SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 3
Descargar para leer sin conexión
Regulamentação, transparência e gestão das ONGs

Ciro Torres*

O seminário Marco Legal das ONGs em debate no Congresso Nacional
recolocou algumas organizações da sociedade civil em complexa e urgente
discussão sobre “o que somos?”, “que tipo de lei nos regulamenta” e,
principalmente, “o que nos diferencia das outras organizações sociais?”. O
evento foi realizado em Brasília pela Associação Brasileira de Organizações
Não-Governamentais (Abong), pelo Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos
Sociais para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (FBOMS), pelo Grupo de
Trabalho Amazônico (GTA) e pela Rede de ONGs da Mata Atlântica (RMA).

No complexo emaranhado de organizações sociais existentes, o debate,
inicialmente, teve como foco a questão da denominação dessas entidades.
As duas principais nomenclaturas utilizadas têm como característica a
negação ou a exclusão: não-governamental, ou seja, o que não é governo; e
terceiro setor, o que não faz parte do primeiro setor, o Estado, nem está no
segundo, o setor econômico. Isso sem contar as múltiplas implicações
políticas e as relações de poder com as quais estas denominações estão
imbricadas. Algumas pessoas têm sugerido o termo organizações de
cidadania ativa, mas isso ainda está em debate.

Todavia, focar, neste artigo, a discussão sobre a legislação existente, quais
leis devemos buscar ou aquelas que desejamos quando falamos das ONGs
poderia nos colocar em um emaranhado jurídico difícil e complexo. Até
mesmo, poderia jogar uma nuvem de fumaça sobre uma questão que nos
parece fundamental: discutir a diferenciação por meio da gestão,
destacando-se a origem dos recursos, a democracia interna e a
transparência das organizações.

Contudo, torna-se interessante salientar que, até mesmo se tomarmos por
base somente a legislação existente – a Lei dos Registros Públicos (1973) e
o Novo Código Civil Brasileiro (2003) –, o mais importante e o que se torna
determinante para classificar uma associação (até em termos jurídicos e
tributários) não é como esta foi registrada, sua denominação ou seu
estatuto, mas a sua forma de atuação. No fim das contas, somos todas
associações sem fins de lucro, ou seja, pessoas jurídicas de direito privado,
formadas “pela união de pessoas que se organizam para fins não-
econômicos” (artigo 53 do Novo Código Civil Brasileiro).

Nesse sentido, a origem e o destino dos recursos, a gestão da organização e
os(as) reais beneficiados(as) por ações internas e externas nas instituições e
movimentos sociais podem nos dizer muito e revelar uma boa forma de
diferenciação entre as milhares de organizações sociais, ONGs e movimentos
existentes. Até mesmo, as relações de poder e interesses que permeiam,
mantêm e motivaram estas associações.

O grande desafio no qual nos encontramos é o de criar ferramentas e
parâmetros para balizar as formas de demonstrar publicamente nossas
ações,    permitir  verificações   externas    independentes, possibilitar
comparações e avaliações, bem como nos diferenciar pela prática. Isso de
forma ética, transparente e participativa, sobretudo respeitando e
valorizando a atuação dos movimentos e organizações que contam com
pequenas estruturas, incluindo as mais informais.

Neste caminho – a partir de um longo e ainda inacabado processo que
começou em 2003, desenvolvido a partir de reuniões presenciais e diversos
debates eletrônicos com a participação de 27 diferentes pessoas,
representando 12 instituições –, chegamos ao que pode ser chamada uma
primeira      versão       do      modelo       de        balanço     social
http://www.balancosocial.org.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=9     (BS)
para organizações sociais, fundações e associações, focado, principalmente,
em organizações e associações formais.

A idéia principal é divulgar e aprimorar as práticas de transparência e
responsabilidade dentro do vasto e complexo campo das organizações
sociais, fortalecendo e buscando dar maior visibilidade às nossas práticas,
condutas e imagem; contribuindo, em muitos momentos, para diferenciar o
joio do trigo nesse nosso tão vasto universo do social.

