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Educação de Coimbra
1
Mestrado em Intervenção Social, Inovação e Empreendedorismo
PROJETO RISCOS
Professora Doutora Sílvia Ferreira
Mestrandos
Carla Andrade | Inês Cardoso | Jarbas Cardoso
Coimbra, janeiro de 2016
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Educação de Coimbra
I
Índice
1 Introdução............................................................................................................................1
2 Caracterização do Empresário ............................................................................................4
3 Caracterização das Entidades Parceiras ........................................................................6
3.1 Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental de Coimbra....6
3.2. Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra...............................................................7
4 Caracterização e análise do Projeto de Empreendedorismo Social……………12
4.1 Caracterização..............................................................................................................10
4.2 Análise conceptual da Empresa Riscos.........................................................................15
5 Considerações finais......................................................................................................21
Bibliografia............................................................................................................................23
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Educação de Coimbra
II
Lista de abreviaturas
A.P.P.C - Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra
A.P.P.A.C.D.M - Associação de Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente
Mental de Coimbra
C.A.O - Centro de Atividades Ocupacionais
C.R.P.P.C - Centro de Reabilitação de Paralisia Cerebral de Coimbra
I.P.S.S - Instituição Particular de Solidariedade Social
N.R.C.A.P.P.C – Núcleo Regional do Centro da Associação de Paralisia Cerebral de
Coimbra
WISE - Empresas Sociais de Integração pelo Trabalho
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Educação de Coimbra
1
1 Introdução
No âmbito da unidade curricular de Sociedade, Inovação e Empreendedorismo,
do 1º Semestre, ano letivo 2015/2016, do curso de Mestrado em Intervenção Social,
Inovação e Empreendedorismo, da Faculdade de Economia e de Psicologia e Ciências
da Educação da Universidade de Coimbra, elaborou-se um trabalho que resulta de uma
abordagem critico-reflexiva do Projeto de Empreendedorismo Social “Riscos”, com
carácter inovador e empreendedor.
Vivemos num mundo cada vez mais interligado sob a ótica da economia
capitalista, a qual impera em nosso meio com o apoio de tecnologias, em especial as de
comunicação. Nesse âmbito o quotidiano em si, tanto nos grandes centros como nas
mais remotas localidades, a lógica da economia capitalista procura nos conduzir a um
comportamento que privilegia o consumo e o valor da troca. Nela tudo é visto como
mercadoria, desde os meios de produção e distribuição, sendo todas as transações
voltada unicamente à propriedade privada e ao acúmulo de capital. Esse modelo
económico busca ser hegemônico em todos os âmbitos da vida humana, “influindo nas
políticas de estado, industriais, na relação de trabalho, na cultura, na relação com a
natureza,” submetendo tudo à reprodução do capital.
Diante do modelo económico hegemônico atual, são muitos os efeitos negativos
que fazem com que se busque novas alternativas económicas, dentre esses podemos
citar a própria exploração do homem pelo homem, que ocorre atualmente sobre o
argumento de promover maior competição entre os produtos e serviços das empresas,
através da redução dos salários dos trabalhadores; a precarização do trabalho; as crise e
a vulnerabilidade económica que ocorrem ciclicamente as quais acabam por promover a
estagnação económica, o desemprego e, de igual forma, influindo em políticas de
austeridade por parte do Estado, as quais muitas vezes resultam em cortes de recursos
financeiros em áreas sociais, afetando sempre os mais vulneráveis economicamente; o
uso e consumo desenfreado dos recursos naturais, os quais são limitados, dentre outros
exemplos que aqui poderiam ser citados.
Contrariamente às lacunas deixadas historicamente, tanto por parte do Estado e
do Sistema Capitalista (neoliberal mercantil), que geram pobreza e exclusão social
surgem novos movimentos, organizações, que almejam uma sociedade mais justa e
equilibrada economicamente, priorizando de igual forma a promoção humana nos
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2
campos da ética e da política e não meramente através do lucro. São instituições e ações
que compõem o chamado Terceiro Setor, ou quando referidas no quesito económico, de
Economia Social ou Solidária. Essas ações alternativas são diversas e muitas vezes até
singulares, mas que são expressas em experiências coletivas de trabalho organizado sob
a forma de cooperativas, associações, clubes de troca, empresas autogestionárias, redes
de cooperação, dentre outras. Mesmo plurais, esses movimentos alternativos à economia
capitalista, possuem, (ou devem possuir), princípios em comum que os definem como
tais, como o trabalho em cooperação, participação democrática, responsabilidade de
autogestão, solidariedade, respeito a natureza, comércio justo e consumo solidário.
No campo conceitual esses princípios são consenso entre os estudiosos e teóricos
do tema, de igual forma, é consenso também que esse fenómeno (ou fenómenos)
alternativo à economia hegemónica é constituído de diferentes formas, conceitos e
escolas de pensamento com origens em diferentes países e regiões. Logo a importância
em se aprofundar o estudo e definição dessas experiências alternativas à economia
hegemônica, exatamente para desenvolver propostas que possam ser usadas tanto em
escala local, regional, mas também na grande escala, sendo essa última um dos desafios.
O uso e definição do conceito de economia social é segundo Manuela Silva
(2012), um debate inacabado e está longe de ser consensual, pois não existe
unanimidade acerca da preferência relativamente à designação considerada mais
ajustada, a dificuldade “resulta da complexidade e da pluralidade de expressão que a
economia social pode abranger a respetivas tradições históricas”. Segundo Silva, em
Portugal, o conceito economia social é a definição mais tradicional e tem o mérito de
definir com clareza o perímetro legal deste sector. Ainda para a pesquisadora a
designação economia solidária, preferida por outros pesquisadores, poderá no futuro ser
uma alternativa.
Para Paul Singer (2002) em sua definição de economia solidária, termo em uso
no Brasil, a mesma representa um conjunto de atividades econômicas de produção,
distribuição, consumo, poupança e crédito, organizadas coletivamente de acordo com os
princípios da autogestão. Essa forma de produção visa transformar o trabalho num meio
de libertação humana dentro do processo de democratização econômica, alternativa à
dimensão alienante do modelo de trabalho assalariado capitalista.
Já para Pedro Hespanha e Luciana Santos (2012), economia solidária é um termo
recente e pouco usado em Portugal, e engloba uma diversidade de atividades
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económicas, formas de produzir, trocar e consumir, baseadas em relações de cooperação
e em princípios de gestão democrática. Segundo Hespanha, há uma diferença, não muito
clara, entre economia solidária e economia social, fazendo parte dessa última as
instituições juridicamente constituídas, a saber, as cooperativas, as mutualidades e as
associações. As iniciativas mais espontâneas, inovadoras e democráticas, foram ficando
de fora da economia social e, portanto, economia solidária tornou-se assim a designação
comum destas formas emergentes e não enquadráveis institucionalmente na economia
social.
Quanto a o Empreendedorismo Social, segundo (Alvord et al., 2002) é um
conceito que vem sendo reverenciado ao longo do contexto de empreendimentos
comerciais e económicos como solução a problemas sociais, através de ações eficazes e
sustentáveis que exigem ingredientes associados ao sucesso da inovação e na criação de
empresas. Ainda para (Alvord et al., 2002), o conceito de empreendedorismo tem uma
longa história no setor empresarial, e um tema importante foi a criação de valor através
da inovação. Quando aplicado, mais recentemente, a preocupações sociais, o conceito
assumiu uma variedade de significados. Alguns, por exemplo, têm-se centrado sobre o
empreendedorismo social como uma combinação de empresas comerciais com impactos
sociais. Nesta perspetiva, os empresários têm usado as habilidades de negócio e
conhecimento para criar empresas que realizam fins sociais, além de ser comercialmente
viável. Ainda pode-se criar filiais comerciais, ou organizações sem fins lucrativos e usá-
las para gerar emprego ou receita que servem a fins sociais, ou ainda para organizações
sem fins lucrativos que podem doar parte dos seus lucros ou organizar suas atividades
para servir objetivos sociais. Estas iniciativas usam os recursos gerados a partir de
atividades comerciais de sucesso para avançar e sustentar suas atividades sociais.
Já em uma perspetiva do empreendedorismo social como inovação para impacto
social, segundo (Alvord et al., 2002) a atenção está focada na inovação e nos arranjos
sociais que têm consequências para os problemas sociais, em qual muitas vezes
relativamente tem pouca atenção à viabilidade econômica em critérios comerciais
normais, pois os empreendedores sociais estão focados em problemas sociais e em criar
iniciativas inovadoras, construir novos arranjos sociais e mobilizar recursos em
respostas a esses problemas, em vez de deixar se levar pelos ditames do mercado ou de
critérios meramente comerciais.
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4
Este trabalho, através da ótica Economia Social, bem como a questão do
Empreendedorismo Social, busca investigar o carácter inovador e empreendedor do
projeto “Riscos”. Quanto à organização metodológica do trabalho, trata-se de um estudo
qualitativo, que assenta na análise do projeto em questão através de entrevistas
realizadas ao empresário e as instituições parceiras e no estudo de outros materiais já
elaborados sobre o tema. Conta na sua estrutura com quatro capítulos, ao longo dos
quais realizar-se-á uma investigação conceptual. No primeiro apresenta-se
sumariamente o empresário Rui Pais, proprietário e responsável pela implementação do
projeto. No segundo faz-se uma breve discrição das instituições parceiras, Associação
Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental de Coimbra
(A.P.P.A.C.D.M.) e Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra (A.P.C.C.). No
terceiro capítulo apresenta-se e caracteriza-se o Projeto ”Riscos”. Por fim, serão
apresentadas as respetivas conclusões.
2 Caracterização do Empresário
Fruto de uma entrevista realizada no mês de novembro do ano de 2015, o grupo
de trabalho caracterizará, de forma sucinta, o empresário que promoveu, dinamizou e
implementou o projeto “Riscos” - Rui Pais.
Rui Pais, de 47 anos, tem como habilitações académicas a licenciatura em
Economia, pela Faculdade de Economia de Coimbra. Trabalhou cerca de 20 anos no
sector imobiliário. No entanto, cansado da monotonia da sua atividade e, tendo em
conta a situação de crise que Portugal enfrentava e a consequente queda nas vendas de
imóveis, avançou para a criação da sua empresa “Riscos”, sendo que “uma crise deve
ser um momento de criatividade social” (Vasconcelos, 2012, p33).
Rui Pais afirma: não estava desempregado, mas o emprego era precário. Um
dia, em casa, à volta do forno, tentei recriar um biscoito super estaladiço. Os familiares
e amigos gostaram e então pensei: porque não? Foi no entanto necessário, arranjar
quem pudesse produzir os referidos biscoitos, o que acabou por acontecer através da
parceria criada com a A.P.P.A.C.D.M. de Coimbra (Centro de Montemor o Velho e
Centro de S. Silvestre) e posteriormente com a A.P.C.C. (Quinta da Conraria).
Segundo Schumpeter “O empreendedor é o agente do processo de destruição criativa,
que é o impulso fundamental que aciona e mantem em marcha o motor capitalista,
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5
constantemente criando novos produtos, novos mercados e, implacavelmente
sobrepondo-se aos antigos métodos menos eficientes e mais comuns” (Elgar, 2006: 21-
34). Rui Pais, perante a necessidade e as dificuldades sentidas, decidiu abrir o seu
próprio negócio, motivado pelo poder e prazer de criar algo novo, que lhe permitisse
abrir os horizontes e criar o seu próprio rendimento como forma de subsistência. Tendo
alguns conhecimentos, sendo um homem dinâmico e ativo, aliou as suas competências
pessoais, profissionais e relacionais, para a criação da Empresa Riscos. “Um empresário
é alguém que corre riscos, uma pessoa motivada pelo desejo ardente de aplicar a sua
ideia a uma empresa.” (Yunos, 2011: 55). Faltava-lhe no entanto, a forma de produção
(onde, como, quem iria produzir os biscoitos), mas para tal decidiu estabelecer uma
parceria inédita com Instituições do Terceiro Sector. Consideramos que as relações
inter-setoriais, entre os sectores privado (Rui Pais), e as I.P.S.S. (Terceiro Sector, que
produzem os riscos), levaram à criação do Projeto de Empreendedorismo Social,
Riscos”, comprovando que as tradicionais fronteiras entre os sectores se estão a diluir.
Permitindo assim, que se possam criar novos produtos (biscoitos riscos), com as
exigências de ética nos negócios, que lhe confiram sustentabilidade económica,
associados às novas necessidades do terceiro sector, tais como a integração,
participação, inclusão, entre muitas outras, aliadas à exigência de prestação de contas e
de sustentabilidade também ela económica, cultural e social.
Segundo diversos autores, ao promover a capacitação e o espírito
empreendedor da sociedade civil, colocados ao serviço de uma miríade de necessidades
especiais, o empreendedorismo social perfila-se como um constructo teórico-prático
novo, com características, princípios e valores próprios, mobilizado na Europa em
contexto de crise económica e social (Parente et al., 2011). Ou seja, em nosso entender
o empresário Rui Pais, tal como associa Schumpeter "o empreendedor é um agente de
mudança na economia, identificando nele a força para liderar o processo económico e a
capacidade para liderar o processo económico e a capacidade para identificar uma
oportunidade” (Parente et al., 2011: 271). Este ao articular com as organizações do
terceiro sector, promoveu uma combinação de métodos empresariais, com os métodos
utilizados nas I.P.S.S. em causa, de modo a “criar valor social de forma sustentável e
com potencial de impacto a larga escala” (Parente et al., 2011: 279).
Aliar a criatividade, com formas novas de produção (público portador de
deficiência mental, que utiliza este meio como forma de ocupação e reabilitação) e a
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comercialização fizeram dos “Riscos” biscoitos com carácter único e especial. Com os
seus variados sabores a limão, crocantes de sésamo e girassol, cravo e canela, não
possuem quaisquer aditivos, sendo considerados pelo empresário "saborosos,
estaladiços e devoram-se num ápice.”
Assim Rui Pais, acabou por dar azo ao Projeto Riscos de Empreendedorismo Social,
partindo da necessidade de resolver o seu negócio, mas que acabou por mobilizar
organizações e clientes do Terceiro Setor, utilizando práticas empresariais que conciliou
com ações empreendedoras voltadas para o desenvolvimento de iniciativas de cunho
social (Bignetti, 2011) por parte das I.P.S.S., e que caracterizam este Projeto de
Empreendedorismo Social, como objeto de análise.
