SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 11
Descargar para leer sin conexión
Mito e concretude: a morte na poesia de Angelus Silesius
Myth and concreteness: death in Angelus Silesius’s poetry
Darlan Xavier Nascimento1
Wilma Patricia Marzari Dinardo Maas (Orient.)2
Resumo: Este trabalho pretende levantar um panorama geral da poesia do alemão Angelus
Silesius (1624-1677) no que diz respeito à discussão sobre a temática da morte. A fim de
postular algumas hipóteses sobre o significado da morte no período histórico em que o poeta
viveu, comentaremos alguns poemas, identificando pistas que retomem a moral da época.
Palavras-chave: Angelus Silesius, morte, Cristianismo, século XVII.
Abstract: This study intends to get a general overview on the German Angelus Silesius (1624-
1677)’s poetry about the way he discusses death. For the purpose of postulating some
hypotheses about the meaning of death in the historical period in which the poet lived, we will
comment some poems by identifying clues which reclaim the period’s moral.
Keywords: Angelus Silesius, death, Christianity, 17th century.
O evangelista Mateus relata, na Sagrada Escritura, um dos maiores
acontecimentos da história cristã, em que a ocasião de festividade deu ao povo
o “direito” de libertar um dos presos, fadando os demais à morte sofrida. No
caso em questão, a liberdade foi restituída a Barrabás, anteriormente
incriminado por desobediência e homicídio, ao passo que o Messias dos
cristãos passou suas últimas horas em meio à humilhação e às chagas, apesar
de o texto bíblico reforçar a condição de inocência de Cristo. A condenação de
Jesus à cruz é tomada como uma atitude injusta, digna de compensação por
parte do crente.
A morte, além de evento inevitável para a humanidade, é um dos
grandes mistérios da essência humana. Discute-se muito acerca do que se
passa no pós-vida, e o principal eixo guiador dessa noção é a crença. Para o
cristão, de maneira geral, as atitudes em vida refletem o veredicto do juízo final,
1
Graduando do 3º ano do curso de Letras (Português/Alemão) pela Faculdade de Ciências e
Letras de Araraquara (UNESP). Bolsista de Iniciação Científica da FAPESP.
2
Professora assistente doutora do Departamento de Letras Modernas da Faculdade de
Ciências e Letras de Araraquara (UNESP), da área de Língua e Literatura Alemãs.
Todas as Musas ISSN 2175-1277 Ano 04 Número 01 Jul-Dez 2012
235
pois a prática de “más ações” obsta a entrada no Paraíso divino. A crucificação
de Cristo vai um pouco além da noção básica de morte, uma vez que é
sustentada por um arcabouço moral e ideológico mais evidente: a fim de salvar
a humanidade, Jesus se entrega.
Cerca de dezessete séculos mais tarde, a Europa vive uma grande
simultaneidade de conflitos de natureza religiosa. Colocamos ênfase, aqui, nas
regiões da Boêmia e da Silésia, que hoje correspondem à República Tcheca e
a determinadas áreas da Polônia e da Alemanha. As altercações se
embasavam na disputa do poder político: por pelo menos dois anos e meio,
rebeldes da nobreza protestante e o governo apoiado pela Igreja Católica
disputaram a coroa, dando início a inúmeras e sangrentas batalhas. Tendo em
vista que esses motins aconteceram ao mesmo tempo, mas em várias regiões
europeias, originou-se o que conhecemos hoje como Guerra dos Trinta Anos
(1618-1648). O cientista político Rudolph Rummel (1984, p. 57), especialista
em violência coletiva, afirma que mais de onze milhões de pessoas – entre
civis e combatentes – morreram nesta situação histórica. Assim, a morte (tanto
por conta da guerra em si, quanto pela fome indiretamente provocada pela
destruição das regiões agrícolas) foi, no século XVII, um fenômeno bastante
presente. Em 1648, efetivou-se a Paz da Vestfália, sancionando o fim da
Guerra dos Trinta Anos. As perturbações políticas, entretanto, persistiram,
instaurando um espírito de vulnerabilidade à época. Restavam, ao povo,
poucas opções para tentar se salvar, e o principal desses métodos era, de fato,
a fé. A filosofia expressa através de documentos seiscentistas indica que a
vida, em tal concepção, era transitória, passageira, preparatória para a vida
eterna depois da morte.
Em suma, o estabelecimento do mito da vida eterna não passa de meio
de controle da Igreja enquanto instituição hegemônica nessa sociedade,
sacudida até as migalhas pela contenda da religião e maculada profundamente
pelo sangue de milhões de fiéis. A religião é uma das escusas para a
imposição de determinados preceitos morais, a fim de atender aos interesses
das camadas superiores. As artes, neste sentido, também eram subjugadas a
serviço do estabelecimento da moral.
Todas as Musas ISSN 2175-1277 Ano 04 Número 01 Jul-Dez 2012
236
No presente artigo, pretendemos identificar alguns traços que indiquem
essas características na poesia de Angelus Silesius (1624-1677), poeta alemão
natural da Silésia (atual cidade de Breslau, na Polônia) e cujo nome de batismo
era Johannes Scheffler. Luterano de nascimento e católico por opção,
converteu-se ao Catolicismo em 1653 e adotou o pseudônimo Angelus Silesius
(Anjo/Mensageiro da Silésia). Quatro anos mais tarde, publicou Geistreiche
Sinn- und Schlußreime (“Rimas espirituais: gnômicas e epigramáticas que
conduzem à divina contemplação”), uma série de pensamentos de caráter
místico. Posteriormente, com o acréscimo de novos poemas, formou-se Der
cherubinische Wandersmann (“O peregrino querubínico”), publicado em 1675,
que “deu a glória a Silesius [por meio de] pensamentos profundos e versos
lidimamente poéticos” (KOHNEN, 1960, p. 345-346).
À época em questão, as tendências literárias apontavam uma poesia
mais voltada para o espírito, tema que foi explorado por quase todos os
literatos do Barroco, como afirma Gerhard Hinten (1993, p. 21). Mansueto
Kohnen (1960, p. 336) defende que a arte do século XVII tenha sido a última,
numa perspectiva histórica da estética, a configurar um estilo quase uniforme
(nos moldes formais e nos princípios básicos, pelo menos) em todo o mundo. É
preciso, aqui, fazer uma ressalva fundamental para o estudo da arte
seiscentista: essa visão de que as produções artísticas da época tenham sido
homogêneas é duramente refutada por uma crítica que se estabeleceu no
Brasil no fim do século XX.
Para João Adolfo Hansen (2001, p. 18), uma comparação entre as
manifestações artísticas do século XVII evidenciaria pluralidade de expressões
estéticas, seja em um cotejo entre países, seja entre autores, seja entre obras
do mesmo autor. Isso justificaria uma desfavorável apreciação em relação ao
termo “barroco” como “estilo do século XVII”. O objetivo de tal crítica não é
negar o termo “barroco”, mas questionar seu emprego enquanto dada
denominação estética uniforme. A principal fundamentação em que se assenta
essa proposição de relativização da palavra é o livro Renaissance und Barock,
de Heinrich Wölfflin, publicado em 1888, em que o autor cunha o termo pela
primeira vez neste aspecto. Para Wölfflin (2010, p. 17), há uma cisão entre
Todas as Musas ISSN 2175-1277 Ano 04 Número 01 Jul-Dez 2012
237
barroco e clássico sustentada por cinco pilares, de tal sorte que o historiador da
arte suíço identifica cinco características da estética barroca: pictorismo, visão
em profundidade, forma aberta, unificação das partes a um todo e clareza
relativa.
De fato, tendo em vista a literatura alemã, essa pluralidade de
expressões fica mais evidente. A maior parte da produção literária na
Alemanha durante o período tinha vínculo com o Protestantismo, o que ocorreu
peculiarmente em poucas regiões da Europa. Na Península Ibérica, por
exemplo, a arte do século XVII tinha forte ligação com o Catolicismo. Outra
diferença essencial foi deslindada por Otto Maria Carpeaux (1994, p. 33), que
faz menção a uma mentalidade barroca especificamente alemã, que difere do
que se viu no barroco latino, na Áustria católica, na Inglaterra e na Holanda, por
exemplo, devido à “[...] estreiteza do ambiente empobrecido, pela brutalidade
dos costumes e pela íntima insegurança religiosa” (CARPEAUX, 1994, p. 33).
Além disso, Carpeaux define o homem seiscentista como mártir, em virtude da
situação de fragilidade extrema não somente no plano socioeconômico, mas
também no religioso-ideológico.
Todavia, a despeito da apontada heterogeneidade nas produções
dessa época, João Adolfo Hansen (1979, p. 178) alega que nomear, no modo
alegórico “barroco”, consiste em introduzir o luto e a morte em todos os
aspectos. A título de exemplificação, apoiando-nos na proposição de Benjamin,
veremos o tratamento que Angelus Silesius dá a essa temática. O livro Der
cherubinische Wandersmann é composto por 1675 poemas, sobretudo dísticos,
mas para iniciar algumas considerações acerca do assunto, levemos em
consideração a seguinte quadra da mesma obra:
An den Kreuzfliehenden
Ach Kind! ists dir denn auch zurzeit noch nicht bewußt,
Daß man nicht immer liegt an unsres Herren Brust?
Wen er am liebsten hat, der muß in Kreuz und Pein,
In Marter, Angst und Tod der Nächste bei ihm sein.3
3
Aos que fogem da cruz: Oh criança! tu não estás ainda, neste momento, consciente / De que
Nosso Senhor nem sempre traz-nos a todos da mesma maneira no coração? / A quem ele ama
Todas as Musas ISSN 2175-1277 Ano 04 Número 01 Jul-Dez 2012
238
(SILESIUS, 1952, p. 80)
A ideia basilar do poema é a de que o sofrimento não é causado por
Cristo, mas é uma etapa necessária para se atingir a felicidade na vida eterna,
pois somente quem passa pelas situações aflitivas denominadas acima
(martírio, morte etc.) é que merece estar ao lado dele, no reino dos Céus. Entre
as “desventuradas” condições para a salvação do cristão, salta-nos aos olhos a
imagem da cruz, pois ela carrega a simbologia do suplício e do padecimento,
motivada pelo evento da Paixão de Cristo. Ademais, a escolha lexical é
essencial para o poema, pois, empregando apenas cinco substantivos, o poeta
conseguiu resumir o trajeto cronológico da morte de Jesus. Os termos Kreuz e
Pein referem-se, simultaneamente, à cruz em si e à humilhação e ao
constrangimento oriundos do fato. O martírio (Marter), reforçado na caminhada
até a colina do Calvário, gera também a sensação de medo (Angst) devido ao
desamparo. Na Bíblia, isso se reflete na famosa frase hebraica “Eloí, Eloí, lamá
sabactâni?”4
. O que se segue é a morte (Tod) efetivada, que o leva para perto
de Deus (Nächste bei ihm).
Não existe consenso exato sobre gênero na poesia de Angelus
Silesius. Apesar disso, não é infundado inferir que Der cherubinische
Wandersmann seja uma compilação de epigramas. Esse tipo de poema
remonta aos gregos e aos latinos e é uma inscrição caracterizada,
principalmente, pela concisão. Isso ocorre devido aos procedimentos literários
tomados como base para a produção de textos, isto é, a concepção
seiscentista de literariedade (na Alemanha, ao menos) ganha substância
reforçada com a noção de originalidade. Ao artista do século XVII importa muito
mais apropriar-se daquilo que já foi explorado e ir além, superar,
acrescentando algo que seja específico de seu fazer artístico. Além disso, outra
característica fundamental da construção do epigrama é que há a “[...] emissão
de um juízo [...] por parte do autor” (MORAES, 1993, p. 251). A isso, somam-se
na poesia de Silesius algumas postulações vindas da prática mística. Não é à
toa que o epíteto dado ao escritor é “o poeta místico do Barroco”. Em “An den
mais, este deve, na cruz e na agonia, / No martírio, medo e dor, estar junto a Ele. (tradução
