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Khatársis 2007




                 1
ÍNDICE
POESIA (3º ciclo) ............................................................................................................ 1
  Alegria ...........................................................................................................................2
  Anjo da guarda ..............................................................................................................3
  A Estrela dos Sonhos .....................................................................................................4
  Fantasia ..........................................................................................................................5
  Fogo ...............................................................................................................................6
  Mar ................................................................................................................................7
  Poesia.............................................................................................................................8
  O porquê de um poema..................................................................................................9
  Tu .................................................................................................................................10
  Vida .............................................................................................................................11
PROSA (3º ciclo)............................................................................................................ 12
  Alba .............................................................................................................................13
  Aya ..............................................................................................................................14
  Confissões....................................................................................................................33
  O Feitiço Quebrado .....................................................................................................34
  Diogo e o Anjo ............................................................................................................36
  A Inner Magic..............................................................................................................37
  João (macaco [pássaro (polvo)]) Lunático ..................................................................48
  Maho ............................................................................................................................64
  Mar ..............................................................................................................................72
  Meu Tesouro ................................................................................................................73
  O que é de verdade ter amigos? ...................................................................................74
  Viagem ........................................................................................................................75
POESIA (ENSINO SECUNDÁRIO) ............................................................................. 76
  Ode às Ratazanas .........................................................................................................77
  Simplesmente…AMOR! .............................................................................................79
  Penso em ti ..................................................................................................................81
  Quem eu amo! .............................................................................................................82
  Silêncio ........................................................................................................................83
PROSA (ENSINO SECUNDÁRIO) .............................................................................. 84
  Alentejo, a minha pátria ..............................................................................................85
  De Tanto Bater, Meu Coração, Parou .........................................................................87
  Direito a tudo e a coisa nenhuma ..............................................................................104
  A Febre do Dinheiro ..................................................................................................105
  Morrer ou Viver? .......................................................................................................108
  Morrer ou Viver? .......................................................................................................110
  A pena de morte é um erro ........................................................................................112
  Tempo ........................................................................................................................113
  Lifeless ......................................................................................................................114
  Deus não existe ..........................................................................................................115
  Diálogo de adolescentes ............................................................................................117
  Perfect Lie .................................................................................................................119
  Loving........................................................................................................................120
  Sociedade Plástica .....................................................................................................121
  Uma questão de Valor ...............................................................................................122
  Saudades da minha terra ............................................................................................123



                                                                                                                                      2
3
POESIA (3º ciclo)




                    1
Alegria


Um sorriso, uma emoção,
o nascer de um novo dia,
o cantar de uma canção
são mostras de alegria.

Estar alegre ou estar feliz
é sentir o coração
prestes a explodir
de tanta emoção.

A alegria pode ser amor,
amizade ou satisfação.
O que importa é que faça parte
do nosso coração.




                                 Maria Teresa Vaz Freire, nº 20, 8ºB




                                                                  2
Anjo da guarda


                     Porque vais sem poder voltar?
                      Porque partes sem me avisar?
                       Porque brincas sem sorrir?
                  Porque choras sem uma lágrima cair?
                     Porque falas sem um som sair?
                   Porque me olhas de olhos fechados?
                    Porque me amas sem coração ter?
                    Porque existes sem te poder ver?
                        Porque voas sem asas ter?
               Porque existe o vento se não o podes sentir?
             Porque existem as nuvens se não podes lá estar?
            Porque existem as estrelas se não te fazem sonhar?
                      Porque dormes sem acordar?
                      Porque pintas sem pincel ter?
                Porque me guardas sem poderes proteger?
               Porque és um anjo sem mais ninguém saber?
              Porque vives no céu se não me podes lá levar?
                     Porque navegas sem barco ter?
                  Porque me tocas sem eu poder sentir?
                          Porque é que és meu?
                    E por muitas perguntas existirem
                       Uma resposta apenas serve:
                        És o meu anjo da guarda...




                           Sofia Cordeiro Fadigas Rodrigues Colaço, nº 25, 7º B




                                                                             3
A Estrela dos Sonhos



Quero ir para um mundo diferente,
Um mundo onde possa ver as estrelas bem de perto,
Tocar nelas, dormir nelas, sonhar nelas...
Fascinar-me com o seu brilho ofuscante
Que numa noite escura e fria
Me aquece e me faz sonhar,
Mas há uma estrela bem distante,
Tão distante, tão distante,
Que por tão distante estar,
É a que mais brilha numa noite de luar!
É aí que eu quero estar...
Só não sei como lá chegar...
Mas se tivesse asas e voasse
Era para aí que eu voava,
Era aí que me escondia
Para mais ninguém me ver
A não ser a escuridão infinita do Universo...
Um dia estive lá,
Foi de noite, bem de noite,
Naquelas noites em que dormimos profundamente...
E sabes?
Adorei lá estar...
Por isso deixa-me sonhar,
Deixa-me voar,
Deixa-me ficar lá...
Até acordar...




                                Sofia Cordeiro Fadigas Rodrigues Colaço, nº 25, 7º B




                                                                                  4
Fantasia


No teu palácio cristalino,
fantasias de criança.
Sopram embaladas no vento.
Sobre ti, sobre a saudade
Que existe, de quem amas,
de quem já te amou, cuidou de ti,
sem saberes, sem sequer notares,
não deixes a fantasia
amar a vida, ama-a tu




                                    Maria Teresa Vaz Freire, nº 20, 8ºB




                                                                     5
Fogo


O fogo e sentimento que luz,
é sensação que aquece,
é o amor, o medo e o calor
que cada alma carece.
Quando arde por dentro
não deixa marca visível,
só o calor gelado
que no coração permanece.
Quando a saudade chega
ele apaga-se lentamente
à espera do momento
de voltar fulgurante.




                               Maria Teresa Vaz Freire, nº 20, 8ºB




                                                                6
Mar


Mar é estrada sem fim,
sem rumo a percorrer,
é fogo que arde assim,
lentamente sem se ver.

Mar caminho aberto
para novas descobertas.
É uma imensidão sem fim
de portas abertas!

Sentir o mar gelado
Ao redor do nosso corpo
E sentir que se é amado
Por todo aquele povo.

Mares são palavras azuis
escritas por grandes poetas
Mares são planetas distantes,
e difíceis de encontrar!!




                                Maria Teresa Vaz Freire, nº 20, 8ºB




                                                                 7
Poesia


A poesia é escrever o que pensamos,
com todas as palavras e sentimentos,
o que amamos, sentimos e sonhamos.
Dar alma a todos os pensamentos.

Um poeta tem amor
dentro do coração.
Para um poeta cada palavra
é na alma uma canção.

O papel é o receptor
destas almas douradas.
Mesmo um poeta amador,
Escreve coisas sonhadas.

Cada um de nós
tem um poeta guardado.
Vem descobri-lo também,
com este poema a ti dedicado




                                       Maria Teresa Vaz Freire, nº 20, 8ºB




                                                                        8
O porquê de um poema




Há quem questione
o porquê de um poema,
e há quem faça disso
o seu próprio dilema.

Ler um poema com o coração
é perceber o seu porquê,
é ler os sentimentos,
e tudo o mais que não se vê.

Há os porquês de amor,
de alegria e muito mais.
Todos eles são poemas,
nos termos mais gerais:
Para ser um verdadeiro poema
é preciso transmitir bem
todos os sentimentos e porquês
que o poeta tem.




                                 Maria Teresa Vaz Freire, nº 20, 8ºB




                                                                  9
Tu




O calor do teu fogo
queima a alma
que chora lágrimas de amor.
Lágrimas de momentos vividos
onde perdura a dor.
Lá no alto a lua observa
toda a tua tristeza.
Mas tudo isso, acaba,
quando o sol nasce,
o sentimento adormece.
Na sua dor, no seu calor
Sentir, chorar, nada faz sentido.
Só tu, só tu.




                                    Maria Teresa Vaz Freire, nº 20, 8ºB




                                                                    10
Vida




A vida é uma história
que existe para ser contada.
Guardar só na memória
não ajuda nada!

Sempre que precises de ajuda
procura os teus amigos
eles são os teus apoios
para todos os perigos!

Os problemas não se resolvem
se os guardares só para ti.
Contá-los serve de ajuda,
e é princípio do fim.




                               Maria Teresa Vaz Freire, nº 20, 8ºB




                                                               11
PROSA (3º ciclo)




                   12
Alba




        Lembro-me do dia em que te conheci.
        Olhaste-me com esse olhar reprovador, não te censurei. Nem hoje te censuro
        Recordo-me da pessoa que fui outrora, dos erros que cometi.
        Mas também me lembro que mudei radicalmente nesse dia. Talvez devido ao teu
olhar infantil ou simplesmente causado pelo teu rosto clássico, quase perfeito. Sei que
também te recordas desse dia, minha pequena Alba.
        Eras ainda uma criança, particularmente minúscula, mas com uma longa
cabeleira negra e pele bronzeada, nem sei como me atrevo a falar dos teus olhos, tão
negros e poderosos, tão poderosos que conseguiram mudar o nosso destino.
        Eu sentia-me velha, a desfalecer e sem qualquer propósito para viver, mas nesse
lendário dia, percebi que tu eras a minha salvação, o perdão e tudo o resto que a
sociedade não me concedia.
        Através desse tal olhar, conseguiste perceber-me, conseguiste conceder-me o
perdão de toda a Humanidade e com uma coragem tal, cujo local onde a arranjas-te, eu
desconheço, pronuncias-te uma palavra que mudou o rumo das nossas vidas:
-Avó!




                                                                Mariana Saúde, 9º Ano




                                                                                    13
Aya




— Aya! – Sakura corria para mim com os seus braços abertos e as suas mãos
estendidas. Tropeçou. Estava a cair.
         — Sakura! – Ia voltar para trás, para a apanhar, mas alguém me agarrou –
Largue-me! A minha irmã! Por favor, largue-me!
         — Não sejas tonta! Anda, rapariga!
         — Sakura! – Acordei a gritar e toda suada. Suspirei. É a quarta vez consecutiva
que sonho com esta recordação. É a mesma coisa todas as noites. Vejo a minha irmã a
correr para mim e a cair e eu não a posso ir salvar. Há muito tempo que não era tão
nítida. Consegui ver tão bem a expressão da Sakura que dei por mim a chorar. Já
passaram quase cinco anos desde que fui separada da minha irmã gémea, no dia em que
os meus pais foram mortos. Comecei a chorar ainda mais quando me lembrei que
naquele dia completava os meus 19 anos, e que exactamente há cinco anos tinha
morrido o meu irmão. Encolhi-me toda e continuei a chorar. A Ayu decidiu não dizer
nada.
         Deixei ontem a casa dos meus pais adoptivos dizendo que me safava por minha
conta. Mas agora ando para aqui, perdida que nem uma anchova, a caminhar num
Mundo que mal conheço, apesar de cá estar há cinco anos, desde aquele dia em que fui
separada da minha irmã.
         Enxuguei as lágrimas e levantei-me. Peguei na minha espada e observei-a.
“Nunca a largues! É muito preciosa. Está nesta família há sete gerações e tem poderes
que irás descobrir em breve.”. Foram as últimas palavras da minha mãe adoptiva antes
de eu me ir embora. Atei-a ao cinto e afastei-me da sombra da árvore onde tinha
adormecido.
         Aproximei-me de um pequeno rio. Debrucei-me sobre ele e lavei a cara várias
vezes. Peguei no meu elástico e atei o meu cabelo castanho. Peguei na fita preta e atei-a
à testa. Olhei para os meus olhos. Desde que criei a Ayu, que fiquei com um olho verde
claro (cor normal dos meus olhos) e o outro verde escuro... não sei explicar porquê e ela
também não.
         Apercebi-me, pelo barulho e pela rapidez da água, que mais à frente havia uma
cascata. Segui o som. Quando cheguei à cascata fiquei maravilhada: a cascata em si já
era espectacular, pois tinha, pelo menos quinze metros. Mas depois à volta, num raio de
uns quarenta metros, estava tudo cheio de árvores com as flores mais estranhas e bonitas
que eu já vi. Para completar, à minha frente voavam uns trinta dragões brancos.
         Um deles veio na minha direcção e teve o bom senso de se transformar antes de
aterrar. Talvez o tenha feito porque notou que eu não me mexi um centímetro sequer ao
vê-lo aproximar-se. Devia ter a minha idade, mas não posso ter a certeza, pois os
dragões podem parecer novos e ter mais de mil anos, eles são imortais. Bem, era loiro,
com o cabelo liso pelos ombros e também usava uma fita na testa. Os olhos eram azuis
e pareceu-me que tinha um olhar triste, apesar do sorriso pepsodente que me mostrou


                                                                                      14
saber fazer na perfeição. Nem se importou por nunca me ter visto naquela área.
Perguntou-me logo:
        — Perdida?
        — Eu não estou perdida! – Gritei indignada, corando.
        Ele sorriu ainda mais.
        — Eu só quero ajudar. Tens algum sítio especial onde queiras ir? Eu posso
indicar-te o caminho.
        — Quero ir para o castelo Kuroi. – Disse decidida, talvez apenas para ver a
reacção dele.
        — Kuroi, dizes tu? – Ele parou imediatamente de sorrir e ficou muito sério e
parecia também algo preocupado – Tu sabes o que há nesse castelo, certo? – Acabou
por perguntar.
        — É exactamente por saber que lá vou. Quero lá ir para matar uma pessoa. Mais
precisamente a pessoa. – Fiz uma acentuação idiota no “a” que o fez pensar - Quero
matar o Yami.
        Ele ficou sério durante algum tempo a olhar para mim e depois não aguentou
mais. Soltou uma sonora gargalhada.
        — Tu?! Matar o Yami?! Não me faças rir! – Até já lhe vinham lágrimas aos
olhos. A certa altura até teve de se agarrar à barriga.
        Eu fiquei a olhar para ele, zangada, durante algum tempo e depois descontrolei-
me e gritei:
        — Sim! Eu! O que tem?
        Ele largou a barriga e limpou as lágrimas, ainda dando umas risadinhas de vez
em quando e depois disse:
        — Há seis anos que eu e a minha família tentamos matá-lo e ainda não
conseguimos. Como é que tu o vais conseguir matar? E com o quê já agora? Com uma
espada? – E continuou a rir, desta vez da sua “piada hilariante”.
        — Ya! Vou matá-lo com uma espada. – ele riu-se ainda mais - Mas não é uma
espada qualquer! É esta espada. – disse eu, pousando a mão na minha espada. – E já
agora: seis anos para ti também!
        — Não estás mesmo à espera de conseguir matar um dragão com uma espada,
ou estás? Espero que tenhas noção de que não vais conseguir.
        — Queres experimentar? – provoquei eu, pondo-me em posição para tirar a
espada.
        — És completamente doida! – disse ele virando-me as costas e transformando-se
de novo em dragão para se pôr a voar outra vez.
        — Espera! Ainda não me disseste onde é o castelo Kuroi! – gritei eu, mas ele
não me ligou.
        Lancei-lhe um último olhar de ódio e deitei-lhe a língua de fora. Um
comportamento um bocado infantil, mas foi mais forte do que eu. Virei-me e afastei-me
da cascata.
        Quando já estava a uma distância considerável, ouvi uns rugidos familiares.
Eram os dragões negros. Corri de volta à cascata. Era uma visão surpreendente, apesar
de ser também assustador ver dragões a matar dragões... Saltei pela cascata e voei até ao
primeiro dragão negro. Saquei da minha espada e feri-o. Não gosto de matar ninguém.
Nem mesmo dragões negros. A única pessoa que não me importo de matar é o Yami.
        A minha espada ficou azul. É um bom sinal. Significa que a minha espada está a
absorver os meus poderes aquáticos. Assim os dragões ficam mais feridos. Os dragões
negros não são resistentes à água e à luz. Azar para eles! Que não são resistentes à água



                                                                                      15
tenho eu a certeza, por experiências que já fiz... Mas quanto à luz, não tenho a certeza.
Nunca vi o impacto que têm os poderes da luz nos dragões negros.
        Adoro os meus poderes! Tal como adoro a água. É claro que a Ayu tem poderes
de gelo, mas eu não os posso usar, apesar de ela poder usar os meus. É verdade! A Ayu
é... como é que hei-de dizer?... é como se ela fosse a outra metade de mim que eu criei
com a fúria que sinto pelo Yami. Ao fim ao cabo é como se eu tivesse dupla
personalidade, mas são duas pessoas dentro de mim, completamente diferentes.
        Após ter ferido mais alguns dragões voltei para o cimo da cascata e observei
alguns dragões negros a baterem em retirada. Viu-os ir para Norte. Então era para Norte
que eles estavam. Olhei lá para baixo. Apenas dois dragões brancos estavam feridos, por
isso fui lá abaixo ajudá-los.
        O rapaz veio ter comigo e perguntou-me, sem demora nem cerimónias:
        — Quem és tu, afinal?
        Olhei para ele de alto a baixo, de baixo a alto, com ar desconfiado e perguntei:
        — Tenho mesmo de responder a essa pergunta?
        — Eu sou o Haki. – disse ele, vendo que tinha de tomar a iniciativa – Tu...? –
perguntou, estendendo a mão na minha direcção.
        Voltei a olhar para ele com atenção. A minha atenção concentrou-se no enorme
sorriso que ele tinha. Agora já não me parecia artificial como o outro, por isso decidi
responder:
        — Aya. – ao olhar melhor para o sorriso dele, deu-me também vontade de sorrir
e foi o que fiz.
        — Então?
        — Vou para aqueles lados. – respondi, lançando um sinal com a cabeça para o
sítio de onde tinham vindo os dragões negros – Foi de lá que eles vieram e, por isso, é
para aqueles lados que ele deve estar. – estava ainda mais decidida agora.
        — Porque não vens comigo primeiro?
        Olhei para ele com desconfiança outra vez. Talvez não devesse ter-lhe dado o
meu nome. Devia ter dado um falso.
        — A minha irmã pode ajudar-te. É a Hikari. – concluiu ele.
        — Hikari?! Queres dizer a Hikari? Hikari, Hikari? A Hikari? A Hikari líder dos
dragões brancos? Hikari? Mesmo a Hikari? Essa Hikari? – Haki respondia
pacientemente a todas as perguntas abanando a cabeça afirmativamente.
        Quando eu me calei para respirar, ele transformou-se num dragão e disse-me
para subir. Eu fiquei embasbacada a olhar para ele. Tenho a impressão que devia estar a
olhar para ele com cara de lula porque ele perguntou logo:
        — O que foi? Nunca montaste um dragão? – deu-me vontade de rir. Acho muita
piada ao facto de os dragões falarem por pensamento. A pessoa com quem eles querem
falar ouvem-no, mas as outras pessoas nem suspeitam que ele está a falar, pois não
mexem a grande mandíbula que têm. É claro que depois de assimilar bem a pergunta
fiquei sem vontade de rir.
        — Não... Sim! Quer dizer... não... mas sim! – andei para ali uns bons minutos a
balbuciar algo incompreensível. Às tantas só me saía uma ladainha de palavras sem
sentido.
        — Decide-te! – disse Haki, já algo farto – Se te quiseres montar é ao pé do
pescoço e agarra-te bem. Se fizeres isso não cais de certeza.
        Segui as instruções do Haki à risca. Demasiado à risca. Apertei-lhe tanto o
pescoço que o ia sufocando!
        — Também tanto não! – apelou ele. Larguei um bocadinho o pescoço dele, mas
deixei a minha cara encostada às escamas dele, pelo sim, pelo não.