3 Caracterização das Entidades Parceiras
Neste capítulo apresentam-se as duas organizações do Terceiro Setor, a
A.P.P.C.D.M. de Coimbra e a A.P.P.C., que permitiram ao empresário Rui Pais
implementar o seu projeto. Estas I.P.S.S., pela sua forma de estar e de ser são
organizações abertas ao mundo, capazes de entender os sinais e evolução dos contextos,
por esse motivo ser evidenciada uma breve resenha das mesmas. O seu relacionamento
com a comunidade, bem como com as partes interessadas é um fator chave de inovação,
permitindo-lhes identificar problemas e oportunidades, desejos, problemas e
expectativas daqueles que com elas se interagem, tendo sempre como último objetivo a
promoção da qualidade de vida dos seus clientes.
3.1 Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental de
Coimbra
Inicialmente a A.P.P.A.C.D.M. de Coimbra era uma delegação da Direção
Nacional da A.P.P.A.C.D.M. e assim se manteve até ao ano 2000, altura em que se
constituiu como Instituição Autónoma. Atualmente a A.P.P.A.C.D.M. de Coimbra
cobre os Concelhos de Coimbra, Arganil, Montemor – o – Velho e Cantanhede,
podendo ainda prestar apoio a indivíduos ou famílias de outros concelhos, desde que os
mesmos não tenham resposta congénere, ou por opção das famílias. Em seu percurso a
Associação foi-se desenvolvendo, procurando criar respostas adaptadas às diferentes
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necessidades, que ao longo do ciclo de vida, as pessoas portadoras de deficiência mental
e suas famílias, vão sentindo e em sintonia com a própria evolução de conceitos e
modelos de intervenção nesta área.
Possui atualmente as valências de C.A.O. (Centro de Atividades Ocupacionais),
Lar (Lares Residenciais), C.R.I. (Centro de Recursos para a Inclusão), Formação
Profissional, Intervenção Precoce, Pré-Escolar, Clínica Física e de Reabilitação e Apoio
Domiciliário.
A sua atuação assenta em valores como o da individualidade (a especificidade e
a individualidade de cada pessoa com deficiência mental e sua família têm que ser
percebidas e respeitadas, defendendo o direito à expressão das suas necessidades), o da
participação (as pessoas com deficiência são os decisores da sua própria vida no que
toca às suas necessidades, interesses e apoios recebidos, sendo por isso a opinião
determinante para a organização dos serviços prestados por esta instituição), o da
inclusão (a comunidade é o espaço onde cada pessoa com deficiência tem direito a
crescer, a aprender, a trabalhar, a participar e a viver o seu quotidiano), o da inovação (a
procura em cada momento de novas respostas, diferentes estratégias e novos modos de
trabalhar é determinante para a qualidade do atendimento), o da melhoria contínua
(adequada aplicação de práticas de qualidade na permanente busca da excelência dos
serviços prestados e na procura de formação contínua para os colaboradores), o da
articulação com a comunidade (manutenção de uma relação estreita com as
comunidades locais e de abertura recíproca consolidando o papel da instituição como
polo dinamizador de inclusão) e o da abrangência (procura das melhores respostas em
cada etapa da vida do cidadão com deficiência mental).
A missão da A.P.P.A.C.D.M. de Coimbra centra-se em criar condições para que
cada pessoa com deficiência mental (ou em situação de exclusão) possa atingir a sua
plenitude como ser humano e social, potenciando a sua individualidade e consolidando
a sua participação efetiva na sociedade.
3.2. Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra
A Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra é uma Instituição Particular de
Solidariedade Social (IPSS), com origem no N.R.C.-A.P.P.C., que iniciou a sua
atividade em 1975.
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Como primeira atitude foi criado o Centro de Reabilitação de Paralisia Cerebral
de Coimbra – CRPCC, direcionado para a reabilitação de crianças com Paralisia
Cerebral, situações neurológicas afins e outras e apoio às suas famílias.
Em setembro de 1977, o C.R.P.C.C. foi oficializado pelo Dec. Lei 374/77, de 5
de setembro, passando a ter gestão própria e exigiram respostas mais diversificadas, o
que levou a associação a estabelecer prioridades e a desenvolver novos serviços,
direcionados a jovens e adultos. O impacto social positivo gerado na comunidade e a
qualidade dos serviços prestados, originaram uma maior procura e exigiram respostas
mais diversificadas, o que levou a associação a estabelecer prioridades e a desenvolver
novos serviços, direcionados para jovens e adultos
Assim, em 1983 por despacho do Ministro dos Assuntos Sociais de 31 de março,
o Centro Regional de Segurança Social de Coimbra, cede ao N.R.C.A.P.P.C, uma
quinta – designada por Quinta da Conraria.
Esta cria a possibilidade de desenvolver respostas de formação profissional e
outras, para pessoas com deficiências e incapacidades da Região Centro.
A entrada de Portugal na Comunidade Europeia, abriu perspetivas de
desenvolvimento de ações formativas, até aqui impossíveis de realizar, assim, em 1989
a Associação inicia-se a Formação Profissional direcionada para a pessoa com
deficiência.
Em 1992, cria o Centro de Atividades Ocupacionais. Elabora um acordo de
cooperação com o Centro Regional de Segurança Social de Coimbra, destinado a
pessoas com deficiência e com graves limitações na autonomia pessoal.
Numa perspetiva de melhor responder às necessidades dos clientes outras
respostas foram criadas, nomeadamente Hipoterapia e o Estudo da Baixa Visão,
Ludoteca, Quinta Pedagógica, Musicoterapia e outras.
A A.P.C.C. sempre apoiou as comunidades educativas da Região Centro,
culminando com a criação do Centro de Recursos para a Inclusão.
No período que medeia a criação destas unidades de reabilitação e a atualidade,
foram encontradas novas soluções direcionadas para pessoas em risco de exclusão
social como a construção de um lar integrado, em funcionamento desde dezembro de
2013.
A A.P.C.C. foi distinguida, em 2009, pela sua excelência na gestão e qualidade
conforme certificação ISO 9001/2008 e pela qualidade dos serviços prestados pela
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certificação EQUASS nível 1 (EQUASS ASSURANCE), sendo atualmente certificada
pela EQUASS nível 2 (EQUASS EXCELLENCE), distinção obtida em 2013.
Tem como missão “Promover a inclusão social de pessoas em situação de
desvantagem, com especial incidência nos que têm deficiência e/ou incapacidade”
(A.P.C.C., s.d.).
Esta organização tem os seguintes objetivos: i) sensibilizar a comunidade para a
problemática da pessoa com deficiência ou incapacidade; ii) envolver a comunidade na
problemática da prevenção da paralisia cerebral; iii) criar e desenvolver serviços e
unidades de reabilitação, habilitação, formação e integração; iv) criar e desenvolver
serviços e unidades direcionadas para a pessoa com necessidades complexas de
reabilitação e integração; v) criar e desenvolver serviços de apoio à família da pessoa
com deficiência; vi) promover a atualização e especialização de recursos humanos em
reabilitação; vii) estabelecer parcerias nacionais e transnacionais para a promoção e
divulgação dos direitos da pessoa com deficiência; viii) promover a filiação de
entidades em associações congéneres nacionais e internacionais.
Da análise das instituições supra referidas, consideramos que a sua envolvência
e participação na comunidade, bem como a necessidade de promover a ocupação,
reabilitação e a inclusão social de pessoas em situação de desvantagem, com especial
incidência nos que têm deficiência e/ou incapacidade, através de valores como a
individualidade, a inovação, a melhoria continua e abrangência, foi um dos fatores, para
que a parceria se pautasse pelo enorme sucesso alcançado.
Assim, estas instituições aproveitaram a oportunidade do empresário Rui Pais,
para encontrar mais uma maneira de ocupar e reabilitar os clientes dos Centros de
Atividades Ocupacionais (C.A.O.), por forma a dar resposta ao desafio colocado pelo
empresário, foram calculados os custos de produção dos biscoitos (note-se que os
C.A.O. não trabalham apenas para este empresário, mas que fazem parte das suas
atividades diárias a produção de diversos produtos/bens na área da culinária, que
comercializam diretamente, ou produzem para revenda, sendo estes apenas mais um
produto a integrar na sua vasta lista de bens produzidos). Tal facto permitiu a produção
dos “Riscos” a um preço mais acessível, criando condições de o empresário poder
comercializar os biscoitos a um preço mais elevado para os seus consumidores finais.
Segundo Gregory Dees "o empreendedor social seria um agente de mudança no
sector social e realçou três aspectos principais: a inovação, o compromisso e a alta
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10
responsabilidade com o projecto” (Dees, 1998, in Navarro et al., 2015). Em análise
grupal concluímos que Rui Pais não é um empreendedor social, mas um empreendedor
que veio impulsionar um trabalho ocupacional, fruto de uma inovação, aliado a um
compromisso aceite e participado pelas instituições referidas, nomeadamente os seus
clientes, e com a responsabilidade social, no processo de reabilitação e integração
social.
A motivação dos Centros de Atividades Ocupacionais da A.P.P.A.C.D.M. e
posteriormente da A.P.P.A de Coimbra, para que os seus clientes (pessoas
habitualmente excluídas pelo mercado normal de trabalho, em consequência da sua
deficiência mental), pudessem produzir e estar socialmente integrados numa pratica
ocupacional e reabilitacional, usufruindo ainda de um pagamento pelo trabalho
realizado.
É neste contexto que consideramos o Projeto Risco, como um Projeto de
Empreendedorismos Social, tendo em conta:
 Possui uma missão social, que pretende dar resposta a um problema
social;
 Apresenta uma solução inovadora que se caracteriza pela criação de um
produto, bem ou serviço ou de um novo modelo de negócio que permita
maior criação de valor a um menor custo;
 A geração de impacto social, tendo uma estratégica alicerçada na
transformação social positiva dos seus públicos-alvo;
 Um elevado grau de escalabilidade ou replicabilidade;
 Uma forte estratégia de sustentabilidade financeira conseguida através de
fontes de financiamento (Martins e Pinheiro, in Azevedo et al., 2012).
4 Caracterização e análise do Projeto de Empreendedorismo Social
4.1 Caracterização
Os “Riscos” é a designação atribuída à empresa e aos próprios biscoitos. Rui
Pais, para a designação da empresa, baseou-se para isso no “risco de arriscar”, uma vez
que a implementação deste projeto decorreu num período de crise e para a designação
dos biscoitos, no seu aspeto alongado e fino, semelhante a um “risco”.
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11
Os “riscos” produzidos pelas entidades parceiras, nos Centros de São Silvestre e
Montemor-o-Velho da A.P.P.A.C.D.M. de Coimbra e na Quinta da Conraria, da A.P.C-
C., encontram-se atualmente disponíveis em cerca de 50 pontos de venda, nacionais e
internacionais.
A empresa foi constituída como unipessoal, sem que fosse necessário recorrer a
qualquer tipo de apoios. De acordo com Diogo Vasconcelos é necessário “mobilizar
diferentes agentes (neste caso uma empresa privada), envolvam os utilizadores (co-
criação), e criem inegável valor social, (Vasconselos, 2012: 32).
O estabelecimento de parcerias com as I.P.S.S. coloca de parte a necessidade de
ter ativos, visto que toda a matéria-prima, bem como a produção, é realizada nas
respetivas instituições, pelos seus clientes portadores de deficiência mental ou
incapacidade.
Quanto à área do negócio, ele não possui imobilizado. As parcerias assentam na
compra do produto às organizações pelo valor por elas estabelecido (0,80€/unidade).
Esta parceria, para além de comercial, é também uma partilha constante de laços,
afetos e relações com os clientes com deficiência ou incapacidade.
Para além de comercial, a parceria (cujo objetivo se prende com o lucro do
empresário), é também uma partilha constante de laços, afetos e relações com os
clientes com deficiência ou incapacidade. De facto, este projeto de Empreendedorismo
Social, teve por base a necessidade sentida pelo empresário Rui Pais (para resolver a sua
situação pessoal), mas que cedo veio a desenhar-se como projeto inovador, que aliou o
“conhecimento aplicado a necessidades sociais através da participação e da cooperação
de todos os atores envolvidos, gerando soluções novas e duradouras, para grupos
sociais, comunidades ou para a sociedade em geral” (Bignetti, 2011). Ou seja, a
inovação segundo o mesmo autor, é entendida como “uma forma inédita de fazer as
combinações gerando resultado económico” (Bignetti, 2011). Para Byrd e Brown, a
inovação resulta da combinação entre a criatividade e a tomada de risco (Byrd e Brown,
cit. por Bignetti, 2011), e que em nosso entender foi o que se passou, com o Projeto
Riscos.
O início da empresa foi complicado. Após a experimentação e face a diversas
tentativas relativamente à produção de biscoitos (receita original) foi conseguida a
obtenção do produto final. Note-se que estes biscoitos tradicionais, com design
inovador, não tem aditivos alimentares.
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12
A falta de cadência na produção dos mesmos – festas, dinâmicas institucionais e
até mesmo as características pessoais dos clientes do C.A.O. - levou a que não se
conseguisse prever as quantidades a produzir para satisfação do mercado.
Fazendo o balanço de dois anos e meio de produção, os clientes de C.A.O.
mantêm-se motivados, conseguindo manter o ritmo de produção estipulado (segunda-
feira, quarta-feira e sexta-feira) superando as expectativas iniciais.
Em análise, esta inovação passou a ser inovação social, pois “as novas ideias
(produtos, serviços e modelos) que simultaneamente satisfazem as necessidades sociais
e criam novas relações ou colaborações sociais. Por outras palavras, são inovações que
ao mesmo tempo, são boas para a sociedade e aumentam a capacidade da sociedade de
agir” (Murray et al., 2010, cit. por Bignetti, 2011).
No nosso caso, o número de clientes de C.A.O., das instituições em causa foi
aumentando precisamente porque eles próprios se sentiram bem, integrados, adquirindo
novas competências e as capacidades necessárias para conseguir atingir os objetivos
propostos (ao nível da produção). Também os intervenientes sentirem este projeto como
um desafio. Segundo Mulgan, o “papel crítico desenvolvido pelos «conectores»
empreendedores, brokers e instituições que unem pessoas, ideias, recursos e poder e
cuja integração contribui para mudanças duradouras” (Mulgan et al., 2007, cit. por
Bignetti, 2011), é bem visível neste projeto Riscos, porque atualmente o alargamento da
produção envolve já duas organizações do Terceiro Setor, implicando cerca de 24
clientes e 3 monitores, tendo que ser reavaliado, sempre que necessário para dar
resposta às solicitações de mercado.