nossa)
4
Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?
Todas as Musas ISSN 2175-1277 Ano 04 Número 01 Jul-Dez 2012
239
Kreuzfliehenden”, essa questão fica clara, pois, partindo do princípio de que o
misticismo busca meios alternativos para um encontro espiritual direto com a
entidade teológica superior, percebemos que algumas nuanças do poema
indicam um feitio próprio dos místicos.
Deve-se, nesta perspectiva, sofrer como Cristo sofreu, a fim de que se
mereça também estar nos Céus, depois da morte, mas também como meio de
compensação ao padecimento em Gólgota, o que se relaciona sensivelmente a
um autossalvacionismo. Pode-se dizer que Angelus Silesius levou tal princípio
a fundo, pois se por um lado sua mística está aliada ao apego à tradição, em
sua vida pessoal imperou o desapego material e carnal. Em 9 de julho de 1677,
após dolorosos sofrimentos físicos, Silesius morreu nas instalações dos
Cavaleiros da Cruz de São Mateus, na capital da Silésia.
Este Deus sensível, sensorial (sinnlich), no sentido de que aparenta ter
capacidade de experimentar impressões emocionais que são
fundamentalmente humanas, é reforçado por mais uma seleção lexical, que é o
uso de Herren Brust (literalmente, “peito do Senhor”), ao passo que o termo
prototípico a ser usado em tal construção seria o coração (Herz). Essa escolha
é motivada, evidentemente, também pelo esquema de rimas, em que Brust faz
par com bewußt. O sintagma nicht bewußt (“não consciente”), por sua vez,
assim como o termo Kind (criança) indicam a existência de uma hierarquia de
discursos.
O livro do qual o poema foi extraído é Der cherubinische
Wandersmann, cujo título foi traduzido como “O Peregrino Querubínico”. O
Wandersmann, historicamente, é a pessoa que caminha em peregrinação, no
sentido primeiro do termo. Charles Lock (1999, p. 184) fez um estudo sobre a
figura do Wandersmann, evidenciando a autoridade espiritual ao ato de
caminhar e, principalmente, como tal arquétipo é essencialmente terreno, pois
não se pode caminhar em lugares elevados, seja o topo de uma montanha ou o
alto de um edifício urbano. Resumindo, existem, neste modelo, três planos
possíveis: o divino, o do peregrino e o terreno. Os dois últimos estabelecem-se
materialmente na terra, mas ao caminhante divino é dado o prestígio. O título
da obra é, mais uma vez, ênfase à oposição divino/terreno, pois o adjetivo
Todas as Musas ISSN 2175-1277 Ano 04 Número 01 Jul-Dez 2012
240
cherubinisch liga-se a uma das mais conhecidas categorias da hierarquia
angelical, afirmada por São Tomás de Aquino ser a categoria a qual pertencia o
Diabo antes de cair do céu. Desse modo, é outorgado ao eu-lírico, suposto
Wandersmann, o direito de se dirigir ao homem com autoridade, posto que o
denomina Kind (criança, filho) e trata de sua ausência de consciência
(Unbewusstheit), mas, sem dúvida, sua posição ainda fica abaixo de Deus, do
Senhor (Herr).
Por meio do poema, percebe-se que morte e sofrimento eram noções
intimamente ligadas. Veremos essa questão em outro poema, abordada sob
um ponto de vista ligeiramente diferente, mas de mesma natureza, na prática.
Silesius faz uma crítica àqueles que levam uma vida de ostentação material.
Poucos anos antes da morte, o poeta decidiu se desapegar de suas posses e
viver em pobreza absoluta. A seguir, transcrevemos a quadra, que está
presente na primeira parte de Der cherubinische Wandersmann:
Die ewige Ruhestätt
Es mag ein andrer sich um sein Begräbnis kränken
Und seinen Madensack mit stolzem Bau bedenken,
Ich sorge nicht dafür: mein Grab, mein Fels und Schrein,
In dem ich ewig ruh, solls Herze Jesu sein5
(SILESIUS, 1952, p. 7)
Em aspectos formais, todos os poemas de Der cherubinische
Wandersmann apresentam características em comum. O verso do poema
apresenta doze sílabas e é possível notar um corte métrico e sintático logo
após a sexta sílaba (sich / um, Madensack / mit, dafür / mein, ruh / solls). Há,
também, uma preferência pelas monossílabas, que constituem quase metade
das palavras do quarteto. O emprego desses termos é uma forma de configurar
a cesura sintática no poema, ao programar a pausa a ser feita justamente na
posição escolhida pelo autor. As rimas também estão sempre presentes,
paralelamente. Nas quadras supracitadas, o esquema rímico é aabb, indicando
a dualidade e, em alguns casos, a oposição. Fica clara a preocupação do poeta
5
O local de descanso eterno: Pode um outro se atormentar pelo seu túmulo, / E encerrar sua
carcaça em construção altiva. / Eu não me preocupo: meu túmulo, minha rocha e arca, / Em
que descansarei eternamente, devem ser o coração de Jesus. (tradução nossa)
Todas as Musas ISSN 2175-1277 Ano 04 Número 01 Jul-Dez 2012
241
com o estabelecimento de um padrão silábico, por meio de algumas
adaptações métricas. Assim, de modo a acomodar as palavras para que se
totalizem doze sílabas no verso, como é o “protocolo”, o autor usa recursos de
versificação como a paragoge, em que há o aumento de uma sílaba no fim de
uma palavra. Esse fenômeno ocorre em Herze, dissílaba, por exemplo,
foneticamente construída a partir de Herz, monossílaba.
Já quanto ao conteúdo, percebemos, à primeira vista, uma crítica à
vida regada a pompa e vaidade material. A morte se converte, para o poeta,
em meio de igualização do homem, do qual ninguém escapa. Tanto a elite,
possuidora do stolzer Bau (construção altiva, soberba), quanto os mais
desassistidos, habituados a ter somente Grab, Fels e Schrein (túmulo, rocha e
arca), recebem a morte da mesma forma, pois é um princípio para todos,
independente das dessemelhanças humanas. Afinal de contas, no mito, não
sabemos o que se passa depois do fim da vida, mas no plano material, na
concretude dos fatos, a morte é responsável por transformar tudo em cadáver,
em carcaça. O termo utilizado por Silesius é mais pesado ainda, uma vez que
Madensack é uma palavra composta por Maden (“larva”) e Sack (“saco”), isto
é, a morte leva todo homem a se metamorfosear em saco verminoso. Essa
conversão é necessária a fim de que o espírito passe, na crença mística do
poeta, para a “vida superior”.
Além disso, o eu-lírico afirma que pode um outro se preocupar
(kränken) com a construção de um túmulo altivo. O verbo em questão tem sua
origem na palavra krank, adjetivo que significa, entre outras coisas, “doente”,
“injuriado” e até mesmo “louco”, indicando que esse ato de dar demasiada
atenção ao luxo representa um desvio moral. A outra possibilidade de morte, a
desapegada, parece mais proveitosa, pois nela se descansa eternamente (ewig
ruh).
Outros conceitos para a morte são explorados por Silesius. Ao passo
que o autor, em “Die ewige Ruhestätt”, aborda a morte como princípio de
igualação dos homens e, muitas vezes, até de compensação (pois quem foi
altivo se torna um saco de vermes e quem foi mais parcimonioso passa a
Todas as Musas ISSN 2175-1277 Ano 04 Número 01 Jul-Dez 2012
242
merecer o descanso eterno), vemos, no dístico “Der Tod ists beste Ding”, que a
morte também é meio de libertação, retomando um mote platônico.
Der Tod ists beste Ding
Ich sage, weil allein der Tod mich machet frei,
Daß er das beste Ding aus allen Dingen sei.6
(SILESIUS, 1952, p. 11)
Pode-se dizer que há uma recuperação da literatura e da filosofia
gregas nessa poema por causa de seu conteúdo. A noção de morte valorizada
somada ao aspecto libertador da morte aparece no diálogo Fédon, de Platão,
do qual transcrevemos um trecho abaixo:
- E o que denominamos morte, não será a liberação da
alma e seu apartamento do corpo?
- Sem dúvida, tornou a falar. (PLATÃO, s/d)
De certo modo, no que diz respeito à morte, a filosofia silesiana se
orienta pela platônica, pois o filósofo grego fala da morte como um evento que
é capaz de separar alma e corpo para sempre, isto é, acredita na existência de
um plano espiritual.
Em vista dos argumentos apresentados a partir dos poemas de Der
cherubinische Wandersmann, concluímos que a morte nos é mostrada
segundo um viés dual, porque a morte se constrói como mito, no sentido de
que se estabelece numa dimensão obscura ao ser humano (a crença, neste
aspecto, é fundamental para a compreensão dessa noção), e como
concretude, porque a carne também passa. A diferença é que a morte
construída como mito representa unicamente uma etapa na existência do
crente, pois modificam-se os atos em vida em detrimento do descanso eterno,
da tranquilidade, do repouso no coração de Cristo. Por outro lado, a morte
física, aquela que deixa o detrito e que se decompõe, é tida, sob a perspectiva
6
A morte é a melhor coisa: Eu digo, porque só a morte me torna livre, que ela é a melhor coisa
de todas as coisas. (tradução nossa)
Todas as Musas ISSN 2175-1277 Ano 04 Número 01 Jul-Dez 2012
243
de Silesius, como evidência da transponibilidade desse laço entre matéria e
espírito, entre corpo e alma.
Além disso, é essencial reforçar como o aporte histórico se destaca ao
explicar a razão pela qual a morte é um dos temas que estão no cerne da
literatura seiscentista alemã, já que essa temática não é exclusividade de
Silesius. Outros nomes do chamado Barroco alemão, tais como Daniel Casper
von Lohenstein (1635-1683), Andreas Gryphius (1616-1664), Friedrich von
Spee (1591-1635), Johann Christian Günther (1695-1723), também abordaram
esse verdadeiro fenômeno social proveniente de uma situação política de
intensa instabilidade e constante ameaça: a Guerra dos Trinta Anos foi capaz
de levar a Alemanha “[...] a um retrocesso de duzentos anos em seu
desenvolvimento” (MEHRING apud CARNEIRO, 2006, p. 163), o que, sem
dúvida, fragilizou a população alemã por muitas décadas a vir.
Bibliografia
CARNEIRO, H. Guerra dos Trinta Anos. In: MAGNOLI, D. História das
guerras. São Paulo: Contexto, 2006.
CARPEAUX, O. M. A literatura alemã. São Paulo: Nova Alexandria, 1994.
CORTEZ, C. Z.; RODRIGUES, M. H. Operadores de leitura da poesia. In:
BONICCI, T.; ZOLIN, L. O. Teoria literária: abordagens históricas e
tendências contemporâneas. Maringá: EDUEM, 2003, p. 59-92.
HANSEN, J. A. Barroco, neobarroco e outras ruínas. Teresa. Revista de
Literatura Brasileira. São Paulo: Depto. de Letras Clássicas e Vernáculas-
FFLCH-USP/Editora 34, v. 2, 2001, p. 10-66.
________. Vieira: Estilo do Céu, Xadrez de Palavras. Discurso.
Departamento de Filosofia da FFLCH da USP, São Paulo, v. 9, 1979.
HEDERER, E. (Herausg.) Deutsche Dichtung des Barock. München: Carl
Hanser, 1957.
HINTEN, G. Deutsche Barockliteratur. In: PLETICHA, H. (Herausg.) Deutsche
Geschichte: dreißigjährige Krieg und Absolutismus 1618-1740. Gütersloh:
Bertelsmann, 1993, p. 243-265.
Todas as Musas ISSN 2175-1277 Ano 04 Número 01 Jul-Dez 2012
244
KOHNEN, M. História da literatura germânica. Volume I. Salvador:
Mensageiro da Fé, 1960.
LOCK, C. Michel de Certeau: walking the via negativa. Paragraph. Edinburgh
University Press, v. 22 (2), 1999, p. 184-202.
MORAES, C. E. M. Epigrama: histórico e tradições. Revista de Letras.
UNESP. São Paulo, v. 33, 1993, p. 249-258.
PLATÃO. Fedão. Disponível em <http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/fedon.pdf>.
Acesso em 16 out. 2011.
RUMMEL, R. J. The conflict helix: principles and practices of interpersonal,
social, and international conflict and cooperation. In: _______. In the minds of
men: principles toward understanding and waging peace. Seoul: Sogang
University Press, 1984.
SILESIUS, A. Der cherubinische Wandersmann. München: Zeno, 1952.
WÖLFFLIN, H. Renascença e barroco. São Paulo: Perspectiva, 2010.

