Material Impresso Para Educacao A Distancia
ANOTAÇÕES SOBRE A PRODUÇÃO DE MATERIAL IMPRESSO
PARA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Antonia Ribeiro
Maria Esther Provenzano
Desejamos, nestas anotações, relembrar alguns aspectos importantes a serem
considerados para a produção de material impresso, destinado à educação a
distância(EAD). Trata-se de uma recordação, vez que tais aspectos, além de já terem
sido apontados em muitos estudos, pesquisas ou experiências bem sucedidas,
constituem-se, hoje, em sólidos aportes teóricos e práticos, utilizados por muitos de nós,
em nossas atividades de rotina com EAD.
1. ANOTAÇÕES SOBRE A PRODUÇÃO DE MATERIAL IMPRESSO
PARA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Antonia Ribeiro
Maria Esther Provenzano
Desejamos, nestas anotações, relembrar alguns aspectos importantes a serem
considerados para a produção de material impresso, destinado à educação a
distância(EAD). Trata-se de uma recordação, vez que tais aspectos, além de já terem
sido apontados em muitos estudos, pesquisas ou experiências bem sucedidas,
constituem-se, hoje, em sólidos aportes teóricos e práticos, utilizados por muitos de nós,
em nossas atividades de rotina com EAD.
Mas, apesar dos benefícios que, certamente, tais aportes têm oferecido,
continuamos a nos defrontar, dia-a-dia, com muitos e variados desafios, tanto em nossa
experiência de coordenação, quanto de produção propriamente dita de material impresso
de EAD.
Um dos primeiros desafios refere-se à busca de respostas às seguintes questões:
que condições um material impresso para EAD deve reunir para cumprir as múltiplas
tarefas do processo ensino-aprendizagem? Será que o material impresso pode cumprir
todas as funções atribuídas ao professor?
Entre todos os recursos de ensino utilizados em programas de educação a
distância, o material impresso destaca-se como elemento principal, como a peça-chave
dessa metodologia de ensino. Isto porque ele é o instrumento de trabalho fisicamente
palpável, que pertence ao aluno e pode ser manipulado onde e quando ele quiser, uma
vez que está à sua disposição constantemente.
Apesar de receber várias denominações − módulos de ensino, módulos de
estudo, módulos auto-instrucionais, lições por correspondência, blocos de ensino
individualizado, entre outros − o material impresso, certamente, deve cumprir variadas
funções, como nos diz Ibánez: “o material impresso é obrigado a assumir a quase
totalidade das funções do professor em aula; a oferecer a totalidade da informação,
sem a presença estimulante, clarificadora do professor; a motivar e captar a atenção,
como o professor procura fazer, no início e no decorrer da aula; a dialogar ou suscitar
o diálogo interior mediante perguntas que obriguem o aluno a reconsiderar o
estudado; a incitar a formular de um modo pessoal tudo o que se vai aprendendo em
um permanente exercício de aprendizagem. Deve controlar o aprendizado, saber qual é
o ponto de partida e o de chegada, no começo e no final de cada aula ou unidade de
aprendizagem. Há de tornar possível o aprendizado inteligente, em casa, fora do
centro docente, sozinho ou, no melhor dos casos, na companhia de alguns amigos que
se encontram em situação semelhante”.
Como você pode ver, produzir materiais impressos que atendam, ou melhor, que
contemplem todas estas funções não é uma tarefa das mais fáceis.
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Diante disso, indagamos: qual então o formato mais adequado? Que estilo de
comunicação ou linguagem é mais apropriado para o alcance dos objetivos pretendidos?
Que aspectos físicos (dimensão, diagramação, tipo de papel, impressão etc.) devem ser
considerados para tornar o material impresso mais eficiente?
As respostas a estas questões só serão possíveis após a definição de alguns
parâmetros do curso ou programa a ser desenvolvido: a proposta filosófica e
metodológica do curso, incluindo-se aí, a modalidade de educação a distância a ser
adotada: indireta, semi-presencial, com ou sem apoio tutorial, com ou sem encontros
presenciais, etc.; os objetivos que se deseja alcançar; o conteúdo e sua forma de
distribuição; concepção e formas de avaliação da aprendizagem; características da
clientela; duração do curso, entre outros.
