadas à presença de isomerismo atrial.
Durante o período de internação
A incidência de arritmias no pós operatório varia de forma significativa nos diversos
estudo estando muito provavelmente subestimadas em nosso meio girando ao redor de
8% em uma série de 610 cirurgias cardíacas congênitas
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Tabela 4 – Correlação entre tipo de cardiopatia congênita e possíveis arritmias
Condição clínica Substrato Arritmias pré ou pós operatórias Comentários
Comunicação interatrial Dilatação do átrio direito (pré
operatório)
Atriotomia e manipulação atrial
(pós operatório)
Taquicardia atrial (pré e pós)
Flutter atrial (pré e pós)
Fibrilação atrial (pré e pós)
Lesão mecânica pós operatória do sistema
elétrico do coração (pós)
Fibrilação, flutter atrial e
taquicardia atrial geralmente
surgem na evolução tardia
Comunicação
interventricular
Lesão cirúrgica do sistema de
condução ou processo inflamatório
pós CEC
Bloqueios atrioventriculares (pós)
Taquicardia juncional (pós)
Taquicardias ventriculares (pré e pós com
disfunção miocárdica)
Episódios de taquicardia
juncional ocorrem
predominantemente nos
primeiros dias de pós operatório
Transposição corrigida
de grandes artérias (L-
TGA)
Distorção do sistema de condução
pela inversão ventricular, lesão
cirúrgica
Bloqueios atrioventriculares até BAVT Pode ocorrer espontaneamente ou
no pós operatório de
ventrículosseptoplastia, por
exemplo
Isomerismo atrial Esquerdo: ausência de nodo
sinusal;
Direito: Dois nodos sinusais;
Presença de dois nodo
atrioventricular (possível)
Arritmias atriais (ritmos atriais ectópicos,
taquicardia atrial multifocal)
Taquicardia por reentrada atrioventricular por
feixes acessórios ou por dois NAV
Pode ter diversas arritmias atriais
primarias ou secundárias a
procedimentos cirurgicos
Tetralogia de Fallot Disfunção e dilatação do VD
Lesão pós operatória
Arritmias ventriculares (simples ou
complexas)
Maior risco quanto mais tardio o pós
operatório e maior idade na correção cirúrgica
Risco de morte súbita e arritmias
malignas quando QRS maior que
180ms, insuficiência pulmonar
importante e disfunção de VD
Anomalia de Ebstein Dilatação atrial e feixes anômalos Arritmias atriais (Flutter e FA)
WPW
Maior incidência de feixes
anômalos que a população geral.
Normalmente feixes a direita
Miocardiopatia
hipertrófica
Feixes acessórios
Mecanismos de reentrada na
musculatura ventricular
TPSV por macrorrentrada atrioventricular
Arritmias ventriculares (simples ou
complexas)
Septo maior que 30mm, síncope,
TVNS, TVS e história familiar de
morte súbita são critérios de
gravidade
Durante a internação no pós-operatório de cirurgia cardíaca congênita o simples
eletrocardiograma acompanhado ou não de derivações especiais (com uso de foi de
marca-passo atrial, cateter de derivação esofágica ou derivações modificadas como
derivações de Lewis) é o principal método diagnostico, visto a intensa vigilância das
equipes de saúde.
A presença dos fios de marca-passo, principalmente os implantados no átrio constitui
uma arma poderosa para o diagnóstico preciso das arritmias de pós-operatório. As
cirurgias com manipulação dos átrios e das valvas atrioventriculares ficam propensas às
arritmias atriais (taquicardia atrial, fibrilação atrial ou flutter atrial) e a presença do fio
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de marca-passo atrial propicia uma derivação univentricular (V1) com nítida
visualização da onda P ou F (se estas existirem). Taquicardias atriais podem se
confundir com o flutter atrial devido à freqüência atrial rápida e não são raras freqüências
acima de 250 batimentos por minuto.3
Nos casos onde não é possível determinar com
clareza a forma de arritmia atrial, a utilização de manobras vagais ou mesmo adenosina
permite no ambiente hospitalar o registro da atividade elétrica supraventricular. A
presença ou ausência de fase isoelétrica entre duas ondas F determina o diagnóstico. Em
cirurgias com manipulação ventricular o processo inflamatório ou a circulação extra-
corpórea (principalmente quando prolongada) geram taquicardias juncionais (JET) ou
taquicardias de complexos QRS alargados que muitas vezes causam dificuldade
diagnóstica (entre as taquicardias ventriculares ou taquicardias associadas a bloqueios
de ramo permanentes ou aberrância de condução). Ocorre preferencialmente crianças
com menos de 1 ano de vida sendo na forma não paroxística que esta arritmia ganha
importância no pós operatorio (mais comum) fruto da CEC, hipóxia, desequilíbrio
eletrolítico ou trauma cirúrgico que lesa as células na região do feixe de His e raramente é
encontrada em crianças com coração normal8.
Para taquicardias de complexos alargados nem sempre a aplicação dos critérios de
Brugada mesmo que agregados aos novos critérios para taquicardias de complexos
alargados são uteis. A pesquisa da dissociação atrioventricular nesta fase é muito útil ao
diagnóstico. O mesmo se aplica às taquicardias juncionais. Nos pacientes com
taquicardias juncionais ou nos pacientes portadores de taquicardias de complexos QRS
alargados a presença dos fios de marca-passo no átrio conectados a uma derivação
unipolar permite o registro da dissociação atrioventricular em até 50% dos casos de
taquicardia ventricular. Na ausência dos fios de marca-passo atrial, o registro do ECG
de superfície fornece em 12 derivações permite a analise do traçado da crise
diferenciando taquicardias de complexos QRS estreito das taquicardias de complexos
QRS largo (taquicardias ventriculares, taquicardias supraventriculares com aberrância,
taquicardias supraventriculares com condução aberrante ou com bloqueio de ramo pré
existente, taquicardia por reentrada atrioventriculares antidrômicas e fibrilação atrial pré
excitada) das taquicardias de complexos QRS estreitos (taquicardias supraventriculares
ou taquicardias ventriculares fasciculares – raras no pós operatório).
Na investigação da dissociação atrioventricular, ou ainda na pesquisa de da relação
entre ondas P e complexos QRS, o registro da onda P com derivação transesofágica ou
derivação de Lewis pode ser útil.
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No período intra hospitalar podemos esperar na evolução pos operatória de cirurgias
com manipulação atrial arritmias atriais como fibrilação atrial, taquicardia atrial, flutter
atrial. Neste grupo de cirurgias encontraremos os fechamentos de CIA, correção das
drenagens anômalas parciais e totais, as plastias valvares da anomalia de Ebstein e dos
defeitos do septo atrioventricular e a plastias de valva mitral. Com evolução da idade do
paciente submetido à cirurgia as arritmias atriais tipo fibrilação atrial e flutter no pos
operatório vão se tornando mais freqüentes ficando as taquicardias atriais mais
freqüentes no período da infância. Nas cirurgias com manipulação ventricular (correção
de comunicação interventricular, por exemplo) ou nos casos onde a circulação
extracorpórea foi capaz de deixar a junção atrioventricular hiper reativa a principal
complicação arrítmica são as taquicardias juncionais. Nestes casos o registro do ECG de
12 derivações é fundamental fazendo com que possamos estabelecer o diagnostico
correto da arritmia. Este método pode ser auxiliado pelo registro da derivação
intracardíaca com o fio de marca-passo atrial ou mesmo pela utilização da derivação
esofágica. Nesta arritmia a utilização da manobra vagal para o diagnóstico, no geral,
resulta infrutífera.
As taquicardias por reentrada com participação da junção atrioventricular são facilmente
elucidadas pelo ECG e confirmadas pela interrupção da taquicardia com manobra vagal
ou adenosina.
Nas taquicardias por reentrada nodal na maioria dos casos não é possível a visualização
da onda P podendo vir acompanhadas de pulsações cervicais e ganha importância entre
pacientes portadores de cardiopatia congênita operados na idade adulta.
As taquicardias por reentrada atrioventriculares (com pré excitação- síndrome de WPW
ou naquelas onde a presença do feixe só pode ser feita durante a taquicardia – vias de
condução retrograda exclusiva) ocorrem com maior freqüência em pacientes portadores
de anomalia de Ebstein, miocardiopatia hipertrófica e miocárdio não compactado. Nos
casos de pré-excitação ventricular o simples ECG de 12 derivações pode fornecer o
diagnóstico e ainda informar de forma mais precisa a localização da via acessória.
Quando o paciente apresenta queixa de taquicardia deve ser prontamente realizado. A
presença de fios de marca-passo atrial possibilita o registro perfeito das ondas P
retrogradas o que auxilia em muito a diferenciação dos circuitos de micro e macro
reentrada pela análise do intervalo RP´. Nos casos de registro da crise devemos sempre
tentar o registro da saída da taquicardia mantendo o ECG conectado e ligado durante a
reversão em derivações isoladas ou simultâneas.
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Nos casos onde o NAV é um expectador da arritmia (taquicardia
sinusal/atrial/flutter/fibrilação atrial) a diminuição da resposta ventricular permite a
análise detalhada do que ocorre no território supraventricular.
Quanto às bradicardias que ocorrem no período intra hospitalar o registro do ECG de
12 derivações permite a análise das bradicardias por alteração na formação do estimulo
(bradicardias sinusais, bloqueios sinoatriais de segundo grau ou mesmo pausas
sinusais), a presença de alterações na condução do estimulo aos ventrículos manifestado
pelos bloqueios atrioventriculares de primeiro segundo e terceiro grau assim como suas
variantes.
As bradicardias podem ocorrer em quase todos os pacientes submetidos a
procedimentos cirúrgicos ou por edema local próximo ao nó sinusal ou devido a
mecanismos inflamatórios ou mecânicos que danifiquem o sistema de condução em
qualquer dos seus níveis. Raramente durante o período de internação para o diagnostico
lançamos mão de outros métodos diagnósticos não invasivos para a pesquisa dos
eventos arrítmicos ou mesmo na estratificação de risco para morte súbita. No entanto o
Holter de 24 horas pode auxiliar a quantificar as arritmias e buscar com mais facilidade
períodos de bloqueios ou batimentos bloqueados que podem ser fugazes e passar
despercebidos da equipe de assistência.
Arritmias e estratificação de risco no período extra Hospitalar e no pós operatório
tardio
Neste período ganham importância as manifestações clinicas (palpitações, por exemplo)
e o conhecimento do cardiologista pediátrico sobre os métodos que podem ser utilizados
para a triagem destes pacientes. Pacientes com queixas de palpitação devem ser
inquiridos sobre as suas características, forma de inicio, fatores desencadeantes,
freqüência de surgimento e duração total dos sintomas. Queixas duradouras que
permitam o tempo para acesso ao serviço de saúde devem ser encaminhados para
registro do ECG de “crise” possibilitando assim a correlação clinico eletrocardiográfica
precisa. Pacientes portadores de cirurgia tipo cavopulmonar e adultos podem evoluir
com fibrilação atrial paroxística assintomática ficando o diagnóstico critério da busca
ativa com Holter ou a utilização de monitorização mais prolongada como o Holter de
sete dias. Num relato de 22 anos de experiência no seguimento clínico de 35 casos de
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fibrilação atrial em crianças com idade variando entre 1 dia e 19 anos (idade média 8
anos), Radford e Izukawa demonstraram que a arritmia ocorreu em diversas condições
clínicas, mas principalmente associada à correção cirúrgica de cardiopatias.A grande
questão da investigação ocorre quando os sintomas não são freqüentes o bastante para
serem flagrados com o Holter ou quando não duram tempo o suficiente que permita ao
paciente procurar a assistência médica para registro da arritmia. Nestes casos a
utilização do monitor de eventos externo por até 30 dias possibilita o registro da
correlação clinico eletrocardiográfica e elucidação do quadro varia entre 50 a 70% dos
casos. Nestes casos aproximadamente 10% dos casos necessitam de intervenção médica
rápida após transmissão dos eventos .Outra maneira de investigar pacientes com
taquicardias de inicio e termino súbito onde exista a possibilidade da presença de
taquicardias mantidas por reentrada pela junção atrioventricular é a cardioestimulação
transesofágica (CETE). O CETE também permite na síndrome de pré excitação a
avaliação do período refratário da via acessória. Outra utilidade do Holter é a detecção
de pré excitação ventricular intermitente durante principalmente os episódios de
bradicardia.