Más contenido relacionado

La actualidad más candente

Resenha Cap. XVI Conteúdo Psicológico do Livro Uma introdução à arquitetura,...
Resenha  Cap. XVI Conteúdo Psicológico do Livro Uma introdução à arquitetura,...Resenha  Cap. XVI Conteúdo Psicológico do Livro Uma introdução à arquitetura,...
Resenha Cap. XVI Conteúdo Psicológico do Livro Uma introdução à arquitetura,...Mateus Duarte
 
e-book "História e Apocalíptica" de Vicente Dobroruka
e-book "História e Apocalíptica" de Vicente Dobrorukae-book "História e Apocalíptica" de Vicente Dobroruka
e-book "História e Apocalíptica" de Vicente Dobrorukacesarmrios
 
Aristc3b3teles poetica-gulbenkian-dig-c
Aristc3b3teles poetica-gulbenkian-dig-cAristc3b3teles poetica-gulbenkian-dig-c
Aristc3b3teles poetica-gulbenkian-dig-cLeane Valente
 

La actualidad más candente (6)

Teoria da literatura_I_vol1
Teoria da literatura_I_vol1Teoria da literatura_I_vol1
Teoria da literatura_I_vol1
 
Resenha Cap. XVI Conteúdo Psicológico do Livro Uma introdução à arquitetura,...
Resenha  Cap. XVI Conteúdo Psicológico do Livro Uma introdução à arquitetura,...Resenha  Cap. XVI Conteúdo Psicológico do Livro Uma introdução à arquitetura,...
Resenha Cap. XVI Conteúdo Psicológico do Livro Uma introdução à arquitetura,...
 
e-book "História e Apocalíptica" de Vicente Dobroruka
e-book "História e Apocalíptica" de Vicente Dobrorukae-book "História e Apocalíptica" de Vicente Dobroruka
e-book "História e Apocalíptica" de Vicente Dobroruka
 
Aristc3b3teles poetica-gulbenkian-dig-c
Aristc3b3teles poetica-gulbenkian-dig-cAristc3b3teles poetica-gulbenkian-dig-c
Aristc3b3teles poetica-gulbenkian-dig-c
 
Aristóteles, poética - Gulbenkian
Aristóteles, poética - GulbenkianAristóteles, poética - Gulbenkian
Aristóteles, poética - Gulbenkian
 
Nietzsche e o_tragico_texto_de_apoio
Nietzsche e o_tragico_texto_de_apoioNietzsche e o_tragico_texto_de_apoio
Nietzsche e o_tragico_texto_de_apoio
 

Destacado

Kaspersky lab consumer_security_risks_survey_2015_eng
Kaspersky lab consumer_security_risks_survey_2015_engKaspersky lab consumer_security_risks_survey_2015_eng
Kaspersky lab consumer_security_risks_survey_2015_engEmisor Digital
 