É de salientar que continua a ser uma produção artesanal, que depende de vários
fatores, sendo o humano o mais difícil de controlar – visto que quem produz os
biscoitos são pessoas com deficiência ou incapacidade intelectual e estão integradas em
programas ocupacionais – logo fatores como a disposição e a subjetividade são muito
importantes na produção alcançada. As equipas de produção são constituídas por 5 ou 6
elementos, acompanhados pelos seus monitores.
Em virtude das encomendas terem aumentado ao longo destes dois anos e meio,
Rui Pais viu-se obrigado a alargar os contatos com outras instituições congéneres. Posto
isto, estabeleceu relações com outro Centro da A.P.P.A.C.D.M. de Coimbra, o Centro
de São Silvestre e com a A.P.P.C. de Coimbra. Assim, estabeleceu que cada IPSS
produz “riscos”, mas de sabores diferentes:
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 A.P.P.A.C.D.M. de Montemor-o-Velho (equipa de 8 a 10 clientes do C.A.O.):
“riscos” de limão;
 A.P.P.A.C.D.M. de São Silvestre (equipa de 5 a 6 clientes C.A.O.): “riscos”
de sésamo e girassol;
 A.P.P.C de Coimbra (equipa de 8 clientes de C.A.O.): “riscos” de vinho do
Porto, cravo e canela.
Refira-se a excelente qualidade dos biscoitos “riscos”, que têm uma validade de
5 meses, o que implica que estes sejam vendidos a um público seletivo.
A venda é realizada apenas em lojas gourmet. O público que adquire este género
de produtos é seleto e seletivo, visto que procura continuamente produtos novos. Ao
consumidor final chegam os biscoitos com um custo total de 3,5 € a unidade.
Os “riscos”, como já mencionado estão difundidos a nível nacional e
internacional. As exportações tem crescido substancialmente, e neste momento os
produtos estão disseminados por: Heidelberg e Frankfourt, na Alemanha; Dudelong, no
Luxemburgo, Manchester em Inglaterra; Paris e Biarritz, em França, em Bruxelas e na
Bélgica. O maior problema da comercialização prende-se com a embalagem. Os
“riscos” são um produto que se parte com muita facilidade.
Realizando um balanço económico da empresa, Rui Pais afirma que está longe
de se situar num patamar de conforto e estabilidade, referindo mesmo que no corrente
ano (2015), houve uma quebra muito grande na venda destes biscoitos.
Tendo em consideração este balanço, começou a estudar-se um outro produto
que pudesse ser comercializado, tendo em conta as características do nicho de mercado
onde atua, mercado turístico, nacional e internacional e de lojas gourmet. Este novo
produto, não interessa ainda ao nosso estudo, no entanto consideramos importante
descrever sucintamente a sua análise, apenas para perceber o dinamismo e o contexto de
evolução da Riscos”- empresa.
Posto isto, decidiu lançar-se na área das conservas e patés – produtos
manufaturados, em maior escala. Estes produtos não se inserem no nosso objetivo de
estudo, interessam apenas para perceber o dinamismo e o contexto de evolução da
Empresa Riscos. Embora, tal como os “riscos”, também estes “riscos” (conservas)
foram entregues a empresas conserveiras portuguesas – outsorcing - e a sua embalagem
e design (elaborada pela Joana Monteiro, que recentemente ganhou o prémio Sebastião
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14
Rodrigues), ficando novamente o empresário com a tarefa de distribuição e
comercialização.
Os pontos de venda atuais situam-se, primordialmente no litoral do país, entre
Vila do Conde e Lisboa, cidade onde está disponível, no Museu Nacional de Arte
Antiga, uma série especial dos "Riscos".
É o empresário Rui Pais que faz a distribuição em Portugal e, para já, só tem
rotas para norte e para sul de Coimbra. Atualmente, a exceção é a Guarda, estando Rui
Pais a desenvolver contactos para expandir a rede nas regiões de Viseu e Évora.
A produção inicial das conservas tem sido alvo de reajustes, sendo agora no
Natal de 2015 lançada uma nova gama de receitas originais. As conservas estão a
comercializar-se de forma muito positiva, tendo recentemente entrado no mercado
espanhol. O que levantou um problema de registo da marca em Espanha, tendo que
readaptar a sua marca de origem, para continuar a comercializar sem problemas
judiciais.
Aquando o lançamento dos “riscos” conservas, foi no sentido de contrabalançar
as vendas, com a produção de biscoitos. Uma vez que estes se vendiam mais nos
períodos de setembro a dezembro e de janeiro a fevereiro, depois entravam em quebra.
As conservas vendiam-se melhor a partir de maio, e durante o período de verão.
Com a quebra de vendas já referidas nos biscoitos, as conservas passaram a ter
venda todos os meses do ano, correspondendo neste momento a 70% das vendas.
Mesmo este produto não sendo produzido pelos clientes do Terceiro Sector, houve o
cuidado de as embalagens, serem adaptadas com desenhos de uma cliente da
A.P.P.A.C.D.M. de São Silvestre (autista), e que desenhou e idealizou uma embalagem
especial que comporta os 4 modelos de conservas, envoltas numa rede a imitar as de
pesca. O entrevistado, em virtude das dificuldades da referida cliente desenhar as
embalagens, mandou fazer serigrafias dos desenhos, e esta passou apenas a assiná-los.
Possibilidades futuras de crescimento:
 Em relação aos riscos-biscoitos: melhorar a embalagem e as condições de
transporte das mesmas;
 Em relação às conservas e pates: possibilidade de todo o processo de
embalamento passar a ser feito pelos clientes das Instituições.
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15
4.2 Análise conceptual da Empresa Riscos
Após uma cuidada reflexão, e tendo por base uma leitura bibliográfica sobre o
assunto, consideramos que este projeto “Riscos” deve ser discutido a partir do conceito
do” Social Business” de Empresa Social de Muhammad Yunus.
Para este autor as empresas sociais procuram equilibrar objetivos lucrativos com
uma missão social, ou seja uma “empresa sem prejuízos nem dividendos” (Yunos,
2011), dedicada a atingir um objetivo social.
Esta abordagem deve no nosso entender ser feita através da posição das
instituições do Terceiro Sector, que ao aceitarem o desafio do empreendedor Rui Pais,
conseguiram consolidar o trabalho nos Centros de Atividades Ocupacionais,
proporcionando um desafio aos seus clientes, que resultou num “negócio de sucesso”.
Esta articulação das organizações do terceiro sector com o mundo empresarial, torna
visível, “uma nova maneira de fazer as coisas, que acima de tudo se evidencia pelo
reconhecimento da criação de valor social e impacto do mesmo no tecido social,
nomeadamente na melhoria da qualidade de vida das pessoas através da criação de
novas respostas às necessidades sociais não satisfeitas” (Gata, cit. por Azevedo, 2012).
Segundo Yunos (2011) a empresa social não é só uma ideia agradável. É uma
realidade, uma realidade que já começou a provocar mudanças positivas na vida das
pessoas.
O caso dos “Riscos” levou ao crescimento da Empresa “Riscos”, e ainda
segundo Yunos (2011) conceber cada um dos pequenos negócios sociais é como
desenvolver uma semente. Depois de uma semente estar desenvolvida, qualquer pessoa
poderá plantá-la onde ela for necessária. Prova disso é que, o projeto que se tem vindo a
desenvolver, tendo já três Centros de Atividades Ocupacionais a desenvolve-lo.
As empresas sociais dão a todos os seus intervenientes (clientes de C.A.O.,
monitores, bem como ao próprio empresário), a oportunidade de participar na sua
construção. O processo reabilitativo e ocupacional dos deficientes mentais e ou
incapacitados, através de um processo de aprendizagem continua, de se sentirem
incluídos, proporciona uma dignidade pessoal e um grau de autonomia, muito elevados
no seu conceito de qualidade de vida (melhoria social).
É através do conceito de mudança/transformação social, que quanto ao grupo,
tudo se consubstancia. O facto de a partir de uma inovação social, se criar uma nova
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resposta, que gera mudança social articulando por um lado, a satisfação de necessidades
sociais não satisfeitas, com a promoção da inclusão social (de pessoas com deficiência
mental e/incapacidade), através da sua capacitação, desencadeia “mudanças nas relações
de poder” (Gata, cit. por Azevedo, 2012). Quanto à questão da capacitação e do
empowerment, é também um elemento essencial quando abordamos o trabalho com
públicos-alvo de exclusão.
Para Caroline Lanciano “o espaço de inovação é em primeira instância, (…), um
espaço de aprendizagem que é construído em interação com os atores que o constituem”
(Lanciano, 2001, cit. por Oliveira, 2008 in Azevedo, 2012).
Yunos (2011) afirma que o que é importante é envolver-se e descobrir a sua
própria maneira de fazer uma diferença positiva no mundo. Tornando a sociedade mais
justa e equilibrada.
A questão abordada em termos reabilitacionais e de ocupação pelo trabalho, leva
a trabalhar as questões autoestima, atitudes e comportamento essenciais, levando a que
um projeto destes seja discutido através das WISE (Empresas Sociais de Integração pelo
Trabalho), pois permitem trabalhar e desenvolver competências, levando ao crescimento
humano de cada individuo. As empresas sociais podem estar ativamente amplas em
diversos espetros de atividades. No entanto, o grande tipo de empreendedorismo social
claramente dominante na Europa é o trabalho de integração (Nyssens, 2006, cit. por
Scienc Direct, 2010: 231-242).
O principal objetivo do trabalho de integração nas empresas sociais é prestar
auxílio a indivíduos menos qualificados, que estão em risco de exclusão e
permanentemente ausentes do mercado de trabalho (Nyssens, 2006, cit. por Scienc
Direct, 2010: 231-242).
As denominadas WISE visam integrar este tipo de população para o trabalho e
na sociedade através de atividades. Em diversos países, para além da criação de novas
formas jurídicas, na década de 90 houve desenvolvimento de programas específicos
voltados para as empresas sociais no campo do trabalho de integração, dirigidos para
indivíduos que tinham as características referidas anteriormente (Nyssens, 2006, cit. por
Scienc Direct, 2010: 231-242).
As WISE cada vez mais representam uma ferramenta para a implementação de
políticas ativas do mercado de trabalho. O desenvolvimento de regimes públicos
específicos direcionados para este tipo de empresas sociais, levou inclusive ao conceito
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17
de empresa social ser sistematicamente associada a iniciativas de criação de emprego.
No caso do Projeto “Riscos”, o público que nele” trabalha”, não tem capacidades de ser
integrado no mercado de trabalho, realizando o que se denomina de atividades laborais
socialmente úteis. Como referimos na análise das Instituições parceiras, o público/
clientes das Instituições que produzem as referidas bolachas, são portadores de
deficiência mental grave, que não reúnem condições de aplicabilidade de um programa
de Emprego Protegido ou de um Programa de Formação Profissional. O que se pretende
é de facto:
 Estimular e facilitar o desenvolvimento possível das capacidades remanescentes
dos cidadãos jovens ou adultos com deficiência grave , de modo a permitir a sua
valorização pessoal e profissional;
 Facilitar a integração social e melhorar a autoestima dos clientes,
proporcionando-lhes satisfação e qualidade de vida;
 Proporcionar o desenvolvimento de atividades de caráter ocupacional e/ou pré
laboral;
 Valorizar as competências dos cidadãos, através do desenvolvimento de
atividades ocupacionais socialmente úteis.
As atividades socialmente úteis pretendem, a partir de protocolos/parcerias
estabelecidos com outras entidades, angariar tarefas simples que possam ser efetuadas
pelos clientes, de forma a ocupar algum do seu tempo em atividades úteis à sociedade.
A questão-chave é a integração de grupos excluídos através da sua participação
em Projetos, cujo objetivo é de oferecer” trabalho” a grupos excluidos e
simultaneamente reavaliar o seu papel no” mundo do trabalho”, melhorando as suas
vidas através da construção dos seus projetos de vida.
A conceção das WISE, implica então não só dar uma ocupação a este tipo de
indivíduos, mas também proporcionar o desenvolvimento de valores específicos, por
exemplo através de estruturas de gestão democrática em que os trabalhadores
desfavorecidos recebem um papel, e/ou através de produção de bens e serviços são
gerados de benefícios coletivos para as empresas sociais em que foram incorporados, no
caso dos “Riscos”, é distribuído um valor simbólico mensal, consoante a produção
atingida( que pode ser em numerário, ou em espécie, consoante os objetivos
estabelecidos individualmente com os clientes, no seu Plano de Trabalho/Produção).
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18
É em nosso entender, esta nova maneira de fazer as coisas, que as organizações
do Terceiro Sector proporcionam (e que cada vez mais se torna o “motor” das I.P.S.S.,
em particular desde a revisão Estatutária em 2015), que contribuem não só para a auto
sustentabilidade das mesmas, tornando-as capazes de competir, mobilizando os seus
recursos humanos, materiais e financeiros, envolvendo a comunidade e stakeholders
(inclusivamente as empresas, como no caso do Rui Pais), de uma forma atrativa onde
todos possam fazer parte do processo.
É importante referir a relevância da análise da inovação perante um projeto de
empreendedorismo social. Para Isabel André e Alexandre Abreu (2006) a inovação
social é uma resposta nova socialmente reconhecida como tal, que aponta e gera
mudança social. No entanto reúne três condições: satisfação de necessidades humanas
não satisfeitas por via do mercado; a segunda condição é a promoção de inclusão social
e por inclui a capacitação de agentes ou atores sujeitos, potencial ou efetivamente a
processos de exclusão/ marginalização desenrolando uma alteração nas relações de
poder. Uma das formas básicas de uma inovação empreendedora encontra-se claramente
no projeto Riscos. É por si uma maneira de trabalhar com grupos-alvo específicos, neste
caso pessoas com deficiência mental e/ou incapacidade e identificar as competências
necessárias para a auto ajuda e auxiliar a construção dessas mesmas competências. Esta
maneira de agir sobre uma inovação empreendedora pressupõe o aumento da
capacidade dos grupos-alvo e permitirá resolver muitos problemas (Alvord et al., 2002).