A abordagem das arritmias ,no pos operatório tardio da tetralogia de Fallot, combinado
aos métodos de imagens (principalmente o ecocardiograma) podem fornecer fatores
preditores do risco de morte súbita. A análise do ECG na tetralogia de Fallot em ritmo
sinusal permite a avaliação da duração dos complexos QRS e de maneira seqüencial ao
longo dos anos permite calcular a velocidade do alargamento destes complexos como
fatores independentes para o risco de morte súbita. Duração dos complexos QRS maior
que 180 ms e alargamentos superiores a 4ms ao ano permite identificar um grupo mais
propenso a desenvolver arritmias ventriculares malignas. A utilização do Holter para
monitorizar o surgimento de arritmias ventriculares complexas (taquicardias
ventriculares) também permite a análise da variabilidade da freqüência cardíaca de
papel na infância e adolescência ainda não esta determinado18
. O eletrocardiograma de
alta resolução para pesquisa de potenciais tardios pode ser utilizado na população com
tetralogia de Fallot com valores preditivos negativos giram entre 92 e 100% .
A investigação das taquicardias sintomáticas ou palpitações na tetralogia de Fallot deve
seguir do ponto de vista não invasivo a busca ativa dos eventos arrítmicos com Holter,
monitor de eventos sintomáticos e tentativa de eletrocardiograma de 12 derivações
durante a presença dos sintomas. Nos pacientes portadores de cardiopatia congênita
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graves a investigação dos quadros de sincope devem ser realizada sempre no intuito da
avaliação de potenciais eventos arrítmicos deixando a documentação de episódios de
sincope neuromediada como ultima alternativa parra evitar resultados falso positivos
que podem confundir o diagnostico. Para quadros associados ao esforço físico o teste
ergométrico fornece dados do comportamento de focos arrítmicos sob efeito de
catecolaminas.
Nos casos de isomerismos podemos encontrar crises de taquicardia de origem atrial ou
por reentrada atrioventricular que podem ser registradas com o auxilio do ECG durante
a crise quando este for possível. Nos casos onde as crises são de curta duração a busca
do traçado da crise pode ser feita com o Holter para crises com periodicidade inferior a
uma semana ou ainda com monitor de eventos sintomáticos que permite a correlação
clinico ECG perfeita nos casos que apresentam sintomas na vigência do exame. Na
pesquisa de fibrilação atrial pode ser útil a monitorização por sete dias visto que parte
dos episódios de FA podem ser assintomáticos. A utilização do CETE propicia o
fornecimento de gatilhos para o registro de taquicardias por reentrada.
Para investigação das bradicardias que podem ocorrer no pós operatório tardio o do
eletrocardiograma fornece dados quanto a possíveis lesões do sistema de condução.
Defeitos no automatismo sinusal vistos no ECG como bradicardias ou pausas
representam falhas no automatismo sinusal ou a presença de bloqueio sinoatrial de
segundo grau. Ritmos de suplência podem ser avaliados com o ECG de 12 derivações
assim como a presença de marca-passos ectópicos ou migratórios. O Holter permite
avaliar bradicardias inapropriadas e também permite a avaliação precisa da freqüência
cardíaca média, mínima e correlação com eventuais sintomas. Para avaliação da função
sinusal é útil a avaliação do comportamento da FC no esforço. A presença de déficits
cronotrópicos ou sintomas fornecem dados importantes sobre a disfunção sinusal. O
CETE pode ser utilizado para calcular o tempo de recuperação do no sinusal e o tempo
de recuperação do no sinusal corrigido. A pesquisa da frequência cardíaca intrínseca
pode ser realizada com a infusão de atropina e beta bloqueador conjuntamente para
bloqueio autonômico.
Casos negativos no estudo eletrofisiológico(para sincope com bloqueio de ramo) que
apresentam sintomas com periodicidade até mensal podem se beneficiar da
monitorização de eventos. Aqueles com periodicidade superior a isto só se
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beneficiariam do monitor de eventos implantável. O Holter auxilia no diagnostico dos
bloqueios atrioventriculares de primeiro grau intermitentes, bloqueios de segundo grau e
bloqueios de terceiro grau de características intermitentes ou persistentes. Outro dado
importante na análise do Holter de 24 horas é a presença de pausas que podem ser
geradas por extras sístoles atriais bloqueadas. Nos casos de isomerismo atrial
principalmente no isomerismo atrial esquerdo a análise do Holter de 24 horas pode
determinar a estabilidade do marca-passo atrial além de fornecer dados sobre a
freqüência cardíaca mínima e média.
.
Arritmias Próprias da Criança
Existe um grupo de arritmias que acometem as crianças com cardiopatias congênitas
mesmo antes de se submeterem aos procedimentos cirúrgicos.(tabela 4) .
Tabela 5 – Taquicardias na infância – diagnóstico e mecanismos21
Arritmia Mecanismo Local Eletrocardiograma Comportamento do nó
atrioventricular na arritmia
PR<RP
Sinusal A ou R Nó sinusal Onda P positiva em D1, V6 e
negativa em aVR
expectador sim
Atrial A ou R átrio Morfologia diferente da P
sinusal
expectador sim
Juncional A ou R Junção
atrioventricular
Ausência de P ou pseudo R em
V1 e pseudo S D2. Na JET pode
haver dissociação AV
Participante do circuito Não ou
dissoc.
TRAV R Via acessória P retrograda a mais de 70ms do
início do QRS
Participante do circuito Não
Flutter atrial Macro R intra
atrial
átrio Ondas F negativas ou positivas
parede inferior. Ausência de
linha isoelétrica
expectador não se
aplica
Fibrilação Atrial Múltiplas micro
R intra atriais
átrio Atividade elétrica desorganizada
e RR irregular
expectador não se
aplica
Taquicardia
ventricular
R ou A
ventricular
ventrículo Critérios de Brugada podem
falhar na infância.
Dissociação AV 50% dos
casos
não se
aplica
As taquicardias atriais podem ocorrer frequentemente em pacientes portadores de
anomalia de Ebstein, portadores de dilatações atriais secundarias a comunicação inter
atrial ou mesmo drenagens anômalas pulmonares. Também podem ocorrer em pacientes
portadores de dilatação atrial secundária a atresias ou estenoses das valvas direitas e
esquerdas. Nestes casos a maioria das formas pode passar assintomática sendo flagradas
em exames de rotina e durante a realização de Holter 24 horas. Casos sintomáticos
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podem ser pesquisados de acordo com a duração dos sintomas ou freqüência dos
episódios, com ECG no setor de emergência ou com monitor de eventos sintomáticos
quando os sintomas forem mais escassos.
Pacientes portadores de miocardiopatia hipertrófica, anomalia de Ebstein e miocárdio
não compactado ou isomerismos atriais ficam expostos à arritmias por reentrada com
participação da junção atrioventricular. O registro do ECG de 12 derivações nos
paciente portadores de pré excitação ventricular persistente pode fazer o diagnóstico.
Nos casos de pré excitação intermitente o ECG de repouso pode falhar em registrar a
pré excitação. Nestes casos para evidenciar a via acessória utilizamos manobras vagais
ou mesmo infusão de adenosina. Nos casos de vias acessórias de condução retrograda
exclusiva existe a necessidade de registro do ECG da crise de taquicardia, o que pode
ser tentado de acordo com sua freqüência com monitor de eventos sintomáticos. O
Holter de 24h geralmente falha em registrar crises de taquicardia. Outra opção quando a
investigação de rotina falhou em registrar a crise é o CETE que também permite a
estratificação de risco e calculo do período refratário da via acessória de forma pouco
invasiva.
A taquicardia juncional, já descrita acima, que ocorre no pos operatório tem sua
etiologia multifatorial. A utilização da derivação unipolar com fio de marcapasso atrial
facilita o diagnóstico e deve ser utilizada.
Quanto à bradicardias merecem destaque a investigação de disfunção do marca-passo
atrial nos isomerismos e o risco de bloqueios átrio ventriculares nas transposições
congenitamente corrigidas. Neste ultimo a evolução para bloqueios atrioventriculares
pode ser investigada por meio da eletrocardiografia de superfície e incrementada pelo
Holter de 24 horas que pode flagrar bloqueios paroxísticos.
Outra forma de bradicardia que ocorre nas cardiopatias congênitas na infância são
episódios de bigeminismo ou extra-sístoles atriais bloqueadas que são diagnosticadas
pelo ECG 12 derivações e pelo Holter
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1998:117-143.
