3. AS DROGAS, OS SUFIS E A ENERGIA
BIOELÉTRICA
Alguns dos modernos estudiosos dos escritos de Nostradamus
alegaram que o vidente devia suas notáveis capacidades de
clarividência ao uso de drogas alucinógenas. Entretanto parece
não haver prova real, nem da mais tênue espécie, sobre a
veracidade dessa afirmação, e talvez seja significativo que alguns
dos escritores que a disseminaram tenham feito outras
declarações a respeito da vida do vidente que são inerentemente
improváveis.
Por exemplo, o autor de um livro recente não apenas declara que
Nostradamus recorria a drogas para potencializar suas
capacidades de clarividência, mas também que, quando o vidente
esteve na Sicília, ele estabeleceu contato com místicos sufis e
que, quando se dedicava a profetizar, costumava sentar-se sobre
um tripé de latão com as pernas "inclinadas no mesmo ângulo das
pirâmides do Egito, para criar uma força bioelétrica igual, que, se
acreditava, aguçaria os poderes psíquicos".
4. Como os historiadores estão convencidos de que todos os
muçulmanos, sufis e outros foram expulsos da Sicília muito antes
do nascimento de Nostradamus, e considerando que os ângulos
das pirâmides só foram medidos adequadamente mais de
trezentos anos após o enterro do vidente, é uma grande pena que
as fontes dessa nova e fascinante informação não tenham sido
dadas ao mundo!
É possível que algumas das estranhas quadras ocultistas
encontradas nas Centúrias forneçam detalhes codificados de
técnicas proféticas antigas, secretas e proibidas, utilizadas por
Nostradamus para ver longe no futuro. Dessas quadras, as mais
fáceis de entender e as mais significativas são as duas primeiras
estrofes da obra: as Quadras 1 e 2 da Centúria I. Nelas,
Nostradamus descreve a si mesmo, em linguagem que podia ser
compreendida por todos que tivessem alguma familiaridade com o
5. misticismo da última época clássica, como alguém que realiza
"obras" relativas à magia branca. Argutamente, ele expressou
suas descrições em termos que teriam bem pouco significado
para o leitor comum. As quadras dizem:
Sentado sozinho à noite em estudo secreto,
Apoiado sobre um tripé de latão,
Uma chama exígua sai da solidão,
Tornando bem-sucedido o que é digno de crença.
O bastão seguro na mão é colocado no meio dos GALHOS (14),
Ele umedece com água seu pé e a bainha da veste,
Medo e uma Voz o fazem estremecer em suas mangas,
Esplendor divino, o divino está próximo.
14. N. da T.: Tanto no original francês como em inglês, a palavra
é BRANCHES.
Ao longo dessas duas quadras, Nostradamus descreveu uma
variante de um ritual mágico divinatório de grande antiguidade,
mas a terceira linha de cada quadra é de enorme significado.
Arranjando essas linhas como o fez, o vidente estava fazendo
duas coisas: primeiro, deixava claro para os estudiosos da
filosofia oculta que ele conhecia os Oráculos Caldeus, uma
coletânea de antigo conhecimento hermético, ao ecoar uma
passagem familiar como "Fogo sem Forma" do qual sai uma
"divina Voz do Fogo", na qual o vilegiaturista entre os deuses
deve prestar atenção. Em segundo lugar, ele insinuou que a
"chama exígua” sobre a qual escreveu era de origem celeste, uma
6. emanação da solidão que, nesse contexto, só poderia significar
"Unidade".
As duas quadras contêm também diversas pistas quanto à
natureza dos rituais divinatórios empregados por Nostradamus.
Um deles é o uso da palavra branches ["galhos"]. Ela foi grafada
em letras maiúsculas na edição original das Centúrias; uma
indicação clara, da espécie repetidamente dada por Nostradamus,
de que a intenção era que ela fosse entendida de mais de uma
maneira ou que estivesse envolvida em algum jogo de palavras
trocadilhesco ou alusivo.
7. Nesse caso em particular, Nostradamus quase certamente usou a
palavra em três sentidos, todos relativos à inspiração profética. O
mais importante foi seu uso como uma palavra que lembra o
nome do semi-deus grego Branchus, filho de ApoIo, o deus Sol.
Segundo a lenda grega, quando jovem, Branchus tinha recebido o
dom da profecia e a capacidade de conceder o mesmo dom a
outros. Em conseqüência disso, ele era o centro de um culto que
floresceu até o triunfo do cristianismo. O culto se concentrava em
revelações sobre o futuro recebidas por meio da mediação de
sacerdotisas inspiradas, e as técnicas empregadas para obtê-las
foram descritas por lamblichus de Chalcis, que morreu por volta
do ano 335: ''A profetisa de Branchus senta-se sobre um pilar ou
segura na mão um bastão que lhe foi confiado por alguma
divindade, ou umedece os pés ou a orla de sua veste com água
[...] e por esses meios [...] ela profetiza. Com essas práticas ela se
adapta ao deus, o qual recebe de fora”.
8. Essa passagem, que descreve um ritual divinatório de umedecer
os pés e a bainha de uma veste, foi claramente mencionada por
Nostradamus na segunda linha da segunda quadra da Centúria I.
Outra passagem do mesmo texto antigo menciona o uso de um
banquinho-tripé de bronze em um ritual de profecia.