O projeto Riscos permitiu aos clientes das instituições parceiras, ao mesmo
tempo que desenvolvem capacidades de trabalho, resolvem o que até então era
problema para o empresário Rui Pais: espaço para a realização dos biscoitos e
colaboradores para a elaboração dos mesmos.
Segundo os autores anteriormente referidos, uma inovação é um produto, porque
carece de uma metodologia possível de transferir e um processo porque desenvolve uma
mudança social e consequentemente inclusão social. A inovação social também
necessita de uma ação coletiva, e não individual (André et al., 2006).
Pela literatura dos autores acima mencionados, foi fácil verificar de que o
projeto Riscos é um caso de inovação social, porque há aplicação de valor social, ou
seja articulação com duas organizações, neste caso do Terceiro Setor. Para Mulgan,
“nas organizações sem fins lucrativos (…), existe uma preocupação crescente com a
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19
questão de como alcançar maior impacto, o que com frequência significa atravessar
fronteiras e trabalhar (...) com as empresas” (Mulgan, cit. por Azevedo, 2012: 51).
Para se realizar um projeto é necessário ter em conta a natureza do mesmo, isto
é, os objetivos de mudança, o que vai ser mudado, os processos e produtos pelos quais
acontece e os domínios. Também é essencial obter recursos, ou seja, conhecimentos e
saberes, comunicação intersectorial, é primordial a dinâmica e os atores aos quais o
projeto está associado, neste caso a A.P.P.A.C.D.M. e a A.P.P.C. e o papel que estas
instituições têm no projeto.
Como todos os projetos deste âmbito, e que são objeto de análise, merecem
especial observação quanto ao seu processo de inovação social. Segundo Mulgan, “As
inovações sociais são inovações que são sociais tanto nos seus fins como nos seus
meios” (Mulgan cit. por Azevedo, 2012: 56). Ou seja, no nosso caso, e como temos
vindo a falar ao longo da nossa análise, a criação de um novo produto (riscos-biscoitos),
que simultaneamente vai ao encontro de uma necessidade social (ocupação e
reabilitação de um grupo de pessoas, tradicionalmente excluídos do mercado de trabalho
por serem portadores de deficiência mental), e que criaram novas relações sociais e de
colaboração com o mundo empresarial: Empresa Riscos.
Arthur Schopenhauer nos diz que ”Qualquer nova verdade passa por três fases:
primeiro é ridicularizada. Segundo, tem de fazer face a uma oposição violenta. Terceiro,
é aceite como auto evidente” (Mulgan, cit. por Azevedo 2012:63).
Deste modo e fazendo uma análise, tendo por base, o ciclo da inovação social e
das respetivas fases que o constituem, é possível verificar em que estágio o projeto
Riscos se encontra.
Cada uma destas fases, ajuda-nos a perceber e a pensar o projeto, “como um
espaço, com métodos e culturas distintas” (Mulgan, cit. por Azevedo 2012: 63). O
projeto Riscos no nosso entender não confere ainda todas as fases do ciclo, mas não
deixa de ser uma resposta nova em termos sociais, pois o empresário, as instituições e
os clientes das mesmas, aceitaram o desafio e desenvolveram os conhecimentos, os
comportamentos relacionais e pessoais no sentido de levar a cabo este projeto que
rompeu com a prática tradicional (quer do empresário, quer das instituições parceiras).
A primeira fase é denominada como "problema" e é desencadeada por
momentos de crise, cortes orçamentais, mau desempenho e estratégias que tornam
necessária a inovação. Esta fase é visível pela saturação da monotonia da atividade do
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20
empresário Rui Pais, e que somando à situação de crise que o país enfrentava, o
empresário não se encontrava desempregado mas considerava o emprego precário e
com incentivo de familiares e amigos pensou em algo que pudesse contornar a sua
situação contingente.
Abordando a segunda fase como o período das soluções possíveis, em que são
exploradas experiências e assimiladas inspirações de diversas fontes, foi aqui que o
empresário Rui Pais decidiu abrir o próprio negócio pelo qual foi motivado pelo poder e
prazer de gerar algo novo e que simultaneamente lhe permitisse conhecer novos
horizontes e criar a sua fonte de rendimento. A ideia de recriar um biscoito estaladiço
passou de uma experiência a uma realidade, quando incentivada pelos familiares e
amigos, uma experiência positiva e a colocar em prática.
Mencionando a fase seguinte, designada "nova solução" é possível desenvolver e
testar a inovação, muitas vezes na perspetiva tentativa-erro, no qual há necessidade do
estabelecimento de coligações. É exequível este estágio com o projeto que é aqui objeto
de análise visto que o empresário Rui Pais estabeleceu contacto para a produção dos
biscoitos com a Instituição Particular de Solidariedade Social, A.P.P.A.C.D.M. de
Coimbra e posteriormente com a A.P.P.C., inserindo nesta a componente da intervenção
social, neste campo de ação com pessoas com deficiência mental e/ou incapacidade. É
de referir que os clientes dos Centros de Atividades Ocupacionais das duas Instituições,
ligados aos projeto em causa desenvolveram um sentido de responsabilidade elevado,
considerando o Projeto como “seu”. Ao longo dos dois anos de desenvolvimento do
projeto, o número de clientes a aderir tem vindo a aumentar (o que não é fácil, devido às
características da produção). No entanto as monitoras relatam a satisfação e o sucesso
por eles considerado quando passam a integrar as equipas de produção.
Por último, consideramos que este projeto, se encontra na fase da
"sustentabilidade" porque se tornou numa prática quotidiana dos intervenientes das duas
instituições. Há financiamento e a forma organizacional do projeto está fixada,
tornando-se assim um modelo que retém os princípios estruturantes para que
posteriormente possa ser implementada noutros contextos ou adaptado a outros projetos.
Quanto a nós, a fase de escalagem e crescimento ainda se encontra em
desenvolvimento, pois nas organizações do Terceiro Setor, muitas das ideias sociais
disseminam-se não através do crescimento destas organizações, mas da sua vontade em
superarem-se continuamente.
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21
Atualmente a necessidade de melhorar continuamente é o motor, de todo o
processo institucional. Nada é estanque, nada é eterno, é preciso fazer crescer as
organizações, através das suas ações e inovações. Mas para tal é necessário fazer crescer
a procura efetiva (ou seja é preciso aumentar a capacidade produtiva, para haver quem
compre). E quando tal se verificar, então estaremos em condições de poder dizer que se
conseguiu alcançar a mudança sistémica. Segundo Mulgan, são necessárias “estratégias
para a inovação sistémica, que incluem a formação de coligações progressivas; a
construção de diagnósticos e visões partilhadas; o crescimento de uma massa crítica de
demonstradores; a substituição de tecnologias convencionais inflexíveis que congelam
formas disruptivas de inovação, e acedendo a experiência profissional e outra para a
reunião de evidência" (cit. por Azevedo, 2012: 71).
O projeto Riscos conduziu-nos a uma aprendizagem mais enraizada sobre uma
imagem em que a mudança é um processo aberto, colaborativo e criativo. Porém, ainda
se encontra a largos passos de obter novos métodos que têm de ser apreendidos e que
podem acrescentar a possibilidade das boas práticas terem impacto.
5 Considerações finais
As ações antagónicas ao modelo económico capitalista assumem um pluralismo
em suas formas de ser, porém, almejam em virtude de sua natureza, uma sociedade
economicamente mais equilibrada, participativa, democrática, com enfase a questão
social, cultural e económica. Essas, somadas a inovação do empreendedorismo social,
aos poucos vão fazendo com que o capitalismo volte para onde deveria ser, um
capitalismo mais humano, onde o lucro não é o objetivo final, mas o resultado de
benefício social. Podemos afirmar que tanto o conceito de Economia Social e de
Empreendedorismo Social são algo em construção e sendo caracterizados, muitas vez,
por novas ações e experiências inovadoras que ainda estão, ou precisam ser mais bem
estudadas, deixam dessa forma muitas perguntas ainda em abertas.
Acreditamos que os próximos anos serão importantes à implementação de novos
negócios sociais e empresas sociais. Iremos experimentar, falhar, mas "falhar cada vez
melhor" como refere Samuel Becket (Gata, cit. por Azevedo, 2012).
Portugal é um país rico em organizações do Terceiro Setor, por tal facto torna-se
fundamental a existência da promoção do intrapreendedorismo: o empreendedorismo
por conta de outrem ou o desenvolvimento de novas iniciativas em organizações já
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22
existentes. Este processo permite uma redução significativa de custos de implementação
e gestão de projeto, numa fase inicial. Por outro lado, canalizar a inovação e
empreendedorismo para organizações já existentes, estaremos a aumentar o dinamismo
do setor e a promover um melhor aproveitamento dos recursos existentes, quer
humanos, quer logísticos (Martins & Pinheiro, cit. por Azevedo, 2012).
Quanto ao projeto analisado, podemos concluir, e segundo (Alvord et al., 2002),
que o mesmo promove em especial duas das alavancas de transformação, a saber:
cultural e económica.
Na questão cultural, ocorreram mudanças na formulação da execução na forma
de empreender. Primeiro, no que concerne ao empresário do projeto Riscos, por mais
que tenhamos concluído que este, de forma direta, não caracteriza um empreendedor
social, deve-se ter em conta que o mesmo desenvolveu vínculo com as I.P.S.S., tanto
pelo projeto Riscos, como pela atuação profissional no meio do Terceiro Setor. Sendo a
partir de tal vínculo que se desenvolveu a parceria, do inverso segundo consulta
realizada, o mesmo poderia realizar uma parceria com uma industrial convencional na
produção dos biscoitos, com custo semelhante ou até inferior de produção. Segundo,
pois o mesmo veio impulsionar o trabalho ocupacional, fruto de sua ideia inovadora,
aliado a um compromisso aceite e participado pelas I.P.S.S. nomeadamente os seus
clientes e com responsabilidade social, no processo de reabilitação e integração social.
Terceiro, pode-se afirmar que a iniciativa empreendedora provocou mudanças nas
normas/padrões culturais tanto de forma geral, pela inovação através da parceria entre o
empresário e as instituições parceiras, promovendo a ruptura a um modelo convencional
que poderia ser executado na produção e mesmo na comercialização dos biscoitos, pois
esses carregam a “marca” da parceria que se estabeleceu entre ambos. Quarto, e a mais
importante, é quanto às instituições parceiras, as suas envolvências e participação na
comunidade, têm enraizadas as práticas de promoção da ocupação, reabilitação e
inclusão social de pessoas em situação de desvantagem, com especial incidência nos
que têm deficiência e/ou incapacidade, através dos valores referenciados na sua missão.
Desta forma, estas I.P.S.S. embarcaram na oportunidade do empresário Rui Pais, para
encontrar mais um forma de ocupar e reabilitar os seus clientes, provendo assim a
transformação social, visto que através do trabalho que os mesmos desenvolvem,
sentem-se incluídos e valorizados, logo é promovido o crescimento humano de cada
indivíduo, contribuindo para a qualidade de vida destes.
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23
Na questão económica, além da parceria gerar emprego, isto é, o sustento do
empresário e de sua família e de outros agentes envolvidos de forma indireta através do
comércio gerado pelos Riscos, destaca-se a contribuição para a sustentabilidade
financeira das instituições parceiras, por parte do projeto. Pois, por mais que se
constante que a atenção esteja na inovação e nos arranjos sociais os quais têm
consequências nos problemas sociais, se constata de igual forma, que mesmo ocorrendo
pouca atenção à viabilidade económica em critérios comerciais normais, as I.P.S.S
desenvolveram iniciativas inovadoras, construindo novos arranjos sociais e mobilizando
recursos financeiros que vem contribuir a seus problemas, sem se deixar levar pelos
ditames do mercado ou de critérios meramente comerciais.
Enfim, a necessidade de estudar projetos como este faz-nos acreditar que há
possibilidade, tal como ao empresário Rui Pais, de tornar os “sonhos” em realidade. O
“Riscos” mostra-nos como um pequeno projeto pode “transformar” uma parcela da
sociedade, porque aplicando a inovação, a criatividade, e o sentido de empenhamento de
diversos atores, poe em questão os valores tradicionais, sobre a economia e a produção e
mostra-nos que é possível alterar o comportamento humano do mundo económico atual.
Bibliografia
Alvord, Sarah H.; Brown, L. David e Christine W. Letts. “Social Entrepreneurship and
Social Transformation: An Exploratory Study”, Hauser Center for Nonprofit
Organizations Working Paper No. 15.