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Arritmais cardíacas na infância e adolescência

  • 1. Arritmais cardíacas na infância e adolescência Autor: Rogério Braga Andalaft* * Cardiologista Pediátrico pelo Instituto do Coração – Incor HC FMUSP Médico Assistente da seção médica de Eletrofisiologia Clínica e Arritmias Cardíacas do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia Médico Assistente do Hospital do Coração – responsável pelo ambulatório de Arritmias na Infância e Cardiopatias Congênitas - Associação Sanatórinho Sírio Médico da Cardio Dinâmica Introdução Para compreendermos e tratarmos as arritmias cardíacas na infância é fundamental o diagnóstico eletrocardiográfico correto que possibilita na maioria das vezes não só fornecer um nome à doença, mas também possibilita o tratamento adequado a curto e longo prazo. Na população pediátrica as variações anatômicas que podem ser oriundas das diversas cardiopatias congênitas possíveis, assim como as arritmias que ocorrem no pós operatório, fornecem uma condição especial a este grupo de pacientes. Neste capitulo iniciaremos de maneira geral os princípios do diagnostico correto, passando na sequência a descrição das principais arritmias que acometem a criança enfocando seu diagnóstico e tratamento. Por fim elucidaremos condições especiais fruto do pós operatório ou mesmo da evolução natural de algumas cardiopatias, enfocando as nuances do tratamento que proporciona melhor suporte clínico a estas crianças. Princípios do diagnóstico e tratamento das arritmias Desta forma clássica podemos dividir as arritmias cardíacas em taquicardias e bradicardias, baseado na análise da freqüência cardíaca. As taquicardias por sua vez podem ser subdivididas de acordo com a duração dos complexos QRS em taquicardias de complexos QRS largo ou estreito. Neste momento devemos lembrar que as crianças de forma geral apresentam complexos QRS mais estreitos que os adultos de forma que em algumas situações durações superiores a 100 ou 110 ms podem ser consideradas de complexos QRS alargados. As taquicardias de complexos QRS alargados envolvem na infância 5 diagnósticos possíveis: taquicardia ventricular, taquicardia supraventricular PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 2. aberrante, taquicardia supraventricular com bloqueio de ramo pré existente, taquicardia por reentrada AV antidrômica e fibrilação atrial associado à síndrome de WPW. Já as taquicardias de complexos QRS estreitos envolvem as taquicardias supraventriculares em sua forma clássica e uma forma especifica de taquicardia ventricular denominada taquicardia ventricular fascicular. As taquicardias fasciculares mais freqüentes possuem morfologia tipo BRD e hiper desvio a esquerda (tipo BDAS) e são responsivas ao tratamento com bloqueadores de canal de cálcio. As taquicardias supraventriculares devem ser investigadas quanto a sua regularidade de forma mais profunda, principalmente quando o médico se depara a um paciente em crise na sala de emergência. Quando dizemos que uma arritmia é irregular estamos analisando que o nó atrioventricular não participa do circuito da arritmia estando apenas recebendo estímulos que vem de um território superior, Nestas formas de arritmias o nó atrioventricular (NAV) pode ser chamado de expectador da arritmia, o que em outras palavras significa que para tratar esta arritmia posso controlar o ritmo retornando o paciente ao ritmo sinusal ou controlar a resposta ventricular reduzindo a freqüência cardíaca. Quando nos deparamos com uma taquicardia de complexos QRS estreitos e regular a duvida que naturalmente surge é “ela realmente é regular”? Assim nestas taquicardias podemos lançar mão de manobras ou fármacos como a adenosina na tentativa de irregularizar a taquicardia. Quando realizamos uma manobra vagal ou utilizamos adenosina e interrompemos a taquicardia retornando o paciente ao ritmo sinusal, então sabemos que esta arritmia era “estritamente regular” e então poderíamos dizer que o nó atrioventricular participava do circuito. Nos casos onde o nó AV participa do circuito só nos resta cardioverter o paciente ao ritmo sinusal por manobras mecânicas, químicas ou elétrica. Em algumas situações nas taquicardias de complexos QRS estreitos e regulares, a aplicação de manobras vagais ou mesmo adenosina, irregulariza a taquicardia, porem não a interrompe. Neste caso a irregularização da taquicardia nos informa que o nó AV é um expectador da arritmia, isto é não participa do circuito arritmogênico. Nestes casos a irregularização da arritmia, permite que visualizemos o território supraventricular com maior facilidade possibilitando o diagnóstico. Como o nó AV também não participa do circuito nesta arritmia, do ponto de vista terapêutico, podemos controlar o ritmo retornando o paciente ao ritmo sinusal ou controlar a freqüência ou resposta ventricular utilizando fármacos que aumentem o grau de bloqueio do NAV (figura 1 e figura 2) PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 3. Figura 1 – Esquema dos possíveis diagnósticos das taquicardias na infância PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 4. Figura 2 – Esquema diagnóstico na sala de emergência que auxilia na identificação das taquicardias de complexos QRs estreitos Taquicardias de complexos QRS estreitos Neste tópico será dado enfoque às diversas possibilidades de taquicardias de complexos QRS estreito, analisando seu diagnóstico e tratamento. Iniciaremos para fins didáticos a descrição de arritmias onde o NAV não participa do circuito, o que tecnicamente significa que para o tratamento podemos controlar o ritmo ou controlar a freqüência cardíaca. A origem fisiopatológica destas arritmias, estão baseadas na presença de um foco hiperautomático, na presença de atividade debflagrada no território supraventricular ou mesmo circuitos únicos ou múltiplos de reentrada no território atrial. Taquicardia sinusal É a forma mais freqüente e comum de taquicardia na infância. Caracteriza-se pela presença do ritmo sinusal (ondas P positivas em D1 e V6 e negativas em aVR). Esta forma de taquicardia cujo ponto de corte varia com a idade do paciente é quase sempre secundário à presença de um problema clinico: febre, infecção, uso de drogas vasoativas desidratação, choque entre outros. De maneira geral o controle da causa de base gera a normalização da freqüência cardíaca. Particular atenção deve ser dada às taquicardias sinusais inapropriadas que geram freqüências cardíacas superiores a freqüência limite para a idade e não são condizentes com a situação clinica do paciente para aquele momento. Nos casos onde a FC é persistentemente elevada ou naqueles casos onde ocorre a presença de sintomas, a utilização de medicamentos que ajam nas células do nó sinusal pode ser necessária. Para controlar a resposta anormal da taquicardia sinusal inapropriada podemos utilizar betabloqueadores (atenolol 1 a 2 mg/kg/dia ou diltiazem 1 a 2 mg/kg/dia, lembrando que não devemos utilizar bloqueadores de canais de cálcio para paciente com idade inferior a um ano). PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 5. Figura 3 - Traçado de Holter de uma criança com taquicardia sinusal. Nesta taquivcardia não existe inicio e término súbito e a onda P tem morfologia da onda P sinusal Outro aspecto importante quando se analisa as taquicardias sinusais utilizando métodos como o Holter, é que esta forma de taquicardia não se apresenta de forma paroxística, isto é, não possui inicio ou término súbito. Taquicardia atrial Diferente da taquicardia sinusal esta forma de arritmia tem geralmente comportamento paroxístico. Seu mecanismo de origem pode ser hiperautomatismo, atividade deflagrada ou reentrada intra atrial única. Na análise do eletrocardiograma observamos a presença de uma onda P gerando um complexo QRS de morfologia diferente da onda P sinusal acima descrita. Geralmente são assintomáticas e frequentemente observadas no Holter principalmente durante o período neonatal e em paciente portadores de cardiopatias congênitas com distensão ou manipulação atrial durante procedimentos cirúrgicos. Estão entre seus riscos principais o desenvolvimento de disfunção ventricular, nos casos onde a freqüência cardíaca se mantém persistentemente elevada – taquicardiomiopatia. Quando sustentadas ou associadas a cardiopatias congênitas costumam ser de difícil controle. Muitas vezes, devido a esta dificuldade em controlar o ritmo, pode fazer o PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 6. médico então optar por aumentar o grau de bloqueio atrioventricular e controlar a resposta ventricular, visto que o NAV é expectador da arritmia que está ocorrendo no território atrial. Para controlar o ritmo em pacientes com arritmias sustentadas ou com repercussão clínica, podemos lançar mão de estratégias farmacológicas e não farmacológicas, sendo que esta ultima envolve a cardioversão elétrica e as terapias por cateter. Para controle do ritmo de forma química podemos utilizar fármacos conhecidos na prática pediátrica como a amiodarona isoladamente ou em combinação com betabloqueadores ou bloqueadores de canais de cálcio sempre respeitando os riscos e as limitações de cada fármaco e associação. Nos últimos anos no ambulatório de arritmias do Instituto Dante Pazzanese, utilizamos também outras classes de fármacos tais como a propafenona e o sotalol com o intuito de que, em casos de uso prolongado possamos evitar os efeitos colaterais indesejados da amiodarona. Outra possibilidade para cardioversão destes pacientes ao ritmo sinusal envolve a utilização de métodos não farmacológicos tais como a cardioversão elétrica externa ou a ablação por radiofreqüência. Quanto à ablação por radiofreqüência sua utilização na infância ainda é limitada, como também é limitado o sucesso na população adulta para arritmias atriais (taquicardia atrial e fibrilação atrial). No entanto o uso dos métodos de ablação do foco arritmogênico com radiofreqüência ou crioablação são muito promissores e nos próximos anos se tornarão importantes armas do arsenal terapêutico na infância. A localização adequada da origem da taquicardia atrial analisando o eixo da onda P no ECG de 12 derivações pode nos auxiliar também a melhor forma de controle do ritmo seja químico ou não farmacológico por ablação. Importante salientar que quando utilizamos a cardioversão elétrica para retornar o paciente ao ritmo sinusal a manutenção de um fármaco antiarrítmico é quase sempre necessária, de forma que nos casos de recorrências a utilização de múltiplas cardioversões elétricas tem um efeito deletério sobre o miocárdio e deve ser sempre evitada. PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 7. Figura 4 - Traçado de Holter demonstrando o início súbito de uma taquicardia atrial. Observe a mudança morfológica da onda T evidenciando a presença também de uma onda P Figura 4b – Traçado de Holter demonstrando saída súbita de uma taquicardia atrial PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 8. Figura 5 – registro de uma taquicardia atrial durante o Holter. Observe o início súbito e a presença de uma onda P “encravada” na onda T mudando sua morfologia em relação a onda T de uma batimento normal Figura 5b- – Taquicardia atrial durante um exame de Holter. Observe no segundo canal a morfologia da onda P atrial diferente da onda P sinusal PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 9. Durante o período perinatal o aumento da instabilidade elétrica do miocárdio atrial combinado a elevada pressão arterial pulmonar proporciona condição ideal ao surgimento de arritmias atriais (flutter ou taquicardia atrial por exemplo). Em algumas circunstancias a prematuridade dos batimentos atriais é tão grande que encontra a junção atrioventricular em seu período refratário o que impossibilita o aparecimento do batimento ventricular. Nesta situação podemos encontrar freqüências cardíacas baixas, ou intensa irregularidade dos batimentos ventriculares. Os exemplos abaixo demonstram as diversas faces da mesma doença em um recém nascido encaminhado ao setor de eletrofisiologia para avaliação de uma bradiarritmia, que na realidade era a expressão de um bigeminismo atrial bloqueado. Nos casos com repercussão clínica da bradicardia, a utilização de antiarrítmicos para suprimir o foco atrial precoce isoladamente ou associada à proteção de um marcapasso provisório, pode ser necessária (figuras 6 e 7). Figura 6 – ECG de 12 derivações evidenciando a presença de bigeminismo atrial bloqueado. Diagnóstico diferencial de BAV 2:1 com arritmia ventrículo fásica. Observe a mudança morfológica da onda P bloqueada em V3 e V4 confirmando o diagnóstico de bigeminismo atrial bloqueado PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 10. Figura 7- Evolução do quadro após a introdução de antiarrítmicos em um RN de 4 dias. Observe que as extras sístoles atriais aintes bloqueadas se tornam mais tardias e dão lugar a batimentos ectópicos e taquicardias conduzidas com aberrância Muitas vezes, frente a uma taquicardia atrial refratária o controle do ritmo não é possível, então nos beneficiando do fato de o NAV ser um expectador da arritmia apenas recebendo os estímulos que provem de um território superior, podemos impedir a passagem destes estímulos para o território ventricular aumentando o grau de bloqueio atrioventricular. Para isto, também podemos utilizar medidas farmacológicas e não farmacológicas. O uso de fármacos que aumentam o grau de bloqueio atrioventricular são úteis para o