É bastante comum, especialistas em EAD serem convidadas para elaborar ou
fazer a “redação metodológica” de um material impresso, sem que este convite venha
acompanhado dos parâmetros do curso que se deseja implantar. Nessas circunstâncias,
formatar um material é, sem dúvida, bastante arriscado, pois nem sempre o trabalho
encomendado resulta satisfatório, podendo até gerar dúvidas a respeito da capacidade
desse especialista.
É possível, entretanto, evitar tais situações, alertando aqueles que contratam o
serviço quanto à necessidade de definir, com clareza, o projeto do curso ao qual se
destina o material. Objetivos, conteúdos, existência de texto-base bem elaborado,
características da clientela, entre outros, são informações essenciais para que o
especialista possa levar adiante uma proposta de qualidade acerca da formatação do
material.
É importante reafirmar, ainda, que a produção de materiais é um dos aspectos
decisivos para o êxito de qualquer proposta de EAD. Para tanto, o material impresso
precisa estar coerente com a linha pedagógica do curso, atender aos objetivos
pretendidos, permitir não somente a socialização de conhecimentos mas, sobretudo, a
construção de novos, além de proporcionar o resgate da relação teoria-prática .
A experiência que vivemos no Centro Federal de Educação Tecnológica Celso
Suckow da Fonseca – CEFET/RJ, com a produção de materiais impressos para o Curso
de Especialização a Distância em Didática Aplicada à Educação Tecnológica, destinado
a professores de 2o grau das Instituições Federias de Educação Tecnológica, nos
mostrou, entre outros aspectos:
que a estrutura do módulo, ou seja, os seus aspectos orgânicos, (introdução,
divisão do conteúdo em blocos de estudo, atividades de fixação, de reflexão,
de auto-avaliação e de avaliação a distância, ficha de opinião do módulo),
assim como os seus aspectos lingüísticos (tipo de linguagem, vocabulário,
etc.) devem ser definidos pela equipe que concebeu o curso como um todo e
não deixar a critério dos organizadores e/ou elaboradores dos conteúdos.
O ideal seria um trabalho integrado, mas no nosso caso isto foi inviável,
tendo em vista que os organizadores dos módulos estavam distante do centro de
produção do curso;
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a seleção dos profissionais para a elaboração/organização do módulo deve
feita com base em alguns critérios: domínio do conteúdo a ser trabalhado,
identidade com os princípios filosóficos norteadores do curso, conhecimento da
realidade e das características da clientela, disponibilidade de tempo e
experiência em produção de materiais para educação a distância;
É importante ressaltar que nem sempre encontramos profissionais que atendam a
todos os requisitos estabelecidos. No entanto, ficou demonstrado em nossa experiência,
através da avaliação dos módulos feita pelos cursistas, que o melhor módulo foi
exatamente aquele organizado pelo profissional que atendeu a todos os critérios.
a equipe responsável pelos aspectos físicos do material impresso, ou seja,
dimensão, diagramação, impressão e acabamento, deve receber todas as
informações acerca do curso, das exigências do ensino individualizado e das
características da clientela e, se possível, algumas indicações de como o
material poderá ser graficamente apresentado.
Esta experiência demonstrou, também, que o material impresso cumpriu a função
de veicular todo o currículo do curso e que a sua forma de organização, aliada ao
sistema de tutoria e encontros presenciais, permitiu a socialização e produção de
conhecimentos, tendo, ainda, possibilitado aos cursistas, em muitos momentos,
relacionar a teoria estudada à prática docente.
Mas, não há uma receita mágica para se elaborar bons materiais impressos para
educação a distância. No entanto, estudos e pesquisas já realizados apontam alguns
aspectos que devem ser considerados quando de sua elaboração.
Como vimos anteriormente, o material impresso tem que assumir tarefas que o
professor deve realizar em sala de aula: incentivar, informar, estimular e controlar. Por
isto, como diz Ibánez, “na hora de redigi-lo, deve-se ter sempre presente tudo o que um
bom professor faz, os comportamentos daqueles docentes de que conservamos uma boa
lembrança e aqueles que nós próprios praticamos nas aulas presenciais, a fim de
transportá-los de algum modo para nossos textos”.