A obra da qual se retirou a citação acima foi escrita originalmente
em grego; no século 15 ela foi traduzida para o latim como De
Mysteriis Aegyptorum ("Dos Mistérios do Egito"). É muito provável
que Nostradamus tenha conhecido essa obra bem cedo em sua
vida, pois há razões para acreditar que havia cópias de edições
9. italianas da versão em latim circulando entre os estudantes
franceses de misticismo neoplatônico desde 1500. De qualquer
forma, é certo que De Mysteriis Aegyptorum foi publicada na
França na década de 1540, e pode ser bastante significativo
saber que Nostradamus começou a editar seus almanaques não
muito depois desse acontecimento. Certamente se pode inferir,
dessas duas quadras, que o vidente empregava métodos
semelhantes aos descritos no texto de Iamblichus como um modo
de obter conhecimento acerca do futuro.
10. AS PÍTIAS
Na Grécia antiga, as mulheres que atuavam como oráculos eram
chamadas "pítias" ou "pitonisas", por causa da píton que se dizia
ter sido morta por ApoIo, a quem todos os oráculos eram
consagrados. As pitonisas eram sempre nativas da cidade de
Delfos e, uma vez que ingressavam no serviço do deus, nunca
mais tinham a permissão de deixá-Io, nem tinham a permissão de
casar-se. Nos tempos primitivos, elas eram sempre selecionadas
dentre as jovens da cidade, mas, depois que uma delas foi
seduzida por Eucrates, o Tessálio, o povo de Delfos alterou a lei
de modo que ninguém com menos de 50 anos devesse ser eleito
para a posição de profetiza. Entretanto, o vestido das pitonisas
continuou sendo o de virgens, e não o de matronas.
Quando o oráculo estava em seus dias de prosperidade, havia
sempre três pitonisas prontas para tomar assento sobre o tripé. O
efeito do fumo que subia saindo de sob o tripé era tão grande que
às vezes uma profetiza caía dele em seu delírio profético, entrava
em convulsões ou até morria.
11.
12. Há evidências na quadragésima segunda quadra da Centúria I
que fazem parecer bastante certo que Nostradamus tinha algum
conhecimento tanto dos aspectos mais sombrios das artes ocultas
como das modalidades de divinação que envolviam o uso de
bacias. Essa quadra diz:
O décimo dia das Calendas Góticas de Abril
É ressuscitado por uma raça iníqua,
O fogo é extingüido e a Assembléia Diabólica
Procura os ossos do Demônio de [e] Psellus.
Quando lida em conjunção com a referência de Nostradamus a
um ritual divinatório com envolvimento de água (ver página 257),
essa estrofe indica a natureza de uma das técnicas de magia
branca que eram utilizadas pelo vidente de Salon para
complementar suas capacidades de clarividência e sua
competência astrológica.
Essa técnica foi descrita pelo filósofo neoplatônico Psellus assim:
"Existe um tipo de poder profético no uso da bacia, conhecido e
13. praticado pelos assírios [...] Os que vão profetizar tomam uma
bacia de água, que atrai os espíritos das profundezas. A bacia
parece então respirar como se fosse com sons [...] A água da
bacia [...] sobressai [...] por causa de um poder conferido a ela por
encantamentos que a tornaram capaz de ser imbuída das
energias dos espíritos da profecia [...] uma voz fina começa a
articular predições. Um espírito dessa espécie viaja por onde quer
e sempre fala em voz baixa”.
Parece claro e acima de qualquer dúvida que era essa passagem
de Psellus a que Nostradamus se referiu quando fez alusões a um
ritual divinatório com envolvimento de água.
À luz disso, estamos agora em posição de compreender a Quadra
42 da Centúria I, que, quando examinada em conjunto com as
Quadras 1 e 2 da Centúria I, é a mais importante das estrofes de
Nostradamus em relação à sua vida e ao seu provável
envolvimento com divinação ritual e outras variedades da magia
branca.
Em uma Sexta-Feira Santa - nas palavras de Psellus, "o tempo
em que comemoramos a Paixão redentora de Nosso Senhor" e,
segundo ele, o festival eclesiástico anual no qual feiticeiros
'messalinos' (ver quadro na página 263) costumavam promover
uma orgia incestuosa que era um prelúdio a assassinato e caniba-
lismo -, Nostradamus começou a fazer sério uso de uma
modalidade de divinação ritualística na qual era empregada uma
tigela de água. Parece provável que sua técnica tivesse uma
semelhança geral com a que foi descrita, de uma maneira que
parece ligeiramente desordenada, por Psellus, embora não haja
necessidade de acreditar que a água de fato falasse com ele com
uma "voz fina”. Entretanto, nas palavras do falecido James Laver,
que escreveu sobre Psellus em 1942, embora haja "algo
14. ligeiramente cômico na idéia de uma bacia de água compondo
versos [...] parece que estamos na trilha de uma modalidade de
divinação que se aproxima dos métodos de Nostradamus (de
predição do futuro), muito conhecida na antigüidade e [...] ainda
praticada entre pessoas primitivas. Diz-se que os faquires da índia
são capazes de fazer a água ferver e borbulhar sob seu olhar.
Não é simplesmente uma técnica de entrar em transe?
15.
16. Na opinião deste escritor, o uso de uma tigela de água pode ser
(embora nem sempre seja) algo mais do que "simplesmente uma
técnica de entrar em transe". Entretanto, de fato, parece provável
que Nostradamus tenha usado uma tigela de água como foco,
quando desejou induzir o tipo de dissociação da consciência que
é uma preliminar essencial do autêntico scrying (ver páginas
281-4). Em outras palavras, Nostradamus procurava o "demônio
de Psellus".
17. Entre as primeiras coisas discernidas por ele em sua visualização
da Sexta-Feira Santa, estava uma "Assembléia Diabólica”
dedicada a um ritual de magia negra, que pode ter ocorrido em
qualquer lugar e quase em qualquer tempo. Essa cerimônia
blasfema pareceu a Nostradamus uma reencenação da conduzida
por aquela "raça iníqua" de supostos messalinos.