controle da resposta ventricular de forma isolada ou combinada. Dentre os fármacos mais utilizados estão os betabloqueadores, os bloqueadores de canais de cálcio não dihidropiridinicos (diltiazem e verapamil) e os digitálicos. As combinações mais freqüentes para o controle da resposta ventricular envolvem betabloqueadores com digital. A utilização de bloqueadores de canais de cálcio e betabloqueadores aumenta de forma significativa o risco de bloqueios avançados, e a combinação entre digitais e bloqueadores de canal de cálcio incrementa o risco de intoxicação digitálica. Para avaliarmos a eficácia das terapêuticas instituídas, o controle da FC ou do ritmo com holter de 24 horas ou por períodos até mais prolongados (Holter de 7 dias) pode fornecer subsídios importantes (análise da freqüência e número de taquicardias assim como avaliação de pausas e da freqüência cardíaca média) para o ajuste dos fármacos utilizados. O uso do ecocardiograma para monitorização da função ventricular também é de extrema importância. PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 11. Flutter atrial Trata-se de uma arritmia de origem no território atrial devido a um circuito de macro reentrada que pode se estabelecer circundando territórios anatômicos naturais (cava superior e inferior, seio coronariano valva tricúspide) ou mesmo circundar uma cicatriz ou uma valva manipulada cirurgicamente. No flutter atrial o NAV não participa do circuito arritmogênico, sendo um expectador da arritmia abrindo então a possibilidade de controlarmos o ritmo ou a resposta ventricular da arritmia. De incidência rara em crianças e adolescentes com coração estruturalmente normal, torna-se a arritmia supraventricular mais freqüente juntamente as taquicardias mediadas por feixes acessórios (taquicardias por reentrada atrioventricular) no período perinatal. A condução mais freqüente desta arritmia para os ventrículos é do tipo 2:1 gerando uma freqüência ventricular ao redor de 300 bpm. Porem no período perinatal a resposta ventricular 1:1, devido à imaturidade do NAV, facilitando a condução dos estímulos para os ventrículos é freqüente. Quanto a freqüência da atividade elétrica atrial (naquelas arritmias com circuito anti horário no átrio que se traduz pela negatividade das ondas F em D2 D3 e aVF) encontramos FC ao redor de 300 bpm. Nos casos onde o circuito de macrorrentrada atrial ocorre ao redor de cicatrizes cirúrgicas, por exemplo, a presença de um circuito com sentido horário gera ondas F positivas nas derivações inferiores e freqüências mais elevadas de atividade atrial. Do ponto de vista eletrocardiográfico, podemos diferenciar uma taquicardia atrial de um flutter atrial analisando a presença de linha isoelétrica entre duas ondas atriais. A ausência de linha isoelétrica nas derivações do ECG denota a presença do circuito de macrorrentrada e consequentemente o diagnóstico de flutter atrial. Diferentemente da taquicardia atrial, em pacientes com coração estruturalmente normal, principalmente no período neonatal, a reversão do flutter está associado a baixo índice de recorrência sendo que muitas vezes podemos não utilizar fármacos para a manutenção do ritmo. Nos casos recorrentes a associação de um fármaco antiarrítmicos, betabloqueador ou digital pode ser necessária aguardando as condições de estabilização do tecido miocárdio e a queda da pressão pulmonar ocorrerem. PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 12. Figura 8 – Taquicardia supraventricular com FC de 300 bpm. Diagnóstico diferencial entre taquicardia por reentrada atrioventricular e flutter atrial. Ambas podem estar presentes no período perinatal Para a reversão do flutter atrial ao ritmo sinusal utilizamos principalmente a cardioversão elétrica com baixas dosagens (vide tabela de fármacos e doses), sendo que a reversão química apresenta baixos índices de sucesso. Em pacientes cardiopatas ou naqueles fora do período perinatal, a reversão para o ritmo sinusal deve obedecer às mesmas regras da reversão de pacientes que apresentam flutter na idade adulta. Pacientes com história pouco clara quanto ao início da taquicardia ou em pacientes de evolução há mais de 48h a anticoagulação ,com cumarínicos e INR na faixa (entre 2 e 3,5 ) por de 3 semanas, se faz necessário antes da CVE. Abaixo o esquema clássico de preparo para reversão de uma fibrilação atrial/flutter atrial PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 13. Figura 9– Esquema pra reversão da Fibrilação atrial baseada no uso prévio da anticoagulação oral. A= Amiodarona, P= Propafenona, S= Sotalol, Q= Quinidina, D= Disopiramida. Esquema clássico – retirado do acervo didático do Prof. Dr. Dalmo Antonio Ribeiro Moreira e adaptado para uso na infância A utilização do ecocardiograma transesofágico combinado ao uso de heparina não fracionada ou de baixo peso molecular há mais de 12-24h pode dispensar a anticoagulação previa à cardioversão elétrica. Neste ínterim, o controle da resposta ventricular deve ser realizado para controle clínico do paciente. Pacientes cardiovertidos devem permanecer anticoagulados por mais 4 semanas nos casos de coração estruturalmente normal e CHADS2 menor que 2 . Nos casos de score maior que 2 ou valvopatia, a anticoagulação deve persistir e os critérios para sua retirada ainda permanecem incertos. Para pacientes onde a anticoagulação não é possível, mas o risco de fenômenos tromboembólicos existem devido a score elevado, o uso de AAS ou mesmo a combinação AAS e clopidrogrel (ACTIVE) é possível, mas esta ultima com quase nenhuma experiência em crianças. PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 14. Figura 10 - Flutter atrial com condução atrioventricular 2:1 – apresentação mais comum em todas as faixas etárias Figura 11 – Traçado de Holter em paciente portador de Tetralogia de Fallot evidenciando flutter atrial com condução atrioventricular variável. Observe a ausência de linha isoelétrica entre duas ondas F o que faz diagnóstico diferencial com taquicardia sinusal PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 15. Figura 12- Flutter atrial com alto grau de bloqueio atrioventricular e escape ventricular por efeito de fármacos que bloqueiam o NAV para controle da resposta ventricular Fibrilação atrial Esta arritmia é caracterizada por múltiplos micros circuitos de reentrada intra atrial. Neste tipo de arritmia como no flutter atrial o NAV não participa do circuito arritmogênico então podemos controlar o ritmo retornando ao ritmo sinusal ou apenas controlar a resposta ventricular aumentando o grau de bloqueio da junção atrioventricular. Raramente ocorre em pacientes pediátricos com coração estruturalmente normal, ocorrendo apenas com maior incidência em pacientes portadores de WPW na adolescência (nestes casos, responsável pelo risco de mortalidade súbita devido a fibrilação atrial pré excitada). Em pacientes portadores de cardiopatia congênita principalmente aqueles com manipulação atrial durante a correção cirúrgica e pacientes portadores de cirurgias paliativas do tipo cavopulmonar, o surgimento de fibrilação atrial no pós operatório tardio pode instabilizar o quadro clínico e deteriorar a função miocárdica. Com o intuito de rastrear episódios paroxísticos, o uso do Holter pode identificar precocemente mudanças do quadro, e a PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 16. instituição precoce do tratamento antiarrítmico pode prevenir o remodelamento elétrico que ajuda a manter a arritmia. Os cuidados para cardioversão elétrica ou quimica são os mesmos do flutter atrial. Indícios em pacientes adultos demonstram que a propafenona pode ser utilizado para reversão de quadros agudos com menos de 48h de evolução com índice elevado de reversão. Casos com mais de 48 horas de evolução, ou pacientes portadores de cardiopatia congênitas valvar ou com historia de inicio incerta, devem ser anticoagulados previamente por 3 semanas (ou cardioversao guiada pelo ECO transesofágico) antes de se tentar a cardioversão. Figura 13- Traçado de Holter demonstrando fibrilação atrial de alta resposta ventricular no pós operatório tardio de cirurgia tipo cavopulmonar Pacientes cardiopatas valvares ou CHADS2 maior ou igual a 2 devem ser submetidos a anticoagulação por longa data após a reversão ao ritmo sinusal. Lembramos que muitas vezes em pacientes portadores de cardiopatias congênitas, principalmente pacientes portadores de cirurgias paliativas para coração univentricular, se torna necessária a profilaxia da instabilidade elétrica atrial que pode preceder o surgimento da fibrilação atrial. Nestes paciented a supressão dos gatilhos por meio de fármacos antiarrítmicos pode evitar o surgimento de episódios de fibrilação atrial que podem ser fato limitante por exemplo, para indicação de cirurgia tipo cavopulmonar total. PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 17. Figura 14 – Presença de extra sístole supraventricular desencadeando desorganização da atividade elétrica atrial para flutter atrial Taquicardia Juncional As taquicardias juncionais hiperautomáticas ocorrem com freqüência elevada no pós- operatório de cirurgias com manipulação ventricular. Trata-se da arritmia mais freqüente no pós-operatório de cardiopatias congênitas, ocorrendo nas primeiras horas do pós operatório e podendo comprometer o estado hemodinâmico rapidamente devido a elevada freqüência cardíaca, devido perda do sincronismo atrioventricular e a refratariedade às medidas terapêuticas. Atualmente acredita-se que tempos de CEC prolongados podem desencadear este tipo de arritmia. O diagnóstico desta forma de taquicardia no pós-operatório envolve a documentação da dissociação atrioventricular em uma taquicardia de complexos QRS estreitos. No entanto este achado eletrocardiográfico pode desaparecer com estabelecimento da captura atrial retrograda, podendo a onda P vir antes durante ou depois do complexo QRS. PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 18. Figura 15 – Paciente de 6 anos de idade no POI de ventriculosseptoplastia evoluindo com extra sístoles ventriculares freqüentes Figura 16 – Taquicardia juncional JET no pós operatório de ventriculosseptoplastia após o “warm-up” da taquicardia Assim que estabelecemos o diagnóstico de uma taquicardia juncional de mecanismo automático, como ocorre no pós-operatório, o tratamento deve ser instituído nos casos mais graves ou naqueles onde existe possibilidade de deterioração do estado hemodinâmico. As taquicardias juncionais não respondem bem às manobras de cardioversão elétrica e habitualmente também não respondem a adenosina. Outra PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 19. característica deste tipo de taquicardia é que conforme vai evoluindo o pós-operatório nos casos estáveis hemodinâmica mente, existe uma grande possibilidade de reversão espontânea. O diagnóstico e tratamento desta forma de arritmia no pós-operatório é facilitada pela presença do eletrodo de marcapasso atrial que possibilita a clara identificação da dissociação atrioventricular, e também possibilita o overdrive atrial da arritmia e a utilização segura de fármacos antiaaritmicos sem a perda do sincronismo atrioventricular. Para o tratamento da taquicardia juncional do período pós-operatório, devemos se possível instituir a ventilação adequada do paciente e sedação quando estes estiverem sob ventilação mecânica. Correção dos distúrbios metabólicos e ácido básicos, infusão de sulfato de magnésio a 10% na dos de 0,5 a 0,7 ml/kg em bolus também podem ser utilizados. Outra estratégia eficaz é manter hipotermia com temperaturas entre 34 e 35 graus no intuito de diminuir o metabolismo. Quanto aos fármacos antiarrítmicos podemos utilizar amiodarona na dose de 5 a 20mg/kg/dia no entanto doses elevadas também estão associados a maior incidência de efeitos colaterais e comprometimento da função ventricular. No instituto Dante Pazzanese de Cardiologia habitualmente, suspendemos as medicações antiarrítmicas no pós-operatório de cardiopatias congênitas (pacientes sem arritmias prévias a cirurgia) entre 30 e 60 dias de pós-operatório Taquicardias mantidas por reentrada com participação da junção atrioventricular Neste grupo encontramos as arritmias onde a junção atrioventricular participa do circuito. Nestes casos a tentativa de irregularizar a arritmia seja com manobra vagal ou adenosina interrompe a taquicardia, pois interrompe a taquicardia por bloquear o nó atrioventricular. Neste tipo de taquicardia podemos encontrar mecanismos de macroreentrada ou mecanismos de microreentrada. As macroreentradas com a participação da junção atrioventricular, denominadas taquicardias por reentrada atrioventricular. Os circuitos de microreentrada dependem da presença de uma dupla via nodal e são denominadas taquicardias por reentrada nodal PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 20. Taquicardia por renntrada nodal São menos freqüentes na infância e se estabelecem devido presença de uma dupla via nodal. Nesta situação existem duas vias eletrofisiológicas para passagem do estimulo pelo NAV. Nestes casos existe uma via alfa que conduz o estimulo lentamente e se recupera rapidamente. Uma segunda via chamada beta que conduz o estimulo rapidamente, porém se recupera lentamente. Em ritmo sinusal o batimento habitualmente conduz pela via rápida. No entanto quando ocorre um batimento ectópico precoce este estimulo pode encontrar a via rápida ainda no seu período refratário e conduzir lentamente pela via lenta. Isto se reflete no ECG de superfície