Quien era quien soy quien sere
Quien era quien soy quien sereQuien era quien soy quien sere
Quien era quien soy quien seremanuela77
 
Clase 5 nacimiento y de ciclo de vida de las estrellas cs. int. i para blog
Clase 5 nacimiento y de ciclo de vida de las estrellas  cs. int. i para blogClase 5 nacimiento y de ciclo de vida de las estrellas  cs. int. i para blog
Clase 5 nacimiento y de ciclo de vida de las estrellas cs. int. i para blogRafael Caballero
 
New phytoscience presentation Faqeer Muhammad COntact us 03163092321
New phytoscience presentation Faqeer Muhammad COntact us 03163092321New phytoscience presentation Faqeer Muhammad COntact us 03163092321
New phytoscience presentation Faqeer Muhammad COntact us 03163092321Faqeer Muhammad
 
Ciber Educativo
Ciber EducativoCiber Educativo
Ciber Educativoninna_z
 
Brand Aid архитектура брендов
Brand Aid архитектура брендовBrand Aid архитектура брендов
Brand Aid архитектура брендовbrandaid
 
Analisis peperiksaan pertengahan tahun 2016 (2)
Analisis peperiksaan pertengahan tahun 2016 (2)Analisis peperiksaan pertengahan tahun 2016 (2)
Analisis peperiksaan pertengahan tahun 2016 (2)Go 4 Construction Jobs
 
Innovative lesson plan
Innovative lesson planInnovative lesson plan
Innovative lesson planmayasneha
 
Little Seeds in Big Hands
Little Seeds in Big HandsLittle Seeds in Big Hands
Little Seeds in Big HandsPacific Church
 

Destacado (20)

Radioresepsjonen
RadioresepsjonenRadioresepsjonen
Radioresepsjonen
 
Josip Plecnik
Josip  PlecnikJosip  Plecnik
Josip Plecnik
 
Kaspersky lab consumer_security_risks_survey_2015_eng
Kaspersky lab consumer_security_risks_survey_2015_engKaspersky lab consumer_security_risks_survey_2015_eng
Kaspersky lab consumer_security_risks_survey_2015_eng
 
Quien era quien soy quien sere
Quien era quien soy quien sereQuien era quien soy quien sere
Quien era quien soy quien sere
 
Gelas Herbal Songga
Gelas Herbal SonggaGelas Herbal Songga
Gelas Herbal Songga
 
BMC
BMCBMC
BMC
 
Rehabilitación energética del barrio de Lourdes
Rehabilitación energética del barrio de LourdesRehabilitación energética del barrio de Lourdes
Rehabilitación energética del barrio de Lourdes
 
Teste Aula3
Teste Aula3Teste Aula3
Teste Aula3
 
Clase 5 nacimiento y de ciclo de vida de las estrellas cs. int. i para blog
Clase 5 nacimiento y de ciclo de vida de las estrellas  cs. int. i para blogClase 5 nacimiento y de ciclo de vida de las estrellas  cs. int. i para blog
Clase 5 nacimiento y de ciclo de vida de las estrellas cs. int. i para blog
 
New phytoscience presentation Faqeer Muhammad COntact us 03163092321
New phytoscience presentation Faqeer Muhammad COntact us 03163092321New phytoscience presentation Faqeer Muhammad COntact us 03163092321
New phytoscience presentation Faqeer Muhammad COntact us 03163092321
 
Ciber Educativo
Ciber EducativoCiber Educativo
Ciber Educativo
 
Brand Aid архитектура брендов
Brand Aid архитектура брендовBrand Aid архитектура брендов
Brand Aid архитектура брендов
 
Dynamics NAV CRM module
Dynamics NAV CRM moduleDynamics NAV CRM module
Dynamics NAV CRM module
 
1 normen en waarden
1 normen en waarden1 normen en waarden
1 normen en waarden
 
Data registrasi sry wulandary
Data registrasi sry wulandaryData registrasi sry wulandary
Data registrasi sry wulandary
 
Lesson Plan
Lesson Plan Lesson Plan
Lesson Plan
 
Analisis peperiksaan pertengahan tahun 2016 (2)
Analisis peperiksaan pertengahan tahun 2016 (2)Analisis peperiksaan pertengahan tahun 2016 (2)
Analisis peperiksaan pertengahan tahun 2016 (2)
 
Innovative lesson plan
Innovative lesson planInnovative lesson plan
Innovative lesson plan
 
Little Seeds in Big Hands
Little Seeds in Big HandsLittle Seeds in Big Hands
Little Seeds in Big Hands
 
Regna SAP CRM Enerji Cozumu
Regna SAP CRM Enerji CozumuRegna SAP CRM Enerji Cozumu
Regna SAP CRM Enerji Cozumu
 

Similar a 07 darlan wilma

Seminário de língua portuguesa.rtf
Seminário de língua portuguesa.rtfSeminário de língua portuguesa.rtf
Seminário de língua portuguesa.rtfanigoncalves
 
Barroco gregório de matos
Barroco gregório de matosBarroco gregório de matos
Barroco gregório de matosCrislayde Sousa
 
13650916 literatura-aula-05-barroco-em-portugal-e-literatura-informativa
13650916 literatura-aula-05-barroco-em-portugal-e-literatura-informativa13650916 literatura-aula-05-barroco-em-portugal-e-literatura-informativa
13650916 literatura-aula-05-barroco-em-portugal-e-literatura-informativaAlecio Marcelo Vaz Vaz
 
Weber_A_Etica_Protestante_e_o_Espirito.pdf
Weber_A_Etica_Protestante_e_o_Espirito.pdfWeber_A_Etica_Protestante_e_o_Espirito.pdf
Weber_A_Etica_Protestante_e_o_Espirito.pdfIgorSchirmer
 
A-ETICA-PROTESTANTE-E-O-ESPIRITO-DO-CAPITALISMO.pdf
A-ETICA-PROTESTANTE-E-O-ESPIRITO-DO-CAPITALISMO.pdfA-ETICA-PROTESTANTE-E-O-ESPIRITO-DO-CAPITALISMO.pdf
A-ETICA-PROTESTANTE-E-O-ESPIRITO-DO-CAPITALISMO.pdfjqdeamf
 
Destaques Enciclopédia 23-02-2015 a 28-02-2015
Destaques Enciclopédia 23-02-2015 a 28-02-2015Destaques Enciclopédia 23-02-2015 a 28-02-2015
Destaques Enciclopédia 23-02-2015 a 28-02-2015Umberto Neves
 
Renascimento e Humanismo Definições e Curiosidades Ocultismo na Renascença
Renascimento e Humanismo Definições e Curiosidades Ocultismo na RenascençaRenascimento e Humanismo Definições e Curiosidades Ocultismo na Renascença
Renascimento e Humanismo Definições e Curiosidades Ocultismo na RenascençaCRAFTA
 
O barroco português
O barroco portuguêsO barroco português
O barroco portuguêsgean caboclo
 
“ESCATOLOGIA: BREVE TRATADO TEOLÓGICO - PASTORAL” Fr. Clodovis M. Boff, OSM
“ESCATOLOGIA: BREVE TRATADO TEOLÓGICO - PASTORAL” Fr. Clodovis M. Boff, OSM“ESCATOLOGIA: BREVE TRATADO TEOLÓGICO - PASTORAL” Fr. Clodovis M. Boff, OSM
“ESCATOLOGIA: BREVE TRATADO TEOLÓGICO - PASTORAL” Fr. Clodovis M. Boff, OSMBernadetecebs .
 

Similar a 07 darlan wilma (20)

Movimentos Literários
Movimentos LiteráriosMovimentos Literários
Movimentos Literários
 
Seminário de língua portuguesa.rtf
Seminário de língua portuguesa.rtfSeminário de língua portuguesa.rtf
Seminário de língua portuguesa.rtf
 
Barroco
BarrocoBarroco
Barroco
 
Barroco gregório de matos
Barroco gregório de matosBarroco gregório de matos
Barroco gregório de matos
 
Seiscentismo.ppt
Seiscentismo.pptSeiscentismo.ppt
Seiscentismo.ppt
 
Barroco Outubro.ppt
Barroco Outubro.pptBarroco Outubro.ppt
Barroco Outubro.ppt
 
Seiscentismo
SeiscentismoSeiscentismo
Seiscentismo
 
Seiscentismo.ppt
Seiscentismo.pptSeiscentismo.ppt
Seiscentismo.ppt
 
13650916 literatura-aula-05-barroco-em-portugal-e-literatura-informativa
13650916 literatura-aula-05-barroco-em-portugal-e-literatura-informativa13650916 literatura-aula-05-barroco-em-portugal-e-literatura-informativa
13650916 literatura-aula-05-barroco-em-portugal-e-literatura-informativa
 
Weber_A_Etica_Protestante_e_o_Espirito.pdf
Weber_A_Etica_Protestante_e_o_Espirito.pdfWeber_A_Etica_Protestante_e_o_Espirito.pdf
Weber_A_Etica_Protestante_e_o_Espirito.pdf
 