O objetivo fundamental deste modelo é demonstrar de onde vêm os
recursos da associação, onde os mesmos são aplicados, quais as atividades
desenvolvidas e como a instituição se relaciona com seus funcionários e suas
funcionárias. Além disso, existe a possibilidade da instituição demonstrar a
preocupação e as metas para promover a diversidade internamente em seus
quadros, apresentar em que patamar está a participação interna e como
anda a democracia e a alternância de poder no dia-a-dia institucional.

Porém, este modelo, que já vem sendo utilizado por organizações como o
Ibase, o Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (Ceris), a
Osid e outras que ainda não o tornaram público, precisa ser aprimorado. É
fundamental que cada uma dessas organizações contribua com críticas e
sugestões para aperfeiçoarmos essa ferramenta e criarmos novos
parâmetros e indicadores.

Outro ponto fundamental é a necessidade de cada associação planejar,
anualmente, a execução do balanço (que abrange sempre dois exercícios
anuais) em estreita sintonia com planos, relatórios e prestações de contas
financeiras e contábeis da instituição, obviamente, quando couber. A partir
disso, certamente os resultados serão novos indicadores e o
aperfeiçoamento contínuo desses instrumentos pelo uso.

Esperamos que, em breve, dezenas de instituições sociais realizem seus
balanços e relatórios anuais, tomando por base os indicadores quantitativos
e qualitativos desse modelo sugerido pela Abong, Conselho de Reitores das
Universidades Brasileiras (Crub) e Ibase, bem como outros possíveis
modelos que venham a ser construídos de forma coletiva e democrática.

Além disso, essa prática pode nos ajudar a diferenciar as verdadeiras ONGs
envolvidas com as lutas pelos direitos de cidadania, evitar o acúmulo de leis
e regulamentações restritivas em relação à Constituição de 1988 e construir
uma legislação que fortaleça as organizações autônomas e de cidadania
ativa em nossa sociedade.

Assim, com o tempo, poderemos descobrir quem é quem neste mundo das
organizações sociais e quem, de fato, tem medo da transparência baseada
numa gestão verdadeiramente democrática e participativa.

*Ciro Torres, mestre em ciência política, professor e pesquisador, é
responsável pelo tema da Responsabilidade Social e Ética nas Organizações
no Ibase.

Más contenido relacionado

La actualidad más candente

Responsabilidade Social e sua interface com o Marketing
Responsabilidade Social e sua interface com o MarketingResponsabilidade Social e sua interface com o Marketing
Responsabilidade Social e sua interface com o Marketing
Felipe Guedes Pinheiro
 
Palestra De Rs E 3º Setor 30.05.07
Palestra De Rs E 3º Setor   30.05.07Palestra De Rs E 3º Setor   30.05.07
Palestra De Rs E 3º Setor 30.05.07
taniamaciel
 
Apresentação conferência assistência social de porto belo - junho de 2011
Apresentação   conferência assistência social de porto belo - junho de 2011Apresentação   conferência assistência social de porto belo - junho de 2011
Apresentação conferência assistência social de porto belo - junho de 2011
Aureo Giunco Jr
 
O serviço social na cena contemporânea
O serviço social na cena contemporâneaO serviço social na cena contemporânea
O serviço social na cena contemporânea
Rita Jussara
 
Administração e Planejamento Social
Administração e Planejamento SocialAdministração e Planejamento Social
Administração e Planejamento Social
Angela Chagas
 
Desenvolvimento local ok pronta pra enviar
Desenvolvimento local  ok pronta pra enviarDesenvolvimento local  ok pronta pra enviar
Desenvolvimento local ok pronta pra enviar
soljeniffer
 

La actualidad más candente (19)

Manual para criar_uma_ong
Manual para criar_uma_ongManual para criar_uma_ong
Manual para criar_uma_ong
 
Responsabilidade Social e sua interface com o Marketing
Responsabilidade Social e sua interface com o MarketingResponsabilidade Social e sua interface com o Marketing
Responsabilidade Social e sua interface com o Marketing
 
prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e intervenção p...
prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e intervenção p...prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e intervenção p...
prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e intervenção p...
 