                                                                                      16
Ele levantou as asas, fazendo imenso vento. Eu tive de fechar os olhos e quando
os abri, já estávamos acima das nuvens. Conseguia vislumbrar o castelo Shiroi ao longe.
Chegámos muito depressa.
        O palácio era lindo. Estava arquitectonicamente muito bem construído e
simétrico. Tinha muitos detalhes em tudo, quer em janelas quer nas próprias paredes,
pois nenhuma era completamente lisa. As janelas eram azuis transparentes e um enorme
portão situava-se exactamente no meio do grandioso edifício. Tinha um jardim também
deveras magnífico, cheio de todo o tipo de flores brancas. No meio do jardim havia uma
grande rosa branca, a única rosa que havia no jardim. Os meus olhos ficaram como que
hipnotizados pela rosa. Era perfeita. Sem uma única pétala fora do sítio.
        Admito, ao olhar novamente para o castelo, que tanto branco faz um bocado de
impressão, mas eu gosto bastante da cor e acho que não me importava de viver ali, mas
não acredito que o Haki gostasse muito de ter a casa toda branca. Até pode ser que ele
seja ligeiramente sensível a estas coisas e não se importe minimamente.
        Os meus longos pensamentos foram interrompidos por um gritinho estridente:
        — Mano! – uma rapariguinha corria para Haki de braços abertos. A rapariguinha
era tão pequena que nem sei se me chega à cintura, mas devia ter uns 10 anos. Ela tinha
o cabelo loiro, comprido e liso atrás e mais curto e ondulado à frente. Usava uma tiara
na testa e tinha um vestido que lhe chegava aos pés e que tinha as mangas muito
compridas.
        Fiquei a olhar para ela a aproximar-se e depois de pensar um bocado preguei um
berro que a assustou bastante:
        — Mano?! Tu é que és a Hikari?! – estava desconcertada. Diziam que a Hikari
era a mulher mais bonita deste mundo e que era também a mais forte. Depois aparece-
me uma pulga à frente... foi no mínimo muuuito esquisito.
        A rapariguinha escondeu-se atrás do Haki, que riu:
        — És mesmo idiota! – exclamou ele, após rir durante um bocado.
        Estava cada vez mais confusa, mas do portão apareceu uma mulher alta e
esbelta, com o cabelo ondulado, comprido e perfeitamente alinhado, com um vestido
branco e azul que eu gostei muito. Ela disse, após rir também:
        — Não. Eu é que sou a Hikari. – a voz dela soava como música aos ouvidos de
qualquer um. A verdade é que já tinha ouvido dizer que a Hikari era muito bonita, mas
nunca tinha imaginado que fosse assim tanto! A beleza dela era estonteante! Não me
admiro nada que haja muitos mais dragões brancos do que «dragonas brancas»... deve
ser difícil para uma outra mulher morar naquele castelo com uma mulher daquelas ao
lado. Ao ver que eu olhava para ela fixamente, ela sorriu.
        Haki olhou para mim, talvez para ver a minha reacção. Estava muito quietinha a
olhar para a Hikari. Talvez com cara de guaxinim...
        — Tu és a Aya, não és? – perguntou Hikari, uma vez que eu não dizia nada.
        — Sim, senhora! – abri muito os olhos e pus-me muito direitinha, como se
estivesse na tropa e Hikari fosse o meu general.
        Ela achou muita piada e voltou a sorrir. Depois dirigiu-se aos irmãos:
        — Haki, Sora, venham. E tu também, Aya.
        — Sim! – eu seguia imediatamente. Parecia um cãozinho com uma trela
invisível! Senti-me muito estúpida, até porque parecia mesmo um daqueles soldadinhos
a andar. Só que parecia um soldadinho de chumbo, porque quase que não me mexia...
        Haki e Sora seguiram-nos.
        Fomos conduzidos até uma grande sala com um trono. Haki e Sora deixaram-se
ficar no fim do grande tapete que se estendia desde quase a porta até ao trono. Eu
também me deixei ficar. Hikari seguiu o seu caminho até ao trono e, ao atirar o seu


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brilhante cabelo para trás, instalou-se confortavelmente no trono e ficou a olhar para
nós. Ela fechou os olhos e deu-me a impressão que matutava no que havia de dizer.
Voltou a abrir os olhos e dirigiu-se directamente a mim:
        — Vou ser muito directa: não me parece que sejas sequer capaz de fazer um
arranhão no Yami.
        Fiquei completamente indignada. Senti o meu cabelo a voar. Isto só pode
significar uma coisa: A Ayu está prestes a tomar conta do meu corpo. O meu cabelo
esvoaçava e comecei a sentir as dores do costume de quando ela se apodera do meu
corpo. Agarrei-me à barriga e produzi uns ruídos estranhos. Sora escondeu-se atrás de
Haki e ele ficou a olhar espantado para mim. Hikari olhava com interesse e
superioridade ao mesmo tempo. Recompus-me, já com a Ayu a tomar conta de mim. A
Ayu é quase igual a mim, só que o cabelo torna-se mais escuro e fica com ambos os
olhos verdes escuros. Ela também é muito directa, infelizmente para a Hikari.
        — Pois eu também vou directa ao assunto: Eu estou-me a marimbar para aquilo
que tu achas. A Aya não está sozinha. Eu vou ajudá-la. Juntas vamos conseguir derrotar
o Yami. E sem ajuda de asquerosos da realeza.
        A Ayu decidiu que já não queria ver as fuças da Hikari à frente, por isso voltei
eu, que completei.
        — A Ayu e eu somos como duas pessoas diferentes dentro de um só corpo. Ela é
uma pessoa que eu criei depois de chegar a este Mundo.
        — Queres dizer que... – começou Haki.
        — Sim. Eu vim da Terra. E conheço o Yami melhor do que qualquer pessoa
nesta sala. Ele também veio da Terra. Era o melhor amigo do meu irmão. Um dia deu-
lhe um ataquezinho de parvoeira e o raio do papalvo matou o meu irmão! Depois disso,
eu, os meus pais e a minha irmã gémea sobrevivemos durante aproximadamente seis
meses, mas aquele lorpa encontrou-nos e matou os nossos pais. – Hikari mostrava um
estranho desconforto com a minha história - Enquanto estávamos a fugir, eu e a minha
irmã fomos separadas. Enquanto eu estava ali, a ser salva por um senhor que nem
sequer conhecia, fiquei também a vê-la cair e ficar para trás, provavelmente para ser
morta pelo Yami. Eu tentei soltar-me do homem e cai também, mas para dentro de um
portal. Assim vim aqui parar. Nunca me irei esquecer do sorriso de maníaco dele ao
matar o meu irmão! Nunca me irei esquecer dos seus olhos amarelos a luzirem de
felicidade ao matar os meus pais! NUNCA! – no fim eu estava com lágrimas nos olhos.
A Sora já não estava escondida atrás do Haki, pelo contrário, olhava para mim com
compaixão. Haki olhava para mim com olhos tristonhos sem saber o que dizer, ou
talvez não pudesse mesmo dizer nada devido à presença da Hikari. Esta, por seu lado,
mostrava-se um iceberg que se encontrava apenas incomodada com a situação.
        Limpei os olhos rápida e discretamente para que não se notasse que tinha estado
prestes a chorar. Dei meia volta e caminhei para fora da sala batendo com a porta e
começando a correr dali para fora.
        Haki apareceu à porta e gritou-me:
        — Onde vais?
        — Matar o Yami! – gritei em resposta, sem sequer olhar para trás.
        Haki foi a correr atrás de mim e tentou impedir-me, pedindo ao mesmo tempo
desculpas pelas palavras da irmã, dizendo que ela pensava que só ela era forte e que se
ela não fora capaz de derrotar o Yami então mais ninguém conseguia.
        — Obrigada, mas eu estou decidida. – disse eu quando chegámos ao fim do
bocado de terra flutuante onde se encontrava o castelo.
        Voei dali para fora e Haki decidiu que seria melhor não dizer mais nada.



                                                                                     18
Algum tempo depois consegui encontrar a cascata e lá me orientei. Desci até ao
chão e decidi que ia a caminhar dali em diante. Iria ser esquisito ver uma rapariga a voar
dirigindo-se ao castelo Kuroi...
        Depois de algum tempo a caminhar ouvi barulhos vindos detrás de uns arbustos.
Saquei da espada imediatamente.
        — Sou só eu. – ouvi uma voz estridente e frágil, vinda detrás dos arbustos – A
Sora. – Sora saiu detrás dos arbustos e olhou para mim timidamente.
        — Como... como é que vieste atrás de mim? Eu nunca de vi! – exclamei eu.
        Sora sorriu triunfante.
        — Eu posso ficar invisível. – informou ela, mostrando-me os seus poderes.
        Fiquei a olhar de boca aberta para o sítio onde estava Sora, ou estava, não sei.
Sorri e guardei a espada. Ela voltou a aparecer.
        — Foi a Hikari que te ensinou? – perguntei eu, sabendo que não me valia de
nada descarregar a raiva que sentia da Hikari na irmã mais nova, até porque a cara de
inocente dela me fazia lembrar a Sakura. Era tal e qual a sua expressão.
        — Sim! – disse ela, muito contente – Ela ensina-me muita coisa! Ela é mesmo
muito poderosa! Controla os 4 elementos. – fiquei com vontade de rir e a Ayu riu-se
muito dentro de mim, porque ela consegue controlar o gelo e a Hikari não – Depois tem
montes de poderes especiais como a transformação! Ela é muito boa na transformação.
Consegue ficar exactamente igual às pessoas, só não consegue mudar a cor dos olhos.
        — Fixe! – exclamei eu, sem pensar que não estava na Terra.
        — Fixe? – Sora estava confusa.
        — Não ligues. Coisas da Terra. – disse eu.
        — Tu também tens poderes? – perguntou Sora.
        — Ya. Controlo a água. – disse, orgulhosa dos meus poderes.
        — Eu ainda não consigo controlar nenhum elemento e por isso a Hikari zanga-
se. – ela fez uns olhinhos tristes e olhou para os pés, mas depois voltou a erguer a
cabeça e completou – Mas para compensar sou muito boa a aprender poderes especiais.
O Haki diz que qualquer dia estou melhor que a Hikari na transformação! Sei montes de
poderes especiais.
        — Olha, Sora. – ajoelhei-me para poder ficar mais ou menos da altura dela, mas
falhei, pois ela continuava a ser mais baixinha – Eu acho melhor que tu voltes para trás.
Se quiseres eu vou-te lá levar. Talvez até seja melhor. É que eu vou para um sítio muito
perigoso e posso voltar sem vida. – a pequena estremeceu dos pés à cabeça – Eu não te
quero submeter a isso. Ainda és muito nova.
        — Mas eu quero ir! Posso ficar invisível. Ninguém vai dar por mim.
        — Mesmo assim... – comecei eu.
        — Não vale a pena. Mesmo que me vás deixar em casa eu volto a seguir-te.
Portanto só te vais atrasar a estar a ir e a voltar.
        A Sora é meeeesmo parecida com a Sakura. Pensa em tudo e mais alguma coisa
para levar as pessoas a fazerem o que elas querem. Não pude deixar de sorrir. Voltei a
levantar-me e disse:
        — Ok. Vens. – ela ficou muito contente e até me abraçou – Mas não podes
afastar-te, qualquer que seja a situação. A não ser que eu te mande fugir. Mas isso já é
outra história.
        Caminhámos durante aproximadamente um quarto de hora sem abrir o bico, até
que Sora reclamou:
        — Aya, estou cansada!
        — O quê?! Já?! Mas ainda há pouco começámos!



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— Mas eu estou cansada! – suspirei. Não tive outro remédio sem ser levá-la às
cavalitas.
        Quando estava prestes a escurecer, parei ao pé de uma árvore com o tronco largo
e cheia de frutos que me pareceram de boa qualidade. Sentei a Sora ao pé do tronco da
árvore e colhi alguns frutos. Colhi os suficientes e depois concentrei-me. Corria um rio
ali perto.
        — Ainda consegues andar um bocado? – perguntei à Sora.
        — Sim! – disse ela, levantando-se.
        Seguimos o som do rio e fomos lá dar em menos de dois minutos. Lavámos os
frutos e voltámos para a árvore. Ficámos a observar o sol a pôr-se enquanto comíamos
as frutas.
        Antes de dormir-mos, ainda ficámos a conversar um bocado. Sora não se
cansava de gabar os poderes da Hikari e eu já estava quase a dormir quando ela disse:
        — Mas ela e o Haki são muito diferentes. – abri logo os olhos e endireitei-me.
Fiquei a olhar para ela e a ouvir com atenção – A Hikari só tem interesse em ensinar-me
estes poderes todos porque um dia eu serei útil para derrotar o Yami. Mas o Haki não.
Ele gosta mesmo muito de mim. Disse que ia estar comigo para o que desse e viesse. –
não pude deixar de sorrir. Tinha feito exactamente a mesma promessa à Sakura. Claro
que depois me deu uma grande vontade de chorar pois tinha falhado redondamente. Mas
tive de disfarçar. Limpei os olhos e disse:
        — Já para a cama! Amanhã é um longo dia!
        — Sim! – disse ela, deitando-se logo.
        Fiquei a olhar para ela durante um bocado e depois deitei-me também e
adormeci.
        No dia seguinte, quando acordei toda despenteada e com os cabelos à frente da
cara, reparei que Sora não estava ao meu lado. Levantei-me imediatamente e gritei pelo
seu nome:
        — Sora? Sora! Onde estás tu? – ela apareceu com frutos na mão.
        — Fui lavá-los. – justificou-se.
        Suspirei e aproximei-me dela. Ajoelhei-me ao pé dela e agarrei-a pelos ombros,
dizendo:
        — Da próxima vez acorda-me, está bem? Não te quero a andar por aí sozinha!
Podias ter-te perdido! Prometes-me?
        — Ok! Mas eu não te acordei porque parecia que estavas a ter um sonho feliz.
Estavas a sorrir. Não te quis acordar.
        Olhei para ela, surpreendida, e depois tentei lembrar-me do meu sonho, olhando
para o céu. Era estranho, mas nesta noite não sonhara com Sakura a cair à minha frente.
Desta vez tinha sonhado com uma outra recordação nossa com o nosso irmão. Não pude
deixar de sorrir.
        — Já sei! – disse Sora. Olhei para ela, atónita – Estavas a sonhar com o meu
irmão!
        Senti a minha felicidade a murchar.
        — É claro que não! – gritei eu, pondo-me de pé.
        — Estavas! Estavas! – gritou ela contente – Eu acho que vocês até são muito
parecidos! Não me importava nada que vocês se casassem!
        A ideia deixou-me enjoada. Depois lembrei-me que ela devia saber.
        — O quê?! Tu estás parva? A Hikari nunca te contou que os humanos e dragões
não se podem casar? – Sora olhou-me surpresa – Não? – ela abanou a cabeça
negativamente – Olha, uma vez um dragão apaixonou-se por uma humana. Ela também
se apaixonou pelo dragão. Eles iam casar, mas quando o casamento se concretizasse, ele


                                                                                     20
passaria a ser humano também. Eles desconheciam e então casaram-se. Após o
casamento, o dragão, que tinha mais de mil anos, morreu, pois nenhum ser humano
chega a essa idade. Fim de história.
        — Que horror! – Sora estava à beira das lágrimas – Ah! Mas não há problema!
O meu irmão tem mesmo 21 anos! Por isso podes casar com ele à mesma, não é?
        — Pois... sei lá! Acho que há mesmo uma lei que não permite estes casamentos.
Deves isso à tua irmã, aliás. Mas porque é que nós estamos com estas conversas?
Vamos mas é embora!
        — Sim! Hoje vou tentar aguentar meia hora sem precisar de descansar!
        — Boa sorte!
        Passaram-se vários dias, durante os quais eu passava grande parte do tempo a
dar conselhos à Sora. Mas falar com ela ou falar com uma lesma sem cérebro morta era
a mesma coisa, ela continuava sem ligar nenhuma ao que eu estava a dizer. Era
ligeiramente enervante. Ainda mais enervante era quando ela se punha outra vez a falar
de casamentos.
        Um dia, quando Sora estava a gabar-se outra vez dos poderes de Hikari, vi um
dragão negro a voar por cima das nossas cabeças.
        Foi instintivo, peguei na Sora à saco de batatas e comecei a correr atrás do
dragão. Sora reclamou mas eu não lhe dei ouvidos. Continuei a correr.
        Ao longe avistei um castelo. O castelo Kuroi. Não era nada do que eu estava à
espera, para dizer a verdade. Estava à espera do oposto do castelo Shiroi, mas não.
Aquele castelo era normal, parecia até demasiado normal e pareceu-me que era
propositadamente. O que achei mais estranho é que também tinha um jardim bem
arranjado e o castelo parecia-me harmonioso...
        Larguei Sora e disse-lhe:
        — Sora, preciso que ousas com muita atenção aquilo que te vou dizer. É muito
importante. Estás a perceber? – ela acenou afirmativamente – Tu tens de ficar aqui e...
        — Espera aí! – ouvi a voz de Haki, que apareceu do nada e eu preguei um
guincho – Ias deixar a minha irmã aqui sozinha?! És completamente idiota!
        — Claro que não a ia deixar sozinha! Ia deixá-la com a Ayu!
        — A Ayu? Mas a Ayu não está dentro de ti?
        — Sim, mas ela pode sair do meu corpo durante umas horas! Umas horas são
mais do que eu preciso para matar o Yami. Portanto eu ia deixar a Sora com ela.
        — Mas a Ayu não é a tua parte má?
        — Parte má? – ri-me daquela afirmação ridícula – Não! Ela não é parte má
coisíssima nenhuma. É outra pessoa dentro de mim que eu criei.
        — Não me interessa! Por mim até podia ser uma Deusa que ias deixá-la sozinha
na mesma!
        — O casalinho importasse? Ainda vão perder a Sora! – reclamou Ayu
sabiamente, dentro de mim.
        — Tens razão. – disse eu, para Ayu.
        — Então admites que eu tenho razão?
        — Não és tu que tens razão, estroino! É Ayu. Ela disse que ainda perdemos a
Sora!
        — Sora? – olhámos para o sítio onde Sora tinha estado.
        — Ela pode estar ainda aqui, mas não a vemos, certo? – perguntei eu assustada.
        — Sora? – Haki chamou por ela e chegámos à conclusão que ela tinha
desaparecido.
        Fomos à procura da Sora e eu decidi meter conversa para desanuviar:



                                                                                    21
— Sobre aquela conversa que estávamos a ter há bocado, aquilo de nem que se a
Ayu fosse uma Deusa, isso quer dizer que confias em mim e nela não?
        — Achas mesmo que eu confio em ti?! – perguntou ele, com brusquidão - Se
confiasse não tinha vindo atrás!
        — Vieste atrás de nós?
        — Podes ter a certeza que sim.
        — Isso quer dizer que ouviste aquela conversa do casamento?! – gritei,
assustada.
        Ele corou e disse:
        — Sim, mais ou menos.
        — Oh, meu Deus! – levei as mãos à cabeça.
        Olhei para o outro lado rapidamente. Estava farta de olhar para nada por isso
olhei para o castelo Kuroi e preguei um guincho.
        Haki, que tinha desaparecido por uns arbustos, apareceu em seguida:
        — Aya? O que aconteceu?
        — A... a... a... So... So... So... Sora... a... a... ali! – Sora caminhava lentamente e
com saltinhos à capuchinho vermelho até ao castelo Kuroi e preparava-se para bater à
porta.
        — Sora, não! – gritei, mas tarde de mais. Ela já tinha batido à porta.
        Haki e eu corremos para lá, mas abriram a porta antes de termos tempo de lá
chegar. Tivemos de nos esconder para observar a situação. O rapaz que foi abrir a porta
era parecido com o Yami. Era alto, com cabelo preto mas comprido em vez de curto
como o Yami.
        — Olá! – disse Sora contente.
        — Ora viva! O que posso fazer para ajudar?
        — Eu sou a Sora e a minha amiga Aya... – não deixei que aquilo continuasse.
Fui a correr e tapei a boca à Sora.
        Olhei para o rapaz e sorri nervosamente.
        — Eh-eh! – tinha de pensar nalguma coisa – Foi... foi engano! Desculpe! Tenha
um bom dia!
        Preparava-me para sair dali com Sora quando o rapaz disse:
        — Não. Não me parece que tenha sido engano. Aliás, o Yami está à tua espera
há anos...
        — O quê? – eu fiquei estática e olhei o rapaz nos olhos.
        — Ele precisa de falar contigo. – os seus olhos eram castanhos e muito
profundos.
        — Ele precisa de falar comigo? Ele precisa de falar comigo?! – perdi
completamente o controlo da situação – Ele quer falar comigo para quê? Para fazer com
que eu acabe como os meus familiares? Depois de tudo o que eu passei por causa
daquele traste ele vem e quer falar comigo?! Pois olha, eu.. eu.. – os olhos dele
começaram a ficar roxos e cada vez mais profundos. Comecei a ficar sonolenta e acabei
por cair nos braços dele, desmaiada.
        — Aya! – Haki saiu do esconderijo e correu até Sora.
        O rapaz pegou-me ao colo e disse-lhes:
        — Vocês não têm nada a ver com este assunto em particular, por isso façam o
favor de dar meia volta e vão lamber as botas da vossa irmã!
        — Lamber as botas?! – gritou Haki, indignado.
        — Que nojo! – Sora soltou um grito estridente e repugnado.
        — É só uma maneira de dizer. – tranquilizou-a o rapaz com um sorriso. Voltou
para dentro do castelo e os portões fecharam-se.


