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APONTAMENTOS    SOBRE
“CONSCIÊNCIA E REALIDADE
NACIONAL” DE ÁLVARO VIEIRA
PINTO
       POR: GERALDO MEDEIROS DE
               AGUIAR




                    Imagem fractal. Fonte: GOOGLE

                    RECIFE, JUNHO DE 1978.
  (REVISITADO, MODIFICADO E REVISTO ENTRE DEZEMBRO DE 2011
                  E FEVEREIRO DE 2012)




                                                         1
ESTES APONTAMENTOS PROCURAM SER UMA SINÓPSE
        DA MAGNÍFICA OBRA DO SÁBIO FILÓSOFO
        BRASILEIRO ÁLVARO VIEIRA PINTO, INTITULADA
   “CONSCIÊNCIA E REALIDADE NACIONAL”, A PARTIR DE
 PARÁFASES, COMPILAÇÕES E INTERPRETAÇÕES PESSOAIS.

       REPRESENTA, AINDA, UM BREVE CONJUNTO DA OBRA
ACIMA CITADA PUBLICADA EM DOIS VOLUMES (1.077 PÁGINAS),
 NO RIO DE JANEIRO, EM 1960, PELO INSTITUTO SUPERIOR DE
ESTUDOS BRASILEIROS – ISEB DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E
                        CULTURA.

     HOUVE BREVES MODIFICAÇÕES NA: FORMA, CONTEÚDO E
           ITEMIZAÇÃO DOS TEXTOS ORIGINAIS.

       OS ERROS DE INTERPRETAÇÕES, DE PARÁFASES, DE
     COMPILAÇÕES E DE SÍNTESES MAL ELABORADAS,
  ENCONTRADAS NOS TEXTOS, AQUI DIVULGADOS, SÃO DE
NOSSA INTEIRA RESPONSABILIDADE E NÃO DAQUELE SAUDOSO
      E EMÉRITO PROFESSOR, FILÓSOFO E CIENTISTA.

        A ELE PRESTO MINHAS HOMENAGENS PÓSTUMAS
REVISITANDO E DANDO AO PÚBLICO FRAGMENTOS DE UMA DE
                     SUAS OBRAS.

                   GERALDO MEDEIROS DE AGUIAR

             ÁLVARO VIEIRA PINTO: NASCEU EM CAMPOS EM 11 DE
  NOVEMBRO DE 1909 E FALECEU NO RIO DE JANEIRO EM 11 DE JUNHO
  DE 1987. MÉDICO, MATEMÁTICO, POLIGLOTA E FILÓSOFO. PROFESSOR
    CATEDRÁTICO DA UNIVERSIDADE DO BRASIL (HOJE, UFRJ).            EX-
   DIRETOR E PROFESSOR D0 ISEB (INSTITUTO SUPERIOR DE ESTUDOS
         BRASILEIROS) DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA
      (INCENDIADO PELOS MILITARES NO GOLPE DE ABRIL DE 1964).
                          AUTOR DOS SEGUINTES LIVROS:
                Consciênia e Realidade Nacional. 2 volumes,1.077p.
                               Ciência e Existência
                     Sete Lições sobre Educação de Adutos
                  O Conceito de Tecnologia. 2 volumes, 1.328p.
                       Por que os Ricos não Fazem Greve?
                      Ideologia e Desenvolvimento Nacional
                           A Questão da Universidade
                   A Sociologia dos Países Subdesenvolvidos


                                                                     2
SUMÁRIO

Sumário ............................................................................................................................................. 3
APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................ 8
I. CONSCIÊNCIA E SOCIEDADE...........................................................................................................10
   Consciência privada e consciencia coletiva ...................................................................... 10
   As modalidades da consciência ....................................................................................... 10
   Necessário condicionamento de todo ponto de vista ........................................................ 10
   As idéias da comunidade ................................................................................................. 10
II. CONSCIÊNCIA E DESENVOLVIMENTO ...........................................................................................12
   Fatores ideologicos na produção e condução do desenvolvimento .................................. 12
   O subdesenvolvimento como contradição ........................................................................ 12
   Componentes volitivos da consciencia ideológica e a intencionalidade da consciência
   coletiva ............................................................................................................................. 12
   Comportamentos emocionais das massas ....................................................................... 13
III. CONSCIÊNCIA OCUPADA E DESENVOLVIMENTO .........................................................................14
   A consciência e a práxis do desenvolvimento .................................................................. 14
   A prática no país subdesenvolvido ................................................................................... 14
   O trabalho e a pràtica ....................................................................................................... 14
   Trabalho e filosofia no país subdesenvolvido ................................................................... 14
   As filosofias: existencialistas, estruturalistas e pragmatistas, como filosofias dos centros
   dominantes....................................................................................................................... 15
   Conceito de amanualidade. O mundo como dado e como efeito ...................................... 15
   A superação do subdesenvolvimento pela acumulação do trabalho ................................. 16
   A filosofia da tecnica. A inércia da tecnica e a técnica como invenção ............................. 16
IV. CONSCIÊNCIA INGÊNUA E CONSCIÊNCIA CRÍTICA. CONCEITUAÇÃO DAS FORMAS DA
CONSCIÊNCIA ...................................................................................................................................17
   Distribuição social e histórica das modalidades de consciência ....................................... 17
V. CONSCIÊNCIA POLITICA E DESENVOLVIMENTO ............................................................................19
   Dois sofismas relativos ao desenvolvimento .................................................................... 19
   Os profissionais liberais, os politicos e a consciência ingênua ......................................... 19
   O trabalho, fator de transmutação da realidade e da consciência .................................... 19
   A democracia e o processo de consciência nascente ...................................................... 20
   O significado da educação para o desenvolvimento ......................................................... 20
   O equivoco da predominância do técnico sobre o politico ................................................ 21
VI. CONSCIÊNCIA DA MASSA E PENSAMENTO BRASILEIRO ..............................................................22

                                                                                                                                                     3
A ambiguidade do conceito de massa .............................................................................. 22
   A constituição da massa no processo de desenvolvimento .............................................. 22
   A massa como origem da ideologia do desenvolvimento ................................................. 22
   A produção da ideologia a partir da massa....................................................................... 23
   A conversão do pensamento à realidade nacional ........................................................... 23
VII. A CONSCIÊNCIA INGÊNUA ..........................................................................................................24
   1. DEFINIÇÂO GERAL E CARÁTER FUNDAMENTAL .................................................... 24
   2. CARÁTER SENSITIVO ................................................................................................ 24
   3. CARATER IMPRESSIONISTA ..................................................................................... 25
   4. CONDICIONAMENTO PELO ÂMBITO INDIVIDUAL .................................................... 25
   5. ABSOLUTIZAÇÃO DE SUA POSIÇÃO ........................................................................ 26
   6. INCOERÊNCIA LÓGICA .............................................................................................. 26
   7. IRASCIBILIDADE ......................................................................................................... 27
   8. INCAPACIDADE DE DIALOGAR ................................................................................. 28
   9. PEDANTISMO.............................................................................................................. 28
   10. AUSÊNCIA DE COMPREENSÃO UNITÁRIA ............................................................. 29
   11. INCAPACIDADE DE ATUAÇÃO ORDENADA............................................................ 30
   12. MORALISMO ............................................................................................................. 31
   13. IDEALIZAÇAO DOS DADOS CONCRETOS .............................................................. 31
   14. APELO À VIOLÊNCIA ................................................................................................ 32
   15. DESPREZO PELA MASSA ........................................................................................ 32
   16. CULTO AO HERÓI SALVADOR................................................................................. 33
   17. MESSIANISMO DA REVOLUÇÃO ............................................................................. 34
   18. ADMISSÃO DA EXISTÊNCIA DE UM PROBLEMA SUPREMO ................................. 35
   19. COISIFICAÇÃO DAS IDÉIAS ..................................................................................... 36
   20. MALEDICÊNCIA E PRECIPITAÇÃO DE JULGAMENTO ........................................... 36
   21. CRENÇA NA IMUTABILIDADE DOS PADRÕES DE VALOR .................................... 37
   22. DESPREZO PELA LIBERDADE................................................................................. 38
   23. INTELECTUALISMO NA CONCEPÇÃO DOS PROBLEMAS SOCIAIS...................... 39
   24. CULTO AO BOM SENSO........................................................................................... 39
   25. DEFESA DO PROGRESSO MODERADO ................................................................. 40
   26. IGNORÂNCIA DO POTENCIAL POLÍTICO NA ATUAÇÃO INTERNACIONAL .......... 41
   27. VISÃO ROMÂNTICA DA HISTÓRIA .......................................................................... 42
   28. ROMANTISMO NA CONCEPÇÃO DAS RELAÇÕES ECONÔMICAS E POLÍTICAS . 42
   29. PESSIMISM0 ............................................................................................................. 43
   30. UFANISMO ................................................................................................................ 44

                                                                                                                                     4
31. SAUDOSISMO ........................................................................................................... 45
   32. PRIMARISMO POLÍTICO ........................................................................................... 46
   33. AMBIGUIDADE E CONCILIAÇÃO DE IDÉIAS INCOMPATÍVEIS............................... 46
   34. RECUSA DA ATRIBUIÇAO DE INGENUIDADE ........................................................ 47
ViII. CONSCIÊNCIA CRITICA ...............................................................................................................49
   1. CARÁTER GERAL ...................................................................................................... 49
   2. CATEGORIA DE OBJETIVIDADE ................................................................................ 50
      Alteração do real e a percepção das massas ..............................................................................50
      O cuidado e a ocupação no país subdesenvolvido......................................................................51
   3. A CATEGORIA DE HISTORICIDADE .......................................................................... 51
      A realidade como processo .......................................................................................................52
      O presente como dinamismo e virtualidade ..............................................................................53
      Interação entre consciência e processo .....................................................................................53
   4. A CATEGORIA DE RACIONALIDADE ........................................................................ 54
      Sensibilidade social e pensar crítico ...........................................................................................55
      Correlações causais e consciência útil ao desenvolvimento .......................................................55
      A dialética da razão no país subdesenvolvido ............................................................................56
      A) Inconveniência do pensamento formal .................................................................................56
      B) Necessidade do pensamento dialético ..................................................................................56
      c) A dialética das contradições no país subdesenvolvido ............................................................57
      D) O “salto histórico" no país subdesenvolvido ..........................................................................58
      E) A ação recíproca no país subdesenvolvido .............................................................................58
      F) A unidade dos contrários no país subdesenvolvido ................................................................59
      G) Peculiaridades dialéticas do subdesenvolvimento. "diferencial histórica" e progresso da
      consciência................................................................................................................................59
      5. A CATEGORIA DE TOTALIDADE ...............................................................................................61
      Objeções à concepção da totalidade .........................................................................................62
      A totalidade como conexão de sentido ......................................................................................63
      A insuficiência do conceito de “causalidade-circular" ................................................................64
      A nação como totalidade envolvente ........................................................................................64
      Estar no mundo e ser no mundo................................................................................................65
      A ideologia do desenvolvimento é um humanismo....................................................................65
      O mundo como nação ...............................................................................................................65
      O desenvolvimento e a categoria de totalidade .........................................................................66
      Generalidade, totalidade e doação de sentido ...........................................................................67

                                                                                                                                                 5
Revolução nacional e projeto de destino ...................................................................................68
  Unificação do tempo histórico ...................................................................................................68
  Uma consequência do conceito ingênuo de totalidade: o municipalismo ..................................69
6. A CATEGORIA DE ATIVIDADE ................................................................................... 69
  Pensamento e ação ...................................................................................................................70
  O trabalho e a nação como projeto ...........................................................................................71
  A alienação internacional do trabalho .......................................................................................72
  Ação e resistência à ação ...........................................................................................................72
  Caráter histórico e social dos valores .........................................................................................74
  A ética do desenvolvimento ......................................................................................................75
  Responsabilidade individual na ética do desenvolvimento .........................................................75
  A prática inautêntica e o romantismo revolucionário ................................................................79
  7. A CATEGORIA DE LIBERDADE .................................................................................................80
  Concepções ingênuas de liberdade............................................................................................80
  O ato livre e o pertencimento ao mundo ...................................................................................81
  A liberdade é o libertar..............................................................................................................82
  A dialética da liberdade .............................................................................................................82
  O equívoco da liberdade interior ...............................................................................................83
  As “situações-limite” e sua superação histórica .........................................................................84
  A existência autêntica ...............................................................................................................84
  A liberdade concreta e a consciência política .............................................................................85
8. A CATEGORIA DE NACIONALIDADE ........................................................................ 86
  O processo de formação nacional ..............................................................................................88
  O nacionalismo como fenômeno histórico .................................................................................89
  As supostas "contradições” do nacionalismo .............................................................................91
  O nacionalismo como fenômeno de massa ................................................................................92
  Conteúdo e sentido dos atos nacionalistas ................................................................................92
  A expressão teórica do nacionalismo .........................................................................................93
  O encontro das consciências no país subdesenvolvido...............................................................94
9. ALIENAÇÃO, FORMAÇÃO NACIONAL E REGIONAL ................................................ 94
  A nação como universal concreto ..............................................................................................94
  A relação de dominação ............................................................................................................95
  A educação como instrumento de dominação ...........................................................................96
  O nacionalismo como supressão da alienação ...........................................................................98


                                                                                                                                        6
A nação como origem de significações e fundação da cultura brasileira...................................102
       Desenvolvimento e problemas regionais .................................................................................102
IX. PRINCÍPIOS DE UMA POLÍTICA NACIONALISTA..........................................................................109
   1. A INCORPORAÇAO DO TRABALHO NACIONAL AO PAÍS ...................................... 110
   2. A REPRESSÃO AO CAPITAL PRIVADO ESTRANGEIRO ESPECULATIVO ............ 113
   3. O DESENVOLVIMENTO VISA HUMANIZAR A EXISTÊNCIA.................................... 116
   4. O MONOPÓLIO ESTATAL DOS FATORES ECONÔMICOS BÁSICOS .................... 116
   5. A DEFESA DA INDÚSTRIA NACIONAL AUTÊNTICA................................................ 117
   6. A OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO NACIONAL ........................................................... 118
   7. A REFORMA AGRÁRIA ............................................................................................. 119
   8. AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DE PLENA SOBERANIA ................................... 121
   9. A EDUCAÇÃO POPULAR PARA O DESENVOLVIMENTO ....................................... 122
   10. A CULTURA DO POVO ........................................................................................... 123
   11. A SOLIDARIEDADE INTERNACIONAL COM AS NAÇÕES EM LUTA PELA
   LIBERTAÇÃO POLÍTICA E ECONÔMICA ..................................................................... 124
X. IDÉIAS PARA UM MODELO AUTÔNOMO DO DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO .........................127
XI. A DIVISÃO DO TRABALHO E UM MUNDO SEM EMPREGOS .......................................................144
O AUTOR ........................................................................................................................................151




                                                                                                                                                 7
APRESENTAÇÃO
          O presente resumo com interpretações, paráfrases e compilações do livro
"CONSCIÊNCIA E REALIDADE NACIONAL” (1º e 2º volumes), do professor, cientista e
filósofo Brasileiro ÁLVARO VIEIRA PINTO publicado pelo Ministério da Educação e Cultura
através do Instituto Superior de Estudos Brasileiros - ISEB se prende aos seguintes motivos:
          A partir de abril de 1964 (até os dias de 1978), além de vários revezes foram
impostos às forças nacionalistas e a consciência critica nacional, um controle arbitrário,
inquisidor e despótico sem, porém, anular sua ação. Entretanto, durante todo esse triste e
obscuro período aumentou e fortaleceu-se, mais ainda, o contingente daqueles que
passaram a adotar o modo critico de pensar que, por isso mesmo, nos incentivou a resumir
e parafrasear esta importante obra de ÁLVARO VIEIRA PINTO, em 1978, com o intuito de
ajudar àqueles que buscavam a essência da teoria nacionalista tão combatida pelas forças
retrógradas e reacionárias do Brasil.
          Outro motivo que muito nos incentivou a resumir e parafasear a supramencionada
obra filosófica foi à ansiedade que têm os estudantes das universidades nordestinas em
compreender e apreender os problemas concernentes à realidade braseira, deliberada e
conscientemente ocultadas e distorcidas pelas mídias falada, escrita, televisiva e, também,
pelas autoridades docentes em comum acordo com os órgãos de repressão do Estado
Brasileiro. Assim sendo, acreditavamos que este resumo pode servir de estímulo e indicador
de numerosos estudos, teses e dissertações fundamentadas no sistema categorial
apresentado nos textos.
          Com a agonia do chamado "milagre brasileiro" durante a ditadura e,
conseqüentemente, a falência dos poderes despóticos e do estado de arbítrio
institucionalizado, havia motivação e indução, na época, para elaborar o resumo, em tela,
também, no propósito de servir de plataforma e conteúdo de um programa político-partidário
nacional a ser criada com a esperada e almejada “abertura política” ou com o fim do estado
de arbítrio.
          O maior incentivo, talvez, à elaboração do resumo, esteja no fato de a obra do
citado filósofo, que foi publicada em 1960, ter passado por um severo crivo e, após anos,
apresentar-se tão atualizada e autêntica como se tivesse sido escrita naquele ano de 1978.
Fica aos leitores a opção de verificar a validade ou não desta assertiva retrocedendo um
pouco no tempo.
          Cabe, ainda, esclarecer que existem pouquíssimos exemplares da obra em pauta o
que, também, demandou este resumo expressando a esperança de que a obra seja
reeditada num futuro próximo.
          Finalmente, este trabalho reflete direta e indiretamente a nossa experiência e
ideologia quer pela opção e necessidade de resumir em paráfrases a obra em apreço, quer
pelas modificações na sua forma e conteúdo. Entretanto, as omissões, os equívocos e falta
de clareza de alguns trechos e parágrafos não cabem ao saudoso cientista e mestre
ALVARO VIEIRA PINTO e sim ao nosso esforço e nossas limitações nas sínteses e
interpretações.

                 Já a revisitação à obra com a revisão daquela 1ª versão deste ensaio
(escrito em 1978) foi realizada em dezembro de 2011 a fevereiro de 2012 motivadas no
Encontro Pedagógico de 2011 da Faculdade Boa Viagem quando a palestrante gaúcha,
Cleoni Barbosa Fernandes, convidada para o evento, ao citar e comentar a obra do mestre
ÁLVARO VIEIRA PINTO ficou surpresa que, o Autor deste ensaio, professor daquela
Faculdade e presente à sua conferência, o havia conhecido e participado de várias palestras
suas no ISEB e que usava os conhecimentos daquele cientista e filósofo, na FBV, em suas
aulas e nos seus escritos, conferências e trabalhos acadêmicos. Outro motivo foi que o
Autor havia adquirido um mês antes do evento, em tela, à obra “Conceito de Tecnologia”
de ÁLVARO VIEIRA PINTO (dois volumes) publicada no Rio de Janeiro, pela Editora
Contraponto, no ano de 2008 (após o achado dos originais em 1974) e havia começado a
sua leitura. Também, vale lembrar que o livro “Consciência e Realidade Nacional” se

                                                                                          8
encontra de há muito esgotado (sem perspectiva de reedição) e muito dos seus exemplares
publicados pelo ISEB foram insinerados pelos militares em abril de 1964 quando
incendiaram aquela modelar e importantíssima organização do pensar crítico nacional e
que, na época, era uma réplica a Escola Superior de Guerra (ESG).
                  Nos APONTAMENTOS foram omitidos os textos referentes “A
SISTEMATIZAÇÃO DA CONSCIÊNCIA CRÍTICA” e a “CONCLUSÃO” ambos constantes do
segundo volume da obra. Optou-se por se apresentar, em substituição àqueles capítulos,
dois apêndices escritos pelo Autor (Idéias para um modelo de desenvolvimento
autônomo e a Divisão do trabalho e um mundo sem empregos) como inspiração,
interpretação e aplicação das idéias da Obra do Grande Filósofo na contextualização da
Realidade Brasileira de hoje (fevereiro de 2012).

              NOTA: Os APONTAMENTOS são apresentados em linguagem
coloquial do Autor e não sofreram quaisquer correções gramaticais e ortográficas.
Servem como subsídios para seus trabalhos, aulas e conferências.