Palestra De Rs E 3º Setor 30.05.07
Palestra De Rs E 3º Setor   30.05.07Palestra De Rs E 3º Setor   30.05.07
Palestra De Rs E 3º Setor 30.05.07
 
1 o servico_social_na_cena_contemporanea (1)
1 o servico_social_na_cena_contemporanea (1)1 o servico_social_na_cena_contemporanea (1)
1 o servico_social_na_cena_contemporanea (1)
 
O_que_a_literautra_brasileira_tem_produzido_sobre_os-consorcios_intermunicipais
O_que_a_literautra_brasileira_tem_produzido_sobre_os-consorcios_intermunicipaisO_que_a_literautra_brasileira_tem_produzido_sobre_os-consorcios_intermunicipais
O_que_a_literautra_brasileira_tem_produzido_sobre_os-consorcios_intermunicipais
 
Gestão social x Questão Social
Gestão social x Questão SocialGestão social x Questão Social
Gestão social x Questão Social
 
Apresentação conferência assistência social de porto belo - junho de 2011
Apresentação   conferência assistência social de porto belo - junho de 2011Apresentação   conferência assistência social de porto belo - junho de 2011
Apresentação conferência assistência social de porto belo - junho de 2011
 
Rede social sao_paulo
Rede social sao_pauloRede social sao_paulo
Rede social sao_paulo
 
O serviço social na cena contemporânea
O serviço social na cena contemporâneaO serviço social na cena contemporânea
O serviço social na cena contemporânea
 
GRUPO BAHIA SOLIDÁRIA
GRUPO BAHIA SOLIDÁRIAGRUPO BAHIA SOLIDÁRIA
GRUPO BAHIA SOLIDÁRIA
 
Instrumentalidade e serv social yolanda-guerra
Instrumentalidade e serv social   yolanda-guerraInstrumentalidade e serv social   yolanda-guerra
Instrumentalidade e serv social yolanda-guerra
 
Administração e Planejamento Social
Administração e Planejamento SocialAdministração e Planejamento Social
Administração e Planejamento Social
 
Participação Revista Bens & Serviços - FECOMÉRCIO RS - Abril/2017
Participação Revista Bens & Serviços - FECOMÉRCIO RS -  Abril/2017Participação Revista Bens & Serviços - FECOMÉRCIO RS -  Abril/2017
Participação Revista Bens & Serviços - FECOMÉRCIO RS - Abril/2017
 
Apostila marcoregulatorio16 1
Apostila marcoregulatorio16 1Apostila marcoregulatorio16 1
Apostila marcoregulatorio16 1
 
Capital social
Capital socialCapital social
Capital social
 
Desenvolvimento local ok pronta pra enviar
Desenvolvimento local  ok pronta pra enviarDesenvolvimento local  ok pronta pra enviar
Desenvolvimento local ok pronta pra enviar
 
Abong 2010 a 2013
Abong 2010 a 2013Abong 2010 a 2013
Abong 2010 a 2013
 
Os espaços Sócio Ocupacionais do Serviço Social
Os espaços Sócio Ocupacionais do Serviço Social Os espaços Sócio Ocupacionais do Serviço Social
Os espaços Sócio Ocupacionais do Serviço Social
 

Similar a Regulacao,transparencia e gestao das ongs (1)

18 caderno de textos subsidios para o debate
18  caderno de textos subsidios para o debate18  caderno de textos subsidios para o debate
18 caderno de textos subsidios para o debate
Alinebrauna Brauna
 
Fraternidade, instituições e democracia
Fraternidade, instituições e democraciaFraternidade, instituições e democracia
Fraternidade, instituições e democracia
Ana Luiza Santana
 