                                                                                            22
Haki ficou algum tempo a olhar para o portão a pensar no que devia fazer.
       — Vamos voltar. – decidiu.
       — Mas... a Aya!... – começou Sora.
       — A Hikari disse-me para te levar para casa e é para casa que te vou levar. –
Haki voltou para trás.
       Sora fez um ar amuado mas seguiu-o dizendo:
       — És uma vergonha! Abandonaste a tua mulher sem ir à luta.
       — Nada dessas conversas. E ela não é minha mulher!

                                          *****
        Quando acordei estava num cadeirão muito confortável e ainda estava meio
tonta. Apenas consegui distinguir uma silhueta. Quando olhei melhor, reparei que era o
Yami.
        Levantei-me imediatamente e saquei a espada. Yami espantou-se. Eu comecei a
tentar acertar-lhe. Tentar é mesmo a palavra certa, uma vez que ele se esquivava com
facilidade. Mas estava a levá-lo na direcção da parede. Ele ia ficar mesmo “entre a
espada e a parede”. Quando dei um último golpe para ele ir contra a parede, ele saltou
por cima de mim com um brilhante salto mortal. Virei-me. Ele deu-me uma pancada na
mão que me fez largar a espada. Pegou-me nos pulsos, de maneira a que eu não me
conseguisse mexer.
        A princípio, pensava que ele me ia matar, por isso fechei os olhos, mas como ele
nem se mexia, abri-os e olhei-o olhos nos olhos.
        Ele estava tão ou mais giro do que me lembrava dele. O cabelo preto curto mas
com uma enorme franja a cair-lhe sobre os lindos olhos... verdes.
        Ia-me dando um chilique! Cai no chão e tentei lembrar-me melhor do passado.
Não! Não podia ser. Eu lembrava-me perfeitamente dos seus olhos amarelos. Mas eram
verdes.
        — Isso não são lentes de contacto? – perguntei eu, numa voz familiarizada,
afinal, conhecia-o bem.
        Ele sorriu com essa possibilidade e depois acenou negativamente. Ajoelhou-se
ao pé de mim e disse, agora com uma expressão que mostrava serenidade e tristeza:
        — Eu estou aqui há quase 6 anos...
        Então... não podia ter sido ele.
        — Como... então... não foste tu? – perguntei, cada vez mais confusa.
        Ele acenou negativamente e depois disse:
        — Há uma pessoa que espera há tanto tempo como eu ver-te.
        Era demais! Eu estava tão confusa que acho que dos meus olhos saíam pontos de
interrogação a todo o tempo...
        Yami virou-se para a porta que estava ao lado e disse:
        — Podes entrar.
        A porta abriu-se e uma rapariga que devia ter a minha idade, apareceu à porta.
Ela tinha o cabelo mais comprido que o meu, mas era exactamente da mesma cor.
Usava duas tranças, mas apenas com um bocado de cabelo que ficava mais para a
frente. Os olhos dela eram verdes claros. Não havia sombra para dúvidas: era a Sakura.
        — Aya? – perguntou ela, timidamente.
        — Sakura? – olhava para ela com cada vez mais certeza de que era a Sakura.
        — Aya! – ela correu para mim de braços abertos e abraçou-me feliz.
        Fiquei ali especada, sem me mexer. Não sabia o que fazer. Nem sequer sabia se
estava a sonhar. A Sakura estava viva, o Yami não tinha matado ninguém. Se era um
sonho, a última coisa que eu queria era acordar. Na verdade tive medo. Medo de acordar


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e ver o cabelo da Sora espetado na minha cara devido a ela mexer-se muito durante o
sonho.
        — Aya! Estou tão feliz por estares bem! Eu preocupada a pensar que não tinhas
sobrevivido! E tu deves ter pensado que eu é que não tinha sobrevivido. Eu cai, mas o
Yami apareceu pelo portal e tomou conta de mim, antes que ela aparecesse. Ele tem
estado a tratar de mim. Tem sido muito simpático. Ele disse que tu estavas viva e íamos
tentar encontrar-te. Mas tu sabes que os dragões não podem entrar na parte humana
deste Mundo, por isso tivemos de esperar. O Yami é um grande mariquinhas. Não me
quis deixar ir lá sozinha! – era, definitivamente, a Sakura. Ela falava alegremente,
mesmo estando a falar de coisas sérias – Porque é que estás com essa cara? O Yami não
matou ninguém. Nem os nossos pais nem o Kyou. Mas acho que já deves ter chegado a
essa brilhante conclusão, não?
        — Claro. – respondi eu.
        — Eu vou explicar tudo. – disse Yami, fazendo-nos sinal para entrar na outra
sala.
        Era uma sala com uma mesa gigante. Yami sentou-se em cima da mesa, como
era costume dele quando pensava. Sakura puxou uma cadeira para mim e outra para ela.
Sentámo-nos e ficámos a olhar para ele, à espera que começasse a falar.
        — Tudo começou num dia em que eu estava a ir para casa, depois de ter ido
fazer os trabalhos de casa com o Kyou. Quando estava a meio do caminho, vi um
círculo esquisito, com vários tons de azul, que girava e parecia feito de fogo. Um portal.
Aproximei-me porque não sabia o que era. Fui sugado lá para dentro. Isto aconteceu
quase à 5 anos e meio. Vim parar a este Mundo, que apenas conhecia dos livros. O
Mundo dos dragões. Estava a passar ao pé do castelo Shiroi e o pai da Hikari encontrou-
me. Levou-me com ele e fiquei por lá aproximadamente meio ano. Os pais dela
pareciam gostar de mim e tratavam-me como um filho. Quem não gostava era a Hikari,
que dizia que eu era perigoso. Um dia, quando eu estava a fazer-lhes companhia, a
Hikari apareceu, matou os pais e culpou-me de tal acto de barbaridade – estava chocada,
mas apenas fiquei a olhar para ele de boca aberta, queria acabar de ouvir a história –
Tive de fugir. Mas antes de sair do castelo ainda andei a tentar descobrir o que queria a
Hikari. Apenas sei que ela foi para a Terra a partir de um portal que ela própria formou.
Não tenho a certeza, mas acho que foi ela que matou os vossos pais e irmão. – não podia
acreditar! A pessoa que matara a minha família tinha estado à frente do meu nariz e eu
não me apercebera! – Também não tenho a certeza quanto às razões, mas acho que foi
por puro divertimento, ou para me provocar. Ela sabia o quanto eu gostava de vocês
todos. E ela estava cega pelo ódio. Quando sai do castelo, fui encontrando outras
pessoas que a odiavam, entre elas a Sakura, então formei uma outra parte deste Mundo.
Construí um outro castelo e desde então, a Hikari tem-nos declarado várias guerras, mas
ela continua sem saber que a Sakura está comigo. Eu tenho tentado várias vezes um
tratado de paz, mas ela e os irmãos dela, que continuam a achar que eu matei os seus
pais, não querem. Os dragões que tu feriste – olhou para mim, ao que eu desviei a cara,
corando – iam propor outra vez a paz. Foi graças a eles que nós descobrimos que já
vinhas a caminho. – ele olhou para nós e como não dizíamos nada ele acrescentou –
Fim.
        — Eu... estou... chocada... – acabei por dizer – Tive à minha frente a pessoa que
matou os meus pais e o Kyou e nada fiz.
        — Ora! Tu não sabias! Porque é que ias fazer alguma coisa à Hikari se ainda não
sabias? – Sakura mostrava-se algo divertida com a minha expressão e deve ter achado a
minha frase estúpida...



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— Pelo que sei ela vai tentar outro ataque para nos matar de vez. Mas ouvi dizer
que ela, a meio do caminho vai matar os dragões brancos e depois é que nos vai tentar
sozinha. – ele olhou para mim à espera de uma reacção – “Dragões brancos” inclui os
irmãos dela.
        — O WUÊ?! – gritei, levantando-me.
        — Ela é uma maníaca! Eu sabia o plano dela. Era mais uma das razões para ela
se querer ver livre de mim. Ela quer ser a mais forte deste Mundo e para isso precisa de
ser a única da raça dos dragões. Os humanos são mais fáceis de manipular, apesar de
alguns, como nós, podem aprender a controlar elementos.
        Voltei a sentar-me e olhei fixamente para os meus pés.
        — Tu conheces os irmãos dela, não é? – perguntou-me Yami.
        — Sim. – respondi eu.
        — Tens de os avisar! – disse Yami, agarrando-me pelos ombros, como se eu
fosse uma idiota a quem era preciso explicar tudo ao pormenor e ser abanada como uma
boneca de trapos ao mesmo tempo para a informação ser incorporada no meu cérebro –
Tens de lhes dizer que correm perigo! Se alguma coisa correr mal, nós salvamos-te.
        Eu olhava para ele, imóvel, sem dizer nada.
        — O mais provável é também veres a Hikari... – disse ele a custo – Por isso tens
de conseguir controlar-te. Não podes tentar matá-la, por muito que queiras, senão és
logo presa.
        Ele continuou a dar-me conselhos enquanto nos dirigíamos até à varanda.
        Chegados à varanda, Yami deu-me o último conselho e transformou-se num
dragão.
        — Como?! – perguntei eu, abismada – És um dragão?!
        — Foi preciso muito treino, mas agora consigo usar todos os poderes de um
dragão. – explicou ele.
        Sakura montou-se e estendeu-me a mão, sorrindo. Eu retribui o sorriso e deu-lhe
a mão, deixando que ela me ajudasse a montar.
        Voámos durante algum tempo, afinal agora a distância era mais longa e agora
Yami carregava duas pessoas e não apenas eu, mas chegámos relativamente depressa
em relação com a estes factores.
        Yami achou melhor aterrar ao pé da cascata, mas escondido pelas árvores.
Sobrevoavam a cascata vários dragões brancos, reconheci um deles como sendo o Haki.
        Sai do meio das árvores e olhei para cima. Haki viu-me e aproximou-se,
transformando-se.
        — Aya! Estás viva! Estás ferida? – ele olhou-me com atenção, talvez à espera de
ver alguma ferida – O Yami não te matou? – depois esbugalhou os olhos – Não! Tu
mataste o Yami?!
        Fiquei a olhar para ele com os olhos vazios enquanto pensava no que lhe havia
de dizer: “Olha, a tua irmã é uma assassina!” Nah! “A tua irmã cometeu vários actos
violentos.” Muito menos.
        — Aya? O que se passa?
        Não aguentei:
        — Eu preciso de vos avisar. – acabei por dizer – Uma... pessoa... disse-me a
verdade. Vocês estão todos em perigo.
        Ele olhou para mim como um atum enlatado e acabou por dizer:
        — Tu endoideceste!
        — A sério! – passei-me completamente e disse-lhe tudo – Vocês podem morrer
a qualquer instante! Quem matou os vossos pais não foi o Yami! – ele abriu mais os
olhos, que pareciam querer saltar-lhe das órbitas. Deve ter desconfiado que fora o Yami


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que me dissera aquilo – Também não foi ele que matou os meus pais e o meu irmão!
Foi ela! Foi a Hikari! – tapei imediatamente a boca.
         — Quem é que te disse isso? Foi o Yami, não foi? – ele nem esperou pela minha
resposta – Tens de vir comigo. A Hikari pode tratar-te, ela...
         — Não! A Hikari não! – levei as mãos à cabeça e gritei.
         — Este é um dos poderes dos dragões negros. Podem dar-te a volta à cabeça e
fazer-te uma lavagem cerebral. Vem comigo.
         Abanei a cabeça negativamente e ele fez-me o mesmo que o dragão negro me
fez no castelo Kuroi. Desmaiei outra vez e ele levou-me até ao castelo Shiroi.
         Quando acordei ia-me dando um fanico. Vi a Sora quase em cima de mim, de
tão preocupada que estava e Haki estava ali ao canto da cama onde me encontrava.
         — O que aconteceu? – perguntei eu.
         Sora saltou-me para cima e abraçou-me sem aviso prévio.
         — Estás viva! – gritou ela, contente.
         — A Hikari deve estar a chegar. – informou-me o Haki.
         Hikari apareceu e eu concentrar-me nas palavras de Yami. Tinha de manter a
calma. Tinha de manter a calma. Ela aproximou-se ainda mais. Tinha de manter a
calma. Mas vi-lhe os olhos amarelos.
         Saquei da minha espada e tentei matá-la. Ela desviava-se de todos os meus
ataques. Eu estava descontrolada e nem sequer estava a pensar na luta. Apenas pensava
em matá-la.
         Haki agarrou-me e Hikari chamou os guardas. Nem vale a pena dizer que fui
presa...
         Fiquei presa nem uma hora, porque pouco depois a parede foi rebentada e vi
Yami a voar com Sakura montada.
         — Depressa! Monta! – gritou ela.
         — Tenho de ir buscar a minha espada! – gritei em resposta.
         — Afasta-te! – avisou Yami.
         Eu saí da frente e Yami lançou chamas da boca, pelo que as grades ficaram todas
derretidas.
         — Fixe! – admirei-me.
         Mal saí daquele cubículo, vi logo a minha espada e peguei nela. Atei-a no cinto e
saltei para cima do Yami.
         Estávamos quase a abandonar a área pertencente ao castelo quando vimos os
dragões brancos a aproximarem-se. A Hikari queria mesmo ver-nos mortos! Atrás de
nós estavam a voar mais de 50 dragões brancos. Um deles era o Haki.
         Acho que o Yami deve ter dito alguma coisa à Sakura, porque ela se levantou,
formou um selo com as mãos a dizer uma ladainha de palavras em latim, muito
rapidamente. De tudo o que ela disse só apanhei “tonitrus” e “tonitrua”, que significam,
respectivamente, trovão e trovoada.
         Gradualmente, no céu, que estava completamente descoberto, foram aparecendo
nuvens completamente negras e quando Sakura fez um sinal com o braço, vários
enormes trovões caíram entre nós e os dragões brancos, não lhes permitindo continuar a
perseguição.
         Sakura sorriu, triunfante, e voltou a sentar-se.
         — Fixe! – exclamei eu, gabando-a.
         O sorriso dela ia de orelha a orelha.
         Chegámos ao castelo Kuroi e fomos “conferenciar” outra vez.
         — Desculpem. Estraguei tudo... – disse eu, quando estávamos já na sala – Sou
uma idiota.


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— Não digas isso. Fizeste o teu melhor. Avisaste-os. Eles é que não acreditaram.
Se eles morrerem, só se podem culpar a eles próprios. – disse Sakura, tentando animar-
me – Além disso, eu e o Yami aproveitámos para descobrir os planos da Hikari. Sabes,
eu também consigo ler os pensamentos. Ela está a pensar em atacar-nos outra vez, mas
quando estiverem em determinado ponto do caminho para cá, quer matá-los a todos, e
então matar-nos a nós.
        Olhei para ela. Estava tão diferente! Dantes era eu que lhe dizia esse tipo de
coisas quando ela pedia desculpa por ter feito alguma asneira. Não pude deixar de sorrir.
Ela estava tão ou mais forte do que eu. Levantei-me e disse:
        — Temos de a impedir!
        — Temos de ir para um ponto próximo do local da «matança». Eu tenho um
plano. – disse Sakura.

                                        *******

        Estávamos perto da cascata à espera. Sentimos, através do vento, que eles
estavam a chegar e Sakura procurou na linha principal alguém. Olhou directamente para
Haki com os olhos completamente verdes e, pouco depois ele pousou ao pé de nós.
        — Haki! – corri para ele – Onde está a Sora?
        — Convenci a Hikari a deixá-la em casa. – respondeu ele, confuso.
        — Mas eu não fiquei! – Sora apareceu de um arbusto, com o cabelo todo
despenteado e cheio de folhas e ramos.
        — Que alívio! – exclamei – Haki! – agarrei-o pelos ombros - Tens de mandar
recuar as tropas antes que seja tarde de mais!
        — Ainda estás com essa história? Ninguém está em perigo... – Haki reparou em
Yami e ia dizer qualquer coisa, mas ouviu-se uma explosão e vimos os dragões brancos
a caírem na cascata. Todos eles. Mortos. Yami tinha-se posto à frente de Sora para
impedir que ela assistisse a tal cena, mas ela apercebera-se que a irmã tinha morto todos
os dragões brancos. Pela cara de Sora abaixo, corriam lágrimas. Haki esbugalhou os
olhos. Quando acabou de assimilar o que tinha acontecido o ódio tomou conta dele, mas
eu e Sakura agarramo-lo e tapámos-lhe a grande boca. Ele limitou-se a emitir raios de
raiva à irmã, que flutuava no ar, com um sorriso maquiavélico na cara.
        Hikari afastou-se em direcção ao castelo Shiroi e Yami pegou em Sora ao colo.
Virou-se para nós e disse:
        — Ela está a voltar para o castelo Shiroi. Temos que ir para lá. Entretanto,
teremos de pensar num plano – ele seguiu caminho e Sakura seguiu-o logo. Eu fiquei a
olhar para Haki, que estava agora chocado a ver os dragões a cair cascata abaixo.
        — Haki...
        — Vamos! – decidiu ele, voltando-se e seguindo-os. Eu fui atrás.
        Durante a viagem só se ouvia a Sora a soluçar de vez em quando.
        Chegámos ao castelo Shiroi. Já não parecia o mesmo. Estava muito mais escuro.
Começou a chover. Haki olha tristonho para o castelo.
        — Como é que entramos? – perguntou Yami a Haki.
        Haki olhou para ele com antipatia, mas depois aliviou a expressão e respondeu:
        — O castelo não mudou nada desde que foste embora... mas acho que é melhor
entrarmos pelo portão das traseiras. Ela não vai estar à espera. Muito menos agora que
não tem guardas para estarem de vigia... – Haki olhou para o chão e cerrou os punhos
com toda a força.




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— Então é melhor separarmo-nos. – disse Yami – Eu conheço uma passagem
secreta. A Hikari provavelmente está na sala do trono a vangloriar-se. Quem vem
comigo?
        — Eu! – disse Sakura – A Aya vai com o Haki e a Sora vai com quem quiser!
        — Olha lá, quem és tu para estares para aqui a dar ordens? Aliás, quem és tu? –
perguntou Haki.
        — Cuidadinho, rapazote, eu sou a irmã gémea do amor da tua vida!
        — O quê?! – gritámos eu e o Haki ao mesmo tempo.
        Sakura ignorou-nos e virou-se para a Sora.
        — Com quem queres ir? – perguntou-lhe ela, amavelmente e afagando-lhe o
cabelo.
        Ela encolheu os ombros. Ainda estava o colo de Yami e tinha os olhos
vermelhos devido ao choro. Encostada ao peito de Yami e parecia não querer sair do seu
colo.
        — Ela vem connosco. – Sakura afagou-lhe novamente a cabeça e depois voltou
a virar-se para Haki – Se não te importares.
        — Não. Pode ir com vocês. Ficas bem? – perguntou à irmã.
        Ela acenou afirmativamente.
        Fomos todos até ao portão das traseiras, que ia dar à cozinha, ou umas das
cozinhas, não sei. Dentro da cozinha havia uma despensa. Dentro dela, uma das paredes
empurrava-se e mostrava uma passagem secreta.
        — Sora, - começou Yami – agora vamos ter ir a gatinhar, está bem? – Sora
acenou e Yami pousou-a no chão – Eu vou à frente, tu vais a seguir e a Sakura vai no
fim, ok?
        — Chefe! – Sakura estava até bastante animada, ou pelo menos aparentava estar
– Agora os dois pombinhos continuam por ali.
        — Sakura! – gritei. Sakura continuou com este tipo de conversas, por isso
peguei em Haki e afastei-me, dizendo – Vamos!
        — Eles querem é despachar já as coisas! – gritou ainda Sakura.
        Não respondi.
        — Agora por onde é?
        Sem uma palavra, Haki seguiu por um caminho e eu fui atrás.
        Durante algum tempo andámos sem dirigir palavra, mas quando eu ia abrir a
boca para falar, Haki disse, relutante:
        — Desculpa. Devia ter acreditado em ti.
        — Não faz mal. A tua reacção foi muito normal, afinal, como podias suspeitar
que a tua irmã tinha matado os teus pais? Se me viesses dizer que a Sakura tinha matado
os meus pais, eu também não acreditaria. – eu tentei confortá-lo.
        Continuei a dizer palavras encorajadoras e, de repente ele estacou. Choquei
contra ele.
        — O que foi? – perguntei.
        — Chegámos. – disse ele. Olhei em frente. Reconheci a gigantesca porta que
levava à sala do trono. A porta que levava ao sítio onde Hikari se encontrava.
        — Haki? – ele parecia meio hipnotizado e hesitante.
        Tomei coragem e coloquei a mão na maçaneta. Haki ficou a olhar para mim,
atarantado. Olhei para ele com olhos decididos. Ele pôs também a mão na maçaneta, por
cima da minha, e juntos abrimos a porta que levava à Hikari.
        Efectivamente, Hikari estava sentada no trono e, ao ver-nos levantou-se e disse:
        — Ora, ora. Então sempre é verdade aquilo que vocês dizem lá na Terra: Vaso
ruim não quebra.


                                                                                     28
— Obrigada, nós já reparámos. – disse eu, referindo-me a ela.
        — Aya, Aya. Eu não estou com paciência para joguinhos parvos.
        — Está-te a dar para repetires a primeira frase das frases, não?
        Ela lançou-me um feitiço e eu protegi-me com uma barreira de água. Não estava
à espera deste ataque. Não era um ataque de luz. Era um ataque de trevas.
        — Eu estou mesmo mal-humorada, por isso não me provoques. – disse Hikari,
ainda com a mão a fumegar devido à potência do feitiço – E tu, meu irmão, espero que
compreendas se eu disser que tenho de matar-te.
        Uma das paredes rebentou. Yami e Sakura, que levava Sora ao colo, saltaram cá
para baixo.
        — Cambada de idiotas... – começou Hikari. À sua volta foi crescendo uma
névoa negra, que se foi expandindo pela sala. Essa névoa cercou-nos. Fomos todos
separados.
        — Haki? Sakura? Yami? Sora? – gritei. Mas nenhum deles me ouviu.
        Formei um selo e Ayu separou-se de mim.
        — Preciso da tua ajuda. – disse eu – As duas devemos conseguir acabar com
isto.
        — Ok.
        Mandámos uma cascata de água para cima da névoa, que enfraqueceu, mas
quando íamos tentar novamente, Hikari mandou-me um feitiço e eu cai para o chão.
        Quando me levantei, Haki apareceu, cheio de cortes, cabelo despenteado e a
respirar muito depressa e pela boca. Obviamente tinha passado através da névoa.
        — Haki! És parvo?
        Acho que ele ficou muito mais surpreso do que eu ao ver-me a mim
acompanhada pela Ayu, mas não se deixou afectar. Foi-se pôr ao meio e começou a
falar. Convocou uns ventos tão fortes que a névoa desapareceu.
        Olhámos em volta. Não se via a Hikari em lado nenhum.
        Yami também já estava fora da névoa e tentava libertar Sakura e Sora.
        Íamos ajudar quando Hikari apareceu de repente e, agarrando-me pelo pescoço,
mandou-me pela janela, indo atrás.
        Caímos as duas no jardim. Dei-lhe um pontapé e rolei para longe dela. Levantei-
me. Ela seria tão parva ao ponto de me deixar no meu elemento? Ou teria o seu truque
na manga?
        Haki, Yami, Sakura, Sora e Ayu saltaram também para o jardim.
        — Aya! – gritou Sakura, pois Hikari investia de novo contra mim. Parecia
querer matar-me com as suas próprias mãos. No verdadeiro sentido da frase.
        Consegui esquivar-me. Ela não desistia. Tentei mandar-lhe com um feitiço, mas
não funcionou. Não conseguia formular feitiços! Hikari apanhou-me e mandou-me
contra uma fonte que ali estava ao pé.
        Riu-se desmedidamente e depois explicou:
        — Neste jardim, apenas eu tenho poder. Tu nada podes fazer.
        Olhei para ela e depois procurei a minha espada. Não a encontrava. Olhei em
volta. Estava longe. Devia ter-se desatado do meu cinto e voado quando Hikari me
acertou.
        Yami e Sakura tentavam, desesperadamente, fazer alguma coisa.
        Ayu aproximou-se e acertou em Hikari com um feitiço de gelo.
        — Como? Como é possível? – Hikari estava confusa.
        — Desculpa, querida – ela fez um sotaque esquisito que dava vontade de rir –
mas eu sou imune aos teus feitiços de meia tigela.
        Hikari apontou a mão dela na minha direcção e formulou um feitiço.


                                                                                     29
Ayu ia impedir, mas foi demasiado lenta. Vi o feitiço a vir contra mim. Tentei
sair dali, mas não conseguia. Hikari controla os 4 elementos. A água não me largava.
Fechei os olhos e pedi desculpa aos meus pais e ao Kyou por não os ter vingado. Ouvi
Sakura a gritar o meu nome e a dizer para Yami a largar. Depois ouvi um guincho de
Sora. Abri os olhos. Olhei horrorizada. Estava à minha frente Haki, que tinha levado
com o feitiço.
        — Haki! – gritei.
        Tal foi o espanto de Hikari que me soltou, pelo que eu corri para Haki e ajoelhei-
me ao pé dele.
        Ayu foi a correr até lá.
        Haki disse-nos:
        — A flor... a rosa... se a rosa for destruída... a Hikari também é... – começou a
tossir e da sua boca escorreu um fio de sangue.
        — Porquê? – eu soluçava.
        — Porquê, perguntas tu... não sei... Aya... – mas não conseguiu dizer mais nada.
        Levei as mãos à boca e chorei descontroladamente. Ouvi Sora a chorar também,
agarrada a Yami, que olhava tristemente. Sakura tinha lágrimas a escorrer-lhe
silenciosamente pela cara abaixo. Ayu limitou-se a fechar-lhe os olhos.
        Hikari nem esperou aproveitou-se e levou novamente as suas mãos ao meu
pescoço. Fui contra uma árvore.
        Tentei abrir a boca para falar, mas Hikari apertou-me mais a garganta e da minha
boca apenas saíam ruídos abafados de dor.
        Ayu havia sido também ela imobilizada por um feitiço de Hikari, pelo que não
conseguia fazer nada para me ajudar.
        Olhei, então, para Sakura e transmiti-lhe a seguinte mensagem, tendo em conta
que ela era capaz de ler as mentes:
        — Sakura, pega na espada e corta aquela rosa. Esmaga-a se for preciso! O Haki
disse que era a única maneira.
        Sakura ouviu e olhou em volta. Viu a espada e correu para ela.
        Tirou-a e correu para a rosa. Cortou-a e pegou nela. Voltou e perguntou:
        — Hikari? – ela olhou e ficou paralisada – O que é que isto significa para ti? –
Sakura tinha na mão aberta, a rosa.
        — Não! Larga isso! – Hikari largou-me e correu para tentar impedir Sakura, mas
a minha irmã fechou a mão e esmagou, bem esmagada, a rosa.
        Hikari estacou e parecia estar a sufocar. Levou as mãos ao pescoço e emitiu
estranhos sons de sufocamento. Acabou por cair no chão, morta. A pessoa que matou os
meus pais e o meu irmão... finalmente... morta.
        Sakura correu para mim e perguntou-me várias vezes se eu estava bem.
        Ainda não me tinha recomposto pela morte do Haki, portanto continuava a
soluçar, enquanto olhava para cima. Estava a parar de chover.
        Yami apareceu ao pé de nós, com Sora ao colo, a chorar descontroladamente.
        Ayu olhou para nós e depois para o corpo imóvel de Haki.
        Ela formou um selo e começou a dizer uma lengalenga de palavras e eu olhei
para ela.
        — O que estás a fazer? – perguntei eu.
        Ela não respondeu. Continuou. Ela não podia estar a fazer o que eu estava a
pensar que ela estava a fazer! Ela odiava o Haki desde o dia em que ele dissera que ela
era a minha parte má!
        — Ayu?



                                                                                       30
Ayu começou a desfazer-se em bocadinhos minúsculos de gelo, que brilhavam
imenso com o sol que agora aparecia no céu. À volta de Haki apareceu uma luz
dourada.
       Levantei-me e corri para lá.
       Quando cheguei ao pé deles, de Ayu só restavam os olhos e parte do cabelo e
Haki voltava a ter cor. Olhava para um e depois para o outro.
       — Ayu... obrigada... – pelos olhos consegui perceber que ela estava a sorrir.
       Ayu desapareceu totalmente e Haki voltou a respirar. Ajoelhei-me ao lado dele.
Quando ele abriu os olhos e se sentou a custo eu mandei-me para cima dele, abraçando-
o.
       — Um milagre... – disse Sakura, estupidamente, arrastando as palavras.
       Sora olhou e ao ver o irmão vivo correu para lá.
       — Aya! – gritava Haki – Sai de cima de mim! Pareces a minha irmã!
       — Quero lá saber! – gritei eu.
       Apareceu Sora e mandou-se para cima de nós.
       Sakura e Yami aproximaram-se lentamente observando-nos.
       — Quem diria... a minha irmãzinha a falar com um rapaz sem seres tu ou o
Kyou... – disse Sakura.
       — Realmente... – disse Yami.
       Sora largou Haki e correu para Yami e Sakura, dizendo qualquer coisa muito
depressa, não se percebendo nada.
       — Então? – olhei para Haki, curiosa.
       — Então o quê? – perguntou ele, desconfiado.
       — Olha, tenho duas perguntas. Primeiro: como é morrer?
       — É esquisito. – disse ele, estupidamente – Estás morto...
       — Não me digas Sherlock Holmes!
       — O quê?
       — Esquece! Agora, a segunda pergunta: porque é que te meteste à frente?
       Haki olhou para o lado, muito corado.
       — Olha, porque...
       — Porque quer casar contigo! – gritou Sora, muito contente.
       — Pára com essa história do casamento! – gritou Haki.
       — Olha, meu rapaz. Fica sabendo que disfarças muito mal. Está na tua cara que
gostas da minha irmã! E claro que foi por isso que a salvaste! – disse Sakura.
       — Não! – gritou Haki.
       Ficámos ali durante algum tempo a discutir coisas parvas deste género. Sakura
não se calava com a sua teoria idiota e Sora com as conversas sobre casamentos.
       Eu e Haki replicávamos, mas elas não ligavam.
       Yami limitava-se a sorrir e a olhar para Sakura. Ela ali a dizer coisinhas mas eu
sempre que suspeitei!

                                        *******

       Passaram a não haver dois, mas apenas um castelo para os dragões. Já não eram
nem dragões brancos nem dragões negros. Eram todos dragões. A única diferença era a
cor.
       Humanos naquele Mundo e dragões passaram a viver em harmonia.
       Voltei a ver várias vezes os meus pais adoptivos. Eles adoraram conhecer a
Sakura e o Haki...



                                                                                      31
Bem... apesar de tudo, a Sakura e a Sora tinham razão. Eu e o Haki estamos
casados. Mas eu também não me enganei! A Sakura e o Yami também estão casados. O
que torna os nossos casais tão engraçados é que, no exemplo deles, a Sakura e o Yami
são o oposto: ele está sempre calado e ela não se cala. Ela não para quieta, o Yami está
sempre calmo e etc. Os opostos atraem-se, penso eu. E eles completam-se... Eu e o Haki
quase nunca estamos de acordo, mas mesmo assim damo-nos muito bem.
         A Sora é uma sortuda que tem montes de rapazes (dragões e humanos) atrás
dela. Tornou-se numa jovem mulher (ela odeia que eu lhe chame isto) muito bonita
(aliás, como a Hikari era) e muito simpática, por isso é normal.
         Temos vivido muito felizes e acho que é uma boa altura para acabar a história.
Daqui a muitos anos hei-de estar a contar esta história aos meus netos...

                                          Fim

                                                                    Elsa Vila, nº 5, 8º B




                                                                                      32
Confissões


        Apareceste na minha vida. Preparara-me inúmeras vezes para aquele momento,
mas quando te vi foi inesquecível.
        Namoramos durante seis anos, viajámos, vimos coisas magnificas, casámo-nos,
tivemos três maravilhosas filhas, foram anos que me marcaram profundamente e os
quais nunca esquecerei.
        Pensei realmente que fosse para toda a vida, via-te como a minha alma gémea,
mas agora, agora percebo finalmente que tudo não passou de ilusões, não que esteja
arrependida, de maneira alguma, simplesmente percebo agora que nem tudo dura a vida
toda.
        Depois de vinte e oito anos juntos, hoje com cinquenta e quatro anos de idade,
enfrento um divórcio difícil. Nunca pensei que pudesse acontecer, mas aconteceu, sim,
tu trocaste-me por outra, uma mulher mais nova, com mais vida pela frente, uma mulher
de sucesso que apenas se quer divertir. Eu amava-te, no entanto tu deixaste-me, sem a
mais pura consideração por mim, por nós, e agora estou sozinha, ou quase.
        As minhas filhas são neste momento tudo o que tenho, mas já crescidas, tem
vida própria e apenas a mais nova continua a viver comigo.
Temo ficar sozinha, a solidão assombra-me, e para meu descontentamento, aproxima-se
e começa a ameaçar-me. Mas eu terei forças, sei que quando chegar a altura eu
conseguirei enfrentá-la. Por enquanto, só me resta esperar, esperar que o tempo passe,
pela vida. E talvez, talvez um dia encontrarei alguém com quem recomeçarei uma nova
vida e passarei o resto dos meus dias, se não for tarde de mais.




                                                            Ana Rita Nunes, nº 2, 9º C




                                                                                   33
O Feitiço Quebrado


     Era uma vez um reino longínquo, cheio de mistérios escondidos nos seus bosques e
florestas. Aí viviam muitos animais, todos diferentes, mas todos eles tinham medo de
entrar na grande gruta. Nunca ninguém se tinha atrevido a lá entrar, pois era escura e de
noite ouviam-se ruídos lá dentro.
     Perto da floresta havia uma grande casa, (parecia um palácio) com grandes janelas e
dois andares, com um jardim imenso, cheio de flores e grandes relvados. Nessa casa
vivia uma família muito rica, da alta sociedade. O D. Filipe, a D. Henriqueta e a
pequena Mariana eram os únicos que lá viviam com mais cinco criadas.
     A pequena Mariana tinha apenas oito anos, mas já tinha muita liberdade, pois os
seus pais deixavam-na ir passear pela floresta. Como era muito curiosa andava sempre à
procura de novos amigos (pois, porque ela gostava muito dos seus amigos da floresta,
os animais), até ao dia que se deparou com a grande gruta. Ficou espantada com o que
via, nunca tinha visto uma gruta tão escura. Desatou a correr para casa e quando chegou
pegou numa vela, nuns fósforos e voltou para o sítio da gruta. Acendeu a vela e muito
cautelosamente entrou, as paredes da gruta tinham lindos desenhos, de fadas e dragões,
de estrelas cintilantes, de sonhos e de magia. Os olhos de Mariana brilhavam tanto
como as estrelas da gruta. De repente viu um vulto lá ao fundo e continuou a andar para
ver o que era, à medida que se ia aproximando o vulto ficava cada vez maior e ela
apercebeu-se que era um dragão e decidiu parar. Ganhou coragem e disse:
     - Porque estás triste?
     O dragão deu um salto e respondeu:
     - Estou sempre triste, fui enfeitiçado e não consigo quebrar o feitiço.
     - Isso quer dizer que não és um dragão na realidade? – perguntou a Mariana.
     - Não, sou um príncipe e só posso quebrar o feitiço quando encontrar um coração
bondoso, alegre, amigo e pô-lo dentro desta caixa de ouro! – disse o dragão.
     - Não te preocupes que eu vou ajudar-te a encontrar esse tal coração! – disse a
Mariana muito confiante.
     - Obrigado, vou confiar em ti!
    Saíram os dois da gruta e começaram a conversar, a conversar, a conversar, a
conversar, até ficar de noite e Mariana teve de ir para casa, mas prometeu ao dragão que
no dia seguinte voltaria à gruta.
     Durante a noite Mariana sonhou com o dragão, sonhava que voava com ele e
conversavam muito.
     No outro dia ela foi ter com ele e passaram o dia inteiro juntos à procura de um
coração, mas nada feito, não encontraram nada. Nos dias seguintes o mesmo se passou e
cada vez ficavam mais amigos.
     Um dia de noite Mariana andava ás voltas na cama, não conseguia dormir pois
tinha-se apercebido que o dragão tinha esse tal coração bondoso, alegre e amigo e por
muito que lhe custasse tinha de fazer o que fosse preciso para quebrar o feitiço.
     De manhã quando acordou, vestiu-se, tomou banho, foi à cozinha, pegou numa faca
que escondeu na sua lancheira e foi para a floresta. Chegou à gruta e bastante nervosa
com as lágrimas nos olhos pegou na faca e matou o dragão. Mariana estava triste mas
pegou no coração e colocou-o dentro da caixa.
     Foi ter com o dragão que estava ali estendido no chão e começou a chorar, mas de
repente o dragão começou a transformar-se num lindo príncipe e Mariana ficou com um
grande sorriso nos lábios. O príncipe olhou para ela e disse:


                                                                                      34
- Obrigado por me teres ajudado a quebrar o feitiço, vai ter com a tua família. Eu
voltarei para o meu país.
    - Está bem, mas vai escrevendo para dar notícias! – disse a Mariana.
    - Não te preocupes que eu irei escrever, agora vai, os teus pais já devem estar
preocupados.
    E assim foi, despediram-se e cada um foi para o seu caminho.




                                 Sofia Cordeiro Fadigas Rodrigues Colaço, nº 25, 7º B




                                                                                   35
Diogo e o Anjo


     Era uma vez um rapaz que se chamava Diogo. Diogo não tinha família nem casa,
apenas vagueava por entre as ruas de uma grande cidade. Ele gostava de ver o mar, pois
lembrava-se de sua mãe, que tinha os cabelos ondulados como as ondas brilhantes e
fortes que rebentam na areia macia da praia.
        Quando não passeava na praia, andava pelas ruas estreitas e longas da cidade.
Era uma cidade com muitas lojas e com montras luxuosas. Os cafés tinham deliciosos
doces e salgados e as casas eram grandes e acolhedoras. Na cidade havia um jardim,
com flores de todas as cores, árvores muito altas e um grande lago, cor de turquesa. Era
aí que Diogo dormia, entre os arbustos, no Inverno frio e gélido tapava-se com mantas
que lhe davam. A sua roupa era feita de bocados de tecido que sobravam das lojas que
os vendiam.             Diogo era alto e magro, loiro de olhos cor de avelã.
        Por vezes as pessoas perguntavam:
        -Que rapazito tão bonito! Quantos anos tens?
        -Tenho os anos que ainda faltam para o resto da minha vida! - respondia Diogo,
porque não sabia a sua idade.
        Todos os dias de manhã, a Sra. Luísa dava-lhe pão e um sumo que tinham de
dar para o resto do dia. Não lhe podia dar mais, pois já tinha uma certa idade e o
dinheiro não chegava para tudo. Diogo gostava muito dela, eram grandes amigos. A Sra.
Luísa era doce e bondosa, tinha os cabelos grisalhos e os olhos verdes.
     Todos os dias, ao fim da tarde, ele ia à praia, deitava-se na areia a ouvir o cântico
das ondas e a olhar o azul do céu. Nos dias de chuva abrigava-se numa pequena gruta
que lá havia. Certo dia quando brincava com a espuma do mar, viu uma mulher muito
bonita, de longos cabelos ruivos e com um vestido azul comprido, que chamava por ele
enquanto caminhava por cima das ondas em sua direcção.
     -Diogo! Diogo!
     -Quem és tu? O que queres de mim? – perguntava ele muito aflito.
     -Não tenhas medo, eu não faço mal! – dizia a mulher com uma voz muito calma.
     -Mas quem és tu?
     -Sou o teu anjo da guarda, vim ajudar-te!
     -Ajudar-me? – perguntou Diogo.
     -Sim, é mais uma proposta! Porque não vens comigo para um lugar onde não há
fome nem desespero, um lugar onde não há problemas?
     -Era óptimo! – mas pensou na Sra. Luísa, na sua grande
amiga – Não pode ser, tenho de fazer companhia a uma grande amiga. – respondeu ele
muito convicto.
     -Tu é que sabes, a escolha é tua!
    E o anjo desapareceu com o rebentar da onda. Diogo foi ter com a Sra. Luísa, mas
mal abriu a porta deparou com ela no meio do chão, estava pálida e não reagia. Dois
dias mais tarde foi o seu funeral, Diogo chorava e já não sabia o que fazer, já não tinha
comida, a sua sede era mais que muita, já não aguentava mais.
    Passado uns dias as pessoas paravam na rua para ver um rapaz caído no passeio, era
Diogo. Mas o anjo levou-o por entre as ondas, para um lugar onde não havia
preocupações, um lugar onde reinava a paz e a beleza, um lugar onde os anjos viviam,
um lugar onde encontrou a família, um lugar chamado CASA.

                                   Sofia Cordeiro Fadigas Rodrigues Colaço, nº 25, 7º B


                                                                                       36
A Inner Magic




A jovem mulher respirava com dificuldade e os seus olhos estavam fixos no vazio.
Deitada na sua cama, esperava que aquele sofrimento terminasse rapidamente.
Subitamente a porta do seu quarto abriu – se e a mulher virou – se tentando identificar
quem entrara.
- Miyo? – murmurou ela
Outra mulher aproximou – se da cama silenciosamente.
- Ainda bem que chegaste. – disse a mulher feliz
- Como te sentes? – perguntou Miyo tentando sorrir
- Em breve estarei bem. – suspirou ela – A hora está a chegar.
Foi demais para Miyo. Não conseguia ver a amiga morrer assim.
- Não podes morrer Junko! És a única Inner Magic capaz de proteger Allarya! –
exclamou Miyo com lágrimas nos olhos
- Eu não sou a única Inner Magic, e tu sabes isso – respondeu Junko sorrindo docemente
- Eu sei. – disse Miyo limpando as lágrimas – Mas ela nem sabe que é uma Inner
Magic! Aliás, ela nem sabe que tu és mãe dela!
- Se não sebe, está na altura de saber. – disse Junko
- Malditos sejam os Dark Magic! – exclamou Miyo – Eu hei de vingar – me de Kanna...
Senhora da Escuridão e das Sombras, deve estar agora a celebrar, por ter mortos a
Rainha da Luz.
- Não vai celebrar por muito mais. Miyo... – disse Junko debilmente – Avisa a minha
filha, protege a Sunako... – deu um longo suspiro que terminou com a sua vida.
- Prometo Junko... Prometo...


                                     ***

- Que nervos... Está um dia tão bonito, e eu aqui a dar de comer às galinhas! – reclamou
Sunako
- Pára de te queixares! Despacha – te a dar de comer às galinhas para poderes sair.
        Sunako olhou para o muro que separava o seu quintal da rua e viu uma rapariga
sentada olhando para ela divertida.
- Seria mais rápido se ajudasses. – respondeu Sunako com um sorriso matreiro
- Não querias mais nada! Ora essa!
- Vá lá Kasai, não sejas preguiçosa!
- Eu, preguiçosa?! – exclamou Kasai fingindo – se ofendida – Hoje já trabalhei muito!
- Acredito... – disse Sunako acenando com a cabeça – O que é que fizeste? Regaste uma
planta?
- Para tua informação foram duas!
- Um trabalho muito penoso... Já estou cansada só de te ouvir... Vá, desce daí e faz – te
útil!
        Kasai saltou do muro para o chão do quintal aproximando – se de Sunako.


                                                                                      37
- Ora bem, já cá estou. Dá cá esse cesto de milho.
Sunako passou –lhe o cesto para as mão com um ar desconfiado.
- Observa e aprende. – disse Kasai. E dito isto entorna o conteúdo todo do cesto para o
chão
- És doida?! – guinchou Sunako
- É preciso ter espírito prático. – respondeu Kasai naturalmente
- Sim, mas as galinhas não vão comer este milho todo!
- Ora, se não comem agora, comem depois! Anda lá! Com um calor destes só apetece ir
ao rio!
        Sunako sorriu. Só mesmo Kasai para ter tanta energia e boa disposição com um
tempo tão quente como aquele.
- Vamos lá. – disse Sunako dirigindo – se para o portão
        Quando lá chegaram, o rio estava a abarrotar de pessoas.
- Bolas! – protestou Kasai – Odeio quando isto está cheio de gente!
- Bem, já cá estamos não é? Vamos aproveitar! – disse Sunako abrindo caminho entre a
multidão. – Olha está ali um lugar!
        Kasai seguiu – a e em seguida atirou – se para a água.
- Kasai?! Tu por acaso já tiraste a roupa? – perguntou Sunako
        Kasai abriu muito os olhos e saiu da água rapidamente
- Esqueci – me completamente! – disse ela tirando as roupas
        Sunako foi até á margem e pôs um pé dentro de água. De repente deu – lhe a
estranha sensação de estar a ser observada.
- O que tens? – perguntou Kasai sentando – se ao pé dela
- Tenho o pressentimento que estamos a ser observadas. – disse Sunako olhando para
todos os lados
Kasai levantou – se e de repente começou – se a rir.
- Qual é a piada? – inquiriu Sunako sem perceber
- Tens razão Sunako. Olha me só para ali. – disse Kasai apontando para a sombra de
uma árvore onde estava um rapaz. – É jeitoso, sim senhora!
        O rapaz olhava fixamente para Sunako como se não houvesse ali mais ninguém.
- Acho que ele gostou de ti. – concluiu Kasai rindo – se – Vai lá falar com ele.
- Eu?! Deves estar parva! Eu vou é para a água. Vai tu se quiseres.
        Kasai ficou a ver a amiga a atirar – se para a água num mergulho perfeito.
Sunako veio ao de cima e olhou para o sítio onde o rapaz estava e verificou que ele
tinha desaparecido.
- Estranho... – disse ela. Depois virou – se para onde Kasai estava e viu que ela não
estava ali – Mas onde é que será que ela...
- AÍ VOU EU!!!! – exclamou Kasai atirando – se para cima de Sunako molhando – a
toda
- És mesmo maluca! – disse Sunako. Subitamente ouviu – se um grito de desespero.
- Socorro! A minha filha está se a afogar!!!! – disse uma mulher na margem do rio
        Sunako e Kasai viraram – se para trás e viram uma rapariguinha que não devia
ter mais de 10 anos sendo arrastada pela corrente. Sunako instantaneamente mergulhou
a toda a velocidade para salvar a rapariga.
- Sunako! Onde vais?! – chamou Kasai
        Sunako aproximava se cada vez mais da rapariga quando verificou que algo as
estava a puxar para baixo.
- Oh, meu Deus! – exclamou Kasai – Eu tenho de a ir ajudar!
- Não vás. – disse alguém
        Kasai olhou para a margem e viu o rapaz que estava a observá – las.


                                                                                    38
- Mas a minha amiga precisa de ajuda! – bradou Kasai desesperada
- Não te preocupes. Ela desenrasca – se sozinha. – disse ele sorrindo
Sunako sentia – se cada vez menos consciente e o ar estava a escassear. De repente
bateu com a cabeça em algo sólido e ficou um pouco atordoada mas olhou para o lado e
viu uma coisa que parecia uma pessoa, mas que já tinha morrido à uns bons anos,
sugando algo brilhante do corpo da rapariga que tinha ido ao fundo com ela.
         Sunako tentou mover – se mas parecia que estava imobilizada. O ser virou – se
para ela e começou a aproximar – se. O pânico começava a tomar conta do seu corpo
enquanto terminava o pouco ar que lhe restava. O ser aproximou – se começou a retirar
– lhe a energia vital. Sunako sentia os anos de vida a serem lhe retirados quando veio
algo á cabeça. Algo que nunca tinha ouvido antes mas que parecia que sabia aquilo
desde sempre.
- Thenassas, Criptos, Darikleth... – disse ela num sussurro
         O ser ficou hirto e em seguida desfez – se silenciosamente. Sunako voltou a
sentir o seu corpo a obedecer – lhe e o ar a voltar como se tivesse ido ao de cima. Nadou
rapidamente até à rapariga que jazia no fundo do rio como uma boneca de trapos.
- Não... – pensou Sunako passando – lhe a mão pela cara – Tens de viver.
         A mão de Sunako começou a brilhar incessantemente numa luz azul néon e a
rapariga começou a dar sinais de vida. Sunako pegou nela rapidamente e voltou ao de
cima.
- Elas estão de volta! – exclamou alguém
- Sunako!!! – disse Kasai visivelmente aliviada
         Sunako nadou até à margem onde toda a gente as esperava.
- Afastem – se! – ordenou Kasai saindo dentro de água – Deixem-nas respirar!
         Sunako deitou a rapariga no chão e esta abriu os olhos.
- O... O que é que aconteceu? – perguntou ela
- Tem calma. – respondeu Sunako sorrindo – Está tudo bem. Agora estás segura.
- AIKO!!! – exclamou a mulher que tinha dado o alarme correndo para elas – Como
estás filha?! Sentes – te bem?
- Sim mãe, estou bem. – respondeu ela – Esta menina salvou – me.
- Muitíssimo obrigado por ter salvo a minha filha! – exclamou a mulher bastante
emocionada – Nem sei o que lhe dizer para mostrar a minha gratidão!
- Ora... Toda a gente teria feito o mesmo... – respondeu Sunako corando
- Nem pensar! O que a menina fez foi um acto de bravura inquestionável!
- Bem... Obrigado... – disse ela – Kasai...
- Sim?
- Anda, vamos para casa. – pediu Sunako
- Está bem.

       Pelo caminho, Kasai não parava de perguntar coisas sobre o ser estranho.
- Mas agora a sério, como é que ele era? E por que é que achas que ele andava a tentar
sugar a energia vital às pessoas?
- E eu é que sei? Não estive propriamente preocupada em parar para lhe perguntar: “ –
Olhe, desculpe, mas por que é que anda sugar a energia vital às pessoas? E já agora
porque é que parece a múmia do meu tetravô?”
- Tens razão. – concordou Kasai – Mas parece que estás um pouco perturbada. O que é
se passou mais?
- Bem... – começou Sunako – Aquele ser também ia sugar – me a energia vital, mas...
- Mas o quê? – perguntou Kasai impacientemente



                                                                                      39
- De repente eu disse qualquer coisa esquisita que eu nunca tinha ouvido em lado
nenhum, mas o que é dito e certo é que o ser desapareceu de repente.
- O que é que tu disseste?
- Não sei, nem sequer sei em que língua era.
- Tu invocaste um dos feitiços de Ragnarök. – disse uma voz atrás de Kasai e Sunako –
Isso significa que tu és a Inner Magic
- És tu! – exclamou Kasai – És o rapaz que nos estavas a observar e que disseste que ela
não precisava de ajuda quando foi salvar aquela miúda!
        O rapaz ficou parado a olhar para elas com uma expressão séria e de repente
sorriu.
- Fico muito feliz por te conhecer! – disse ele aproximando – se de Sunako – Eu nunca
conheci uma Inner Magic pessoalmente!
- Uma quê? – perguntou ela com uma expressão confusa – E afinal quem és tu?
- Pois, desculpa, nem me cheguei a apresentar. Chamo – me Loki e fui enviado para te
recrutar numa missão muito importante. E quanto aquilo de seres uma Inner Magic...
Bem, é uma longa história... Penso que conheces os Dark Magic.
- Não, não conheço. – respondeu Sunako ainda mais confusa do que já estava
- Como é possível não conheceres os Dark Magic?! – espantou – se Loki – São os seres
mais desprezíveis que existem à face da Terra!
- Desculpa, mas nunca ouvi falar.
- Os Dark Magic andam há séculos a tentar governar este planeta. São eles que
provocaram todas as guerras que existiram, mas indirectamente. Viraram – nos uns
contra os outros esperando que nos matássemos, porém a Rainha da Luz, Junko,
conseguiu evitar esse grande catástrofe.
- Sim, mas o que é que eu tenho haver com tudo isso? – inquiriu Sunako
- Bem, Junko também era uma Inner Magic mas morreu há pouco tempo e agora Kanna,
a Senhora da Escuridão e das Sombras vai aproveitar para conquistar toda a Allarya!
Por isso, tu tens de derrotar Kanna, pois és a sucessora de Junko. Traduzindo, tu és a
filha de Junko.
- Espera aí! Como assim a filha de Junko?! Eu tenho pais sabias?! – exclamou Sunako
- Percebo que estejas confusa, mas...
- Espera! Alto e pára o baile! – interrompeu Kasai de repente – Esta história está muito
bem contada, não haja dúvida, mas não achas que é um BOCADINHO absurda?!
- Eu sei que parece mentira, mas aquele ser que atacou aquela rapariga fez de propósito
para tu ires ter com ele, para te matar a ti não á rapariga. Corres perigo Sunako e se não
aprenderes a controlar os teus poderes para os utilizares na altura certa então não só a
tua aldeia, mas também toda a Allarya irá ser coberta pela escuridão. É isso que queres?
- Não... – respondeu Sunako de mansinho. Nunca tinha pensado nisso e o simples
pensamento de ver tudo destruído arrepiou – a até às entranhas. Percebeu então que não
havia mais nada a fazer senão derrotar Kanna o mais rapidamente possível. Respirou
fundo e disse com uma voz decidida: - Vou contigo e derrotarei Kanna seja lá qual for o
preço a pagar.
- Tens a certeza Sunako? – perguntou Kasai
- Tenho. – respondeu Sunako. Virou – se para Loki – Deixa – me só arranjar as minhas
coisas e já venho ter contigo.
- Óptimo! Fico aqui á tua espera, vem cá ter daqui a uma hora.

Enquanto Sunako arranjava as suas coisas numa mochila, uma grande preocupação
começava a perturbar a sua mente. E se ela falhasse? Todo o mundo estava nas suas



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  • 2. ÍNDICE POESIA (3º ciclo) ............................................................................................................ 1 Alegria ...........................................................................................................................2 Anjo da guarda ..............................................................................................................3 A Estrela dos Sonhos .....................................................................................................4 Fantasia ..........................................................................................................................5 Fogo ...............................................................................................................................6 Mar ................................................................................................................................7 Poesia.............................................................................................................................8 O porquê de um poema..................................................................................................9 Tu .................................................................................................................................10 Vida .............................................................................................................................11 PROSA (3º ciclo)............................................................................................................ 12 Alba .............................................................................................................................13 Aya ..............................................................................................................................14 Confissões....................................................................................................................33 O Feitiço Quebrado .....................................................................................................34 Diogo e o Anjo ............................................................................................................36 A Inner Magic..............................................................................................................37 João (macaco [pássaro (polvo)]) Lunático ..................................................................48 Maho ............................................................................................................................64 Mar ..............................................................................................................................72 Meu Tesouro ................................................................................................................73 O que é de verdade ter amigos? ...................................................................................74 Viagem ........................................................................................................................75 POESIA (ENSINO SECUNDÁRIO) ............................................................................. 76 Ode às Ratazanas .........................................................................................................77 Simplesmente…AMOR! .............................................................................................79 Penso em ti ..................................................................................................................81 Quem eu amo! .............................................................................................................82 Silêncio ........................................................................................................................83 PROSA (ENSINO SECUNDÁRIO) .............................................................................. 84 Alentejo, a minha pátria ..............................................................................................85 De Tanto Bater, Meu Coração, Parou .........................................................................87 Direito a tudo e a coisa nenhuma ..............................................................................104 A Febre do Dinheiro ..................................................................................................105 Morrer ou Viver? .......................................................................................................108 Morrer ou Viver? .......................................................................................................110 A pena de morte é um erro ........................................................................................112 Tempo ........................................................................................................................113 Lifeless ......................................................................................................................114 Deus não existe ..........................................................................................................115 Diálogo de adolescentes ............................................................................................117 Perfect Lie .................................................................................................................119 Loving........................................................................................................................120 Sociedade Plástica .....................................................................................................121 Uma questão de Valor ...............................................................................................122 Saudades da minha terra ............................................................................................123 2
  • 3. 3
  • 5. Alegria Um sorriso, uma emoção, o nascer de um novo dia, o cantar de uma canção são mostras de alegria. Estar alegre ou estar feliz é sentir o coração prestes a explodir de tanta emoção. A alegria pode ser amor, amizade ou satisfação. O que importa é que faça parte do nosso coração. Maria Teresa Vaz Freire, nº 20, 8ºB 2
  • 6. Anjo da guarda Porque vais sem poder voltar? Porque partes sem me avisar? Porque brincas sem sorrir? Porque choras sem uma lágrima cair? Porque falas sem um som sair? Porque me olhas de olhos fechados? Porque me amas sem coração ter? Porque existes sem te poder ver? Porque voas sem asas ter? Porque existe o vento se não o podes sentir? Porque existem as nuvens se não podes lá estar? Porque existem as estrelas se não te fazem sonhar? Porque dormes sem acordar? Porque pintas sem pincel ter? Porque me guardas sem poderes proteger? Porque és um anjo sem mais ninguém saber? Porque vives no céu se não me podes lá levar? Porque navegas sem barco ter? Porque me tocas sem eu poder sentir? Porque é que és meu? E por muitas perguntas existirem Uma resposta apenas serve: És o meu anjo da guarda... Sofia Cordeiro Fadigas Rodrigues Colaço, nº 25, 7º B 3
  • 7. A Estrela dos Sonhos Quero ir para um mundo diferente, Um mundo onde possa ver as estrelas bem de perto, Tocar nelas, dormir nelas, sonhar nelas... Fascinar-me com o seu brilho ofuscante Que numa noite escura e fria Me aquece e me faz sonhar, Mas há uma estrela bem distante, Tão distante, tão distante, Que por tão distante estar, É a que mais brilha numa noite de luar! É aí que eu quero estar... Só não sei como lá chegar... Mas se tivesse asas e voasse Era para aí que eu voava, Era aí que me escondia Para mais ninguém me ver A não ser a escuridão infinita do Universo... Um dia estive lá, Foi de noite, bem de noite, Naquelas noites em que dormimos profundamente... E sabes? Adorei lá estar... Por isso deixa-me sonhar, Deixa-me voar, Deixa-me ficar lá... Até acordar... Sofia Cordeiro Fadigas Rodrigues Colaço, nº 25, 7º B 4
  • 8. Fantasia No teu palácio cristalino, fantasias de criança. Sopram embaladas no vento. Sobre ti, sobre a saudade Que existe, de quem amas, de quem já te amou, cuidou de ti, sem saberes, sem sequer notares, não deixes a fantasia amar a vida, ama-a tu Maria Teresa Vaz Freire, nº 20, 8ºB 5
  • 9. Fogo O fogo e sentimento que luz, é sensação que aquece, é o amor, o medo e o calor que cada alma carece. Quando arde por dentro não deixa marca visível, só o calor gelado que no coração permanece. Quando a saudade chega ele apaga-se lentamente à espera do momento de voltar fulgurante. Maria Teresa Vaz Freire, nº 20, 8ºB 6
  • 10. Mar Mar é estrada sem fim, sem rumo a percorrer, é fogo que arde assim, lentamente sem se ver. Mar caminho aberto para novas descobertas. É uma imensidão sem fim de portas abertas! Sentir o mar gelado Ao redor do nosso corpo E sentir que se é amado Por todo aquele povo. Mares são palavras azuis escritas por grandes poetas Mares são planetas distantes, e difíceis de encontrar!! Maria Teresa Vaz Freire, nº 20, 8ºB 7
  • 11. Poesia A poesia é escrever o que pensamos, com todas as palavras e sentimentos, o que amamos, sentimos e sonhamos. Dar alma a todos os pensamentos. Um poeta tem amor dentro do coração. Para um poeta cada palavra é na alma uma canção. O papel é o receptor destas almas douradas. Mesmo um poeta amador, Escreve coisas sonhadas. Cada um de nós tem um poeta guardado. Vem descobri-lo também, com este poema a ti dedicado Maria Teresa Vaz Freire, nº 20, 8ºB 8
  • 12. O porquê de um poema Há quem questione o porquê de um poema, e há quem faça disso o seu próprio dilema. Ler um poema com o coração é perceber o seu porquê, é ler os sentimentos, e tudo o mais que não se vê. Há os porquês de amor, de alegria e muito mais. Todos eles são poemas, nos termos mais gerais: Para ser um verdadeiro poema é preciso transmitir bem todos os sentimentos e porquês que o poeta tem. Maria Teresa Vaz Freire, nº 20, 8ºB 9
  • 13. Tu O calor do teu fogo queima a alma que chora lágrimas de amor. Lágrimas de momentos vividos onde perdura a dor. Lá no alto a lua observa toda a tua tristeza. Mas tudo isso, acaba, quando o sol nasce, o sentimento adormece. Na sua dor, no seu calor Sentir, chorar, nada faz sentido. Só tu, só tu. Maria Teresa Vaz Freire, nº 20, 8ºB 10
  • 14. Vida A vida é uma história que existe para ser contada. Guardar só na memória não ajuda nada! Sempre que precises de ajuda procura os teus amigos eles são os teus apoios para todos os perigos! Os problemas não se resolvem se os guardares só para ti. Contá-los serve de ajuda, e é princípio do fim. Maria Teresa Vaz Freire, nº 20, 8ºB 11
  • 16. Alba Lembro-me do dia em que te conheci. Olhaste-me com esse olhar reprovador, não te censurei. Nem hoje te censuro Recordo-me da pessoa que fui outrora, dos erros que cometi. Mas também me lembro que mudei radicalmente nesse dia. Talvez devido ao teu olhar infantil ou simplesmente causado pelo teu rosto clássico, quase perfeito. Sei que também te recordas desse dia, minha pequena Alba. Eras ainda uma criança, particularmente minúscula, mas com uma longa cabeleira negra e pele bronzeada, nem sei como me atrevo a falar dos teus olhos, tão negros e poderosos, tão poderosos que conseguiram mudar o nosso destino. Eu sentia-me velha, a desfalecer e sem qualquer propósito para viver, mas nesse lendário dia, percebi que tu eras a minha salvação, o perdão e tudo o resto que a sociedade não me concedia. Através desse tal olhar, conseguiste perceber-me, conseguiste conceder-me o perdão de toda a Humanidade e com uma coragem tal, cujo local onde a arranjas-te, eu desconheço, pronuncias-te uma palavra que mudou o rumo das nossas vidas: -Avó! Mariana Saúde, 9º Ano 13
  • 17. Aya — Aya! – Sakura corria para mim com os seus braços abertos e as suas mãos estendidas. Tropeçou. Estava a cair. — Sakura! – Ia voltar para trás, para a apanhar, mas alguém me agarrou – Largue-me! A minha irmã! Por favor, largue-me! — Não sejas tonta! Anda, rapariga! — Sakura! – Acordei a gritar e toda suada. Suspirei. É a quarta vez consecutiva que sonho com esta recordação. É a mesma coisa todas as noites. Vejo a minha irmã a correr para mim e a cair e eu não a posso ir salvar. Há muito tempo que não era tão nítida. Consegui ver tão bem a expressão da Sakura que dei por mim a chorar. Já passaram quase cinco anos desde que fui separada da minha irmã gémea, no dia em que os meus pais foram mortos. Comecei a chorar ainda mais quando me lembrei que naquele dia completava os meus 19 anos, e que exactamente há cinco anos tinha morrido o meu irmão. Encolhi-me toda e continuei a chorar. A Ayu decidiu não dizer nada. Deixei ontem a casa dos meus pais adoptivos dizendo que me safava por minha conta. Mas agora ando para aqui, perdida que nem uma anchova, a caminhar num Mundo que mal conheço, apesar de cá estar há cinco anos, desde aquele dia em que fui separada da minha irmã. Enxuguei as lágrimas e levantei-me. Peguei na minha espada e observei-a. “Nunca a largues! É muito preciosa. Está nesta família há sete gerações e tem poderes que irás descobrir em breve.”. Foram as últimas palavras da minha mãe adoptiva antes de eu me ir embora. Atei-a ao cinto e afastei-me da sombra da árvore onde tinha adormecido. Aproximei-me de um pequeno rio. Debrucei-me sobre ele e lavei a cara várias vezes. Peguei no meu elástico e atei o meu cabelo castanho. Peguei na fita preta e atei-a à testa. Olhei para os meus olhos. Desde que criei a Ayu, que fiquei com um olho verde claro (cor normal dos meus olhos) e o outro verde escuro... não sei explicar porquê e ela também não. Apercebi-me, pelo barulho e pela rapidez da água, que mais à frente havia uma cascata. Segui o som. Quando cheguei à cascata fiquei maravilhada: a cascata em si já era espectacular, pois tinha, pelo menos quinze metros. Mas depois à volta, num raio de uns quarenta metros, estava tudo cheio de árvores com as flores mais estranhas e bonitas que eu já vi. Para completar, à minha frente voavam uns trinta dragões brancos. Um deles veio na minha direcção e teve o bom senso de se transformar antes de aterrar. Talvez o tenha feito porque notou que eu não me mexi um centímetro sequer ao vê-lo aproximar-se. Devia ter a minha idade, mas não posso ter a certeza, pois os dragões podem parecer novos e ter mais de mil anos, eles são imortais. Bem, era loiro, com o cabelo liso pelos ombros e também usava uma fita na testa. Os olhos eram azuis e pareceu-me que tinha um olhar triste, apesar do sorriso pepsodente que me mostrou 14
  • 18. saber fazer na perfeição. Nem se importou por nunca me ter visto naquela área. Perguntou-me logo: — Perdida? — Eu não estou perdida! – Gritei indignada, corando. Ele sorriu ainda mais. — Eu só quero ajudar. Tens algum sítio especial onde queiras ir? Eu posso indicar-te o caminho. — Quero ir para o castelo Kuroi. – Disse decidida, talvez apenas para ver a reacção dele. — Kuroi, dizes tu? – Ele parou imediatamente de sorrir e ficou muito sério e parecia também algo preocupado – Tu sabes o que há nesse castelo, certo? – Acabou por perguntar. — É exactamente por saber que lá vou. Quero lá ir para matar uma pessoa. Mais precisamente a pessoa. – Fiz uma acentuação idiota no “a” que o fez pensar - Quero matar o Yami. Ele ficou sério durante algum tempo a olhar para mim e depois não aguentou mais. Soltou uma sonora gargalhada. — Tu?! Matar o Yami?! Não me faças rir! – Até já lhe vinham lágrimas aos olhos. A certa altura até teve de se agarrar à barriga. Eu fiquei a olhar para ele, zangada, durante algum tempo e depois descontrolei- me e gritei: — Sim! Eu! O que tem? Ele largou a barriga e limpou as lágrimas, ainda dando umas risadinhas de vez em quando e depois disse: — Há seis anos que eu e a minha família tentamos matá-lo e ainda não conseguimos. Como é que tu o vais conseguir matar? E com o quê já agora? Com uma espada? – E continuou a rir, desta vez da sua “piada hilariante”. — Ya! Vou matá-lo com uma espada. – ele riu-se ainda mais - Mas não é uma espada qualquer! É esta espada. – disse eu, pousando a mão na minha espada. – E já agora: seis anos para ti também! — Não estás mesmo à espera de conseguir matar um dragão com uma espada, ou estás? Espero que tenhas noção de que não vais conseguir. — Queres experimentar? – provoquei eu, pondo-me em posição para tirar a espada. — És completamente doida! – disse ele virando-me as costas e transformando-se de novo em dragão para se pôr a voar outra vez. — Espera! Ainda não me disseste onde é o castelo Kuroi! – gritei eu, mas ele não me ligou. Lancei-lhe um último olhar de ódio e deitei-lhe a língua de fora. Um comportamento um bocado infantil, mas foi mais forte do que eu. Virei-me e afastei-me da cascata. Quando já estava a uma distância considerável, ouvi uns rugidos familiares. Eram os dragões negros. Corri de volta à cascata. Era uma visão surpreendente, apesar de ser também assustador ver dragões a matar dragões... Saltei pela cascata e voei até ao primeiro dragão negro. Saquei da minha espada e feri-o. Não gosto de matar ninguém. Nem mesmo dragões negros. A única pessoa que não me importo de matar é o Yami. A minha espada ficou azul. É um bom sinal. Significa que a minha espada está a absorver os meus poderes aquáticos. Assim os dragões ficam mais feridos. Os dragões negros não são resistentes à água e à luz. Azar para eles! Que não são resistentes à água 15
  • 19. tenho eu a certeza, por experiências que já fiz... Mas quanto à luz, não tenho a certeza. Nunca vi o impacto que têm os poderes da luz nos dragões negros. Adoro os meus poderes! Tal como adoro a água. É claro que a Ayu tem poderes de gelo, mas eu não os posso usar, apesar de ela poder usar os meus. É verdade! A Ayu é... como é que hei-de dizer?... é como se ela fosse a outra metade de mim que eu criei com a fúria que sinto pelo Yami. Ao fim ao cabo é como se eu tivesse dupla personalidade, mas são duas pessoas dentro de mim, completamente diferentes. Após ter ferido mais alguns dragões voltei para o cimo da cascata e observei alguns dragões negros a baterem em retirada. Viu-os ir para Norte. Então era para Norte que eles estavam. Olhei lá para baixo. Apenas dois dragões brancos estavam feridos, por isso fui lá abaixo ajudá-los. O rapaz veio ter comigo e perguntou-me, sem demora nem cerimónias: — Quem és tu, afinal? Olhei para ele de alto a baixo, de baixo a alto, com ar desconfiado e perguntei: — Tenho mesmo de responder a essa pergunta? — Eu sou o Haki. – disse ele, vendo que tinha de tomar a iniciativa – Tu...? – perguntou, estendendo a mão na minha direcção. Voltei a olhar para ele com atenção. A minha atenção concentrou-se no enorme sorriso que ele tinha. Agora já não me parecia artificial como o outro, por isso decidi responder: — Aya. – ao olhar melhor para o sorriso dele, deu-me também vontade de sorrir e foi o que fiz. — Então? — Vou para aqueles lados. – respondi, lançando um sinal com a cabeça para o sítio de onde tinham vindo os dragões negros – Foi de lá que eles vieram e, por isso, é para aqueles lados que ele deve estar. – estava ainda mais decidida agora. — Porque não vens comigo primeiro? Olhei para ele com desconfiança outra vez. Talvez não devesse ter-lhe dado o meu nome. Devia ter dado um falso. — A minha irmã pode ajudar-te. É a Hikari. – concluiu ele. — Hikari?! Queres dizer a Hikari? Hikari, Hikari? A Hikari? A Hikari líder dos dragões brancos? Hikari? Mesmo a Hikari? Essa Hikari? – Haki respondia pacientemente a todas as perguntas abanando a cabeça afirmativamente. Quando eu me calei para respirar, ele transformou-se num dragão e disse-me para subir. Eu fiquei embasbacada a olhar para ele. Tenho a impressão que devia estar a olhar para ele com cara de lula porque ele perguntou logo: — O que foi? Nunca montaste um dragão? – deu-me vontade de rir. Acho muita piada ao facto de os dragões falarem por pensamento. A pessoa com quem eles querem falar ouvem-no, mas as outras pessoas nem suspeitam que ele está a falar, pois não mexem a grande mandíbula que têm. É claro que depois de assimilar bem a pergunta fiquei sem vontade de rir. — Não... Sim! Quer dizer... não... mas sim! – andei para ali uns bons minutos a balbuciar algo incompreensível. Às tantas só me saía uma ladainha de palavras sem sentido. — Decide-te! – disse Haki, já algo farto – Se te quiseres montar é ao pé do pescoço e agarra-te bem. Se fizeres isso não cais de certeza. Segui as instruções do Haki à risca. Demasiado à risca. Apertei-lhe tanto o pescoço que o ia sufocando! — Também tanto não! – apelou ele. Larguei um bocadinho o pescoço dele, mas deixei a minha cara encostada às escamas dele, pelo sim, pelo não. 16
  • 20. Ele levantou as asas, fazendo imenso vento. Eu tive de fechar os olhos e quando os abri, já estávamos acima das nuvens. Conseguia vislumbrar o castelo Shiroi ao longe. Chegámos muito depressa. O palácio era lindo. Estava arquitectonicamente muito bem construído e simétrico. Tinha muitos detalhes em tudo, quer em janelas quer nas próprias paredes, pois nenhuma era completamente lisa. As janelas eram azuis transparentes e um enorme portão situava-se exactamente no meio do grandioso edifício. Tinha um jardim também deveras magnífico, cheio de todo o tipo de flores brancas. No meio do jardim havia uma grande rosa branca, a única rosa que havia no jardim. Os meus olhos ficaram como que hipnotizados pela rosa. Era perfeita. Sem uma única pétala fora do sítio. Admito, ao olhar novamente para o castelo, que tanto branco faz um bocado de impressão, mas eu gosto bastante da cor e acho que não me importava de viver ali, mas não acredito que o Haki gostasse muito de ter a casa toda branca. Até pode ser que ele seja ligeiramente sensível a estas coisas e não se importe minimamente. Os meus longos pensamentos foram interrompidos por um gritinho estridente: — Mano! – uma rapariguinha corria para Haki de braços abertos. A rapariguinha era tão pequena que nem sei se me chega à cintura, mas devia ter uns 10 anos. Ela tinha o cabelo loiro, comprido e liso atrás e mais curto e ondulado à frente. Usava uma tiara na testa e tinha um vestido que lhe chegava aos pés e que tinha as mangas muito compridas. Fiquei a olhar para ela a aproximar-se e depois de pensar um bocado preguei um berro que a assustou bastante: — Mano?! Tu é que és a Hikari?! – estava desconcertada. Diziam que a Hikari era a mulher mais bonita deste mundo e que era também a mais forte. Depois aparece- me uma pulga à frente... foi no mínimo muuuito esquisito. A rapariguinha escondeu-se atrás do Haki, que riu: — És mesmo idiota! – exclamou ele, após rir durante um bocado. Estava cada vez mais confusa, mas do portão apareceu uma mulher alta e esbelta, com o cabelo ondulado, comprido e perfeitamente alinhado, com um vestido branco e azul que eu gostei muito. Ela disse, após rir também: — Não. Eu é que sou a Hikari. – a voz dela soava como música aos ouvidos de qualquer um. A verdade é que já tinha ouvido dizer que a Hikari era muito bonita, mas nunca tinha imaginado que fosse assim tanto! A beleza dela era estonteante! Não me admiro nada que haja muitos mais dragões brancos do que «dragonas brancas»... deve ser difícil para uma outra mulher morar naquele castelo com uma mulher daquelas ao lado. Ao ver que eu olhava para ela fixamente, ela sorriu. Haki olhou para mim, talvez para ver a minha reacção. Estava muito quietinha a olhar para a Hikari. Talvez com cara de guaxinim... — Tu és a Aya, não és? – perguntou Hikari, uma vez que eu não dizia nada. — Sim, senhora! – abri muito os olhos e pus-me muito direitinha, como se estivesse na tropa e Hikari fosse o meu general. Ela achou muita piada e voltou a sorrir. Depois dirigiu-se aos irmãos: — Haki, Sora, venham. E tu também, Aya. — Sim! – eu seguia imediatamente. Parecia um cãozinho com uma trela invisível! Senti-me muito estúpida, até porque parecia mesmo um daqueles soldadinhos a andar. Só que parecia um soldadinho de chumbo, porque quase que não me mexia... Haki e Sora seguiram-nos. Fomos conduzidos até uma grande sala com um trono. Haki e Sora deixaram-se ficar no fim do grande tapete que se estendia desde quase a porta até ao trono. Eu também me deixei ficar. Hikari seguiu o seu caminho até ao trono e, ao atirar o seu 17
  • 21. brilhante cabelo para trás, instalou-se confortavelmente no trono e ficou a olhar para nós. Ela fechou os olhos e deu-me a impressão que matutava no que havia de dizer. Voltou a abrir os olhos e dirigiu-se directamente a mim: — Vou ser muito directa: não me parece que sejas sequer capaz de fazer um arranhão no Yami. Fiquei completamente indignada. Senti o meu cabelo a voar. Isto só pode significar uma coisa: A Ayu está prestes a tomar conta do meu corpo. O meu cabelo esvoaçava e comecei a sentir as dores do costume de quando ela se apodera do meu corpo. Agarrei-me à barriga e produzi uns ruídos estranhos. Sora escondeu-se atrás de Haki e ele ficou a olhar espantado para mim. Hikari olhava com interesse e superioridade ao mesmo tempo. Recompus-me, já com a Ayu a tomar conta de mim. A Ayu é quase igual a mim, só que o cabelo torna-se mais escuro e fica com ambos os olhos verdes escuros. Ela também é muito directa, infelizmente para a Hikari. — Pois eu também vou directa ao assunto: Eu estou-me a marimbar para aquilo que tu achas. A Aya não está sozinha. Eu vou ajudá-la. Juntas vamos conseguir derrotar o Yami. E sem ajuda de asquerosos da realeza. A Ayu decidiu que já não queria ver as fuças da Hikari à frente, por isso voltei eu, que completei. — A Ayu e eu somos como duas pessoas diferentes dentro de um só corpo. Ela é uma pessoa que eu criei depois de chegar a este Mundo. — Queres dizer que... – começou Haki. — Sim. Eu vim da Terra. E conheço o Yami melhor do que qualquer pessoa nesta sala. Ele também veio da Terra. Era o melhor amigo do meu irmão. Um dia deu- lhe um ataquezinho de parvoeira e o raio do papalvo matou o meu irmão! Depois disso, eu, os meus pais e a minha irmã gémea sobrevivemos durante aproximadamente seis meses, mas aquele lorpa encontrou-nos e matou os nossos pais. – Hikari mostrava um estranho desconforto com a minha história - Enquanto estávamos a fugir, eu e a minha irmã fomos separadas. Enquanto eu estava ali, a ser salva por um senhor que nem sequer conhecia, fiquei também a vê-la cair e ficar para trás, provavelmente para ser morta pelo Yami. Eu tentei soltar-me do homem e cai também, mas para dentro de um portal. Assim vim aqui parar. Nunca me irei esquecer do sorriso de maníaco dele ao matar o meu irmão! Nunca me irei esquecer dos seus olhos amarelos a luzirem de felicidade ao matar os meus pais! NUNCA! – no fim eu estava com lágrimas nos olhos. A Sora já não estava escondida atrás do Haki, pelo contrário, olhava para mim com compaixão. Haki olhava para mim com olhos tristonhos sem saber o que dizer, ou talvez não pudesse mesmo dizer nada devido à presença da Hikari. Esta, por seu lado, mostrava-se um iceberg que se encontrava apenas incomodada com a situação. Limpei os olhos rápida e discretamente para que não se notasse que tinha estado prestes a chorar. Dei meia volta e caminhei para fora da sala batendo com a porta e começando a correr dali para fora. Haki apareceu à porta e gritou-me: — Onde vais? — Matar o Yami! – gritei em resposta, sem sequer olhar para trás. Haki foi a correr atrás de mim e tentou impedir-me, pedindo ao mesmo tempo desculpas pelas palavras da irmã, dizendo que ela pensava que só ela era forte e que se ela não fora capaz de derrotar o Yami então mais ninguém conseguia. — Obrigada, mas eu estou decidida. – disse eu quando chegámos ao fim do bocado de terra flutuante onde se encontrava o castelo. Voei dali para fora e Haki decidiu que seria melhor não dizer mais nada. 18
  • 22. Algum tempo depois consegui encontrar a cascata e lá me orientei. Desci até ao chão e decidi que ia a caminhar dali em diante. Iria ser esquisito ver uma rapariga a voar dirigindo-se ao castelo Kuroi... Depois de algum tempo a caminhar ouvi barulhos vindos detrás de uns arbustos. Saquei da espada imediatamente. — Sou só eu. – ouvi uma voz estridente e frágil, vinda detrás dos arbustos – A Sora. – Sora saiu detrás dos arbustos e olhou para mim timidamente. — Como... como é que vieste atrás de mim? Eu nunca de vi! – exclamei eu. Sora sorriu triunfante. — Eu posso ficar invisível. – informou ela, mostrando-me os seus poderes. Fiquei a olhar de boca aberta para o sítio onde estava Sora, ou estava, não sei. Sorri e guardei a espada. Ela voltou a aparecer. — Foi a Hikari que te ensinou? – perguntei eu, sabendo que não me valia de nada descarregar a raiva que sentia da Hikari na irmã mais nova, até porque a cara de inocente dela me fazia lembrar a Sakura. Era tal e qual a sua expressão. — Sim! – disse ela, muito contente – Ela ensina-me muita coisa! Ela é mesmo muito poderosa! Controla os 4 elementos. – fiquei com vontade de rir e a Ayu riu-se muito dentro de mim, porque ela consegue controlar o gelo e a Hikari não – Depois tem montes de poderes especiais como a transformação! Ela é muito boa na transformação. Consegue ficar exactamente igual às pessoas, só não consegue mudar a cor dos olhos. — Fixe! – exclamei eu, sem pensar que não estava na Terra. — Fixe? – Sora estava confusa. — Não ligues. Coisas da Terra. – disse eu. — Tu também tens poderes? – perguntou Sora. — Ya. Controlo a água. – disse, orgulhosa dos meus poderes. — Eu ainda não consigo controlar nenhum elemento e por isso a Hikari zanga- se. – ela fez uns olhinhos tristes e olhou para os pés, mas depois voltou a erguer a cabeça e completou – Mas para compensar sou muito boa a aprender poderes especiais. O Haki diz que qualquer dia estou melhor que a Hikari na transformação! Sei montes de poderes especiais. — Olha, Sora. – ajoelhei-me para poder ficar mais ou menos da altura dela, mas falhei, pois ela continuava a ser mais baixinha – Eu acho melhor que tu voltes para trás. Se quiseres eu vou-te lá levar. Talvez até seja melhor. É que eu vou para um sítio muito perigoso e posso voltar sem vida. – a pequena estremeceu dos pés à cabeça – Eu não te quero submeter a isso. Ainda és muito nova. — Mas eu quero ir! Posso ficar invisível. Ninguém vai dar por mim. — Mesmo assim... – comecei eu. — Não vale a pena. Mesmo que me vás deixar em casa eu volto a seguir-te. Portanto só te vais atrasar a estar a ir e a voltar. A Sora é meeeesmo parecida com a Sakura. Pensa em tudo e mais alguma coisa para levar as pessoas a fazerem o que elas querem. Não pude deixar de sorrir. Voltei a levantar-me e disse: — Ok. Vens. – ela ficou muito contente e até me abraçou – Mas não podes afastar-te, qualquer que seja a situação. A não ser que eu te mande fugir. Mas isso já é outra história. Caminhámos durante aproximadamente um quarto de hora sem abrir o bico, até que Sora reclamou: — Aya, estou cansada! — O quê?! Já?! Mas ainda há pouco começámos! 19
  • 23. — Mas eu estou cansada! – suspirei. Não tive outro remédio sem ser levá-la às cavalitas. Quando estava prestes a escurecer, parei ao pé de uma árvore com o tronco largo e cheia de frutos que me pareceram de boa qualidade. Sentei a Sora ao pé do tronco da árvore e colhi alguns frutos. Colhi os suficientes e depois concentrei-me. Corria um rio ali perto. — Ainda consegues andar um bocado? – perguntei à Sora. — Sim! – disse ela, levantando-se. Seguimos o som do rio e fomos lá dar em menos de dois minutos. Lavámos os frutos e voltámos para a árvore. Ficámos a observar o sol a pôr-se enquanto comíamos as frutas. Antes de dormir-mos, ainda ficámos a conversar um bocado. Sora não se cansava de gabar os poderes da Hikari e eu já estava quase a dormir quando ela disse: — Mas ela e o Haki são muito diferentes. – abri logo os olhos e endireitei-me. Fiquei a olhar para ela e a ouvir com atenção – A Hikari só tem interesse em ensinar-me estes poderes todos porque um dia eu serei útil para derrotar o Yami. Mas o Haki não. Ele gosta mesmo muito de mim. Disse que ia estar comigo para o que desse e viesse. – não pude deixar de sorrir. Tinha feito exactamente a mesma promessa à Sakura. Claro que depois me deu uma grande vontade de chorar pois tinha falhado redondamente. Mas tive de disfarçar. Limpei os olhos e disse: — Já para a cama! Amanhã é um longo dia! — Sim! – disse ela, deitando-se logo. Fiquei a olhar para ela durante um bocado e depois deitei-me também e adormeci. No dia seguinte, quando acordei toda despenteada e com os cabelos à frente da cara, reparei que Sora não estava ao meu lado. Levantei-me imediatamente e gritei pelo seu nome: — Sora? Sora! Onde estás tu? – ela apareceu com frutos na mão. — Fui lavá-los. – justificou-se. Suspirei e aproximei-me dela. Ajoelhei-me ao pé dela e agarrei-a pelos ombros, dizendo: — Da próxima vez acorda-me, está bem? Não te quero a andar por aí sozinha! Podias ter-te perdido! Prometes-me? — Ok! Mas eu não te acordei porque parecia que estavas a ter um sonho feliz. Estavas a sorrir. Não te quis acordar. Olhei para ela, surpreendida, e depois tentei lembrar-me do meu sonho, olhando para o céu. Era estranho, mas nesta noite não sonhara com Sakura a cair à minha frente. Desta vez tinha sonhado com uma outra recordação nossa com o nosso irmão. Não pude deixar de sorrir. — Já sei! – disse Sora. Olhei para ela, atónita – Estavas a sonhar com o meu irmão! Senti a minha felicidade a murchar. — É claro que não! – gritei eu, pondo-me de pé. — Estavas! Estavas! – gritou ela contente – Eu acho que vocês até são muito parecidos! Não me importava nada que vocês se casassem! A ideia deixou-me enjoada. Depois lembrei-me que ela devia saber. — O quê?! Tu estás parva? A Hikari nunca te contou que os humanos e dragões não se podem casar? – Sora olhou-me surpresa – Não? – ela abanou a cabeça negativamente – Olha, uma vez um dragão apaixonou-se por uma humana. Ela também se apaixonou pelo dragão. Eles iam casar, mas quando o casamento se concretizasse, ele 20
  • 24. passaria a ser humano também. Eles desconheciam e então casaram-se. Após o casamento, o dragão, que tinha mais de mil anos, morreu, pois nenhum ser humano chega a essa idade. Fim de história. — Que horror! – Sora estava à beira das lágrimas – Ah! Mas não há problema! O meu irmão tem mesmo 21 anos! Por isso podes casar com ele à mesma, não é? — Pois... sei lá! Acho que há mesmo uma lei que não permite estes casamentos. Deves isso à tua irmã, aliás. Mas porque é que nós estamos com estas conversas? Vamos mas é embora! — Sim! Hoje vou tentar aguentar meia hora sem precisar de descansar! — Boa sorte! Passaram-se vários dias, durante os quais eu passava grande parte do tempo a dar conselhos à Sora. Mas falar com ela ou falar com uma lesma sem cérebro morta era a mesma coisa, ela continuava sem ligar nenhuma ao que eu estava a dizer. Era ligeiramente enervante. Ainda mais enervante era quando ela se punha outra vez a falar de casamentos. Um dia, quando Sora estava a gabar-se outra vez dos poderes de Hikari, vi um dragão negro a voar por cima das nossas cabeças. Foi instintivo, peguei na Sora à saco de batatas e comecei a correr atrás do dragão. Sora reclamou mas eu não lhe dei ouvidos. Continuei a correr. Ao longe avistei um castelo. O castelo Kuroi. Não era nada do que eu estava à espera, para dizer a verdade. Estava à espera do oposto do castelo Shiroi, mas não. Aquele castelo era normal, parecia até demasiado normal e pareceu-me que era propositadamente. O que achei mais estranho é que também tinha um jardim bem arranjado e o castelo parecia-me harmonioso... Larguei Sora e disse-lhe: — Sora, preciso que ousas com muita atenção aquilo que te vou dizer. É muito importante. Estás a perceber? – ela acenou afirmativamente – Tu tens de ficar aqui e... — Espera aí! – ouvi a voz de Haki, que apareceu do nada e eu preguei um guincho – Ias deixar a minha irmã aqui sozinha?! És completamente idiota! — Claro que não a ia deixar sozinha! Ia deixá-la com a Ayu! — A Ayu? Mas a Ayu não está dentro de ti? — Sim, mas ela pode sair do meu corpo durante umas horas! Umas horas são mais do que eu preciso para matar o Yami. Portanto eu ia deixar a Sora com ela. — Mas a Ayu não é a tua parte má? — Parte má? – ri-me daquela afirmação ridícula – Não! Ela não é parte má coisíssima nenhuma. É outra pessoa dentro de mim que eu criei. — Não me interessa! Por mim até podia ser uma Deusa que ias deixá-la sozinha na mesma! — O casalinho importasse? Ainda vão perder a Sora! – reclamou Ayu sabiamente, dentro de mim. — Tens razão. – disse eu, para Ayu. — Então admites que eu tenho razão? — Não és tu que tens razão, estroino! É Ayu. Ela disse que ainda perdemos a Sora! — Sora? – olhámos para o sítio onde Sora tinha estado. — Ela pode estar ainda aqui, mas não a vemos, certo? – perguntei eu assustada. — Sora? – Haki chamou por ela e chegámos à conclusão que ela tinha desaparecido. Fomos à procura da Sora e eu decidi meter conversa para desanuviar: 21
  • 25. — Sobre aquela conversa que estávamos a ter há bocado, aquilo de nem que se a Ayu fosse uma Deusa, isso quer dizer que confias em mim e nela não? — Achas mesmo que eu confio em ti?! – perguntou ele, com brusquidão - Se confiasse não tinha vindo atrás! — Vieste atrás de nós? — Podes ter a certeza que sim. — Isso quer dizer que ouviste aquela conversa do casamento?! – gritei, assustada. Ele corou e disse: — Sim, mais ou menos. — Oh, meu Deus! – levei as mãos à cabeça. Olhei para o outro lado rapidamente. Estava farta de olhar para nada por isso olhei para o castelo Kuroi e preguei um guincho. Haki, que tinha desaparecido por uns arbustos, apareceu em seguida: — Aya? O que aconteceu? — A... a... a... So... So... So... Sora... a... a... ali! – Sora caminhava lentamente e com saltinhos à capuchinho vermelho até ao castelo Kuroi e preparava-se para bater à porta. — Sora, não! – gritei, mas tarde de mais. Ela já tinha batido à porta. Haki e eu corremos para lá, mas abriram a porta antes de termos tempo de lá chegar. Tivemos de nos esconder para observar a situação. O rapaz que foi abrir a porta era parecido com o Yami. Era alto, com cabelo preto mas comprido em vez de curto como o Yami. — Olá! – disse Sora contente. — Ora viva! O que posso fazer para ajudar? — Eu sou a Sora e a minha amiga Aya... – não deixei que aquilo continuasse. Fui a correr e tapei a boca à Sora. Olhei para o rapaz e sorri nervosamente. — Eh-eh! – tinha de pensar nalguma coisa – Foi... foi engano! Desculpe! Tenha um bom dia! Preparava-me para sair dali com Sora quando o rapaz disse: — Não. Não me parece que tenha sido engano. Aliás, o Yami está à tua espera há anos... — O quê? – eu fiquei estática e olhei o rapaz nos olhos. — Ele precisa de falar contigo. – os seus olhos eram castanhos e muito profundos. — Ele precisa de falar comigo? Ele precisa de falar comigo?! – perdi completamente o controlo da situação – Ele quer falar comigo para quê? Para fazer com que eu acabe como os meus familiares? Depois de tudo o que eu passei por causa daquele traste ele vem e quer falar comigo?! Pois olha, eu.. eu.. – os olhos dele começaram a ficar roxos e cada vez mais profundos. Comecei a ficar sonolenta e acabei por cair nos braços dele, desmaiada. — Aya! – Haki saiu do esconderijo e correu até Sora. O rapaz pegou-me ao colo e disse-lhes: — Vocês não têm nada a ver com este assunto em particular, por isso façam o favor de dar meia volta e vão lamber as botas da vossa irmã! — Lamber as botas?! – gritou Haki, indignado. — Que nojo! – Sora soltou um grito estridente e repugnado. — É só uma maneira de dizer. – tranquilizou-a o rapaz com um sorriso. Voltou para dentro do castelo e os portões fecharam-se. 22
  • 26. Haki ficou algum tempo a olhar para o portão a pensar no que devia fazer. — Vamos voltar. – decidiu. — Mas... a Aya!... – começou Sora. — A Hikari disse-me para te levar para casa e é para casa que te vou levar. – Haki voltou para trás. Sora fez um ar amuado mas seguiu-o dizendo: — És uma vergonha! Abandonaste a tua mulher sem ir à luta. — Nada dessas conversas. E ela não é minha mulher! ***** Quando acordei estava num cadeirão muito confortável e ainda estava meio tonta. Apenas consegui distinguir uma silhueta. Quando olhei melhor, reparei que era o Yami. Levantei-me imediatamente e saquei a espada. Yami espantou-se. Eu comecei a tentar acertar-lhe. Tentar é mesmo a palavra certa, uma vez que ele se esquivava com facilidade. Mas estava a levá-lo na direcção da parede. Ele ia ficar mesmo “entre a espada e a parede”. Quando dei um último golpe para ele ir contra a parede, ele saltou por cima de mim com um brilhante salto mortal. Virei-me. Ele deu-me uma pancada na mão que me fez largar a espada. Pegou-me nos pulsos, de maneira a que eu não me conseguisse mexer. A princípio, pensava que ele me ia matar, por isso fechei os olhos, mas como ele nem se mexia, abri-os e olhei-o olhos nos olhos. Ele estava tão ou mais giro do que me lembrava dele. O cabelo preto curto mas com uma enorme franja a cair-lhe sobre os lindos olhos... verdes. Ia-me dando um chilique! Cai no chão e tentei lembrar-me melhor do passado. Não! Não podia ser. Eu lembrava-me perfeitamente dos seus olhos amarelos. Mas eram verdes. — Isso não são lentes de contacto? – perguntei eu, numa voz familiarizada, afinal, conhecia-o bem. Ele sorriu com essa possibilidade e depois acenou negativamente. Ajoelhou-se ao pé de mim e disse, agora com uma expressão que mostrava serenidade e tristeza: — Eu estou aqui há quase 6 anos... Então... não podia ter sido ele. — Como... então... não foste tu? – perguntei, cada vez mais confusa. Ele acenou negativamente e depois disse: — Há uma pessoa que espera há tanto tempo como eu ver-te. Era demais! Eu estava tão confusa que acho que dos meus olhos saíam pontos de interrogação a todo o tempo... Yami virou-se para a porta que estava ao lado e disse: — Podes entrar. A porta abriu-se e uma rapariga que devia ter a minha idade, apareceu à porta. Ela tinha o cabelo mais comprido que o meu, mas era exactamente da mesma cor. Usava duas tranças, mas apenas com um bocado de cabelo que ficava mais para a frente. Os olhos dela eram verdes claros. Não havia sombra para dúvidas: era a Sakura. — Aya? – perguntou ela, timidamente. — Sakura? – olhava para ela com cada vez mais certeza de que era a Sakura. — Aya! – ela correu para mim de braços abertos e abraçou-me feliz. Fiquei ali especada, sem me mexer. Não sabia o que fazer. Nem sequer sabia se estava a sonhar. A Sakura estava viva, o Yami não tinha matado ninguém. Se era um sonho, a última coisa que eu queria era acordar. Na verdade tive medo. Medo de acordar 23
  • 27. e ver o cabelo da Sora espetado na minha cara devido a ela mexer-se muito durante o sonho. — Aya! Estou tão feliz por estares bem! Eu preocupada a pensar que não tinhas sobrevivido! E tu deves ter pensado que eu é que não tinha sobrevivido. Eu cai, mas o Yami apareceu pelo portal e tomou conta de mim, antes que ela aparecesse. Ele tem estado a tratar de mim. Tem sido muito simpático. Ele disse que tu estavas viva e íamos tentar encontrar-te. Mas tu sabes que os dragões não podem entrar na parte humana deste Mundo, por isso tivemos de esperar. O Yami é um grande mariquinhas. Não me quis deixar ir lá sozinha! – era, definitivamente, a Sakura. Ela falava alegremente, mesmo estando a falar de coisas sérias – Porque é que estás com essa cara? O Yami não matou ninguém. Nem os nossos pais nem o Kyou. Mas acho que já deves ter chegado a essa brilhante conclusão, não? — Claro. – respondi eu. — Eu vou explicar tudo. – disse Yami, fazendo-nos sinal para entrar na outra sala. Era uma sala com uma mesa gigante. Yami sentou-se em cima da mesa, como era costume dele quando pensava. Sakura puxou uma cadeira para mim e outra para ela. Sentámo-nos e ficámos a olhar para ele, à espera que começasse a falar. — Tudo começou num dia em que eu estava a ir para casa, depois de ter ido fazer os trabalhos de casa com o Kyou. Quando estava a meio do caminho, vi um círculo esquisito, com vários tons de azul, que girava e parecia feito de fogo. Um portal. Aproximei-me porque não sabia o que era. Fui sugado lá para dentro. Isto aconteceu quase à 5 anos e meio. Vim parar a este Mundo, que apenas conhecia dos livros. O Mundo dos dragões. Estava a passar ao pé do castelo Shiroi e o pai da Hikari encontrou- me. Levou-me com ele e fiquei por lá aproximadamente meio ano. Os pais dela pareciam gostar de mim e tratavam-me como um filho. Quem não gostava era a Hikari, que dizia que eu era perigoso. Um dia, quando eu estava a fazer-lhes companhia, a Hikari apareceu, matou os pais e culpou-me de tal acto de barbaridade – estava chocada, mas apenas fiquei a olhar para ele de boca aberta, queria acabar de ouvir a história – Tive de fugir. Mas antes de sair do castelo ainda andei a tentar descobrir o que queria a Hikari. Apenas sei que ela foi para a Terra a partir de um portal que ela própria formou. Não tenho a certeza, mas acho que foi ela que matou os vossos pais e irmão. – não podia acreditar! A pessoa que matara a minha família tinha estado à frente do meu nariz e eu não me apercebera! – Também não tenho a certeza quanto às razões, mas acho que foi por puro divertimento, ou para me provocar. Ela sabia o quanto eu gostava de vocês todos. E ela estava cega pelo ódio. Quando sai do castelo, fui encontrando outras pessoas que a odiavam, entre elas a Sakura, então formei uma outra parte deste Mundo. Construí um outro castelo e desde então, a Hikari tem-nos declarado várias guerras, mas ela continua sem saber que a Sakura está comigo. Eu tenho tentado várias vezes um tratado de paz, mas ela e os irmãos dela, que continuam a achar que eu matei os seus pais, não querem. Os dragões que tu feriste – olhou para mim, ao que eu desviei a cara, corando – iam propor outra vez a paz. Foi graças a eles que nós descobrimos que já vinhas a caminho. – ele olhou para nós e como não dizíamos nada ele acrescentou – Fim. — Eu... estou... chocada... – acabei por dizer – Tive à minha frente a pessoa que matou os meus pais e o Kyou e nada fiz. — Ora! Tu não sabias! Porque é que ias fazer alguma coisa à Hikari se ainda não sabias? – Sakura mostrava-se algo divertida com a minha expressão e deve ter achado a minha frase estúpida... 24
  • 28. — Pelo que sei ela vai tentar outro ataque para nos matar de vez. Mas ouvi dizer que ela, a meio do caminho vai matar os dragões brancos e depois é que nos vai tentar sozinha. – ele olhou para mim à espera de uma reacção – “Dragões brancos” inclui os irmãos dela. — O WUÊ?! – gritei, levantando-me. — Ela é uma maníaca! Eu sabia o plano dela. Era mais uma das razões para ela se querer ver livre de mim. Ela quer ser a mais forte deste Mundo e para isso precisa de ser a única da raça dos dragões. Os humanos são mais fáceis de manipular, apesar de alguns, como nós, podem aprender a controlar elementos. Voltei a sentar-me e olhei fixamente para os meus pés. — Tu conheces os irmãos dela, não é? – perguntou-me Yami. — Sim. – respondi eu. — Tens de os avisar! – disse Yami, agarrando-me pelos ombros, como se eu fosse uma idiota a quem era preciso explicar tudo ao pormenor e ser abanada como uma boneca de trapos ao mesmo tempo para a informação ser incorporada no meu cérebro – Tens de lhes dizer que correm perigo! Se alguma coisa correr mal, nós salvamos-te. Eu olhava para ele, imóvel, sem dizer nada. — O mais provável é também veres a Hikari... – disse ele a custo – Por isso tens de conseguir controlar-te. Não podes tentar matá-la, por muito que queiras, senão és logo presa. Ele continuou a dar-me conselhos enquanto nos dirigíamos até à varanda. Chegados à varanda, Yami deu-me o último conselho e transformou-se num dragão. — Como?! – perguntei eu, abismada – És um dragão?! — Foi preciso muito treino, mas agora consigo usar todos os poderes de um dragão. – explicou ele. Sakura montou-se e estendeu-me a mão, sorrindo. Eu retribui o sorriso e deu-lhe a mão, deixando que ela me ajudasse a montar. Voámos durante algum tempo, afinal agora a distância era mais longa e agora Yami carregava duas pessoas e não apenas eu, mas chegámos relativamente depressa em relação com a estes factores. Yami achou melhor aterrar ao pé da cascata, mas escondido pelas árvores. Sobrevoavam a cascata vários dragões brancos, reconheci um deles como sendo o Haki. Sai do meio das árvores e olhei para cima. Haki viu-me e aproximou-se, transformando-se. — Aya! Estás viva! Estás ferida? – ele olhou-me com atenção, talvez à espera de ver alguma ferida – O Yami não te matou? – depois esbugalhou os olhos – Não! Tu mataste o Yami?! Fiquei a olhar para ele com os olhos vazios enquanto pensava no que lhe havia de dizer: “Olha, a tua irmã é uma assassina!” Nah! “A tua irmã cometeu vários actos violentos.” Muito menos. — Aya? O que se passa? Não aguentei: — Eu preciso de vos avisar. – acabei por dizer – Uma... pessoa... disse-me a verdade. Vocês estão todos em perigo. Ele olhou para mim como um atum enlatado e acabou por dizer: — Tu endoideceste! — A sério! – passei-me completamente e disse-lhe tudo – Vocês podem morrer a qualquer instante! Quem matou os vossos pais não foi o Yami! – ele abriu mais os olhos, que pareciam querer saltar-lhe das órbitas. Deve ter desconfiado que fora o Yami 25
  • 29. que me dissera aquilo – Também não foi ele que matou os meus pais e o meu irmão! Foi ela! Foi a Hikari! – tapei imediatamente a boca. — Quem é que te disse isso? Foi o Yami, não foi? – ele nem esperou pela minha resposta – Tens de vir comigo. A Hikari pode tratar-te, ela... — Não! A Hikari não! – levei as mãos à cabeça e gritei. — Este é um dos poderes dos dragões negros. Podem dar-te a volta à cabeça e fazer-te uma lavagem cerebral. Vem comigo. Abanei a cabeça negativamente e ele fez-me o mesmo que o dragão negro me fez no castelo Kuroi. Desmaiei outra vez e ele levou-me até ao castelo Shiroi. Quando acordei ia-me dando um fanico. Vi a Sora quase em cima de mim, de tão preocupada que estava e Haki estava ali ao canto da cama onde me encontrava. — O que aconteceu? – perguntei eu. Sora saltou-me para cima e abraçou-me sem aviso prévio. — Estás viva! – gritou ela, contente. — A Hikari deve estar a chegar. – informou-me o Haki. Hikari apareceu e eu concentrar-me nas palavras de Yami. Tinha de manter a calma. Tinha de manter a calma. Ela aproximou-se ainda mais. Tinha de manter a calma. Mas vi-lhe os olhos amarelos. Saquei da minha espada e tentei matá-la. Ela desviava-se de todos os meus ataques. Eu estava descontrolada e nem sequer estava a pensar na luta. Apenas pensava em matá-la. Haki agarrou-me e Hikari chamou os guardas. Nem vale a pena dizer que fui presa... Fiquei presa nem uma hora, porque pouco depois a parede foi rebentada e vi Yami a voar com Sakura montada. — Depressa! Monta! – gritou ela. — Tenho de ir buscar a minha espada! – gritei em resposta. — Afasta-te! – avisou Yami. Eu saí da frente e Yami lançou chamas da boca, pelo que as grades ficaram todas derretidas. — Fixe! – admirei-me. Mal saí daquele cubículo, vi logo a minha espada e peguei nela. Atei-a no cinto e saltei para cima do Yami. Estávamos quase a abandonar a área pertencente ao castelo quando vimos os dragões brancos a aproximarem-se. A Hikari queria mesmo ver-nos mortos! Atrás de nós estavam a voar mais de 50 dragões brancos. Um deles era o Haki. Acho que o Yami deve ter dito alguma coisa à Sakura, porque ela se levantou, formou um selo com as mãos a dizer uma ladainha de palavras em latim, muito rapidamente. De tudo o que ela disse só apanhei “tonitrus” e “tonitrua”, que significam, respectivamente, trovão e trovoada. Gradualmente, no céu, que estava completamente descoberto, foram aparecendo nuvens completamente negras e quando Sakura fez um sinal com o braço, vários enormes trovões caíram entre nós e os dragões brancos, não lhes permitindo continuar a perseguição. Sakura sorriu, triunfante, e voltou a sentar-se. — Fixe! – exclamei eu, gabando-a. O sorriso dela ia de orelha a orelha. Chegámos ao castelo Kuroi e fomos “conferenciar” outra vez. — Desculpem. Estraguei tudo... – disse eu, quando estávamos já na sala – Sou uma idiota. 26
  • 30. — Não digas isso. Fizeste o teu melhor. Avisaste-os. Eles é que não acreditaram. Se eles morrerem, só se podem culpar a eles próprios. – disse Sakura, tentando animar- me – Além disso, eu e o Yami aproveitámos para descobrir os planos da Hikari. Sabes, eu também consigo ler os pensamentos. Ela está a pensar em atacar-nos outra vez, mas quando estiverem em determinado ponto do caminho para cá, quer matá-los a todos, e então matar-nos a nós. Olhei para ela. Estava tão diferente! Dantes era eu que lhe dizia esse tipo de coisas quando ela pedia desculpa por ter feito alguma asneira. Não pude deixar de sorrir. Ela estava tão ou mais forte do que eu. Levantei-me e disse: — Temos de a impedir! — Temos de ir para um ponto próximo do local da «matança». Eu tenho um plano. – disse Sakura. ******* Estávamos perto da cascata à espera. Sentimos, através do vento, que eles estavam a chegar e Sakura procurou na linha principal alguém. Olhou directamente para Haki com os olhos completamente verdes e, pouco depois ele pousou ao pé de nós. — Haki! – corri para ele – Onde está a Sora? — Convenci a Hikari a deixá-la em casa. – respondeu ele, confuso. — Mas eu não fiquei! – Sora apareceu de um arbusto, com o cabelo todo despenteado e cheio de folhas e ramos. — Que alívio! – exclamei – Haki! – agarrei-o pelos ombros - Tens de mandar recuar as tropas antes que seja tarde de mais! — Ainda estás com essa história? Ninguém está em perigo... – Haki reparou em Yami e ia dizer qualquer coisa, mas ouviu-se uma explosão e vimos os dragões brancos a caírem na cascata. Todos eles. Mortos. Yami tinha-se posto à frente de Sora para impedir que ela assistisse a tal cena, mas ela apercebera-se que a irmã tinha morto todos os dragões brancos. Pela cara de Sora abaixo, corriam lágrimas. Haki esbugalhou os olhos. Quando acabou de assimilar o que tinha acontecido o ódio tomou conta dele, mas eu e Sakura agarramo-lo e tapámos-lhe a grande boca. Ele limitou-se a emitir raios de raiva à irmã, que flutuava no ar, com um sorriso maquiavélico na cara. Hikari afastou-se em direcção ao castelo Shiroi e Yami pegou em Sora ao colo. Virou-se para nós e disse: — Ela está a voltar para o castelo Shiroi. Temos que ir para lá. Entretanto, teremos de pensar num plano – ele seguiu caminho e Sakura seguiu-o logo. Eu fiquei a olhar para Haki, que estava agora chocado a ver os dragões a cair cascata abaixo. — Haki... — Vamos! – decidiu ele, voltando-se e seguindo-os. Eu fui atrás. Durante a viagem só se ouvia a Sora a soluçar de vez em quando. Chegámos ao castelo Shiroi. Já não parecia o mesmo. Estava muito mais escuro. Começou a chover. Haki olha tristonho para o castelo. — Como é que entramos? – perguntou Yami a Haki. Haki olhou para ele com antipatia, mas depois aliviou a expressão e respondeu: — O castelo não mudou nada desde que foste embora... mas acho que é melhor entrarmos pelo portão das traseiras. Ela não vai estar à espera. Muito menos agora que não tem guardas para estarem de vigia... – Haki olhou para o chão e cerrou os punhos com toda a força. 27
  • 31. — Então é melhor separarmo-nos. – disse Yami – Eu conheço uma passagem secreta. A Hikari provavelmente está na sala do trono a vangloriar-se. Quem vem comigo? — Eu! – disse Sakura – A Aya vai com o Haki e a Sora vai com quem quiser! — Olha lá, quem és tu para estares para aqui a dar ordens? Aliás, quem és tu? – perguntou Haki. — Cuidadinho, rapazote, eu sou a irmã gémea do amor da tua vida! — O quê?! – gritámos eu e o Haki ao mesmo tempo. Sakura ignorou-nos e virou-se para a Sora. — Com quem queres ir? – perguntou-lhe ela, amavelmente e afagando-lhe o cabelo. Ela encolheu os ombros. Ainda estava o colo de Yami e tinha os olhos vermelhos devido ao choro. Encostada ao peito de Yami e parecia não querer sair do seu colo. — Ela vem connosco. – Sakura afagou-lhe novamente a cabeça e depois voltou a virar-se para Haki – Se não te importares. — Não. Pode ir com vocês. Ficas bem? – perguntou à irmã. Ela acenou afirmativamente. Fomos todos até ao portão das traseiras, que ia dar à cozinha, ou umas das cozinhas, não sei. Dentro da cozinha havia uma despensa. Dentro dela, uma das paredes empurrava-se e mostrava uma passagem secreta. — Sora, - começou Yami – agora vamos ter ir a gatinhar, está bem? – Sora acenou e Yami pousou-a no chão – Eu vou à frente, tu vais a seguir e a Sakura vai no fim, ok? — Chefe! – Sakura estava até bastante animada, ou pelo menos aparentava estar – Agora os dois pombinhos continuam por ali. — Sakura! – gritei. Sakura continuou com este tipo de conversas, por isso peguei em Haki e afastei-me, dizendo – Vamos! — Eles querem é despachar já as coisas! – gritou ainda Sakura. Não respondi. — Agora por onde é? Sem uma palavra, Haki seguiu por um caminho e eu fui atrás. Durante algum tempo andámos sem dirigir palavra, mas quando eu ia abrir a boca para falar, Haki disse, relutante: — Desculpa. Devia ter acreditado em ti. — Não faz mal. A tua reacção foi muito normal, afinal, como podias suspeitar que a tua irmã tinha matado os teus pais? Se me viesses dizer que a Sakura tinha matado os meus pais, eu também não acreditaria. – eu tentei confortá-lo. Continuei a dizer palavras encorajadoras e, de repente ele estacou. Choquei contra ele. — O que foi? – perguntei. — Chegámos. – disse ele. Olhei em frente. Reconheci a gigantesca porta que levava à sala do trono. A porta que levava ao sítio onde Hikari se encontrava. — Haki? – ele parecia meio hipnotizado e hesitante. Tomei coragem e coloquei a mão na maçaneta. Haki ficou a olhar para mim, atarantado. Olhei para ele com olhos decididos. Ele pôs também a mão na maçaneta, por cima da minha, e juntos abrimos a porta que levava à Hikari. Efectivamente, Hikari estava sentada no trono e, ao ver-nos levantou-se e disse: — Ora, ora. Então sempre é verdade aquilo que vocês dizem lá na Terra: Vaso ruim não quebra. 28
  • 32. — Obrigada, nós já reparámos. – disse eu, referindo-me a ela. — Aya, Aya. Eu não estou com paciência para joguinhos parvos. — Está-te a dar para repetires a primeira frase das frases, não? Ela lançou-me um feitiço e eu protegi-me com uma barreira de água. Não estava à espera deste ataque. Não era um ataque de luz. Era um ataque de trevas. — Eu estou mesmo mal-humorada, por isso não me provoques. – disse Hikari, ainda com a mão a fumegar devido à potência do feitiço – E tu, meu irmão, espero que compreendas se eu disser que tenho de matar-te. Uma das paredes rebentou. Yami e Sakura, que levava Sora ao colo, saltaram cá para baixo. — Cambada de idiotas... – começou Hikari. À sua volta foi crescendo uma névoa negra, que se foi expandindo pela sala. Essa névoa cercou-nos. Fomos todos separados. — Haki? Sakura? Yami? Sora? – gritei. Mas nenhum deles me ouviu. Formei um selo e Ayu separou-se de mim. — Preciso da tua ajuda. – disse eu – As duas devemos conseguir acabar com isto. — Ok. Mandámos uma cascata de água para cima da névoa, que enfraqueceu, mas quando íamos tentar novamente, Hikari mandou-me um feitiço e eu cai para o chão. Quando me levantei, Haki apareceu, cheio de cortes, cabelo despenteado e a respirar muito depressa e pela boca. Obviamente tinha passado através da névoa. — Haki! És parvo? Acho que ele ficou muito mais surpreso do que eu ao ver-me a mim acompanhada pela Ayu, mas não se deixou afectar. Foi-se pôr ao meio e começou a falar. Convocou uns ventos tão fortes que a névoa desapareceu. Olhámos em volta. Não se via a Hikari em lado nenhum. Yami também já estava fora da névoa e tentava libertar Sakura e Sora. Íamos ajudar quando Hikari apareceu de repente e, agarrando-me pelo pescoço, mandou-me pela janela, indo atrás. Caímos as duas no jardim. Dei-lhe um pontapé e rolei para longe dela. Levantei- me. Ela seria tão parva ao ponto de me deixar no meu elemento? Ou teria o seu truque na manga? Haki, Yami, Sakura, Sora e Ayu saltaram também para o jardim. — Aya! – gritou Sakura, pois Hikari investia de novo contra mim. Parecia querer matar-me com as suas próprias mãos. No verdadeiro sentido da frase. Consegui esquivar-me. Ela não desistia. Tentei mandar-lhe com um feitiço, mas não funcionou. Não conseguia formular feitiços! Hikari apanhou-me e mandou-me contra uma fonte que ali estava ao pé. Riu-se desmedidamente e depois explicou: — Neste jardim, apenas eu tenho poder. Tu nada podes fazer. Olhei para ela e depois procurei a minha espada. Não a encontrava. Olhei em volta. Estava longe. Devia ter-se desatado do meu cinto e voado quando Hikari me acertou. Yami e Sakura tentavam, desesperadamente, fazer alguma coisa. Ayu aproximou-se e acertou em Hikari com um feitiço de gelo. — Como? Como é possível? – Hikari estava confusa. — Desculpa, querida – ela fez um sotaque esquisito que dava vontade de rir – mas eu sou imune aos teus feitiços de meia tigela. Hikari apontou a mão dela na minha direcção e formulou um feitiço. 29
  • 33. Ayu ia impedir, mas foi demasiado lenta. Vi o feitiço a vir contra mim. Tentei sair dali, mas não conseguia. Hikari controla os 4 elementos. A água não me largava. Fechei os olhos e pedi desculpa aos meus pais e ao Kyou por não os ter vingado. Ouvi Sakura a gritar o meu nome e a dizer para Yami a largar. Depois ouvi um guincho de Sora. Abri os olhos. Olhei horrorizada. Estava à minha frente Haki, que tinha levado com o feitiço. — Haki! – gritei. Tal foi o espanto de Hikari que me soltou, pelo que eu corri para Haki e ajoelhei- me ao pé dele. Ayu foi a correr até lá. Haki disse-nos: — A flor... a rosa... se a rosa for destruída... a Hikari também é... – começou a tossir e da sua boca escorreu um fio de sangue. — Porquê? – eu soluçava. — Porquê, perguntas tu... não sei... Aya... – mas não conseguiu dizer mais nada. Levei as mãos à boca e chorei descontroladamente. Ouvi Sora a chorar também, agarrada a Yami, que olhava tristemente. Sakura tinha lágrimas a escorrer-lhe silenciosamente pela cara abaixo. Ayu limitou-se a fechar-lhe os olhos. Hikari nem esperou aproveitou-se e levou novamente as suas mãos ao meu pescoço. Fui contra uma árvore. Tentei abrir a boca para falar, mas Hikari apertou-me mais a garganta e da minha boca apenas saíam ruídos abafados de dor. Ayu havia sido também ela imobilizada por um feitiço de Hikari, pelo que não conseguia fazer nada para me ajudar. Olhei, então, para Sakura e transmiti-lhe a seguinte mensagem, tendo em conta que ela era capaz de ler as mentes: — Sakura, pega na espada e corta aquela rosa. Esmaga-a se for preciso! O Haki disse que era a única maneira. Sakura ouviu e olhou em volta. Viu a espada e correu para ela. Tirou-a e correu para a rosa. Cortou-a e pegou nela. Voltou e perguntou: — Hikari? – ela olhou e ficou paralisada – O que é que isto significa para ti? – Sakura tinha na mão aberta, a rosa. — Não! Larga isso! – Hikari largou-me e correu para tentar impedir Sakura, mas a minha irmã fechou a mão e esmagou, bem esmagada, a rosa. Hikari estacou e parecia estar a sufocar. Levou as mãos ao pescoço e emitiu estranhos sons de sufocamento. Acabou por cair no chão, morta. A pessoa que matou os meus pais e o meu irmão... finalmente... morta. Sakura correu para mim e perguntou-me várias vezes se eu estava bem. Ainda não me tinha recomposto pela morte do Haki, portanto continuava a soluçar, enquanto olhava para cima. Estava a parar de chover. Yami apareceu ao pé de nós, com Sora ao colo, a chorar descontroladamente. Ayu olhou para nós e depois para o corpo imóvel de Haki. Ela formou um selo e começou a dizer uma lengalenga de palavras e eu olhei para ela. — O que estás a fazer? – perguntei eu. Ela não respondeu. Continuou. Ela não podia estar a fazer o que eu estava a pensar que ela estava a fazer! Ela odiava o Haki desde o dia em que ele dissera que ela era a minha parte má! — Ayu? 30
  • 34. Ayu começou a desfazer-se em bocadinhos minúsculos de gelo, que brilhavam imenso com o sol que agora aparecia no céu. À volta de Haki apareceu uma luz dourada. Levantei-me e corri para lá. Quando cheguei ao pé deles, de Ayu só restavam os olhos e parte do cabelo e Haki voltava a ter cor. Olhava para um e depois para o outro. — Ayu... obrigada... – pelos olhos consegui perceber que ela estava a sorrir. Ayu desapareceu totalmente e Haki voltou a respirar. Ajoelhei-me ao lado dele. Quando ele abriu os olhos e se sentou a custo eu mandei-me para cima dele, abraçando- o. — Um milagre... – disse Sakura, estupidamente, arrastando as palavras. Sora olhou e ao ver o irmão vivo correu para lá. — Aya! – gritava Haki – Sai de cima de mim! Pareces a minha irmã! — Quero lá saber! – gritei eu. Apareceu Sora e mandou-se para cima de nós. Sakura e Yami aproximaram-se lentamente observando-nos. — Quem diria... a minha irmãzinha a falar com um rapaz sem seres tu ou o Kyou... – disse Sakura. — Realmente... – disse Yami. Sora largou Haki e correu para Yami e Sakura, dizendo qualquer coisa muito depressa, não se percebendo nada. — Então? – olhei para Haki, curiosa. — Então o quê? – perguntou ele, desconfiado. — Olha, tenho duas perguntas. Primeiro: como é morrer? — É esquisito. – disse ele, estupidamente – Estás morto... — Não me digas Sherlock Holmes! — O quê? — Esquece! Agora, a segunda pergunta: porque é que te meteste à frente? Haki olhou para o lado, muito corado. — Olha, porque... — Porque quer casar contigo! – gritou Sora, muito contente. — Pára com essa história do casamento! – gritou Haki. — Olha, meu rapaz. Fica sabendo que disfarças muito mal. Está na tua cara que gostas da minha irmã! E claro que foi por isso que a salvaste! – disse Sakura. — Não! – gritou Haki. Ficámos ali durante algum tempo a discutir coisas parvas deste género. Sakura não se calava com a sua teoria idiota e Sora com as conversas sobre casamentos. Eu e Haki replicávamos, mas elas não ligavam. Yami limitava-se a sorrir e a olhar para Sakura. