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Uma Reflexão Sobre a Psicologia Social Comunitária
Escrito por: Alex Barbosa Sobreira de Miranda | Publicado em: 22 de Dezembro de 2012
Categoria: Psicologia Comunitária
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Resumo: A psicologia comunitária é uma área de conhecimento que se ocupa
em estudar, entender e intervir nos fenômenos psicossociais. Esse campo tem como
objetivo despertar uma consciência crítica e contribuir para a formação da identidade
social e individual do sujeito. Esse trabalho tem a finalidade de fazer um percurso
histórico sobre a construção da psicologia social comunitária no Brasil, compreender o
conceito de comunidade e traçar sistematicamente o campo de atuação do psicólogo
nesse contexto. Para tanto, foi realizado um estudo bibliográfico a fim de conhecer os
saberes teóricos e práticos que contribuíram para a inserção do profissional de
psicologiana comunidade. A partir da análise dos dados, foi possível compreender
como se desenvolveram as práticas e modos de atuação que hoje promovem
qualidade de vida e busca desenvolver, de modo ético, a autonomia nos indivíduos,
procedimento que é realizado a partir da análise dos problemas de uma comunidade.
Palavras-chave: Psicologia social comunitária, consciência crítica, comunidade
Considerações Iniciais
Segundo Góis (1993) a psicologia comunitária se define como uma área da
psicologia social que estuda a atividade do psiquismo decorrente do modo de vida do
lugar/comunidade; estuda o sistema de relações e representações, identidade, níveis
de consciência, identificação e pertinência dos indivíduos ao lugar/comunidade e aos
grupos comunitários.
Esse termo se define a partir de uma ampla conceituação, visto que é um
conceito novo e depende do arcabouço teórico e da práxis do psicólogo que o define.
Pode ser nomeada como psicologia comunitária, psicologia na comunidade, psicologia
do desenvolvimento comunitário, dentre outros.
A origem dessa área de conhecimento da psicologia remonta a uma psiquiatria
social e preventiva, bem como a dinâmicas e psicoterapias grupais. O
desenvolvimento de movimentos que se manifestaram contra a falta de atenção social,
no que diz respeito à participação coletiva no processo de tomada de decisões se
tornou expressivo para o surgimento da psicologia comunitária.
A psicologia comunitária tem a finalidade de desenvolver uma consciência crítica
nos sujeitos, através de um modelo interdisciplinar. É um trabalho realizado em
grupos, e na comunidade, a fim de transformar o indivíduo em sujeito. No que
concerne à psicologia comunitária, pode-se referenciar como uma área de atuação
com a finalidade de aplicar as teorias e métodos da psicologia social no contexto de
uma comunidade.
Percorrendo um Caminho
Sabe-se que desde a década de 60 no Brasil foram desenvolvidos alguns
trabalhados em comunidades de baixa renda, com o intuito de despertar consciência
crítica no sujeito e possibilitar melhores condições de vida na população. Sendo que
se caracterizou um modelo de atuação pautado no espaço teórico e prático da
psicologia social. Desse modo, foram realizados trabalhos com a educação popular,
como a alfabetização de adultos, como um instrumento para a conscientização,
método que aos poucos foi sendo denominado de psicologia comunitária ou psicologia
na comunidade.
Uma revisão da psicologia comunitária no Brasil não pode ser feita fora do
contexto econômico e político do Brasil e da América Latina. Sem dúvida, o golpe
militar de 1964 tem muito a ver como seu surgimento, pois se num primeiro momento,
vivemos um período de extrema repressão e violência, quando uma reunião de cinco
pessoas já era considerada subversão, ele fez com que, individualmente, os
profissionais de psicologia se questionassem sobre a atuação junto à maioria da
população, e de qual maneira seria o seu papel na sua conscientização e organização.
(CAMPOS, 2009).
Nessa mesma época surgia nos Estados Unidos e em outros países da América
Latina a expressão “psicologia comunitária” que se referia à atuação do profissional de
psicologia juntamente as comunidades carentes. A propósito, se constituía um
trabalho de cunho assistencial e manipulativo.