Guia de Captação de Recursos - Aspectos Jurídicos
Guia de Captação de Recursos - Aspectos JurídicosGuia de Captação de Recursos - Aspectos Jurídicos
Guia de Captação de Recursos - Aspectos Jurídicos
Jonathan Prateat
 
Serviço Social compromisso com a democracia e com os direitos sociais
Serviço Social compromisso com a democracia e com os direitos sociaisServiço Social compromisso com a democracia e com os direitos sociais
Serviço Social compromisso com a democracia e com os direitos sociais
Gleisi Hoffmann
 
Serviço social compromisso com a democracia e com os direitos sociais
Serviço social compromisso com a democracia e com os direitos sociaisServiço social compromisso com a democracia e com os direitos sociais
Serviço social compromisso com a democracia e com os direitos sociais
guesta7f8c7
 
Artigo a responsabilidade_social_da_empresa_como_atitude_p.
Artigo a responsabilidade_social_da_empresa_como_atitude_p.Artigo a responsabilidade_social_da_empresa_como_atitude_p.
Artigo a responsabilidade_social_da_empresa_como_atitude_p.
wzuckerj
 
Jannuzzi & arruda. sistema de indicadores para acompanhamento da agenda de di...
Jannuzzi & arruda. sistema de indicadores para acompanhamento da agenda de di...Jannuzzi & arruda. sistema de indicadores para acompanhamento da agenda de di...
Jannuzzi & arruda. sistema de indicadores para acompanhamento da agenda de di...
Bruno Martins Soares
 

Similar a Regulacao,transparencia e gestao das ongs (1) (20)

Revistaabongfinal
RevistaabongfinalRevistaabongfinal
Revistaabongfinal
 
SERVIÇO SOCIAL- ÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL
SERVIÇO SOCIAL- ÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONALSERVIÇO SOCIAL- ÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL
SERVIÇO SOCIAL- ÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL
 
A evidenciacao das_informacoes_contabeis_das_oscips
A evidenciacao das_informacoes_contabeis_das_oscipsA evidenciacao das_informacoes_contabeis_das_oscips
A evidenciacao das_informacoes_contabeis_das_oscips
 
Investimento Social Empresarial no Brasil
Investimento Social Empresarial no BrasilInvestimento Social Empresarial no Brasil
Investimento Social Empresarial no Brasil
 
18 caderno de textos subsidios para o debate
18  caderno de textos subsidios para o debate18  caderno de textos subsidios para o debate
18 caderno de textos subsidios para o debate
 
PROVA ESCRITA DISCURSIVA
PROVA ESCRITA DISCURSIVAPROVA ESCRITA DISCURSIVA
PROVA ESCRITA DISCURSIVA
 
Marco regulatório das OSCs - como a transparência é peça fundamental - Aline ...
Marco regulatório das OSCs - como a transparência é peça fundamental - Aline ...Marco regulatório das OSCs - como a transparência é peça fundamental - Aline ...
Marco regulatório das OSCs - como a transparência é peça fundamental - Aline ...
 
Fraternidade, instituições e democracia
Fraternidade, instituições e democraciaFraternidade, instituições e democracia
Fraternidade, instituições e democracia
 
Guia de Captação de Recursos - Aspectos Jurídicos
Guia de Captação de Recursos - Aspectos JurídicosGuia de Captação de Recursos - Aspectos Jurídicos
Guia de Captação de Recursos - Aspectos Jurídicos
 
A08v2152 abers keck relações fecundas nos conselhos
A08v2152 abers keck relações fecundas nos conselhosA08v2152 abers keck relações fecundas nos conselhos
A08v2152 abers keck relações fecundas nos conselhos
 
Tcc Motivação no Voluntariado Corporativo
Tcc Motivação no Voluntariado CorporativoTcc Motivação no Voluntariado Corporativo
Tcc Motivação no Voluntariado Corporativo
 
artigo.pdf
artigo.pdfartigo.pdf
artigo.pdf
 
Serviço Social compromisso com a democracia e com os direitos sociais
Serviço Social compromisso com a democracia e com os direitos sociaisServiço Social compromisso com a democracia e com os direitos sociais
Serviço Social compromisso com a democracia e com os direitos sociais
 