pelo alargamento abrupto do intervalo PR fenômeno denominado duplo salto ou comportamento dual da junção atrioventricular. Nesta situação se estímulo atende a porção distal da via lenta e encontra a via rápida já recuperada, pode o estímulo ascender de forma retrograda iniciando uma taquicardia onde na maioria das vezes a onda P retrograda se insere dentro do complexo QRS ou no máximo no ponto J, se apresentando no ECG como um falso R em V1 ou falso S em D2. Estas ondas são chamadas de falsas, pois desaparecem quando o paciente retorna ao ritmo sinusal. Figura 17- ECG de 12 derivações evidenciando taquicardia por reentrada nodal. Note que não se visualiza a onda P (situação habitual) PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 21. Figura 17 b – Reversão da taquicardia por reentrada nodal com adenosina Figura 18 – ECG de 12 derivações em um garoto de 8 anos na vigência de taquicardia por reentrada nodal. Observe a presença de r’ em V1 que desaparecerá após a reversão configurando uma falsa onda R em V1 caracteristica da taquicardia por reentrada nodal PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 22. Figura 18b – ECG de 12 derivações após reversão para o ritmo sinusal. Note o desaparecimento da r’ em V1 – (não houve modificação dos eletrodos entre os exemplos 18 e 18b) Taquicardias por reentrada atrioventricular Estas taquicardias se estabelecem devido presença de um feixe acessório. Classicamente podemos determinar dois grupos dentro desta arritmia. No primeiro grupo as vias acessórias são aparerentes ao eletrocardiograma durante o ritmo sinusal cujo modelo clássico e a presença de onda Delta na síndrome de pré-excitação ventricular. Quando esta pré-excitação está associada a taquicardias, denominamos síndrome de Wolf Parkinson White. Nesta síndrome mediada por vias acessórias podemos encontrar taquicardias ortodrômicas (aquelas que descem para despolarizar a musculatura ventricular via NAV e sobem novamente para os átrios pela via acessória estabelecendo um circuito de reentrada) que são taquicardias de complexos QRS estreito. Podem apresentar também taquicardias antidrômicas que são taquicardias de complexos QRS largo e entram no diagnóstico diferencial com taquicardias ventriculares. Nas taquicardias antidrômicas o estímulo desce para os ventrículos pelo feixe acessório, logo o despolariza pela musculatura não especializada gerando complexos QRS alargados. Outra forma mais rara de arritmia associada à síndrome de WPW é a fibrilação atrial PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 23. pré- excitada que pode levar a fibrilação ventricular e morte súbita. Vale lembrar que paciente portador de pré-excitação ventricular tem uma incidência aumentada de fibrilação atrial em relação à população geral. O segundo grupo de taquicardias no grupo dos feixes acessórios pertencem àqueles pacientes onde a analise da eletrocardiografia de superfície (ECG e Holter) não demonstram pré-excitação ventricular. Neste grupo só é possível o desenvolvimento de taquicardias ortodromicas, visto que os feixes acessórios destes pacientes, têm condução no sentido ventrículo atrial exclusivamente, o que no passado era conhecido por feixe anômalo oculto (i.e. oculto no ECG em ritmo sinusal). Quanto ao diagnóstico, é essencial o registro do traçado eletrocardiográfico da crise por meio de Holter looper ou ECG de 12 derivações no pronto atendimento. Nos casos portadores de pré-excitação a suspeita do mecanismo da taquicardia é em muito facilitado. Para reversão da crise de taquicardia para ritmo sinusal podemos lançar Mão de manobras vagais ou mesmo adenosina nas formas ortodrômicas. Nas taquicardias antidrômicas a interrupção da taquicardia deve ser feita pela via acessória utilizando drogas do grupo I ou drogas do grupo III. Não se deve utilizar adenosina para reversão de taquicardias antidrômicas pelo risco relativo de fibrilação atrial pré-excitada. Devemos lembrar que a adenosina baixa o limiar do átrio para fibrilação atrial e sua infusão pode desencadear fibrilação atrial. Nos casos com instabilidade hemodinâmica a cardioversão elétrica sincronizada deve ser imediatamente realizada. No instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, utilizamos as seguinte estratégia terapêutica: pacientes com idade inferior a 6 meses optamos por utilizar fármacos que bloqueiem os feixes acessórios combinados ou não aos betabloqueadores quando pacientes são portadores de WPW. Nos pacientes que não apresentam pré excitação devemos realizar a profilaxia com medicações que atuem no NAV (betabloqueadores ou bloqueadores de canais de cálcio - para pacientes acima de 1 ano). Pacientes acima de 6 meses e abaixo de 10 anos independente da presença de pré excitação optamos por utilizar betabloqueadpores ou bloqueadores de canais de cálcio (acima de 1 ano) visto que, estes pacientes com coração estruturalmente normal não apresenta risco aumentado de FA e consequentemente morte súbita. Após os 10 anos caso não exista indicação formal para ablação, ou nos casos onde a família rejeite a ablação por radiofreqüência realizamos a profilaxia das taquicardias utilizando preferencialmente propafenona na dose de 10 a 15mg/kg dia, no entanto a utilização de amiodarona e sotalol também é possível. PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 24. Nos pacientes portadores de pré-excitação ventricular a indicação de ablação por radiofreqüência deve ser indicada nos casos de síncope, arritmias de difícil controle que são interpretadas como falha terapêutica, fibrilação atrial associada à pré-excitação (principalmente com intervalo de acoplamento inferior a 270 ms). Também deve ser indicada em pacientes que desejam praticar atividade física intensa, e em pacientes que desejem atuar em profissões de risco (motoristas profissionais, pilotos entre outras). Famílias que após receberem as orientações sobre riscos e benefícios do procedimento e desejarem a ablação, também devem ser encaminhadas. A utilização de métodos para estratificação de risco da síndrome de WPW, englobam a avaliação do comportamento da via acessória com Holter (na pesquisa de intermitência), teste ergométrico para avaliação do comportamento da via acessória no esforço (buscando desaparecimento abrupto da pré-excitação), cardioestimulação transesofágica e estudo eletrofisiológico (para estimar o período refratário da via acessória). No Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, optamos por utilizar na infância a cardioestimulação transesofágica como opção ao estudo eletrofisiológico. Figura 19 – ECG de 12 derivações em paciente de 6 anos em crise de TPSV por reentrada atrioventricular. Observe FC elevada, infradesnivelamento > 2mm em V5 e PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 25. V6, alternância elétrica visível neste ECG em D2 e onda P retrograda a mais de 70ms do início do complexo QRS Figura 20 – ECG com derivação esofágica (visível na derivação V1) evidenciando RP’ de 120ms em uma taquicardia por reentrada atrioventricular PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 26. Figura 21- Traçado de Holter em um adolescente evidenciando a presença de pré excitação ventricular intermitente Figura 22 – Taquicardia por reentrada atrioventricular antidrômica em paciente portador de via anômala a direita PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 27. Figura 23 – ECG de uma fibrilação atrial associada a WPW em um adolescente com história de síncope. Observe a intensa irregularidade dos intervalos RR e complexos QRS com diferentes durações Figura 24 - Menina de 12 anos submetida a cardioestimulação transesofágica no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia para investigação de taquicardia de início e término súbito ainda sem diagnóstico PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 28. Figura 24- Esquema de indicação de ablação por radiofreqüência na infância e adolescência utilizado no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia Arritmia ventriicular e taquicardia ventricular Podemos classificar as arritmias ventriculares quanto a localização em arritmias de ventrículo direito e arritmias de ventrículo esquerdo. De forma geral nas arritmias do ventrículo direito observamos complexos QRS negativos em V1 (morfologia tipo BRE e nas arritmias originadas do ventrículo esquerdo observamos complexos QRS positivos em V1 (morfologia tipo BRE). Nas arritmias do ventrículo esquerdo na infância (taquicardias ventriculares fasciculares encontramos taquicardias com complexos QRS relativamente estreitos e morfologia tipo BRD associado a hiperdesvio para esquerda(BDAS) – vide exemplo abaixo PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 29. Figura evidenciando a presença de taquicardia ventricular fascicular em adolescente de 14 anos com coração estruturalmente normal. Observe os complexos relativamente estreitos e BRD associado a BDAS Na infância as arritmias idiopáticas do ventrículo direito principalmente as originadas da via de saída do ventrículo direito ganham importância. Sua benignidade quanto ao risco de morte súbita leva o médico a utilizar predominantemente medicações betabloqueadoras apenas para o tratamento dos sintomas. A ablação por radiofreqüência pode ser realizada nos casos de desejo do paciente ou nas situações de risco expostas na análise da síndrome de WPW. Casos que se apresentarem como taquicardias ventriculares (diagnóstico diferencial feito utilizando os critérios de Brugada modificados que apresentarem instabilidade hemodinâmica devem ser tratados com cardioversão elétrica sincronizada de 2 a 4 J por Kg. No entanto é de suma importância a diferenciação entre arritmia idiopática de ventrículo direito e displasia arritmogênica do ventrículo direito o que veremos na evolução do capítulo O papel das síndromes elétricas determinadas geneticamente PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 30. Podemos determinar entre as crianças um grupo especifico de pacientes,que, a principio ,não apresentam doenças cardíacas estruturais mas, por condições genéticas especificas, apresentam um risco maior de morte súbita devido a alterações canaliculares (canaliculopatias). Da mesma forma existem condições onde modificações estruturais na estrutura miocárdica, como na displasia arritmogênica de ventrículo direito, onde a substituição progressiva do miocárdio por áreas de fibrose e ou gordura determinarão na maioria das vezes eventos arrítmicos ventriculares graves na adolescência e principalmente na idade adulta. Nestas condições, o conhecimento destas entidades pelo pediatra pode determinar a diferença entre a vida e a morte possibilitando o tratamento e a intervenção precoce, minimizando assim os efeitos e riscos que podem levar a criança à morte Pertencem ao grupo de doenças canaliculares a Síndrome do QT longo, a Síndrome de Brugada, a taquicardia ventricular catecolaminérgica e a nova condição de Síndrome do QT curto. Também nos deteremos na pesquisa da displasia arritmogênica de ventrículo direito (situação que depende da busca ativa dos casos em fase inicial), em pacientes portadores de arritmias ventriculares originadas do ventrículo direito . Síndrome do QT longo congênito Descrita inicialmente no inicio da década de 50, podemos determinar dois grandes grupos baseados na sua forma genética de herança. Uma primeira forma autossômica recessiva, também chamada pelo nome de seus descritores Jerve Lange Nilsen (JLN), e outra autossômica dominante conhecida como Síndrome de Romano Ward. De maneira geral a forma autossômica recessiva tem incidência que varia entre 1,6 a 6 casos por milhão de habitantes, sendo caracterizada por pior evolução e associação com doenças extra cardíacas particularmente casos de surdez congênita. A forma autossômica dominante encontra incidência variando entre 1 caso para 5000 a 10000 habitantes, dados estes provavelmente subestimados devido à falta de diagnóstico. Quanto à mortalidade podemos encontrar índices elevados de eventos fatais alcançando até 70% na evolução natural133-134 PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 31. Na era pré genômica já era possível o diagnóstico de duas formas autossômicas recessivas e 7 formas autossômicas dominantes envolvendo comprometimento de diversos genes e acometendo diferentes correntes iônicas. Hoje se acredita existir mais de 10 variações genotípicas para a forma autossômica dominante. Os genes acometidos e as correntes iônicas envolvidas nas 7 formas autossômicas dominantes principais encontram-se demonstradas na figura abaixo: Figura 25 – Figura do potencial de ação clássico e as principais alterações genéticas e de correntes iônicas envolvidas na síndrome do QT longo congênito. Ikr - canais rápidos de K, Ikr- canais lentos de K; INa- canais de sódio. Entre parênteses a descrição do gene acometido O diagnóstico da síndrome do QT longo congênito é baseado na análise do intervalo QT (no eletrocardiograma) e na pesquisa de sinais e sintomas associados ao quadro clínico. Assim podemos, na prática clínica, estabelecer um score de probabilidade diagnóstica mais preciso e estabelecer as medidas terapêuticas. A avaliação do intervalo QT pode ser feita no ECG de 12 derivações utilizando a derivação onde o QT se mais facilmente visível (principalmente seu termino) e onde possamos encontrar o intervalo mais longo o que geralmente ocorre nas derivações precordiais. Devemos realizar a média de 3 a 5 batimentos para maior fidedignidade da medida. Alterações