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O Resgate

                                      I
Manuela viaja com Solano em busca do pai dele. Amélia fica sozinha com Max
na fazenda, e se sente cada vez mais sufocada.

É final de tarde. Amélia está saindo de casa quando Max aparece:
- Aonde vais a essa hora?
- Ver meu filho. Ou será que não posso?
- Amélia... não penses que me engana.
- Não sei do que você está falando.
- Não estás usando teu próprio filho como desculpa para encontrar com outro
homem?
Amélia acaba explodindo:
- É ruim, não é, Max, pensar que eu posso amar outro? Agora você pode ter
alguma ideia de como me senti vendo você chorar pelos cantos dessa casa por
causa da Antoninha? Que moral você tem para me cobrar alguma coisa?
- Mas que atrevimento é esse? Tu és minha mulher e me deve respeito!
- Se quer respeito tem que fazer por merecer.
Max segura o braço de Amélia e pergunta:
- Onde andas arrumando estas ideias?
- Não lhe interessa. Me solta - pede Amélia, assustada mas tentando se manter
firme.
- Tu não vais sair - avisa ele, em tom ameaçador.
- Você enlouqueceu?
Max não responde, sai arrastando Amélia escada acima e a tranca no quarto.
Durante todo o trajeto, Amélia pede que ele a solte. Antes de sair, Max pega o
celular dela.
- Vais ficar aqui, para pensar no que andas fazendo.
Amélia corre para a porta tentando fugir, mas Max a empurra com força,
fazendo ela cair no chão. Ele sai e tranca a porta. Amélia chora, ainda no chão.

Max desce e orienta Lurdinha:
- Minha mulher não pode sair do quarto em hipótese nenhuma, ouviste? Eu
mesmo vou levar alguma comida para ela. E se tu a ajudares a fugir, ou levar
alguma coisa até ela, estás no olho da rua. Entendeste direitinho, não é?
- Sim, seu Max - responde Lurdinha com os olhos arregalados.

Em seu quarto na estalagem, Vitor espera por Amélia. Ela havia avisado que
iria encontrá-lo. Ele fica preocupado com a demora dela.
- Será que aconteceu alguma coisa? Espero que o Max não tenha feito nada
contra a Amélia, senão eu mato aquele desgraçado - pensa Vitor em voz alta,
com ódio no olhar.
Ele liga para o celular de Amélia, mas só ouve a mensagem de que o telefone
está desligado ou fora da área de cobertura.
- Que estranho...
Vitor dorme com o celular na mão, esperando uma ligação de Amélia.
II
No dia seguinte, logo que acorda, Vitor tenta telefonar de novo para Amélia,
mas o celular dela continua desligado. Ele desce as escadas depressa:
- Terê! Preciso da sua ajuda!
- Que foi, meu filho? Você parece preocupado...
Ele chega perto dela e fala baixinho:
- A Amélia disse que viria aqui ontem, mas não apareceu. E o telefone dela
está desligado. Tenta ligar pra fazenda, pra ver se consegue falar com ela?
Tenho medo que o Max... - Vitor não tem coragem de terminar a frase.
- Claro, filho, vem aqui... - responde Terê, indo até o telefone.
Ela liga para a fazenda e Lurdinha atende. Terê pede para falar com Amélia
- A dona Amélia? É... - antes que empregada terminasse de responder, Max
pega o telefone:
- O que tu queres com a minha mulher?
- É assunto particular de amigas, seu Max - Terê responde sem se abalar.
- A Amélia não tem amigas da tua laia. Achas que ela vai ter amizade com uma
cigana trambiqueira?
- Suas ofensas não me atingem. Preciso falar com a Amélia.
- Ela acordou indisposta, está descansando no quarto. E não vai ser
incomodada por ti. Passar bem - Max desliga o telefone na cara de Terê.
Vitor está cada vez mais aflito:
- E então Terê?
- O Max atendeu e não me deixou falar com a Amélia - ela conta toda a
conversa com o fazendeiro.
- Meu Deus, Terê, o que eu faço? Tá na cara que ele está fazendo a Amélia de
prisioneira...
- Vitor, a gente não tem certeza de nada... não vá fazer nada de cabeça
quente, por favor, não piore as coisas...
- Eu sei, tenho que pensar muito bem numa saída. Não posso colocar a Amélia
em risco - ele responde, respirando fundo, tentando se acalmar.

Somente no final do dia seguinte ele resolve abordar Fred no corredor da
estalagem:
- Fred, você tem notícias da Amélia?
- Faz alguns dias que não falo com minha mãe... por quê?
- Ah... - Vitor escolhe as palavras - ela não veio mais aqui na cidade... e tentei
telefonar, mas o celular dela está desligado desde ontem. Estou achando muito
estranho esse sumiço.
- É verdade... eu ando trabalhando tanto que nem me dei conta - concorda
Fred, já tirando o celular do bolso - Vou ligar pra fazenda.
Enquanto o telefone chama, Fred abre a porta do quarto e convida Vitor para
entrar.

Max atende o telefone:
- Oi, meu filho, lembrou do teu velho pai?
- Me poupe do seu cinismo, seu Max. Quero falar com minha mãe.
- Mas não vai dar, filho... Tua mãe acordou com dor de cabeça, foi se deitar
agorinha para ver se melhora.
- É? O que o senhor fez para deixá-la com dor de cabeça? - devolve Fred em
tom irônico.
- Agora tudo que acontece é culpa minha? Quanta injustiça com um velho
doente.
- Chega, seu Max. Tchau - Fred desliga o telefone.
Vitor pergunta:
- Ele disse que a Amélia está com dor de cabeça?
- Isso mesmo. Alegou que ela não podia atender porque tinha acabado de se
deitar.
- Aí tem coisa, Fred. Ontem a Terê tentou falar com a Amélia e o Max deu uma
desculpa muito parecida, falou que ela estava descansando porque tinha
acordado indisposta.
- Essa não é minha mãe - comenta Fred.
- Não mesmo. Ela é cheia de vida, de energia - concorda Vitor, tentando
segurar um sorriso de quem está lembrando-se de bons momentos.
Fred estranha um pouco o comentário de Vitor, mas não dá importância,
porque está preocupado com algo muito mais grave:
- Seu Max está aprontando alguma coisa...
- Você acha que ele pode estar mantendo a Amélia presa na fazenda? -
pergunta Vitor, cada vez mais tenso.
- Pode ser. Vindo do meu pai, tudo é possível.
Vitor não consegue mais disfarçar o desespero:
- Preciso tirar a Amélia de lá... não posso deixá-la nas mãos do Max... - ele diz
com tom de dor, e já indo em direção à porta.
- Calma. Eu vou até lá pra tentar descobrir o que está acontecendo - avisa
Fred, intrigado com o desespero do outro.
- Vou junto - afirma Vitor.
- Tá bem. Mas tenta manter a calma. Não sabia que você se preocupava tanto
com a minha mãe.
- Mais do que você imagina - Vitor deixa escapar - Vamos logo.
Enquanto eles saem do quarto, Fred olha para Vitor com jeito de que parece
estar pensando: "ele está apaixonado pela minha mãe?".


                                        III
Quando eles chegam na fazenda, Fred explica:
- Eu vou entrar e você fica escondido, de olho. É melhor que o seu Max não lhe
veja.
- Certo. Mas se precisar, eu entro e encontro a Amélia - responde Vitor.
- Você conhece bem a casa, né? Sabe onde é o quarto dela?
- Sei... - Vitor diz meio encabulado.
- Então, se a situação apertar, eu cuido do seu Max e você procura minha mãe.
Vitor balança a cabeça afirmativamente, sem conseguir disfarçar a ansiedade.

Fred entra na sala e encontra o pai, que abre os braços, indo em sua direção:
- Meu filho, veio me visitar?
- Pare com esse teatro ridículo - diz Fred, se esquivando do abraço - Vim falar
com minha mãe, ela está lá cima?
- Já te disse que a Amélia está descansando...
- E eu não acredito mais em nada que venha de você.
- Que dor para o coração de um pai ser tratado assim pelo próprio filho...
Irritado, Fred deixa o pai falando sozinho e caminha em direção à escada. Max
o segura e fala em tom de ordem:
- Tu não vais subir.
- Me larga!
- Estou velho mas ainda sei lidar com cavalo xucro - avisa Max, tentando
imobilizar o filho.
- Ah, é? Vamos ver - Fred consegue inverter a situação, imobilizando o pai.
- Vais ter coragem de machucar teu pai?
- Sem drama, seu Max. Acabou o jogo - Fred avisa com firmeza, enquanto leva
o pai até o escritório. Lá dentro, continua a segurá-lo por mais um tempo.

Assim que a porta do escritório se fecha, Vitor entra na sala e sobe as escadas.
Ele vai até o quarto de Amélia e verifica que a porta está trancada. Então
chama:
- Amélia!
- Vitor! Que você está fazendo aqui?
- O que está acontecendo? O Max prendeu você?
- Ele não me deixa mais sair daqui.
- Vou arrombar a porta, cuidado...
Vitor dá um chute na porta, fazendo com que ela se abra. E corre para abraçar
Amélia. Depois de confortá-la por alguns segundos, ele chama, pegando-a pela
mão:
- Vem! Vou levar você para um lugar seguro.
- É muito arriscado, o Max vai se vingar, não quero nem pensar no que ele
pode fazer com você... - diz Amélia, assustada.
- Não, Amélia, não vou deixar você aqui, à mercê desse louco... - Vitor pega
Amélia no colo e sai levando ela, que fica emocionada com o gesto dele.

No escritório, Max ouve o barulho do chute na porta do quarto de Amélia.
- Que barulho foi esse? Melhor irmos ver.
- Não ouvi nada - diz Fred, segurando o pai com força enquanto sorri,
deduzindo do que se tratava o ruído. Só depois de dar tempo suficiente para
Vitor e Amélia chegarem até o carro, é que Fred solta Max. Enquanto o pai
tenta recuperar as forças, Fred sai e tranca a porta do escritório com a chave
que pegou no lado de dentro da fechadura. Antes de deixar a casa, ele entrega
a chave para Lurdinha.
- Daqui a uma hora você pode abrir.

Fred entra no carro e Vitor dá a partida, avisando:
- Já fiquei na direção pra gente sair mais rápido.
- Fez bem.
- Pra onde nós vamos? - pergunta Amélia, nervosa.
- Toca pra Girassol, Vitor - avisa Fred.