Serviço social compromisso com a democracia e com os direitos sociais
Serviço social compromisso com a democracia e com os direitos sociaisServiço social compromisso com a democracia e com os direitos sociais
Serviço social compromisso com a democracia e com os direitos sociais
 
Artigo a responsabilidade_social_da_empresa_como_atitude_p.
Artigo a responsabilidade_social_da_empresa_como_atitude_p.Artigo a responsabilidade_social_da_empresa_como_atitude_p.
Artigo a responsabilidade_social_da_empresa_como_atitude_p.
 
3º Setor: uma visão estrategica para projetos de interesse publico
3º Setor: uma visão estrategica para projetos de interesse publico3º Setor: uma visão estrategica para projetos de interesse publico
3º Setor: uma visão estrategica para projetos de interesse publico
 
PDDE - CONTROLE SOCIAL - Prof. Noe Assunção
PDDE - CONTROLE SOCIAL - Prof. Noe AssunçãoPDDE - CONTROLE SOCIAL - Prof. Noe Assunção
PDDE - CONTROLE SOCIAL - Prof. Noe Assunção
 
Aula 4 (15.03.2010) - Coproducao Esag
Aula 4 (15.03.2010) - Coproducao EsagAula 4 (15.03.2010) - Coproducao Esag
Aula 4 (15.03.2010) - Coproducao Esag
 
Jannuzzi & arruda. sistema de indicadores para acompanhamento da agenda de di...
Jannuzzi & arruda. sistema de indicadores para acompanhamento da agenda de di...Jannuzzi & arruda. sistema de indicadores para acompanhamento da agenda de di...
Jannuzzi & arruda. sistema de indicadores para acompanhamento da agenda de di...
 
Cfess brochura residenciasaude
Cfess brochura residenciasaudeCfess brochura residenciasaude
Cfess brochura residenciasaude
 

Más de Guy Valerio

Más de Guy Valerio (20)

Lista de vagas Adzuna Bahia (1)
Lista de vagas Adzuna Bahia (1)Lista de vagas Adzuna Bahia (1)
Lista de vagas Adzuna Bahia (1)
 
Impugnacao inelegibilidade alinea e - completo
Impugnacao   inelegibilidade alinea e - completoImpugnacao   inelegibilidade alinea e - completo
Impugnacao inelegibilidade alinea e - completo
 
Contratados pmi junho 2018
Contratados pmi junho 2018Contratados pmi junho 2018
Contratados pmi junho 2018
 
Contratados PMI janeiro de 2017
Contratados PMI janeiro de 2017Contratados PMI janeiro de 2017
Contratados PMI janeiro de 2017
 
Império do Cacau
Império do CacauImpério do Cacau
Império do Cacau
 
Carta colaboradores nova
Carta colaboradores novaCarta colaboradores nova
Carta colaboradores nova
 
Diario eletronico edicao_211 (1) (1)-1
Diario eletronico edicao_211 (1) (1)-1Diario eletronico edicao_211 (1) (1)-1
Diario eletronico edicao_211 (1) (1)-1
 
Manual de-orientacoes-para-contratacao-de-servicos-de-saude
Manual de-orientacoes-para-contratacao-de-servicos-de-saudeManual de-orientacoes-para-contratacao-de-servicos-de-saude
Manual de-orientacoes-para-contratacao-de-servicos-de-saude
 
Chamada publica_1_2015_chamamento_publico_001_2015
Chamada  publica_1_2015_chamamento_publico_001_2015Chamada  publica_1_2015_chamamento_publico_001_2015
Chamada publica_1_2015_chamamento_publico_001_2015
 
Fotos da bagunça do Zé Pereira
Fotos da bagunça do Zé PereiraFotos da bagunça do Zé Pereira
Fotos da bagunça do Zé Pereira
 
