As ruínas da antiga Quinta da Alagoa, em Carcavelos, são o que resta de uma das mais antigas memórias de Cascais. A sua história rocambolesca e triste, marca de forma indelével o ataque cerrado de que tem sido vítima o património cultural municipal, num verdadeiro atentado contra a Identidade de Cascais. Em época de festas e foguetório eleitoral, vale a pena pensar... sobre as memórias de Cascais em ruínas.
2. A Quinta da Alagoa
Memórias de Cascais
em Ruínas
por João Aníbal Henriques
As ruínas da antiga Quinta da
Alagoa, em Carcavelos, são o
que resta de uma das mais
antigas memórias de Cascais. A
sua história rocambolesca e
triste, marca de forma indelével
o ataque cerrado de que tem
sido vítima o património
cultural municipal, num
verdadeiro atentado contra a
Identidade de Cascais. Em
época de festas e foguetório
eleitoral, vale a pena pensar...
sobre as memórias de Cascais
em ruínas.
3. A Quinta da Alagoa
Edificada dentro do parque municipal a que dá nome, a Quinta da
Alagoa situa-se muito perto do centro da povoação de Carcavelos,
no extremo Nascente do concelho de Cascais. Conjugando dois
estilos arquitectónicos distintos, uma parte do século XVI e um
palacete de finais do século XVIII, a Quinta da Alagoa pertenceu,
até 1983, aos Morgados da Alagoa, à família do Eng.º D. Vasco
Belmonte. Até essa altura, mercê da grande quantidade de vinha
que possuía e da mata que envolvia quase toda a propriedade, foi
um dos locais importantes da freguesia de Carcavelos, uma vez
que era aí, mais do que em qualquer outro lugar, que se produzia
o famoso Vinho de Carcavelos, que possuía projecção
internacional e que serviu de base à criação de uma zona
demarcada.
Na primeira metade da década de oitenta do Século XX, por
necessidades várias, a família de Alagoa acorda com a Câmara
Municipal de Cascais a cedência de todo o espaço. No protocolo
assinado nessa época, previa-se a manutenção de toda a zona
rural, bem como a utilização do palacete e antigo convento como
espaço cultural, ao serviço da população de Carcavelos. Ainda
nesse documento, foi estipulada a adaptação de uma parte
imóvel para sede dos escuteiros locais.
4. Dessa data até 1986, não mais se ouviu falar da Quinta da Alagoa, sendo que, dois anos após a transacção, o
antigo Jornal da Costa do Sol, em artigo publicado nas suas páginas, alerta as entidades competentes para o facto
de numa dessas noites ter sido completamente destruído o recheio do imóvel, juntando mesmo uma fotografia do
palacete, com portas e janelas abertas mas ainda com telhado. A então Câmara Municipal de Cascais, em resposta
a tão categórico artigo, responde que não possuía verbas para proceder a uma vigilância contínua ao local, pelo
que, segundo a mesma entidade, a destruição que o Jornal da Costa do Sol mostrava nas fotografias se ficava a
dever a uma noite de vandalismo dos jovens locais!
Após a urbanização da quase totalidade do espaço envolvente, a Quinta da Alagoa foi sujeita ao mais completo
desprezo que se prolongou ao longo de vários anos. Em 1990, uma vez mais, o mesmo Jornal da Costa do Sol
publica novas fotografias do sítio. Nesta data, para além dos problemas já anteriormente mencionados,
acrescenta-se o facto de ter desaparecido por completo o telhado do imóvel.
5. Em Junho de 1994, inesperadamente, o então executivo da C.M.C. anuncia publicamente a assinatura de um
protocolo com uma instituição de ensino, visando a construção neste local de uma universidade privada. O alto
patrocínio do Presidente da República, bem como a brevidade do anúncio, um dia antes da assinatura do protocolo,
veio levantar alguma celeuma, uma vez que um terreno público passaria a ser explorado por particulares. Por outro
lado, os trâmites legais não foram completamente respeitados, como viria a ser confirmado pela Assembleia
Municipal em 01. 06. 1994, que declara a aprovação do protocolo como ilegal, baseado no facto de este órgão não
ter sido consultado antes da assinatura do mesmo, como estava previsto na lei. A Associação de Moradores da
Quinta da Alagoa, que representava todos aqueles que compraram as suas casas nesse local com a condição de os
terrenos da velha quinta se destinarem a uso público, também não foram consultados, tendo feito um abaixo-
assinado para travar o projecto.
A Quinta da Alagoa
6. Neste ano de 2017, comemoram-se
27 anos desde este triste incidente
e a Quinta da Alagoa, de forma
surpreendente, mantém o estado
de abandono e de ruína que a
devastação dessa época lhe havia
granjeado.
Sendo repositório privilegiado das
memórias daquela localidade, nela
se centrando os testemunhos ainda
vivos da exploração outrora
rendosa do afamado Vinho de
Carcavelos, e sendo o palácio e
antigo convento peças exemplares
do Património Cascalense, será
aceitável o que por ali se continua a
passar?
A Quinta da Alagoa
7. A Quinta da Alagoa
Memórias de Cascais em Ruínas
João Aníbal Henriques
Joao_henriques@yahoo.com
Tel. +351 962 519 514