A-ETICA-PROTESTANTE-E-O-ESPIRITO-DO-CAPITALISMO.pdf
A-ETICA-PROTESTANTE-E-O-ESPIRITO-DO-CAPITALISMO.pdfA-ETICA-PROTESTANTE-E-O-ESPIRITO-DO-CAPITALISMO.pdf
A-ETICA-PROTESTANTE-E-O-ESPIRITO-DO-CAPITALISMO.pdf
 
artigo-6-a-10.pdf
artigo-6-a-10.pdfartigo-6-a-10.pdf
artigo-6-a-10.pdf
 
Destaques Enciclopédia 23-02-2015 a 28-02-2015
Destaques Enciclopédia 23-02-2015 a 28-02-2015Destaques Enciclopédia 23-02-2015 a 28-02-2015
Destaques Enciclopédia 23-02-2015 a 28-02-2015
 
Renascimento e Humanismo Definições e Curiosidades Ocultismo na Renascença
Renascimento e Humanismo Definições e Curiosidades Ocultismo na RenascençaRenascimento e Humanismo Definições e Curiosidades Ocultismo na Renascença
Renascimento e Humanismo Definições e Curiosidades Ocultismo na Renascença
 
BLAISE PASCAL: DESEJO E DIVERTIMENTO COMO FUGA DE SI MESMO NA ANTROPOLOGIA PA...
BLAISE PASCAL: DESEJO E DIVERTIMENTO COMO FUGA DE SI MESMO NA ANTROPOLOGIA PA...BLAISE PASCAL: DESEJO E DIVERTIMENTO COMO FUGA DE SI MESMO NA ANTROPOLOGIA PA...
BLAISE PASCAL: DESEJO E DIVERTIMENTO COMO FUGA DE SI MESMO NA ANTROPOLOGIA PA...
 
O barroco português
O barroco portuguêsO barroco português
O barroco português
 
Aula classicismo
Aula classicismoAula classicismo
Aula classicismo
 
Barroco | Literatura | Profª Luciana Tavares
Barroco | Literatura | Profª Luciana TavaresBarroco | Literatura | Profª Luciana Tavares
Barroco | Literatura | Profª Luciana Tavares
 
Barroco
BarrocoBarroco
Barroco
 
“ESCATOLOGIA: BREVE TRATADO TEOLÓGICO - PASTORAL” Fr. Clodovis M. Boff, OSM
“ESCATOLOGIA: BREVE TRATADO TEOLÓGICO - PASTORAL” Fr. Clodovis M. Boff, OSM“ESCATOLOGIA: BREVE TRATADO TEOLÓGICO - PASTORAL” Fr. Clodovis M. Boff, OSM
“ESCATOLOGIA: BREVE TRATADO TEOLÓGICO - PASTORAL” Fr. Clodovis M. Boff, OSM
 

Más de Januário Esteves (20)

O essencial sobre bernardim ribeiro
O essencial sobre bernardim ribeiroO essencial sobre bernardim ribeiro
O essencial sobre bernardim ribeiro
 
I1 a07alcroeweylferna
I1 a07alcroeweylfernaI1 a07alcroeweylferna
I1 a07alcroeweylferna
 
As quadrasdopovo n05
As quadrasdopovo n05As quadrasdopovo n05
As quadrasdopovo n05
 
Presença e ausenciua do divino
Presença e ausenciua do divinoPresença e ausenciua do divino
Presença e ausenciua do divino
 
1223290786 u1mkk3no2zu36nc6
1223290786 u1mkk3no2zu36nc61223290786 u1mkk3no2zu36nc6
1223290786 u1mkk3no2zu36nc6
 
433598
433598433598
433598
 
248255 334309-1-pb
248255 334309-1-pb248255 334309-1-pb
248255 334309-1-pb
 
10430
1043010430
10430
 
7756
77567756
7756
 
6177
61776177
6177
 
I1 a07alcroeweylferna
I1 a07alcroeweylfernaI1 a07alcroeweylferna
I1 a07alcroeweylferna
 
Na esteira da liberdade
Na esteira da liberdadeNa esteira da liberdade
Na esteira da liberdade
 
Urbe 4768
Urbe 4768Urbe 4768
Urbe 4768
 
Tzara d1
Tzara d1Tzara d1
Tzara d1
 
Binary overview
Binary overviewBinary overview
Binary overview
 
Binary numbers-7-12-2011
Binary numbers-7-12-2011Binary numbers-7-12-2011
Binary numbers-7-12-2011
 
Appendix
AppendixAppendix
Appendix
 
Kpasaesivolii
KpasaesivoliiKpasaesivolii
Kpasaesivolii
 
V30n4a07
V30n4a07V30n4a07
V30n4a07
 
Vol iii n1_213-228
Vol iii n1_213-228Vol iii n1_213-228
Vol iii n1_213-228
 

Último

Questões de Língua Portuguesa - gincana da LP
Questões de Língua Portuguesa - gincana da LPQuestões de Língua Portuguesa - gincana da LP
Questões de Língua Portuguesa - gincana da LPEli Gonçalves
 
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024azulassessoria9
 
Quiz | Dia da Europa 2024 (comemoração)
Quiz | Dia da Europa 2024  (comemoração)Quiz | Dia da Europa 2024  (comemoração)
Quiz | Dia da Europa 2024 (comemoração)Centro Jacques Delors
 
MESTRES DA CULTURA DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
MESTRES DA CULTURA DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfMESTRES DA CULTURA DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
MESTRES DA CULTURA DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfprofesfrancleite
 
AULÃO de Língua Portuguesa para o Saepe 2022
AULÃO de Língua Portuguesa para o Saepe 2022AULÃO de Língua Portuguesa para o Saepe 2022
AULÃO de Língua Portuguesa para o Saepe 2022LeandroSilva126216
 
Considerando as pesquisas de Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) os bebês até an...
Considerando as pesquisas de Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) os bebês até an...Considerando as pesquisas de Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) os bebês até an...
Considerando as pesquisas de Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) os bebês até an...azulassessoria9
 
O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...
O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...
O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...azulassessoria9
 
República Velha (República da Espada e Oligárquica)-Sala de Aula.pdf
República Velha (República da Espada e Oligárquica)-Sala de Aula.pdfRepública Velha (República da Espada e Oligárquica)-Sala de Aula.pdf
República Velha (República da Espada e Oligárquica)-Sala de Aula.pdfLidianeLill2
 
O desenvolvimento é um conceito mais amplo, pode ter um contexto biológico ou...
O desenvolvimento é um conceito mais amplo, pode ter um contexto biológico ou...O desenvolvimento é um conceito mais amplo, pode ter um contexto biológico ou...
O desenvolvimento é um conceito mais amplo, pode ter um contexto biológico ou...azulassessoria9
 
Aprender as diferentes formas de classificar as habilidades motoras é de extr...
Aprender as diferentes formas de classificar as habilidades motoras é de extr...Aprender as diferentes formas de classificar as habilidades motoras é de extr...
Aprender as diferentes formas de classificar as habilidades motoras é de extr...azulassessoria9
 
E a chuva ... (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...
E a chuva ...  (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...E a chuva ...  (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...
E a chuva ... (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...andreiavys
 
Pesquisa Ação René Barbier Livro acadêmico
Pesquisa Ação René Barbier Livro  acadêmicoPesquisa Ação René Barbier Livro  acadêmico
Pesquisa Ação René Barbier Livro acadêmicolourivalcaburite
 
M0 Atendimento – Definição, Importância .pptx
M0 Atendimento – Definição, Importância .pptxM0 Atendimento – Definição, Importância .pptx
M0 Atendimento – Definição, Importância .pptxJustinoTeixeira1
 
apostila filosofia 1 ano 1s (1).pdf 1 ANO DO ENSINO MEDIO . CONCEITOSE CARAC...
apostila filosofia 1 ano  1s (1).pdf 1 ANO DO ENSINO MEDIO . CONCEITOSE CARAC...apostila filosofia 1 ano  1s (1).pdf 1 ANO DO ENSINO MEDIO . CONCEITOSE CARAC...
apostila filosofia 1 ano 1s (1).pdf 1 ANO DO ENSINO MEDIO . CONCEITOSE CARAC...SileideDaSilvaNascim
 
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptxCartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptxMarcosLemes28
 
Falando de Física Quântica apresentação introd
Falando de Física Quântica apresentação introdFalando de Física Quântica apresentação introd
Falando de Física Quântica apresentação introdLeonardoDeOliveiraLu2
 
Apresentação | Dia da Europa 2024 - Celebremos a União Europeia!
Apresentação | Dia da Europa 2024 - Celebremos a União Europeia!Apresentação | Dia da Europa 2024 - Celebremos a União Europeia!
Apresentação | Dia da Europa 2024 - Celebremos a União Europeia!Centro Jacques Delors
 
Monoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptx
Monoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptxMonoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptx
Monoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptxFlviaGomes64
 
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 2)
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 2)Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 2)
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 2)Centro Jacques Delors
 

Último (20)

Questões de Língua Portuguesa - gincana da LP
Questões de Língua Portuguesa - gincana da LPQuestões de Língua Portuguesa - gincana da LP
Questões de Língua Portuguesa - gincana da LP
 
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
 
Quiz | Dia da Europa 2024 (comemoração)
Quiz | Dia da Europa 2024  (comemoração)Quiz | Dia da Europa 2024  (comemoração)
Quiz | Dia da Europa 2024 (comemoração)
 
MESTRES DA CULTURA DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
MESTRES DA CULTURA DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfMESTRES DA CULTURA DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
MESTRES DA CULTURA DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
 
AULÃO de Língua Portuguesa para o Saepe 2022
AULÃO de Língua Portuguesa para o Saepe 2022AULÃO de Língua Portuguesa para o Saepe 2022
AULÃO de Língua Portuguesa para o Saepe 2022
 
Considerando as pesquisas de Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) os bebês até an...
Considerando as pesquisas de Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) os bebês até an...Considerando as pesquisas de Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) os bebês até an...
Considerando as pesquisas de Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) os bebês até an...
 