                                                                                     9
I. CONSCIÊNCIA E SOCIEDADE
        Consciência privada e consciencia coletiva

         A transformação da consciência privada em pública e coletiva tem suas raízes no
próprio atributo da consciência individual de assumir o duplo papel: exprimir julgamento
pessoal e forjar para si o sentimento de estar exprimindo o que todos os outros pensam.
Como coletiva, a consciência individual se converte em consciência de classes que se
uniformiza pela comunidade dos fundamentos econômico-social em que repousam no
processo de produção e circulação de mercadorias.
         A consciência individual quando se proclama coletiva assume caráter ideológico
desde que esteja ligada a realidade do país. Isto se dá pelo fato da consciência ser reflexo e
julgamento da sociedade sobre si mesma, por intermédio de quem acredita exprimir o
sentimento coletivo em cuja base material, física e social a consciência uniformiza-se.
         Em geral, o indivíduo acredita que exprime o que qualquer outro também pensa, em
vez de admitir que a consciência comum seja produto do seu modo pessoal de pensar
agregado ao de todos os demais humanos.
        As modalidades da consciência

         A consciência apresenta um conjunto de representações, reflexões, idéias e
conceitos organizados segundo estruturas caracterizadas por tipos ou modalidades e pode
ser sintetizada em dois tipos fundamentais:
         Consciência ingênua, quando desconhece ou nega seu condicionamento. Pode ser
culta, mas não ter objetividade quando refletem sobre o mundo apenas idéias enriquecidas
pela observação e meditação
          Consciência crítica, quando procura e conhece o seu condicionamento. É sempre
autêntica e pode ser esclarecida ou iletrada. Tem referência obrigatória na objetividade.
          A consciência, desde que não saiba do seu condicionamento, ou o negue, estará
excluída da condição crítica, e assim poderá enriquecer-se do mais vasto conteúdo de
erudição e sapiência, cogitar as mais profundas teorias científicas ou filosóficas, que, nem
por isso, deixará de ser ingênua.
         A consciência crítica, mesmo nos graus iletrados, é sempre autentica, porquanto só
se faz portadora de uma idéia porque sabe ser levada a pensar pela situação em que se
acha.
        Necessário condicionamento de todo ponto de vista

          Todo ponto-de-vista está necessariamente carregado de restrição posicional, donde
depende o maior ou menor grau de clareza na representação do condicionamento que afeta
a toda posição, qualquer que seja essa posição. Todo o indivíduo, pela circunstância do seu
existir, é capaz de constituir um ponto-de-vista sobre o universo onde se encontra. Todo
campo de visão pessoal é sempre limitado. A consciência iletrada não é menos rica em
conteúdo do que a presunçosa que julga ver mais longe.
          Não é pelo diâmetro do horizonte intelectual que se deve achar o grau de
representatividade da consciência da realidade nacional. A definição desse grau terá que
ser baseada na maneira como a consciência representa os fatores que a condicionam, ou
seja, na menor ou maior clareza com que inclui na conceituação de um fato objetivo, a
percepção simultânea das condições e influências que a determinam nesse ato a proceder
como procede.
        As idéias da comunidade

        As categorias da consciência crítica da realidade são determinadas por essa
mesma realidade. São induzidas empiricamente da objetividade do real e procedem do
processo econômico-social. A consciência da realidade consiste na representação possuída
pelo indivíduo em comunidade. Somente quando o pensamento do existente e

                                                                                           10
simultaneamente pensamento da existência, é que se revela a consciência da comunidade,
pois nesta forma os aspectos do real são considerados com a significação de fatores da
totalidade; só neste caso a reflexão cognoscitiva transcende os dados singulares imediatos
da realidade para abrangê-la como todo.




                                                                                       11
II. CONSCIÊNCIA E DESENVOLVIMENTO
        Fatores ideologicos na produção e condução do desenvolvimento

          As idéias que a comunidade detém a respeito de si mesma configuram a
autoconsciência da nação, cujo papel, no desempenho do trabalho, e a transformação da
realidade. O processo de desenvolvimento nacional implica a presença de fatores
ideológicos e, por isso mesmo, está sempre exposto ao imprevislvel.
          Fundamentando-se em fatores ideológicos, o processo de desenvolvimento é
função da consciência que a nação tem de si mesma. A unidade ideológica não é mais que
a disciplina do fator ideologico, de modo a que a comunidade possa enfrentar alternativas
históricas com respostas antecipadamente preparadas.
          A condição de processo consiste na formulação consciente do projeto de
desenvolvimento, envolvendo todas as iniciativas geradoras de progresso. Não há projeto
social sem ideologia, isto é, sem a suficiente unificação do pensamento e da vontade
popular, mediante representação objetiva da realidade e decisão de modificá-la.
          Os fatores ideológicos contribuem para produzir o processo e a ideologia é a
concepção de nova forma de ser para a existência comunitaria, em razão da qual se
carregam de valores positivo e negativo todos os objetos, as idéias e os acontecimentos da
realidade presente. A ideologia, portanto, torna-se fator que determina o desenvolvimento á
medida que o desenvolvimento se impõe como solução única.
        O subdesenvolvimento como contradição

          O subdesenvolvimento se constitui numa contradição no curso da história, isto é,
pólo de uma contradição da qual o outro pólo é a nação hegemônica. No país
subdesenvolvido, além das contradições fundamentais entre as classes sociais, o
subdesenvolvimento, pelo seu estado geral na nação de um lado, e o comportamento
imperialista das nações desenvolvidas com os quais se relaciona, do outro, pode levar, em
determinados momentos, que a criação ideológica exprima as condições não apenas à base
das classes sociais internas, mas também a base de nação espoliada versus nação
espoliadora.
          Colonialismo      e    neocolonialismo     identificam-se     com     processo      de
subdesenvolvimento, cujo poder se expressa na vinculação aos interesses estrangeiros e a
política explícita e implícita, entre outras, em baixos salários, latifúndios, má redistribuição
de renda e má representatividade política.
          Em geral, o subdesenvolvimento de uma nação está imbricado aos processos que
incidem na economia e que tendem a manter o status quo da sociedade e da economia do
país subdesenvolvido tais como: detereriorização dos preços das commodities que exporta,
por um lado, e alvitamento dos preços dos produtos manufaturados e de tecnologias que
importa, pelo outro, processo de concentração monopolista da propriedade privada das
terras, absorção dos excedentes econômicos pelos países hegemônicos, etc.
       Componentes volitivos da consciencia ideológica e a
intencionalidade da consciência coletiva

        A consciência só é fator de desenvolvimento quando deixa de ser simples
representação para tornar-se projeto e origem de ação, isto é, de especulativa converter-se
em política e ideológica. Assim é que a consciência se desenvolve no real na forma de
projeto de modificá-lo. Sem assumir feição poloítica-ideológica e sem tornar clara sua
intenção objetivadora à consciência é inoperante.
         Quando a representação concreta do dado real se associa ao ímpeto da vontade
que propõe a transformação desse dado, cuja apreensão consciente é o projeto, a
consciência se constituiria em núcleos da ideologia que objetiva transformar o processo de
subdesenvolvimento em processo de desenvolvimento.


                                                                                             12
A consciência não tem existência em si, independente, destacada da coisa que
representa, mas é sempre consciência de algo; tende sempre para aquilo que é a cada
instante o seu objeto e se conforma exclusivamente no momento de representá-lo.
         O caráter da intencionalidade da consciência, sendo constitutivo do ser da
consciência, deve espelhar-se em todos os seus modos de ser em face do estado social;
deve haver, portanto modalidades de intencionalidade, segundo as quais se configurarão os
diferentes comportamentos do sujeito, em presença daquilo que representa a si, como
sendo a realidade nacional, ou seja, deve haver formas ingênuas e críticas de
intencionalidades.
        Comportamentos emocionais das massas

          O problema capital da teoria da ideologia é a investigação dos modos e das
condições segundo os quais uma imagem da realidade e um projeto de transformação se
tornam conteúdo da consciência geral. É indício de ressentimento aristocrático acusar as
massas de incompreensão. A receptividade do espírito das massas aos planos políticos e
ditada por causas reais e objetivas, que são parte do processo que esses planos pretendem
alterar. Por outro lado uma consciência esclarecida não desconhece os fatores psicológicos,
mas não se comporta apenas psicologicamente.
          O vício fundamental que invalida certas ideologias, e a suposição de que
conseguirão assegurar o triunfo de seus projetos pelo efeito da propaganda maciça,
constante e profunda. Tais ideologias caem ou se esfacelam porque acabam por
acreditarem na propaganda que preparam para os outros. Reconhecida pela consciência
das massas como autêntico pensamento de que carecia para exprimir o seu projeto de
existência, a ideologia assume caráter operatório e desencadeia forças criadoras, que a
fazem transformar-se de vivência subjetiva em fator dinâmico.




                                                                                        13
III. CONSCIÊNCIA OCUPADA E DESENVOLVIMENTO
        A consciência e a práxis do desenvolvimento

         A apreciação que a cada momento a consciência faz do estado da realidade é
condição de possibilidade de novo projeto. O projeto de desenvolvimento nacional e uma
sucessão de projetos mantidos em continuidade pela intenção geral. O elenco de medidas
que produzem o desenvolvimento pode ser estabelecido na e pela prática. Só a vivência das
condições efetivas da realidade permite ao individuo constituir-se em autor de sua
transformação.
         Quem não está preso ao problema por um vínculo prático, por mais que dele se
ocupe, seja por simpatia moral, seja por obrigação profissional, nunca terá a vivência
indispensável à revelação de possibilidade de solução que apenas a inteligência, por mais
arguta, não será capaz de discernir.
        A prática no país subdesenvolvido

         A noção de prática não admite ser estabelecida em termos universais e não tem
conteúdo idêntico em todos os contextos históricos.
         A prática de um país subdesenvolvido está na grande maioria do povo que o habita.
Para o homem do povo que habita na miséria de sua situação primitiva, não há outra prática
senão o sofrimento cotidiano e não há outro critério de verdade senão a transformação
objetiva de seu modo de existência.
         No país subdesenvolvido, as elites, enquanto classe são também afetadas pelo
subdesenvolvimento, mas, enquanto indivíduos vivem fora dele.
         Na situação de subdesenvolvimento as classes ricas são restritas e se acham
submetidas a pressões sociais, por parte das classes oprimidas, com maior intensidade que
nas situações de pleno desenvolvimento.
        O trabalho e a pràtica

         Os determinantes da "práxis" com relação ao individuo, são:
         A sua posição numa estrutura social dinâmica com estrato se classes diferenciadas
em sentido econômico, ou em hierarquia administrativa.
         Natureza, quantidade e qualidade de trabalho que exerce na posição que ocupa.
         Pela posição, o indivíduo participa de uma "praxis" coletiva; pelo trabalho, encontra
efetivamente a realidade. O trabalho é causa modificadora da realidade e é sempre ação
transformadora. A consciência é determinada pela prática social, primordialmente mediante
o trabalho. A consciência e, na verdade, a percepção da existência do mundo enquanto
espaço para a ação, campo de projetos possíveis. O trabalho é fator constitutivo do ser
humano e é através dele que cada um constrói a consciência da realidade.
         O trabalho é a essência da prática, e seu caráter transformador é a via de acesso a
realidade pela técnica inerente a natureza do ser humano. A adequação do pensamento a
realidade material se faz mediante o ato humano de transformar esta realidade, e este ato é
que se chama trabalho.
         Todo processo de produção pelo qual o ente humano busca resolver sua
contradição básica com a natureza e criar-se a si próprio é revelado pelo processo de
trabalho no qual também, se produz as mercadorias.
        Trabalho e filosofia no país subdesenvolvido

        As tarefas do filosofo do país subdesenvolvido são específicas e refletem a
condição da realidade de que o pensador participa. Os filósofos pertencentes aos centros
dominantes da cultura contemplam o mundo do centro de dominação histórica.
        O pensador do mundo subdesenvolvido tem de pensar o real concreto, aquele que
efetivamente se defronta e sobre o qual é obrigado a agir. O pensador do país da periferia
contempla sua realidade sem o direito de distrair-se na criação de concepções de cunho

                                                                                           14
abstrato. Até os seus mais legítimos interesses pessoais o obrigam a constituir-se em
intérprete do país a que pertence.
         Em um dos apêndices o Autor dos Apontamentos ensaia uma discussão sobre um
mundo sem emnpregos onde o processo de trabalho é objeto de reflexões.
        As filosofias: existencialistas, estruturalistas e pragmatistas, como
filosofias dos centros dominantes

          O filósofo do país subdesenvolvido é um homem em face do Tudo o quanto ele está
por fazer no mundo que é o seu. Portanto, para ele não há o Nada. Não tem direito a
futilidade intelectual, quando está diante da imperiosa exigência e necessidade de
transformação do mundo a que pertence.
          O pensador do país subdesenvolvido não pode, por isso, refletir o modo de existir
de quem pensa a partir dos centros dominadores da cultura ou daqueles que se julgam
detentores da universalização do mundo.
          Deve denunciar a insuficiência da filosofia estruturalista, que apresenta as
estruturas de forma mecânica, da filosofia existencialista, que ignora os aspectos objetivos
do existir humano, e do pragmatismo que se resume em proclamar a prática sem teoria.
          Há que se ter todo o cuidado em depurar os traços alienantes das filosofias
oriundas das metrópolis ou centros de dominação. Serve como uma breve advertência as
nefastas conseqüências da cosciência reflexa importada dos países cêntricos colonizadores.
        Conceito de amanualidade. O mundo como dado e como efeito

            A tese central de uma filosofia para um país emergente-subdesenvolvido ou
periférico no modo de produção capitalista está na afirmação: é o trabalho que revela a
realidade, na medida em que a modifica. Todas as demais formas de especulações que
desviam a atenção deste conceito central estão em oposição aos interesses internos das
nações que conformam esses países. O conceito de amanualidade (não se encontra nos
dicionários) está, pois, na determinação de que os entes humanos no mundo se dão como
algo que "está à mão", isto é, o manus, us ou man(i/u). Este conceito não deve ser usado na
concepção da filosofia existencialista que o criou, mas do ponto de vista da lógica dialética
que o adotou.
          O amanual do objeto é visto como resultado de operação laboriosa, ao cabo da
qual é dado porque foi feito. A qualidade de "feito" incorpora ao objeto o esforço humano.
“O amanual do objeto é sempre produto da mão que o faz, dado a mão que o conhece. Os
objetos que se revelam como coisas, em virtude do caráter amanual, são na verdade
objetos fabricados”. (Vieira Pinto)
          A noção do valor econômico (valor, valor de uso, valor de troca e valor
desenvolvimento) do objeto ou bem econômico reflete-se, na realidade do artefato como
uma das manifestações do ser humano pelo processo de trabalho. A revelação do mundo,
pelo amanual das coisas, se faz, portanto, trazendo sempre caráter histórico da manufatura
e se refere às forças de produção, as relações de produção e ao grau de avanço intelectual
existentes.
          O mundo contemporâneo é cada vez mais um mundo de fabricados e de símbolos.
Quando o ente humano desenvolve a sua prática vital, por meio do processo de trabalho, a
partir de determinada posição social, esta mesma posição é resultado do trabalho das
gerações anteriores. A essência da prática é o trabalho, agora no duplo sentido: de trabalho
individual e de trabalho histórico acumulado (trabalho pretérito).
          O amanual de fazer objetos não muda apenas o modo de vida; muda o
conhecimento do mundo. É com a instalação de um parque fabril com tecnologia nacional
que se dá a transformação qualitativa do contorno vital do ser humano, porquanto a
industrialização conduz o indivíduo e a comunidade a terem, de si e do mundo, uma
consciência qualitativamente diferente da que tinham nas fases primárias do
desenvolvimento.


                                                                                          15
A superação do subdesenvolvimento pela acumulação do trabalho

            O movimento de acumulação do trabalho social é a única maneira de elevar a
nação aos planos mais altos da existência cultural e do bem-estar humano.
         A importância da distinção entre tipos de acumulação do trabalho está no discernir,
quando uma atividade social se aplica conscientemente a não a produzir um mais, porém a
produzir um novo. Não é apenas a acumulação quantitativa de trabalho social que gera o
desenvolvimento, e sim a qualitativa. O que define em qualidade de um modo de fazer é o
que se chama de técnica cuja virtualização foi e é parte do processo de humanização do
animal Homo sapiens sapiens.
         O desenvovimento de tal pensamento é objeto do apêndice sobre as idéias para um
desenvolvimento autônomo apresentado no primeiro anexo deste ensaio.
      A filosofia da tecnica. A inércia da tecnica e a técnica como
invenção

         A essência da técnica, bem como sua natureza de processo, lhe é, como já se
disse conferida pela acumulação qualitativa do trabalho. A técnica é o know-how, isto é, o
modo de “fazer nova alguma coisa”. A inércia da técnica está no “fazer bem”, quando
aprovado pelo consenso geral como vantajoso e produtivo, e tender a resistir às
modificações que visem a melhorar os seus resultados. A essência da técnica não está no
“fazer bem”, e sim no "fazer novo” que é, por natureza, invenção.
         A técnica afeta o proceso e o modo de trabalho existente e sobre ele deposita o
modo novo e mais perfeito. Além de ser uma acumulação qualitativa de trabalho, é uma
sedimentação histórica de maneiras de trabalho distintas qualitativamente e superpostas
como camadas, revelando a natureza de processo do desenvolvimento técnico.
         A técnica revela-se através do jogo de ensaios e erros, no qual a imaginação
dialoga com a realidade, até que, no curso desse confronto e dessa tensão, a inteligência
capta nova propriedade do real ou nova possibilidade de agir, até então desconhecida. É
necessário alterar o modo de produzir, proporcionando outro nível de existência econômica-
social. É, portanto, de natureza qualitativa, e não apenas quantitativa, a alteração
indispensável.
         A técnica é a criação do novo a partir do antigo; é, pois, desenvolvimento. É,
também, a maneira pela qual o ser humano sistematicamente tenta resolver suas
contraições com a natureza e o cosmo é, assim, processo de hominização.




                                                                                         16
IV. CONSCIÊNCIA INGÊNUA E CONSCIÊNCIA CRÍTICA.
        CONCEITUAÇÃO DAS FORMAS DA CONSCIÊNCIA
         O número de pontos-de-vista sobre a realidade é, em princípio, infinito, porém não
a tal ponto que não se possa delinear e divisar grupos definidos pela posse de
características comuns. Quando analisados em função da realidade, esses pontos-de-vista
podem ser agrupados em dois conjuntos de modalidades fundamentais de consciência, aqui
designadas de consciência ingênua e de consciência crítica.
         A consciência ingênua é, por essência, aquela que não tem consciência dos fatores
e condições que a determinam ou conformam. Seus atributos principais, entre outros, são os
seguintes:
           Ter disponibilidade e independência em face dos acontecimentos
           Ser isenta de julgamento com intenção de rigorosa fcidelidade aos fatos
           Interpretar os fatos segundo as leis da lógica formal, metafísica e da moral
            Declarar-se incondicionada por considerar a lógica e a moral como forma do
saber às suas afirmações
            Submeter a realidade as suas afirmações e intenções
           Ser detentora de critérios absolutos de julgamento
           Sentir-se satisfeita consigo mesma, fechando-se ao diálogo
           Ser crente no valor perene de suas afirmações.

        A consciência crítica é, por essência, aquela que tem clara consciência dos fatores
e condições que a determinam ou a conformam. Seus principais atributos são, entre outros,
os seguintes:
           Está ocupada em descobrir os determinantes do seu conteúdo
           É dirigida para a objetividade
           Vê-se a si própria em função do real e do atual
           Explica-se em termos de dependência histórica
           Sente-se condicionada pelo processo social
           Sente-se variável no seu conteúdo
           Seus enunciados não possuem a vigência de verdades perene.

         A consciência ingênua é reacionária por princípio. Ela julga estar falando em nome
de uma verdade que nada mais é que a defesa de regalias de estratos ou classes sociais de
situações econômicas privilegiadas. Ao contrário, a consciência crítica é a tal ponto
antireacionária que pode dizer–se ser antecipadora e libertadora. Deriva da reflexão
reveladora dos motivos que constantemente a determinam. A certeza desta motivação é
suficiente para dar-lhe a compreensão da sua validade temporal, para criar a expectativa de
uma alteração sempre possível dos fatores objetivos a que está relacionada, embora so
chegue à especificação de quais sejam os que a influenciam, em cada fase, por via
analítica.
        Distribuição social e histórica das modalidades de consciência

          A consciência, em presença contínua do subdesenvolvimento, não pode deixar de
ser ingênuo em função de o real ser sempre idêntico a si mesmo. O subdesenvolvimento é
inercial tende por si a conservar-se, a causar-se a si próprio.
          A modificação do real cria uma percepção qualitativamente nova, e está, por sua
vez, incentivada a substituição dos seus suportes materiais subdesenvolvidos. A nação
hegemônica perde a sensibilidade para a história, que lhe aparece como um relato de
acontecimentos destinados a sancionar a dominação que ostenta e não tem outro interesse
não encerrar a historia. O modo como tenta fazê-lo e tapar os ouvidos a voz da consciência


                                                                                        17
que foi sua e agora lhe molesta. Olvida o seu efetivo passado, ao vê-lo do ápice do
presente, pois interpreta as etapas atrasadas vencidas como meros obstáculos de valor
lúdico, que se compraz em referir apenas com o fim de melhor gozar, por contraste, das
riquezas que atualmente possui.
         Fechando-se à história, na intenção ilusória de estabilizar os privilégios que
conquistou, fecha-se não só a si própria, mas também a consciência dos outros. Torna-se,
assim, reacionária para consigo mesma e para com os outros.