ORGIAS ASSASSINAS
A conexão que Nostradamus discerniu entre sua visão de um
ritual de magia negra conduzida por uma "Assembléia Diabólica” e
a magia negra descrita pelo escritor Psellus se baseou em um
relato dado por este último sobre um ritual herético realizado por
pessoas que ele chamou de "messalinos": "Na noite [...] na época
em que comemoramos a Paixão redentora de Nosso Senhor, eles
juntam meninas jovens que iniciaram em seus ritos. Então
apagam as velas [...] e se atiram lascivamente sobre as meninas
[...] cada um sobre qualquer uma que lhe caia às mãos [...] Eles
acreditam estar fazendo algo muito agradável aos demônios, aos
transgredirem as leis de Deus que proíbem o incesto. [...] Após
esperar nove meses, quando chega o tempo de nascerem os
frutos desnaturais das uniões desnaturais, eles se reúnem
novamente [...] No terceiro dia após o nascimento, eles [...] cortam
a carne tenra [dos bebês] com facas afiadas e coletam o sangue
que salta em tigelas. Atiram os pequeninos [...] em uma fogueira e
queimam os corpos até que virem cinzas. Depois disso, misturam
essas cinzas com o sangue nas tigelas e dessa maneira fazem
uma bebida abominável [...] Eles partilham desse alimento".
Não se sabe ao certo se um rito assim era de fato celebrado na
época em que Psellus escreveu sua descrição. Certamente,
18. porém, se era celebrado em alguma parte do Império Bizantino
em alguma época durante a vida de Michael Psellus, então não
era celebrado por messalinos, pois essa seita já estava extinta
havia muito tempo. Isso não significa que nunca ocorreram orgias
assassinas dessa espécie; existem alguma semelhança entre o
ritual descrito por Psellus e relatos bem-autenticados de
cerimônias sinistras realizadas pelos iniciados de cultos tântricos
necrófilos não-ortodoxos.
19. Embora a maior parte das predições às quais Nostradamus
associou datas específicas tenha se verificado ao longo da
história, não se pode dizer isso de todas elas. O vidente de Salon
fez alguns notáveis erros proféticos, assim como muitos acenos.
Por exemplo, na Quadra 49 da Centúria I, ele fez uma predição
especificamente relativa ao ano de 1700:
Longo tempo antes desses eventos,
Os povos do Leste, por influência lunar,
No ano 1700 farão que muitos sejam levados embora,
E quase irão subjugar a extremidade [área] norte.
Os acontecimentos mencionados na primeira linha dessa quadra
obviamente são os descritos na estrofe precedente, a Quadra 48,
que parece referir-se a um ciclo de tempo a se iniciar por volta do
ano de 1700. Mas o que dizer das três linhas restantes da quadra,
com a data exata para "que muitos sejam levados embora”?
20. Ocorre que não há sinal de nenhum acontecimento, no ano de
1700 ou próximo a ele, que realmente se encaixe nessa predição
- embora alguns sectários de Nostradamus, ansiosos para
encontrar o acontecimento certo para encaixar na profecia,
tenham tentado aplicar-lhe coisas como a ocupação da Islândia
pelas forças de Carlos XII da Suécia e uma campanha no norte da
índia promovida por um dos comandantes dos exércitos do
"Grande Mugal", o imperador Aurungzeb. Entretanto, estudiosos
mais sensatos de Nostradamus - isto é, aqueles cujo entusiasmo
21. e credulidade não são desmedidos - admitem que nesse exemplo
em particular o vidente tenha se enganado.
Existe prova de que todas as capacidades mediúnicas de uma
pessoa - sejam essas capacidades inatas ou adquiridas com o
uso de treinamento e disciplina nos arcanos - estão sujeitas a
oscilações periódicas. É como se aqueles que poderiam ser
chamados de "atletas médiuns" pudessem, como seus
equivalentes do atletismo físico, ficar completamente fora de
forma sem nenhuma razão que se perceba facilmente. Assim, por
exemplo, médiuns que tendo, no passado, produzido fenômenos
espantosos se tornariam tão debilitados psiquicamente que
perderiam suas capacidades autênticas e recorreriam a truques
infantis que não enganariam uma pessoa dotada dos poderes de
observação mais elementares.
Não há razão para acreditar que Nostradamus fosse imune à
tendência que assola médiuns menores de ter seus dias ruins, em
que a energia psíquica é baixa e a visão clarividente fica
distorcida ou, muito pior, inteiramente ausente e substituída pela
auto-ilusão.
É perfeitamente possível, portanto, que quando Nostradamus fez
sua predição, aparentemente bem errada, de que o ano de 1700
seria marcado por algum acontecimento notável, suas
capacidades mediúnicas estivessem em um ponto baixo de sua
oscilação cíclica. Se é assim, parece surpreendente que, por um
lado, essa predição tenha sido tão específica quanto à data e que,
por outro, um clarividente tão experiente como Nostradamus não
tenha percebido que suas capacidades estivessem tão diminuídas
que essa profecia deveria ser suprimida por ser duvidosa.
22. Talvez uma sugestão mais plausível seja a de que, na época em
que essa predição foi feita, Nostradamus não estivesse - como
talvez em muitas outras ocasiões - olhando o futuro de sua
própria realidade, e sim o de uma realidade alternativa (ver
páginas 245-8) na qual algum importante acontecimento mundial
aconteceu no ano de 1700.
23.
24. KENNEDY E O XÁ
Nostradamus foi apenas um de muitos médiuns que tiveram uma
série notável de acertos de previsão, mas que também fizeram
prognósticos que o tempo mostrou serem parcial ou totalmente
incorretos. Tome-se, por exemplo, as profecias feitas por Jeane
Dixon, a mais conhecida de todos os videntes que praticaram sua
arte na América do século 20.