O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...
O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...
O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...
 
República Velha (República da Espada e Oligárquica)-Sala de Aula.pdf
República Velha (República da Espada e Oligárquica)-Sala de Aula.pdfRepública Velha (República da Espada e Oligárquica)-Sala de Aula.pdf
República Velha (República da Espada e Oligárquica)-Sala de Aula.pdf
 
O desenvolvimento é um conceito mais amplo, pode ter um contexto biológico ou...
O desenvolvimento é um conceito mais amplo, pode ter um contexto biológico ou...O desenvolvimento é um conceito mais amplo, pode ter um contexto biológico ou...
O desenvolvimento é um conceito mais amplo, pode ter um contexto biológico ou...
 
Aprender as diferentes formas de classificar as habilidades motoras é de extr...
Aprender as diferentes formas de classificar as habilidades motoras é de extr...Aprender as diferentes formas de classificar as habilidades motoras é de extr...
Aprender as diferentes formas de classificar as habilidades motoras é de extr...
 
E a chuva ... (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...
E a chuva ...  (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...E a chuva ...  (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...
E a chuva ... (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...
 
Pesquisa Ação René Barbier Livro acadêmico
Pesquisa Ação René Barbier Livro  acadêmicoPesquisa Ação René Barbier Livro  acadêmico
Pesquisa Ação René Barbier Livro acadêmico
 
M0 Atendimento – Definição, Importância .pptx
M0 Atendimento – Definição, Importância .pptxM0 Atendimento – Definição, Importância .pptx
M0 Atendimento – Definição, Importância .pptx
 
apostila filosofia 1 ano 1s (1).pdf 1 ANO DO ENSINO MEDIO . CONCEITOSE CARAC...
apostila filosofia 1 ano  1s (1).pdf 1 ANO DO ENSINO MEDIO . CONCEITOSE CARAC...apostila filosofia 1 ano  1s (1).pdf 1 ANO DO ENSINO MEDIO . CONCEITOSE CARAC...
apostila filosofia 1 ano 1s (1).pdf 1 ANO DO ENSINO MEDIO . CONCEITOSE CARAC...
 
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptxCartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptx
 
Falando de Física Quântica apresentação introd
Falando de Física Quântica apresentação introdFalando de Física Quântica apresentação introd
Falando de Física Quântica apresentação introd
 
Apresentação | Dia da Europa 2024 - Celebremos a União Europeia!
Apresentação | Dia da Europa 2024 - Celebremos a União Europeia!Apresentação | Dia da Europa 2024 - Celebremos a União Europeia!
Apresentação | Dia da Europa 2024 - Celebremos a União Europeia!
 
Novena de Pentecostes com textos de São João Eudes
Novena de Pentecostes com textos de São João EudesNovena de Pentecostes com textos de São João Eudes
Novena de Pentecostes com textos de São João Eudes
 
Monoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptx
Monoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptxMonoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptx
Monoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptx
 
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 2)
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 2)Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 2)
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 2)
 