Pontal Praça São João
Pontal  Praça São JoãoPontal  Praça São João
Pontal Praça São João
 
Nota à imprensa
Nota à imprensaNota à imprensa
Nota à imprensa
 
Fotos e perícia no sitio do lula 1
Fotos e perícia no sitio do lula 1Fotos e perícia no sitio do lula 1
Fotos e perícia no sitio do lula 1
 
Ilhéus lá se foram 26 anos de atraso.
Ilhéus  lá se foram 26 anos de atraso.Ilhéus  lá se foram 26 anos de atraso.
Ilhéus lá se foram 26 anos de atraso.
 
TRAVESSIA PONTAL-ILHÉUS - AS LANCHAS
TRAVESSIA PONTAL-ILHÉUS - AS LANCHASTRAVESSIA PONTAL-ILHÉUS - AS LANCHAS
TRAVESSIA PONTAL-ILHÉUS - AS LANCHAS
 
Release ACCB Itabuna dezembro_2017
Release ACCB Itabuna dezembro_2017Release ACCB Itabuna dezembro_2017
Release ACCB Itabuna dezembro_2017
 
Release ACCB Ilhéus dezembro_2017
Release ACCB Ilhéus dezembro_2017Release ACCB Ilhéus dezembro_2017
Release ACCB Ilhéus dezembro_2017
 
Lei3496 de31deoutubrode2010regimentointernodaguarda2
Lei3496 de31deoutubrode2010regimentointernodaguarda2Lei3496 de31deoutubrode2010regimentointernodaguarda2
Lei3496 de31deoutubrode2010regimentointernodaguarda2
 
Feliz Natal Progressistas
Feliz Natal Progressistas Feliz Natal Progressistas
Feliz Natal Progressistas
 
Alterações no Código de Trânsito Brasileiro
Alterações no Código de Trânsito BrasileiroAlterações no Código de Trânsito Brasileiro
Alterações no Código de Trânsito Brasileiro
 

Regulacao,transparencia e gestao das ongs (1)