morfológicas da onda T, tipo alternância ou dismorfismos na onda T, tem importância assim como a medida da dispersão do intervalo QT (diferença entre o maior PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 32. e o menor QT de um eletrocardiograma de 12 derivações – valor limite 100 ms). Como na infância, a FC varia conforme a idade o cálculo do intervalo QT corrigido pela fórmula de Bazzet se torna mais importante. No entanto, a correção dos valores foi estabelecida para FC variando entre 60 e 100 bpm o que muitas vezes é insuficiente. Como limite superior da normalidade encontramos intervalo QT corrigido de 440ms. Lembramos que para que os cálculos sejam precisos os intervalos devem ser médicos em segundos antes de aplicarmos a Formula de Bazzet Figura 26 – ECG de 12 derivações de um adolescente portador de síndrome de QT longo congênito. Observe os maiores intervalos QT encontram-se nas precordiais direitas PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 33. Figura 27 – Formula de Bazzet observe que quando a onda U se funde a onda T a medida do intervalo QTU é necessária. Se a onda T e a onda U estiverem distintas no traçado eletrocardiográfico não se faz necessária a inclusão da onda U A manifestação arrítmica clássica da síndrome do QT longo é uma taquicardia ventricular polimórfica chamada Torsade de pointes. Do ponto de vista eletrocardiográfico esta arritmia se caracteriza pela presença de uma taquicardia rápida com mudanças freqüentes no eixo dos complexos QRS podendo ser auto limitada ou degenerar para fibrilação ventricular. Raramente o paciente com Torsade de pointes refere algum sintoma mesmo na adolescência ou idade adulta. A principal manifestação clínica são episódios de sincope. Nas forma autossômica dominante tipo I e II o estresse adrenérgico seja físico (LQT1) ou auditivo/ emocional (LQT2) constitui o gatilho para os eventos,. Na síndrome do QT longo tipo 3 a bradicardia é o gatilho principal para a arritmia se assemelhando muitas vezes à Síndrome de Brugada (os eventos geralmente ocorrem no repouso). A sequência clássica do torsade pointes envolve um batimento ectópico precoce seguido de uma pequena pausa compensatória. Na sequência um batimento normal com uma onda T bizarra é novamente seguido batimento precoce que gera o Torsade de pointes “sequência curto-longo- curto”. PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 34. Exames como o teste ergométrico e o Holter de 24 horas podem auxiliar no diagnóstico diferencial demonstrando prolongamento do intervalo QT no esforço ou durante a noite respectivamente. Figura 28 – Holter demonstrando evolução auto limitada de um Torsade de pointes. Observe a sequência “curto–longo-curto” gerando a taquicardia Figura 29 – Detalhe do traçado eletrocardiográfico de um Holter demonstrando o início de um Torsade de pointes. Observe a sequência “curto–longo-curto” gerando a taquicardia. Aos dados da análise do ECG devemos acrescentar dados clínicos da história do paciente tais como: presença de Torsade pointes, alternância de onda T, baixa freqüência cardíaca, história e tipo de síncope, historia familiar de QT longo ou morte súbita entre PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 35. jovens. Tabela 1 – Score diagnóstico para Síndrome do QT longo (<1 = baixa probabilidade; 2-3 = probabilidade intermediária; >4 alta probabilidade) O tratamento adequado da síndrome do QT longo congênito passa pela estratificação de risco para morte súbita identificando os principais fatores de risco de acordo com a forma de apresentação clínica. O combate aos gatilhos deflagradores do Torsade de pointes, assim como a profilaxia primaria e secundária de morte súbita com desfibriladores implantáveis e marca-passos fazem parte do arsenal terapêutico. Podemos identificar grupos de maior risco para morte súbita analisando as medidas do intervalo QT, as formas de apresentação, o sexo , a presença de eventos prévios (síncope ou arritmias ventriculares). Assim, pacientes com intervalos QT acima de 600 ms, história prévia de síncope, forma LQT3,por exemplo, apresentam-se no grupo de alto risco e a terapia mais agressiva com fármacos e desfibriladores implantáveis se faz necessária. O estudo genético identificando formas de alto risco para morte súbita é uma possibilidade real para o futuro, mas no momento encontram-se muito distantes dos consultórios cardiológicos. Estudo recente com 3015 casos de QT longo observou que pacientes portadores de LQT3, sexo masculino, história prévia de síncope e intervalos QT acima de 500 ms encontram-se mais expostos a eventos súbitos e morte.140 Quanto à abordagem medicamentosa objetivamos principalmente diminuir o estresse adrenérgico sobre o coração. O aumento do tônus simpático constitui a principal forma de gatilho nas formas autossômicas dominantes 1 e 2. O uso de betabloqueadores em altas doses, combinadas ou não com a terapia com marca-passo ou desfibriladores, PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 36. reduzem de maneira significativa a mortalidade. Os fármacos utilizados são os betabloqueadores que envolvem o propranolol (1 a 4 mg/kg/dia) , o nadolol (1 a 5 mg/Kg/dia –max 240mg) ou atenolol (1 a 2 mg/Kg/dia) facilmente encontrados em nosso meio. Outras opções menos utilizadas para controle do estresse adrenérgico são a denervação cardíaca e a ressecção do gânglio estrelado Estudo recente tem demonstrado alta eficácia do tratamento com betabloqueadores no tratamento de formas adrenérgico dependentes. Isto serviria como opção ao tratamento primário com desfibriladores. Tabela 2 – Estratificadores de risco e formas de profilaxia primária e secundária Síndrome do QT longo ((Europace 2002; 4:3-18) Síndrome de Brugada Descrita inicialmente em 1992 pelos irmãos Brugada esta canaliculopatia que afeta os canais de sódio e pode ter padrão familiar é causada por mutações no gene SCN5A. esta mutação gera alterações eletrofisiológicas complexas e modificações clássicas no ECG de superfície, especialmente nas derivações precordiais direitas. Suas manifestações são raras no período neonatal, porém pode estar envolvida em casos de morte súbita no berço. PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 37. Podemos identificar além do eletrocardiograma típico da Síndrome de Brugada (morfologia tipo bloqueio de ramo direito visível apenas de V1 a V3 e supradesnivelamento do segmento ST com característica descendente e ondas T negativas em V1 e V2 e supra desnivelamento de V3 – “padrão coved type”) outros dois tipos de padrões eletrocardiográficos que devem ser investigados em pacientes com quadros de síncope. Nestes casos testes farmacológicos com drogas do grupo I (procainamida 10mg/kg, ajmalina 10 mg/kg ou flecainida 2 mg/kg) podem converter estes traçados eletrocardiográficos no eletrocardiograma típico da síndrome com o padrão “coved type”. Em nosso, meio pela escassez destes medicamentos no mercado nacional, indícios indicam que o uso da propafenona também pode desmascarar o eletrocardiograma típico. Atualmente, no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, utilizamos 1,5 mg/Kg de propafenona infundida em 20 minutos na tentativa de evidenciar o ECG típico da Síndrome. Figura 30 – Amostra de três tipos de ECG nas derivações precordiais V1,V2 e V3 de cima para baixo respectivamente. Os pacientes com ECG tipo 2 e tipo 3 na vigência de síncope necessitam de investigação com teste farmacológico PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 38. Existem casos onde os achados típicos da síndrome assumem características intermitentes. Desta forma, o aparecimento espontâneo das alterações elétricas denota maior gravidade e seu desaparecimento de forma intermitente não tem valor prognóstico de benignidade. Figura 31 – ECG de 12 derivações de um paciente de 9 anos com história de síncope. Observe as alterações típicas da Síndrome de Brugada em V1,V2 e V3 Figura 32 – ECG em V1,V2 e V3 de um adolescente com Síndrome de Brugada e ECG “coved type” Dentre os marcadores de pior prognóstico estão: sexo masculino, presença de síncope prévia e padrão eletrocardiográfico espontâneo. Pacientes portadores de Síndrome de Brugada associado à eventos arrítmicos documentados e ou síncope devem ser encaminhados para implante de desfibrilador implantável. Os casos que se apresentam com ECG tipo 1, porém sem histórico prévio de síncope, devem ser encaminhados para o estudo eletrofisiológico com a finalidade de se desencadear arritmias ventriculares PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 39. malignas (taquicardia ventricular sustentada e fibrilação ventricular) que sustentem a implantação de um cardiodesfibrilador implantável (CDI). As opções de tratamento clínico farmacológico não estão totalmente comprovadas. Ataulmente se restringem ao uso de quinidina em baixas doses durante as tempestades elétricas e ao uso de cilostozol (sem doses estipuladas na infância) em relatos esporádicos. Figura 33 – Pirâmide de risco dos pacientes com síndrome de Brugada . À esquerda observamos risco relativo de morte súbita em comparação à população geral. Taquicardia ventricular catecolaminérgica Descrita inicialmente por Coumel em 1978 e mais extensivamente por Leenhardt em 1995, manifesta-se principalmente como um quadro de síncope recorrente relacionada ao esforço físico e estresse emocional em crianças e jovens sem cardiopatia estrutural. O estresse adrenérgico combinado a mutações no gene da rianodina (RyR2) ou da calsequestrina desencadeiam episódios de taquicardia ventricular polimórfica ou bidirecional, que podem culminar com fibrilação ventricular e morte. PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 40. As taquicardias ventriculares catecolaminérgicas possuem uma alta mortalidade , em torno de 30% a 50%, entre 20 e 30 anos de idade. Os fatores de pior prognóstico são: o sexo masculino, a presença de alteração do RyR2 e manifestação clínica precoce 146-8 . A terapia com betabloqueadores, visa primordialmente agir na situação deflagradora evitando os episódios malignos. No entanto, nos pacientes onde a terapia anti adrenérgica (que pode envolver também denervação cardíaca e ressecção do gânglio estrelado) falha, a combinação com implante de desfibrilador implantável se faz necessária. Dentre os métodos diagnósticos utilizados no diagnóstico o Holter e principalmente o teste ergométrico (que pode ser realizado em mãos experientes já abaixo dos 4 anos) possibilita o diagnóstico dos mecanismos deflagradores, evidenciando padrões de taquicardia ventricular polimórfica desencadeada pelo esforço. Nestes casos, o teste ergomátrico serve não só para o diagnóstico, mas também para o controle terapêutico comparativo após a terapia anti adrenérgica. O cardiodesfibrilador implantável torna-se mandatório nos pacientes com resposta ausente ou incompleta as medidas clínicas. A avaliação genética familiar torna-se interessante à medida que pode identificar portadores assintomáticos que se beneficiam de terapia como betabloqueador mais precocemente. Também tem sido sugerido que a doença deve ser investigada em casos de eventos cardíacos deflagrados durante a prática esportiva. PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 41. Figura 34 e 35 – Teste ergométrico de criança de 3 anos e 11 meses evidenciando taquicardia ventricular polimórfica induzida por esforço durante a investigação de quadro de síncope. PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 42. Displasia arritmogênica do ventrículo direito De rara apresentação no período neonatal,esta anormalidade genética caracteriza-se pela progressiva substituição da musculatura cardíaca por áreas de infiltração gordurosa e fibrose. Este fato gera o substrato anatômico para o desenvolvimento de arritmias ventriculares mantidas por circuitos de reentrada. Como se trata de uma doença progressiva, raramente as manifestações ocorrem nos primeiros anos de vida, porém quando isto acontece denota a gravidade do caso. A principal manifestação clínica são arritmias ventriculares originadas do ventrículo direito geralmente em sua via de saída (extra sístoles ventriculares negativas em V1 e positivas na parede inferior –D2, D3 e aVF). A investigação dos casos deve ser ativa e intensa, com a finalidade de identificar precocemente os casos e instituir a terapêutica. Seu diagnóstico diferencial principal é feito com arritmias idiopáticas da via de saída do ventrículo direito que tem conotação benigna, sendo tratadas apenas quando sintomáticas. Para a investigação diagnóstica,que deve ser evolutiva e repetida em diversos momentos da vida da criança e do adolescente, podemos lançar mão do eletrocardiograma de superfície, do eletrocardiograma de alta resolução, do teste ergométrico e do Holter além dos exames de imagem tais como a ecocardiografia bi e tridimensional e a ressonância magnética do coração. Desta forma, buscamos na análise laboratorial sinais sensíveis, tais como a presença de ondas T negativas de V1 a V3 fora da infância e empastamento da porção terminal dos complexos QRS (nadir do S final do QRS superior a 55ms – presente em 95% dos casos adultos de displasia arritmogênica do VD) ou sinais específicos. A presença de onda Épsilon (tradução eletrocardiográfica de superfície dos potenciais tardios do ECGAR) é considerada um sinal específico de grande importância clínica . PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 43. Alterações de magnitude nas câmaras direitas nos exames de imagem (dilatação ou disfunção