Em geral, a estrutura de um material impresso, mais precisamente de um
módulo, tem a seguinte organização:
♦ INTRODUÇÃO ou APRESENTAÇÃO
Esta parte reúne informações que vão desde a incentivação e orientações
para o estudo, os objetivos gerais e específicos até os conteúdos que serão
estudados. Isto, no entanto, varia de material para material, dependendo da
natureza da proposta e do tipo de clientela. Às vezes, muitas destas
informações já estão contidas no Manual do Curso, o que dispensa novas
explicações na parte introdutória do módulo.
O mais comum é que a Introdução cumpra duas funções básicas:
inicialmente, incentivar o aluno para o estudo do módulo, chamando a
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atenção para a importância dos conteúdos a serem estudados e, depois,
fornecer instruções sobre a utilização do material.
♦ OBJETIVOS
Os objetivos devem orientar a aprendizagem e não confundir o aluno. Por
isso, ao redigi-los, tanto os gerais, quanto os específicos, deve-se cuidar para
que sejam elaborados com clareza, de modo a informar o aluno o que se
deseja ao final do estudo.
♦ DESENVOLVIMENTO DO TEMA
Esta parte diz respeito aos textos propriamente ditos, que podem ser
organizados tanto em forma de unidades, quanto em blocos de estudo. A
organização do conteúdo implica numa divisão em unidades significativas e
úteis, não só para a disciplina/curso, como também para o aluno.
Para se garantir uma boa redação de todo o módulo, mais especificamente
desta parte, é necessário que se observe algumas recomendações formuladas
por especialistas, a partir de estudos e pesquisas realizados sobre o assunto.
São elas:
LINGUAGEM : clareza e precisão das idéias
• comunicar-se com o aluno como se estivesse presente, através de
uma linguagem coloquial. É importante estabelecer um diálogo
com o leitor, através de perguntas e expressões do tipo “não é
mesmo? você concorda? você não acha? qual a sua opinião sobre
isto?” Mas, é, também, igualmente importante, que o aluno seja
levado a elaborar suas próprias perguntas e dê sua opinião para
tornar o texto mais claro, inteligente e útil para sua
auto-aprendizagem.
Como diz Ibánez (...) “as perguntas são um elemento dinamizador
importante, podendo agilizar a colocação das questões e, sobretudo,
estimular o aluno a formulá-las constantemente, a deter-se na marcha
da aprendizagem, a estabelecer um momento de reflexão e a decidir-se
pela via que parece mais promissora, como se fizesse um exame de
consciência”.
• o vocabulário deve ser familiar, partindo do que é usual ao aluno e
progressivamente ir introduzindo novos vocábulos; evitar
complexidade sintática; não apelar para parágrafos longos; incluir,
sempre que necessário, um glossário, para decodificação dos
vocábulos ou expressões difíceis utilizados no texto.
Uma publicação do Ministério da Educação sobre Ensino por
Correspondência de 1981, já chamava a atenção para esta questão da
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linguagem e recomendava: (...) “se preocupem com a linguagem
utilizada nos textos seja do ponto de vista da comunicação, englobando
os aspectos de adequação, dosagem e interesse, seja do ponto de vista
lingüístico enfocadas a correção, precisão e adequação vocabular
empregadas, bem como a estrutura da língua”.
ILUSTRAÇÕES
As ilustrações (fotos, desenhos, gráficos, tabelas, etc.) têm uma
importância fundamental, desde que colocadas adequadamente no texto.
Devem focalizar a atenção do aluno e convidá-lo para a leitura. Devem ter
como funções auxiliar na compreensão do texto lido, complementar
conteúdos, além de contribuir para a sua leveza e motivação para ler.
Recomenda-se, no entanto, evitar imagens apenas decorativas, ou que
repitam o que está no texto, pois isto em nada ajuda o leitor e ainda encarece
a produção.
RECURSOS TIPOGRÁFICOS
Além dos pontos acima observados relativos à linguagem e às
ilustrações, outros fatores também podem contribuir para tornar o material
mais eficiente, facilitando a aprendizagem do aluno: tipo e tamanho de letra,
cores, tamanho do módulo, entre outros.
Atualmente, com a computação gráfica, as opções são maiores e
melhores, o que pode favorecer a produção de materiais muito mais ricos,
agradáveis e atraentes.