                                     IV
Fred leva Amélia para a casa de Janaína, que está terminando de fechar o
armazém quando eles chegam.
- Minha mãe pode ficar aqui pelo menos essa noite?
- Claro... mas o que aconteceu?
- O Max passou dos limites - diz Vitor com raiva.
- Ele me trancou no quarto desde ontem, sem poder me comunicar com
ninguém - conta Amélia.
- Meu Deus, esse homem está louco... Mas agora está tudo bem. A senhora
dorme comigo no meu quarto, a Nancy pode ficar na sala - comenta Janaína.
- Não queria incomodar... - responde Amélia, um tanto encabulada.
- Amanhã busco as suas coisas, mãe. Aproveito um momento que meu pai
sair, entro lá sem ele ver - avisa Fred.
Amélia o abraça, dizendo:
- Meu filho... obrigada por tudo.
- Que nada, mãe. Estou aqui pra cuidar de você.
Amélia sorri e depois se dirige à Vitor:
- Você também... preciso agradecer...
Janaína chama Fred:
- Vem comigo até a cozinha que eu preciso falar com você.
Quando entram na cozinha, ela comenta:
- Acho que eles precisam conversar a sós...
- O Vitor estava muito preocupado com a minha mãe - conta Fred.
- E você não desconfia por quê?
- Desconfio, sim. É a dona Amélia a mulher por quem ele está apaixonado.
Você já tinha percebido?
- Já... faz algum tempo. Mas o que você acha disso?
- Ah, minha mãe ainda é uma mulher linda, e merece ser feliz...
- É, feliz como eu sou com você - Janaína completa, abraçando Fred, que sorri
e a beija.

Na sala, Amélia e Vitor ficam em silêncio por instantes, apenas olhando nos
olhos um do outro. Ele olha em volta e vê que estão sozinhos. Então, abraça
Amélia com força.
- Amélia, eu tive tanto medo que o Max tivesse feito algo ainda pior com você...
Ele não te agrediu?
Ela se aconchega nos braços dele e responde:
- Ele só me arrastou até o quarto me puxando pelo braço... e quando tentei
fugir, me empurrou, fazendo com que eu caísse no chão...
Vitor chega a bufar de raiva:
- Se o Max não fosse um velho eu arrebentava a cara dele.
- Esquece o Max... quero esquecer, pelo menos por essa noite.
- Tá bem - ele concorda, acariciando os cabelos dela - Agora você está aqui
comigo, não vou deixar nada de mal te acontecer.
- Vou ficar bem aqui com a Janaína...
- Mas amanhã venho de te ver - avisa Vitor.
- Toma cuidado, por favor - implora Amélia.
- Não vou ficar mais nem um dia longe de você - ele afirma.
Amélia olha nos olhos dele de novo, e acaricia seu rosto. Eles vão
aproximando os lábios e se beijam com carinho.
De repente, Amélia se afasta:
- O Fred... ele vai ver...
- Ah, é, dona Amélia? Eu vi... - Fred diz, na porta da sala. Ele e Janaína
entram, rindo.
- Filho... - é só que Amélia consegue dizer, constrangida.
Fred dá um beijo na testa dela e afirma:
- Fica tranquila - depois ele se dirige a Vitor - Vamos, Vitor, já chega por hoje...
te dou uma carona até a estalagem.
Vitor fica sem graça e se despede de Amélia:
- Até amanhã - sem saber o que fazer, ele se dirige à porta.
Fred beija Janaína e também sai.
Janaína pega as mãos de Amélia e olha para a sogra com um olhar cúmplice e
um sorriso. Amélia sorri de volta.
- Vamos, vou mostrar sua cama - chama Janaína, levando Amélia para o
quarto.


                                        V
Vitor não diz uma palavra durante o trajeto até a estalagem. Quando chegam
no alto da escada, Fred comenta:
- Agora entendi tudo... tanta preocupação com a minha mãe...
- Fred, eu amo a Amélia, amo com todas as minhas forças - Vitor confessa.
- Eu acredito. Ainda mais depois de tudo que aconteceu hoje. E também sei
que a dona Amélia merece ser amada de verdade.
Vitor dá um sorriso tímido e comenta, com o olhar perdido:
- Acho que você me entende, né? Sabe tão bem quanto eu que o amor é mais
forte que o passado, que toda a história que já exista na vida da mulher que a
gente ama...
- É verdade - Fred responde rindo - E também sei como é ruim ter o filho da
amada contra o nosso amor... não se preocupa que não vou fazer esse papel.
- Que bom - Vitor devolve, aliviado.
- Tem mais uma coisa: o que minha mãe precisa agora é que a gente se una
para protegê-la do seu Max Martinez. Pode ter certeza que ele não vai deixar
barato.

Na fazenda, Max bate na porta gritando que o tirem de lá, mas Lurdinha
obedece a instrução de Fred. Só depois de uma hora ela destranca a porta do
escritório e sai correndo para a cozinha. Ao ouvir o barulho da chave girando,
Max levanta da cadeira e sai de lá depressa. Ele sobe as escadas o mais
rápido que consegue, e encontra o quarto de Amélia vazio, com a porta
arrombada.
- Diabos! Como ela escapou? Quem ajudou o Frederico?
Max desce as escadas e chama Lurdinha, que vem muito nervosa.
- Onde tu estavas, incompetente? Não me ouviu chamar antes? - ele grita.
- Cheguei da rua ainda agorinha, seu Max, fui no armazém - ela responde com
a voz trêmula.
- Então não viste quem mais entrou aqui além do Frederico?
- Não, não vi nem o Fred.
- Mas tu não prestas pra nada mesmo - reclama Max, num tom muito grosseiro
- Sai da minha frente antes que te botes no olho da rua.
Lurdinha sai depressa. Max esbraveja:
- Eu pego os três... ah, eu pego!

No dia seguinte, Vitor chega bem cedo no armazém. Janaína ainda está
abrindo as portas.
- Caiu da cama, Vitor? - ela pergunta.
- E você acha que eu consegui dormir?
- Imagino... a dona Amélia tá tomando café, sobe lá. Vai depressa antes que
chegue alguém e te veja.
- Obrigado - ele responde com um sorriso, e sobe as escadas ligeiro.
Amélia está distraída quando ele entra, dizendo:
- Bom dia...
- Vitor! - Amélia exclama abrindo um sorriso iluminado.
Ele se aproxima, a beija com carinho e pergunta:
- Como você passou a noite?
- Bem. Acho que eu apaguei, de tão cansada que estava depois de tanta
tensão.
- Já eu passei a noite inteira pensando. Amélia, você precisa denunciar o Max,
ele pode ser proibido judicialmente de chegar perto de você.
- Será que vai adiantar alguma coisa? O Max manda até no delegado dessa
cidade. E ele ainda vai alegar que eu abandonei nossa casa.
- Mas temos que tentar. O Fred está do nosso lado, e tenho certeza que a
Manu também vai nos ajudar. Vou trazer o Siqueira pra conversar com você.
Ele pode encaminhar seu pedido de divórcio também.
- O divórcio... acho que isso é o mais importante agora. O Max jamais vai
aceitar, então não tenho outra saída a não ser procurar um advogado.
- Vamos resolver isso. Amanhã, na primeira hora da manhã, estarei aqui com o
Siqueira.


                                         VI
Enquanto isso, Max chama alguns homens de confiança e explica:
- Quero que vocês se dividam e fiquem de olho nos meus filhos, depois me
relatem cada passo deles. Também estejam atentos àquele loirinho
afrescalhado que quase foi meu genro, o Vitor.
Logo que Max dispensa os homens, Manu entra em casa, chegando de
viagem:
- Oi, pai... - ela o abraça - minha mãe está lá em cima?
- Tua mãe não está.
- Onde ela foi?
- Não sei, perguntes ao teu irmão.
- Que aconteceu, seu Max? - Manu fica preocupada.
- Aconteceu é que tua mãe me desonrou, fugiu de casa... e com ajuda do
Frederico, filho ingrato...
- Como assim? Me conta direito essa história - pede Manu, desconfiada.
- Não sei de mais nada - resmunga Max, saindo da sala e deixando a filha
sozinha.

Manu procura Fred na operadora de turismo. As jóias avisam que ele foi à casa
de Janaína. Manu vai até lá e quando entra no armazém, Janaína vai depressa
encontrá-la e diz baixinho:
- Pode subir, Manuela, sua mãe está lá em cima.
- Obrigada.
Ela entra e vê a mãe e Fred conversando.
- Mãe! - ela diz e corre para abraçar Amélia - O pai disse que você fugiu de
casa, que história é essa?
Amélia e Fred contam tudo.
- Não acredito que meu pai teve coragem... - comenta Manu, perplexa.
- Pois teve, filha. E eu não volto mais pra casa.
- Claro que não, né, mãe?
- E o que nós vamos fazer agora, Manu? - pergunta Fred - Onde nossa mãe
pode ficar em segurança? O velho já deve estar botando os capangas atrás
dela.
Manu pensa um pouco e olha para Amélia:
- Mãe, talvez fosse melhor a senhora sair da cidade.
- A Manuela está certa - diz Vitor, entrando na sala. Ele segura as mãos de
Amélia e continua - Vamos embora daqui, nós dois. A gente pode até sair do
país se for necessário.
- Vitor, legalmente eu ainda estou casada com o Max. Quero primeiro resolver
isso, senão não estarei livre - Amélia pondera.
- Tá certo, vou pedir pro Siqueira tentar marcar a audiência o mais rápido
possível. Mas enquanto isso nós podemos ir pra Juruanã, é mais seguro.
Vamos para o meu apartamento, lá o Max não vai poder fazer nada. Se
depender de mim, ele não encosta mais nem um dedo em você - sugere Vitor,
com firmeza.
Amélia sorri, emocionada, como se não houvesse mais ninguém ali além deles
dois:
- Vitor... como posso te dizer não? Vamos sim.
Vitor também sorri, e a abraça com força.
Manu olha para Fred, intrigada, e pergunta:
- O que está acontecendo aqui?
- Depois eu te conto... - ele responde, depois se dirigindo ao casal - Desculpa
interromper... só quero dizer que eu concordo, mas sugiro que vocês só saiam
daqui à noite, para que ninguém veja.
- Claro, quando a cidade toda estiver dormindo... - acrescenta Vitor.
Fred volta a atenção para Manu:
- Me ajuda a pegar algumas coisas da mãe lá na fazenda, sem que o seu Max
veja?
- Pode ser agora mesmo. Vamos?

No caminho, Fred conta para a irmã sobre a relação de Amélia e Vitor:
- Então foi pelo Vitor que ela se apaixonou!
- E ele, você viu, é capaz de enfrentar o mundo pela dona Amélia...
- Ela merece.
- Com certeza. Mas, maninha, me fala a verdade... você não ficou com
nenhuma pontinha de ciúme? Afinal, o Vitor já foi seu noivo... - comenta Fred,
rindo.
- Claro que não, Fred! Eu amo o Solano... e a dona Amélia e o Vitor formam um
casal bem bonito, não acha?
- É, tenho que admitir... - ele ri.
VII
No final da tarde, os capagas relatam à Max que Manu, Fred e Vitor não foram
em nenhum lugar estranho, e ficaram algum tempo no armazém.
- No armazém? Sei... Será que aquela china está ajudando?

A noite chega, e Vitor vai para a casa de Janaína esperar com Amélia pela
melhor hora para saírem da cidade. Fred chega em seguida, avisando que já
está com o carro pronto para levá-los a Juruanã.
Poucos minutos depois, Max entra no armazém e aborda Janaína:
- Onde está a minha mulher? Sei que estás acoitando aquela traidora, vamos,
digas logo.
- Não tenho nada pra lhe dizer - responde Jana com firmeza.
- Ah, não? Então eu mesmo vou subir e procurar - ele avisa, indo em direção à
escada.
Mas Fred já está descendo e diz:
- Parado aí, seu Max. Aqui não é sua casa.
- Então tu trouxeste mesmo tua mãe pra casa da tua china?
- Se o senhor se referir mais uma vez à minha mulher desse jeito, não vou mais
respeitar a sua idade. Vá embora antes que eu perca o pouco de paciência que
me resta.
- Mas é assim que tratas teu pai?
- O senhor vai sair por bem ou vou ter que botá-lo pra fora à força?
- Eu vou, mas antes de me responda... quem te ajudou a soltar a Amélia? Foi o
amante dela? Que decepção, meu próprio filho acobertando as safadezas da
mãe.
- Chega! Você não tem moral pra falar assim da minha mãe. Sai daqui, seu
Max - grita Fred, já empurrando o pai.
Enquanto Fred empurra o pai até a porta do armazém, Max grita:
- Pois avise a Amélia que ela ainda é minha mulher e vai voltar para casa! Nem
que eu a tenha que arrastar pelos cabelos!
Amélia e Vitor ouvem toda a discussão, e ela fica assustada, olha para ele com
medo.
- Calma, meu amor... não dê ouvidos à essas ameaças... Eu não vou deixar ele
chegar nem perto de você, eu prometo - Vitor tenta acalmá-la, enquanto a
abraça.
Fred ajuda Janaína a fechar o armazém, depois eles sobem. Amélia ainda está
abraçada a Vitor, e nervosa.
- Fica tranquila, mãe, daqui a pouco a senhora vai estar longe daqui - lembra
Fred.

Durante a madrugada, Fred leva Amélia e Vitor até Juruanã, os deixa em frente
o prédio.
Depois que fecha a porta do apartamento, Vitor enlaça Amélia pela cintura,
olha nos olhos dela e diz:
- Enfim sós...
Ela ri e finge não perceber as segundas intenções dele:
- E então, onde eu vou dormir?
- Tem certeza que você quer dormir? - ele retruca, com um sorriso travesso.
- Não... - ela devolve, sorrindo.
Vitor beija Amélia com ardor. Sem parar de beijar, a pega no colo e leva para o
quarto. Com cuidado, ele coloca Amélia sobre a cama. Depois deita também,
de lado, com a mão sob a cabeça e o cotovelo apoiado no colchão, e fica
olhando para ela.
- Você está aqui mesmo? - murmura Vitor.
Ela não diz nada, apenas acaricia o rosto dele e chega mais perto,
aconchegando-se junto ao peito de Vitor. Ele levanta a cabeça dela e a beija
intensamente. E naquele momento, os dois esquecem de tudo, e se entregam
ao desejo. Amam-se, depois dormem abraçados.


                                        VIII
No dia seguinte, Max entra em casa e vê Manuela descendo as escadas
carregando várias malas.
- Filha? O que é isto, pra onde tu vais?
- Pra longe dessa casa - ela responde com firmeza.
- Vais deixar teu pai sozinho? - ele pergunta em tom de vítima.
- Pois é, seu Max... o senhor conseguiu afastar todas as pessoas que lhe
tinham algum tipo de amor. Quem tem atitudes baixas e até cruéis como as
suas colhe desprezo e solidão.
- Tu falas como se eu fosse um monstro!
- Talvez seja isso mesmo que o senhor se tornou, por mais que me doa
reconhecer.
Max fica calado por algum tempo, vendo Manu terminar de descer as malas e
levá-las para o carro. Quando ela pega a última mala, Max segura o braço da
filha, pedindo:
- Não vás, minha filha, fiques com teu velho pai...
Manu apenas balança a cabeça para os lados e solta o braço, saindo da casa e
deixando Max parado no meio da sala.

Amélia acorda e não encontra Vitor ao seu lado. Com o olhar preocupado, ela
se levanta e procura Vitor no banheiro e na cozinha, mas não acha. Amélia fica
mais tensa e pára no meio da sala, sem saber o que fazer. De repente, ouve o
barulho de uma chave girando na porta e olha para lá, apreensiva. A porta se
abre e Vitor entra, carregado de sacolas.
- Bom dia, meu amor... - ele diz, e depois de trancar a porta, se aproxima e
beija os lábios de Amélia.
Ela o abraça, ainda abalada.
- Onde você foi?
- Comprar comida. Não podemos viver só de amor... - ele ri, e larga as sacolas
no chão.
Amélia sorri, aliviada, e olha pra Vitor.
- Você devia ter me avisado.
- É que você estava dormindo tão linda que não quis lhe acordar. Mas deixei
um bilhete no criado-mudo, não viu?
- Não... fiquei tão nervosa que nem lembrei de procurar algum bilhete. O Max
deve estar atrás de nós... tem certeza que ninguém seguiu você?
- Calma... - ele a abraça e acaricia os cabelos dela - Você está segura, dei
ordem para o porteiro não deixar ninguém subir.
- Temo muito mais por você do que por mim.
- Não vai acontecer nada. Nosso amor é muito mais forte do que o ódio
daquele... Não vamos mais pronunciar o nome dele aqui, está bem?
- Vamos tentar esquecer que ele existe... - Amélia acrescenta tentando se
mostrar forte.
- Isso mesmo. Você não está com fome? Trouxe várias coisas que você gosta.
Vamos, vou guardar essas compras e preparar o nosso café. Não sei se vai
ficar tão bom quanto o da Lurdinha, mas vou me esforçar... - ele vai dizendo
enquanto caminham para a cozinha.
- Você guarda as compras e eu passo o café, pode ser?
- Claro... - ele olha para ela um tanto surpreso.
- Que foi? Pelo menos café eu sei fazer - ela retruca, rindo.

Max recebe um telefonema de um dos capangas, que conta que Amélia, Vitor e
Fred saíram da cidade de madrugada.
- E vocês não os seguiram? Seus jumentos! Estou pagando para ficarem na
cola dos meus filhos e daquele rapaz, seja onde for. Mas eles não devem estar
longe. Eu mesmo vou dar um jeito nisso.
Max telefona para o prédio onde tem seu apartamento em Juruanã:
- Minha mulher passou por aí? Não? Mas talvez eu vá ainda hoje.
Desliga o telefone e pensa alto:
- Aquele guri também tem um apartamento em Juruanã. Deixa eu lembrar... é
no mesmo prédio daquele meu amigo... Peraí, melhor ainda... Lurdinha!
Depressa!
- Que foi, seu Max?
- Onde a Amélia guarda a agenda de telefones?
- Ao lado do telefone, ora!
- O que estás esperando que não foste buscar ainda essa agenda?
Lurdinha sai depressa e volta com a agenda.
- Agora desaparece da minha frente, rápido! - ordena Max.
Assim que Lurdinha se afasta, ele abre a agenda:
- Letra V. Vitor Vilar. Aqui está, o número do celular, do frigorífico... e do
apartamento - ele ri.
Max liga para o apartamento de Vitor.


                                       IX
O telefone toca e Vitor atende:
- Alô?
Mas a pessoa do outro lado da linha não diz nada, e logo desliga.
- Quem era? - pergunta Amélia.
- Não sei, desligou sem dizer nada. Deve ser algum moleque passando trote.
- Ou o Max... - ela acrescenta com a respiração quase suspensa.
- Não vamos pensar no pior. Foi só um trote - ele pondera enquanto a abraça
- Tomara...

Max desliga o telefone e pensa alto:
- Então o loirinho afrescalhado foi mesmo pra Juruanã... e a Amélia deve estar
lá com ele. Será que gostariam de uma visitinha? - ele ri com gosto, depois
chama Lurdinha novamente.
- Arrumes já minha mala que vou precisar fazer uma viagem.
- O senhor vai ficar muitos dias fora?
- Não te interessa.
- É só pra saber quanta roupa ponho na mala... - ela explica.
- Uma duas mudas já chega. Quero resolver esse problema o mais rápido
possível. Ande, sua lesma, vá logo!
- Tô indo, não precisa ofender... - Lurdinha vai saindo.

Mais tarde, ele pega a mala e sai. Ao passar pelo centro de Girassol avista
Fred e pára o carro perto dele:
- Meu filho, que bom te ver! Me contaram que tu tinhas viajado hoje cedo, já
voltaste tão rápido?
Fred olha para o pai com desconfiança e responde em tom sarcástico:
- Não saí de Girassol, seu capanga deve ter lhe passado a informação errada.
Max ignora o comentário do filho e continua:
- E tua mãe? Tens notícias dela?
- Pra você, nenhuma - Fred diz secamente.
- Não posso mesmo contar com meu filho... bueno, vou ter quer me virar
sozinho - conclui Max, e arranca o carro.
Fred entra no armazém e Janaína percebe que ele está preocupado:
- Que foi? Você tá com uma cara...
- Acabei de encontrar o seu Max. Ele continua atrás da minha mãe. E pelo jeito
vai aprontar alguma.
- Você acha que ele vai descobrir onde a Amélia e o Vitor estão?
- Claro, é um esconderijo bastante óbvio, né? Mas mesmo assim é mais seguro
do que aqui.
- E você pode ter certeza que sua mãe está sendo bem cuidada. O Vitor parece
capaz de dar a vida por ela.
- Eu sei. É isso que me tranquiliza.

Amélia e Vitor assistem a um filme, abraçados, recostados na cama. É uma
comédia romântica, e Vitor comenta, apontando para a tv:
- Nosso amor é muito maior que o deles. É tão grande que nem cabe num
filme...
Amélia sorri e responde, olhando pra ele:
- Acho que a cada dia eu te amo mais... se é que isso é possível...
- Eu também - ele acrescenta, aproximando os lábios dos dela.
E eles esquecem de tudo num longo beijo. Só param quando o telefone toca.
Eles se olham, e Vitor se levanta para atender.
- Alô?
Logo ele coloca o telefone de volta no lugar e conta para Amélia:
- De novo. Desligaram sem falar nada.
- É o Max... - Amélia murmura, aflita.
Ela fica pensativa por alguns instantes e resolve ir até a janela. Olha para a rua
e grita:
- Vitor!
Ele vai correndo para perto dela.
- Que foi?
- Olha lá embaixo... o carro do Max!
- Ele não vai entrar aqui, fica tranquila - Vitor diz, tentando disfarçar a
preocupação.
- Vitor, o Max consegue tudo que quer... ele vai subornar o porteiro, ameaçar,
fazer de tudo para entrar.
- Não. Eu não vou deixar aquele desgraçado chegar perto de você. Ele não vai
subir, sou eu que vou descer. Fique aqui, não saia em hipótese nenhuma - ele
pede e vai andando em direção à porta.
Amélia vai atrás, pedindo:
- Não faz isso, ele é perigoso!
Mas ela não consegue deter Vitor, que antes de fechar a porta olha pra Amélia
e diz:
- Já volto.
Ela fica olhando a porta se fechar e deixa uma lágrima rolar por seu rosto.


                                        X
Vitor chega na porta do prédio bem no momento em que Max ia entrar. Eles se
olham fixamente, se enfrentando com o olhar, e Vitor dá alguns passos para a
frente, obrigando Max a recuar até o meio da calçada.
- Veio me visitar, Max? - Vitor pergunta em tom sarcástico.
- Onde está minha mulher?
- Sua? Não, agora a Amélia é minha mulher - afirma com segurança.
- Moleque atrevido... que direitos acha que tens para falar assim? - Max tenta
se mostrar ofendido.
- O direito de quem ama a Amélia como ela nunca foi amada... Mas você nem
deve saber o que é amor. Um sujeito tão torpe não pode conhecer um
sentimento tão sublime.
- Esse amontoado de palavras bonitas não me comove. Vocês dois me traíram.
Já estavam de conluio desde o começo ou tu seduziste minha mulher para te
vingares de mim?
- Eu jamais usaria os sentimentos da Amélia em uma vingança! Não sou como
você, que passa por cima de tudo e de todos - responde Vitor, levantando o
tom de voz.
- Queres me convencer que tu gostas mesmo da Amélia? - Max ironiza, rindo.
- Eu não preciso lhe convencer de nada, to pouco me importando se você
acredita ou não. A única coisa que eu quero é que você nos deixe em paz!
- Nunca! A Amélia é minha mulher e não vai deixar de ser enquanto eu estiver
vivo - avisa Max em tom ameaçador.
- Você não vai mais encostar essa sua mão suja na MINHA Amélia - devolve
Vitor com firmeza.
- Que sua Amélia nada, guri! Saias já da minha frente ou eu... - grita Max
parecendo descontrolado.
Vitor põe as mãos na cintura, fica com a coluna o mais reta possível e olha
fixamente para a Max:
- Não. Você não vai entrar nesse prédio.
- Ah, não? - Max tira um revólver da cintura e aponta para o rosto do rapaz.
- Atira, vai! - Vitor provoca.
- Não tens medo do estrago que isso pode fazer nessa tua carinha bonitinha? -
Max pergunta, irônico.
- Não, duvido que você tenha coragem de sujar as próprias mãos. É mais do
seu feitio mandar matar sem deixar rastro, como você fez com meu avião, não
é? - Vitor tenta se manter firme, mas sente o suor frio nas mãos e na testa.
- É, foi um servicinho bem feito, pena que não deu certo. Por isso terei que
resolver eu mesmo esse problema.
Max engatilha a arma e aponta novamente para Vitor, avisando:
- Acabou tua brincadeira, guri.
Mas quando Max vai puxar o gatilho, dois braços o seguram por trás.
- O senhor está preso, Max Martinez. Tentativa de assassinato, em flagrante.
O policial desarma Max e o algema, enquanto Vitor respira fundo, aliviado.
- Isso é um acinte! Sou Max Martinez, não posso ir preso como um marginal
qualquer! - grita Max, mas o policial não lhe dá ouvidos, vai conduzindo o preso
para a viatura que acabou de se aproximar.
Vitor fica observando sem sair do lugar onde estava desde o começo. Depois
de prender Max na viatura, o policial se aproxima do rapaz.
- Está tudo bem?
- Agora está. Valeu pela força.
- De nada, é meu trabalho. Preciso que você vá na delegacia para registrar a
ocorrência.
- Claro, vou só pegar meus documentos e já encontro você lá.
- Certo. Cuidado aí, não vá se meter com outro marido ciumento - brinca o
policial.
- Pode ter certeza que não - Vitor também ri.

Quando entra no apartamento, Vitor corre para Amélia, a toma nos braços e a
beija com intensidade, quase com desespero. Só depois de um beijo demorado
é que ele olha nos olhos dela e diz, com um sorriso vitorioso:
- Estamos livres!
- Eu vi a polícia chegando, o Max foi preso? - ela pergunta com jeito de quem
ainda não consegue acreditar.
- Sim. Eu tinha conversado com um policial amigo meu, expliquei que nós dois
corríamos risco de vida. Ele ficou de sobreaviso. Depois daquele primeiro
telefonema, nós combinamos tudo, ele passou a montar guardar aí na frente.
Não falei nada para não lhe preocupar. Eu desci sabendo que tinha um policial
lá embaixo, escondido. Daí foi só esperar o Max se descontrolar.
- Como assim, se descontrolar?
- Senta aqui - Vitor leva Amélia até o sofá e a faz sentar - É melhor que você
saiba de tudo logo, e por mim. O Max chegou a apontar uma arma na minha
cara.
- Meu deus! Por que você correu um risco desse? Não quero nem pensar no
que poderia ter acontecido - ela diz quase chorando.
- Já passou, Amélia, não precisa ficar assim... - ele diz com doçura.
- Mas só de pensar que eu podia ter te perdido, eu sinto como se algo me
dilacerasse aqui dentro - ela explica botando a mão no peito.
- Eu sei... - ele acaricia o rosto dela antes de continuar - Mas mesmo que o
Max tivesse me acertado, ele não conseguiria me matar... O amor que tenho
por você me daria forças para continuar vivo.
Amélia olha para ele, emocionada, e o beija enquanto diz:
- Não posso te perder...
Vitor afasta um poucos lábios e olha bem nos olhos dela:
- Você não vai me perder nunca. Nunca, ouviu? - e a beija intensamente.
Amélia se entrega completamente aos beijos dele. É Vitor quem interrompe
novamente:
- Meu amor, eu não queria sair dos seus braços agora, mas tenho que ir... o
Siqueira já deve até me esperando na delegacia, liguei pra ele no elevador.
- Tá... não demora?
- Vou tentar resolver tudo o mais rápido possível. Fica aqui, me espera... liga
pra Manu e pro Fred enquanto isso, conta tudo. Agora podemos voltar para
Girassol, você pode combinar o que quiser com eles.
- Como vou contar para meus filhos que o pai deles está preso? - diz Amélia,
preocupada.
- Amélia, eles não são mais crianças e sabem o pai que tem. Não vão nem se
surpreender.
- É verdade... mas mesmo assim não é uma notícia que eu gostaria de dar a
eles.
- Imagino. Ninguém gostaria - ele a abraça e lhe beija a testa com carinho -
Agora preciso ir. Mas eu volto o quanto antes pra você.
Amélia olha para Vitor, sorrindo. Ele também sorri e lhe beija os lábios mais
uma vez antes de sair.


                                       XI
Amélia e Vitor chegam a Girassol no domingo e vão direto para a casa de
Janaína, onde ela, Fred, Manu e Solano os esperam. Jana e Manu estão
terminando de arrumar a mesa quando ouvem a voz de Vitor:
- Ô de casa!
Manu desce as escadas correndo e abraça a mãe:
- Como você está?
- Feliz de poder estar aqui, com a minha filhinha - Amélia responde, abraçando
Manu com força.
Vitor abraça as duas e diz:
- Também estou muito feliz por estar de volta - ele olha para Amélia e continua
- Mais ainda de poder andar de mãos dadas com meu amor pelas ruas de
Girassol.
- Dona Amélia... que você fez pra deixar o Vitor com esse mel todo? - brinca
Manu.
Amélia fica encabulada. Antes que ela consiga responder, Fred chama do alto
da escada:
- Vocês não vão subir, hein?
Os três sobem, e Fred abraça a mãe. Depois, Amélia abraça Janaína, que
explica:
- O almoço está praticamente pronto, só vamos esperar o Bruno, pode ser? Ele
foi buscar a Terezinha.
- Tá certo ele - comenta Vitor, abraçando Amélia por trás - Estamos todos aqui
felizes e apaixonados, é justo que o Bruno esteja com o amor dele também.
- Concordo - ajuda Fred.
Manu muda de assunto:
- Vitor, meu pai teve mesmo coragem de apontar uma arma pra você?
- Teve, Manu.
- Como ele pôde... - murmura ela, olhando para o chão.
Solano a abraça e pergunta a Vitor:
- Você acha que o Max fica preso muito tempo?
- Se depender de mim, ele vai apodrecer na cadeia - Vitor diz com raiva no
olhar, mas logo fica meio desconcertado - Desculpa, Manu, Fred, é o pai de
vocês...
- Relaxa, Vitor, o velho tá pagando pelo que fez. E a conta dele é alta - afirma
Fred.
O clima pesado é interrompido pela chegada de Bruno e Terezinha. Janaína
chama todos para sentarem-se a mesa.
Durante a sobremesa, Manu fica observando Amélia e Vitor, que trocam
olhares. Repara também em Terezinha e Bruno, depois volta a olhar para a
mãe. Amélia percebe e comenta:
- Que foi, Manu?
- Tava reparando no brilho dos seus olhos... praticamente igual ao brilho do
primeiro amor nos olhos da Terezinha. Você parece uma adolescente
apaixonada - explica Manu, sorrindo.
- Assim você me deixa sem graça... - devolve Amélia.
- Eu concordo, viu? Mas a Amélia é muito mais linda que qualquer adolescente
- avisa Vitor.
Amélia sorri e acaricia o rosto dele, que continua, olhando para ela:
- E eu sou o homem mais apaixonado do mundo.
- Não mesmo, sou eu... sou perdidamente apaixonado pela minha morena -
retruca Fred, olhando para Jana.
- Duvido que alguém ame mais do que eu amo a Manuela - avisa Solano.
- Pois eu ganho de vocês todos - anuncia Bruno - a Terezinha é a minha
Julieta.
- Esse moleque tá esperto... - diz Fred, rindo.
Vitor retoma a palavra:
- Não importa quem ama mais. O importante é que nós todos aqui encontramos
o amor. E descobrimos a verdadeira felicidade. Isso merece um brinde - ele
ergue o copo, e todos fazem o mesmo - Ao amor!
Todos brindam, e Vitor acrescenta, enlaçando Amélia com o braço:
- Mas quero reforçar que eu amo essa mulher com todas as minhas forças.
Amélia olha para ele, declarando seu amor com o olhar. Eles vão aproximando
os lábios e trocam um beijo carinhoso, sob os aplausos de todos.

Um pouco mais tarde, Amélia e Vitor caminham de mãos dadas no centro de
Girassol. Quando se aproximam da igreja, ele diz:
- Vem, vamos entrar.
Entram e são recebidos pelo padre Emílio:
- Meus filhos, que bom ver vocês! Ainda mais com essas carinhas tão felizes.
Sem soltar a mão de Amélia, Vitor pede:
- Padre, eu não sou muito religioso, mas acredito em Deus. Sei que perante a
Igreja a Amélia vai continuar casada com o Max, mas queria que o senhor nos
abençoasse. Tenho certeza que Deus quer que a gente seja feliz.
- Claro... aqui entre nós, as normas religiosas são muito mais criações dos
homens do que de Deus. Como posso não abençoar um amor tão verdadeiro
como o de vocês? - o padre traça uma cruz diante dos dois, dando a benção -
Vocês têm a minha benção. E a de Deus também, com certeza.
- Obrigada, padre - agradece Amélia.
- Sejam felizes - conclui padre Emilio.
Sorrindo, Vitor e Amélia se olham e colam os lábios. Por um momento,
esquecem que estão numa igreja e se entregam a um beijo apaixonado. São
interrompidos pelo padre:
- Mas não abusem, vocês estão na casa de Deus.
- Perdão, já estamos saindo - diz Vitor, puxando Amélia pela mão.
Ele só pára bem no meio da rua, e olha nos olhos de Amélia:
- Eu já disse que te amo hoje?
- Umas três vezes - ela responde sorrindo.
- Então vou dizer mais umas três: te amo, te amo, te amo... - ele diz enquanto a
toma nos braços.
- Também te amo, te amo, te amo... - ela devolve sem parar de sorrir, os olhos
brilhando.
- Não fala mais nada - ele sussurra com os lábios quase juntos aos dela. E ali,
no meio da cidade de Girassol, os lábios deles se encontram em mais um beijo.
                                       FIM