Bonfim (1994) faz uma retrospectiva da história da psicologia social no Brasil, nas
décadas de oitenta e noventa. Nos anos oitenta, surgiram os primeiros cursos de pós-
graduação na área da Psicologia Social e foi criada a ABRAPSO–Associação
Brasileira de Psicologia Social. Novas práticas emergiram como, por exemplo, os
trabalhos em favelas, com meninos de rua, com os sem-terra e com pessoas da
terceira idade, além de práticas em comunidades, organizações e instituições. A partir
dos anos noventa, em uma sociedade ainda mais pobre, foi constatado um aumento
significativo da população. Ao mesmo tempo, ocorria o fortalecimento da democracia e
a criação de instituições em defesa dos direitos humanos; por exemplo, as que foram
criadas com base no Estatuto da Criança e do Adolescente, que entrou em vigor em
1990. Decorrentes desse contexto surgiram demandas de novas formas de trabalho
do psicólogo, voltadas para práticas psicossociais. Por conta dessas demandas, o
quadro conceitual precisou também ser revisto e ampliado.
No início dos anos 90, a nível nacional, presencia-se a expansão dos trabalhos
dos psicólogos junto aos diversos segmentos da população. Entretanto, cabe salientar
que essa expansão acontece dentro de um quadro variado de práticas, envolvendo
diferentes pressupostos filosóficos e referenciais teóricos. (CAMPOS, 2009).
Nesse caso, começam a se desenvolver práticas nos diferentes setores públicos
da sociedade, bem como em postos de saúde, secretaria do bem-estar social, ou em
algum órgão ligado à família e aos menores. Essa atuação tem o objetivo de expandir
e democratizar os serviços psicológicos em diversas áreas para a população em geral,
esse trabalho tem continuidade e perpassa os dias atuais.
Entendendo o Conceito de Comunidade
Sanchez e Wiesenfeld apud Gomes (1999) estabelece alguns critérios
significativos para uma melhor definição de comunidade que estejam relacionados
com a Psicologia Social, por contemplarem os principais aspectos da interação
humana: “Podemos dizer que uma comunidade se caracteriza por:a) ser um grupo de
pessoas, não um agregado social, com determinado grau de interação social;b)
repartir interesses, sentimentos, crenças, atitudes; c) residir em um território
específico; e d) possuir um determinado grau de organização”.
Comunidade é conceito ausente na história das ideias psicológicas. Aparece
como referencial analítico apenas nos anos 70, quando um ramo da psicologia social
se autoqualificou de comunitária. Assim fazendo, definiu intencionalidades e
destinatários para apresentar-se como ciência comprometida com a realidade
estudada, especialmente com os excluídos da cidadania. (SAWAIA,1994).
Assim, o conceito de comunidade não é mérito exclusivo da psicologia social.
Esse conceito introduziu a incorporação de um corpo técnico e epistemológico da
psicologia social, pois, representou a criação de um campo teórico que visa
transformar o homem no contexto em que vive, levando em consideração a sua
subjetividade.
De acordo com Pierson (1974) as comunidades surgem do simples fato de
vivermos em simbiose, isto é, de viverem juntos num mesmo habitat indivíduos tanto
semelhantes quanto diferentes e da „competição cooperativa‟ em que se empenham.
As comunidades são estudadas como partes organizadas funcionalmente mutável,
enfatizando a divisão de trabalho, a especialização de atividades e a concentração dos
indivíduos em instituições.
As relações comunitárias que constituem uma verdadeira comunidade são
relações igualitárias, que se dão entre pessoas que possuem iguais direitos e deveres.
Essas relações implicam que todos possam ter vez e voz, que todos sejam
reconhecidos em sua singularidade, onde as diferenças sejam respeitadas. E mais: as
relações comunitárias implicam, também, a existência de uma dimensão afetiva,
implicam que as pessoas sejam amadas, estimadas e benquistas. (CAMPOS 2009).
O Trabalho do Psicólogo Comunitário
De acordo Vasconcelos (1994), o trabalho do Psicólogo comunitário é
interdisciplinar, realizado por equipes multiprofissionais, com formação generalista. No
campo da saúde, esse profissional atua como assessor e treinador de agentes de
Saúde Mental. Para o psicólogo comunitário, o saber científico é relativizado diante do
saber popular, sendo este uma importante via para o acesso à Saúde Mental da
população.
A propósito, o trabalho do psicólogo comunitário deve consistir em uma atuação
que objetiva despertar consciência critica em um sujeito, ou em uma comunidade. O
serviço de psicologia na comunidade é feito a partir de visitas domiciliares, entrevistas,
mapeamento da realidade comunitária do local. Essa prática rompe com o modelo
tradicional clínico e pretende estar mais próxima da situação em que o indivíduo está
inserido, configurando-se um modo de fazer psicologia não-elitista.
A psicologia social ao qualificar-se de comunitária, hoje, explicita o objetivo de
colaborar com a criação desses espaços relacionais, que vinculam os indivíduos a
territórios físicos ou simbólicos e a temporalidades partilhadas num mundo assolado
pela ética do “levar vantagem em tudo” e do “é dando que se recebe”. Esses espaços
comunitários se alimentam de fontes que lançam a outras comunidades e buscam na
interlocução da fronteira o sentido mais profundo da dignidade humana. Enfim ela
delimita seu campo de competência na luta contra a exclusão de qualquer espécie.
(SAWAIA,1994).
A psicologia social comunitária utiliza-se do enquadre teórico da psicologia social,
privilegiando o trabalho com os grupos, colaborando para a formação da consciência
crítica e para a construção de uma identidade social e individual orientadas por
preceitos eticamente humanos. (FREITAS, 1987).
Sintetizando, o psicólogo na comunidade trabalha fundamentalmente com a
linguagem e representações, com relações grupais – vínculo essencial entre o
indivíduo e a sociedade – e com as emoções e afetos próprios da subjetividade, para
exercer sua ação a nível de consciência, da atividade e da intensidade dos indivíduos
que irão, algum dia, viver em verdadeira comunidade. (LANE, 1991).
Considerações Finais
Conclui-se através dessa literatura que a psicologia social comunitária teve sua
construção a partir de um desejo de proporcionar autonomia para uma sociedade, e foi
realizada a partir de movimentos políticos e sociais que foram desenvolvidos ao longo
de quatro décadas. Desse modo, fica claro a expressão “conscientização” como mola
propulsora do movimento na comunidade, visto que essa motivação é diretamente
relacionada com a formação da individualidade crítica, da consciência de si e de uma
nova realidade social que é esperada que o sujeito alcance em seu grupo social.
Sobre o Autor:
Referências:
Artigos Relacionados:
A Representação da Morte e o Mito do Cemitério em Comunidade do Município de
Biguaçu-SC: Relato de Experiência
Introdução à Psicologia Comunitária
Psicologia Comunitária E Políticas Públicas: Fundamentos Teóricos,
Metodológicos E Possíveis Áreas De Atuação No Mercado De Trabalho
A Práxis do Psicólogo Comunitário: Desafios e Possibilidades
Os Principais Desafios Enfrentados pelos Psicólogos no CRAS
Fonte:http://artigos.psicologado.com/atuacao/psicologia-comunitaria/uma-reflexao-
sobre-a-psicologia-social-comunitaria#ixzz2RPoui1HF
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  • 2. Percorrendo um Caminho Sabe-se que desde a década de 60 no Brasil foram desenvolvidos alguns trabalhados em comunidades de baixa renda, com o intuito de despertar consciência crítica no sujeito e possibilitar melhores condições de vida na população. Sendo que se caracterizou um modelo de atuação pautado no espaço teórico e prático da psicologia social. Desse modo, foram realizados trabalhos com a educação popular, como a alfabetização de adultos, como um instrumento para a conscientização, método que aos poucos foi sendo denominado de psicologia comunitária ou psicologia na comunidade. Uma revisão da psicologia comunitária no