Algumas das profecias dela foram verdadeiramente notáveis.
Predisse o assassinato do presidente Kennedy, ocorrido em 1963,
já em 1956, quando a revista Parade publicou uma entrevista na
qual ela descreveu uma visão que tivera cerca de quatro anos
antes: "Uma voz saiu do nada, contando-me de maneira suave
que esse homem jovem, um democrata que será eleito presidente
em 1960, seria assassinado enquanto estivesse no cargo".
No início dos anos 1970, ela predisse corretamente que o xá do
Irã seria destronado por uma revolta popular. Até aí, tudo bem;
mas ela previu que isso se daria em 1977, dois anos antes de
realmente ter ocorrido. Além disso, ela declarou que, depois de
viver em um exílio retirado, o xá novamente "caminharia sob os
holofotes do mundo". Na realidade, ele morreu de câncer no
exílio.
As previsões iranianas de Jeane Dixon estavam ao menos
parcialmente corretas; as que fez nos anos 1970 em relação à
Grã-Bretanha estavam totalmente erradas. Por exemplo, ela disse
que o trabalhista Eric Varley, membro do Parlamento, "saltaria
para a luz dos holofotes"; ele está quase esquecido. Ela também
apontou sir Geoffrey Howe como o primeiro-ministro do Partido
25. Conservador que viria a seguir. Ele nunca assumiu esse cargo.
Além disso, é lembrado principalmente pelo discurso que fez ao
renunciar ao cargo de secretário do Exterior.
26. Outra explicação de como Nostradamus foi capaz de obter
vislumbres do
futuro - e talvez a mais interessante delas - se relaciona com a
existência de realidades alternativas, como foi explicado nas
páginas 245-8. Foram alguns escritores de ficção científica que
primeiro expressaram de uma forma fácil de ser entendida a idéia
de que vivemos em apenas uma dentre diversas realidades e de
que só temos noção da existência dessa realidade em que
vivemos. Essa idéia não se torna nem um pouco menos crível por
isso, pois vale a pena lembrar que os primeiros escritores de
ficção científica produziram histórias relacionadas com a
exploração da energia nuclear em uma época em que quase
todos os físicos estavam convencidos de que tal coisa
simplesmente não era possível.
O conceito todo de realidades alternativas, cada ramificação de
uma outra linha do tempo ocorrendo em conseqüência de alguma
decisão aparentemente insignificante - e às vezes destruindo a
realidade original no processo de ramificação -, vem sendo o
conceito favorito dos escritores de ficção científica e de histórias
27. fantásticas desde os anos 1930. Um exemplo de destruição assim
acontece em Bring the Jubilee (1976). O autor dessa obra, Ward
Moore, descreve um viajante do tempo que é um historiador,
vindo do futuro de um mundo em que a Confederação (15)
venceu a Guerra Civil dos Estados Unidos, que viaja ao passado
e visita a cena de uma das mais significativas vitórias dos
confederados. Suas atividades no local são erroneamente
interpretadas, por um guarda avançado das forças sulistas, como
indicação da presença de tropas da União. As tropas
confederadas recuam em pânico.
15. N. da T.: A aliança dos onze estados do Sul ("confederados")
que quiseram se separar dos estados do Norte ("unionistas" ou
"yankees"), mas que foram derrotados na Guerra Civil dos
Estados Unidos.
28. Isso faz com que o triunfo sulista que o viajante do tempo veio
assistir se transforme em uma derrota sulista. A Confederação
perde a guerra, e o futuro do qual o viajante veio se desvanece
em um instante! Ele se vê apanhado em um mundo alternativo
totalmente estranho - o nosso, aquele em que o Norte venceu a
Guerra Civil.
29. Idéias iguais a essas receberam também expressão literária em
The Man in the High Castle ["O homem do castelo alto"], de 1962,
do falecido Philip K. Dick, que se passa em uma realidade
alternativa na qual a decisão que fez com que brotasse aquele
determinado raminho da árvore do tempo fora uma decisão cole-
tiva, e não individual - a dos votantes na eleição americana de
novembro de 1931, que resolveram eleger para presidente outro
que não Franklin Delano Roosevelt. Isso resultou na criação de
uma linha do tempo na qual a Alemanha e o Japão vencem a
Segunda Guerra Mundial e os Estados Unidos, no início dos anos
1960, se encontram divididos em três entidades políticas
separadas: os Estados da União do Leste, sob brutal dominação
nazista; a área ocidental, praticamente uma colônia do Japão, que
adotou um tratamento muito mais benevolente para seus súditos
americanos do que os nazistas em seu domínio; e, finalmente,
tudo o que resta dos Estados Unidos, país que já tinha sido tão
poderoso, são os estados economicamente atrasados da
montanhosa área central.
30. Existem muitas complexidades no enredo desse livro. Por exem-
plo, o personagem central, o homem do castelo alto - que é um
retiro fortificado em que o homem se refugiou das gangues
assassinas nazistas -, está de alguma maneira em contato
subliminar com uma realidade alternativa, ou linha do tempo
alternativa, na qual o Japão e a Alemanha perderam a guerra.
31. Entretanto, não é do nosso mundo que ele tem conhecimento - a
outra realidade que ele percebe é ainda um outro ramo da árvore
do tempo, no qual nenhum navio da Marinha americana sofreu
dano algum em conseqüência do ataque japonês a Pearl Harbor
porque tinham sido todos mandados para o mar por um
presidente americano sensato e cauteloso.
Outros romances de realidade alternativa que vale a pena ler,
nesse mesmo contexto, são Pavane (1968), de Keith Roberts, e
The Alteration (1976), de Kingsley Amis. Ambos se passam em
um mundo alternativo no qual a Reforma protestante do século 16
foi esmagada e uma Igreja Católica triunfalista domina todos os
aspectos da vida e da cultura européia. O livro de Amis, que
apresenta Foot e Redgrave, dois caçadores de heresias
notavelmente desagradáveis, é engraçado e fácil de ler, mas
Pavane, ambientado em uma Dorset alternativa, em uma
Inglaterra onde a rainha Elizabeth I foi assassinada em 1588,
certamente é o mais original desses dois livros.
32.
33. O mago sempre foi capaz de ver além do reinos das coisas
físicas. Sua visão do mundo admite que pela penetração em
outros mundos, planos ou realidades, ele é capaz de ocasionar
surpreendentes mudanças no plano físico - "surpreendentes"
porque, sem um conhecimento das elaboradas e serpenteantes
conexões entre realidades diferentes, os efeitos causados pelo
mago são tão surpreendentes quanto o funcionamento do rádio
seria para um caçador da Idade da Pedra. A teoria de como um
rádio funciona é bem compreendida hoje, mas mesmo assim
ninguém pode mostrar as ondas de rádio indo pelo ar, levando o
som. Da mesma forma ocorre com a magia; a menos que seja
compreendida a teoria de outras realidades tais como o plano
astral, fica determinado que os efeitos da magia não podem ser
compreendidos.
Os magos sempre foram dados a explicar o universo em termos
de cosmologias complexas, e de fato empregam freqüentemente
a árvore como metáfora. Um exemplo tradicional disso é a
utilização da árvore da vida, que foi feita durante mais de mil anos
34. por cabalistas judeus e, mais tarde, por gerações de magos
europeus que se apropriaram desse diagrama complexo para tê-
Io como seu guia do universo.
A imagem da árvore da vida reproduz a idéia do tempo como uma
árvore de infinitas ramificações. Cada galho e ramo contém uma
realidade que é diferente, ainda que talvez só ligeiramente, da de
seu vizinho. Essa visão de realidades alternativas pode explicar o
não-cumprimento da profecia feita pelo vidente Cheiro, que falou
de uma guerra na Palestina na qual estariam diretamente
envolvidas tropas russas; ela pode ter acontecido em uma
realidade alternativa, embora não tenha ocorrido na nossa.
Fantástico? Talvez, mas a hipótese de realidades alternativas
explicaria também algumas variedades de fenômenos mediúnicos
que vêm desconcertando pesquisadores há mais de um século.
35. Os fenômenos mediúnicos em questão são aqueles associados
com os acertos, mas não com acertos totais, das premonições,
dos sonhos precognitivos e das visões do futuro, que são e foram
relatados como experiências tidas às vezes por pessoas bastante
comuns - homens e mulheres que não alegam possuir vidência
nem capacidades supranormais de nenhum tipo.
Por comparação, a ciência moderna está se afastando dos sólidos
blocos constituintes da matéria, os elementos, e se aproximando
de um universo em que a força (energia) e a forma (matéria) se
36. convertem uma na outra. Stephen Hawking, no seu clássico livro
Uma Breve História do Tempo, leva o leitor moderno por vários
estágios do pensamento científico moderno, desde o filósofo
grego Aristóteles, passando por Newton e Einstein, até as últimas
teorias de espaço e tempo. A cada ponto da evolução do
pensamento científico, mais "certeza" aparente é jogada fora.
Ptolomeu, por exemplo, estava certo de que a Terra era o centro
do universo e de que tanto o Sol como os planetas giravam em
torno dela. Em 1514, Nicolau Copérnico observou a forma
mutante da Lua e teorizou que, ao contrário, os planetas é que
giravam em torno do Sol, embora isso não tenha sido reconhecido
amplamente até que Galileu Galilei usou um telescópio para
confirmar o fato em 1609, quase um século mais tarde. A Terra
tinha finalmente saído do centro do universo para se tornar
apenas um outro planeta.
Em 1687, Newton publicou seus achados que definiam a
gravidade - uma força invisível, não-mensurável diretamente, que
parecia fazer com que todos os corpos do universo fossem
atraídos por todos os outros corpos, como que por magia! O
homem se tornou menos importante, e até mesmo a Terra se
tornou dependente (de todos os outros corpos no universo).
Levou quase 130 anos para que alguém começasse a pensar a
respeito da relação entre a gravidade e a luz. Mesmo essa
certeza, a luz, pode agora ser "curvada” pela gravidade.
No século 20, Einstein estendeu a ciência ainda mais, para
abraçar o conceito de que matéria e energia podem ser
intercambiáveis, atingindo finalmente o ponto de vista do mago,
de que o universo é gerado do jogo entre força e forma. Ainda
parecia que o tempo era "eterno", mas então Hawking revelou que
"a teoria da relatividade pôs um fim à idéia de tempo absoluto! [...]
37. Cada observador deve ter sua própria medida do tempo,
registrado por um relógio carregado consigo, e relógios idênticos
carregados por observadores diferentes não coincidem
obrigatoriamente". Se observadores diferentes têm tempos
diferentes por causa de seus pontos de vista diferentes, um ponto
de vista realmente diferente poderia fazer com que você
observasse um tempo que está décadas ou séculos diferente
(distante) do nosso. Nostradamus tinha encontrado o segredo
desse ponto de observação diferente.
Hawking gradualmente descarta, uma a uma, cada teoria
científica desenhada para explicar as deficiências da anterior, até
38. que a explicação científica do universo fica parecendo muito mais
mística do que a mais complexa cosmologia mágica, e o tempo
parece tão mutável quanto qualquer outra coisa no universo. Nós,
definitivamente, não estamos viajando ao longo de um simples rio
do tempo - estamos vivendo em algo infinitamente mais
complexo.
A ÁRVORE DA VIDA
A árvore da vida é um diagrama místico do universo de grande
antiguidade, muito mais velho que o diagrama das órbitas dos
planetas em torno do Sol. É também um mapa da conformação
mística do homem, porque se supõe que a "anatomia” mística do
universo e a do homem sejam iguais.
A árvore da vida consiste em dez Círculos ou Esferas (Sefirot)
que são interconectados por 22 Caminhos (marcados com as 22
letras do alfabeto hebraico). Cada uma das Esferas está
simbolicamente (mas não fisicamente) associada ou a um dos
planetas, ou ao Solou à Lua. Acredita-se que esse total de 32
elementos - Esferas e Caminhos - esteja duplicado ao longo de
quatro "Mundos" de graus variados de solidez, compondo um total
de 128 Caminhos e Esferas.
De todas essas diferentes Esferas, somente uma corresponde ao
mundo físico ao redor de nós, tal como o conhecemos. O resto do
diagrama permite ao cabalista ou mago descrever as partes
secretas e místicas do universo: a fonte dos sonhos, a casa do
tesouro das imagens arquetípicas da mente subconsciente, o
território dos anjos e dos demônios e um milhão de outras coisas
das quais a nossa consciência do século 20 nos separou, mas
que entretanto são reais.
39. Essas profundidades de descrição e delineação tratam de
preocupações muito mais amplas do que simplesmente a luz, a
gravidade e a relatividade, embora, sem dúvida, os mundos do
cosmologista e do mago não passem de metáforas para a
terrificante realidade do próprio universo - uma realidade que
compreendemos aproximadamente tão bem quanto um bebê
recém-nascido é capaz de entender o conteúdo de um conjunto
de enciclopédias.
O problema com que somos confrontados ao lidar com
Nostradamus e com as Centúrias é que simplesmente não temos
uma perspectiva suficientemente ampla acerca de suas
predições. Só podemos ver uma janela da história desde antes do
tempo dele até o dia de hoje, enquanto ele era capaz de percorrer
os vários ramos tomados pelos acontecimentos, para a frente e
para trás. Na Quadra 2 da Centúria 1, ele fala de "au milieu des
40. BRANCHES” (16), uma referência às profetisas de Branchus (ver
páginas 257-9) e também aos ramificados caminhos do destino
sobre os quais escreveu o escritor argentino Jorge Luis Borges.
Existe uma implicação, nessa quadra, de que os acontecimentos
da história não são uma longa linha contínua, um conceito caro ao
coração do historiador moderno, mas, sim, um sutil entrelaçamen-
to de eventos e pessoas que pode permitir que o viajante do
tempo apareça em lugares e tempos muito díspares e veja
acontecimentos que estão separados por muitas décadas ou
séculos como parecendo estar quase lado a lado.
41. 16. N. da T.: No meio dos GALHOS (veja Quadras 1 e 2 da
Centúria 1, p. 257).
Essa abordagem da obra de Nostradamus ajuda a explicar por
que suas quadras aparentemente pulam para trás ou para a frente
no tempo sem nenhum padrão evidente. Talvez o vidente
simplesmente tenha escrito sobre o que viu na ordem em que viu,
e essa ordem seja de fato um reflexo da maneira como o passado
e o presente se entrelaçam, e não uma engenhosa "venda”
inserida deliberadamente para tornar mais difícil a tarefa de
decifração. Na verdade, pode ser que tenha sido impossível para
Nostradamus desembaraçar as meadas do tempo sem a
vantagem da abrangência de visão que nos foi parcialmente
concedida. Talvez tenhamos aqui não um obscurantismo
proposital, mas uma verdadeira chave para a estrutura dos
"ramos do tempo".
42. Um leque, o símbolo dos caminhos ramificados da escolha e do
destino
Finalmente, em muitas teorias do tempo ou mesmo na realização
comum de desejos, é reconhecido que, se à ação anterior tivesse
sido diferente, o curso dos acontecimentos provocados também
teria sido muito diferente. De fato, uma vez que se tomou um
desvio diferente no jardim de caminhos ramificados, o curso dos
acontecimentos nunca poderá retomar ao caminho antigo. O
tempo, os acontecimentos e as pessoas envolvidas desviaram
para uma direção diferente.
A cada grande (ou mesmo pequeno) ponto de decisão na vida de
uma pessoa, existe um certo número de escolhas, e cada decisão
leva você por um certo galho de cada leque de opções. Nosso
destino é como uma sucessão de decisões no formato de leque,
ou como um jardim de caminhos ramificados. Talvez a verdadeira
natureza de nosso destino coletivo, a história, também tenha o
formato de um leque - e, nesse caso, não surpreende que apenas
alguns videntes, como Nostradamus, encontraram seu caminho
através desse jardim de caminhos ramificados, séculos antes que
as decisões que mapearam essa rota tivessem sido tomadas.
Talvez isso explique por que algumas quadras não se encaixam
muito bem - elas seriam visões de uma realidade alternativa no
fim de um caminho que afinal não foi tomado.
Isso parece nos fornecer algumas conclusões sólidas. A primeira
é que o tempo não é linear, mas se ramifica infinitamente,
dividindo-se constantemente tal como uma árvore viva e em
crescimento. A segunda é que alguns profetas, por meio de um
"talento bruto" ou de um conhecimento de certas técnicas
tradicionais, podem adotar um ponto de vista que lhes permite ver
43. realidades alternativas. A terceira é que essas realidades
alternativas podem muito bem estar "à frente" de nossa própria
realidade, portanto o profeta pode ver o que para nós é um
acontecimento futuro, mas que para aquela realidade é o
presente. A quarta é que nós temos livre arbítrio para tomar
decisões que podem alterar o fluxo e que algumas realidades
alternativas vislumbradas por profetas muito talentosos nunca
acontecerão na nossa realidade.
As páginas a seguir examinam de perto certas técnicas de
profecia que você, leitor, pode experimentar por si mesmo.
45. O escritor, poeta e erudito argentino Jorge Luis Borges
(1899-1986) escreveu muitas aparentes ficções sobre a relação
do tempo com o espaço e sobre como os acontecimentos se
relacionam uns com os outros. Em seu livro O Aleph ele descreve
uma visão que foi trazida por sua concentração sobre um único
ponto luminoso que age à maneira de uma bola de cristal
chamado por ele de "o Aleph". Era "uma pequena esfera
iridescente de brilho quase intolerável. A princípio, pensei que ela
girava; depois entendi que seu movimento era uma ilusão
provocada pelas visões vertiginosas que ela continha”. Olhando
para ela, Borges pôde ver outros tempos, outros espaços e
infinitos objetos - um mar muito carregado, um ladrilho que ele
vira trinta anos antes na entrada de uma casa, cavalos em uma
praia do Mar Cáspio e desertos equatoriais convexos e cada grão
de areia deles.
46.
47. Não há razão para que Nostradamus, Cheiro e um punhado de
outros videntes devam ser os únicos com a capacidade de
percorrer a árvore do tempo; as técnicas utilizadas para espiar o
futuro pessoal ou coletivo não constituem propriedade de algumas
pessoas dotadas.
Oráculos costumavam fazer parte da vida religiosa comum na
antiga Grécia; o culto de ApoIo incluía a criação e a manutenção
de locais de profecia, por meio dos quais os deuses podiam se
comunicar com a humanidade. A prática em Delfos era que a
profetiza se sentasse sobre um tripé de latão colocado sobre um
respiradouro no chão de uma caverna, do qual emanavam
vapores narcóticos. Isso faz um paralelo muito próximo com a
descrição do método do próprio Nostradamus, encontrada na
Quadra 1 da Centúria I (ver páginas 257-60).
Não podemos repetir esses métodos com facilidade, mas
podemos encontrar, menos de um século após o tempo de
Nostradamus, um método de divinação que podemos utilizar. Na
época elizabetana, o dr. John Dee, matemático e conselheiro da
48. corte da rainha Elizabeth I, queria ver o futuro, não pela consulta
aos oráculos profissionais, mas por scrying - o ter visões através
de um cristal ou "vidro". Dee foi ainda além em seus esforços para
obter conhecimento divino: ele tentou conversar com os anjos
através do cristal. Suas técnicas, se não os seus anjos, ainda
estão disponíveis para nós.
A técnica do scrying exige apenas um aposento silencioso e
escurecido e uma superfície não-refletora sobre a qual é
49. depositado o cristal, algumas vezes numa moldura de madeira
escura; o berilo é uma pedra apropriada para esse uso. Após uma
preparação adequada, para limpar a mente de pensamentos que
distraem, o vidente olha dentro da pedra, que normalmente é um
volume esférico de cristal natural polido - geralmente uma
variedade de quartzo. Não deve haver nenhum reflexo sobre a
superfície do cristal que possa perturbar a visão.
O objetivo de olhar atentamente para a pedra é entediar, por
assim dizer, a parte da mente que se relaciona com a consciência
cotidiana, de forma que ela seja desligada e que a visão fique livre
para explorar outros tempos ou lugares ou, algumas vezes, outros
planos. O vidente pode ter sorte dentro de alguns minutos ou
pode ter que esperar várias horas, dependendo das condições e
da aptidão natural. Quando você estiver experimentando essa
técnica, tente não olhar para a superfície da pedra, mas para
dentro dela, mais ou menos no centro. Quando os processos
perceptivos ultra-sensórios estiverem totalmente em operação, o
contemplador do cristal "vê", como se fosse através de um sentido
medi único análogo ao da visão física, coisas distantes no tempo
e/ou no espaço. No caso de certas formas avançadas de
contemplação de cristais que envolvem experiências conhecidas
como extracorpóreas, o escrutinador tem de fato a sensação de
ter estado fisicamente presente à cena da visão (ver páginas
301-5).
A técnica de scrying é freqüentemente considerada uma técnica
de dissociação eficaz por aqueles que desejam olhar o futuro e
colocar em ação suas capacidades medi únicas. Somente uma
minoria dos praticantes empregam bolas de cristal verdadeiro,
pois elas tendem a ser muito caras, e uma imitação feita de vidro
moldado é mais fácil de se conseguir, pois é muito mais barata e
50. normalmente produz resultados igualmente satisfatórios ou
insatisfatórios. Na verdade, quase qualquer coisa pode servir
como um foco assim - um copo de água, uma poça de tinta ou
uma pedra semi-transparente.
O fato de que algumas visões corretas foram obtidas no passado
por esse método não pode ser objeto de dúvida para uma pessoa
que considere desapaixonadamente as provas. Alguns leitores de
bola de cristal possuem um "talento bruto" que às vezes é inato e
às vezes é deliberadamente cultivado pelo uso dos exercícios
mediúnicos que são descritos nas páginas 301-5.
51.
52. A QUEDA DE UMA RAINHA
Um praticante de scrying da época elizabetana previu
corretamente a execução de Mary, Rainha da Escócia, e a partida
da armada espanhola com base em visões obtidas em um pedaço
duro e polido de "repolho de carvão" - que no contexto do século
16 provavelmente significa "antracito" ou "azeviche".