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O resgate

  • 1. O Resgate I Manuela viaja com Solano em busca do pai dele. Amélia fica sozinha com Max na fazenda, e se sente cada vez mais sufocada. É final de tarde. Amélia está saindo de casa quando Max aparece: - Aonde vais a essa hora? - Ver meu filho. Ou será que não posso? - Amélia... não penses que me engana. - Não sei do que você está falando. - Não estás usando teu próprio filho como desculpa para encontrar com outro homem? Amélia acaba explodindo: - É ruim, não é, Max, pensar que eu posso amar outro? Agora você pode ter alguma ideia de como me senti vendo você chorar pelos cantos dessa casa por causa da Antoninha? Que moral você tem para me cobrar alguma coisa? - Mas que atrevimento é esse? Tu és minha mulher e me deve respeito! - Se quer respeito tem que fazer por merecer. Max segura o braço de Amélia e pergunta: - Onde andas arrumando estas ideias? - Não lhe interessa. Me solta - pede Amélia, assustada mas tentando se manter firme. - Tu não vais sair - avisa ele, em tom ameaçador. - Você enlouqueceu? Max não responde, sai arrastando Amélia escada acima e a tranca no quarto. Durante todo o trajeto, Amélia pede que ele a solte. Antes de sair, Max pega o celular dela. - Vais ficar aqui, para pensar no que andas fazendo. Amélia corre para a porta tentando fugir, mas Max a empurra com força, fazendo ela cair no chão. Ele sai e tranca a porta. Amélia chora, ainda no chão. Max desce e orienta Lurdinha: - Minha mulher não pode sair do quarto em hipótese nenhuma, ouviste? Eu mesmo vou levar alguma comida para ela. E se tu a ajudares a fugir, ou levar alguma coisa até ela, estás no olho da rua. Entendeste direitinho, não é? - Sim, seu Max - responde Lurdinha com os olhos arregalados. Em seu quarto na estalagem, Vitor espera por Amélia. Ela havia avisado que iria encontrá-lo. Ele fica preocupado com a demora dela. - Será que aconteceu alguma coisa? Espero que o Max não tenha feito nada contra a Amélia, senão eu mato aquele desgraçado - pensa Vitor em voz alta, com ódio no olhar. Ele liga para o celular de Amélia, mas só ouve a mensagem de que o telefone está desligado ou fora da área de cobertura. - Que estranho... Vitor dorme com o celular na mão, esperando uma ligação de Amélia.
  • 2. II No dia seguinte, logo que acorda, Vitor tenta telefonar de novo para Amélia, mas o celular dela continua desligado. Ele desce as escadas depressa: - Terê! Preciso da sua ajuda! - Que foi, meu filho? Você parece preocupado... Ele chega perto dela e fala baixinho: - A Amélia disse que viria aqui ontem, mas não apareceu. E o telefone dela está desligado. Tenta ligar pra fazenda, pra ver se consegue falar com ela? Tenho medo que o Max... - Vitor não tem coragem de terminar a frase. - Claro, filho, vem aqui... - responde Terê, indo até o telefone. Ela liga para a fazenda e Lurdinha atende. Terê pede para falar com Amélia - A dona Amélia? É... - antes que empregada terminasse de responder, Max pega o telefone: - O que tu queres com a minha mulher? - É assunto particular de amigas, seu Max - Terê responde sem se abalar. - A Amélia não tem amigas da tua laia. Achas que ela vai ter amizade com uma cigana trambiqueira? - Suas ofensas não me atingem. Preciso falar com a Amélia. - Ela acordou indisposta, está descansando no quarto. E não vai ser incomodada por ti. Passar bem - Max desliga o telefone na cara de Terê. Vitor está cada vez mais aflito: - E então Terê? - O Max atendeu e não me deixou falar com a Amélia - ela conta toda a conversa com o fazendeiro. - Meu Deus, Terê, o que eu faço? Tá na cara que ele está fazendo a Amélia de prisioneira... - Vitor, a gente não tem certeza de nada... não vá fazer nada de cabeça quente, por favor, não piore as coisas... - Eu sei, tenho que pensar muito bem numa saída. Não posso colocar a Amélia em risco - ele responde, respirando fundo, tentando se acalmar. Somente no final do dia seguinte ele resolve abordar Fred no corredor da estalagem: - Fred, você tem notícias da Amélia? - Faz alguns dias que não falo com minha mãe... por quê? - Ah... - Vitor escolhe as palavras - ela não veio mais aqui na cidade... e tentei telefonar, mas o celular dela está desligado desde ontem. Estou achando muito estranho esse sumiço. - É verdade... eu ando trabalhando tanto que nem me dei conta - concorda Fred, já tirando o celular do bolso - Vou ligar pra fazenda. Enquanto o telefone chama, Fred abre a porta do quarto e convida Vitor para entrar. Max atende o telefone: - Oi, meu filho, lembrou do teu velho pai? - Me poupe do seu cinismo, seu Max. Quero falar com minha mãe. - Mas não vai dar, filho... Tua mãe acordou com dor de cabeça, foi se deitar agorinha para ver se melhora. - É? O que o senhor fez para deixá-la com dor de cabeça? - devolve Fred em tom irônico.
  • 3. - Agora tudo que acontece é culpa minha? Quanta injustiça com um velho doente. - Chega, seu Max. Tchau - Fred desliga o telefone. Vitor pergunta: - Ele disse que a Amélia está com dor de cabeça? - Isso mesmo. Alegou que ela não podia atender porque tinha acabado de se deitar. - Aí tem coisa, Fred. Ontem a Terê tentou falar com a Amélia e o Max deu uma desculpa muito parecida, falou que ela estava descansando porque tinha acordado indisposta. - Essa não é minha mãe - comenta Fred. - Não mesmo. Ela é cheia de vida, de energia - concorda Vitor, tentando segurar um sorriso de quem está lembrando-se de bons momentos. Fred estranha um pouco o comentário de Vitor, mas não dá importância, porque está preocupado com algo muito mais grave: - Seu Max está aprontando alguma coisa... - Você acha que ele pode estar mantendo a Amélia presa na fazenda? - pergunta Vitor, cada vez mais tenso. - Pode ser. Vindo do meu pai, tudo é possível. Vitor não consegue mais disfarçar o desespero: - Preciso tirar a Amélia de lá... não posso deixá-la nas mãos do Max... - ele diz com tom de dor, e já indo em direção à porta. - Calma. Eu vou até lá pra tentar descobrir o que está acontecendo - avisa Fred, intrigado com o desespero do outro. - Vou junto - afirma Vitor. - Tá bem. Mas tenta manter a calma. Não sabia que você se preocupava tanto com a minha mãe. - Mais do que você imagina - Vitor deixa escapar - Vamos logo. Enquanto eles saem do quarto, Fred olha para Vitor com jeito de que parece estar pensando: "ele está apaixonado pela minha mãe?". III Quando eles chegam na fazenda, Fred explica: - Eu vou entrar e você fica escondido, de olho. É melhor que o seu Max não lhe veja. - Certo. Mas se precisar, eu entro e encontro a Amélia - responde Vitor. - Você conhece bem a casa, né? Sabe onde é o quarto dela? - Sei... - Vitor diz meio encabulado. - Então, se a situação apertar, eu cuido do seu Max e você procura minha mãe. Vitor balança a cabeça afirmativamente, sem conseguir disfarçar a ansiedade. Fred entra na sala e encontra o pai, que abre os braços, indo em sua direção: - Meu filho, veio me visitar? - Pare com esse teatro ridículo - diz Fred, se esquivando do abraço - Vim falar com minha mãe, ela está lá cima? - Já te disse que a Amélia está descansando... - E eu não acredito mais em nada que venha de você. - Que dor para o coração de um pai ser tratado assim pelo próprio filho...
  • 4. Irritado, Fred deixa o pai falando sozinho e caminha em direção à escada. Max o segura e fala em tom de ordem: - Tu não vais subir. - Me larga! - Estou velho mas ainda sei lidar com cavalo xucro - avisa Max, tentando imobilizar o filho. - Ah, é? Vamos ver - Fred consegue inverter a situação, imobilizando o pai. - Vais ter coragem de machucar teu pai? - Sem drama, seu Max. Acabou o jogo - Fred avisa com firmeza, enquanto leva o pai até o escritório. Lá dentro, continua a segurá-lo por mais um tempo. Assim que a porta do escritório se fecha, Vitor entra na sala e sobe as escadas. Ele vai até o quarto de Amélia e verifica que a porta está trancada. Então chama: - Amélia! - Vitor! Que você está fazendo aqui? - O que está acontecendo? O Max prendeu você? - Ele não me deixa mais sair daqui. - Vou arrombar a porta, cuidado... Vitor dá um chute na porta, fazendo com que ela se abra. E corre para abraçar Amélia. Depois de confortá-la por alguns segundos, ele chama, pegando-a pela mão: - Vem! Vou levar você para um lugar seguro. - É muito arriscado, o Max vai se vingar, não quero nem pensar no que ele pode fazer com você... - diz Amélia, assustada. - Não, Amélia, não vou deixar você aqui, à mercê desse louco... - Vitor pega Amélia no colo e sai levando ela, que fica emocionada com o gesto dele. No escritório, Max ouve o barulho do chute na porta do quarto de Amélia. - Que barulho foi esse? Melhor irmos ver. - Não ouvi nada - diz Fred, segurando o pai com força enquanto sorri, deduzindo do que se tratava o ruído. Só depois de dar tempo suficiente para Vitor e Amélia chegarem até o carro, é que Fred solta Max. Enquanto o pai tenta recuperar as forças, Fred sai e tranca a porta do escritório com a chave que pegou no lado de dentro da fechadura. Antes de deixar a casa, ele entrega a chave para Lurdinha. - Daqui a uma hora você pode abrir. Fred entra no carro e Vitor dá a partida, avisando: - Já fiquei na direção pra gente sair mais rápido. - Fez bem. - Pra onde nós vamos? - pergunta Amélia, nervosa. - Toca pra Girassol, Vitor - avisa Fred. IV Fred leva Amélia para a casa de Janaína, que está terminando de fechar o armazém quando eles chegam. - Minha mãe pode ficar aqui pelo menos essa noite? - Claro... mas o que aconteceu?
  • 5. - O Max passou dos limites - diz Vitor com raiva. - Ele me trancou no quarto desde ontem, sem poder me comunicar com ninguém - conta Amélia. - Meu Deus, esse homem está louco... Mas agora está tudo bem. A senhora dorme comigo no meu quarto, a Nancy pode ficar na sala - comenta Janaína. - Não queria incomodar... - responde Amélia, um tanto encabulada. - Amanhã busco as suas coisas, mãe. Aproveito um momento que meu pai sair, entro lá sem ele ver - avisa Fred. Amélia o abraça, dizendo: - Meu filho... obrigada por tudo. - Que nada, mãe. Estou aqui pra cuidar de você. Amélia sorri e depois se dirige à Vitor: - Você também... preciso agradecer... Janaína chama Fred: - Vem comigo até a cozinha que eu preciso falar com você. Quando entram na cozinha, ela comenta: - Acho que eles precisam conversar a sós... - O Vitor estava muito preocupado com a minha mãe - conta Fred. - E você não desconfia por quê? - Desconfio, sim. É a dona Amélia a mulher por quem ele está apaixonado. Você já tinha percebido? - Já... faz algum tempo. Mas o que você acha disso? - Ah, minha mãe ainda é uma mulher linda, e merece ser feliz... - É, feliz como eu sou com você - Janaína completa, abraçando Fred, que sorri e a beija. Na sala, Amélia e Vitor ficam em silêncio por instantes, apenas olhando nos olhos um do outro. Ele olha em volta e vê que estão sozinhos. Então, abraça Amélia com força. - Amélia, eu tive tanto medo que o Max tivesse feito algo ainda pior com você... Ele não te agrediu? Ela se aconchega nos braços dele e responde: - Ele só me arrastou até o quarto me puxando pelo braço... e quando tentei fugir, me empurrou, fazendo com que eu caísse no chão... Vitor chega a bufar de raiva: - Se o Max não fosse um velho eu arrebentava a cara dele. - Esquece o Max... quero esquecer, pelo menos por essa noite. - Tá bem - ele concorda, acariciando os cabelos dela - Agora você está aqui comigo, não vou deixar nada de mal te acontecer. - Vou ficar bem aqui com a Janaína... - Mas amanhã venho de te ver - avisa Vitor. - Toma cuidado, por favor - implora Amélia. - Não vou ficar mais nem um dia longe de você - ele afirma. Amélia olha nos olhos dele de novo, e acaricia seu rosto. Eles vão aproximando os lábios e se beijam com carinho. De repente, Amélia se afasta: - O Fred... ele vai ver... - Ah, é, dona Amélia? Eu vi... - Fred diz, na porta da sala. Ele e Janaína entram, rindo. - Filho... - é só que Amélia consegue dizer, constrangida.
  • 6. Fred dá um beijo na testa dela e afirma: - Fica tranquila - depois ele se dirige a Vitor - Vamos, Vitor, já chega por hoje... te dou uma carona até a estalagem. Vitor fica sem graça e se despede de Amélia: - Até amanhã - sem saber o que fazer, ele se dirige à porta. Fred beija Janaína e também sai. Janaína pega as mãos de Amélia e olha para a sogra com um olhar cúmplice e um sorriso. Amélia sorri de volta. - Vamos, vou mostrar sua cama - chama Janaína, levando Amélia para o quarto. V Vitor não diz uma palavra durante o trajeto até a estalagem. Quando chegam no alto da escada, Fred comenta: - Agora entendi tudo... tanta preocupação com a minha mãe... - Fred, eu amo a Amélia, amo com todas as minhas forças - Vitor confessa. - Eu acredito. Ainda mais depois de tudo que aconteceu hoje. E também sei que a dona Amélia merece ser amada de verdade. Vitor dá um sorriso tímido e comenta, com o olhar perdido: - Acho que você me entende, né? Sabe tão bem quanto eu que o amor é mais forte que o passado, que toda a história que já exista na vida da mulher que a gente ama... - É verdade - Fred responde rindo - E também sei como é ruim ter o filho da amada contra o nosso amor... não se preocupa que não vou fazer esse papel. - Que bom - Vitor devolve, aliviado. - Tem mais uma coisa: o que minha mãe precisa agora é que a gente se una para protegê-la do seu Max Martinez. Pode ter certeza que ele não vai deixar barato. Na fazenda, Max bate na porta gritando que o tirem de lá, mas Lurdinha obedece a instrução de Fred. Só depois de uma hora ela destranca a porta do escritório e sai correndo para a cozinha. Ao ouvir o barulho da chave girando, Max levanta da cadeira e sai de lá depressa. Ele sobe as escadas o mais rápido que consegue, e encontra o quarto de Amélia vazio, com a porta arrombada. - Diabos! Como ela escapou? Quem ajudou o Frederico? Max desce as escadas e chama Lurdinha, que vem muito nervosa. - Onde tu estavas, incompetente? Não me ouviu chamar antes? - ele grita. - Cheguei da rua ainda agorinha, seu Max, fui no armazém - ela responde com a voz trêmula. - Então não viste quem mais entrou aqui além do Frederico? - Não, não vi nem o Fred. - Mas tu não prestas pra nada mesmo - reclama Max, num tom muito grosseiro - Sai da minha frente antes que te botes no olho da rua. Lurdinha sai depressa. Max esbraveja: - Eu pego os três... ah, eu pego! No dia seguinte, Vitor chega bem cedo no armazém. Janaína ainda está abrindo as portas.