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V. CONSCIÊNCIA POLITICA E DESENVOLVIMENTO
        Dois sofismas relativos ao desenvolvimento

        O primeiro sofisma descansa na suposição de que só alguns países têm o poder
de realizar a revolução emancipadora. Sua nocividade está expressa nas seguintes
constatações:
           Desconhecer uma chance histórica de desenvolvimento para todos os países
           Negar o gesto emancipador dos países periféricos e sua capacidade virtual que
lhes permite deflagrar o processo de desenvolvimento autônomo
           Negar e reprimir a formação de uma consciência nacional emancipadora que, na
base nos seus recursos materiais, formule a solução de desenvolvimento autônomo
           Desconhecer que a relação internacional centro-periferia só subsiste dentro de
uma conjuntura, que é a atual, mas nunca é a definitiva.

          O segundo afirma que o desenvolvimento de um país subdesenvolvido tem de ser
feito por outro que esteja em condições de pleno desenvolvimento. Igualmente, ao anterior é
altamente nocivo porquanto:
            Nega que existem, na realidade nacional, forças expansivas capazes de
transformar a nação e de elevá-la a um ou vários graus mais altos
            Desconhece o desequilíbrio de uma estrutura de relações objetivas, como lei
normal do desenvolvimento
            Perpetua o regime de relação centro-periferia, que encobre a essência da
hegemonia das nações dominantes
            Nega aos países subdesenvolvidos a posse de fatores intrínsecos e endógenos
de desenvolvimento autônomo
            Desconhece que o desenvolvimento econômico-social pode ser feito em
pequena parte com o capital estrangeiro, mas nunca pelo capital estrangeiro
            Desconhece que o investimento de capitais e técnicas no país subdesenvolvido
só tem efeito salutar no seu processo nacional em condições de plena soberania.

        Os profissionais liberais, os politicos e a consciência ingênua

          Uma das graves deficiências da nação ser subdesenvolvida reside no fato de que
seus intelectuais, particularmente economistas, advogados, sociólogos, bacharéis em direito
por estarem, na maioria das vezes, nos setores mais representativos da consciência
ingênua, sucumbem facilmente à sedução dos proveitos da corrupção e da docilidade às
manobras das corporações e empresas multinacionais ou transnacionais.
          Sem a intervenção de profissionais (economistas, sociólogos, engenheiros, etc.)
portadores de uma consciência crítica, é difícil planejar os grandes empreendimentos que a
nação carece. Quando não são dotadas de consciência autêntica, as respostas que dão aos
problemas nacionais serão com freqüências simplórias, pois analisam o processo de
desenvolvimento nacional de fora para dentro e não de dentro para fora. Tendo, em geral,
uma formação nos livros das nações hegemônicas, esses profissionais resistem em
despojar-se do saber adquirido que cegamente o empregam á realidade, em vez de reduzí-
lo ou, ainda, induzir do real nacional as categorias efetivas com que devem apreendê-lo.
        O trabalho, fator de transmutação da realidade e da consciência

         Desenvolver-se é introduzir na realidade em repetição contínua de novos fatores
causais, a fim de gerar o mais ser do futuro em relação ao ser do presente. A transformação
em que o desenvolvimento consiste é devida ao trabalho humano aplicado à realidade

                                                                                        19
material. O processo de trabalho, neste aspecto, é considerado na função de fator de
transformação da consciência da realidade.
         É assim que o trabalhador, em dado momento, toma consciência de que as
mudanças do real são efeitos do seu trabalho esse valoriza e passa a exigir participação dos
benefícios da transformação. A partir desta mudança qualitativa, altera-se a perspectiva
consciente do trabalhador e sua visão do mundo, sensibilidade aos fatos, escala de valores
e órdem de exigências.
         Daí a qualificação da obra se refletir na qualificação da pessoa. Ao incremento
quantitativo do produto corresponde um incremento qualitativo do produtor. O trabalhador
faz a descoberta do mecanismo determinante do desenvolvimento da realidade material ao
perceber que este não é outro senão o seu prõprio trabalho.
        A democracia e o processo de consciência nascente

         A formação do pensar crltico é sempre mais retardada que o avanço do processo
de desenvolvimento. É inteiramente descabido pensar em exigirem-se políticos superiores e
maio grau de consciência posslvel relativo à etapa em que o processo da realidade se acha.
A eleição no estado democrático refuta a ilusão aristocrática em supor que são os melhores
que fazem o melhor. Discerne-se facilmente o idealismo desta concepção; não existem os
"melhores", nem o "melhor” abstratamente, a não ser para os representantes do pensar
ingênuo. O caráter de "melhor", aplicado a pessoas ou as ações, só admite ser definido
concretamente, em função de uma circunstância histôrica particular e em relação ao dado
presente da realidade.
         Pensar em "criar llderes" e organizar especialistas em "relações humanas"
representa a institucionalização do conhecimento ocioso ou da "mào-sem-obra”, isto é, um
sistema educacional para atividades de valor nulo. O aspecto grave destas atividades de
valor nulo está em que consomem ponderável montante de recursos sociais, representando,
assim, um parasitismo dos bens da comunidade.
        O significado da educação para o desenvolvimento

          É ingênuo pensar que o Brasil possa ter índice educacional melhor do que o
permitido pela etapa do desenvolvimento em que se encontra o processo de transformação.
A educação não precede o processo de desenvolvimento, acompanha-o. A educação é a
consciência de atuar em cada etapa da realidade a fim de transformá-la em outra
qualitativamente superior. O "pedagogismo", a "educação mais difundida" ou "educação
mais funcional”, são termos de caráter abstrato nas infindáveis propostas de reforma do
ensino "para melhor atender as nossas necessidades". O essencial é mudar a perspectiva
em que são colocados, ou seja, transferidos do plano do pensar ingênuo para o ponto-de-
vista da consciência crltica da realidade, que consiste em ações concretas e complexas a
executar sobre uma realidade material diflcil de se penetrar e de entender.
          A aceitação desses desafios, e seu cumprimento, não é coisa que se faça
intuitivamente, sem preparo, sem projeto e sem consciência. A educação é justamente a
consciência das ações e a mobilização dos meios e recursos adequados a executá-la. A
realidade é que suscita o conteúdo da educação conveniente para determinado momento
histórico, cabendo apenas a pedagogia, como ciência, estabelecer os meios e os
procedimentos próprios a possibilitar a transmissão da matéria que o constitui. Existem duas
modalidades ou dois sistemas pedagogicos, a saber:
           O oficial, de carâter formal, sempre imposto de cima para baixo
           O real, imposto pelos fatos na pressão que exercem sobre o pensamento
ministrado no processo mesmo de desenvolvimento.

         A educação adequada ao país subdesenvolvido é a autoreprodução da reflexão
critica, mediante a transmissão de um individuo a outro. Educar para o desenvolvimento é
despertar, no educando novo modo de pensar e de sentir a existência, em face das

                                                                                         20
condições nacionais com as quais se defronta. A cultura não é a acumulação e
armazenamento do saber, mas a sua assimilação, segundo uma perspectiva que é
consciente dos fundamentos e exigências, a partir dos quais incorporou os produtos do
conhecimento de uma época anterior e os pensa com o saber atual.
        O equivoco da predominância do técnico sobre o politico

         É ingenuidade desligar da esfera da decisão politica certo numero de questões, sob
a alegação de que, por sua natureza técnica e complexidade, só devem ser discutidos por
especialistas e iniciados. A perspectiva critica acentua o significado do político de toda
proposta de transformação das instituições e dos procedimentos sociais vigentes. Subordina
as decisões que acaso afetem o conteúdo objetivo da realidade à deliberação dos
representantes politicos da comunidade. A decisão da comunidade deve caber aos que se
acham investidos da representação política. O ideal da "tecnizaçã” e o da “economização”
da função política é uma manifestação da ingenuidade ideológica.
         Uma das deturpações conceituais, a que está sujeita a teoria do desenvolvimento,
consiste em julgar que, pelas funções desempenhadas pelas elites, pelops plutocratas
dirigentes e empreendedoras, a estas devam ser atribuídos os méritos, as
responsabilidades, as honras, e, portanto, os lucros maiores das iniciativas progressistas,
reduzindo-se a um papel de fundo, a uma ação exclusivamente material e anônima, o
trabalho das camadas proletárias.




                                                                                        21
VI. CONSCIÊNCIA DA MASSA E PENSAMENTO BRASILEIRO
        A ambiguidade do conceito de massa

          Na medida em que se pensa em transformar a nação brasileira, hoje
subdesenvolvida, em uma nação desenvolvida o conceito de massa se diferencia daquele
utilizado pelo pensamento dos países hegemônicos e, também, daquele que se proclamam
socialistas. O conceito de massa não é de conteúdo subversivo como deseja e apregoa a
consciêcia primária e muito menos exprime a mesma realidade social em toda parte ou em
todas as nações, particularmente, quando são desenvolvidas ou subdesenvolvidas.
          Qual o conceito de massa que convém a formação do Brasil como uma nação para
si? A massa para os brasileiros é constituída pelo contigente da população nacional que
labuta no chamado setor informal, assim como, nas atividadades formais primárias,
secundárias e terciárias para aferirem até três salários mínimos/mês. Mesmo reconhecendo
a ambigüidade do termo “massa”, no contexto sócio–econômico do Brasil, é a esse
contingente populacional que, na nossa avaliação, pode ser aplicado o termo ou conceito de
“massa”.
          É para ela que se advogam os investimentos nacionais com vistas a contribuir para
a solidificação e a ampliação do mercado interno que pode e deve visar à sustentabilidade
da nação na medida em que o restante da população vive arabescamente e são arautos do
consumismo dos produtos e das tecnologias dos países cêntricos-imperialistas que nos
subjulgam economicamente, ditando o sentido da economia nacional. Essa fração mínima
da população brasileira que está por sobre a massa é aquela que vive numa economia de
desperdícios, viajando sempre e fazendo gastos suntuosos no exterior que chegam a ser
um acinte e desrespeito a virtuosa massa brasileira.
        A constituição da massa no processo de desenvolvimento

         Com vistas a esse aspecto da realidade nacional é válido considerar no contexto
social da nação o seguinte:
          Definir e qualificar a efetiva participação da massa no processo de
desenvolvimento brasileiro
           Demonstrar e doar sentido a ideologia do desenvolvimento nacional um
conteúdo que venha atender o bem-estar da massa
           Explicar e doar sentido as ações da massa naquilo que pode e deve alavancar o
desenvolvimento do país.

         É necessário que se tenha a devida consciência que no processo de
desenvolvimento do país a massa não preexiste a ele, mas tem início a sua existência
quando se configuram progressivamente os alicerces da formação de uma nação para si
como, hoje, se assiste no cenário nacional.
        A massa é entidade social não somente pela força de trabalho que representa, mas
igualmente pelo pensar unificador de que é sede. É sabido que o trabalho que executa gera
cosciência particular e, portanto, um ponto-de-vista sobre o estado da realidade nacional.
Esse trabalho, pelas comunidades de avanço técnico, de condições materiais e econômicas
faz com que o processo de desenvolvimento tenda a coletivizar a consciência em uma
representação uniforme e crítica.
        A massa como origem da ideologia do desenvolvimento

         A massa quando formada e consolidada na totalidade nacional é reconhecida
como doadora de sentido da autêntica teoria do desenvolvimento do país. Por isso
desencandeia ações eficazes para o desenvolvimento com vistas a conformar uma nação
para si. É, portanto, no seio das massas populares que se encontram os pontos de
aplicações de todos os vetores desenvolvimentistas no âmbito da nação.

                                                                                        22
Ao assumir a vanguarda do processo de desenvolvimento a massa se torna origem
da política e ideologia desenvolvimentista por duas razões básicas:
            A primeira, por que é ela que executa as tarefas materiais e sócio-econômicas
para tal sentido
            A segunda, por que os efeitos de tais ações redundam em proveito dela e da
nação como totalidade.

         Estamos, hoje, assistindo os primórdios da ação da massa em proferir o seu ideário
para o desenvolvimento nacional. O processo está em marcha e a criação política e
ideológica que lhe deve corresponder é inevitável no que pese a crise sistêmica do sistema
mundo capitalista, hoje, vivenciada em nível global. É notório, no Brasil, que somente a
massa está em condições de possuir a iniciativa e a consciência da realidade nova do país
detendo as idéias gerais que serão sistematizadas na política e na teoria do
desenvolvimento autônomo nacional.
        A produção da ideologia a partir da massa

          O ajustamento do pensar político-ideológico da massa aponta que nas condições
presentes, a cada momento histórico, não é instantâneo, antes se dão com atrasos cuja
razão é encontrada em dois fatos:
            A rapidez com que muda a realidade do país que entrou decididamente em fase
de desenvolvimento autônomo quando as alterações que se dão na estrutura básica e de
modo acelerado sem dar tempo a que se compreenda logo à significação do que nelas está
implicado
            A construção de novo aspecto da natural inércia político-ideológica na
solciedade e a existência de mecanismos psicológicos refreadores e que operam a favor ou
contra as representações adquiridas.

          A produção da ideologia a partir da massa deve ter implícito o hábito do pensar a
realidade para no futuro revelar a inteligência e a consciência para vencer todo e qualquer
estigma e resquício da ideologia do colonialismo. Esse hábito se revela valioso quando a
inteligência e a consciência passar da fase reflexa para a fase da consciência autônoma.
          Já se vislumbram nos horizontes das massas brasileiras grandes exigências de
superação do atraso educacional do país e a necessidade de se criar centros e
organizações de desenvolvimento da tecnociência capaz de criar a sociologia, a engenharia,
a economia poilítica e a filosofia que lhe possa ofertar a consciência crítica da realidade
brasileira em contra ponto a consciência reflexa das metrópolis estrangeiras.
        A conversão do pensamento à realidade nacional

          No Brasi já se costata que as massas já dispendem energia no sentido de realizar
a mutação de qualidade de passar de uma forma de existência a outra distinta como espécie
e não apenas em grau, cujo comando e expansão reinvidica para si. Essa conversão do
pensamento à realidade brasileira visa radical mudança de qualidade no processo de
produzir com vistas ao estatuto ontológico de ser-para-sí nos campos: político, econômico e
social. Para tanto, busca, praticar a prévia conversão dos enunciados de procedência
forânea ao mundo que é o seu.
         Deve a massa brasileira se precaver contra o engano de supor a necessidade de
um único problema como objetivo e valor absoluto quando se sabe que este só é sentido em
função de um contexto histórico-social muito particular. É somente em razão do avanço do
desenvolvimento nacional que as massas se configuram como tais com caráter objetivo para
a solução dos seus problemas.



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VII. A CONSCIÊNCIA INGÊNUA

        1. DEFINIÇÂO GERAL E CAR ÁTER FUNDAMENT AL

          A consciência ingênua é, por essência e por definição, aquela que não tem
consciência dos fatores que a condicionam, que se julga origem não originada e causa
incausada sobre o ser das coisas, a significação dos acontecimentos e ao valor das ações.
          A consciência ingênua julga-se origem absoluta, donde não precisa obedecer à
realidade, mas pensa que a realidade é que lhe deve obedecer. Com respeito à sua
ingenuidade ela é, em muito, de natureza reflexa oriunda dos centros hegemônicos do
sistema mundo do capitalismo. As massas brasileiras devem levar em conta que uma coisa
é reconhecer a necessidade de adaptar os conceitos estrangeiros, outra é saber como
redefiní-los e com que critérios fazê-los.
        A postura ou forma básica de localização e interpretação da realidade chamada de
ingênua está inserta, geralmente, em enfoques eurocêntricos, americanocêntricos e
etnocêntricos da realidade brasileira. Sua consciência é emocional, linear e divorciada da
objetividade e dos fatores e condições que a determinam. Encontra-se em disponibilidade e
independente das coisas e dos acontecimentos. É isenta de julgamento com a intenção de
rigorosa fidelidade aos fatos.

        Interpreta-os, segundo os princípios da lógica metafísica formal, da moral e da
paixão. Julga-se incondicionada por considerá-los, a síntese do saber, no que se refere, às
suas afirmações às quais submete a realidade. Sente-se satisfeita consigo mesma. Detém
critérios absolutos de julgamento. É fechada ao diálogo. Atribui valor perene ás suas
assertivas. Tem vários atributos quando condicionada pelo seu caráter eurocêntrico e
etnocêntrico, como sejam: a visão mitológica da realidade, a ausência de compreensão
unitária, o condicionamento pelo âmbito individual, a incoerência lógica, a absolutização de
sua posição, a incapacidade de atuação ordenada, além da idealização dos dados
concretos, do moralismo, da irascibilidade, do pessimismo, do ufanismo, do saudosismo,
apelo à violência e muitos outros qualificados.

      A seguir se apresenta uma ordem de atributos e caracteres da consciência ingênua
ou cândida parafraseada ou extraída da obra do sábio Álvaro Vieira Pinto, intitulada
"Consciência e realidade nacional" (MEC-ISEB).

        2. CARÁTER SENSITIVO

         Através deste caráter, a consciência ingênua fundamenta-se em percepções
superficiais, o que a faz tomar irrefletidamente a aparência, o sensível com que se defronta
como expressão última da realidade. Reduz, assim, o real ao dado imediato, e este é
naturalmente o que a impressiona no momento.
Tem percepções superficiais. Valoriza a aparência. Reduz o real ao dado imediato.
Impressiona-se pelo momento. Interpreta a realidade de acordo com as vantagens e
prejuízos que lhe causa. Perde-se em mimetismo. Transmite emoções de outros. É passiva,
imitativa e reflexa. Está disponível a influência alheia.

Contentando-se em exprimir seu estado emocional julga estar emitindo conceitos válidos
para a realidade como um todo. Desta forma, exprimindo seus interesses materiais, em vez
de examinar racionalmente, segundo uma compreensão total, a relação dos seus interesses
com o estado geral do processo, reage emotivamente o combate de situações criadas e
passa a interpretar o conjunto do processo de acordo com as vantagens ou prejuízos que
lhe causa.

                                                                                         24
Daí a vociferar valorações genéricas do tipo: "o país vai bem" esgotando-se no mundo de
emoções que lhe é peculiar, ou seja, em torno de vantagens e prejuízos que lhe trazem os
acontecimentos.

Por achar que o mundo é um conjunto de objetos e pessoas destinadas a lhe causar bem-
estar perdem-se no mais vil mimetismo, atrelando-se às emoções de outras
intelectualidades igualmente ingênuas e passa a refletí-la em seus conceitos de valores. Por
este caráter de transmitir as emoções dos outros, assume postura passiva, imitativa, reflexa,
estando, portanto, sempre disponível a influência alheia. Sua principal fonte de idéias é a
paixão que lhe serve sempre como critério de verdade.

        3. CARATER IMPRESSIONIST A

        Tem valor de simples impressão pela aparência. Sente os acontecimentos de forma
emocional. Não pensa a realidade. Justifica-se a si própria. Interpreta a realidade
independentemente de quaisquer conexões racionais. Encerra-se na subjetividade e na
aparência dos fenômenos. Reflete sentimento das idéias e estados de ânimos. É cega às
relações entre os fatos e entre as coisas.
Por ignorar os fundamentos de sua apreciação, seus enunciados têm o valor de simples
impressões, tomadas dessa aparência, que não consegue apreender na sua exata
significação. Sua disposição natural não é de pensar sobre os acontecimentos, mas a de
senti-los intensamente. Identificada por estes atributos, quando é colocada frente aos
acontecimentos, ela através deste contato emocional, justificar-se a si própria.

A partir daí, sua essência se expressa em demonstrar interesse pela realidade, vivendo-a
num processo de percepções singulares, independentemente de quaisquer conexões
racionais. Por isso mesmo, é cega às condições que lhe permitiriam descobrir o significado
lógico dos fatos, estabiliza-se em uma atitude impressionista, elevando-a a categoria de
procedimento metodológico.

Este tipo de procedimento é altamente indesejáveis e graves, quando afeta o pensamento
de técnicos, docentes e especialistas, pois, sendo portador de cegueira e obstinação no
campo das idéias, cai, fatalmente, numa condição de confinamento e perde por completo
quaisquer percepções críticas do conjunto da realidade. É por esta postura impressionista
que se vê a candura do pensamento de muitos acadêmicos, especialistas, políticos,
jornalistas e intelectuais, quando no trato de questões econômico-social.

Seu traço principal é seu encerramento na subjetividade. Contentando-se com as
aparências, ela transporta para o plano do subjetivo o que, de fato, é conteúdo dotado de
lógica própria. Fechando-se a captação das razões objetivas seu raciocínio limita-se as
formas de sentimento das idéias e de estados de ânimos que lhes dão os substratos das
apresentações no plano da subjetividade.

Por esse mecanismo de pensar, ela ignora as conexões materiais que constituem a lógica
interna da realidade e, portanto, não vê as relações entre os fatos ou entre as coisas que
representam a pertença verdade da realidade. Por isso mesmo, a sonoridade de suas
formulações pretensiosamente universalista cai, fatalmente, em construções irreais que
representam seu caráter cândido impressionista.

        4. CONDICIONAMENTO PELO ÂMBITO INDIVIDUAL

         Apreende a realidade de um ponto de vista individual. Tem visão limitada e julga
interpretar o real. Confunde o visto com o existente. Confina-se no seu próprio âmbito
individual. Desconhece e ignora os processos históricos das transformações da realidade.
                                                                                          25
A consciência ingênua está sempre condicionada pelo âmbito individual privado. Apreende a
realidade a partir de um ponto de vista do individuo, isto é, limita-se à área da existência de
quem a constitui. Representa uma visão limitada, que julga ser contemplação de todo real e
atual.

Em linhas gerais, recusa que toda consciência é, naturalmente, um "ponto-de-vista", ou seja,
uma unidade de representação do real que a consciência critica vê em totalidade e
atualidade mediante a aquisição de noções que transpõem ou circula a existência de cada
ser humano individualmente. Por isso mesmo, a postura ingênua confunde o visto com o
existente, pois, não tendo consciência da sua "situação" e do seu condicionamento, falta-lhe
a possibilidade de ver a sua posição no conjunto mais geral da sociedade, e admitir que haja
múltiplas regiões da realidade que lhe são desconhecidas.

O que acontece ao técnico, ao político, ou especialista qualquer, quando se confina no seu
próprio âmbito individual e a partir dele, se propõe, sem a devida compreensão metódica, a
captar a realidade inteira: é o arquiteto que pensa somente como arquiteto, é o urbanista,
para quem os problemas sociais são os exclusivamente de sua especialidade; é o político
que reduz as lutas econômicas e sociais contra as ações exógenas das nações
hegemônicas, a problemas de subversão, etc.

Pelo caráter do condicionamento pelo âmbito individual, a consciência ingênua revela-se
através de conceitos "universalistas" do tipo: “inquietação do nosso tempo", "crise espiritual"
"rearmamento moral”, etc. Estes conceitos impressionistas não têm correspondência alguma
com o processo histórico das transformações da realidade.

        5. ABSOLUTIZAÇÃO DE SUA POSIÇÃO

         Acredita ser absoluta. Não vê como é possível pensar diferente. Não está disposta
a discutir o significado e as razões de sua posição. Não discute, contenta-se em responder.
Sua formulação é abstrata, pois só assim consegue ser absoluta. Falta-lhe a percepção das
determinações históricas; por isto absolutiza o ponto de vista de sua classe, do seu país, da
sua raça, da sua posição ideológica, Considera-se sujeito da história, para o qual todos os
demais indivíduos são objetos.
A consciência ingênua é, particularmente, nociva quando passa a exaltar certos princípios e
ideais elevados a verdades eternas, pois, coincidindo com os interesses individuais de quem
as cultiva diretamente ligado a vantagens pessoais ou indiretamente às do seu grupo ou
nação, chega a descambar diretamente para o fascismo, desconhecendo o direito de
expressão à consciência discordante, ou eliminando-a por métodos violentos, genocidas ou
de torturas.

Por outro lado, este caráter de absolutização da sua posição pode levar também a
consciência ingênua a enveredar-se pela inatividade e pelo fatalismo, isto é, sua percepção
a-histórica dá-lhe todas as facilidades de sentir-se segura em seus enunciados, e quem está
seguro do que sabe, não achando motivos para dúvidas, não se dispõe a provar a realidade,
dispensa o contato com os fatos, tende, por conseguinte a não agir.

Pelos motivos expostos, o caráter de absolutização de sua posição pode levar a consciência
primária, como ativa, ao mais desenfreado fascismo, ou, como passiva, ao fatalismo.

        6. INCOERÊNCIA LÓGICA

         É surda e incoerente às formulações lógicas. É dogmática. Não tem precisão de
linguagem e de pensamento. É cega às matizes da realidade. É insensível à argumentação
objetiva. Foge a qualquer objetivo que contradiga suas afirmações. Acham importante e
                                                                                            26
digno de atenção, apenas, os seus julgamentos. Tem aversão às formulações críticas. É
silogística e escolástica. É hostil aos princípios de racionalidade.
A consciência ingênua é surda as formulações lógicas, insensíveis as matizes na
diferenciação dos conceitos. Por ser dogmática exibe constante imprevisão de linguagem e
pensamento. É imprecisa pela falta de contato com o real. Emprega repetidamente
expressões indefinidas como: “tal e qual”, ”tal é a coisa”, “etc e tal”.

Por ser cega as matizes da realidade a consciência cândida busca somente efeitos estéticos
da realidade e, portanto, limita-se em zombar daqueles que procedem a investigar os dados
empíricos. Pela absolutização de sua posição, fica insensível à argumentação objetiva, às
análises e demonstrações matemáticas. Tem aversão a discutir em termos concretos e foge
a qualquer objetivo que contradiga alguma de suas afirmações. O que lhe é importante, são
os seus julgamentos e, assim, torna-se impermeável as razões do adversário que, a priori, já
sabia ser pessoa equivocada. Não argumenta quando suas atitudes estão em jogo,
porquanto, elas, ao seu modo de ver, são as certas e verdadeiras. Tem horror às
formulações criticas e, por isso mesmo, taxa pejorativamente de “teóricos” a todos aqueles
que pensam criticamente.

Desconhece e nega que o pensar crítico seja a tradução, interpretação e apreensão do
concreto ou do empírico em linguagem racional, porque é procedente da incorporação a
representação subjetiva da lógica imanente ao processo.

Muitas vezes, por ser culta erudita e simplista a consciência cândida apresenta propensão a
argumentar, mas de forma silogística e escolástica, interessando-se apenas em explorar as
conexões abstratas entre as idéias e, por isso mesmo, é hostil aos princípios de
racionalidade e de crítica, pois julga definir-se pela clareza e logicidade, que supõe ser
objetiva.

        7. IRASCIBILIDADE

         É reclamadora e deblatedora. Substitui os nexos reais por ligações entre estados
psicológicos. Vive indignada contra os fatos e atitudes dos humanos. Decepciona-se de
estar num mundo que não lhe obedece, isto é, teima em ser o que não deveria ser. É
fanática e irascível. Inverte a existência em acusação normal contra a realidade.
Por ser contra aos acontecimentos, deblatera contra tudo e contra todos. Substitui os nexos
reais das coisas por ligações entre estados psicológicos dos agentes. Grita contra a
estupidez, a incompetência e, sobretudo, a desonestidade dos responsáveis pelos negócios
públicos, não acredita em corrigir a realidade na medida em que se substituem os autores.

Sendo fechada, circunscrita, tendenciosa, por sistemática reação a exaltar-se, ela vive na
decepção de estar num mundo que não obedece ao que para ela seria racional. Por isso
acusa a realidade, desligando-se da ação causal dos fatores objetivos e inverte a existência
em acusação moral contra a realidade. Ignora que a moral é uma defesa do coletivo social
humano contra o indivíduo. Daí passa o mundo a ser, para ela, um depósito de perversidade
e de malícia, porquanto, teima em ser o que não devia ser. É por excelência fanática.

Por ser colérica, ela apregoa que a ignorância e a imoralidade estão por toda parte;
portanto, a ela cabe promover a purificação das almas e separar o "joio do trigo", ou seja,
condenar todos aqueles considerados maus.

Para a sua ressonância ou acústica recíproca, ela cria e alimenta tendência do "escritor
ingênuo e público-ingênuo”. Por isso se alicerça na deblateração desenfreada e no vitupério
que lança contra o esta candura do pensar mágico. É levada a se julgar no dever de clamar,

                                                                                         27
cessar, e manter uma eterna vigilância contra os desvios da história. Jamais pode entender
que o preço da vigilância de países hegemônicos pode ser também, o preço da eterna
escravidão.

        8. INCAPACIDADE DE DIALOGAR

         Nega o diálogo como ação concreta. É impenetrável à comunicação. Demonstra
que a consciência discordante vem à discussão sem estar de posse da verdade que é sua.
Não admite a verdade como valor social. Recusa que no âmbito da comunicação coletiva a
prática se torna fundamento da verdade. Vive em busca de aplausos. Contenta-se com suas
aclamações emotivas e multiplica-se sem se reproduzir.
Tendo assumido a validade absoluta do seu ponto de vista, considera aberração mental
qualquer posição diferente da sua. É profundamente antidialógica. A procura da verdade é
um escândalo intelectual e uma fraqueza moral. O convite ao debate, a tentativa de ordenar
racionalmente as idéias, procurando estabelecer os problemas e investigá-los de modo
metódico, tudo isso lhe parece recurso tendencioso, indício de falta de certeza em quem o
utiliza; demonstra que o adversário vem à discussão sem estar ainda de posse da verdade,
mas quer procurá-la enquanto analisa a questão em apreço, revelando sua debilidade
perante a qual já está seguro de possuir aquilo que o outro penosamente vem buscando.

Impenetrável á comunicação, é conduzida a ver na consciência discordante permanente
intenção maliciosa, demonstrada na repetida negação das idéias e fórmulas que lhe
parecem às únicas justas.

Vocifera e não aceita que o diálogo é condição existencial do ser humano, e que, por isso
mesmo, não pode ser exercício imaginário. Por essa postura, não vê o diálogo como um
drama concreto, travado entre existências que ocupam, no espaço e tempo social, posições
distintas e, às vezes, antagônicas, em virtude de razões que afetam, existencialmente, uma
e outra.

Pela sua incapacidade de dialogar, a consciência ingênua não aceita que a verdade é um
valor social, exigindo a participação de/ou por outro que a deve aceitar, mediante condições
que lhe sejam próprias; do contrário, seria elucubração solipsista.

Não permitindo que a verdade adquira significado social de caráter crítico, escapa-lhe o
significado do existir objetivo. Por isso, desconhece que, só no âmbito da comunicação
coletiva, a prática se torna fundamento da verdade, pois, não é na experiência pessoal
isolada que se estatui o vínculo de conhecimento entre o pensar e o ser.

A consciência primária tem, ainda, uma característica de transferir ao interlocutor a
incomunicação de que padece pelas definições que tem de si e dos seus condicionamentos.
Vive à cata de aplausos contentando-se com aclamações emotivas e, assim, ela multiplica-
se sem se reproduzir. Instalada entre espelhos, na repetição ao infinito da própria imagem,
considera o reflexo de si mesma satisfatória aprovação.

        9. PEDANTISMO

        É receptora da cultura alheia eurocêntrica ou universal. Divorcia-se da relação que
deveria ter com sua existência social. Valoriza o que sabe e o problema com empáfia.
Apregoa e divulga a recepção da cultura. É por natureza eurocêntrica, americanocêntrica ou
etnocêntrica. Vive a busca de: elogios, cargos, títulos, medalhas, honorárias e honrarias.
A consciência ingênua tem, por fundamento, a falsa compreensão do papel da consciência
em relação à realidade a que está ligada que, da sua maneira de ser, das suas

                                                                                         28
peculiaridades subjetivas, inclinações psicológicas e interesses pessoais, dos quais devem
derivar os acordos para que desempenhe a função intelectual.

Importa-lhe valorizar o que sabe e proclamá-lo com empáfia. Confia na ignorância alheia
mais que na própria ciência. Conquistada a áurea de personagem importante, desinteressa-
se do estudo e se entrega à luta pela conquista de elogios, cargos, títulos, medalhas,
honorários e honrarias em geral. Esse caráter da consciência ingênua não é outra coisa
senão uma das faces da alienação cultural, específica do intelectual do país
subdesenvolvido.

Consumada a desvinculação com a realidade, a modalidade pedante da consciência
ingênua se autofecunda e descamba na série cômica e ridícula de atitudes, que bem se
distingue, em grande parte, dos nossos acadêmicos e renomados intelectuais ou “homens
de ciência”.

A função básica da consciência pedante é servir de mediadora do saber entre os centros
estrangeiros universais e os restritos e atrasados centros cultural nacionais, produzindo, no
meio local, livros que traduzem ou refletem o conteúdo dos livros estrangeiros.

Sendo receptora da cultura alheia ou universal, o modo pedante de pensar da consciência
ingênua não percebe ou divorcia-se da relação que deveria ter com sua existência social e,
por isso mesmo, apregoa e divulga a "recepção da cultura”, não somente no sentido de
receber de fora, mas, também, no de festa. É, portanto, neste sentido, que o conceito de
"recepção da cultura", peculiar ao pedantismo da consciência primária, induz o pedante,
quando demonstra seu vasto cabedal de conhecimentos, a nada mais fazer que vestir a
indumentária intelectual para comparecer à festa alheia.

O próprio hábito de ostentar os anéis de formatura é típico do intelectual do país
subdesenvolvido, pois é sabido que o uso de tais anéis se destinava, no passado, a indicar
as pessoas que não precisavam utilizar as mãos para o trabalho pelo privilégio de servirem
apenas como escribas.

        10. AUSÊNCIA DE COMPREENSÃO UNIT ÁRIA

         Nega seu fundamento histórico e nacional. Ignora que a problemática é da
realidade e não do pensamento. Assume posições opostas e afirma conceitos desajustáveis
por ausência de compreensão unitária. Julga-se expressão da verdade imparcial. Nega o
contexto político, econômico e social da nação que exprime a realidade. Ignora a unidade de
pensamento e ação. É incapaz de atuar ordenadamente.
Por ter índole contraditória e não tendo disto a menor percepção, a consciência ingênua
torna-se incapaz de indagar o que constitui os seus fundamentos. Situa-se na subjetividade
e se fecha a oportunidade de assimilar a racionalidade imanente aos acontecimentos.
Substitui a racionalidade pelo raciocínio abstrato, formal, limitando-se a pensar relações
entre idéias. Contenta-se com o mundo de especulações que constrói e que habita,
tornando-o como reprodução fiel do exterior. O real passa a ser algo estranho do qual, de
vez em quando, se aproxima.

Movida por ímpetos irrefletidos, é capaz de assumir satisfeitas, posições opostas e afirmar
conceitos inajustáveis, os quais, não sendo submetidos à análise que lhes denunciaria a
incompatibilidade, podem coexistir, desde que sustentados por motivos irracionais. A razão
desta ausência de compreensão unitária descansa na ignorância de que o real possui os
meios de sua retificação porque a problematicidade é da realidade e não do pensamento.



                                                                                          29
Em função da criação, em nosso tempo, de um grande número de instituições estrangeiras
e internacionais e de várias espécies, deparam-se, hoje, os países subdesenvolvidos, com
um sem número de especialistas recrutados por esses organismos, que os transfere a um
plano fictício do anacional puro e que produzem inúmeros documentos de natureza política,
econômica, social, ambiental, literária ou científica. Dispondo de grandes somas de recursos
e de técnicos de notória capacidade, essas instituições protornacionais são chamadas a
pronunciar julgamentos sobre problemas específicos da validade de todos os países. Esses
pronunciamentos e julgamentos, por virem desse mundo de ninguém, se inculcam como
expressão da verdade imparcial. Por esse equívoco, a atitude de imparcialidade abstrata
deixa de ser vaidade de alguns pensadores românticos, para encontrar um pequeno exército
de realizadores práticos. É provável que muito tempo se passe até que a consciência
nacional venha a ter clara compreensão deste fato.

O pensar crítico não aceita esta prática de imparcialidade; ao contrário, sustenta que, para
haver imparcialidade, é necessário que o pensador veja a realidade a partir dos interesses
e/ou necessidades da comunidade a que pertence, pois lá está a plena representação do
condicionamento imparcial. Não pensando independentemente de qualquer determinação, o
pensador sabe que a perspectiva na qual se coloca não conduz a alteração do conteúdo do
fato, mas, ao significado do fato.

Por isso mesmo é que o pensar crítico defende a tese de que compete ao filósofo,
economista, sociólogo ou outro especialista social assumir o significado interior dos dados
do contexto econômico-social da nação, tal como se apresentam a consciência que os vê de
dentro e que exprimem o estado real que é o seu, e não outro qualquer. Acredita que só
assim, gera-se a imparcialidade de natureza concreta. Todo este conceito de imparcialidade
deriva do fato da inalienável condição de o humano ser um ente no mundo histórico, no
âmbito do seu país e de, neste, ter lugar o fato em apreço.

Muitos dos especialistas internacionais resvalam para a ingenuidade, mesmo quando no afã
de superar o que chamam de "estreiteza do seu horizonte familiar”.

        11. INCAPACIDADE DE AT UAÇ ÃO ORDENAD A

          A consciência ingênua não exige o reconhecimento ponderado da verdade de suas
assertivas. Não se empenha         em conquistar sólida penetração na sua consciência e
na alheia. Não defende senão com calor verbal a veracidade do que diz, porque é ágil em
substituir qualquer pronunciamento a outro, evitando o ônus das laboriosas demonstrações.
Não se interessa pelas próprias soluções que apresenta. Limitando-se a proposição, não
compreende que toda realização concreta implica unidade de pensamento e ação.
Por faltar-lhe a compreensão do que seja a prática social, filosoficamente entendida, a
consciência ingênua idealiza mecanismos e motivos que acionam os seus julgamentos
terminando por desprezar o aspecto prático da existência e a consideração dos fatores
objetivos. Quando privada do comando político, a consciência cândida se acha sempre no
direito de um dia atuar e alterar a face das coisas.

Daí assumir atitudes conhecidas como de "políticas da oposição", geralmente embebida
numa visão singela da realidade nacional. Por supor a permanente divisão entre
pensamento e prática, aceita como natural o esquema da divisão social das atividades de
acordo com o qual alguns se reservam a parte do pensar puro, deixando a outros a
incumbência da realização.

Através deste cunho intelectualista e aristocrático, e em virtude da percepção da própria
inoperância, assume para com o real, indiferente ou rebelde, a atitude moralista.


                                                                                         30
12. MORALISMO

          Afirma o primado da realidade na prática social. Desconhece as leis do processo
real. Prioriza o ser pelo “quantum” de bondade que possui. Apela para violência contra
instituições, coisas e pessoas nas quais julga que a maldade se encarnou. Valoriza a ordem
de cogitações abstratas e a espera ontológica dos valores. Torna a lei ética de validade
absoluta. Ama a lei e o direito em detrimento do ente humano. É cega a realidade histórica.
Nega a percepção de grupos, classes e estratos sociais. Apregoa o efeito do bem e do mal
entre a luz e a treva. Elege os puros e condena os imorais.
Conduz a apreciação dos acontecimentos e o julgo sobre os humanos, segundo o que lhe
parece ser o valor moral contido nos fatos e nas condutas. Coloca a existência de um ser na
dependência do quantum de bondade que possui. Da mesma forma, a consciência ingênua
reivindica o primado da moralidade na prática social. Não reconhecem que o processo real
tenha leis próprias, de teor objetivo, que determinam os acontecimentos ao ligarem os fatos
as suas condições, e constituam mecanismos de criação da realidade, independentes da
nossa vontade e do nosso julgamento.

Apela para a violência, mesmo extrema, contra instituições, coisas e pessoas, nas quais a
maldade se encarnou. Desvia a atenção do verdadeiro significado dos acontecimentos do
processo histórico, o seu condicionamento material, especialmente econômico, e o dirige
para a ordem de cogitações abstratas, a esfera ontológica dos valores levando a discussão
dos problemas da realidade a ser travada em função das pessoas.

A lei ética é elevada à razão ultima de todo acontecer histórico e princípio de constituição
humana. Sua validade é absoluta.

Contentam-se em profligar a má conduta dos humanos a fustigá-los com a denúncia de sua
imoralidade. Lamenta que sejam tão tristes os tempos em que tem a desgraça de viver. Sua
repulsa ao real não decorre da experiência das condições materiais dos fatos nem é
motivada pelo sentimento das conveniências humanas, mas deriva somente de postulados
éticos. Não ama o ser humano ama a lei.

É cega à realidade histórica. Só o ente humano individual é responsável pelo que faz e pelo
que é. Não aceita e muito menos vê a percepção dinâmica de grupos, classes sociais,
partidos, etc. e, por isso, descobre sempre neles uma personalidade representativa do
conjunto a quem atribui significado e valor ético. Os demais membros são avaliados por
equiparação ao líder. O grupo ou classe social não tem significado, pois, a rigor, só importa
a figura saliente que em geral, é explicada pelo efeito enfeitiçador do bem ou do mal. Sua
essência está no combate místico entre a Luz e a Treva. O Bem e o Mal é seu lema para
eleger os puros e condenar os imorais.

        13. IDEALIZAÇ AO DOS DADOS CONCRETOS

          Idealiza os dados concretos. Tem fascínio pela violência e que traduz em
julgamento. Cultua o moralismo. É seduzida a ditadura. Apela para a violência como meio
pedagógico e como recurso corretivo. Defende a violência na política social como método de
dirigir a sociedade. Acredita na tutela de um líder sobre o povo na medida em que este, do
seu ponto-de-vista, não tem condições de escolher seus governantes.
Por ser a-hístóríca na presença de um problema concreto, dispõe-se a dar-lhe solução, mas
supõem prèviamente modificados os termos materiais e humanos da questão. Encaminha
os problemas em termos que desde o começo os moldam nas formas favoráveis às
soluções que lhes pretendem dar. Ao imaginar ou idealizar a solução de um problema,
inflama-se de entusiasmo que a visão antecipada do sucesso lhe desperta.

                                                                                          31
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Apontamentos sobre consciência e realidade nacional

  • 1. APONTAMENTOS SOBRE “CONSCIÊNCIA E REALIDADE NACIONAL” DE ÁLVARO VIEIRA PINTO POR: GERALDO MEDEIROS DE AGUIAR Imagem fractal. Fonte: GOOGLE RECIFE, JUNHO DE 1978. (REVISITADO, MODIFICADO E REVISTO ENTRE DEZEMBRO DE 2011 E FEVEREIRO DE 2012) 1
  • 2. ESTES APONTAMENTOS PROCURAM SER UMA SINÓPSE DA MAGNÍFICA OBRA DO SÁBIO FILÓSOFO BRASILEIRO ÁLVARO VIEIRA PINTO, INTITULADA “CONSCIÊNCIA E REALIDADE NACIONAL”, A PARTIR DE PARÁFASES, COMPILAÇÕES E INTERPRETAÇÕES PESSOAIS. REPRESENTA, AINDA, UM BREVE CONJUNTO DA OBRA ACIMA CITADA PUBLICADA EM DOIS VOLUMES (1.077 PÁGINAS), NO RIO DE JANEIRO, EM 1960, PELO INSTITUTO SUPERIOR DE ESTUDOS BRASILEIROS – ISEB DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA. HOUVE BREVES MODIFICAÇÕES NA: FORMA, CONTEÚDO E ITEMIZAÇÃO DOS TEXTOS ORIGINAIS. OS ERROS DE INTERPRETAÇÕES, DE PARÁFASES, DE COMPILAÇÕES E DE SÍNTESES MAL ELABORADAS, ENCONTRADAS NOS TEXTOS, AQUI DIVULGADOS, SÃO DE NOSSA INTEIRA RESPONSABILIDADE E NÃO DAQUELE SAUDOSO E EMÉRITO PROFESSOR, FILÓSOFO E CIENTISTA. A ELE PRESTO MINHAS HOMENAGENS PÓSTUMAS REVISITANDO E DANDO AO PÚBLICO FRAGMENTOS DE UMA DE SUAS OBRAS. GERALDO MEDEIROS DE AGUIAR ÁLVARO VIEIRA PINTO: NASCEU EM CAMPOS EM 11 DE NOVEMBRO DE 1909 E FALECEU NO RIO DE JANEIRO EM 11 DE JUNHO DE 1987. MÉDICO, MATEMÁTICO, POLIGLOTA E FILÓSOFO. PROFESSOR CATEDRÁTICO DA UNIVERSIDADE DO BRASIL (HOJE, UFRJ). EX- DIRETOR E PROFESSOR D0 ISEB (INSTITUTO SUPERIOR DE ESTUDOS BRASILEIROS) DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA (INCENDIADO PELOS MILITARES NO GOLPE DE ABRIL DE 1964). AUTOR DOS SEGUINTES LIVROS: Consciênia e Realidade Nacional. 2 volumes,1.077p. Ciência e Existência Sete Lições sobre Educação de Adutos O Conceito de Tecnologia. 2 volumes, 1.328p. Por que os Ricos não Fazem Greve? Ideologia e Desenvolvimento Nacional A Questão da Universidade A Sociologia dos Países Subdesenvolvidos 2
  • 3. SUMÁRIO Sumário ............................................................................................................................................. 3 APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................ 8 I. CONSCIÊNCIA E SOCIEDADE...........................................................................................................10 Consciência privada e consciencia coletiva ...................................................................... 10 As modalidades da consciência ....................................................................................... 10 Necessário condicionamento de todo ponto de vista ........................................................ 10 As idéias da comunidade ................................................................................................. 10 II. CONSCIÊNCIA E DESENVOLVIMENTO ...........................................................................................12 Fatores ideologicos na produção e condução do desenvolvimento .................................. 12 O subdesenvolvimento como contradição ........................................................................ 12 Componentes volitivos da consciencia ideológica e a intencionalidade da consciência coletiva ............................................................................................................................. 12 Comportamentos emocionais das massas ....................................................................... 13 III. CONSCIÊNCIA OCUPADA E DESENVOLVIMENTO .........................................................................14 A consciência e a práxis do desenvolvimento .................................................................. 14 A prática no país subdesenvolvido ................................................................................... 14 O trabalho e a pràtica ....................................................................................................... 14 Trabalho e filosofia no país subdesenvolvido ................................................................... 14 As filosofias: existencialistas, estruturalistas e pragmatistas, como filosofias dos centros dominantes....................................................................................................................... 15 Conceito de amanualidade. O mundo como dado e como efeito ...................................... 15 A superação do subdesenvolvimento pela acumulação do trabalho ................................. 16 A filosofia da tecnica. A inércia da tecnica e a técnica como invenção ............................. 16 IV. CONSCIÊNCIA INGÊNUA E CONSCIÊNCIA CRÍTICA. CONCEITUAÇÃO DAS FORMAS DA CONSCIÊNCIA ...................................................................................................................................17 Distribuição social e histórica das modalidades de consciência ....................................... 17 V. CONSCIÊNCIA POLITICA E DESENVOLVIMENTO ............................................................................19 Dois sofismas relativos ao desenvolvimento .................................................................... 19 Os profissionais liberais, os politicos e a consciência ingênua ......................................... 19 O trabalho, fator de transmutação da realidade e da consciência .................................... 19 A democracia e o processo de consciência nascente ...................................................... 20 O significado da educação para o desenvolvimento ......................................................... 20 O equivoco da predominância do técnico sobre o politico ................................................ 21 VI. CONSCIÊNCIA DA MASSA E PENSAMENTO BRASILEIRO ..............................................................22 3
  • 4. A ambiguidade do conceito de massa .............................................................................. 22 A constituição da massa no processo de desenvolvimento .............................................. 22 A massa como origem da ideologia do desenvolvimento ................................................. 22 A produção da ideologia a partir da massa....................................................................... 23 A conversão do pensamento à realidade nacional ........................................................... 23 VII. A CONSCIÊNCIA INGÊNUA ..........................................................................................................24 1. DEFINIÇÂO GERAL E CARÁTER FUNDAMENTAL .................................................... 24 2. CARÁTER SENSITIVO ................................................................................................ 24 3. CARATER IMPRESSIONISTA ..................................................................................... 25 4. CONDICIONAMENTO PELO ÂMBITO INDIVIDUAL .................................................... 25 5. ABSOLUTIZAÇÃO DE SUA POSIÇÃO ........................................................................ 26 6. INCOERÊNCIA LÓGICA .............................................................................................. 26 7. IRASCIBILIDADE ......................................................................................................... 27 8. INCAPACIDADE DE DIALOGAR ................................................................................. 28 9. PEDANTISMO.............................................................................................................. 28 10. AUSÊNCIA DE COMPREENSÃO UNITÁRIA ............................................................. 29 11. INCAPACIDADE DE ATUAÇÃO ORDENADA............................................................ 30 12. MORALISMO ............................................................................................................. 31 13. IDEALIZAÇAO DOS DADOS CONCRETOS .............................................................. 31 14. APELO À VIOLÊNCIA ................................................................................................ 32 15. DESPREZO PELA MASSA ........................................................................................ 32 16. CULTO AO HERÓI SALVADOR................................................................................. 33 17. MESSIANISMO DA REVOLUÇÃO ............................................................................. 34 18. ADMISSÃO DA EXISTÊNCIA DE UM PROBLEMA SUPREMO ................................. 35 19. COISIFICAÇÃO DAS IDÉIAS ..................................................................................... 36 20. MALEDICÊNCIA E PRECIPITAÇÃO DE JULGAMENTO ........................................... 36 21. CRENÇA NA IMUTABILIDADE DOS PADRÕES DE VALOR .................................... 37 22. DESPREZO PELA LIBERDADE................................................................................. 38 23. INTELECTUALISMO NA CONCEPÇÃO DOS PROBLEMAS SOCIAIS...................... 39 24. CULTO AO BOM SENSO........................................................................................... 39 25. DEFESA DO PROGRESSO MODERADO ................................................................. 40 26. IGNORÂNCIA DO POTENCIAL POLÍTICO NA ATUAÇÃO INTERNACIONAL .......... 41 27. VISÃO ROMÂNTICA DA HISTÓRIA .......................................................................... 42 28. ROMANTISMO NA CONCEPÇÃO DAS RELAÇÕES ECONÔMICAS E POLÍTICAS . 42 29. PESSIMISM0 ............................................................................................................. 43 30. UFANISMO ................................................................................................................ 44 4
  • 5. 31. SAUDOSISMO ........................................................................................................... 45 32. PRIMARISMO POLÍTICO ........................................................................................... 46 33. AMBIGUIDADE E CONCILIAÇÃO DE IDÉIAS INCOMPATÍVEIS............................... 46 34. RECUSA DA ATRIBUIÇAO DE INGENUIDADE ........................................................ 47 ViII. CONSCIÊNCIA CRITICA ...............................................................................................................49 1. CARÁTER GERAL ...................................................................................................... 49 2. CATEGORIA DE OBJETIVIDADE ................................................................................ 50 Alteração do real e a percepção das massas ..............................................................................50 O cuidado e a ocupação no país subdesenvolvido......................................................................51 3. A CATEGORIA DE HISTORICIDADE .......................................................................... 51 A realidade como processo .......................................................................................................52 O presente como dinamismo e virtualidade ..............................................................................53 Interação entre consciência e processo .....................................................................................53 4. A CATEGORIA DE RACIONALIDADE ........................................................................ 54 Sensibilidade social e pensar crítico ...........................................................................................55 Correlações causais e consciência útil ao desenvolvimento .......................................................55 A dialética da razão no país subdesenvolvido ............................................................................56 A) Inconveniência do pensamento formal .................................................................................56 B) Necessidade do pensamento dialético ..................................................................................56 c) A dialética das contradições no país subdesenvolvido ............................................................57 D) O “salto histórico" no país subdesenvolvido ..........................................................................58 E) A ação recíproca no país subdesenvolvido .............................................................................58 F) A unidade dos contrários no país subdesenvolvido ................................................................59 G) Peculiaridades dialéticas do subdesenvolvimento. "diferencial histórica" e progresso da consciência................................................................................................................................59 5. A CATEGORIA DE TOTALIDADE ...............................................................................................61 Objeções à concepção da totalidade .........................................................................................62 A totalidade como conexão de sentido ......................................................................................63 A insuficiência do conceito de “causalidade-circular" ................................................................64 A nação como totalidade envolvente ........................................................................................64 Estar no mundo e ser no mundo................................................................................................65 A ideologia do desenvolvimento é um humanismo....................................................................65 O mundo como nação ...............................................................................................................65 O desenvolvimento e a categoria de totalidade .........................................................................66 Generalidade, totalidade e doação de sentido ...........................................................................67 5
  • 6. Revolução nacional e projeto de destino ...................................................................................68 Unificação do tempo histórico ...................................................................................................68 Uma consequência do conceito ingênuo de totalidade: o municipalismo ..................................69 6. A CATEGORIA DE ATIVIDADE ................................................................................... 69 Pensamento e ação ...................................................................................................................70 O trabalho e a nação como projeto ...........................................................................................71 A alienação internacional do trabalho .......................................................................................72 Ação e resistência à ação ...........................................................................................................72 Caráter histórico e social dos valores .........................................................................................74 A ética do desenvolvimento ......................................................................................................75 Responsabilidade individual na ética do desenvolvimento .........................................................75 A prática inautêntica e o romantismo revolucionário ................................................................79 7. A CATEGORIA DE LIBERDADE .................................................................................................80 Concepções ingênuas de liberdade............................................................................................80 O ato livre e o pertencimento ao mundo ...................................................................................81 A liberdade é o libertar..............................................................................................................82 A dialética da liberdade .............................................................................................................82 O equívoco da liberdade interior ...............................................................................................83 As “situações-limite” e sua superação histórica .........................................................................84 A existência autêntica ...............................................................................................................84 A liberdade concreta e a consciência política .............................................................................85 8. A CATEGORIA DE NACIONALIDADE ........................................................................ 86 O processo de formação nacional ..............................................................................................88 O nacionalismo como fenômeno histórico .................................................................................89 As supostas "contradições” do nacionalismo .............................................................................91 O nacionalismo como fenômeno de massa ................................................................................92 Conteúdo e sentido dos atos nacionalistas ................................................................................92 A expressão teórica do nacionalismo .........................................................................................93 O encontro das consciências no país subdesenvolvido...............................................................94 9. ALIENAÇÃO, FORMAÇÃO NACIONAL E REGIONAL ................................................ 94 A nação como universal concreto ..............................................................................................94 A relação de dominação ............................................................................................................95 A educação como instrumento de dominação ...........................................................................96 O nacionalismo como supressão da alienação ...........................................................................98 6
  • 7. A nação como origem de significações e fundação da cultura brasileira...................................102 Desenvolvimento e problemas regionais .................................................................................102 IX. PRINCÍPIOS DE UMA POLÍTICA NACIONALISTA..........................................................................109 1. A INCORPORAÇAO DO TRABALHO NACIONAL AO PAÍS ...................................... 110 2. A REPRESSÃO AO CAPITAL PRIVADO ESTRANGEIRO ESPECULATIVO ............ 113 3. O DESENVOLVIMENTO VISA HUMANIZAR A EXISTÊNCIA.................................... 116 4. O MONOPÓLIO ESTATAL DOS FATORES ECONÔMICOS BÁSICOS .................... 116 5. A DEFESA DA INDÚSTRIA NACIONAL AUTÊNTICA................................................ 117 6. A OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO NACIONAL ........................................................... 118 7. A REFORMA AGRÁRIA ............................................................................................. 119 8. AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DE PLENA SOBERANIA ................................... 121 9. A EDUCAÇÃO POPULAR PARA O DESENVOLVIMENTO ....................................... 122 10. A CULTURA DO POVO ........................................................................................... 123 11. A SOLIDARIEDADE INTERNACIONAL COM AS NAÇÕES EM LUTA PELA LIBERTAÇÃO POLÍTICA E ECONÔMICA ..................................................................... 124 X. IDÉIAS PARA UM MODELO AUTÔNOMO DO DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO .........................127 XI. A DIVISÃO DO TRABALHO E UM MUNDO SEM EMPREGOS .......................................................144 O AUTOR ........................................................................................................................................151 7
  • 8. APRESENTAÇÃO O presente resumo com interpretações, paráfrases e compilações do livro "CONSCIÊNCIA E REALIDADE NACIONAL” (1º e 2º volumes), do professor, cientista e filósofo Brasileiro ÁLVARO VIEIRA PINTO publicado pelo Ministério da Educação e Cultura através do Instituto Superior de Estudos Brasileiros - ISEB se prende aos seguintes motivos: A partir de abril de 1964 (até os dias de 1978), além de vários revezes foram impostos às forças nacionalistas e a consciência critica nacional, um controle arbitrário, inquisidor e despótico sem, porém, anular sua ação. Entretanto, durante todo esse triste e obscuro período aumentou e fortaleceu-se, mais ainda, o contingente daqueles que passaram a adotar o modo critico de pensar que, por isso mesmo, nos incentivou a resumir e parafrasear esta importante obra de ÁLVARO VIEIRA PINTO, em 1978, com o intuito de ajudar àqueles que buscavam a essência da teoria nacionalista tão combatida pelas forças retrógradas e reacionárias do Brasil. Outro motivo que muito nos incentivou a resumir e parafasear a supramencionada obra filosófica foi à ansiedade que têm os estudantes das universidades nordestinas em compreender e apreender os problemas concernentes à realidade braseira, deliberada e conscientemente ocultadas e distorcidas pelas mídias falada, escrita, televisiva e, também, pelas autoridades docentes em comum acordo com os órgãos de repressão do Estado Brasileiro. Assim sendo, acreditavamos que este resumo pode servir de estímulo e indicador de numerosos estudos, teses e dissertações fundamentadas no sistema categorial apresentado nos textos. Com a agonia do chamado "milagre brasileiro" durante a ditadura e, conseqüentemente, a falência dos poderes despóticos e do estado de arbítrio institucionalizado, havia motivação e indução, na época, para elaborar o resumo, em tela, também, no propósito de servir de plataforma e conteúdo de um programa político-partidário nacional a ser criada com a esperada e almejada “abertura política” ou com o fim do estado de arbítrio. O maior incentivo, talvez, à elaboração do resumo, esteja no fato de a obra do citado filósofo, que foi publicada em 1960, ter passado por um severo crivo e, após anos, apresentar-se tão atualizada e autêntica como se tivesse sido escrita naquele ano de 1978. Fica aos leitores a opção de verificar a validade ou não desta assertiva retrocedendo um pouco no tempo. Cabe, ainda, esclarecer que existem pouquíssimos exemplares da obra em pauta o que, também, demandou este resumo expressando a esperança de que a obra seja reeditada num futuro próximo. Finalmente, este trabalho reflete direta e indiretamente a nossa experiência e ideologia quer pela opção e necessidade de resumir em paráfrases a obra em apreço, quer pelas modificações na sua forma e conteúdo. Entretanto, as omissões, os equívocos e falta de clareza de alguns trechos e parágrafos não cabem ao saudoso cientista e mestre ALVARO VIEIRA PINTO e sim ao nosso esforço e nossas limitações nas sínteses e interpretações. Já a revisitação à obra com a revisão daquela 1ª versão deste ensaio (escrito em 1978) foi realizada em dezembro de 2011 a fevereiro de 2012 motivadas no Encontro Pedagógico de 2011 da Faculdade Boa Viagem quando a palestrante gaúcha, Cleoni Barbosa Fernandes, convidada para o evento, ao citar e comentar a obra do mestre ÁLVARO VIEIRA PINTO ficou surpresa que, o Autor deste ensaio, professor daquela Faculdade e presente à sua conferência, o havia conhecido e participado de várias palestras suas no ISEB e que usava os conhecimentos daquele cientista e filósofo, na FBV, em suas aulas e nos seus escritos, conferências e trabalhos acadêmicos. Outro motivo foi que o Autor havia adquirido um mês antes do evento, em tela, à obra “Conceito de Tecnologia” de ÁLVARO VIEIRA PINTO (dois volumes) publicada no Rio de Janeiro, pela Editora Contraponto, no ano de 2008 (após o achado dos originais em 1974) e havia começado a sua leitura. Também, vale lembrar que o livro “Consciência e Realidade Nacional” se 8
  • 9. encontra de há muito esgotado (sem perspectiva de reedição) e muito dos seus exemplares publicados pelo ISEB foram insinerados pelos militares em abril de 1964 quando incendiaram aquela modelar e importantíssima organização do pensar crítico nacional e que, na época, era uma réplica a Escola Superior de Guerra (ESG). Nos APONTAMENTOS foram omitidos os textos referentes “A SISTEMATIZAÇÃO DA CONSCIÊNCIA CRÍTICA” e a “CONCLUSÃO” ambos constantes do segundo volume da obra. Optou-se por se apresentar, em substituição àqueles capítulos, dois apêndices escritos pelo Autor (Idéias para um modelo de desenvolvimento autônomo e a Divisão do trabalho e um mundo sem empregos) como inspiração, interpretação e aplicação das idéias da Obra do Grande Filósofo na contextualização da Realidade Brasileira de hoje (fevereiro de 2012). NOTA: Os APONTAMENTOS são apresentados em linguagem coloquial do Autor e não sofreram quaisquer correções gramaticais e ortográficas. Servem como subsídios para seus trabalhos, aulas e conferências. 9
  • 10. I. CONSCIÊNCIA E SOCIEDADE Consciência privada e consciencia coletiva A transformação da consciência privada em pública e coletiva tem suas raízes no próprio atributo da consciência individual de assumir o duplo papel: exprimir julgamento pessoal e forjar para si o sentimento de estar exprimindo o que todos os outros pensam. Como coletiva, a consciência individual se converte em consciência de classes que se uniformiza pela comunidade dos fundamentos econômico-social em que repousam no processo de produção e circulação de mercadorias. A consciência individual quando se proclama coletiva assume caráter ideológico desde que esteja ligada a realidade do país. Isto se dá pelo fato da consciência ser reflexo e julgamento da sociedade sobre si mesma, por intermédio de quem acredita exprimir o sentimento coletivo em cuja base material, física e social a consciência uniformiza-se. Em geral, o indivíduo acredita que exprime o que qualquer outro também pensa, em vez de admitir que a consciência comum seja produto do seu modo pessoal de pensar agregado ao de todos os demais humanos. As modalidades da consciência A consciência apresenta um conjunto de representações, reflexões, idéias e conceitos organizados segundo estruturas caracterizadas por tipos ou modalidades e pode ser sintetizada em dois tipos fundamentais: Consciência ingênua, quando desconhece ou nega seu condicionamento. Pode ser culta, mas não ter objetividade quando refletem sobre o mundo apenas idéias enriquecidas pela observação e meditação Consciência crítica, quando procura e conhece o seu condicionamento. É sempre autêntica e pode ser esclarecida ou iletrada. Tem referência obrigatória na objetividade. A consciência, desde que não saiba do seu condicionamento, ou o negue, estará excluída da condição crítica, e assim poderá enriquecer-se do mais vasto conteúdo de erudição e sapiência, cogitar as mais profundas teorias científicas ou filosóficas, que, nem por isso, deixará de ser ingênua. A consciência crítica, mesmo nos graus iletrados, é sempre autentica, porquanto só se faz portadora de uma idéia porque sabe ser levada a pensar pela situação em que se acha. Necessário condicionamento de todo ponto de vista Todo ponto-de-vista está necessariamente carregado de restrição posicional, donde depende o maior ou menor grau de clareza na representação do condicionamento que afeta a toda posição, qualquer que seja essa posição. Todo o indivíduo, pela circunstância do seu existir, é capaz de constituir um ponto-de-vista sobre o universo onde se encontra. Todo campo de visão pessoal é sempre limitado. A consciência iletrada não é menos rica em conteúdo do que a presunçosa que julga ver mais longe. Não é pelo diâmetro do horizonte intelectual que se deve achar o grau de representatividade da consciência da realidade nacional. A definição desse grau terá que ser baseada na maneira como a consciência representa os fatores que a condicionam, ou seja, na menor ou maior clareza com que inclui na conceituação de um fato objetivo, a percepção simultânea das condições e influências que a determinam nesse ato a proceder como procede. As idéias da comunidade As categorias da consciência crítica da realidade são determinadas por essa mesma realidade. São induzidas empiricamente da objetividade do real e procedem do processo econômico-social. A consciência da realidade consiste na representação possuída pelo indivíduo em comunidade. Somente quando o pensamento do existente e 10
  • 11. simultaneamente pensamento da existência, é que se revela a consciência da comunidade, pois nesta forma os aspectos do real são considerados com a significação de fatores da totalidade; só neste caso a reflexão cognoscitiva transcende os dados singulares imediatos da realidade para abrangê-la como todo. 11
  • 12. II. CONSCIÊNCIA E DESENVOLVIMENTO Fatores ideologicos na produção e condução do desenvolvimento As idéias que a comunidade detém a respeito de si mesma configuram a autoconsciência da nação, cujo papel, no desempenho do trabalho, e a transformação da realidade. O processo de desenvolvimento nacional implica a presença de fatores ideológicos e, por isso mesmo, está sempre exposto ao imprevislvel. Fundamentando-se em fatores ideológicos, o processo de desenvolvimento é função da consciência que a nação tem de si mesma. A unidade ideológica não é mais que a disciplina do fator ideologico, de modo a que a comunidade possa enfrentar alternativas históricas com respostas antecipadamente preparadas. A condição de processo consiste na formulação consciente do projeto de desenvolvimento, envolvendo todas as iniciativas geradoras de progresso. Não há projeto social sem ideologia, isto é, sem a suficiente unificação do pensamento e da vontade popular, mediante representação objetiva da realidade e decisão de modificá-la. Os fatores ideológicos contribuem para produzir o processo e a ideologia é a concepção de nova forma de ser para a existência comunitaria, em razão da qual se carregam de valores positivo e negativo todos os objetos, as idéias e os acontecimentos da realidade presente. A ideologia, portanto, torna-se fator que determina o desenvolvimento á medida que o desenvolvimento se impõe como solução única. O subdesenvolvimento como contradição O subdesenvolvimento se constitui numa contradição no curso da história, isto é, pólo de uma contradição da qual o outro pólo é a nação hegemônica. No país subdesenvolvido, além das contradições fundamentais entre as classes sociais, o subdesenvolvimento, pelo seu estado geral na nação de um lado, e o comportamento imperialista das nações desenvolvidas com os quais se relaciona, do outro, pode levar, em determinados momentos, que a criação ideológica exprima as condições não apenas à base das classes sociais internas, mas também a base de nação espoliada versus nação espoliadora. Colonialismo e neocolonialismo identificam-se com processo de subdesenvolvimento, cujo poder se expressa na vinculação aos interesses estrangeiros e a política explícita e implícita, entre outras, em baixos salários, latifúndios, má redistribuição de renda e má representatividade política. Em geral, o subdesenvolvimento de uma nação está imbricado aos processos que incidem na economia e que tendem a manter o status quo da sociedade e da economia do país subdesenvolvido tais como: detereriorização dos preços das commodities que exporta, por um lado, e alvitamento dos preços dos produtos manufaturados e de tecnologias que importa, pelo outro, processo de concentração monopolista da propriedade privada das terras, absorção dos excedentes econômicos pelos países hegemônicos, etc. Componentes volitivos da consciencia ideológica e a intencionalidade da consciência coletiva A consciência só é fator de desenvolvimento quando deixa de ser simples representação para tornar-se projeto e origem de ação, isto é, de especulativa converter-se em política e ideológica. Assim é que a consciência se desenvolve no real na forma de projeto de modificá-lo. Sem assumir feição poloítica-ideológica e sem tornar clara sua intenção objetivadora à consciência é inoperante. Quando a representação concreta do dado real se associa ao ímpeto da vontade que propõe a transformação desse dado, cuja apreensão consciente é o projeto, a consciência se constituiria em núcleos da ideologia que objetiva transformar o processo de subdesenvolvimento em processo de desenvolvimento. 12
  • 13. A consciência não tem existência em si, independente, destacada da coisa que representa, mas é sempre consciência de algo; tende sempre para aquilo que é a cada instante o seu objeto e se conforma exclusivamente no momento de representá-lo. O caráter da intencionalidade da consciência, sendo constitutivo do ser da consciência, deve espelhar-se em todos os seus modos de ser em face do estado social; deve haver, portanto modalidades de intencionalidade, segundo as quais se configurarão os diferentes comportamentos do sujeito, em presença daquilo que representa a si, como sendo a realidade nacional, ou seja, deve haver formas ingênuas e críticas de intencionalidades. Comportamentos emocionais das massas O problema capital da teoria da ideologia é a investigação dos modos e das condições segundo os quais uma imagem da realidade e um projeto de transformação se tornam conteúdo da consciência geral. É indício de ressentimento aristocrático acusar as massas de incompreensão. A receptividade do espírito das massas aos planos políticos e ditada por causas reais e objetivas, que são parte do processo que esses planos pretendem alterar. Por outro lado uma consciência esclarecida não desconhece os fatores psicológicos, mas não se comporta apenas psicologicamente. O vício fundamental que invalida certas ideologias, e a suposição de que conseguirão assegurar o triunfo de seus projetos pelo efeito da propaganda maciça, constante e profunda. Tais ideologias caem ou se esfacelam porque acabam por acreditarem na propaganda que preparam para os outros. Reconhecida pela consciência das massas como autêntico pensamento de que carecia para exprimir o seu projeto de existência, a ideologia assume caráter operatório e desencadeia forças criadoras, que a fazem transformar-se de vivência subjetiva em fator dinâmico. 13
  • 14. III. CONSCIÊNCIA OCUPADA E DESENVOLVIMENTO A consciência e a práxis do desenvolvimento A apreciação que a cada momento a consciência faz do estado da realidade é condição de possibilidade de novo projeto. O projeto de desenvolvimento nacional e uma sucessão de projetos mantidos em continuidade pela intenção geral. O elenco de medidas que produzem o desenvolvimento pode ser estabelecido na e pela prática. Só a vivência das condições efetivas da realidade permite ao individuo constituir-se em autor de sua transformação. Quem não está preso ao problema por um vínculo prático, por mais que dele se ocupe, seja por simpatia moral, seja por obrigação profissional, nunca terá a vivência indispensável à revelação de possibilidade de solução que apenas a inteligência, por mais arguta, não será capaz de discernir. A prática no país subdesenvolvido A noção de prática não admite ser estabelecida em termos universais e não tem conteúdo idêntico em todos os contextos históricos. A prática de um país subdesenvolvido está na grande maioria do povo que o habita. Para o homem do povo que habita na miséria de sua situação primitiva, não há outra prática senão o sofrimento cotidiano e não há outro critério de verdade senão a transformação objetiva de seu modo de existência. No país subdesenvolvido, as elites, enquanto classe são também afetadas pelo subdesenvolvimento, mas, enquanto indivíduos vivem fora dele. Na situação de subdesenvolvimento as classes ricas são restritas e se acham submetidas a pressões sociais, por parte das classes oprimidas, com maior intensidade que nas situações de pleno desenvolvimento. O trabalho e a pràtica Os determinantes da "práxis" com relação ao individuo, são: A sua posição numa estrutura social dinâmica com estrato se classes diferenciadas em sentido econômico, ou em hierarquia administrativa. Natureza, quantidade e qualidade de trabalho que exerce na posição que ocupa. Pela posição, o indivíduo participa de uma "praxis" coletiva; pelo trabalho, encontra efetivamente a realidade. O trabalho é causa modificadora da realidade e é sempre ação transformadora. A consciência é determinada pela prática social, primordialmente mediante o trabalho. A consciência e, na verdade, a percepção da existência do mundo enquanto espaço para a ação, campo de projetos possíveis. O trabalho é fator constitutivo do ser humano e é através dele que cada um constrói a consciência da realidade. O trabalho é a essência da prática, e seu caráter transformador é a via de acesso a realidade pela técnica inerente a natureza do ser humano. A adequação do pensamento a realidade material se faz mediante o ato humano de transformar esta realidade, e este ato é que se chama trabalho. Todo processo de produção pelo qual o ente humano busca resolver sua contradição básica com a natureza e criar-se a si próprio é revelado pelo processo de trabalho no qual também, se produz as mercadorias. Trabalho e filosofia no país subdesenvolvido As tarefas do filosofo do país subdesenvolvido são específicas e refletem a condição da realidade de que o pensador participa. Os filósofos pertencentes aos centros dominantes da cultura contemplam o mundo do centro de dominação histórica. O pensador do mundo subdesenvolvido tem de pensar o real concreto, aquele que efetivamente se defronta e sobre o qual é obrigado a agir. O pensador do país da periferia contempla sua realidade sem o direito de distrair-se na criação de concepções de cunho 14
  • 15. abstrato. Até os seus mais legítimos interesses pessoais o obrigam a constituir-se em intérprete do país a que pertence. Em um dos apêndices o Autor dos Apontamentos ensaia uma discussão sobre um mundo sem emnpregos onde o processo de trabalho é objeto de reflexões. As filosofias: existencialistas, estruturalistas e pragmatistas, como filosofias dos centros dominantes O filósofo do país subdesenvolvido é um homem em face do Tudo o quanto ele está por fazer no mundo que é o seu. Portanto, para ele não há o Nada. Não tem direito a futilidade intelectual, quando está diante da imperiosa exigência e necessidade de transformação do mundo a que pertence. O pensador do país subdesenvolvido não pode, por isso, refletir o modo de existir de quem pensa a partir dos centros dominadores da cultura ou daqueles que se julgam detentores da universalização do mundo. Deve denunciar a insuficiência da filosofia estruturalista, que apresenta as estruturas de forma mecânica, da filosofia existencialista, que ignora os aspectos objetivos do existir humano, e do pragmatismo que se resume em proclamar a prática sem teoria. Há que se ter todo o cuidado em depurar os traços alienantes das filosofias oriundas das metrópolis ou centros de dominação. Serve como uma breve advertência as nefastas conseqüências da cosciência reflexa importada dos países cêntricos colonizadores. Conceito de amanualidade. O mundo como dado e como efeito A tese central de uma filosofia para um país emergente-subdesenvolvido ou periférico no modo de produção capitalista está na afirmação: é o trabalho que revela a realidade, na medida em que a modifica. Todas as demais formas de especulações que desviam a atenção deste conceito central estão em oposição aos interesses internos das nações que conformam esses países. O conceito de amanualidade (não se encontra nos dicionários) está, pois, na determinação de que os entes humanos no mundo se dão como algo que "está à mão", isto é, o manus, us ou man(i/u). Este conceito não deve ser usado na concepção da filosofia existencialista que o criou, mas do ponto de vista da lógica dialética que o adotou. O amanual do objeto é visto como resultado de operação laboriosa, ao cabo da qual é dado porque foi feito. A qualidade de "feito" incorpora ao objeto o esforço humano. “O amanual do objeto é sempre produto da mão que o faz, dado a mão que o conhece. Os objetos que se revelam como coisas, em virtude do caráter amanual, são na verdade objetos fabricados”. (Vieira Pinto) A noção do valor econômico (valor, valor de uso, valor de troca e valor desenvolvimento) do objeto ou bem econômico reflete-se, na realidade do artefato como uma das manifestações do ser humano pelo processo de trabalho. A revelação do mundo, pelo amanual das coisas, se faz, portanto, trazendo sempre caráter histórico da manufatura e se refere às forças de produção, as relações de produção e ao grau de avanço intelectual existentes. O mundo contemporâneo é cada vez mais um mundo de fabricados e de símbolos. Quando o ente humano desenvolve a sua prática vital, por meio do processo de trabalho, a partir de determinada posição social, esta mesma posição é resultado do trabalho das gerações anteriores. A essência da prática é o trabalho, agora no duplo sentido: de trabalho individual e de trabalho histórico acumulado (trabalho pretérito). O amanual de fazer objetos não muda apenas o modo de vida; muda o conhecimento do mundo. É com a instalação de um parque fabril com tecnologia nacional que se dá a transformação qualitativa do contorno vital do ser humano, porquanto a industrialização conduz o indivíduo e a comunidade a terem, de si e do mundo, uma consciência qualitativamente diferente da que tinham nas fases primárias do desenvolvimento. 15
  • 16. A superação do subdesenvolvimento pela acumulação do trabalho O movimento de acumulação do trabalho social é a única maneira de elevar a nação aos planos mais altos da existência cultural e do bem-estar humano. A importância da distinção entre tipos de acumulação do trabalho está no discernir, quando uma atividade social se aplica conscientemente a não a produzir um mais, porém a produzir um novo. Não é apenas a acumulação quantitativa de trabalho social que gera o desenvolvimento, e sim a qualitativa. O que define em qualidade de um modo de fazer é o que se chama de técnica cuja virtualização foi e é parte do processo de humanização do animal Homo sapiens sapiens. O desenvovimento de tal pensamento é objeto do apêndice sobre as idéias para um desenvolvimento autônomo apresentado no primeiro anexo deste ensaio. A filosofia da tecnica. A inércia da tecnica e a técnica como invenção A essência da técnica, bem como sua natureza de processo, lhe é, como já se disse conferida pela acumulação qualitativa do trabalho. A técnica é o know-how, isto é, o modo de “fazer nova alguma coisa”. A inércia da técnica está no “fazer bem”, quando aprovado pelo consenso geral como vantajoso e produtivo, e tender a resistir às modificações que visem a melhorar os seus resultados. A essência da técnica não está no “fazer bem”, e sim no "fazer novo” que é, por natureza, invenção. A técnica afeta o proceso e o modo de trabalho existente e sobre ele deposita o modo novo e mais perfeito. Além de ser uma acumulação qualitativa de trabalho, é uma sedimentação histórica de maneiras de trabalho distintas qualitativamente e superpostas como camadas, revelando a natureza de processo do desenvolvimento técnico. A técnica revela-se através do jogo de ensaios e erros, no qual a imaginação dialoga com a realidade, até que, no curso desse confronto e dessa tensão, a inteligência capta nova propriedade do real ou nova possibilidade de agir, até então desconhecida. É necessário alterar o modo de produzir, proporcionando outro nível de existência econômica- social. É, portanto, de natureza qualitativa, e não apenas quantitativa, a alteração indispensável. A técnica é a criação do novo a partir do antigo; é, pois, desenvolvimento. É, também, a maneira pela qual o ser humano sistematicamente tenta resolver suas contraições com a natureza e o cosmo é, assim, processo de hominização. 16
  • 17. IV. CONSCIÊNCIA INGÊNUA E CONSCIÊNCIA CRÍTICA. CONCEITUAÇÃO DAS FORMAS DA CONSCIÊNCIA O número de pontos-de-vista sobre a realidade é, em princípio, infinito, porém não a tal ponto que não se possa delinear e divisar grupos definidos pela posse de características comuns. Quando analisados em função da realidade, esses pontos-de-vista podem ser agrupados em dois conjuntos de modalidades fundamentais de consciência, aqui designadas de consciência ingênua e de consciência crítica. A consciência ingênua é, por essência, aquela que não tem consciência dos fatores e condições que a determinam ou conformam. Seus atributos principais, entre outros, são os seguintes: Ter disponibilidade e independência em face dos acontecimentos Ser isenta de julgamento com intenção de rigorosa fcidelidade aos fatos Interpretar os fatos segundo as leis da lógica formal, metafísica e da moral Declarar-se incondicionada por considerar a lógica e a moral como forma do saber às suas afirmações Submeter a realidade as suas afirmações e intenções Ser detentora de critérios absolutos de julgamento Sentir-se satisfeita consigo mesma, fechando-se ao diálogo Ser crente no valor perene de suas afirmações. A consciência crítica é, por essência, aquela que tem clara consciência dos fatores e condições que a determinam ou a conformam. Seus principais atributos são, entre outros, os seguintes: Está ocupada em descobrir os determinantes do seu conteúdo É dirigida para a objetividade Vê-se a si própria em função do real e do atual Explica-se em termos de dependência histórica Sente-se condicionada pelo processo social Sente-se variável no seu conteúdo Seus enunciados não possuem a vigência de verdades perene. A consciência ingênua é reacionária por princípio. Ela julga estar falando em nome de uma verdade que nada mais é que a defesa de regalias de estratos ou classes sociais de situações econômicas privilegiadas. Ao contrário, a consciência crítica é a tal ponto antireacionária que pode dizer–se ser antecipadora e libertadora. Deriva da reflexão reveladora dos motivos que constantemente a determinam. A certeza desta motivação é suficiente para dar-lhe a compreensão da sua validade temporal, para criar a expectativa de uma alteração sempre possível dos fatores objetivos a que está relacionada, embora so chegue à especificação de quais sejam os que a influenciam, em cada fase, por via analítica. Distribuição social e histórica das modalidades de consciência A consciência, em presença contínua do subdesenvolvimento, não pode deixar de ser ingênuo em função de o real ser sempre idêntico a si mesmo. O subdesenvolvimento é inercial tende por si a conservar-se, a causar-se a si próprio. A modificação do real cria uma percepção qualitativamente nova, e está, por sua vez, incentivada a substituição dos seus suportes materiais subdesenvolvidos. A nação hegemônica perde a sensibilidade para a história, que lhe aparece como um relato de acontecimentos destinados a sancionar a dominação que ostenta e não tem outro interesse não encerrar a historia. O modo como tenta fazê-lo e tapar os ouvidos a voz da consciência 17
  • 18. que foi sua e agora lhe molesta. Olvida o seu efetivo passado, ao vê-lo do ápice do presente, pois interpreta as etapas atrasadas vencidas como meros obstáculos de valor lúdico, que se compraz em referir apenas com o fim de melhor gozar, por contraste, das riquezas que atualmente possui. Fechando-se à história, na intenção ilusória de estabilizar os privilégios que conquistou, fecha-se não só a si própria, mas também a consciência dos outros. Torna-se, assim, reacionária para consigo mesma e para com os outros. 18
  • 19. V. CONSCIÊNCIA POLITICA E DESENVOLVIMENTO Dois sofismas relativos ao desenvolvimento O primeiro sofisma descansa na suposição de que só alguns países têm o poder de realizar a revolução emancipadora. Sua nocividade está expressa nas seguintes constatações: Desconhecer uma chance histórica de desenvolvimento para todos os países Negar o gesto emancipador dos países periféricos e sua capacidade virtual que lhes permite deflagrar o processo de desenvolvimento autônomo Negar e reprimir a formação de uma consciência nacional emancipadora que, na base nos seus recursos materiais, formule a solução de desenvolvimento autônomo Desconhecer que a relação internacional centro-periferia só subsiste dentro de uma conjuntura, que é a atual, mas nunca é a definitiva. O segundo afirma que o desenvolvimento de um país subdesenvolvido tem de ser feito por outro que esteja em condições de pleno desenvolvimento. Igualmente, ao anterior é altamente nocivo porquanto: Nega que existem, na realidade nacional, forças expansivas capazes de transformar a nação e de elevá-la a um ou vários graus mais altos Desconhece o desequilíbrio de uma estrutura de relações objetivas, como lei normal do desenvolvimento Perpetua o regime de relação centro-periferia, que encobre a essência da hegemonia das nações dominantes Nega aos países subdesenvolvidos a posse de fatores intrínsecos e endógenos de desenvolvimento autônomo Desconhece que o desenvolvimento econômico-social pode ser feito em pequena parte com o capital estrangeiro, mas nunca pelo capital estrangeiro Desconhece que o investimento de capitais e técnicas no país subdesenvolvido só tem efeito salutar no seu processo nacional em condições de plena soberania. Os profissionais liberais, os politicos e a consciência ingênua Uma das graves deficiências da nação ser subdesenvolvida reside no fato de que seus intelectuais, particularmente economistas, advogados, sociólogos, bacharéis em direito por estarem, na maioria das vezes, nos setores mais representativos da consciência ingênua, sucumbem facilmente à sedução dos proveitos da corrupção e da docilidade às manobras das corporações e empresas multinacionais ou transnacionais. Sem a intervenção de profissionais (economistas, sociólogos, engenheiros, etc.) portadores de uma consciência crítica, é difícil planejar os grandes empreendimentos que a nação carece. Quando não são dotadas de consciência autêntica, as respostas que dão aos problemas nacionais serão com freqüências simplórias, pois analisam o processo de desenvolvimento nacional de fora para dentro e não de dentro para fora. Tendo, em geral, uma formação nos livros das nações hegemônicas, esses profissionais resistem em despojar-se do saber adquirido que cegamente o empregam á realidade, em vez de reduzí- lo ou, ainda, induzir do real nacional as categorias efetivas com que devem apreendê-lo. O trabalho, fator de transmutação da realidade e da consciência Desenvolver-se é introduzir na realidade em repetição contínua de novos fatores causais, a fim de gerar o mais ser do futuro em relação ao ser do presente. A transformação em que o desenvolvimento consiste é devida ao trabalho humano aplicado à realidade 19
  • 20. material. O processo de trabalho, neste aspecto, é considerado na função de fator de transformação da consciência da realidade. É assim que o trabalhador, em dado momento, toma consciência de que as mudanças do real são efeitos do seu trabalho esse valoriza e passa a exigir participação dos benefícios da transformação. A partir desta mudança qualitativa, altera-se a perspectiva consciente do trabalhador e sua visão do mundo, sensibilidade aos fatos, escala de valores e órdem de exigências. Daí a qualificação da obra se refletir na qualificação da pessoa. Ao incremento quantitativo do produto corresponde um incremento qualitativo do produtor. O trabalhador faz a descoberta do mecanismo determinante do desenvolvimento da realidade material ao perceber que este não é outro senão o seu prõprio trabalho. A democracia e o processo de consciência nascente A formação do pensar crltico é sempre mais retardada que o avanço do processo de desenvolvimento. É inteiramente descabido pensar em exigirem-se políticos superiores e maio grau de consciência posslvel relativo à etapa em que o processo da realidade se acha. A eleição no estado democrático refuta a ilusão aristocrática em supor que são os melhores que fazem o melhor. Discerne-se facilmente o idealismo desta concepção; não existem os "melhores", nem o "melhor” abstratamente, a não ser para os representantes do pensar ingênuo. O caráter de "melhor", aplicado a pessoas ou as ações, só admite ser definido concretamente, em função de uma circunstância histôrica particular e em relação ao dado presente da realidade. Pensar em "criar llderes" e organizar especialistas em "relações humanas" representa a institucionalização do conhecimento ocioso ou da "mào-sem-obra”, isto é, um sistema educacional para atividades de valor nulo. O aspecto grave destas atividades de valor nulo está em que consomem ponderável montante de recursos sociais, representando, assim, um parasitismo dos bens da comunidade. O significado da educação para o desenvolvimento É ingênuo pensar que o Brasil possa ter índice educacional melhor do que o permitido pela etapa do desenvolvimento em que se encontra o processo de transformação. A educação não precede o processo de desenvolvimento, acompanha-o. A educação é a consciência de atuar em cada etapa da realidade a fim de transformá-la em outra qualitativamente superior. O "pedagogismo", a "educação mais difundida" ou "educação mais funcional”, são termos de caráter abstrato nas infindáveis propostas de reforma do ensino "para melhor atender as nossas necessidades". O essencial é mudar a perspectiva em que são colocados, ou seja, transferidos do plano do pensar ingênuo para o ponto-de- vista da consciência crltica da realidade, que consiste em ações concretas e complexas a executar sobre uma realidade material diflcil de se penetrar e de entender. A aceitação desses desafios, e seu cumprimento, não é coisa que se faça intuitivamente, sem preparo, sem projeto e sem consciência. A educação é justamente a consciência das ações e a mobilização dos meios e recursos adequados a executá-la. A realidade é que suscita o conteúdo da educação conveniente para determinado momento histórico, cabendo apenas a pedagogia, como ciência, estabelecer os meios e os procedimentos próprios a possibilitar a transmissão da matéria que o constitui. Existem duas modalidades ou dois sistemas pedagogicos, a saber: O oficial, de carâter formal, sempre imposto de cima para baixo O real, imposto pelos fatos na pressão que exercem sobre o pensamento ministrado no processo mesmo de desenvolvimento. A educação adequada ao país subdesenvolvido é a autoreprodução da reflexão critica, mediante a transmissão de um individuo a outro. Educar para o desenvolvimento é despertar, no educando novo modo de pensar e de sentir a existência, em face das 20
  • 21. condições nacionais com as quais se defronta. A cultura não é a acumulação e armazenamento do saber, mas a sua assimilação, segundo uma perspectiva que é consciente dos fundamentos e exigências, a partir dos quais incorporou os produtos do conhecimento de uma época anterior e os pensa com o saber atual. O equivoco da predominância do técnico sobre o politico É ingenuidade desligar da esfera da decisão politica certo numero de questões, sob a alegação de que, por sua natureza técnica e complexidade, só devem ser discutidos por especialistas e iniciados. A perspectiva critica acentua o significado do político de toda proposta de transformação das instituições e dos procedimentos sociais vigentes. Subordina as decisões que acaso afetem o conteúdo objetivo da realidade à deliberação dos representantes politicos da comunidade. A decisão da comunidade deve caber aos que se acham investidos da representação política. O ideal da "tecnizaçã” e o da “economização” da função política é uma manifestação da ingenuidade ideológica. Uma das deturpações conceituais, a que está sujeita a teoria do desenvolvimento, consiste em julgar que, pelas funções desempenhadas pelas elites, pelops plutocratas dirigentes e empreendedoras, a estas devam ser atribuídos os méritos, as responsabilidades, as honras, e, portanto, os lucros maiores das iniciativas progressistas, reduzindo-se a um papel de fundo, a uma ação exclusivamente material e anônima, o trabalho das camadas proletárias. 21
  • 22. VI. CONSCIÊNCIA DA MASSA E PENSAMENTO BRASILEIRO A ambiguidade do conceito de massa Na medida em que se pensa em transformar a nação brasileira, hoje subdesenvolvida, em uma nação desenvolvida o conceito de massa se diferencia daquele utilizado pelo pensamento dos países hegemônicos e, também, daquele que se proclamam socialistas. O conceito de massa não é de conteúdo subversivo como deseja e apregoa a consciêcia primária e muito menos exprime a mesma realidade social em toda parte ou em todas as nações, particularmente, quando são desenvolvidas ou subdesenvolvidas. Qual o conceito de massa que convém a formação do Brasil como uma nação para si? A massa para os brasileiros é constituída pelo contigente da população nacional que labuta no chamado setor informal, assim como, nas atividadades formais primárias, secundárias e terciárias para aferirem até três salários mínimos/mês. Mesmo reconhecendo a ambigüidade do termo “massa”, no contexto sócio–econômico do Brasil, é a esse contingente populacional que, na nossa avaliação, pode ser aplicado o termo ou conceito de “massa”. É para ela que se advogam os investimentos nacionais com vistas a contribuir para a solidificação e a ampliação do mercado interno que pode e deve visar à sustentabilidade da nação na medida em que o restante da população vive arabescamente e são arautos do consumismo dos produtos e das tecnologias dos países cêntricos-imperialistas que nos subjulgam economicamente, ditando o sentido da economia nacional. Essa fração mínima da população brasileira que está por sobre a massa é aquela que vive numa economia de desperdícios, viajando sempre e fazendo gastos suntuosos no exterior que chegam a ser um acinte e desrespeito a virtuosa massa brasileira. A constituição da massa no processo de desenvolvimento Com vistas a esse aspecto da realidade nacional é válido considerar no contexto social da nação o seguinte: Definir e qualificar a efetiva participação da massa no processo de desenvolvimento brasileiro Demonstrar e doar sentido a ideologia do desenvolvimento nacional um conteúdo que venha atender o bem-estar da massa Explicar e doar sentido as ações da massa naquilo que pode e deve alavancar o desenvolvimento do país. É necessário que se tenha a devida consciência que no processo de desenvolvimento do país a massa não preexiste a ele, mas tem início a sua existência quando se configuram progressivamente os alicerces da formação de uma nação para si como, hoje, se assiste no cenário nacional. A massa é entidade social não somente pela força de trabalho que representa, mas igualmente pelo pensar unificador de que é sede. É sabido que o trabalho que executa gera cosciência particular e, portanto, um ponto-de-vista sobre o estado da realidade nacional. Esse trabalho, pelas comunidades de avanço técnico, de condições materiais e econômicas faz com que o processo de desenvolvimento tenda a coletivizar a consciência em uma representação uniforme e crítica. A massa como origem da ideologia do desenvolvimento A massa quando formada e consolidada na totalidade nacional é reconhecida como doadora de sentido da autêntica teoria do desenvolvimento do país. Por isso desencandeia ações eficazes para o desenvolvimento com vistas a conformar uma nação para si. É, portanto, no seio das massas populares que se encontram os pontos de aplicações de todos os vetores desenvolvimentistas no âmbito da nação. 22
