O documento descreve o Trovadorismo, o primeiro movimento literário em língua portuguesa durante a Idade Média. As cantigas eram poesias cantadas que misturavam texto e música e tratavam principalmente de amor cavaleiresco. A cantiga mais antiga conhecida data de 1200 e expressa uma relação de vassalagem entre o eu lírico e sua amada.
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O Trovadorismo: a primeira manifestação literária em português
1.
2. O Trovadorismo, considerado o primeiro movimento literário em Língua
Portuguesa, estendeu-se pela Idade Média (séc. XII a séc. XIV), momento em
que Portugal vivia um processo de formação nacional. Nesse momento, ainda,
vigorava o feudalismo, em que os grandes proprietários exerciam poderes em
suas próprias terras independentemente dos poderes do rei.
A produção poética desse movimento literário era uma combinação de
texto e música, por isso, é chamada de cantiga (poesia cantada). Num
primeiro momento, as cantigas eram apenas cantadas, mas, mais tarde,
passaram a ser registradas por escrito, em compilações chamadas
Cancioneiros.
A cantiga reconhecidamente mais antiga, produzida por volta de 1200, é
“A ribeirinha”, de Paio Soares de Taveirós. Nela, o eu lírico apresenta uma
relação de vassalagem com a mulher amada, já que esta lhe é inatingível.
“E vós, filha de Don Paai
Moniz, e bem vos semelha
Dhaver eu por vós guarvaia,
Pois eu, mia senhor, dalfaia
Nunca de vós houve nem hei
E vós, filha de Dom Paai
Moniz, pareceis querer que eu vos cubra,
Pois eu, minha senhora, com manto vos presentearei
E nunca houve, nem haverá para vós
Presentes que não sejam valiosos
3. Desde que seguissem as
ordens do senhor feudal e
pagassem a ele os tributos
exigidos, os aldeões
poderiam cultivar para
subsistência. Assim, era o
senhor feudal quem
detinha o maior poder, e
não o rei, apesar do título.
5. O Trovadorismo manifestou-se tanto na poesia quanto na prosa.
Poesia lírica
Cantiga de amor – eu lírico masculino, sofredor por amar uma mulher
hierarquicamente superior que rejeita suas cantigas.
Cantiga de amigo – eu lírico feminino, lamenta as saudades deixadas pelo amigo
(namorado) ausente. (No final deste slide há um link para que você veja como as cantigas fazem parte da cultura portuguesa
até hoje, com canções típicas chamadas de Fado.)
Poesia satírica
Cantiga de escárnio – crítica indireta a algo ou a alguém, cheia de trocadilhos e
jogos de sentido.
Cantiga de maldizer – a crítica é feita diretamente; o nome da “vítima” era
mencionado em meio a uma linguagem vulgar e cheia de palavrões.
Prosa (permaneceram durante o Humanismo, com valor historiográfico. Fernão Lopes foi o maior expoente português.)
Novelas de cavalaria – aventuras e feitos de um povo.
Cronicões – exaltações aos reis, baseadas em fatos históricos.
Livros de linhagem – biografias de famílias importantes.
Hagiografias – histórias dos santos.
(Vale lembrar que tais obras mesclam dados históricos com passagens romanceadas pelos autores. Além disso, sua produção
perdura concomitantemente ao Humanismo.)
http://www.youtube.com/watch?v=QiZTuvYIgss
http://www.letrasdemusica.com.br/a/amalia-rodrigues/amantes-separados.html
6. O Humanismo foi uma época de transição entre a Idade Média e o Renascimento.
Como o próprio nome já diz, o ser humano passou a ser valorizado –
antropocentrismo.
Foi nessa época que se consolidou a burguesia como classe social. Os burgueses
não eram servos, e sim pessoas que ganharam dinheiro trabalhando. Não faziam parte
da nobreza, portanto.
Com o aparecimento dessa classe social, foram ganhando dimensão os espaços
urbanos (mercantilismo, industrialização embrionária e manufatura) e muitos homens
que moravam no campo se mudaram para morar nessas cidades – oportunidade de
melhora de vida. Como consequência, o regime feudal de servidão enfraqueceu e
desapareceu, voltando o poder absolutista com toda força.