importantes do ventrículo direito) constituem sinais clínicos de peso no diagnóstico desta doença. Raramente existe acometimento do ventrículo esquerdo, mas quando isto ocorre esta associado a pior evolução. A detecção de infiltração gordurosa nos exames de imagem como a RNM são característicos, mas nem sempre referidos. Da mesma forma pacientes portadores de grande número de arritmias ventriculares submetidos particularmente a RNM, pode receber falsos diagnósticos 152-54 . Figura 36 – ECG demonstrando arritmia ventricular de via de saída do ventrículo direito PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 44. Figura 37 – ECG de uma adolescente de 14 anos portadora de displasia arritmogênica de ventrículo direito. Presença de onda épsilon – Observe em V1 a onda positiva juntamente ao final do complexo QRS PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 45. Figura 38 – ECG de uma adolescente de 14 anos portadora de displasia arritmogênica de ventrículo direito. Taquicardia ventricular originada do ventrículo direito (negativa em V1). Observe a presença de dissociação atrioventricular em V1 PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 46. Figura 39 – RNM do coração eixo curto evidenciando grande dilatação da via de saída do ventrículo direito em adolescente portadora de displasia arritmogênica de ventrículo direito Quanto à abordagem terapêutica, pacientes com eventos cardíacos (taquicardia ventricular sustentada e fibrilação ventricular) devem ser encaminhados para profilaxia secundária com desfibriladores implantáveis sempre associado à terapia antiarrítmica (com sotalol ou amiodarona combinados ou não ao uso de betabloqueadores). Pacientes que não apresentaram eventos, que os encaixem na profilaxia secundária, devem ser tratados com medicação antiarrítmica e eventualmente ablação do foco arritmogênico, com o intuito de modular a resposta aos fármacos. Também devemos estratificar o risco destes pacientes encaminhando-os para o estudo eletrofisiológico com a intenção de desencadear arritmias malignas e implantar o CDI como forma de profilaxia primária. Miocárdio não compactado A não compactação do miocárdio durante a vida fetal pode gerar graus variáveis de disfunção miocárdica mecânica e elétrica. A síndrome do miocárdio não compactado caracteriza-se pela presença de trabeculações profundas no ventrículo esquerdo e relação ecocardiográfica do miocárdio não compactado/miocárdio compacto maior que 2. Os casos podem variar desde o simples diagnóstico ecocardiográfico ate casos de disfunção ventricular e arritmias cardíacas severas que podem levar o paciente a morte. Figura 40 – ECG 12 derivações evidenciando bloqueio de ramo esquerdo em criança de 2 anos portadora de miocárdio não compactado PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 47. Aproximadamente 75% dos casos apresentam alguma alteração eletrocardiográfica. As manifestações mais freqüentes são sobrecarga ventricular, bloqueios de ramo, síndrome de WPW e alterações da repolarização ventricular. As arritmias ventriculares são complicações graves e podem levar a morte súbita. Apenas casos extremamente severos se manifestam no período neonatal, no entanto 56% dos diagnósticos se estabelecem no primeiro ano de vida. Outra complicação temida são os fenômenos tromboembólicos. A incidência de arritmias variam nas diversas séries. Para arritmias ventriculares encontramos incidência que caria entre 18 e 47%. Para arritmias supraventriculares a incidência varia entre 13 e 29% Figura 41 – ECG 12 derivações evidenciando taquicardia ventricular de complexos QRS relativamente estreitos. O diagnóstico ficou facilitado pelo conhecimento da presença de bloqueio de ramo esquerdo prévio – figura 40 O tratamento para as arritmias supraventriculares e ventriculares devem seguir os preceitos gerais dependendo do diagnóstico e a profilaxia primária com desfibriladores implantáveis para as arritmias malignas ainda não está totalmente estabelecida. Arritmias Após Correção Cirúrgica de Cardiopatias Congênitas PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 48. O período pós-operatório é contemplado por diversas formas de arritmias. Para fins diagnósticos dividir as taquicardias em taquicardias de complexos QRS estreitos e taquicardias de c omplexos QRS alargados. Quando no ECG visualizamos taquicardias de complexos QRS largos na infância geralmente são de origem ventricular. No entanto a presença de bloqueio no pos operatório pode dificultar o diagnostico. No entanto, taquicardia supraventricular com aberrância de condução, ao contrário dos adultos, ocorre em apenas 2% das crianças sem bloqueio de ramo pré existente. Na análise do ECG devemos observar os limites da FC para as diferentes faixas etárias. Tabela 3 - Freqüência cardíaca para as diferentes idades Idade Min 5% Média 95% Max DP 0-24 h 85 94 119 145 145 16,1 1-7 dias 100 100 133 175 175 22,3 8-30 dias 115 115 163 190 190 19,9 1-3 meses 115 124 154 190 205 18,6 3-6 meses 115 111 140 179 205 21,0 6-12 meses 115 112 140 177 175 18,7 1-3 anos 100 98 126 163 190 19,8 3-5 anos 55 65 98 132 145 18,0 5-8 anos 70 70 96 115 145 16,1 8-12 anos 55 55 79 107 115 15,0 12-16 anos 55 55 75 102 115 13,5 Do ponto de vista temporal as arritmias podem ocorrer no período pós-operatório precoce (onde a criança ainda esta no ambiente hospitalar) ou no período pós alta hospitalar. Devido à grande variedade de cardiopatias congênitas podemos dividir as cirurgias em cirurgias com manipulação atrial, cirurgias com manipulação ventricular, cirurgias paliativas para a correção de coração univentricular (Cirurgias cavopulmonar) e cirurgias que envolvem cardiopatias associadas à presença de isomerismo atrial. Durante o período de internação A incidência de arritmias no pós operatório varia de forma significativa nos diversos estudo estando muito provavelmente subestimadas em nosso meio girando ao redor de 8% em uma série de 610 cirurgias cardíacas congênitas PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 49. Tabela 4 – Correlação entre tipo de cardiopatia congênita e possíveis arritmias Condição clínica Substrato Arritmias pré ou pós operatórias Comentários Comunicação interatrial Dilatação do átrio direito (pré operatório) Atriotomia e manipulação atrial (pós operatório) Taquicardia atrial (pré e pós) Flutter atrial (pré e pós) Fibrilação atrial (pré e pós) Lesão mecânica pós operatória do sistema elétrico do coração (pós) Fibrilação, flutter atrial e taquicardia atrial geralmente surgem na evolução tardia Comunicação interventricular Lesão cirúrgica do sistema de condução ou processo inflamatório pós CEC Bloqueios atrioventriculares (pós) Taquicardia juncional (pós) Taquicardias ventriculares (pré e pós com disfunção miocárdica) Episódios de taquicardia juncional ocorrem predominantemente nos primeiros dias de pós operatório Transposição corrigida de grandes artérias (L- TGA) Distorção do sistema de condução pela inversão ventricular, lesão cirúrgica Bloqueios atrioventriculares até BAVT Pode ocorrer espontaneamente ou no pós operatório de ventrículosseptoplastia, por exemplo Isomerismo atrial Esquerdo: ausência de nodo sinusal; Direito: Dois nodos sinusais; Presença de dois nodo atrioventricular (possível) Arritmias atriais (ritmos atriais ectópicos, taquicardia atrial multifocal) Taquicardia por reentrada atrioventricular por feixes acessórios ou por dois NAV Pode ter diversas arritmias atriais primarias ou secundárias a procedimentos cirurgicos Tetralogia de Fallot Disfunção e dilatação do VD Lesão pós operatória Arritmias ventriculares (simples ou complexas) Maior risco quanto mais tardio o pós operatório e maior idade na correção cirúrgica Risco de morte súbita e arritmias malignas quando QRS maior que 180ms, insuficiência pulmonar importante e disfunção de VD Anomalia de Ebstein Dilatação atrial e feixes anômalos Arritmias atriais (Flutter e FA) WPW Maior incidência de feixes anômalos que a população geral. Normalmente feixes a direita Miocardiopatia hipertrófica Feixes acessórios Mecanismos de reentrada na musculatura ventricular TPSV por macrorrentrada atrioventricular Arritmias ventriculares (simples ou complexas) Septo maior que 30mm, síncope, TVNS, TVS e história familiar de morte súbita são critérios de gravidade Durante a internação no pós-operatório de cirurgia cardíaca congênita o simples eletrocardiograma acompanhado ou não de derivações especiais (com uso de foi de marca-passo atrial, cateter de derivação esofágica ou derivações modificadas como derivações de Lewis) é o principal método diagnostico, visto a intensa vigilância das equipes de saúde. A presença dos fios de marca-passo, principalmente os implantados no átrio constitui uma arma poderosa para o diagnóstico preciso das arritmias de pós-operatório. As cirurgias com manipulação dos átrios e das valvas atrioventriculares ficam propensas às arritmias atriais (taquicardia atrial, fibrilação atrial ou flutter atrial) e a presença do fio PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 50. de marca-passo atrial propicia uma derivação univentricular (V1) com nítida visualização da onda P ou F (se estas existirem). Taquicardias atriais podem se confundir com o flutter atrial devido à freqüência atrial rápida e não são raras freqüências acima de 250 batimentos por minuto.3 Nos casos onde não é possível determinar com clareza a forma de arritmia atrial, a utilização de manobras vagais ou mesmo adenosina permite no ambiente hospitalar o registro da atividade elétrica supraventricular. A presença ou ausência de fase isoelétrica entre duas ondas F determina o diagnóstico. Em cirurgias com manipulação ventricular o processo inflamatório ou a circulação extra- corpórea (principalmente quando prolongada) geram taquicardias juncionais (JET) ou taquicardias de complexos QRS alargados que muitas vezes causam dificuldade diagnóstica (entre as taquicardias ventriculares ou taquicardias associadas a bloqueios de ramo permanentes ou aberrância de condução). Ocorre preferencialmente crianças com menos de 1 ano de vida sendo na forma não paroxística que esta arritmia ganha importância no pós operatorio (mais comum) fruto da CEC, hipóxia, desequilíbrio eletrolítico ou trauma cirúrgico que lesa as células na região do feixe de His e raramente é encontrada em crianças com coração normal8. Para taquicardias de complexos alargados nem sempre a aplicação dos critérios de Brugada mesmo que agregados aos novos critérios para taquicardias de complexos alargados são uteis. A pesquisa da dissociação atrioventricular nesta fase é muito útil ao diagnóstico. O mesmo se aplica às taquicardias juncionais. Nos pacientes com taquicardias juncionais ou nos pacientes portadores de taquicardias de complexos QRS alargados a presença dos fios de marca-passo no átrio conectados a uma derivação unipolar permite o registro da dissociação atrioventricular em até 50% dos casos de taquicardia ventricular. Na ausência dos fios de marca-passo atrial, o registro do ECG de superfície fornece em 12 derivações permite a analise do traçado da crise diferenciando taquicardias de complexos QRS estreito das taquicardias de complexos QRS largo (taquicardias ventriculares, taquicardias supraventriculares com aberrância, taquicardias supraventriculares com condução aberrante ou com bloqueio de ramo pré existente, taquicardia por reentrada atrioventriculares antidrômicas e fibrilação atrial pré excitada) das taquicardias de complexos QRS estreitos (taquicardias supraventriculares ou taquicardias ventriculares fasciculares – raras no pós operatório). Na investigação da dissociação atrioventricular, ou ainda na pesquisa de da relação entre ondas P e complexos QRS, o registro da onda P com derivação transesofágica ou derivação de Lewis pode ser útil. PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 51. No período intra hospitalar podemos esperar na evolução pos operatória de cirurgias com manipulação atrial arritmias atriais como fibrilação atrial, taquicardia atrial, flutter atrial. Neste grupo de cirurgias encontraremos os fechamentos de CIA, correção das drenagens anômalas parciais e totais, as plastias valvares da anomalia de Ebstein e dos defeitos do septo atrioventricular e a plastias de valva mitral. Com evolução da idade do paciente submetido à cirurgia as arritmias atriais tipo fibrilação atrial e flutter no pos operatório vão se tornando mais freqüentes ficando as taquicardias atriais mais freqüentes no período da infância. Nas cirurgias com manipulação ventricular (correção de comunicação interventricular, por exemplo) ou nos casos onde a circulação extracorpórea foi capaz de deixar a junção atrioventricular hiper reativa a principal complicação arrítmica são as taquicardias juncionais. Nestes casos o registro do ECG de 12 derivações é fundamental fazendo com que possamos estabelecer o diagnostico correto da arritmia. Este método pode ser auxiliado pelo registro da derivação intracardíaca com o fio de marca-passo atrial ou mesmo pela utilização da derivação esofágica. Nesta arritmia a utilização da manobra vagal para o diagnóstico, no geral, resulta infrutífera. As taquicardias por reentrada com participação da junção atrioventricular são facilmente elucidadas pelo ECG e confirmadas pela interrupção da taquicardia com manobra vagal ou adenosina. Nas taquicardias por reentrada nodal na maioria dos casos não é possível a visualização da onda P podendo vir acompanhadas de pulsações cervicais e ganha importância entre pacientes portadores