♦ ATIVIDADES
As atividades ao longo e ao final dos textos ou módulo são comuns em
quase todos os materiais de educação a distância. Elas podem ter várias
funções: ajudar o aluno a sistematizar os textos estudados; propiciar
questionamentos e reflexões acerca do conteúdo lido; levar o aluno a
relacionar a teoria à prática, através de questões orientadoras, entre
outras.
♦ LEITURAS COMPLEMENTARES
Leituras Complementares ou Indicação de Leituras ou Bibliografia, são
seções para recomendar consultas a outros materiais, que possam
enriquecer/aprofundar os conteúdos trabalhados no módulo. Não se deve,
contudo, apresentar uma lista exaustiva. E é importante, também, que as
fontes bibliográficas venham acompanhadas de uma resenha, para melhor
orientação do leitor.
♦ EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO
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Estes exercícios, via de regra, estão ao final de cada módulo de estudo.
Acompanhados de gabarito, têm a função de auxiliar o aluno na
avaliação de sua própria aprendizagem. É através deles que o aluno pode
identificar até onde avançou, onde está encontrando maiores dificuldades
e o que ainda precisa aprender para alcançar os objetivos.
Em alguns projetos a auto-avaliação é realizada no início do estudo do
tema ou módulo (pré-teste), para que o aluno possa detectar o seu nível
de conhecimento sobre o assunto a ser estudado; ao longo do processo e
ao final do estudo (pós-teste).
Para alguns estudiosos, a auto-avaliação é uma das partes essenciais dos
cursos de educação a distância. Ela não deve e não pode ser suprimida de
nenhum material.
♦ ATIVIDADES DE AVALIAÇÃO FINAL
Em geral, a atividade de avaliação final destina-se à verificação da
aprendizagem e do desempenho do aluno. É realizada ao final do estudo
do módulo e encaminhada ao tutor, ou centro de coordenação do curso,
onde será feita a correção e atribuída uma nota.
Mas, ela não tem esta única função. A avaliação final deve servir,
principalmente, para acompanhar os avanços e recuos do aluno,
identificar o estágio em que se encontra a sua aprendizagem, de forma a
possibilitar uma reorientação, sempre que necessário.
♦ CONSIDERAÇÕES GERAIS OU RESUMO
Esta é, em geral, a última parte do módulo, onde é apresentado uma
síntese dos conteúdos tratados, podendo indicar, ainda, a interligação
com os demais temas ou módulos, para auxiliar o aluno na sistematização
dos assuntos estudados. Este é também um momento para valorizar o
esforço realizado pelo cursista pela conclusão do estudo e encorajá-lo a
continuar os estudos posteriores.
Como já expressamos anteriormente, não há um modelo rígido para a estrutura
de um material impresso de educação a distância. A natureza do curso, as
características da clientela, a disponibilidade de recursos são, entre outros fatores,
determinantes da estrutura a adotar.
Finalmente, esperamos que nossas anotações possam contribuir para despertar o
interesse pelo estudo e/ou aprofundamento de questões relacionadas à produção de
materiais impressos para educação a distância.
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BIBLIOGRAFIA
1.IBÁNEZ. Ricardo Marín. O material impresso no ensino a distância. Tradução: Ivana
de Mello Medeiros e Ana de Lourdes B. de Castro. Rio de Janeiro: Universidade
Castelo Branco, 1996.
2. BALLALAI, Roberto(Org.). Educação à distância. Niterói-RJ: Centro Educacional
de Niterói, 1991.
3. MATTOS, Sonia G. Gomes. Construção e validação de uma ficha de avaliação
intrínseca para módulos auto-instrucionais utilizados pelo Ensino
Supletivo(Função de Suplência): FAVIM(Dissertação de Mestrado). Rio de
Janeiro: Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1982.
4. MEC/CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA CELSO SUCKOW
DA FONSECA. Curso a Distância de Especialização em Didática Aplicada à
Educação Tecnológica. Manual do Cursista e Módulos de Estudo. Rio de Janeiro:
1994.
5. REIS, Ana Maria Viegas. Ensino a distância...megatendência atual. São Paulo:
Editora Imobiliária, 1996.