  • 23. Ao assumir a vanguarda do processo de desenvolvimento a massa se torna origem da política e ideologia desenvolvimentista por duas razões básicas: A primeira, por que é ela que executa as tarefas materiais e sócio-econômicas para tal sentido A segunda, por que os efeitos de tais ações redundam em proveito dela e da nação como totalidade. Estamos, hoje, assistindo os primórdios da ação da massa em proferir o seu ideário para o desenvolvimento nacional. O processo está em marcha e a criação política e ideológica que lhe deve corresponder é inevitável no que pese a crise sistêmica do sistema mundo capitalista, hoje, vivenciada em nível global. É notório, no Brasil, que somente a massa está em condições de possuir a iniciativa e a consciência da realidade nova do país detendo as idéias gerais que serão sistematizadas na política e na teoria do desenvolvimento autônomo nacional. A produção da ideologia a partir da massa O ajustamento do pensar político-ideológico da massa aponta que nas condições presentes, a cada momento histórico, não é instantâneo, antes se dão com atrasos cuja razão é encontrada em dois fatos: A rapidez com que muda a realidade do país que entrou decididamente em fase de desenvolvimento autônomo quando as alterações que se dão na estrutura básica e de modo acelerado sem dar tempo a que se compreenda logo à significação do que nelas está implicado A construção de novo aspecto da natural inércia político-ideológica na solciedade e a existência de mecanismos psicológicos refreadores e que operam a favor ou contra as representações adquiridas. A produção da ideologia a partir da massa deve ter implícito o hábito do pensar a realidade para no futuro revelar a inteligência e a consciência para vencer todo e qualquer estigma e resquício da ideologia do colonialismo. Esse hábito se revela valioso quando a inteligência e a consciência passar da fase reflexa para a fase da consciência autônoma. Já se vislumbram nos horizontes das massas brasileiras grandes exigências de superação do atraso educacional do país e a necessidade de se criar centros e organizações de desenvolvimento da tecnociência capaz de criar a sociologia, a engenharia, a economia poilítica e a filosofia que lhe possa ofertar a consciência crítica da realidade brasileira em contra ponto a consciência reflexa das metrópolis estrangeiras. A conversão do pensamento à realidade nacional No Brasi já se costata que as massas já dispendem energia no sentido de realizar a mutação de qualidade de passar de uma forma de existência a outra distinta como espécie e não apenas em grau, cujo comando e expansão reinvidica para si. Essa conversão do pensamento à realidade brasileira visa radical mudança de qualidade no processo de produzir com vistas ao estatuto ontológico de ser-para-sí nos campos: político, econômico e social. Para tanto, busca, praticar a prévia conversão dos enunciados de procedência forânea ao mundo que é o seu. Deve a massa brasileira se precaver contra o engano de supor a necessidade de um único problema como objetivo e valor absoluto quando se sabe que este só é sentido em função de um contexto histórico-social muito particular. É somente em razão do avanço do desenvolvimento nacional que as massas se configuram como tais com caráter objetivo para a solução dos seus problemas. 23
  • 24. VII. A CONSCIÊNCIA INGÊNUA 1. DEFINIÇÂO GERAL E CAR ÁTER FUNDAMENT AL A consciência ingênua é, por essência e por definição, aquela que não tem consciência dos fatores que a condicionam, que se julga origem não originada e causa incausada sobre o ser das coisas, a significação dos acontecimentos e ao valor das ações. A consciência ingênua julga-se origem absoluta, donde não precisa obedecer à realidade, mas pensa que a realidade é que lhe deve obedecer. Com respeito à sua ingenuidade ela é, em muito, de natureza reflexa oriunda dos centros hegemônicos do sistema mundo do capitalismo. As massas brasileiras devem levar em conta que uma coisa é reconhecer a necessidade de adaptar os conceitos estrangeiros, outra é saber como redefiní-los e com que critérios fazê-los. A postura ou forma básica de localização e interpretação da realidade chamada de ingênua está inserta, geralmente, em enfoques eurocêntricos, americanocêntricos e etnocêntricos da realidade brasileira. Sua consciência é emocional, linear e divorciada da objetividade e dos fatores e condições que a determinam. Encontra-se em disponibilidade e independente das coisas e dos acontecimentos. É isenta de julgamento com a intenção de rigorosa fidelidade aos fatos. Interpreta-os, segundo os princípios da lógica metafísica formal, da moral e da paixão. Julga-se incondicionada por considerá-los, a síntese do saber, no que se refere, às suas afirmações às quais submete a realidade. Sente-se satisfeita consigo mesma. Detém critérios absolutos de julgamento. É fechada ao diálogo. Atribui valor perene ás suas assertivas. Tem vários atributos quando condicionada pelo seu caráter eurocêntrico e etnocêntrico, como sejam: a visão mitológica da realidade, a ausência de compreensão unitária, o condicionamento pelo âmbito individual, a incoerência lógica, a absolutização de sua posição, a incapacidade de atuação ordenada, além da idealização dos dados concretos, do moralismo, da irascibilidade, do pessimismo, do ufanismo, do saudosismo, apelo à violência e muitos outros qualificados. A seguir se apresenta uma ordem de atributos e caracteres da consciência ingênua ou cândida parafraseada ou extraída da obra do sábio Álvaro Vieira Pinto, intitulada "Consciência e realidade nacional" (MEC-ISEB). 2. CARÁTER SENSITIVO Através deste caráter, a consciência ingênua fundamenta-se em percepções superficiais, o que a faz tomar irrefletidamente a aparência, o sensível com que se defronta como expressão última da realidade. Reduz, assim, o real ao dado imediato, e este é naturalmente o que a impressiona no momento. Tem percepções superficiais. Valoriza a aparência. Reduz o real ao dado imediato. Impressiona-se pelo momento. Interpreta a realidade de acordo com as vantagens e prejuízos que lhe causa. Perde-se em mimetismo. Transmite emoções de outros. É passiva, imitativa e reflexa. Está disponível a influência alheia. Contentando-se em exprimir seu estado emocional julga estar emitindo conceitos válidos para a realidade como um todo. Desta forma, exprimindo seus interesses materiais, em vez de examinar racionalmente, segundo uma compreensão total, a relação dos seus interesses com o estado geral do processo, reage emotivamente o combate de situações criadas e passa a interpretar o conjunto do processo de acordo com as vantagens ou prejuízos que lhe causa. 24
  • 25. Daí a vociferar valorações genéricas do tipo: "o país vai bem" esgotando-se no mundo de emoções que lhe é peculiar, ou seja, em torno de vantagens e prejuízos que lhe trazem os acontecimentos. Por achar que o mundo é um conjunto de objetos e pessoas destinadas a lhe causar bem- estar perdem-se no mais vil mimetismo, atrelando-se às emoções de outras intelectualidades igualmente ingênuas e passa a refletí-la em seus conceitos de valores. Por este caráter de transmitir as emoções dos outros, assume postura passiva, imitativa, reflexa, estando, portanto, sempre disponível a influência alheia. Sua principal fonte de idéias é a paixão que lhe serve sempre como critério de verdade. 3. CARATER IMPRESSIONIST A Tem valor de simples impressão pela aparência. Sente os acontecimentos de forma emocional. Não pensa a realidade. Justifica-se a si própria. Interpreta a realidade independentemente de quaisquer conexões racionais. Encerra-se na subjetividade e na aparência dos fenômenos. Reflete sentimento das idéias e estados de ânimos. É cega às relações entre os fatos e entre as coisas. Por ignorar os fundamentos de sua apreciação, seus enunciados têm o valor de simples impressões, tomadas dessa aparência, que não consegue apreender na sua exata significação. Sua disposição natural não é de pensar sobre os acontecimentos, mas a de senti-los intensamente. Identificada por estes atributos, quando é colocada frente aos acontecimentos, ela através deste contato emocional, justificar-se a si própria. A partir daí, sua essência se expressa em demonstrar interesse pela realidade, vivendo-a num processo de percepções singulares, independentemente de quaisquer conexões racionais. Por isso mesmo, é cega às condições que lhe permitiriam descobrir o significado lógico dos fatos, estabiliza-se em uma atitude impressionista, elevando-a a categoria de procedimento metodológico. Este tipo de procedimento é altamente indesejáveis e graves, quando afeta o pensamento de técnicos, docentes e especialistas, pois, sendo portador de cegueira e obstinação no campo das idéias, cai, fatalmente, numa condição de confinamento e perde por completo quaisquer percepções críticas do conjunto da realidade. É por esta postura impressionista que se vê a candura do pensamento de muitos acadêmicos, especialistas, políticos, jornalistas e intelectuais, quando no trato de questões econômico-social. Seu traço principal é seu encerramento na subjetividade. Contentando-se com as aparências, ela transporta para o plano do subjetivo o que, de fato, é conteúdo dotado de lógica própria. Fechando-se a captação das razões objetivas seu raciocínio limita-se as formas de sentimento das idéias e de estados de ânimos que lhes dão os substratos das apresentações no plano da subjetividade. Por esse mecanismo de pensar, ela ignora as conexões materiais que constituem a lógica interna da realidade e, portanto, não vê as relações entre os fatos ou entre as coisas que representam a pertença verdade da realidade. Por isso mesmo, a sonoridade de suas formulações pretensiosamente universalista cai, fatalmente, em construções irreais que representam seu caráter cândido impressionista. 4. CONDICIONAMENTO PELO ÂMBITO INDIVIDUAL Apreende a realidade de um ponto de vista individual. Tem visão limitada e julga interpretar o real. Confunde o visto com o existente. Confina-se no seu próprio âmbito individual. Desconhece e ignora os processos históricos das transformações da realidade. 25
  • 26. A consciência ingênua está sempre condicionada pelo âmbito individual privado. Apreende a realidade a partir de um ponto de vista do individuo, isto é, limita-se à área da existência de quem a constitui. Representa uma visão limitada, que julga ser contemplação de todo real e atual. Em linhas gerais, recusa que toda consciência é, naturalmente, um "ponto-de-vista", ou seja, uma unidade de representação do real que a consciência critica vê em totalidade e atualidade mediante a aquisição de noções que transpõem ou circula a existência de cada ser humano individualmente. Por isso mesmo, a postura ingênua confunde o visto com o existente, pois, não tendo consciência da sua "situação" e do seu condicionamento, falta-lhe a possibilidade de ver a sua posição no conjunto mais geral da sociedade, e admitir que haja múltiplas regiões da realidade que lhe são desconhecidas. O que acontece ao técnico, ao político, ou especialista qualquer, quando se confina no seu próprio âmbito individual e a partir dele, se propõe, sem a devida compreensão metódica, a captar a realidade inteira: é o arquiteto que pensa somente como arquiteto, é o urbanista, para quem os problemas sociais são os exclusivamente de sua especialidade; é o político que reduz as lutas econômicas e sociais contra as ações exógenas das nações hegemônicas, a problemas de subversão, etc. Pelo caráter do condicionamento pelo âmbito individual, a consciência ingênua revela-se através de conceitos "universalistas" do tipo: “inquietação do nosso tempo", "crise espiritual" "rearmamento moral”, etc. Estes conceitos impressionistas não têm correspondência alguma com o processo histórico das transformações da realidade. 5. ABSOLUTIZAÇÃO DE SUA POSIÇÃO Acredita ser absoluta. Não vê como é possível pensar diferente. Não está disposta a discutir o significado e as razões de sua posição. Não discute, contenta-se em responder. Sua formulação é abstrata, pois só assim consegue ser absoluta. Falta-lhe a percepção das determinações históricas; por isto absolutiza o ponto de vista de sua classe, do seu país, da sua raça, da sua posição ideológica, Considera-se sujeito da história, para o qual todos os demais indivíduos são objetos. A consciência ingênua é, particularmente, nociva quando passa a exaltar certos princípios e ideais elevados a verdades eternas, pois, coincidindo com os interesses individuais de quem as cultiva diretamente ligado a vantagens pessoais ou indiretamente às do seu grupo ou nação, chega a descambar diretamente para o fascismo, desconhecendo o direito de expressão à consciência discordante, ou eliminando-a por métodos violentos, genocidas ou de torturas. Por outro lado, este caráter de absolutização da sua posição pode levar também a consciência ingênua a enveredar-se pela inatividade e pelo fatalismo, isto é, sua percepção a-histórica dá-lhe todas as facilidades de sentir-se segura em seus enunciados, e quem está seguro do que sabe, não achando motivos para dúvidas, não se dispõe a provar a realidade, dispensa o contato com os fatos, tende, por conseguinte a não agir. Pelos motivos expostos, o caráter de absolutização de sua posição pode levar a consciência primária, como ativa, ao mais desenfreado fascismo, ou, como passiva, ao fatalismo. 6. INCOERÊNCIA LÓGICA É surda e incoerente às formulações lógicas. É dogmática. Não tem precisão de linguagem e de pensamento. É cega às matizes da realidade. É insensível à argumentação objetiva. Foge a qualquer objetivo que contradiga suas afirmações. Acham importante e 26
  • 27. digno de atenção, apenas, os seus julgamentos. Tem aversão às formulações críticas. É silogística e escolástica. É hostil aos princípios de racionalidade. A consciência ingênua é surda as formulações lógicas, insensíveis as matizes na diferenciação dos conceitos. Por ser dogmática exibe constante imprevisão de linguagem e pensamento. É imprecisa pela falta de contato com o real. Emprega repetidamente expressões indefinidas como: “tal e qual”, ”tal é a coisa”, “etc e tal”. Por ser cega as matizes da realidade a consciência cândida busca somente efeitos estéticos da realidade e, portanto, limita-se em zombar daqueles que procedem a investigar os dados empíricos. Pela absolutização de sua posição, fica insensível à argumentação objetiva, às análises e demonstrações matemáticas. Tem aversão a discutir em termos concretos e foge a qualquer objetivo que contradiga alguma de suas afirmações. O que lhe é importante, são os seus julgamentos e, assim, torna-se impermeável as razões do adversário que, a priori, já sabia ser pessoa equivocada. Não argumenta quando suas atitudes estão em jogo, porquanto, elas, ao seu modo de ver, são as certas e verdadeiras. Tem horror às formulações criticas e, por isso mesmo, taxa pejorativamente de “teóricos” a todos aqueles que pensam criticamente. Desconhece e nega que o pensar crítico seja a tradução, interpretação e apreensão do concreto ou do empírico em linguagem racional, porque é procedente da incorporação a representação subjetiva da lógica imanente ao processo. Muitas vezes, por ser culta erudita e simplista a consciência cândida apresenta propensão a argumentar, mas de forma silogística e escolástica, interessando-se apenas em explorar as conexões abstratas entre as idéias e, por isso mesmo, é hostil aos princípios de racionalidade e de crítica, pois julga definir-se pela clareza e logicidade, que supõe ser objetiva. 7. IRASCIBILIDADE É reclamadora e deblatedora. Substitui os nexos reais por ligações entre estados psicológicos. Vive indignada contra os fatos e atitudes dos humanos. Decepciona-se de estar num mundo que não lhe obedece, isto é, teima em ser o que não deveria ser. É fanática e irascível. Inverte a existência em acusação normal contra a realidade. Por ser contra aos acontecimentos, deblatera contra tudo e contra todos. Substitui os nexos reais das coisas por ligações entre estados psicológicos dos agentes. Grita contra a estupidez, a incompetência e, sobretudo, a desonestidade dos responsáveis pelos negócios públicos, não acredita em corrigir a realidade na medida em que se substituem os autores. Sendo fechada, circunscrita, tendenciosa, por sistemática reação a exaltar-se, ela vive na decepção de estar num mundo que não obedece ao que para ela seria racional. Por isso acusa a realidade, desligando-se da ação causal dos fatores objetivos e inverte a existência em acusação moral contra a realidade. Ignora que a moral é uma defesa do coletivo social humano contra o indivíduo. Daí passa o mundo a ser, para ela, um depósito de perversidade e de malícia, porquanto, teima em ser o que não devia ser. É por excelência fanática. Por ser colérica, ela apregoa que a ignorância e a imoralidade estão por toda parte; portanto, a ela cabe promover a purificação das almas e separar o "joio do trigo", ou seja, condenar todos aqueles considerados maus. Para a sua ressonância ou acústica recíproca, ela cria e alimenta tendência do "escritor ingênuo e público-ingênuo”. Por isso se alicerça na deblateração desenfreada e no vitupério que lança contra o esta candura do pensar mágico. É levada a se julgar no dever de clamar, 27
  • 28. cessar, e manter uma eterna vigilância contra os desvios da história. Jamais pode entender que o preço da vigilância de países hegemônicos pode ser também, o preço da eterna escravidão. 8. INCAPACIDADE DE DIALOGAR Nega o diálogo como ação concreta. É impenetrável à comunicação. Demonstra que a consciência discordante vem à discussão sem estar de posse da verdade que é sua. Não admite a verdade como valor social. Recusa que no âmbito da comunicação coletiva a prática se torna fundamento da verdade. Vive em busca de aplausos. Contenta-se com suas aclamações emotivas e multiplica-se sem se reproduzir. Tendo assumido a validade absoluta do seu ponto de vista, considera aberração mental qualquer posição diferente da sua. É profundamente antidialógica. A procura da verdade é um escândalo intelectual e uma fraqueza moral. O convite ao debate, a tentativa de ordenar racionalmente as idéias, procurando estabelecer os problemas e investigá-los de modo metódico, tudo isso lhe parece recurso tendencioso, indício de falta de certeza em quem o utiliza; demonstra que o adversário vem à discussão sem estar ainda de posse da verdade, mas quer procurá-la enquanto analisa a questão em apreço, revelando sua debilidade perante a qual já está seguro de possuir aquilo que o outro penosamente vem buscando. Impenetrável á comunicação, é conduzida a ver na consciência discordante permanente intenção maliciosa, demonstrada na repetida negação das idéias e fórmulas que lhe parecem às únicas justas. Vocifera e não aceita que o diálogo é condição existencial do ser humano, e que, por isso mesmo, não pode ser exercício imaginário. Por essa postura, não vê o diálogo como um drama concreto, travado entre existências que ocupam, no espaço e tempo social, posições distintas e, às vezes, antagônicas, em virtude de razões que afetam, existencialmente, uma e outra. Pela sua incapacidade de dialogar, a consciência ingênua não aceita que a verdade é um valor social, exigindo a participação de/ou por outro que a deve aceitar, mediante condições que lhe sejam próprias; do contrário, seria elucubração solipsista. Não permitindo que a verdade adquira significado social de caráter crítico, escapa-lhe o significado do existir objetivo. Por isso, desconhece que, só no âmbito da comunicação coletiva, a prática se torna fundamento da verdade, pois, não é na experiência pessoal isolada que se estatui o vínculo de conhecimento entre o pensar e o ser. A consciência primária tem, ainda, uma característica de transferir ao interlocutor a incomunicação de que padece pelas definições que tem de si e dos seus condicionamentos. Vive à cata de aplausos contentando-se com aclamações emotivas e, assim, ela multiplica- se sem se reproduzir. Instalada entre espelhos, na repetição ao infinito da própria imagem, considera o reflexo de si mesma satisfatória aprovação. 9. PEDANTISMO É receptora da cultura alheia eurocêntrica ou universal. Divorcia-se da relação que deveria ter com sua existência social. Valoriza o que sabe e o problema com empáfia. Apregoa e divulga a recepção da cultura. É por natureza eurocêntrica, americanocêntrica ou etnocêntrica. Vive a busca de: elogios, cargos, títulos, medalhas, honorárias e honrarias. A consciência ingênua tem, por fundamento, a falsa compreensão do papel da consciência em relação à realidade a que está ligada que, da sua maneira de ser, das suas 28
  • 29. peculiaridades subjetivas, inclinações psicológicas e interesses pessoais, dos quais devem derivar os acordos para que desempenhe a função intelectual. Importa-lhe valorizar o que sabe e proclamá-lo com empáfia. Confia na ignorância alheia mais que na própria ciência. Conquistada a áurea de personagem importante, desinteressa- se do estudo e se entrega à luta pela conquista de elogios, cargos, títulos, medalhas, honorários e honrarias em geral. Esse caráter da consciência ingênua não é outra coisa senão uma das faces da alienação cultural, específica do intelectual do país subdesenvolvido. Consumada a desvinculação com a realidade, a modalidade pedante da consciência ingênua se autofecunda e descamba na série cômica e ridícula de atitudes, que bem se distingue, em grande parte, dos nossos acadêmicos e renomados intelectuais ou “homens de ciência”. A função básica da consciência pedante é servir de mediadora do saber entre os centros estrangeiros universais e os restritos e atrasados centros cultural nacionais, produzindo, no meio local, livros que traduzem ou refletem o conteúdo dos livros estrangeiros. Sendo receptora da cultura alheia ou universal, o modo pedante de pensar da consciência ingênua não percebe ou divorcia-se da relação que deveria ter com sua existência social e, por isso mesmo, apregoa e divulga a "recepção da cultura”, não somente no sentido de receber de fora, mas, também, no de festa. É, portanto, neste sentido, que o conceito de "recepção da cultura", peculiar ao pedantismo da consciência primária, induz o pedante, quando demonstra seu vasto cabedal de conhecimentos, a nada mais fazer que vestir a indumentária intelectual para comparecer à festa alheia. O próprio hábito de ostentar os anéis de formatura é típico do intelectual do país subdesenvolvido, pois é sabido que o uso de tais anéis se destinava, no passado, a indicar as pessoas que não precisavam utilizar as mãos para o trabalho pelo privilégio de servirem apenas como escribas. 10. AUSÊNCIA DE COMPREENSÃO UNIT ÁRIA Nega seu fundamento histórico e nacional. Ignora que a problemática é da realidade e não do pensamento. Assume posições opostas e afirma conceitos desajustáveis por ausência de compreensão unitária. Julga-se expressão da verdade imparcial. Nega o contexto político, econômico e social da nação que exprime a realidade. Ignora a unidade de pensamento e ação. É incapaz de atuar ordenadamente. Por ter índole contraditória e não tendo disto a menor percepção, a consciência ingênua torna-se incapaz de indagar o que constitui os seus fundamentos. Situa-se na subjetividade e se fecha a oportunidade de assimilar a racionalidade imanente aos acontecimentos. Substitui a racionalidade pelo raciocínio abstrato, formal, limitando-se a pensar relações entre idéias. Contenta-se com o mundo de especulações que constrói e que habita, tornando-o como reprodução fiel do exterior. O real passa a ser algo estranho do qual, de vez em quando, se aproxima. Movida por ímpetos irrefletidos, é capaz de assumir satisfeitas, posições opostas e afirmar conceitos inajustáveis, os quais, não sendo submetidos à análise que lhes denunciaria a incompatibilidade, podem coexistir, desde que sustentados por motivos irracionais. A razão desta ausência de compreensão unitária descansa na ignorância de que o real possui os meios de sua retificação porque a problematicidade é da realidade e não do pensamento. 29
  • 30. Em função da criação, em nosso tempo, de um grande número de instituições estrangeiras e internacionais e de várias espécies, deparam-se, hoje, os países subdesenvolvidos, com um sem número de especialistas recrutados por esses organismos, que os transfere a um plano fictício do anacional puro e que produzem inúmeros documentos de natureza política, econômica, social, ambiental, literária ou científica. Dispondo de grandes somas de recursos e de técnicos de notória capacidade, essas instituições protornacionais são chamadas a pronunciar julgamentos sobre problemas específicos da validade de todos os países. Esses pronunciamentos e julgamentos, por virem desse mundo de ninguém, se inculcam como expressão da verdade imparcial. Por esse equívoco, a atitude de imparcialidade abstrata deixa de ser vaidade de alguns pensadores românticos, para encontrar um pequeno exército de realizadores práticos. É provável que muito tempo se passe até que a consciência nacional venha a ter clara compreensão deste fato. O pensar crítico não aceita esta prática de imparcialidade; ao contrário, sustenta que, para haver imparcialidade, é necessário que o pensador veja a realidade a partir dos interesses e/ou necessidades da comunidade a que pertence, pois lá está a plena representação do condicionamento imparcial. Não pensando independentemente de qualquer determinação, o pensador sabe que a perspectiva na qual se coloca não conduz a alteração do conteúdo do fato, mas, ao significado do fato. Por isso mesmo é que o pensar crítico defende a tese de que compete ao filósofo, economista, sociólogo ou outro especialista social assumir o significado interior dos dados do contexto econômico-social da nação, tal como se apresentam a consciência que os vê de dentro e que exprimem o estado real que é o seu, e não outro qualquer. Acredita que só assim, gera-se a imparcialidade de natureza concreta. Todo este conceito de imparcialidade deriva do fato da inalienável condição de o humano ser um ente no mundo histórico, no âmbito do seu país e de, neste, ter lugar o fato em apreço. Muitos dos especialistas internacionais resvalam para a ingenuidade, mesmo quando no afã de superar o que chamam de "estreiteza do seu horizonte familiar”. 11. INCAPACIDADE DE AT UAÇ ÃO ORDENAD A A consciência ingênua não exige o reconhecimento ponderado da verdade de suas assertivas. Não se empenha em conquistar sólida penetração na sua consciência e na alheia. Não defende senão com calor verbal a veracidade do que diz, porque é ágil em substituir qualquer pronunciamento a outro, evitando o ônus das laboriosas demonstrações. Não se interessa pelas próprias soluções que apresenta. Limitando-se a proposição, não compreende que toda realização concreta implica unidade de pensamento e ação. Por faltar-lhe a compreensão do que seja a prática social, filosoficamente entendida, a consciência ingênua idealiza mecanismos e motivos que acionam os seus julgamentos terminando por desprezar o aspecto prático da existência e a consideração dos fatores objetivos. Quando privada do comando político, a consciência cândida se acha sempre no direito de um dia atuar e alterar a face das coisas. Daí assumir atitudes conhecidas como de "políticas da oposição", geralmente embebida numa visão singela da realidade nacional. Por supor a permanente divisão entre pensamento e prática, aceita como natural o esquema da divisão social das atividades de acordo com o qual alguns se reservam a parte do pensar puro, deixando a outros a incumbência da realização. Através deste cunho intelectualista e aristocrático, e em virtude da percepção da própria inoperância, assume para com o real, indiferente ou rebelde, a atitude moralista. 30
  • 31. 12. MORALISMO Afirma o primado da realidade na prática social. Desconhece as leis do processo real. Prioriza o ser pelo “quantum” de bondade que possui. Apela para violência contra instituições, coisas e pessoas nas quais julga que a maldade se encarnou. Valoriza a ordem de cogitações abstratas e a espera ontológica dos valores. Torna a lei ética de validade absoluta. Ama a lei e o direito em detrimento do ente humano. É cega a realidade histórica. Nega a percepção de grupos, classes e estratos sociais. Apregoa o efeito do bem e do mal entre a luz e a treva. Elege os puros e condena os imorais. Conduz a apreciação dos acontecimentos e o julgo sobre os humanos, segundo o que lhe parece ser o valor moral contido nos fatos e nas condutas. Coloca a existência de um ser na dependência do quantum de bondade que possui. Da mesma forma, a consciência ingênua reivindica o primado da moralidade na prática social. Não reconhecem que o processo real tenha leis próprias, de teor objetivo, que determinam os acontecimentos ao ligarem os fatos as suas condições, e constituam mecanismos de criação da realidade, independentes da nossa vontade e do nosso julgamento. Apela para a violência, mesmo extrema, contra instituições, coisas e pessoas, nas quais a maldade se encarnou. Desvia a atenção do verdadeiro significado dos acontecimentos do processo histórico, o seu condicionamento material, especialmente econômico, e o dirige para a ordem de cogitações abstratas, a esfera ontológica dos valores levando a discussão dos problemas da realidade a ser travada em função das pessoas. A lei ética é elevada à razão ultima de todo acontecer histórico e princípio de constituição humana. Sua validade é absoluta. Contentam-se em profligar a má conduta dos humanos a fustigá-los com a denúncia de sua imoralidade. Lamenta que sejam tão tristes os tempos em que tem a desgraça de viver. Sua repulsa ao real não decorre da experiência das condições materiais dos fatos nem é motivada pelo sentimento das conveniências humanas, mas deriva somente de postulados éticos. Não ama o ser humano ama a lei. É cega à realidade histórica. Só o ente humano individual é responsável pelo que faz e pelo que é. Não aceita e muito menos vê a percepção dinâmica de grupos, classes sociais, partidos, etc. e, por isso, descobre sempre neles uma personalidade representativa do conjunto a quem atribui significado e valor ético. Os demais membros são avaliados por equiparação ao líder. O grupo ou classe social não tem significado, pois, a rigor, só importa a figura saliente que em geral, é explicada pelo efeito enfeitiçador do bem ou do mal. Sua essência está no combate místico entre a Luz e a Treva. O Bem e o Mal é seu lema para eleger os puros e condenar os imorais. 13. IDEALIZAÇ AO DOS DADOS CONCRETOS Idealiza os dados concretos. Tem fascínio pela violência e que traduz em julgamento. Cultua o moralismo. É seduzida a ditadura. Apela para a violência como meio pedagógico e como recurso corretivo. Defende a violência na política social como método de dirigir a sociedade. Acredita na tutela de um líder sobre o povo na medida em que este, do seu ponto-de-vista, não tem condições de escolher seus governantes. Por ser a-hístóríca na presença de um problema concreto, dispõe-se a dar-lhe solução, mas supõem prèviamente modificados os termos materiais e humanos da questão. Encaminha os problemas em termos que desde o começo os moldam nas formas favoráveis às soluções que lhes pretendem dar. Ao imaginar ou idealizar a solução de um problema, inflama-se de entusiasmo que a visão antecipada do sucesso lhe desperta. 31