Brasil não pode ser feita fora do contexto econômico e político do Brasil e da América Latina. Sem dúvida, o golpe militar de 1964 tem muito a ver como seu surgimento, pois se num primeiro momento, vivemos um período de extrema repressão e violência, quando uma reunião de cinco pessoas já era considerada subversão, ele fez com que, individualmente, os profissionais de psicologia se questionassem sobre a atuação junto à maioria da população, e de qual maneira seria o seu papel na sua conscientização e organização. (CAMPOS, 2009). Nessa mesma época surgia nos Estados Unidos e em outros países da América Latina a expressão “psicologia comunitária” que se referia à atuação do profissional de psicologia juntamente as comunidades carentes. A propósito, se constituía um trabalho de cunho assistencial e manipulativo. Bonfim (1994) faz uma retrospectiva da história da psicologia social no Brasil, nas décadas de oitenta e noventa. Nos anos oitenta, surgiram os primeiros cursos de pós- graduação na área da Psicologia Social e foi criada a ABRAPSO–Associação Brasileira de Psicologia Social. Novas práticas emergiram como, por exemplo, os trabalhos em favelas, com meninos de rua, com os sem-terra e com pessoas da terceira idade, além de práticas em comunidades, organizações e instituições. A partir dos anos noventa, em uma sociedade ainda mais pobre, foi constatado um aumento significativo da população. Ao mesmo tempo, ocorria o fortalecimento da democracia e a criação de instituições em defesa dos direitos humanos; por exemplo, as que foram criadas com base no Estatuto da Criança e do Adolescente, que entrou em vigor em 1990. Decorrentes desse contexto surgiram demandas de novas formas de trabalho do psicólogo, voltadas para práticas psicossociais. Por conta dessas demandas, o quadro conceitual precisou também ser revisto e ampliado. No início dos anos 90, a nível nacional, presencia-se a expansão dos trabalhos dos psicólogos junto aos diversos segmentos da população. Entretanto, cabe salientar que essa expansão acontece dentro de um quadro variado de práticas, envolvendo diferentes pressupostos filosóficos e referenciais teóricos. (CAMPOS, 2009). Nesse caso, começam a se desenvolver práticas nos diferentes setores públicos da sociedade, bem como em postos de saúde, secretaria do bem-estar social, ou em
  • 3. algum órgão ligado à família e aos menores. Essa atuação tem o objetivo de expandir e democratizar os serviços psicológicos em diversas áreas para a população em geral, esse trabalho tem continuidade e perpassa os dias atuais. Entendendo o Conceito de Comunidade Sanchez e Wiesenfeld apud Gomes (1999) estabelece alguns critérios significativos para uma melhor definição de comunidade que estejam relacionados com a Psicologia Social, por contemplarem os principais aspectos da interação humana: “Podemos dizer que uma comunidade se caracteriza por:a) ser um grupo de pessoas, não um agregado social, com determinado grau de interação social;b) repartir interesses, sentimentos, crenças, atitudes; c) residir em um território específico; e d) possuir um determinado grau de organização”. Comunidade é conceito ausente na história das ideias psicológicas. Aparece como referencial analítico apenas nos anos 70, quando um ramo da psicologia social se autoqualificou de comunitária. Assim fazendo, definiu intencionalidades e destinatários para apresentar-se como ciência comprometida com a realidade estudada, especialmente com os excluídos da cidadania. (SAWAIA,1994). Assim, o conceito de comunidade não é mérito exclusivo da psicologia social. Esse conceito introduziu a incorporação de um corpo técnico e epistemológico da psicologia social, pois, representou a criação de um campo teórico que visa transformar o homem no contexto em que vive, levando em consideração a sua subjetividade. De acordo com Pierson (1974) as comunidades surgem do simples fato de vivermos em simbiose, isto é, de viverem juntos num mesmo habitat indivíduos tanto semelhantes quanto diferentes e da „competição cooperativa‟ em que se empenham. As comunidades