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Projeto Riscos

  • 1. Universidade de Coimbra | Faculdades de Economia e de Psicologia e Ciências de Educação de Coimbra 1 Mestrado em Intervenção Social, Inovação e Empreendedorismo PROJETO RISCOS Professora Doutora Sílvia Ferreira Mestrandos Carla Andrade | Inês Cardoso | Jarbas Cardoso Coimbra, janeiro de 2016
  • 2. Universidade de Coimbra | Faculdades de Economia e de Psicologia e Ciências de Educação de Coimbra I Índice 1 Introdução............................................................................................................................1 2 Caracterização do Empresário ............................................................................................4 3 Caracterização das Entidades Parceiras ........................................................................6 3.1 Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental de Coimbra....6 3.2. Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra...............................................................7 4 Caracterização e análise do Projeto de Empreendedorismo Social……………12 4.1 Caracterização..............................................................................................................10 4.2 Análise conceptual da Empresa Riscos.........................................................................15 5 Considerações finais......................................................................................................21 Bibliografia............................................................................................................................23
  • 3. Universidade de Coimbra | Faculdades de Economia e de Psicologia e Ciências de Educação de Coimbra II Lista de abreviaturas A.P.P.C - Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra A.P.P.A.C.D.M - Associação de Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental de Coimbra C.A.O - Centro de Atividades Ocupacionais C.R.P.P.C - Centro de Reabilitação de Paralisia Cerebral de Coimbra I.P.S.S - Instituição Particular de Solidariedade Social N.R.C.A.P.P.C – Núcleo Regional do Centro da Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra WISE - Empresas Sociais de Integração pelo Trabalho
  • 4. Universidade de Coimbra | Faculdades de Economia e de Psicologia e Ciências de Educação de Coimbra 1 1 Introdução No âmbito da unidade curricular de Sociedade, Inovação e Empreendedorismo, do 1º Semestre, ano letivo 2015/2016, do curso de Mestrado em Intervenção Social, Inovação e Empreendedorismo, da Faculdade de Economia e de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, elaborou-se um trabalho que resulta de uma abordagem critico-reflexiva do Projeto de Empreendedorismo Social “Riscos”, com carácter inovador e empreendedor. Vivemos num mundo cada vez mais interligado sob a ótica da economia capitalista, a qual impera em nosso meio com o apoio de tecnologias, em especial as de comunicação. Nesse âmbito o quotidiano em si, tanto nos grandes centros como nas mais remotas localidades, a lógica da economia capitalista procura nos conduzir a um comportamento que privilegia o consumo e o valor da troca. Nela tudo é visto como mercadoria, desde os meios de produção e distribuição, sendo todas as transações voltada unicamente à propriedade privada e ao acúmulo de capital. Esse modelo económico busca ser hegemônico em todos os âmbitos da vida humana, “influindo nas políticas de estado, industriais, na relação de trabalho, na cultura, na relação com a natureza,” submetendo tudo à reprodução do capital. Diante do modelo económico hegemônico atual, são muitos os efeitos negativos que fazem com que se busque novas alternativas económicas, dentre esses podemos citar a própria exploração do homem pelo homem, que ocorre atualmente sobre o argumento de promover maior competição entre os produtos e serviços das empresas, através da redução dos salários dos trabalhadores; a precarização do trabalho; as crise e a vulnerabilidade económica que ocorrem ciclicamente as quais acabam por promover a estagnação económica, o desemprego e, de igual forma, influindo em políticas de austeridade por parte do Estado, as quais muitas vezes resultam em cortes de recursos financeiros em áreas sociais, afetando sempre os mais vulneráveis economicamente; o uso e consumo desenfreado dos recursos naturais, os quais são limitados, dentre outros exemplos que aqui poderiam ser citados. Contrariamente às lacunas deixadas historicamente, tanto por parte do Estado e do Sistema Capitalista (neoliberal mercantil), que geram pobreza e exclusão social surgem novos movimentos, organizações, que almejam uma sociedade mais justa e equilibrada economicamente, priorizando de igual forma a promoção humana nos
  • 5. Universidade de Coimbra | Faculdades de Economia e de Psicologia e Ciências de Educação de Coimbra 2 campos da ética e da política e não meramente através do lucro. São instituições e ações que compõem o chamado Terceiro Setor, ou quando referidas no quesito económico, de Economia Social ou Solidária. Essas ações alternativas são diversas e muitas vezes até singulares, mas que são expressas em experiências coletivas de trabalho organizado sob a forma de cooperativas, associações, clubes de troca, empresas autogestionárias, redes de cooperação, dentre outras. Mesmo plurais, esses movimentos alternativos à economia capitalista, possuem, (ou devem possuir), princípios em comum que os definem como tais, como o trabalho em cooperação, participação democrática, responsabilidade de autogestão, solidariedade, respeito a natureza, comércio justo e consumo solidário. No campo conceitual esses princípios são consenso entre os estudiosos e teóricos do tema, de igual forma, é consenso também que esse fenómeno (ou fenómenos) alternativo à economia hegemónica é constituído de diferentes formas, conceitos e escolas de pensamento com origens em diferentes países e regiões. Logo a importância em se aprofundar o estudo e definição dessas experiências alternativas à economia hegemônica, exatamente para desenvolver propostas que possam ser usadas tanto em escala local, regional, mas também na grande escala, sendo essa última um dos desafios. O uso e definição do conceito de economia social é segundo Manuela Silva (2012), um debate inacabado e está longe de ser consensual, pois não existe unanimidade acerca da preferência relativamente à designação considerada mais ajustada, a dificuldade “resulta da complexidade e da pluralidade de expressão que a economia social pode abranger a respetivas tradições históricas”. Segundo Silva, em Portugal, o conceito economia social é a definição mais tradicional e tem o mérito de definir com clareza o perímetro legal deste sector. Ainda para a pesquisadora a designação economia solidária, preferida por outros pesquisadores, poderá no futuro ser uma alternativa. Para Paul Singer (2002) em sua definição de economia solidária, termo em uso no Brasil, a mesma representa um conjunto de atividades econômicas de produção, distribuição, consumo, poupança e crédito, organizadas coletivamente de acordo com os princípios da autogestão. Essa forma de produção visa transformar o trabalho num meio de libertação humana dentro do processo de democratização econômica, alternativa à dimensão alienante do modelo de trabalho assalariado capitalista. Já para Pedro Hespanha e Luciana Santos (2012), economia solidária é um termo recente e pouco usado em Portugal, e engloba uma diversidade de atividades
  • 6. Universidade de Coimbra | Faculdades de Economia e de Psicologia e Ciências de Educação de Coimbra 3 económicas, formas de produzir, trocar e consumir, baseadas em relações de cooperação e em princípios de gestão democrática. Segundo Hespanha, há uma diferença, não muito clara, entre economia solidária e economia social, fazendo parte dessa última as instituições juridicamente constituídas, a saber, as cooperativas, as mutualidades e as associações. As iniciativas mais espontâneas, inovadoras e democráticas, foram ficando de fora da economia social e, portanto, economia solidária tornou-se assim a designação comum destas formas emergentes e não enquadráveis institucionalmente na economia social. Quanto a o Empreendedorismo Social, segundo (Alvord et al., 2002) é um conceito que vem sendo reverenciado ao longo do contexto de empreendimentos comerciais e económicos como solução a problemas sociais, através de ações eficazes e sustentáveis que exigem ingredientes associados ao sucesso da inovação e na criação de empresas. Ainda para (Alvord et al., 2002), o conceito de empreendedorismo tem uma longa história no setor empresarial, e um tema importante foi a criação de valor através da inovação. Quando aplicado, mais recentemente, a preocupações sociais, o conceito assumiu uma variedade de significados. Alguns, por exemplo, têm-se centrado sobre o empreendedorismo social como uma combinação de empresas comerciais com impactos sociais. Nesta perspetiva, os empresários têm usado as habilidades de negócio e conhecimento para criar empresas que realizam fins sociais, além de ser comercialmente viável. Ainda pode-se criar filiais comerciais, ou organizações sem fins lucrativos e usá- las para gerar emprego ou receita que servem a fins sociais, ou ainda para organizações sem fins lucrativos que podem doar parte dos seus lucros ou organizar suas atividades para servir objetivos sociais. Estas iniciativas usam os recursos gerados a partir de atividades comerciais de sucesso para avançar e sustentar suas atividades sociais. Já em uma perspetiva do empreendedorismo social como inovação para impacto social, segundo (Alvord et al., 2002) a atenção está focada na inovação e nos arranjos sociais que têm consequências para os problemas sociais, em qual muitas vezes relativamente tem pouca atenção à viabilidade econômica em critérios comerciais normais, pois os empreendedores sociais estão focados em problemas sociais e em criar iniciativas inovadoras, construir novos arranjos sociais e mobilizar recursos em respostas a esses problemas, em vez de deixar se levar pelos ditames do mercado ou de critérios meramente comerciais.
  • 7. Universidade de Coimbra | Faculdades de Economia e de Psicologia e Ciências de Educação de Coimbra 4 Este trabalho, através da ótica Economia Social, bem como a questão do Empreendedorismo Social, busca investigar o carácter inovador e empreendedor do projeto “Riscos”. Quanto à organização metodológica do trabalho, trata-se de um estudo qualitativo, que assenta na análise do projeto em questão através de entrevistas realizadas ao empresário e as instituições parceiras e no estudo de outros materiais já elaborados sobre o tema. Conta na sua estrutura com quatro capítulos, ao longo dos quais realizar-se-á uma investigação conceptual. No primeiro apresenta-se sumariamente o empresário Rui Pais, proprietário e responsável pela implementação do projeto. No segundo faz-se uma breve discrição das instituições parceiras, Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental de Coimbra (A.P.P.A.C.D.M.) e Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra (A.P.C.C.). No terceiro capítulo apresenta-se e caracteriza-se o Projeto ”Riscos”. Por fim, serão apresentadas as respetivas conclusões. 2 Caracterização do Empresário Fruto de uma entrevista realizada no mês de novembro do ano de 2015, o grupo de trabalho caracterizará, de forma sucinta, o empresário que promoveu, dinamizou e implementou o projeto “Riscos” - Rui Pais. Rui Pais, de 47 anos, tem como habilitações académicas a licenciatura em Economia, pela Faculdade de Economia de Coimbra. Trabalhou cerca de 20 anos no sector imobiliário. No entanto, cansado da monotonia da sua atividade e, tendo em conta a situação de crise que Portugal enfrentava e a consequente queda nas vendas de imóveis, avançou para a criação da sua empresa “Riscos”, sendo que “uma crise deve ser um momento de criatividade social” (Vasconcelos, 2012, p33). Rui Pais afirma: não estava desempregado, mas o emprego era precário. Um dia, em casa, à volta do forno, tentei recriar um biscoito super estaladiço. Os familiares e amigos gostaram e então pensei: porque não? Foi no entanto necessário, arranjar quem pudesse produzir os referidos biscoitos, o que acabou por acontecer através da parceria criada com a A.P.P.A.C.D.M. de Coimbra (Centro de Montemor o Velho e Centro de S. Silvestre) e posteriormente com a A.P.C.C. (Quinta da Conraria). Segundo Schumpeter “O empreendedor é o agente do processo de destruição criativa, que é o impulso fundamental que aciona e mantem em marcha o motor capitalista,
  • 8. Universidade de Coimbra | Faculdades de Economia e de Psicologia e Ciências de Educação de Coimbra 5 constantemente criando novos produtos, novos mercados e, implacavelmente sobrepondo-se aos antigos métodos menos eficientes e mais comuns” (Elgar, 2006: 21- 34). Rui Pais, perante a necessidade e as dificuldades sentidas, decidiu abrir o seu próprio negócio, motivado pelo poder e prazer de criar algo novo, que lhe permitisse abrir os horizontes e criar o seu próprio rendimento como forma de subsistência. Tendo alguns conhecimentos, sendo um homem dinâmico e ativo, aliou as suas competências pessoais, profissionais e relacionais, para a criação da Empresa Riscos. “Um empresário é alguém que corre riscos, uma pessoa motivada pelo desejo ardente de aplicar a sua ideia a uma empresa.” (Yunos, 2011: 55). Faltava-lhe no entanto, a forma de produção (onde, como, quem iria produzir os biscoitos), mas para tal decidiu estabelecer uma parceria inédita com Instituições do Terceiro Sector. Consideramos que as relações inter-setoriais, entre os sectores privado (Rui Pais), e as I.P.S.S. (Terceiro Sector, que produzem os riscos), levaram à criação do Projeto de Empreendedorismo Social, Riscos”, comprovando que as tradicionais fronteiras entre os sectores se estão a diluir. Permitindo assim, que se possam criar novos produtos (biscoitos riscos), com as exigências de ética nos negócios, que lhe confiram sustentabilidade económica, associados às novas necessidades do terceiro sector, tais como a integração, participação, inclusão, entre muitas outras, aliadas à exigência de prestação de contas e de sustentabilidade também ela económica, cultural e social. Segundo diversos autores, ao promover a capacitação e o espírito empreendedor da sociedade civil, colocados ao serviço de uma miríade de necessidades especiais, o empreendedorismo social perfila-se como um constructo teórico-prático novo, com características, princípios e valores próprios, mobilizado na Europa em contexto de crise económica e social (Parente et al., 2011). Ou seja, em nosso entender o empresário Rui Pais, tal como associa Schumpeter "o empreendedor é um agente de mudança na economia, identificando nele a força para liderar o processo económico e a capacidade para liderar o processo económico e a capacidade para identificar uma oportunidade” (Parente et al., 2011: 271). Este ao articular com as organizações do terceiro sector, promoveu uma combinação de métodos empresariais, com os métodos utilizados nas I.P.S.S. em causa, de modo a “criar valor social de forma sustentável e com potencial de impacto a larga escala” (Parente et al., 2011: 279). Aliar a criatividade, com formas novas de produção (público portador de deficiência mental, que utiliza este meio como forma de ocupação e reabilitação) e a
  • 9. Universidade de Coimbra | Faculdades de Economia e de Psicologia e Ciências de Educação de Coimbra 6 comercialização fizeram dos “Riscos” biscoitos com carácter único e especial. Com os seus variados sabores a limão, crocantes de sésamo e girassol, cravo e canela, não possuem quaisquer aditivos, sendo considerados pelo empresário "saborosos, estaladiços e devoram-se num ápice.” Assim Rui Pais, acabou por dar azo ao Projeto Riscos de Empreendedorismo Social, partindo da necessidade de resolver o seu negócio, mas que acabou por mobilizar organizações e clientes do Terceiro Setor, utilizando práticas empresariais que conciliou com ações empreendedoras voltadas para o desenvolvimento de iniciativas de cunho social (Bignetti, 2011) por parte das I.P.S.S., e que caracterizam este Projeto de Empreendedorismo Social, como objeto de análise. 3 Caracterização das Entidades Parceiras Neste capítulo apresentam-se as duas organizações do Terceiro Setor, a A.P.P.C.D.M. de Coimbra e a A.P.P.C., que permitiram ao empresário Rui Pais implementar o seu projeto. Estas I.P.S.S., pela sua forma de estar e de ser são organizações abertas ao mundo, capazes de entender os sinais e evolução dos contextos, por esse motivo ser evidenciada uma breve resenha das mesmas. O seu relacionamento com a comunidade, bem como com as partes interessadas é um fator chave de inovação, permitindo-lhes identificar problemas e oportunidades, desejos, problemas e expectativas daqueles que com elas se interagem, tendo sempre como último objetivo a promoção da qualidade de vida dos seus clientes. 3.1 Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental de Coimbra Inicialmente a A.P.P.A.C.D.M. de Coimbra era uma delegação da Direção Nacional da A.P.P.A.C.D.M. e assim se manteve até ao ano 2000, altura em que se constituiu como Instituição Autónoma. Atualmente a A.P.P.A.C.D.M. de Coimbra cobre os Concelhos de Coimbra, Arganil, Montemor – o – Velho e Cantanhede, podendo ainda prestar apoio a indivíduos ou famílias de outros concelhos, desde que os mesmos não tenham resposta congénere, ou por opção das famílias. Em seu percurso a Associação foi-se desenvolvendo, procurando criar respostas adaptadas às diferentes
  • 10. Universidade de Coimbra | Faculdades de Economia e de Psicologia e Ciências de Educação de Coimbra 7 necessidades, que ao longo do ciclo de vida, as pessoas portadoras de deficiência mental e suas famílias, vão sentindo e em sintonia com a própria evolução de conceitos e modelos de intervenção nesta área. Possui atualmente as valências de C.A.O. (Centro de Atividades Ocupacionais), Lar (Lares Residenciais), C.R.I. (Centro de Recursos para a Inclusão), Formação Profissional, Intervenção Precoce, Pré-Escolar, Clínica Física e de Reabilitação e Apoio Domiciliário. A sua atuação assenta em valores como o da individualidade (a especificidade e a individualidade de cada pessoa com deficiência mental e sua família têm que ser percebidas e respeitadas, defendendo o direito à expressão das suas necessidades), o da participação (as pessoas com deficiência são os decisores da sua própria vida no que toca às suas necessidades, interesses e apoios recebidos, sendo por isso a opinião determinante para a organização dos serviços prestados por esta instituição), o da inclusão (a comunidade é o espaço onde cada pessoa com deficiência tem direito a crescer, a aprender, a trabalhar, a participar e a viver o seu quotidiano), o da inovação (a procura em cada momento de novas respostas, diferentes estratégias e novos modos de trabalhar é determinante para a qualidade do atendimento), o da melhoria contínua (adequada aplicação de práticas de qualidade na permanente busca da excelência dos serviços prestados e na procura de formação contínua para os colaboradores), o da articulação com a comunidade (manutenção de uma relação estreita com as comunidades locais e de abertura recíproca consolidando o papel da instituição como polo dinamizador de inclusão) e o da abrangência (procura das melhores respostas em cada etapa da vida do cidadão com deficiência mental). A missão da A.P.P.A.C.D.M. de Coimbra centra-se em criar condições para que cada pessoa com deficiência mental (ou em situação de exclusão) possa atingir a sua plenitude como ser humano e social, potenciando a sua individualidade e consolidando a sua participação efetiva na sociedade. 3.2. Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra A Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra é uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), com origem no N.R.C.-A.P.P.C., que iniciou a sua atividade em 1975.