O “status” econômico passou a ser muito valorizado, muito mais do que o título
de nobreza, ao contrário da era medieval. E foi nesse contexto que a burguesia se
destacou: patrocinava produção de conhecimentos e exercia poder junto ao monarca.
7. As Grandes Navegações trouxeram
ao homem confiança de sua capacidade e
vontade de conhecer e descobrir várias
coisas.
Assim, a religião começou a
enfraquecer e o teocentrismo deu lugar
ao antropocentrismo, ou seja, o homem e
seus saberes passaram a ser o centro de
tudo e não mais Deus e seus dogmas.
Mas não podemos nos enganar
achando que o homem abandonou a
religião: ele só não deixou que os
princípios nos quais a Igreja acreditava o
impedisse de fazer descobertas nos
campos da matemática, da astronomia, da
cartografia...
Os artistas começaram a dar mais
valor às emoções humanas.
Gil Vicente , maior
expoente do
Humanismo lusitano, e
rei D. Manuel, famoso
pela grande
prosperidade
portuguesa durante seu
governo – expansão
ultramarítima, comércio
de especiarias...
8. Gil Vicente, considerado o precursor do teatro
português moderno, é o maior expoente do Humanismo
ibérico, apesar de também ter escrito em espanhol.
Suas peças, de cunho moralizante – sacro e satíricas,
tratam de críticas às mazelas da sociedade e das instituições
falidas dos sécs. XV e XVI. Seu ideal eram as igrejas e a
nobreza medievais. Para ele, o homem estava se tornando
cada vez mais corrupto e ambicioso.
Para fazer suas críticas, Gil Vicente se apropriava do
humor, da linguagem figurada e dos personagens
tipificados. Assim, os alvos não se reconheciam e, ao
contrário, se entretinham e colocavam o autor como um
membro cativo da Corte.
Gil Vicente acabou se tornando um protegido da rainha
D. Leonor, esposa de D. Manuel, por ter escrito e encenado
uma peça em homenagem ao herdeiro do trono, D. João III.
Ainda assim, a peça de maior prestígio do autor é O
auto da barca do inferno, uma verdadeira condenação aos
pecados capitais e ao distanciamento dos valores
medievais.
9. Impulsionado pelos ideais humanistas, o racionalismo nunca esteve tão forte.
O homem se encontrava em pleno crescimento científico (a ilustrar: Copérnico
afirmou que o Sol é o centro do Universo; Galileu afirmou que a Terra é redonda),
cultural, histórico e econômico.
Devido a tais descobertas, a Igreja e seus dogmas passaram a ser
questionados. Os mistérios (caos) do mundo poderiam ser decifrados pelo próprio
homem, sem necessidade da Igreja para intermediar os seus saberes.
Por isso, o homem resolveu buscar no racionalismo clássico (Antiguidade
greco-romana) modelos e ideais de equilíbrio entre si próprio e o mundo que o
cerca. Nesse momento, acreditava-se que foi nas civilizações greco-romanas a
ocorrência dos maiores avanços de até então. Acontecia, então, o Renascimento
intelectual.
Assim, a busca pelo modelo da Antiguidade clássica não era para mera
imitação, mas sim superação. Daí vem o nome Classicismo.
10. Em Portugal, o movimento teve início com a fundação da Universidade de
Lisboa, em 1534. Contudo, o desenvolvimento cultural e científico estava
condicionado aos interesses da Corte (entretenimento para ócios ilustrados).
Isso porque eram os nobres e os burgueses que patrocinavam a descoberta de
novos saberes.
Em se tratando de produção literária, teve início com a vinda de Sá de
Miranda da Itália, trazendo consigo a “medida nova”. Essa “medida nova”,
entre outros, trazia o soneto decassílabo, uma estrutura poética rigorosa com
14 versos, sendo dois quartetos e dois tercetos.