07 darlan wilma

  • 1. Mito e concretude: a morte na poesia de Angelus Silesius Myth and concreteness: death in Angelus Silesius’s poetry Darlan Xavier Nascimento1 Wilma Patricia Marzari Dinardo Maas (Orient.)2 Resumo: Este trabalho pretende levantar um panorama geral da poesia do alemão Angelus Silesius (1624-1677) no que diz respeito à discussão sobre a temática da morte. A fim de postular algumas hipóteses sobre o significado da morte no período histórico em que o poeta viveu, comentaremos alguns poemas, identificando pistas que retomem a moral da época. Palavras-chave: Angelus Silesius, morte, Cristianismo, século XVII. Abstract: This study intends to get a general overview on the German Angelus Silesius (1624- 1677)’s poetry about the way he discusses death. For the purpose of postulating some hypotheses about the meaning of death in the historical period in which the poet lived, we will comment some poems by identifying clues which reclaim the period’s moral. Keywords: Angelus Silesius, death, Christianity, 17th century. O evangelista Mateus relata, na Sagrada Escritura, um dos maiores acontecimentos da história cristã, em que a ocasião de festividade deu ao povo o “direito” de libertar um dos presos, fadando os demais à morte sofrida. No caso em questão, a liberdade foi restituída a Barrabás, anteriormente incriminado por desobediência e homicídio, ao passo que o Messias dos cristãos passou suas últimas horas em meio à humilhação e às chagas, apesar de o texto bíblico reforçar a condição de inocência de Cristo. A condenação de Jesus à cruz é tomada como uma atitude injusta, digna de compensação por parte do crente. A morte, além de evento inevitável para a humanidade, é um dos grandes mistérios da essência humana. Discute-se muito acerca do que se passa no pós-vida, e o principal eixo guiador dessa noção é a crença. Para o cristão, de maneira geral, as atitudes em vida refletem o veredicto do juízo final, 1 Graduando do 3º ano do curso de Letras (Português/Alemão) pela Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara (UNESP). Bolsista de Iniciação Científica da FAPESP. 2 Professora assistente doutora do Departamento de Letras Modernas da Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara (UNESP), da área de Língua e Literatura Alemãs.
  • 2. Todas as Musas ISSN 2175-1277 Ano 04 Número 01 Jul-Dez 2012 235 pois a prática de “más ações” obsta a entrada no Paraíso divino. A crucificação de Cristo vai um pouco além da noção básica de morte, uma vez que é sustentada por um arcabouço moral e ideológico mais evidente: a fim de salvar a humanidade, Jesus se entrega. Cerca de dezessete séculos mais tarde, a Europa vive uma grande simultaneidade de conflitos de natureza religiosa. Colocamos ênfase, aqui, nas regiões da Boêmia e da Silésia, que hoje correspondem à República Tcheca e a determinadas áreas da Polônia e da Alemanha. As altercações se embasavam na disputa do poder político: por pelo menos dois anos e meio, rebeldes da nobreza protestante e o governo apoiado pela Igreja Católica disputaram a coroa, dando início a inúmeras e sangrentas batalhas. Tendo em vista que esses motins aconteceram ao mesmo tempo, mas em várias regiões europeias, originou-se o que conhecemos hoje como Guerra dos Trinta Anos (1618-1648). O cientista político Rudolph Rummel (1984, p. 57), especialista em violência coletiva, afirma que mais de onze milhões de pessoas – entre civis e combatentes – morreram nesta situação histórica. Assim, a morte (tanto por conta da guerra em si, quanto pela fome indiretamente provocada pela destruição das regiões agrícolas) foi, no século XVII, um fenômeno bastante presente. Em 1648, efetivou-se a Paz da Vestfália, sancionando o fim da Guerra dos Trinta Anos. As perturbações políticas, entretanto, persistiram, instaurando um espírito de vulnerabilidade à época. Restavam, ao povo, poucas opções para tentar se salvar, e o principal desses métodos era, de fato, a fé. A filosofia expressa através de documentos seiscentistas indica que a vida, em tal concepção, era transitória, passageira, preparatória para a vida eterna depois da morte. Em suma, o estabelecimento do mito da vida eterna não passa de meio de controle da Igreja enquanto instituição hegemônica nessa sociedade, sacudida até as migalhas pela contenda da religião e maculada profundamente pelo sangue de milhões de fiéis. A religião é uma das escusas para a imposição de determinados preceitos morais, a fim de atender aos interesses das camadas superiores. As artes, neste sentido, também eram subjugadas a serviço do estabelecimento da moral.
  • 3. Todas as Musas ISSN 2175-1277 Ano 04 Número 01 Jul-Dez 2012 236 No presente artigo, pretendemos identificar alguns traços que indiquem essas características na poesia de Angelus Silesius (1624-1677), poeta alemão natural da Silésia (atual cidade de Breslau, na Polônia) e cujo nome de batismo era Johannes Scheffler. Luterano de nascimento e católico por opção, converteu-se ao Catolicismo em 1653 e adotou o pseudônimo Angelus Silesius (Anjo/Mensageiro da Silésia). Quatro anos mais tarde, publicou Geistreiche Sinn- und Schlußreime (“Rimas espirituais: gnômicas e epigramáticas que conduzem à divina contemplação”), uma série de pensamentos de caráter místico. Posteriormente, com o acréscimo de novos poemas, formou-se Der cherubinische Wandersmann (“O peregrino querubínico”), publicado em 1675, que “deu a glória a Silesius [por meio de] pensamentos profundos e versos lidimamente poéticos” (KOHNEN, 1960, p. 345-346). À época em questão, as tendências literárias apontavam uma poesia mais voltada para o espírito, tema que foi explorado por quase todos os literatos do Barroco, como afirma Gerhard Hinten (1993, p. 21). Mansueto Kohnen (1960, p. 336) defende que a arte do século XVII tenha sido a última, numa perspectiva histórica da estética, a configurar um estilo quase uniforme (nos moldes formais e nos princípios básicos, pelo menos) em todo o mundo. É preciso, aqui, fazer uma ressalva fundamental para o estudo da arte seiscentista: essa visão de que as produções artísticas da época tenham sido homogêneas é duramente refutada por uma crítica que se estabeleceu no Brasil no fim do século XX. Para João Adolfo Hansen (2001, p. 18), uma comparação entre as manifestações artísticas do século XVII evidenciaria pluralidade de expressões estéticas, seja em um cotejo entre países, seja entre autores, seja entre obras do mesmo autor. Isso justificaria uma desfavorável apreciação em relação ao termo “barroco” como “estilo do século XVII”. O objetivo de tal crítica não é negar o termo “barroco”, mas questionar seu emprego enquanto dada denominação estética uniforme. A principal fundamentação em que se assenta essa proposição de relativização da palavra é o livro Renaissance und Barock, de Heinrich Wölfflin, publicado em 1888, em que o autor cunha o termo pela primeira vez neste aspecto. Para Wölfflin (2010, p. 17), há uma cisão entre
  • 4. Todas as Musas ISSN 2175-1277 Ano 04 Número 01 Jul-Dez 2012 237 barroco e clássico sustentada por cinco pilares, de tal sorte que o historiador da arte suíço identifica cinco características da estética barroca: pictorismo, visão em profundidade, forma aberta, unificação das partes a um todo e clareza relativa. De fato, tendo em vista a literatura alemã, essa pluralidade de expressões fica mais evidente. A maior parte da produção literária na Alemanha durante o período tinha vínculo com o Protestantismo, o que ocorreu peculiarmente em poucas regiões da Europa. Na Península Ibérica, por exemplo, a arte do século XVII tinha forte ligação com o Catolicismo. Outra diferença essencial foi deslindada por Otto Maria Carpeaux (1994, p. 33), que faz menção a uma mentalidade barroca especificamente alemã, que difere do que se viu no barroco latino, na Áustria católica, na Inglaterra e na Holanda, por exemplo, devido à “[...] estreiteza do ambiente empobrecido, pela brutalidade dos costumes e pela íntima insegurança religiosa” (CARPEAUX, 1994, p. 33). Além disso, Carpeaux define o homem seiscentista como mártir, em virtude da situação de fragilidade extrema não somente no plano socioeconômico, mas também no religioso-ideológico. Todavia, a despeito da apontada heterogeneidade nas produções dessa época, João Adolfo Hansen (1979, p. 178) alega que nomear, no modo alegórico “barroco”, consiste em introduzir o luto e a morte em todos os aspectos. A título de exemplificação, apoiando-nos na proposição de Benjamin, veremos o tratamento que Angelus Silesius dá a essa temática. O livro Der cherubinische Wandersmann é composto por 1675 poemas, sobretudo dísticos, mas para iniciar algumas considerações acerca do assunto, levemos em consideração a seguinte quadra da mesma obra: An den Kreuzfliehenden Ach Kind! ists dir denn auch zurzeit noch nicht bewußt, Daß man nicht immer liegt an unsres Herren Brust? Wen er am liebsten hat, der muß in Kreuz und Pein, In Marter, Angst und Tod der Nächste bei ihm sein.3 3 Aos que fogem da cruz: Oh criança! tu não estás ainda, neste momento, consciente / De que Nosso Senhor nem sempre traz-nos a todos da mesma maneira no coração? / A quem ele ama
  • 5. Todas as Musas ISSN 2175-1277 Ano 04 Número 01 Jul-Dez 2012 238 (SILESIUS, 1952, p. 80) A ideia basilar do poema é a de que o sofrimento não é causado por Cristo, mas é uma etapa necessária para se atingir a felicidade na vida eterna, pois somente quem passa pelas situações aflitivas denominadas acima (martírio, morte etc.) é que merece estar ao lado dele, no reino dos Céus. Entre as “desventuradas” condições para a salvação do cristão, salta-nos aos olhos a imagem da cruz, pois ela carrega a simbologia do suplício e do padecimento, motivada pelo evento da Paixão de Cristo. Ademais, a escolha lexical é essencial para o poema, pois, empregando apenas cinco substantivos, o poeta conseguiu resumir o trajeto cronológico da morte de Jesus. Os termos Kreuz e Pein referem-se, simultaneamente, à cruz em si e à humilhação e ao constrangimento oriundos do fato. O martírio (Marter), reforçado na caminhada até a colina do Calvário, gera também a sensação de medo (Angst) devido ao desamparo. Na Bíblia, isso se reflete na famosa frase hebraica “Eloí, Eloí, lamá sabactâni?”4 . O que se segue é a morte (Tod) efetivada, que o leva para perto de Deus (Nächste bei ihm). Não existe consenso exato sobre gênero na poesia de Angelus Silesius. Apesar disso, não é infundado inferir que Der cherubinische Wandersmann seja uma compilação de epigramas. Esse tipo de poema remonta aos gregos e aos latinos e é uma inscrição caracterizada, principalmente, pela concisão. Isso ocorre devido aos procedimentos literários tomados como base para a produção de textos, isto é, a concepção seiscentista de literariedade (na Alemanha, ao menos) ganha substância reforçada com a noção de originalidade. Ao artista do século XVII importa muito mais apropriar-se daquilo que já foi explorado e ir além, superar, acrescentando algo que seja específico de seu fazer artístico. Além disso, outra característica fundamental da construção do epigrama é que há a “[...] emissão de um juízo [...] por parte do autor” (MORAES, 1993, p. 251). A isso, somam-se na poesia de Silesius algumas postulações vindas da prática mística. Não é à toa que o epíteto dado ao escritor é “o poeta místico do Barroco”. Em “An den mais, este deve, na cruz e na agonia, / No martírio, medo e dor, estar junto a Ele. (tradução nossa) 4 Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?