  • 1. Regulamentação, transparência e gestão das ONGs Ciro Torres* O seminário Marco Legal das ONGs em debate no Congresso Nacional recolocou algumas organizações da sociedade civil em complexa e urgente discussão sobre “o que somos?”, “que tipo de lei nos regulamenta” e, principalmente, “o que nos diferencia das outras organizações sociais?”. O evento foi realizado em Brasília pela Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais (Abong), pelo Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (FBOMS), pelo Grupo de Trabalho Amazônico (GTA) e pela Rede de ONGs da Mata Atlântica (RMA). No complexo emaranhado de organizações sociais existentes, o debate, inicialmente, teve como foco a questão da denominação dessas entidades. As duas principais nomenclaturas utilizadas têm como característica a negação ou a exclusão: não-governamental, ou seja, o que não é governo; e terceiro setor, o que não faz parte do primeiro setor, o Estado, nem está no segundo, o setor econômico. Isso sem contar as múltiplas implicações políticas e as relações de poder com as quais estas denominações estão imbricadas. Algumas pessoas têm sugerido o termo organizações de cidadania ativa, mas isso ainda está em debate. Todavia, focar, neste artigo, a discussão sobre a legislação existente, quais leis devemos buscar ou aquelas que desejamos quando falamos das ONGs poderia nos colocar em um emaranhado jurídico difícil e complexo. Até mesmo, poderia jogar uma nuvem de fumaça sobre uma questão que nos parece fundamental: discutir a diferenciação por meio da gestão, destacando-se a origem dos recursos, a democracia interna e a transparência das organizações. Contudo, torna-se interessante salientar que, até mesmo se tomarmos por base somente a legislação existente – a Lei dos Registros Públicos (1973) e o Novo Código Civil Brasileiro (2003) –, o mais importante e o que se torna determinante para classificar uma associação (até em termos jurídicos e tributários) não é como esta foi registrada, sua denominação ou seu estatuto, mas a sua forma de atuação. No fim das contas, somos todas associações sem fins de lucro, ou seja, pessoas jurídicas de direito privado, formadas “pela união de pessoas que se organizam para fins não- econômicos” (artigo 53 do Novo Código Civil Brasileiro). Nesse sentido, a origem e o destino dos recursos, a gestão da organização e os(as) reais beneficiados(as) por ações internas e externas nas instituições e movimentos sociais podem nos dizer muito e revelar uma boa forma de diferenciação entre as milhares de organizações sociais, ONGs e movimentos existentes. Até mesmo, as relações de poder e interesses que permeiam, mantêm e motivaram estas associações. O grande desafio no qual nos encontramos é o de criar ferramentas e parâmetros para balizar as formas de demonstrar publicamente nossas
  • 2. ações, permitir verificações externas independentes, possibilitar comparações e avaliações, bem como nos diferenciar pela prática. Isso de forma ética, transparente e participativa, sobretudo respeitando e valorizando a atuação dos movimentos e organizações que contam com pequenas estruturas, incluindo as mais informais. Neste caminho – a partir de um longo e ainda inacabado processo que começou em 2003, desenvolvido a partir de reuniões presenciais e diversos debates eletrônicos com a participação de 27 diferentes pessoas, representando 12 instituições –, chegamos ao que pode ser chamada uma primeira versão do modelo de balanço social http://www.balancosocial.org.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=9 (BS) para organizações sociais, fundações e associações, focado, principalmente, em organizações e associações formais. A idéia principal é divulgar e aprimorar as práticas de transparência e responsabilidade dentro do vasto e complexo campo das organizações sociais, fortalecendo e buscando dar maior visibilidade às nossas práticas, condutas e imagem; contribuindo, em muitos momentos, para diferenciar o joio do trigo nesse nosso tão vasto universo do social. O objetivo fundamental deste modelo é demonstrar de onde vêm os recursos da associação, onde os mesmos são aplicados, quais as atividades desenvolvidas e como a instituição se relaciona com seus funcionários e suas funcionárias. Além disso, existe a possibilidade da instituição demonstrar a preocupação e as metas para promover a diversidade internamente em seus quadros, apresentar em que patamar está a participação interna e como anda a democracia e a alternância de poder no dia-a-dia institucional. Porém, este modelo, que já vem sendo utilizado por organizações como o Ibase, o Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (Ceris), a Osid e outras que ainda não o tornaram público, precisa ser aprimorado. É fundamental que cada uma dessas organizações contribua com críticas e sugestões para aperfeiçoarmos essa ferramenta e criarmos novos parâmetros e indicadores. Outro ponto fundamental é a necessidade de cada associação planejar, anualmente, a execução do balanço (que abrange sempre dois exercícios anuais) em estreita sintonia com planos, relatórios e prestações de contas financeiras e contábeis da instituição, obviamente, quando couber. A partir disso, certamente os resultados serão novos indicadores e o aperfeiçoamento contínuo desses instrumentos pelo uso. Esperamos que, em breve, dezenas de instituições sociais realizem seus balanços e relatórios anuais, tomando por base os indicadores quantitativos e qualitativos desse modelo sugerido pela Abong, Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (Crub) e Ibase, bem como outros possíveis modelos que venham a ser construídos de forma coletiva e democrática. Além disso, essa prática pode nos ajudar a diferenciar as verdadeiras ONGs
  • 3. envolvidas com as lutas pelos direitos de cidadania, evitar o acúmulo de leis e regulamentações restritivas em relação à Constituição de 1988 e construir uma legislação que fortaleça as organizações autônomas e de cidadania ativa em nossa sociedade. Assim, com o tempo, poderemos descobrir quem é quem neste mundo das organizações sociais e quem, de fato, tem medo da transparência baseada numa gestão verdadeiramente democrática e participativa. *Ciro Torres, mestre em ciência política, professor e pesquisador, é responsável pelo tema da Responsabilidade Social e Ética nas Organizações no Ibase.