  • 7. - Caiu da cama, Vitor? - ela pergunta. - E você acha que eu consegui dormir? - Imagino... a dona Amélia tá tomando café, sobe lá. Vai depressa antes que chegue alguém e te veja. - Obrigado - ele responde com um sorriso, e sobe as escadas ligeiro. Amélia está distraída quando ele entra, dizendo: - Bom dia... - Vitor! - Amélia exclama abrindo um sorriso iluminado. Ele se aproxima, a beija com carinho e pergunta: - Como você passou a noite? - Bem. Acho que eu apaguei, de tão cansada que estava depois de tanta tensão. - Já eu passei a noite inteira pensando. Amélia, você precisa denunciar o Max, ele pode ser proibido judicialmente de chegar perto de você. - Será que vai adiantar alguma coisa? O Max manda até no delegado dessa cidade. E ele ainda vai alegar que eu abandonei nossa casa. - Mas temos que tentar. O Fred está do nosso lado, e tenho certeza que a Manu também vai nos ajudar. Vou trazer o Siqueira pra conversar com você. Ele pode encaminhar seu pedido de divórcio também. - O divórcio... acho que isso é o mais importante agora. O Max jamais vai aceitar, então não tenho outra saída a não ser procurar um advogado. - Vamos resolver isso. Amanhã, na primeira hora da manhã, estarei aqui com o Siqueira. VI Enquanto isso, Max chama alguns homens de confiança e explica: - Quero que vocês se dividam e fiquem de olho nos meus filhos, depois me relatem cada passo deles. Também estejam atentos àquele loirinho afrescalhado que quase foi meu genro, o Vitor. Logo que Max dispensa os homens, Manu entra em casa, chegando de viagem: - Oi, pai... - ela o abraça - minha mãe está lá em cima? - Tua mãe não está. - Onde ela foi? - Não sei, perguntes ao teu irmão. - Que aconteceu, seu Max? - Manu fica preocupada. - Aconteceu é que tua mãe me desonrou, fugiu de casa... e com ajuda do Frederico, filho ingrato... - Como assim? Me conta direito essa história - pede Manu, desconfiada. - Não sei de mais nada - resmunga Max, saindo da sala e deixando a filha sozinha. Manu procura Fred na operadora de turismo. As jóias avisam que ele foi à casa de Janaína. Manu vai até lá e quando entra no armazém, Janaína vai depressa encontrá-la e diz baixinho: - Pode subir, Manuela, sua mãe está lá em cima. - Obrigada. Ela entra e vê a mãe e Fred conversando.
  • 8. - Mãe! - ela diz e corre para abraçar Amélia - O pai disse que você fugiu de casa, que história é essa? Amélia e Fred contam tudo. - Não acredito que meu pai teve coragem... - comenta Manu, perplexa. - Pois teve, filha. E eu não volto mais pra casa. - Claro que não, né, mãe? - E o que nós vamos fazer agora, Manu? - pergunta Fred - Onde nossa mãe pode ficar em segurança? O velho já deve estar botando os capangas atrás dela. Manu pensa um pouco e olha para Amélia: - Mãe, talvez fosse melhor a senhora sair da cidade. - A Manuela está certa - diz Vitor, entrando na sala. Ele segura as mãos de Amélia e continua - Vamos embora daqui, nós dois. A gente pode até sair do país se for necessário. - Vitor, legalmente eu ainda estou casada com o Max. Quero primeiro resolver isso, senão não estarei livre - Amélia pondera. - Tá certo, vou pedir pro Siqueira tentar marcar a audiência o mais rápido possível. Mas enquanto isso nós podemos ir pra Juruanã, é mais seguro. Vamos para o meu apartamento, lá o Max não vai poder fazer nada. Se depender de mim, ele não encosta mais nem um dedo em você - sugere Vitor, com firmeza. Amélia sorri, emocionada, como se não houvesse mais ninguém ali além deles dois: - Vitor... como posso te dizer não? Vamos sim. Vitor também sorri, e a abraça com força. Manu olha para Fred, intrigada, e pergunta: - O que está acontecendo aqui? - Depois eu te conto... - ele responde, depois se dirigindo ao casal - Desculpa interromper... só quero dizer que eu concordo, mas sugiro que vocês só saiam daqui à noite, para que ninguém veja. - Claro, quando a cidade toda estiver dormindo... - acrescenta Vitor. Fred volta a atenção para Manu: - Me ajuda a pegar algumas coisas da mãe lá na fazenda, sem que o seu Max veja? - Pode ser agora mesmo. Vamos? No caminho, Fred conta para a irmã sobre a relação de Amélia e Vitor: - Então foi pelo Vitor que ela se apaixonou! - E ele, você viu, é capaz de enfrentar o mundo pela dona Amélia... - Ela merece. - Com certeza. Mas, maninha, me fala a verdade... você não ficou com nenhuma pontinha de ciúme? Afinal, o Vitor já foi seu noivo... - comenta Fred, rindo. - Claro que não, Fred! Eu amo o Solano... e a dona Amélia e o Vitor formam um casal bem bonito, não acha? - É, tenho que admitir... - ele ri.
  • 9. VII No final da tarde, os capagas relatam à Max que Manu, Fred e Vitor não foram em nenhum lugar estranho, e ficaram algum tempo no armazém. - No armazém? Sei... Será que aquela china está ajudando? A noite chega, e Vitor vai para a casa de Janaína esperar com Amélia pela melhor hora para saírem da cidade. Fred chega em seguida, avisando que já está com o carro pronto para levá-los a Juruanã. Poucos minutos depois, Max entra no armazém e aborda Janaína: - Onde está a minha mulher? Sei que estás acoitando aquela traidora, vamos, digas logo. - Não tenho nada pra lhe dizer - responde Jana com firmeza. - Ah, não? Então eu mesmo vou subir e procurar - ele avisa, indo em direção à escada. Mas Fred já está descendo e diz: - Parado aí, seu Max. Aqui não é sua casa. - Então tu trouxeste mesmo tua mãe pra casa da tua china? - Se o senhor se referir mais uma vez à minha mulher desse jeito, não vou mais respeitar a sua idade. Vá embora antes que eu perca o pouco de paciência que me resta. - Mas é assim que tratas teu pai? - O senhor vai sair por bem ou vou ter que botá-lo pra fora à força? - Eu vou, mas antes de me responda... quem te ajudou a soltar a Amélia? Foi o amante dela? Que decepção, meu próprio filho acobertando as safadezas da mãe. - Chega! Você não tem moral pra falar assim da minha mãe. Sai daqui, seu Max - grita Fred, já empurrando o pai. Enquanto Fred empurra o pai até a porta do armazém, Max grita: - Pois avise a Amélia que ela ainda é minha mulher e vai voltar para casa! Nem que eu a tenha que arrastar pelos cabelos! Amélia e Vitor ouvem toda a discussão, e ela fica assustada, olha para ele com medo. - Calma, meu amor... não dê ouvidos à essas ameaças... Eu não vou deixar ele chegar nem perto de você, eu prometo - Vitor tenta acalmá-la, enquanto a abraça. Fred ajuda Janaína a fechar o armazém, depois eles sobem. Amélia ainda está abraçada a Vitor, e nervosa. - Fica tranquila, mãe, daqui a pouco a senhora vai estar longe daqui - lembra Fred. Durante a madrugada, Fred leva Amélia e Vitor até Juruanã, os deixa em frente o prédio. Depois que fecha a porta do apartamento, Vitor enlaça Amélia pela cintura, olha nos olhos dela e diz: - Enfim sós... Ela ri e finge não perceber as segundas intenções dele: - E então, onde eu vou dormir? - Tem certeza que você quer dormir? - ele retruca, com um sorriso travesso. - Não... - ela devolve, sorrindo.
  • 10. Vitor beija Amélia com ardor. Sem parar de beijar, a pega no colo e leva para o quarto. Com cuidado, ele coloca Amélia sobre a cama. Depois deita também, de lado, com a mão sob a cabeça e o cotovelo apoiado no colchão, e fica olhando para ela. - Você está aqui mesmo? - murmura Vitor. Ela não diz nada, apenas acaricia o rosto dele e chega mais perto, aconchegando-se junto ao peito de Vitor. Ele levanta a cabeça dela e a beija intensamente. E naquele momento, os dois esquecem de tudo, e se entregam ao desejo. Amam-se, depois dormem abraçados. VIII No dia seguinte, Max entra em casa e vê Manuela descendo as escadas carregando várias malas. - Filha? O que é isto, pra onde tu vais? - Pra longe dessa casa - ela responde com firmeza. - Vais deixar teu pai sozinho? - ele pergunta em tom de vítima. - Pois é, seu Max... o senhor conseguiu afastar todas as pessoas que lhe tinham algum tipo de amor. Quem tem atitudes baixas e até cruéis como as suas colhe desprezo e solidão. - Tu falas como se eu fosse um monstro! - Talvez seja isso mesmo que o senhor se tornou, por mais que me doa reconhecer. Max fica calado por algum tempo, vendo Manu terminar de descer as malas e levá-las para o carro. Quando ela pega a última mala, Max segura o braço da filha, pedindo: - Não vás, minha filha, fiques com teu velho pai... Manu apenas balança a cabeça para os lados e solta o braço, saindo da casa e deixando Max parado no meio da sala. Amélia acorda e não encontra Vitor ao seu lado. Com o olhar preocupado, ela se levanta e procura Vitor no banheiro e na cozinha, mas não acha. Amélia fica mais tensa e pára no meio da sala, sem saber o que fazer. De repente, ouve o barulho de uma chave girando na porta e olha para lá, apreensiva. A porta se abre e Vitor entra, carregado de sacolas. - Bom dia, meu amor... - ele diz, e depois de trancar a porta, se aproxima e beija os lábios de Amélia. Ela o abraça, ainda abalada. - Onde você foi? - Comprar comida. Não podemos viver só de amor... - ele ri, e larga as sacolas no chão. Amélia sorri, aliviada, e olha pra Vitor. - Você devia ter me avisado. - É que você estava dormindo tão linda que não quis lhe acordar. Mas deixei um bilhete no criado-mudo, não viu? - Não... fiquei tão nervosa que nem lembrei de procurar algum bilhete. O Max deve estar atrás de nós... tem certeza que ninguém seguiu você? - Calma... - ele a abraça e acaricia os cabelos dela - Você está segura, dei ordem para o porteiro não deixar ninguém subir. - Temo muito mais por você do que por mim.
  • 11. - Não vai acontecer nada. Nosso amor é muito mais forte do que o ódio daquele... Não vamos mais pronunciar o nome dele aqui, está bem? - Vamos tentar esquecer que ele existe... - Amélia acrescenta tentando se mostrar forte. - Isso mesmo. Você não está com fome? Trouxe várias coisas que você gosta. Vamos, vou guardar essas compras e preparar o nosso café. Não sei se vai ficar tão bom quanto o da Lurdinha, mas vou me esforçar... - ele vai dizendo enquanto caminham para a cozinha. - Você guarda as compras e eu passo o café, pode ser? - Claro... - ele olha para ela um tanto surpreso. - Que foi? Pelo menos café eu sei fazer - ela retruca, rindo. Max recebe um telefonema de um dos capangas, que conta que Amélia, Vitor e Fred saíram da cidade de madrugada. - E vocês não os seguiram? Seus jumentos! Estou pagando para ficarem na cola dos meus filhos e daquele rapaz, seja onde for. Mas eles não devem estar longe. Eu mesmo vou dar um jeito nisso. Max telefona para o prédio onde tem seu apartamento em Juruanã: - Minha mulher passou por aí? Não? Mas talvez eu vá ainda hoje. Desliga o telefone e pensa alto: - Aquele guri também tem um apartamento em Juruanã. Deixa eu lembrar... é no mesmo prédio daquele meu amigo... Peraí, melhor ainda... Lurdinha! Depressa! - Que foi, seu Max? - Onde a Amélia guarda a agenda de telefones? - Ao lado do telefone, ora! - O que estás esperando que não foste buscar ainda essa agenda? Lurdinha sai depressa e volta com a agenda. - Agora desaparece da minha frente, rápido! - ordena Max. Assim que Lurdinha se afasta, ele abre a agenda: - Letra V. Vitor Vilar. Aqui está, o número do celular, do frigorífico... e do apartamento - ele ri. Max liga para o apartamento de Vitor. IX O telefone toca e Vitor atende: - Alô? Mas a pessoa do outro lado da linha não diz nada, e logo desliga. - Quem era? - pergunta Amélia. - Não sei, desligou sem dizer nada. Deve ser algum moleque passando trote. - Ou o Max... - ela acrescenta com a respiração quase suspensa. - Não vamos pensar no pior. Foi só um trote - ele pondera enquanto a abraça - Tomara... Max desliga o telefone e pensa alto: - Então o loirinho afrescalhado foi mesmo pra Juruanã... e a Amélia deve estar lá com ele. Será que gostariam de uma visitinha? - ele ri com gosto, depois chama Lurdinha novamente. - Arrumes já minha mala que vou precisar fazer uma viagem.