  • 11. Universidade de Coimbra | Faculdades de Economia e de Psicologia e Ciências de Educação de Coimbra 8 Como primeira atitude foi criado o Centro de Reabilitação de Paralisia Cerebral de Coimbra – CRPCC, direcionado para a reabilitação de crianças com Paralisia Cerebral, situações neurológicas afins e outras e apoio às suas famílias. Em setembro de 1977, o C.R.P.C.C. foi oficializado pelo Dec. Lei 374/77, de 5 de setembro, passando a ter gestão própria e exigiram respostas mais diversificadas, o que levou a associação a estabelecer prioridades e a desenvolver novos serviços, direcionados a jovens e adultos. O impacto social positivo gerado na comunidade e a qualidade dos serviços prestados, originaram uma maior procura e exigiram respostas mais diversificadas, o que levou a associação a estabelecer prioridades e a desenvolver novos serviços, direcionados para jovens e adultos Assim, em 1983 por despacho do Ministro dos Assuntos Sociais de 31 de março, o Centro Regional de Segurança Social de Coimbra, cede ao N.R.C.A.P.P.C, uma quinta – designada por Quinta da Conraria. Esta cria a possibilidade de desenvolver respostas de formação profissional e outras, para pessoas com deficiências e incapacidades da Região Centro. A entrada de Portugal na Comunidade Europeia, abriu perspetivas de desenvolvimento de ações formativas, até aqui impossíveis de realizar, assim, em 1989 a Associação inicia-se a Formação Profissional direcionada para a pessoa com deficiência. Em 1992, cria o Centro de Atividades Ocupacionais. Elabora um acordo de cooperação com o Centro Regional de Segurança Social de Coimbra, destinado a pessoas com deficiência e com graves limitações na autonomia pessoal. Numa perspetiva de melhor responder às necessidades dos clientes outras respostas foram criadas, nomeadamente Hipoterapia e o Estudo da Baixa Visão, Ludoteca, Quinta Pedagógica, Musicoterapia e outras. A A.P.C.C. sempre apoiou as comunidades educativas da Região Centro, culminando com a criação do Centro de Recursos para a Inclusão. No período que medeia a criação destas unidades de reabilitação e a atualidade, foram encontradas novas soluções direcionadas para pessoas em risco de exclusão social como a construção de um lar integrado, em funcionamento desde dezembro de 2013. A A.P.C.C. foi distinguida, em 2009, pela sua excelência na gestão e qualidade conforme certificação ISO 9001/2008 e pela qualidade dos serviços prestados pela
  • 12. Universidade de Coimbra | Faculdades de Economia e de Psicologia e Ciências de Educação de Coimbra 9 certificação EQUASS nível 1 (EQUASS ASSURANCE), sendo atualmente certificada pela EQUASS nível 2 (EQUASS EXCELLENCE), distinção obtida em 2013. Tem como missão “Promover a inclusão social de pessoas em situação de desvantagem, com especial incidência nos que têm deficiência e/ou incapacidade” (A.P.C.C., s.d.). Esta organização tem os seguintes objetivos: i) sensibilizar a comunidade para a problemática da pessoa com deficiência ou incapacidade; ii) envolver a comunidade na problemática da prevenção da paralisia cerebral; iii) criar e desenvolver serviços e unidades de reabilitação, habilitação, formação e integração; iv) criar e desenvolver serviços e unidades direcionadas para a pessoa com necessidades complexas de reabilitação e integração; v) criar e desenvolver serviços de apoio à família da pessoa com deficiência; vi) promover a atualização e especialização de recursos humanos em reabilitação; vii) estabelecer parcerias nacionais e transnacionais para a promoção e divulgação dos direitos da pessoa com deficiência; viii) promover a filiação de entidades em associações congéneres nacionais e internacionais. Da análise das instituições supra referidas, consideramos que a sua envolvência e participação na comunidade, bem como a necessidade de promover a ocupação, reabilitação e a inclusão social de pessoas em situação de desvantagem, com especial incidência nos que têm deficiência e/ou incapacidade, através de valores como a individualidade, a inovação, a melhoria continua e abrangência, foi um dos fatores, para que a parceria se pautasse pelo enorme sucesso alcançado. Assim, estas instituições aproveitaram a oportunidade do empresário Rui Pais, para encontrar mais uma maneira de ocupar e reabilitar os clientes dos Centros de Atividades Ocupacionais (C.A.O.), por forma a dar resposta ao desafio colocado pelo empresário, foram calculados os custos de produção dos biscoitos (note-se que os C.A.O. não trabalham apenas para este empresário, mas que fazem parte das suas atividades diárias a produção de diversos produtos/bens na área da culinária, que comercializam diretamente, ou produzem para revenda, sendo estes apenas mais um produto a integrar na sua vasta lista de bens produzidos). Tal facto permitiu a produção dos “Riscos” a um preço mais acessível, criando condições de o empresário poder comercializar os biscoitos a um preço mais elevado para os seus consumidores finais. Segundo Gregory Dees "o empreendedor social seria um agente de mudança no sector social e realçou três aspectos principais: a inovação, o compromisso e a alta
  • 13. Universidade de Coimbra | Faculdades de Economia e de Psicologia e Ciências de Educação de Coimbra 10 responsabilidade com o projecto” (Dees, 1998, in Navarro et al., 2015). Em análise grupal concluímos que Rui Pais não é um empreendedor social, mas um empreendedor que veio impulsionar um trabalho ocupacional, fruto de uma inovação, aliado a um compromisso aceite e participado pelas instituições referidas, nomeadamente os seus clientes, e com a responsabilidade social, no processo de reabilitação e integração social. A motivação dos Centros de Atividades Ocupacionais da A.P.P.A.C.D.M. e posteriormente da A.P.P.A de Coimbra, para que os seus clientes (pessoas habitualmente excluídas pelo mercado normal de trabalho, em consequência da sua deficiência mental), pudessem produzir e estar socialmente integrados numa pratica ocupacional e reabilitacional, usufruindo ainda de um pagamento pelo trabalho realizado. É neste contexto que consideramos o Projeto Risco, como um Projeto de Empreendedorismos Social, tendo em conta:  Possui uma missão social, que pretende dar resposta a um problema social;  Apresenta uma solução inovadora que se caracteriza pela criação de um produto, bem ou serviço ou de um novo modelo de negócio que permita maior criação de valor a um menor custo;  A geração de impacto social, tendo uma estratégica alicerçada na transformação social positiva dos seus públicos-alvo;  Um elevado grau de escalabilidade ou replicabilidade;  Uma forte estratégia de sustentabilidade financeira conseguida através de fontes de financiamento (Martins e Pinheiro, in Azevedo et al., 2012). 4 Caracterização e análise do Projeto de Empreendedorismo Social 4.1 Caracterização Os “Riscos” é a designação atribuída à empresa e aos próprios biscoitos. Rui Pais, para a designação da empresa, baseou-se para isso no “risco de arriscar”, uma vez que a implementação deste projeto decorreu num período de crise e para a designação dos biscoitos, no seu aspeto alongado e fino, semelhante a um “risco”.
  • 14. Universidade de Coimbra | Faculdades de Economia e de Psicologia e Ciências de Educação de Coimbra 11 Os “riscos” produzidos pelas entidades parceiras, nos Centros de São Silvestre e Montemor-o-Velho da A.P.P.A.C.D.M. de Coimbra e na Quinta da Conraria, da A.P.C- C., encontram-se atualmente disponíveis em cerca de 50 pontos de venda, nacionais e internacionais. A empresa foi constituída como unipessoal, sem que fosse necessário recorrer a qualquer tipo de apoios. De acordo com Diogo Vasconcelos é necessário “mobilizar diferentes agentes (neste caso uma empresa privada), envolvam os utilizadores (co- criação), e criem inegável valor social, (Vasconselos, 2012: 32). O estabelecimento de parcerias com as I.P.S.S. coloca de parte a necessidade de ter ativos, visto que toda a matéria-prima, bem como a produção, é realizada nas respetivas instituições, pelos seus clientes portadores de deficiência mental ou incapacidade. Quanto à área do negócio, ele não possui imobilizado. As parcerias assentam na compra do produto às organizações pelo valor por elas estabelecido (0,80€/unidade). Esta parceria, para além de comercial, é também uma partilha constante de laços, afetos e relações com os clientes com deficiência ou incapacidade. Para além de comercial, a parceria (cujo objetivo se prende com o lucro do empresário), é também uma partilha constante de laços, afetos e relações com os clientes com deficiência ou incapacidade. De facto, este projeto de Empreendedorismo Social, teve por base a necessidade sentida pelo empresário Rui Pais (para resolver a sua situação pessoal), mas que cedo veio a desenhar-se como projeto inovador, que aliou o “conhecimento aplicado a necessidades sociais através da participação e da cooperação de todos os atores envolvidos, gerando soluções novas e duradouras, para grupos sociais, comunidades ou para a sociedade em geral” (Bignetti, 2011). Ou seja, a inovação segundo o mesmo autor, é entendida como “uma forma inédita de fazer as combinações gerando resultado económico” (Bignetti, 2011). Para Byrd e Brown, a inovação resulta da combinação entre a criatividade e a tomada de risco (Byrd e Brown, cit. por Bignetti, 2011), e que em nosso entender foi o que se passou, com o Projeto Riscos. O início da empresa foi complicado. Após a experimentação e face a diversas tentativas relativamente à produção de biscoitos (receita original) foi conseguida a obtenção do produto final. Note-se que estes biscoitos tradicionais, com design inovador, não tem aditivos alimentares.