O vidente em questão, Edward Kelley (1555-1595), foi uma
dessas pessoas talentosas mas amorais, uma combinação de
vidente autêntico e pequeno criminoso. O dr. John Dee empregou
Kelley para ler o cristal em suas experiências com "revelações
angélicas". A visão que à época foi interpretada como um
prognóstico da execução de Mary e uma tentativa de invasão da
Inglaterra por mar foi registrada nos diários de Dee em 5 de maio
de 1583. Por meio da mediunidade de Kelley, Dee invocou "o anjo
Uriel": "Com relação à visão que foi apresentada ontem aos olhos
de E[dward] K[elley] quando ele se sentava comigo para a ceia
em meu salão - quero dizer, a aparição do mar muito grande e
muitos navios nele e a decepação da cabeça de uma mulher por
um homem alto e negro, o que devemos imaginar disso?" Uriel
respondeu: "Providência de poderes estrangeiros contra o bem-
estar desta terra: que eles devem pôr em prática brevemente. A
outra, a morte da rainha dos escoceses: não falta muito para ela".
E assim aconteceu. Em 1587, Mary, Rainha da Escócia, foi
executada por traição, e no ano seguinte a armada espanhola
avançou contra a Inglaterra. Dee já havia informado Elizabeth I de
sua profecia, e Drake tivera tempo mais do que suficiente para se
preparar; a profecia de Kelley pode ter mudado a história.
53.
54. Não existem registros de instruções precisas para o uso de
métodos clássicos de profecia oracular, tais como os que eram
empregados por Nostradamus, e o scrying requer uma certa
quantidade de capacidade natural. Entretanto, existem alguns
métodos de divinação que podem permitir, com um pouco de
aplicação, que qualquer pessoa explore a árvore do tempo e veja
o futuro. Um desses métodos divinatórios, o tradicional tarô
europeu, é examinado em detalhe nas páginas 293-6, e mesmo
sortes e livros oraculares mais antigos são comentados nas
páginas 226-9.
Para conhecer um dos mais confiáveis de todos os métodos de se
obterem respostas para questões específicas, temos que
considerar o I Ching ou "Livro das Mutações", o mais antigo e
conhecido livro de oráculo do mundo. Esse clássico texto chinês é
atribuído ao rei Wen e a seu filho, o Duque de Chou, que, no
século 12 a.C. organizou o livro "para libertar o administrador
sensato da dependência de instáveis tipos sacerdotais para
55. interpretar o oráculo", uma indicação clara de que esse oráculo é
para uso cotidiano.
A técnica envolve a geração de um ou dois hexagramas, entre 64
hexagramas diferentes, cada um formado por sua combinação
única de seis linhas inteiras ou quebradas, chamadas de linhas
Yang (inteiras e masculinas) ou Yin (quebradas e femininas).
Segue-se a consulta ao texto. Além disso, devem ser consultados
os numerosos comentários que o I Ching faz sobre os
hexagramas. O hexagrama é obtido ou pela manipulação de
cinqüenta varinhas de milefólio especiais ou, mais recentemente,
pelo lançamento de moedas, que pelo padrão mostrado, após
caírem, vaticinarão corretamente as condições do momento e, a
partir daí, o resultado da pergunta que está sendo feita.
Para executar a divinação, primeiro aquiete a mente e queime
talvez um pouco de incenso para invocar a disposição correta.
Formule então a questão da maneira o menos ambígua e o mais
cuidadosa possível. Escreva-a. Pegue três moedas (idealmente,
mas não necessariamente, moedas chinesas) com buracos no
centro. Cada lado delas representa Yang (geralmente, cara) ou
Yin (geralmente, coroa). As moedas devem ser lançadas ao ar
seis vezes, indicando em cada lançamento o tipo de linha. Se
caírem com dois lados Yang (cara) e um lado Yin (coroa), a linha
indicada é Yang. Da mesma forma, se aparecerem dois Yin e um
Yang, a linha é Yin. Se todas as três moedas mostrarem o lado
Yang, a linha é considerada uma linha Yang "móvel" - isto é,
Yang, mas com tendência de se converter em Yin no futuro. Três
lados Yin dão uma linha Yin "móvel".
56.
57. Tomemos uma questão e uma resposta como exemplo para
ilustrar a técnica. Suponhamos que a questão seja "Qual será o
resultado, para mim, nesse processo judicial?" As três moedas
são então lançadas seis vezes, dando as seguintes linhas:
1ª.) 2 lados Yang + 1 Yin = YANG
2ª.) 1 lado Yang + 2 Yin = YIN
3ª.) 3 lados Yang = YANG móvel
4ª.) 1 lado Yang + 2 Yin = YIN
5ª.) 1 lado Yang + 2 Yin = YIN
6ª.) 2 lados }Yang + 1 Yin = YANG
58.
59. Depois de ter construído o hexagrama com as seis linhas desse
modo, você precisa consultar seu sentido no I Ching, que dará
uma interpretação do resultado da questão. Nesse caso, o
hexagrama é o de número 21, chamado Shi Ho, cujo texto diz:
"Sucesso em procedimentos legais. Você não deve ser culpado
pelo problema atual. Separação".
Essa é uma resposta bem direta para a questão, mas sua
interpretação pode ser levada um passo além, tomando-se a
chamada "linha móvel" e substituindo-a pela linha oposta, nesse
caso, de Yang para Yin. O hexagrama resultante é o de número
27, chamado Shi Ho, cujo texto é: "O esforço consistente traz
sucesso". Isso confirma a leitura.
A prática faz a perfeição, e o uso do I Ching de maneira periódica
leva a uma maior facilidade. Embora o método não seja muito
bom para datar suas predições, ele algumas vezes oferece
conselho nas situações apropriadas. Se alguém apenas mergulha
no texto, ele dirá coisas quase tão obscuras quanto as quadras de
Nostradamus, mas quando usado adequadamente o texto em
particular escolhido pelo oráculo será freqüentemente claro e
pertinente à questão formulada.