  • 6. Todas as Musas ISSN 2175-1277 Ano 04 Número 01 Jul-Dez 2012 239 Kreuzfliehenden”, essa questão fica clara, pois, partindo do princípio de que o misticismo busca meios alternativos para um encontro espiritual direto com a entidade teológica superior, percebemos que algumas nuanças do poema indicam um feitio próprio dos místicos. Deve-se, nesta perspectiva, sofrer como Cristo sofreu, a fim de que se mereça também estar nos Céus, depois da morte, mas também como meio de compensação ao padecimento em Gólgota, o que se relaciona sensivelmente a um autossalvacionismo. Pode-se dizer que Angelus Silesius levou tal princípio a fundo, pois se por um lado sua mística está aliada ao apego à tradição, em sua vida pessoal imperou o desapego material e carnal. Em 9 de julho de 1677, após dolorosos sofrimentos físicos, Silesius morreu nas instalações dos Cavaleiros da Cruz de São Mateus, na capital da Silésia. Este Deus sensível, sensorial (sinnlich), no sentido de que aparenta ter capacidade de experimentar impressões emocionais que são fundamentalmente humanas, é reforçado por mais uma seleção lexical, que é o uso de Herren Brust (literalmente, “peito do Senhor”), ao passo que o termo prototípico a ser usado em tal construção seria o coração (Herz). Essa escolha é motivada, evidentemente, também pelo esquema de rimas, em que Brust faz par com bewußt. O sintagma nicht bewußt (“não consciente”), por sua vez, assim como o termo Kind (criança) indicam a existência de uma hierarquia de discursos. O livro do qual o poema foi extraído é Der cherubinische Wandersmann, cujo título foi traduzido como “O Peregrino Querubínico”. O Wandersmann, historicamente, é a pessoa que caminha em peregrinação, no sentido primeiro do termo. Charles Lock (1999, p. 184) fez um estudo sobre a figura do Wandersmann, evidenciando a autoridade espiritual ao ato de caminhar e, principalmente, como tal arquétipo é essencialmente terreno, pois não se pode caminhar em lugares elevados, seja o topo de uma montanha ou o alto de um edifício urbano. Resumindo, existem, neste modelo, três planos possíveis: o divino, o do peregrino e o terreno. Os dois últimos estabelecem-se materialmente na terra, mas ao caminhante divino é dado o prestígio. O título da obra é, mais uma vez, ênfase à oposição divino/terreno, pois o adjetivo
  • 7. Todas as Musas ISSN 2175-1277 Ano 04 Número 01 Jul-Dez 2012 240 cherubinisch liga-se a uma das mais conhecidas categorias da hierarquia angelical, afirmada por São Tomás de Aquino ser a categoria a qual pertencia o Diabo antes de cair do céu. Desse modo, é outorgado ao eu-lírico, suposto Wandersmann, o direito de se dirigir ao homem com autoridade, posto que o denomina Kind (criança, filho) e trata de sua ausência de consciência (Unbewusstheit), mas, sem dúvida, sua posição ainda fica abaixo de Deus, do Senhor (Herr). Por meio do poema, percebe-se que morte e sofrimento eram noções intimamente ligadas. Veremos essa questão em outro poema, abordada sob um ponto de vista ligeiramente diferente, mas de mesma natureza, na prática. Silesius faz uma crítica àqueles que levam uma vida de ostentação material. Poucos anos antes da morte, o poeta decidiu se desapegar de suas posses e viver em pobreza absoluta. A seguir, transcrevemos a quadra, que está presente na primeira parte de Der cherubinische Wandersmann: Die ewige Ruhestätt Es mag ein andrer sich um sein Begräbnis kränken Und seinen Madensack mit stolzem Bau bedenken, Ich sorge nicht dafür: mein Grab, mein Fels und Schrein, In dem ich ewig ruh, solls Herze Jesu sein5 (SILESIUS, 1952, p. 7) Em aspectos formais, todos os poemas de Der cherubinische Wandersmann apresentam características em comum. O verso do poema apresenta doze sílabas e é possível notar um corte métrico e sintático logo após a sexta sílaba (sich / um, Madensack / mit, dafür / mein, ruh / solls). Há, também, uma preferência pelas monossílabas, que constituem quase metade das palavras do quarteto. O emprego desses termos é uma forma de configurar a cesura sintática no poema, ao programar a pausa a ser feita justamente na posição escolhida pelo autor. As rimas também estão sempre presentes, paralelamente. Nas quadras supracitadas, o esquema rímico é aabb, indicando a dualidade e, em alguns casos, a oposição. Fica clara a preocupação do poeta 5 O local de descanso eterno: Pode um outro se atormentar pelo seu túmulo, / E encerrar sua carcaça em construção altiva. / Eu não me preocupo: meu túmulo, minha rocha e arca, / Em que descansarei eternamente, devem ser o coração de Jesus. (tradução nossa)
  • 8. Todas as Musas ISSN 2175-1277 Ano 04 Número 01 Jul-Dez 2012 241 com o estabelecimento de um padrão silábico, por meio de algumas adaptações métricas. Assim, de modo a acomodar as palavras para que se totalizem doze sílabas no verso, como é o “protocolo”, o autor usa recursos de versificação como a paragoge, em que há o aumento de uma sílaba no fim de uma palavra. Esse fenômeno ocorre em Herze, dissílaba, por exemplo, foneticamente construída a partir de Herz, monossílaba. Já quanto ao conteúdo, percebemos, à primeira vista, uma crítica à vida regada a pompa e vaidade material. A morte se converte, para o poeta, em meio de igualização do homem, do qual ninguém escapa. Tanto a elite, possuidora do stolzer Bau (construção altiva, soberba), quanto os mais desassistidos, habituados a ter somente Grab, Fels e Schrein (túmulo, rocha e arca), recebem a morte da mesma forma, pois é um princípio para todos, independente das dessemelhanças humanas. Afinal de contas, no mito, não sabemos o que se passa depois do fim da vida, mas no plano material, na concretude dos fatos, a morte é responsável por transformar tudo em cadáver, em carcaça. O termo utilizado por Silesius é mais pesado ainda, uma vez que Madensack é uma palavra composta por Maden (“larva”) e Sack (“saco”), isto é, a morte leva todo homem a se metamorfosear em saco verminoso. Essa conversão é necessária a fim de que o espírito passe, na crença mística do poeta, para a “vida superior”. Além disso, o eu-lírico afirma que pode um outro se preocupar (kränken) com a construção de um túmulo altivo. O verbo em questão tem sua origem na palavra krank, adjetivo que significa, entre outras coisas, “doente”, “injuriado” e até mesmo “louco”, indicando que esse ato de dar demasiada atenção ao luxo representa um desvio moral. A outra possibilidade de morte, a desapegada, parece mais proveitosa, pois nela se descansa eternamente (ewig ruh). Outros conceitos para a morte são explorados por Silesius. Ao passo que o autor, em “Die ewige Ruhestätt”, aborda a morte como princípio de igualação dos homens e, muitas vezes, até de compensação (pois quem foi altivo se torna um saco de vermes e quem foi mais parcimonioso passa a
  • 9. Todas as Musas ISSN 2175-1277 Ano 04 Número 01 Jul-Dez 2012 242 merecer o descanso eterno), vemos, no dístico “Der Tod ists beste Ding”, que a morte também é meio de libertação, retomando um mote platônico. Der Tod ists beste Ding Ich sage, weil allein der Tod mich machet frei, Daß er das beste Ding aus allen Dingen sei.6 (SILESIUS, 1952, p. 11) Pode-se dizer que há uma recuperação da literatura e da filosofia gregas nessa poema por causa de seu conteúdo. A noção de morte valorizada somada ao aspecto libertador da morte aparece no diálogo Fédon, de Platão, do qual transcrevemos um trecho abaixo: - E o que denominamos morte, não será a liberação da alma e seu apartamento do corpo? - Sem dúvida, tornou a falar. (PLATÃO, s/d) De certo modo, no que diz respeito à morte, a filosofia silesiana se orienta pela platônica, pois o filósofo grego fala da morte como um evento que é capaz de separar alma e corpo para sempre, isto é, acredita na existência de um plano espiritual. Em vista dos argumentos apresentados a partir dos poemas de Der cherubinische Wandersmann, concluímos que a morte nos é mostrada segundo um viés dual, porque a morte se constrói como mito, no sentido de que se estabelece numa dimensão obscura ao ser humano (a crença, neste aspecto, é fundamental para a compreensão dessa noção), e como concretude, porque a carne também passa. A diferença é que a morte construída como mito representa unicamente uma etapa na existência do crente, pois modificam-se os atos em vida em detrimento do descanso eterno, da tranquilidade, do repouso no coração de Cristo. Por outro lado, a morte física, aquela que deixa o detrito e que se decompõe, é tida, sob a perspectiva 6 A morte é a melhor coisa: Eu digo, porque só a morte me torna livre, que ela é a melhor coisa de todas as coisas. (tradução nossa)
  • 10. Todas as Musas ISSN 2175-1277 Ano 04 Número 01 Jul-Dez 2012 243 de Silesius, como evidência da transponibilidade desse laço entre matéria e espírito, entre corpo e alma. Além disso, é essencial reforçar como o aporte histórico se destaca ao explicar a razão pela qual a morte é um dos temas que estão no cerne da literatura seiscentista alemã, já que essa temática não é exclusividade de Silesius. Outros nomes do chamado Barroco alemão, tais como Daniel Casper von Lohenstein (1635-1683), Andreas Gryphius (1616-1664), Friedrich von Spee (1591-1635), Johann Christian Günther (1695-1723), também abordaram esse verdadeiro fenômeno social proveniente de uma situação política de intensa instabilidade e constante ameaça: a Guerra dos Trinta Anos foi capaz de levar a Alemanha “[...] a um retrocesso de duzentos anos em seu desenvolvimento” (MEHRING apud CARNEIRO, 2006, p. 163), o que, sem dúvida, fragilizou a população alemã por muitas décadas a vir. Bibliografia CARNEIRO, H. Guerra dos Trinta Anos. In: MAGNOLI, D. História das guerras. São Paulo: Contexto, 2006. CARPEAUX, O. M. A literatura alemã. São Paulo: Nova Alexandria, 1994. CORTEZ, C. Z.; RODRIGUES, M. H. Operadores de leitura da poesia. In: BONICCI, T.; ZOLIN, L. O. Teoria literária: abordagens históricas e tendências contemporâneas. Maringá: EDUEM, 2003, p. 59-92. HANSEN, J. A. Barroco, neobarroco e outras ruínas. Teresa. Revista de Literatura Brasileira. São Paulo: Depto. de Letras Clássicas e Vernáculas- FFLCH-USP/Editora 34, v. 2, 2001, p. 10-66. ________. Vieira: Estilo do Céu, Xadrez de Palavras. Discurso. Departamento de Filosofia da FFLCH da USP, São Paulo, v. 9, 1979. HEDERER, E. (Herausg.) Deutsche Dichtung des Barock. München: Carl Hanser, 1957. HINTEN, G. Deutsche Barockliteratur. In: PLETICHA, H. (Herausg.) Deutsche Geschichte: dreißigjährige Krieg und Absolutismus 1618-1740. Gütersloh: Bertelsmann, 1993, p. 243-265.
  • 11. Todas as Musas ISSN 2175-1277 Ano 04 Número 01 Jul-Dez 2012 244 KOHNEN, M. História da literatura germânica. Volume I. Salvador: Mensageiro da Fé, 1960. LOCK, C. Michel de Certeau: walking the via negativa. Paragraph. Edinburgh University Press, v. 22 (2), 1999, p. 184-202. MORAES, C. E. M. Epigrama: histórico e tradições. Revista de Letras. UNESP. São Paulo, v. 33, 1993, p. 249-258. PLATÃO. Fedão. Disponível em <http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/fedon.pdf>. Acesso em 16 out. 2011. RUMMEL, R. J. The conflict helix: principles and practices of interpersonal, social, and international conflict and cooperation. In: _______. In the minds of men: principles toward understanding and waging peace. Seoul: Sogang University Press, 1984. SILESIUS, A. Der cherubinische Wandersmann. München: Zeno, 1952. WÖLFFLIN, H. Renascença e barroco. São Paulo: Perspectiva, 2010.