  • 15. Universidade de Coimbra | Faculdades de Economia e de Psicologia e Ciências de Educação de Coimbra 12 A falta de cadência na produção dos mesmos – festas, dinâmicas institucionais e até mesmo as características pessoais dos clientes do C.A.O. - levou a que não se conseguisse prever as quantidades a produzir para satisfação do mercado. Fazendo o balanço de dois anos e meio de produção, os clientes de C.A.O. mantêm-se motivados, conseguindo manter o ritmo de produção estipulado (segunda- feira, quarta-feira e sexta-feira) superando as expectativas iniciais. Em análise, esta inovação passou a ser inovação social, pois “as novas ideias (produtos, serviços e modelos) que simultaneamente satisfazem as necessidades sociais e criam novas relações ou colaborações sociais. Por outras palavras, são inovações que ao mesmo tempo, são boas para a sociedade e aumentam a capacidade da sociedade de agir” (Murray et al., 2010, cit. por Bignetti, 2011). No nosso caso, o número de clientes de C.A.O., das instituições em causa foi aumentando precisamente porque eles próprios se sentiram bem, integrados, adquirindo novas competências e as capacidades necessárias para conseguir atingir os objetivos propostos (ao nível da produção). Também os intervenientes sentirem este projeto como um desafio. Segundo Mulgan, o “papel crítico desenvolvido pelos «conectores» empreendedores, brokers e instituições que unem pessoas, ideias, recursos e poder e cuja integração contribui para mudanças duradouras” (Mulgan et al., 2007, cit. por Bignetti, 2011), é bem visível neste projeto Riscos, porque atualmente o alargamento da produção envolve já duas organizações do Terceiro Setor, implicando cerca de 24 clientes e 3 monitores, tendo que ser reavaliado, sempre que necessário para dar resposta às solicitações de mercado. É de salientar que continua a ser uma produção artesanal, que depende de vários fatores, sendo o humano o mais difícil de controlar – visto que quem produz os biscoitos são pessoas com deficiência ou incapacidade intelectual e estão integradas em programas ocupacionais – logo fatores como a disposição e a subjetividade são muito importantes na produção alcançada. As equipas de produção são constituídas por 5 ou 6 elementos, acompanhados pelos seus monitores. Em virtude das encomendas terem aumentado ao longo destes dois anos e meio, Rui Pais viu-se obrigado a alargar os contatos com outras instituições congéneres. Posto isto, estabeleceu relações com outro Centro da A.P.P.A.C.D.M. de Coimbra, o Centro de São Silvestre e com a A.P.P.C. de Coimbra. Assim, estabeleceu que cada IPSS produz “riscos”, mas de sabores diferentes:
  • 16. Universidade de Coimbra | Faculdades de Economia e de Psicologia e Ciências de Educação de Coimbra 13  A.P.P.A.C.D.M. de Montemor-o-Velho (equipa de 8 a 10 clientes do C.A.O.): “riscos” de limão;  A.P.P.A.C.D.M. de São Silvestre (equipa de 5 a 6 clientes C.A.O.): “riscos” de sésamo e girassol;  A.P.P.C de Coimbra (equipa de 8 clientes de C.A.O.): “riscos” de vinho do Porto, cravo e canela. Refira-se a excelente qualidade dos biscoitos “riscos”, que têm uma validade de 5 meses, o que implica que estes sejam vendidos a um público seletivo. A venda é realizada apenas em lojas gourmet. O público que adquire este género de produtos é seleto e seletivo, visto que procura continuamente produtos novos. Ao consumidor final chegam os biscoitos com um custo total de 3,5 € a unidade. Os “riscos”, como já mencionado estão difundidos a nível nacional e internacional. As exportações tem crescido substancialmente, e neste momento os produtos estão disseminados por: Heidelberg e Frankfourt, na Alemanha; Dudelong, no Luxemburgo, Manchester em Inglaterra; Paris e Biarritz, em França, em Bruxelas e na Bélgica. O maior problema da comercialização prende-se com a embalagem. Os “riscos” são um produto que se parte com muita facilidade. Realizando um balanço económico da empresa, Rui Pais afirma que está longe de se situar num patamar de conforto e estabilidade, referindo mesmo que no corrente ano (2015), houve uma quebra muito grande na venda destes biscoitos. Tendo em consideração este balanço, começou a estudar-se um outro produto que pudesse ser comercializado, tendo em conta as características do nicho de mercado onde atua, mercado turístico, nacional e internacional e de lojas gourmet. Este novo produto, não interessa ainda ao nosso estudo, no entanto consideramos importante descrever sucintamente a sua análise, apenas para perceber o dinamismo e o contexto de evolução da Riscos”- empresa. Posto isto, decidiu lançar-se na área das conservas e patés – produtos manufaturados, em maior escala. Estes produtos não se inserem no nosso objetivo de estudo, interessam apenas para perceber o dinamismo e o contexto de evolução da Empresa Riscos. Embora, tal como os “riscos”, também estes “riscos” (conservas) foram entregues a empresas conserveiras portuguesas – outsorcing - e a sua embalagem e design (elaborada pela Joana Monteiro, que recentemente ganhou o prémio Sebastião
  • 17. Universidade de Coimbra | Faculdades de Economia e de Psicologia e Ciências de Educação de Coimbra 14 Rodrigues), ficando novamente o empresário com a tarefa de distribuição e comercialização. Os pontos de venda atuais situam-se, primordialmente no litoral do país, entre Vila do Conde e Lisboa, cidade onde está disponível, no Museu Nacional de Arte Antiga, uma série especial dos "Riscos". É o empresário Rui Pais que faz a distribuição em Portugal e, para já, só tem rotas para norte e para sul de Coimbra. Atualmente, a exceção é a Guarda, estando Rui Pais a desenvolver contactos para expandir a rede nas regiões de Viseu e Évora. A produção inicial das conservas tem sido alvo de reajustes, sendo agora no Natal de 2015 lançada uma nova gama de receitas originais. As conservas estão a comercializar-se de forma muito positiva, tendo recentemente entrado no mercado espanhol. O que levantou um problema de registo da marca em Espanha, tendo que readaptar a sua marca de origem, para continuar a comercializar sem problemas judiciais. Aquando o lançamento dos “riscos” conservas, foi no sentido de contrabalançar as vendas, com a produção de biscoitos. Uma vez que estes se vendiam mais nos períodos de setembro a dezembro e de janeiro a fevereiro, depois entravam em quebra. As conservas vendiam-se melhor a partir de maio, e durante o período de verão. Com a quebra de vendas já referidas nos biscoitos, as conservas passaram a ter venda todos os meses do ano, correspondendo neste momento a 70% das vendas. Mesmo este produto não sendo produzido pelos clientes do Terceiro Sector, houve o cuidado de as embalagens, serem adaptadas com desenhos de uma cliente da A.P.P.A.C.D.M. de São Silvestre (autista), e que desenhou e idealizou uma embalagem especial que comporta os 4 modelos de conservas, envoltas numa rede a imitar as de pesca. O entrevistado, em virtude das dificuldades da referida cliente desenhar as embalagens, mandou fazer serigrafias dos desenhos, e esta passou apenas a assiná-los. Possibilidades futuras de crescimento:  Em relação aos riscos-biscoitos: melhorar a embalagem e as condições de transporte das mesmas;  Em relação às conservas e pates: possibilidade de todo o processo de embalamento passar a ser feito pelos clientes das Instituições.
  • 18. Universidade de Coimbra | Faculdades de Economia e de Psicologia e Ciências de Educação de Coimbra 15 4.2 Análise conceptual da Empresa Riscos Após uma cuidada reflexão, e tendo por base uma leitura bibliográfica sobre o assunto, consideramos que este projeto “Riscos” deve ser discutido a partir do conceito do” Social Business” de Empresa Social de Muhammad Yunus. Para este autor as empresas sociais procuram equilibrar objetivos lucrativos com uma missão social, ou seja uma “empresa sem prejuízos nem dividendos” (Yunos, 2011), dedicada a atingir um objetivo social. Esta abordagem deve no nosso entender ser feita através da posição das instituições do Terceiro Sector, que ao aceitarem o desafio do empreendedor Rui Pais, conseguiram consolidar o trabalho nos Centros de Atividades Ocupacionais, proporcionando um desafio aos seus clientes, que resultou num “negócio de sucesso”. Esta articulação das organizações do terceiro sector com o mundo empresarial, torna visível, “uma nova maneira de fazer as coisas, que acima de tudo se evidencia pelo reconhecimento da criação de valor social e impacto do mesmo no tecido social, nomeadamente na melhoria da qualidade de vida das pessoas através da criação de novas respostas às necessidades sociais não satisfeitas” (Gata, cit. por Azevedo, 2012). Segundo Yunos (2011) a empresa social não é só uma ideia agradável. É uma realidade, uma realidade que já começou a provocar mudanças positivas na vida das pessoas. O caso dos “Riscos” levou ao crescimento da Empresa “Riscos”, e ainda segundo Yunos (2011) conceber cada um dos pequenos negócios sociais é como desenvolver uma semente. Depois de uma semente estar desenvolvida, qualquer pessoa poderá plantá-la onde ela for necessária. Prova disso é que, o projeto que se tem vindo a desenvolver, tendo já três Centros de Atividades Ocupacionais a desenvolve-lo. As empresas sociais dão a todos os seus intervenientes (clientes de C.A.O., monitores, bem como ao próprio empresário), a oportunidade de participar na sua construção. O processo reabilitativo e ocupacional dos deficientes mentais e ou incapacitados, através de um processo de aprendizagem continua, de se sentirem incluídos, proporciona uma dignidade pessoal e um grau de autonomia, muito elevados no seu conceito de qualidade de vida (melhoria social). É através do conceito de mudança/transformação social, que quanto ao grupo, tudo se consubstancia. O facto de a partir de uma inovação social, se criar uma nova
  • 19. Universidade de Coimbra | Faculdades de Economia e de Psicologia e Ciências de Educação de Coimbra 16 resposta, que gera mudança social articulando por um lado, a satisfação de necessidades sociais não satisfeitas, com a promoção da inclusão social (de pessoas com deficiência mental e/incapacidade), através da sua capacitação, desencadeia “mudanças nas relações de poder” (Gata, cit. por Azevedo, 2012). Quanto à questão da capacitação e do empowerment, é também um elemento essencial quando abordamos o trabalho com públicos-alvo de exclusão. Para Caroline Lanciano “o espaço de inovação é em primeira instância, (…), um espaço de aprendizagem que é construído em interação com os atores que o constituem” (Lanciano, 2001, cit. por Oliveira, 2008 in Azevedo, 2012). Yunos (2011) afirma que o que é importante é envolver-se e descobrir a sua própria maneira de fazer uma diferença positiva no mundo. Tornando a sociedade mais justa e equilibrada. A questão abordada em termos reabilitacionais e de ocupação pelo trabalho, leva a trabalhar as questões autoestima, atitudes e comportamento essenciais, levando a que um projeto destes seja discutido através das WISE (Empresas Sociais de Integração pelo Trabalho), pois permitem trabalhar e desenvolver competências, levando ao crescimento humano de cada individuo. As empresas sociais podem estar ativamente amplas em diversos espetros de atividades. No entanto, o grande tipo de empreendedorismo social claramente dominante na Europa é o trabalho de integração (Nyssens, 2006, cit. por Scienc Direct, 2010: 231-242). O principal objetivo do trabalho de integração nas empresas sociais é prestar auxílio a indivíduos menos qualificados, que estão em risco de exclusão e permanentemente ausentes do mercado de trabalho (Nyssens, 2006, cit. por Scienc Direct, 2010: 231-242). As denominadas WISE visam integrar este tipo de população para o trabalho e na sociedade através de atividades. Em diversos países, para além da criação de novas formas jurídicas, na década de 90 houve desenvolvimento de programas específicos voltados para as empresas sociais no campo do trabalho de integração, dirigidos para indivíduos que tinham as características referidas anteriormente (Nyssens, 2006, cit. por Scienc Direct, 2010: 231-242). As WISE cada vez mais representam uma ferramenta para a implementação de políticas ativas do mercado de trabalho. O desenvolvimento de regimes públicos específicos direcionados para este tipo de empresas sociais, levou inclusive ao conceito
  • 20. Universidade de Coimbra | Faculdades de Economia e de Psicologia e Ciências de Educação de Coimbra 17 de empresa social ser sistematicamente associada a iniciativas de criação de emprego. No caso do Projeto “Riscos”, o público que nele” trabalha”, não tem capacidades de ser integrado no mercado de trabalho, realizando o que se denomina de atividades laborais socialmente úteis. Como referimos na análise das Instituições parceiras, o público/ clientes das Instituições que produzem as referidas bolachas, são portadores de deficiência mental grave, que não reúnem condições de aplicabilidade de um programa de Emprego Protegido ou de um Programa de Formação Profissional. O que se pretende é de facto:  Estimular e facilitar o desenvolvimento possível das capacidades remanescentes dos cidadãos jovens ou adultos com deficiência grave , de modo a permitir a sua valorização pessoal e profissional;  Facilitar a integração social e melhorar a autoestima dos clientes, proporcionando-lhes satisfação e qualidade de vida;  Proporcionar o desenvolvimento de atividades de caráter ocupacional e/ou pré laboral;  Valorizar as competências dos cidadãos, através do desenvolvimento de atividades ocupacionais socialmente úteis. As atividades socialmente úteis pretendem, a partir de protocolos/parcerias estabelecidos com outras entidades, angariar tarefas simples que possam ser efetuadas pelos clientes, de forma a ocupar algum do seu tempo em atividades úteis à sociedade. A questão-chave é a integração de grupos excluídos através da sua participação em Projetos, cujo objetivo é de oferecer” trabalho” a grupos excluidos e simultaneamente reavaliar o seu papel no” mundo do trabalho”, melhorando as suas vidas através da construção dos seus projetos de vida. A conceção das WISE, implica então não só dar uma ocupação a este tipo de indivíduos, mas também proporcionar o desenvolvimento de valores específicos, por exemplo através de estruturas de gestão democrática em que os trabalhadores desfavorecidos recebem um papel, e/ou através de produção de bens e serviços são gerados de benefícios coletivos para as empresas sociais em que foram incorporados, no caso dos “Riscos”, é distribuído um valor simbólico mensal, consoante a produção atingida( que pode ser em numerário, ou em espécie, consoante os objetivos estabelecidos individualmente com os clientes, no seu Plano de Trabalho/Produção).