de cardiopatia congênita operados na idade adulta. As taquicardias por reentrada atrioventriculares (com pré excitação- síndrome de WPW ou naquelas onde a presença do feixe só pode ser feita durante a taquicardia – vias de condução retrograda exclusiva) ocorrem com maior freqüência em pacientes portadores de anomalia de Ebstein, miocardiopatia hipertrófica e miocárdio não compactado. Nos casos de pré-excitação ventricular o simples ECG de 12 derivações pode fornecer o diagnóstico e ainda informar de forma mais precisa a localização da via acessória. Quando o paciente apresenta queixa de taquicardia deve ser prontamente realizado. A presença de fios de marca-passo atrial possibilita o registro perfeito das ondas P retrogradas o que auxilia em muito a diferenciação dos circuitos de micro e macro reentrada pela análise do intervalo RP´. Nos casos de registro da crise devemos sempre tentar o registro da saída da taquicardia mantendo o ECG conectado e ligado durante a reversão em derivações isoladas ou simultâneas. PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 52. Nos casos onde o NAV é um expectador da arritmia (taquicardia sinusal/atrial/flutter/fibrilação atrial) a diminuição da resposta ventricular permite a análise detalhada do que ocorre no território supraventricular. Quanto às bradicardias que ocorrem no período intra hospitalar o registro do ECG de 12 derivações permite a análise das bradicardias por alteração na formação do estimulo (bradicardias sinusais, bloqueios sinoatriais de segundo grau ou mesmo pausas sinusais), a presença de alterações na condução do estimulo aos ventrículos manifestado pelos bloqueios atrioventriculares de primeiro segundo e terceiro grau assim como suas variantes. As bradicardias podem ocorrer em quase todos os pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos ou por edema local próximo ao nó sinusal ou devido a mecanismos inflamatórios ou mecânicos que danifiquem o sistema de condução em qualquer dos seus níveis. Raramente durante o período de internação para o diagnostico lançamos mão de outros métodos diagnósticos não invasivos para a pesquisa dos eventos arrítmicos ou mesmo na estratificação de risco para morte súbita. No entanto o Holter de 24 horas pode auxiliar a quantificar as arritmias e buscar com mais facilidade períodos de bloqueios ou batimentos bloqueados que podem ser fugazes e passar despercebidos da equipe de assistência. Arritmias e estratificação de risco no período extra Hospitalar e no pós operatório tardio Neste período ganham importância as manifestações clinicas (palpitações, por exemplo) e o conhecimento do cardiologista pediátrico sobre os métodos que podem ser utilizados para a triagem destes pacientes. Pacientes com queixas de palpitação devem ser inquiridos sobre as suas características, forma de inicio, fatores desencadeantes, freqüência de surgimento e duração total dos sintomas. Queixas duradouras que permitam o tempo para acesso ao serviço de saúde devem ser encaminhados para registro do ECG de “crise” possibilitando assim a correlação clinico eletrocardiográfica precisa. Pacientes portadores de cirurgia tipo cavopulmonar e adultos podem evoluir com fibrilação atrial paroxística assintomática ficando o diagnóstico critério da busca ativa com Holter ou a utilização de monitorização mais prolongada como o Holter de sete dias. Num relato de 22 anos de experiência no seguimento clínico de 35 casos de PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 53. fibrilação atrial em crianças com idade variando entre 1 dia e 19 anos (idade média 8 anos), Radford e Izukawa demonstraram que a arritmia ocorreu em diversas condições clínicas, mas principalmente associada à correção cirúrgica de cardiopatias.A grande questão da investigação ocorre quando os sintomas não são freqüentes o bastante para serem flagrados com o Holter ou quando não duram tempo o suficiente que permita ao paciente procurar a assistência médica para registro da arritmia. Nestes casos a utilização do monitor de eventos externo por até 30 dias possibilita o registro da correlação clinico eletrocardiográfica e elucidação do quadro varia entre 50 a 70% dos casos. Nestes casos aproximadamente 10% dos casos necessitam de intervenção médica rápida após transmissão dos eventos .Outra maneira de investigar pacientes com taquicardias de inicio e termino súbito onde exista a possibilidade da presença de taquicardias mantidas por reentrada pela junção atrioventricular é a cardioestimulação transesofágica (CETE). O CETE também permite na síndrome de pré excitação a avaliação do período refratário da via acessória. Outra utilidade do Holter é a detecção de pré excitação ventricular intermitente durante principalmente os episódios de bradicardia. A abordagem das arritmias ,no pos operatório tardio da tetralogia de Fallot, combinado aos métodos de imagens (principalmente o ecocardiograma) podem fornecer fatores preditores do risco de morte súbita. A análise do ECG na tetralogia de Fallot em ritmo sinusal permite a avaliação da duração dos complexos QRS e de maneira seqüencial ao longo dos anos permite calcular a velocidade do alargamento destes complexos como fatores independentes para o risco de morte súbita. Duração dos complexos QRS maior que 180 ms e alargamentos superiores a 4ms ao ano permite identificar um grupo mais propenso a desenvolver arritmias ventriculares malignas. A utilização do Holter para monitorizar o surgimento de arritmias ventriculares complexas (taquicardias ventriculares) também permite a análise da variabilidade da freqüência cardíaca de papel na infância e adolescência ainda não esta determinado18 . O eletrocardiograma de alta resolução para pesquisa de potenciais tardios pode ser utilizado na população com tetralogia de Fallot com valores preditivos negativos giram entre 92 e 100% . A investigação das taquicardias sintomáticas ou palpitações na tetralogia de Fallot deve seguir do ponto de vista não invasivo a busca ativa dos eventos arrítmicos com Holter, monitor de eventos sintomáticos e tentativa de eletrocardiograma de 12 derivações durante a presença dos sintomas. Nos pacientes portadores de cardiopatia congênita PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 54. graves a investigação dos quadros de sincope devem ser realizada sempre no intuito da avaliação de potenciais eventos arrítmicos deixando a documentação de episódios de sincope neuromediada como ultima alternativa parra evitar resultados falso positivos que podem confundir o diagnostico. Para quadros associados ao esforço físico o teste ergométrico fornece dados do comportamento de focos arrítmicos sob efeito de catecolaminas. Nos casos de isomerismos podemos encontrar crises de taquicardia de origem atrial ou por reentrada atrioventricular que podem ser registradas com o auxilio do ECG durante a crise quando este for possível. Nos casos onde as crises são de curta duração a busca do traçado da crise pode ser feita com o Holter para crises com periodicidade inferior a uma semana ou ainda com monitor de eventos sintomáticos que permite a correlação clinico ECG perfeita nos casos que apresentam sintomas na vigência do exame. Na pesquisa de fibrilação atrial pode ser útil a monitorização por sete dias visto que parte dos episódios de FA podem ser assintomáticos. A utilização do CETE propicia o fornecimento de gatilhos para o registro de taquicardias por reentrada. Para investigação das bradicardias que podem ocorrer no pós operatório tardio o do eletrocardiograma fornece dados quanto a possíveis lesões do sistema de condução. Defeitos no automatismo sinusal vistos no ECG como bradicardias ou pausas representam falhas no automatismo sinusal ou a presença de bloqueio sinoatrial de segundo grau. Ritmos de suplência podem ser avaliados com o ECG de 12 derivações assim como a presença de marca-passos ectópicos ou migratórios. O Holter permite avaliar bradicardias inapropriadas e também permite a avaliação precisa da freqüência cardíaca média, mínima e correlação com eventuais sintomas. Para avaliação da função sinusal é útil a avaliação do comportamento da FC no esforço. A presença de déficits cronotrópicos ou sintomas fornecem dados importantes sobre a disfunção sinusal. O CETE pode ser utilizado para calcular o tempo de recuperação do no sinusal e o tempo de recuperação do no sinusal corrigido. A pesquisa da frequência cardíaca intrínseca pode ser realizada com a infusão de atropina e beta bloqueador conjuntamente para bloqueio autonômico. Casos negativos no estudo eletrofisiológico(para sincope com bloqueio de ramo) que apresentam sintomas com periodicidade até mensal podem se beneficiar da monitorização de eventos. Aqueles com periodicidade superior a isto só se PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 55. beneficiariam do monitor de eventos implantável. O Holter auxilia no diagnostico dos bloqueios atrioventriculares de primeiro grau intermitentes, bloqueios de segundo grau e bloqueios de terceiro grau de características intermitentes ou persistentes. Outro dado importante na análise do Holter de 24 horas é a presença de pausas que podem ser geradas por extras sístoles atriais bloqueadas. Nos casos de isomerismo atrial principalmente no isomerismo atrial esquerdo a análise do Holter de 24 horas pode determinar a estabilidade do marca-passo atrial além de fornecer dados sobre a freqüência cardíaca mínima e média. . Arritmias Próprias da Criança Existe um grupo de arritmias que acometem as crianças com cardiopatias congênitas mesmo antes de se submeterem aos procedimentos cirúrgicos.(tabela 4) . Tabela 5 – Taquicardias na infância – diagnóstico e mecanismos21 Arritmia Mecanismo Local Eletrocardiograma Comportamento do nó atrioventricular na arritmia PR<RP Sinusal A ou R Nó sinusal Onda P positiva em D1, V6 e negativa em aVR expectador sim Atrial A ou R átrio Morfologia diferente da P sinusal expectador sim Juncional A ou R Junção atrioventricular Ausência de P ou pseudo R em V1 e pseudo S D2. Na JET pode haver dissociação AV Participante do circuito Não ou dissoc. TRAV R Via acessória P retrograda a mais de 70ms do início do QRS Participante do circuito Não Flutter atrial Macro R intra atrial átrio Ondas F negativas ou positivas parede inferior. Ausência de linha isoelétrica expectador não se aplica Fibrilação Atrial Múltiplas micro R intra atriais átrio Atividade elétrica desorganizada e RR irregular expectador não se aplica Taquicardia ventricular R ou A ventricular ventrículo Critérios de Brugada podem falhar na infância. Dissociação AV 50% dos casos não se aplica As taquicardias atriais podem ocorrer frequentemente em pacientes portadores de anomalia de Ebstein, portadores de dilatações atriais secundarias a comunicação inter atrial ou mesmo drenagens anômalas pulmonares. Também podem ocorrer em pacientes portadores de dilatação atrial secundária a atresias ou estenoses das valvas direitas e esquerdas. Nestes casos a maioria das formas pode passar assintomática sendo flagradas em exames de rotina e durante a realização de Holter 24 horas. Casos sintomáticos PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
  • 56. podem ser pesquisados de acordo com a duração dos sintomas ou freqüência dos episódios, com ECG no setor de emergência ou com monitor de eventos sintomáticos quando os sintomas forem mais escassos. Pacientes portadores de miocardiopatia hipertrófica, anomalia de Ebstein e miocárdio não compactado ou isomerismos atriais ficam expostos à arritmias por reentrada com participação da junção atrioventricular. O registro do ECG de 12 derivações nos paciente portadores de pré excitação ventricular persistente pode fazer o diagnóstico. Nos casos de pré excitação intermitente o ECG de repouso pode falhar em registrar a pré excitação. Nestes casos para evidenciar a via acessória utilizamos manobras vagais ou mesmo infusão de adenosina. Nos casos de vias acessórias de condução retrograda exclusiva existe a necessidade de registro do ECG da crise de taquicardia, o que pode ser tentado de acordo com sua freqüência com monitor de eventos sintomáticos. O Holter de 24h geralmente falha em registrar crises de taquicardia. Outra opção quando a investigação de rotina falhou em registrar a crise é o CETE que também permite a estratificação de risco e calculo do período refratário da via acessória de forma pouco invasiva. A taquicardia juncional, já descrita acima, que ocorre no pos operatório tem sua etiologia multifatorial. A utilização da derivação unipolar com fio de marcapasso atrial facilita o diagnóstico e deve ser utilizada. Quanto à bradicardias merecem destaque a investigação de disfunção do marca-passo atrial nos isomerismos e o risco de bloqueios átrio ventriculares nas transposições congenitamente corrigidas. Neste ultimo a evolução para bloqueios atrioventriculares pode ser investigada por meio da eletrocardiografia de superfície e incrementada pelo Holter de 24 horas que pode flagrar bloqueios paroxísticos. Outra forma de bradicardia que ocorre nas cardiopatias congênitas na infância são episódios de bigeminismo ou extra-sístoles atriais bloqueadas que são diagnosticadas pelo ECG 12 derivações e pelo Holter Leitura Sugerida 1- Ludomirsky A, Garson A Jr. Supraventricular Tachycardia. In Gillette PC, Garson Jr A, eds. Pediatric Arrhtymias:Electrophysiology and Pacing. Philadelphia: WB Saunders Company, 1990:380-426. PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
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