Essa estrutura rigorosa era um modo de organizar o caos tanto no que diz
respeito à forma, quanto ao conteúdo de um poema. Isso porque havia uma
simetria, além da riqueza de comparações e metáforas que remetiam à cultura
greco-romana.
Além disso, os antigos Homero, grego autor da Ilíada e da Odisseia, e
Virgílio, latino autor da Eneida, eram alvos de imitação tanto no que diz
respeito à estrutura poética quanto aos jogos linguísticos.
11. Veja um poema de Camões, considerado o maior expoente do Classicismo em Portugal.
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Neste poema, Camões procurou conceituar a natureza contraditória do amor. Não é
um tema novo, pois já na Antiguidade, o amor era visto como uma espécie de doença da
razão. Aqui, o poeta buscou analisar o sentimento racionalmente, mas como o amor é um
sentimento vago, acabou por concluir pela ineficácia de sua análise, desembocando no
paradoxo do último verso. O sentir e o pensar são movimentos antagônicos: um deseja e o
outro limita, e, como o poeta não podia separar aquilo que sentia daquilo que pensava, o
resultado, na prática textual, só podia ser o acúmulo de contradições e paradoxos.
Para você conferir, seguem links com um clipe
e a letra da música “Monte castelo”, da Legião
Urbana. Na canção, Renato Russo se apropria
dos versos de Camões para compor a letra.
http://www.youtube.com/watch?
v=AKqLU7aMU7M
http://letras.terra.com.br/legiao-
urbana/22490/
12. Mas a produção camoniana não se restringia à lírica. O poeta ficou conhecido pela
sua obra prima Os lusíadas, epopeia que conta os feitos do povo português (luso, daí o
nome do poema).
O que não se pode perder de vista é que, sendo o povo português extremamente
católico e, na época, pioneiro na expansão ultramarítima, é recorrente na produção
artística local a ideia de que tal povo é escolhido por Deus, que é missão de tal povo
espalhar a cultura e a ideologia portuguesa mundo afora, pois assim o caos que era o
mundo seria organizado.
Dessa maneira, o poema narrativo de Camões “não foge à regra” e também exalta
o povo português, desde a formação do reino de Portugal até o século XVI, em que o
país se tornara potência hegemônica. A ilustrar, as estrofes I e III, do Canto I.
13. Nas artes plásticas, a valorização das formas humanas e dos motivos
greco-romanos se manifestou em esculturas e pinturas. Exemplos disso são
as obras de Botticelli (Nascimento de Vênus), Michelangelo (Davi) e Da Vinci
(O homem vitruviano).
14. Devido ao seu linguajar conflituoso, rico em paradoxo e antíteses, por meio do qual
as tensões entre homem e sentimento nunca são resolvidas, Camões é considerado um
poeta de transição entre Classicismo e Barroco. Assim, é denominado por muitos como um
poeta maneirista.
Se por um lado, Camões se apropria das estruturas formais rígidas da medida nova e
se esmera na cópia de modelos clássicos como Homero e Virgílio, por outro a vã tentativa
de racionalização sentimental e a não resolução dos conflitos oriundos dessa frustração o
aproxima do Barroco. Isso é o Maneirismo.
Já o Barroco foi uma tendência artística que se desenvolveu primeiramente nas artes
plásticas e depois se manifestou na literatura, no teatro e na música. O berço do barroco é
a Itália do século XVII, porém se espalhou por outros países católicos, num contexto de
Reforma Protestante e Contra-Reforma.
De certo modo o Barroco foi uma continuação natural do Renascimento, porque
ambos os movimentos compartilharam de interesse pela Antiguidade clássica, embora
interpretando-a diferentemente. Enquanto no Renascimento as qualidades de moderação,
economia formal, equilíbrio e harmonia eram as mais buscadas, o tratamento barroco de
temas idênticos mostrava maior dinamismo, contrastes mais fortes, maior dramaticidade,
exuberância e uma tendência ao decorativo, além de manifestar uma tensão entre o gosto
pela materialidade opulenta e as demandas de uma vida espiritual.
15. Obras de Aleijadinho, um dos
maiores expoentes das artes
plásticas do Barroco brasileiro.
16. Com relação ao contexto histórico, podemos afirmar que a intensidade do
século XVI foi devastadora para Portugal. Isso porque o país se viu num status de
potência hegemônica e pioneiro na expansão ultramarítima, mas, como as colônias
não garantiram um rápido retorno financeiro, teve início uma fase de crise
econômica.
Somado a isso, os impulsos megalomaníacos de Dom Sebastião (o mesmo a
quem Camões dedicou Os lusíadas) fizeram com que o rei desaparecesse no norte da
África. Tal situação fez com que Portugal se visse novamente sob domínio espanhol,
pois subiu ao trono Filipe II, cujo feito foi a unificação da Ibéria.
A partir disso, criou-se a mentalidade do sebastianismo, que acreditava na volta
do rei desaparecido e na consequente retomada da autonomia portuguesa. Um dos
sebastianistas mais fervorosos era Padre Antônio Vieira.
A unificação da Península veio favorecer a luta conduzida pela Companhia de
Jesus em nome da Contra-Reforma: o ensino passa a ser quase um monopólio dos
jesuítas e a censura eclesiástica torna-se um obstáculo a qualquer avanço no campo
científico-cultural. Enquanto a Europa conhecia um período de efervescência no
campo científico, a Península Ibérica era um reduto da cultura medieval.
17. Tristes sucessos, casos lastimosos,
Desgraças nunca vistas, nem faladas.
São, ó Bahia, vésperas choradas
De outros que estão por vir estranhos
Sentimo-nos confusos e teimosos
Pois não damos remédios as já passadas,
Nem prevemos tampouco as esperadas
Como que estamos delas desejosos.
Levou-me o dinheiro, a má fortuna,
Ficamos sem tostão, real nem branca,
macutas, correão, nevelão, molhos:
Ninguém vê, ninguém fala, nem impugna,
E é que quem o dinheiro nos arranca,
Nos arrancam as mãos, a língua, os olhos.
Fazer pouco fruto da Deus no Mundo pode proceder de
um de três princípios: ou da parte do pregador, ou da parte do
ouvinte, ou da parte de Deus. Para uma alma se converter por
meio de um sermão, há se haver três concursos: há de
concorrer o pregador com a doutrina, persuadindo; há de
concorrer o ouvinte com entendimento, percebendo; há de
concorrer Deus com a graça, alumiando. Para um homem ver a
si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se
tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se
tem espelho e olhos, e é noite, não se pode ver por falta de luz.
Logo, há mister luz, há mister espelhos e há mister olhos.
Gregório de Matos – Boca do Inferno
Pe. Antônio Vieira – Sermão da sexagésima
18. O Quinhentismo corresponde ao estilo literário que
abrange todas as manifestações literárias produzidas no
Brasil à época de seu descobrimento, durante o século XVI.
A ilustrar:
A literatura informativa, também chamada de literatura
dos viajantes ou dos cronistas, consiste em relatórios,
documentos e cartas que se empenham em levantar a
fauna, flora e habitantes da nova terra, com o objetivo
principal de encontrar riquezas. Daí o fato de ser meramente
descritiva e de pouco valor literário. A exaltação da terra
exótica e exuberante seria sua principal característica,
marcada pelo uso de adjetivos.
A Literatura Catequética ou Literatura Jesuítica foi
consequência da Contra-Reforma. A principal preocupação
dos jesuítas era o trabalho de catequese, objetivo que
determinou toda a sua produção literária, tanto na poesia
como no teatro. Além da poesia de devoção, os jesuítas
cultivaram o teatro de caráter pedagógico, baseado também
em trechos bíblicos, e as cartas que informavam aos
superiores na Europa o andamento dos trabalhos na
Colônia.
José de Anchieta se
propôs ao estudo da
língua tupi e guarani e
é considerado o
precursor do teatro no
Brasil. Sua obra já
apresenta
traços barrocos.