são estudadas como partes organizadas funcionalmente mutável, enfatizando a divisão de trabalho, a especialização de atividades e a concentração dos indivíduos em instituições. As relações comunitárias que constituem uma verdadeira comunidade são relações igualitárias, que se dão entre pessoas que possuem iguais direitos e deveres. Essas relações implicam que todos possam ter vez e voz, que todos sejam reconhecidos em sua singularidade, onde as diferenças sejam respeitadas. E mais: as relações comunitárias implicam, também, a existência de uma dimensão afetiva, implicam que as pessoas sejam amadas, estimadas e benquistas. (CAMPOS 2009). O Trabalho do Psicólogo Comunitário De acordo Vasconcelos (1994), o trabalho do Psicólogo comunitário é interdisciplinar, realizado por equipes multiprofissionais, com formação generalista. No campo da saúde, esse profissional atua como assessor e treinador de agentes de Saúde Mental. Para o psicólogo comunitário, o saber científico é relativizado diante do
  • 4. saber popular, sendo este uma importante via para o acesso à Saúde Mental da população. A propósito, o trabalho do psicólogo comunitário deve consistir em uma atuação que objetiva despertar consciência critica em um sujeito, ou em uma comunidade. O serviço de psicologia na comunidade é feito a partir de visitas domiciliares, entrevistas, mapeamento da realidade comunitária do local. Essa prática rompe com o modelo tradicional clínico e pretende estar mais próxima da situação em que o indivíduo está inserido, configurando-se um modo de fazer psicologia não-elitista. A psicologia social ao qualificar-se de comunitária, hoje, explicita o objetivo de colaborar com a criação desses espaços relacionais, que vinculam os indivíduos a territórios físicos ou simbólicos e a temporalidades partilhadas num mundo assolado pela ética do “levar vantagem em tudo” e do “é dando que se recebe”. Esses espaços comunitários se alimentam de fontes que lançam a outras comunidades e buscam na interlocução da fronteira o sentido mais profundo da dignidade humana. Enfim ela delimita seu campo de competência na luta contra a exclusão de qualquer espécie. (SAWAIA,1994). A psicologia social comunitária utiliza-se do enquadre teórico da psicologia social, privilegiando o trabalho com os grupos, colaborando para a formação da consciência crítica e para a construção de uma identidade social e individual orientadas por preceitos eticamente humanos. (FREITAS, 1987). Sintetizando, o psicólogo na comunidade trabalha fundamentalmente com a linguagem e representações, com relações grupais – vínculo essencial entre o indivíduo e a sociedade – e com as emoções e afetos próprios da subjetividade, para exercer sua ação a nível de consciência, da atividade e da intensidade dos indivíduos que irão, algum dia, viver em verdadeira comunidade. (LANE, 1991). Considerações Finais Conclui-se através dessa literatura que a psicologia social comunitária teve sua construção a partir de um desejo de proporcionar autonomia para uma sociedade, e foi realizada a partir de movimentos políticos e sociais que foram desenvolvidos ao longo de quatro décadas. Desse modo, fica claro a expressão “conscientização” como mola propulsora do movimento na comunidade, visto que essa motivação é diretamente relacionada com a formação da individualidade crítica, da consciência de si e de uma nova realidade social que é esperada que o sujeito alcance em seu grupo social. Sobre o Autor: Referências:
  • 5. Artigos Relacionados: A Representação da Morte e o Mito do Cemitério em Comunidade do Município de Biguaçu-SC: Relato de Experiência Introdução à Psicologia Comunitária Psicologia Comunitária E Políticas Públicas: Fundamentos Teóricos, Metodológicos E Possíveis Áreas De Atuação No Mercado De Trabalho A Práxis do Psicólogo Comunitário: Desafios e Possibilidades Os Principais Desafios Enfrentados pelos Psicólogos no CRAS Fonte:http://artigos.psicologado.com/atuacao/psicologia-comunitaria/uma-reflexao- sobre-a-psicologia-social-comunitaria#ixzz2RPoui1HF Psicologado - Artigos de Psicologia