  • 12. - O senhor vai ficar muitos dias fora? - Não te interessa. - É só pra saber quanta roupa ponho na mala... - ela explica. - Uma duas mudas já chega. Quero resolver esse problema o mais rápido possível. Ande, sua lesma, vá logo! - Tô indo, não precisa ofender... - Lurdinha vai saindo. Mais tarde, ele pega a mala e sai. Ao passar pelo centro de Girassol avista Fred e pára o carro perto dele: - Meu filho, que bom te ver! Me contaram que tu tinhas viajado hoje cedo, já voltaste tão rápido? Fred olha para o pai com desconfiança e responde em tom sarcástico: - Não saí de Girassol, seu capanga deve ter lhe passado a informação errada. Max ignora o comentário do filho e continua: - E tua mãe? Tens notícias dela? - Pra você, nenhuma - Fred diz secamente. - Não posso mesmo contar com meu filho... bueno, vou ter quer me virar sozinho - conclui Max, e arranca o carro. Fred entra no armazém e Janaína percebe que ele está preocupado: - Que foi? Você tá com uma cara... - Acabei de encontrar o seu Max. Ele continua atrás da minha mãe. E pelo jeito vai aprontar alguma. - Você acha que ele vai descobrir onde a Amélia e o Vitor estão? - Claro, é um esconderijo bastante óbvio, né? Mas mesmo assim é mais seguro do que aqui. - E você pode ter certeza que sua mãe está sendo bem cuidada. O Vitor parece capaz de dar a vida por ela. - Eu sei. É isso que me tranquiliza. Amélia e Vitor assistem a um filme, abraçados, recostados na cama. É uma comédia romântica, e Vitor comenta, apontando para a tv: - Nosso amor é muito maior que o deles. É tão grande que nem cabe num filme... Amélia sorri e responde, olhando pra ele: - Acho que a cada dia eu te amo mais... se é que isso é possível... - Eu também - ele acrescenta, aproximando os lábios dos dela. E eles esquecem de tudo num longo beijo. Só param quando o telefone toca. Eles se olham, e Vitor se levanta para atender. - Alô? Logo ele coloca o telefone de volta no lugar e conta para Amélia: - De novo. Desligaram sem falar nada. - É o Max... - Amélia murmura, aflita. Ela fica pensativa por alguns instantes e resolve ir até a janela. Olha para a rua e grita: - Vitor! Ele vai correndo para perto dela. - Que foi? - Olha lá embaixo... o carro do Max! - Ele não vai entrar aqui, fica tranquila - Vitor diz, tentando disfarçar a preocupação.
  • 13. - Vitor, o Max consegue tudo que quer... ele vai subornar o porteiro, ameaçar, fazer de tudo para entrar. - Não. Eu não vou deixar aquele desgraçado chegar perto de você. Ele não vai subir, sou eu que vou descer. Fique aqui, não saia em hipótese nenhuma - ele pede e vai andando em direção à porta. Amélia vai atrás, pedindo: - Não faz isso, ele é perigoso! Mas ela não consegue deter Vitor, que antes de fechar a porta olha pra Amélia e diz: - Já volto. Ela fica olhando a porta se fechar e deixa uma lágrima rolar por seu rosto. X Vitor chega na porta do prédio bem no momento em que Max ia entrar. Eles se olham fixamente, se enfrentando com o olhar, e Vitor dá alguns passos para a frente, obrigando Max a recuar até o meio da calçada. - Veio me visitar, Max? - Vitor pergunta em tom sarcástico. - Onde está minha mulher? - Sua? Não, agora a Amélia é minha mulher - afirma com segurança. - Moleque atrevido... que direitos acha que tens para falar assim? - Max tenta se mostrar ofendido. - O direito de quem ama a Amélia como ela nunca foi amada... Mas você nem deve saber o que é amor. Um sujeito tão torpe não pode conhecer um sentimento tão sublime. - Esse amontoado de palavras bonitas não me comove. Vocês dois me traíram. Já estavam de conluio desde o começo ou tu seduziste minha mulher para te vingares de mim? - Eu jamais usaria os sentimentos da Amélia em uma vingança! Não sou como você, que passa por cima de tudo e de todos - responde Vitor, levantando o tom de voz. - Queres me convencer que tu gostas mesmo da Amélia? - Max ironiza, rindo. - Eu não preciso lhe convencer de nada, to pouco me importando se você acredita ou não. A única coisa que eu quero é que você nos deixe em paz! - Nunca! A Amélia é minha mulher e não vai deixar de ser enquanto eu estiver vivo - avisa Max em tom ameaçador. - Você não vai mais encostar essa sua mão suja na MINHA Amélia - devolve Vitor com firmeza. - Que sua Amélia nada, guri! Saias já da minha frente ou eu... - grita Max parecendo descontrolado. Vitor põe as mãos na cintura, fica com a coluna o mais reta possível e olha fixamente para a Max: - Não. Você não vai entrar nesse prédio. - Ah, não? - Max tira um revólver da cintura e aponta para o rosto do rapaz. - Atira, vai! - Vitor provoca. - Não tens medo do estrago que isso pode fazer nessa tua carinha bonitinha? - Max pergunta, irônico. - Não, duvido que você tenha coragem de sujar as próprias mãos. É mais do seu feitio mandar matar sem deixar rastro, como você fez com meu avião, não é? - Vitor tenta se manter firme, mas sente o suor frio nas mãos e na testa.
  • 14. - É, foi um servicinho bem feito, pena que não deu certo. Por isso terei que resolver eu mesmo esse problema. Max engatilha a arma e aponta novamente para Vitor, avisando: - Acabou tua brincadeira, guri. Mas quando Max vai puxar o gatilho, dois braços o seguram por trás. - O senhor está preso, Max Martinez. Tentativa de assassinato, em flagrante. O policial desarma Max e o algema, enquanto Vitor respira fundo, aliviado. - Isso é um acinte! Sou Max Martinez, não posso ir preso como um marginal qualquer! - grita Max, mas o policial não lhe dá ouvidos, vai conduzindo o preso para a viatura que acabou de se aproximar. Vitor fica observando sem sair do lugar onde estava desde o começo. Depois de prender Max na viatura, o policial se aproxima do rapaz. - Está tudo bem? - Agora está. Valeu pela força. - De nada, é meu trabalho. Preciso que você vá na delegacia para registrar a ocorrência. - Claro, vou só pegar meus documentos e já encontro você lá. - Certo. Cuidado aí, não vá se meter com outro marido ciumento - brinca o policial. - Pode ter certeza que não - Vitor também ri. Quando entra no apartamento, Vitor corre para Amélia, a toma nos braços e a beija com intensidade, quase com desespero. Só depois de um beijo demorado é que ele olha nos olhos dela e diz, com um sorriso vitorioso: - Estamos livres! - Eu vi a polícia chegando, o Max foi preso? - ela pergunta com jeito de quem ainda não consegue acreditar. - Sim. Eu tinha conversado com um policial amigo meu, expliquei que nós dois corríamos risco de vida. Ele ficou de sobreaviso. Depois daquele primeiro telefonema, nós combinamos tudo, ele passou a montar guardar aí na frente. Não falei nada para não lhe preocupar. Eu desci sabendo que tinha um policial lá embaixo, escondido. Daí foi só esperar o Max se descontrolar. - Como assim, se descontrolar? - Senta aqui - Vitor leva Amélia até o sofá e a faz sentar - É melhor que você saiba de tudo logo, e por mim. O Max chegou a apontar uma arma na minha cara. - Meu deus! Por que você correu um risco desse? Não quero nem pensar no que poderia ter acontecido - ela diz quase chorando. - Já passou, Amélia, não precisa ficar assim... - ele diz com doçura. - Mas só de pensar que eu podia ter te perdido, eu sinto como se algo me dilacerasse aqui dentro - ela explica botando a mão no peito. - Eu sei... - ele acaricia o rosto dela antes de continuar - Mas mesmo que o Max tivesse me acertado, ele não conseguiria me matar... O amor que tenho por você me daria forças para continuar vivo. Amélia olha para ele, emocionada, e o beija enquanto diz: - Não posso te perder... Vitor afasta um poucos lábios e olha bem nos olhos dela: - Você não vai me perder nunca. Nunca, ouviu? - e a beija intensamente. Amélia se entrega completamente aos beijos dele. É Vitor quem interrompe novamente:
  • 15. - Meu amor, eu não queria sair dos seus braços agora, mas tenho que ir... o Siqueira já deve até me esperando na delegacia, liguei pra ele no elevador. - Tá... não demora? - Vou tentar resolver tudo o mais rápido possível. Fica aqui, me espera... liga pra Manu e pro Fred enquanto isso, conta tudo. Agora podemos voltar para Girassol, você pode combinar o que quiser com eles. - Como vou contar para meus filhos que o pai deles está preso? - diz Amélia, preocupada. - Amélia, eles não são mais crianças e sabem o pai que tem. Não vão nem se surpreender. - É verdade... mas mesmo assim não é uma notícia que eu gostaria de dar a eles. - Imagino. Ninguém gostaria - ele a abraça e lhe beija a testa com carinho - Agora preciso ir. Mas eu volto o quanto antes pra você. Amélia olha para Vitor, sorrindo. Ele também sorri e lhe beija os lábios mais uma vez antes de sair. XI Amélia e Vitor chegam a Girassol no domingo e vão direto para a casa de Janaína, onde ela, Fred, Manu e Solano os esperam. Jana e Manu estão terminando de arrumar a mesa quando ouvem a voz de Vitor: - Ô de casa! Manu desce as escadas correndo e abraça a mãe: - Como você está? - Feliz de poder estar aqui, com a minha filhinha - Amélia responde, abraçando Manu com força. Vitor abraça as duas e diz: - Também estou muito feliz por estar de volta - ele olha para Amélia e continua - Mais ainda de poder andar de mãos dadas com meu amor pelas ruas de Girassol. - Dona Amélia... que você fez pra deixar o Vitor com esse mel todo? - brinca Manu. Amélia fica encabulada. Antes que ela consiga responder, Fred chama do alto da escada: - Vocês não vão subir, hein? Os três sobem, e Fred abraça a mãe. Depois, Amélia abraça Janaína, que explica: - O almoço está praticamente pronto, só vamos esperar o Bruno, pode ser? Ele foi buscar a Terezinha. - Tá certo ele - comenta Vitor, abraçando Amélia por trás - Estamos todos aqui felizes e apaixonados, é justo que o Bruno esteja com o amor dele também. - Concordo - ajuda Fred. Manu muda de assunto: - Vitor, meu pai teve mesmo coragem de apontar uma arma pra você? - Teve, Manu. - Como ele pôde... - murmura ela, olhando para o chão. Solano a abraça e pergunta a Vitor: - Você acha que o Max fica preso muito tempo?
  • 16. - Se depender de mim, ele vai apodrecer na cadeia - Vitor diz com raiva no olhar, mas logo fica meio desconcertado - Desculpa, Manu, Fred, é o pai de vocês... - Relaxa, Vitor, o velho tá pagando pelo que fez. E a conta dele é alta - afirma Fred. O clima pesado é interrompido pela chegada de Bruno e Terezinha. Janaína chama todos para sentarem-se a mesa. Durante a sobremesa, Manu fica observando Amélia e Vitor, que trocam olhares. Repara também em Terezinha e Bruno, depois volta a olhar para a mãe. Amélia percebe e comenta: - Que foi, Manu? - Tava reparando no brilho dos seus olhos... praticamente igual ao brilho do primeiro amor nos olhos da Terezinha. Você parece uma adolescente apaixonada - explica Manu, sorrindo. - Assim você me deixa sem graça... - devolve Amélia. - Eu concordo, viu? Mas a Amélia é muito mais linda que qualquer adolescente - avisa Vitor. Amélia sorri e acaricia o rosto dele, que continua, olhando para ela: - E eu sou o homem mais apaixonado do mundo. - Não mesmo, sou eu... sou perdidamente apaixonado pela minha morena - retruca Fred, olhando para Jana. - Duvido que alguém ame mais do que eu amo a Manuela - avisa Solano. - Pois eu ganho de vocês todos - anuncia Bruno - a Terezinha é a minha Julieta. - Esse moleque tá esperto... - diz Fred, rindo. Vitor retoma a palavra: - Não importa quem ama mais. O importante é que nós todos aqui encontramos o amor. E descobrimos a verdadeira felicidade. Isso merece um brinde - ele ergue o copo, e todos fazem o mesmo - Ao amor! Todos brindam, e Vitor acrescenta, enlaçando Amélia com o braço: - Mas quero reforçar que eu amo essa mulher com todas as minhas forças. Amélia olha para ele, declarando seu amor com o olhar. Eles vão aproximando os lábios e trocam um beijo carinhoso, sob os aplausos de todos. Um pouco mais tarde, Amélia e Vitor caminham de mãos dadas no centro de Girassol. Quando se aproximam da igreja, ele diz: - Vem, vamos entrar. Entram e são recebidos pelo padre Emílio: - Meus filhos, que bom ver vocês! Ainda mais com essas carinhas tão felizes. Sem soltar a mão de Amélia, Vitor pede: - Padre, eu não sou muito religioso, mas acredito em Deus. Sei que perante a Igreja a Amélia vai continuar casada com o Max, mas queria que o senhor nos abençoasse. Tenho certeza que Deus quer que a gente seja feliz. - Claro... aqui entre nós, as normas religiosas são muito mais criações dos homens do que de Deus. Como posso não abençoar um amor tão verdadeiro como o de vocês? - o padre traça uma cruz diante dos dois, dando a benção - Vocês têm a minha benção. E a de Deus também, com certeza. - Obrigada, padre - agradece Amélia. - Sejam felizes - conclui padre Emilio.
  • 17. Sorrindo, Vitor e Amélia se olham e colam os lábios. Por um momento, esquecem que estão numa igreja e se entregam a um beijo apaixonado. São interrompidos pelo padre: - Mas não abusem, vocês estão na casa de Deus. - Perdão, já estamos saindo - diz Vitor, puxando Amélia pela mão. Ele só pára bem no meio da rua, e olha nos olhos de Amélia: - Eu já disse que te amo hoje? - Umas três vezes - ela responde sorrindo. - Então vou dizer mais umas três: te amo, te amo, te amo... - ele diz enquanto a toma nos braços. - Também te amo, te amo, te amo... - ela devolve sem parar de sorrir, os olhos brilhando. - Não fala mais nada - ele sussurra com os lábios quase juntos aos dela. E ali, no meio da cidade de Girassol, os lábios deles se encontram em mais um beijo. FIM