  • 21. Universidade de Coimbra | Faculdades de Economia e de Psicologia e Ciências de Educação de Coimbra 18 É em nosso entender, esta nova maneira de fazer as coisas, que as organizações do Terceiro Sector proporcionam (e que cada vez mais se torna o “motor” das I.P.S.S., em particular desde a revisão Estatutária em 2015), que contribuem não só para a auto sustentabilidade das mesmas, tornando-as capazes de competir, mobilizando os seus recursos humanos, materiais e financeiros, envolvendo a comunidade e stakeholders (inclusivamente as empresas, como no caso do Rui Pais), de uma forma atrativa onde todos possam fazer parte do processo. É importante referir a relevância da análise da inovação perante um projeto de empreendedorismo social. Para Isabel André e Alexandre Abreu (2006) a inovação social é uma resposta nova socialmente reconhecida como tal, que aponta e gera mudança social. No entanto reúne três condições: satisfação de necessidades humanas não satisfeitas por via do mercado; a segunda condição é a promoção de inclusão social e por inclui a capacitação de agentes ou atores sujeitos, potencial ou efetivamente a processos de exclusão/ marginalização desenrolando uma alteração nas relações de poder. Uma das formas básicas de uma inovação empreendedora encontra-se claramente no projeto Riscos. É por si uma maneira de trabalhar com grupos-alvo específicos, neste caso pessoas com deficiência mental e/ou incapacidade e identificar as competências necessárias para a auto ajuda e auxiliar a construção dessas mesmas competências. Esta maneira de agir sobre uma inovação empreendedora pressupõe o aumento da capacidade dos grupos-alvo e permitirá resolver muitos problemas (Alvord et al., 2002). O projeto Riscos permitiu aos clientes das instituições parceiras, ao mesmo tempo que desenvolvem capacidades de trabalho, resolvem o que até então era problema para o empresário Rui Pais: espaço para a realização dos biscoitos e colaboradores para a elaboração dos mesmos. Segundo os autores anteriormente referidos, uma inovação é um produto, porque carece de uma metodologia possível de transferir e um processo porque desenvolve uma mudança social e consequentemente inclusão social. A inovação social também necessita de uma ação coletiva, e não individual (André et al., 2006). Pela literatura dos autores acima mencionados, foi fácil verificar de que o projeto Riscos é um caso de inovação social, porque há aplicação de valor social, ou seja articulação com duas organizações, neste caso do Terceiro Setor. Para Mulgan, “nas organizações sem fins lucrativos (…), existe uma preocupação crescente com a
  • 22. Universidade de Coimbra | Faculdades de Economia e de Psicologia e Ciências de Educação de Coimbra 19 questão de como alcançar maior impacto, o que com frequência significa atravessar fronteiras e trabalhar (...) com as empresas” (Mulgan, cit. por Azevedo, 2012: 51). Para se realizar um projeto é necessário ter em conta a natureza do mesmo, isto é, os objetivos de mudança, o que vai ser mudado, os processos e produtos pelos quais acontece e os domínios. Também é essencial obter recursos, ou seja, conhecimentos e saberes, comunicação intersectorial, é primordial a dinâmica e os atores aos quais o projeto está associado, neste caso a A.P.P.A.C.D.M. e a A.P.P.C. e o papel que estas instituições têm no projeto. Como todos os projetos deste âmbito, e que são objeto de análise, merecem especial observação quanto ao seu processo de inovação social. Segundo Mulgan, “As inovações sociais são inovações que são sociais tanto nos seus fins como nos seus meios” (Mulgan cit. por Azevedo, 2012: 56). Ou seja, no nosso caso, e como temos vindo a falar ao longo da nossa análise, a criação de um novo produto (riscos-biscoitos), que simultaneamente vai ao encontro de uma necessidade social (ocupação e reabilitação de um grupo de pessoas, tradicionalmente excluídos do mercado de trabalho por serem portadores de deficiência mental), e que criaram novas relações sociais e de colaboração com o mundo empresarial: Empresa Riscos. Arthur Schopenhauer nos diz que ”Qualquer nova verdade passa por três fases: primeiro é ridicularizada. Segundo, tem de fazer face a uma oposição violenta. Terceiro, é aceite como auto evidente” (Mulgan, cit. por Azevedo 2012:63). Deste modo e fazendo uma análise, tendo por base, o ciclo da inovação social e das respetivas fases que o constituem, é possível verificar em que estágio o projeto Riscos se encontra. Cada uma destas fases, ajuda-nos a perceber e a pensar o projeto, “como um espaço, com métodos e culturas distintas” (Mulgan, cit. por Azevedo 2012: 63). O projeto Riscos no nosso entender não confere ainda todas as fases do ciclo, mas não deixa de ser uma resposta nova em termos sociais, pois o empresário, as instituições e os clientes das mesmas, aceitaram o desafio e desenvolveram os conhecimentos, os comportamentos relacionais e pessoais no sentido de levar a cabo este projeto que rompeu com a prática tradicional (quer do empresário, quer das instituições parceiras). A primeira fase é denominada como "problema" e é desencadeada por momentos de crise, cortes orçamentais, mau desempenho e estratégias que tornam necessária a inovação. Esta fase é visível pela saturação da monotonia da atividade do
  • 23. Universidade de Coimbra | Faculdades de Economia e de Psicologia e Ciências de Educação de Coimbra 20 empresário Rui Pais, e que somando à situação de crise que o país enfrentava, o empresário não se encontrava desempregado mas considerava o emprego precário e com incentivo de familiares e amigos pensou em algo que pudesse contornar a sua situação contingente. Abordando a segunda fase como o período das soluções possíveis, em que são exploradas experiências e assimiladas inspirações de diversas fontes, foi aqui que o empresário Rui Pais decidiu abrir o próprio negócio pelo qual foi motivado pelo poder e prazer de gerar algo novo e que simultaneamente lhe permitisse conhecer novos horizontes e criar a sua fonte de rendimento. A ideia de recriar um biscoito estaladiço passou de uma experiência a uma realidade, quando incentivada pelos familiares e amigos, uma experiência positiva e a colocar em prática. Mencionando a fase seguinte, designada "nova solução" é possível desenvolver e testar a inovação, muitas vezes na perspetiva tentativa-erro, no qual há necessidade do estabelecimento de coligações. É exequível este estágio com o projeto que é aqui objeto de análise visto que o empresário Rui Pais estabeleceu contacto para a produção dos biscoitos com a Instituição Particular de Solidariedade Social, A.P.P.A.C.D.M. de Coimbra e posteriormente com a A.P.P.C., inserindo nesta a componente da intervenção social, neste campo de ação com pessoas com deficiência mental e/ou incapacidade. É de referir que os clientes dos Centros de Atividades Ocupacionais das duas Instituições, ligados aos projeto em causa desenvolveram um sentido de responsabilidade elevado, considerando o Projeto como “seu”. Ao longo dos dois anos de desenvolvimento do projeto, o número de clientes a aderir tem vindo a aumentar (o que não é fácil, devido às características da produção). No entanto as monitoras relatam a satisfação e o sucesso por eles considerado quando passam a integrar as equipas de produção. Por último, consideramos que este projeto, se encontra na fase da "sustentabilidade" porque se tornou numa prática quotidiana dos intervenientes das duas instituições. Há financiamento e a forma organizacional do projeto está fixada, tornando-se assim um modelo que retém os princípios estruturantes para que posteriormente possa ser implementada noutros contextos ou adaptado a outros projetos. Quanto a nós, a fase de escalagem e crescimento ainda se encontra em desenvolvimento, pois nas organizações do Terceiro Setor, muitas das ideias sociais disseminam-se não através do crescimento destas organizações, mas da sua vontade em superarem-se continuamente.
  • 24. Universidade de Coimbra | Faculdades de Economia e de Psicologia e Ciências de Educação de Coimbra 21 Atualmente a necessidade de melhorar continuamente é o motor, de todo o processo institucional. Nada é estanque, nada é eterno, é preciso fazer crescer as organizações, através das suas ações e inovações. Mas para tal é necessário fazer crescer a procura efetiva (ou seja é preciso aumentar a capacidade produtiva, para haver quem compre). E quando tal se verificar, então estaremos em condições de poder dizer que se conseguiu alcançar a mudança sistémica. Segundo Mulgan, são necessárias “estratégias para a inovação sistémica, que incluem a formação de coligações progressivas; a construção de diagnósticos e visões partilhadas; o crescimento de uma massa crítica de demonstradores; a substituição de tecnologias convencionais inflexíveis que congelam formas disruptivas de inovação, e acedendo a experiência profissional e outra para a reunião de evidência" (cit. por Azevedo, 2012: 71). O projeto Riscos conduziu-nos a uma aprendizagem mais enraizada sobre uma imagem em que a mudança é um processo aberto, colaborativo e criativo. Porém, ainda se encontra a largos passos de obter novos métodos que têm de ser apreendidos e que podem acrescentar a possibilidade das boas práticas terem impacto. 5 Considerações finais As ações antagónicas ao modelo económico capitalista assumem um pluralismo em suas formas de ser, porém, almejam em virtude de sua natureza, uma sociedade economicamente mais equilibrada, participativa, democrática, com enfase a questão social, cultural e económica. Essas, somadas a inovação do empreendedorismo social, aos poucos vão fazendo com que o capitalismo volte para onde deveria ser, um capitalismo mais humano, onde o lucro não é o objetivo final, mas o resultado de benefício social. Podemos afirmar que tanto o conceito de Economia Social e de Empreendedorismo Social são algo em construção e sendo caracterizados, muitas vez, por novas ações e experiências inovadoras que ainda estão, ou precisam ser mais bem estudadas, deixam dessa forma muitas perguntas ainda em abertas. Acreditamos que os próximos anos serão importantes à implementação de novos negócios sociais e empresas sociais. Iremos experimentar, falhar, mas "falhar cada vez melhor" como refere Samuel Becket (Gata, cit. por Azevedo, 2012). Portugal é um país rico em organizações do Terceiro Setor, por tal facto torna-se fundamental a existência da promoção do intrapreendedorismo: o empreendedorismo por conta de outrem ou o desenvolvimento de novas iniciativas em organizações já
  • 25. Universidade de Coimbra | Faculdades de Economia e de Psicologia e Ciências de Educação de Coimbra 22 existentes. Este processo permite uma redução significativa de custos de implementação e gestão de projeto, numa fase inicial. Por outro lado, canalizar a inovação e empreendedorismo para organizações já existentes, estaremos a aumentar o dinamismo do setor e a promover um melhor aproveitamento dos recursos existentes, quer humanos, quer logísticos (Martins & Pinheiro, cit. por Azevedo, 2012). Quanto ao projeto analisado, podemos concluir, e segundo (Alvord et al., 2002), que o mesmo promove em especial duas das alavancas de transformação, a saber: cultural e económica. Na questão cultural, ocorreram mudanças na formulação da execução na forma de empreender. Primeiro, no que concerne ao empresário do projeto Riscos, por mais que tenhamos concluído que este, de forma direta, não caracteriza um empreendedor social, deve-se ter em conta que o mesmo desenvolveu vínculo com as I.P.S.S., tanto pelo projeto Riscos, como pela atuação profissional no meio do Terceiro Setor. Sendo a partir de tal vínculo que se desenvolveu a parceria, do inverso segundo consulta realizada, o mesmo poderia realizar uma parceria com uma industrial convencional na produção dos biscoitos, com custo semelhante ou até inferior de produção. Segundo, pois o mesmo veio impulsionar o trabalho ocupacional, fruto de sua ideia inovadora, aliado a um compromisso aceite e participado pelas I.P.S.S. nomeadamente os seus clientes e com responsabilidade social, no processo de reabilitação e integração social. Terceiro, pode-se afirmar que a iniciativa empreendedora provocou mudanças nas normas/padrões culturais tanto de forma geral, pela inovação através da parceria entre o empresário e as instituições parceiras, promovendo a ruptura a um modelo convencional que poderia ser executado na produção e mesmo na comercialização dos biscoitos, pois esses carregam a “marca” da parceria que se estabeleceu entre ambos. Quarto, e a mais importante, é quanto às instituições parceiras, as suas envolvências e participação na comunidade, têm enraizadas as práticas de promoção da ocupação, reabilitação e inclusão social de pessoas em situação de desvantagem, com especial incidência nos que têm deficiência e/ou incapacidade, através dos valores referenciados na sua missão. Desta forma, estas I.P.S.S. embarcaram na oportunidade do empresário Rui Pais, para encontrar mais um forma de ocupar e reabilitar os seus clientes, provendo assim a transformação social, visto que através do trabalho que os mesmos desenvolvem, sentem-se incluídos e valorizados, logo é promovido o crescimento humano de cada indivíduo, contribuindo para a qualidade de vida destes.
  • 26. Universidade de Coimbra | Faculdades de Economia e de Psicologia e Ciências de Educação de Coimbra 23 Na questão económica, além da parceria gerar emprego, isto é, o sustento do empresário e de sua família e de outros agentes envolvidos de forma indireta através do comércio gerado pelos Riscos, destaca-se a contribuição para a sustentabilidade financeira das instituições parceiras, por parte do projeto. Pois, por mais que se constante que a atenção esteja na inovação e nos arranjos sociais os quais têm consequências nos problemas sociais, se constata de igual forma, que mesmo ocorrendo pouca atenção à viabilidade económica em critérios comerciais normais, as I.P.S.S desenvolveram iniciativas inovadoras, construindo novos arranjos sociais e mobilizando recursos financeiros que vem contribuir a seus problemas, sem se deixar levar pelos ditames do mercado ou de critérios meramente comerciais. Enfim, a necessidade de estudar projetos como este faz-nos acreditar que há possibilidade, tal como ao empresário Rui Pais, de tornar os “sonhos” em realidade. O “Riscos” mostra-nos como um pequeno projeto pode “transformar” uma parcela da sociedade, porque aplicando a inovação, a criatividade, e o sentido de empenhamento de diversos atores, poe em questão os valores tradicionais, sobre a economia e a produção e mostra-nos que é possível alterar o comportamento humano do mundo económico atual. Bibliografia Alvord, Sarah H.; Brown, L. David e Christine W. Letts. “Social Entrepreneurship and Social Transformation: An Exploratory Study”, Hauser Center for Nonprofit Organizations Working Paper No. 15. André, Isabel e Abreu, Alexandre, ”Dimensões e Espaços da Inovação Social”, Finisterra, XLI, 81, 2006, 121-141. Azevedo, Carlos, Menezes, João; Franco, Raquel, (2012). Gestão de Organizações sem fins lucrativos - O desafio da inovação social. Porto: Positivagenda - Edições periódicas e multimédia, Lda. Ferreira, Sílvia (s.d). O que tem de especial e empreendedor social? O perfil de emprego do empresário social em Portugal?. FEUC. Hespanha, Pedro. e Santos, A. M. (2011) Economia Solidária: Questões Teóricas e Epistemológicas. Coimbra, Almedina. Hespanha, Pedro; Santos, A.M. (2012). A Economia Solidária, os investigadores sociais e a crise. Revista da Reitoria da UC, pp 40/41. Pesquisado em 13 de dezembro de 2015, <http://saladeimprensa.ces.uc.pt/?col=noticias&id=5237#.Vmx3quJDzsA>.
  • 27. Universidade de Coimbra | Faculdades de Economia e de Psicologia e Ciências de Educação de Coimbra 24 Navarro, Cristina López-Cozar; Bergamini, Tiziana Priede; Lopez, Angel Rodriguez (2015). Avalacion do Marco Legal para o empreendimento social en América e Europa. Universidade Europeia de Madrid. Revista Galega de Economia, 24. Parente, Cristina; Costa, Daniel; Santos, Mónica; Rito, Chaves Rosário. Empreendedorismo Social: Contributos teóricos para a sua definição: XIV Encontro Nacional de Sociologia Industrial das Organizações e do Trabalho, 26 e 27 de maio de 2011. Silva, Manuela (2012). A Economia Social e o Futuro da Economia. In: Revista de Economia Solidária, nº 5, A Economia Solidária e o Desenvolvimento Territorial. Associação Centro de Estudos de Economia Solidária do Atlântico, nov. Portugal. Singer, Paul (2002). A recente ressurreição da economia solidária no Brasil. In: Santos, Boaventura de Souza (Org.). Produzir para viver: Os Caminhos da Produção não Capitalista. São Paulo: Civilização. Swedberg, Richard. "Social enterpreneurship: the view of the yong shumpeter, in Steyaert, Chris e Hjorth, Daniel (Orgs.), Entrepreunership as Social Change, Cheltenham Elgar, 2006: 21-34. Wolk, Andrew (2007). Social Entrepreneurship and Governement: a new breed of entrepreneurs developing solucions to social problems. Chapter from de small business economy: a reporto the presidente. Yunos Muhammad (2011). A empresa social. Lisboa: Editorial Presença.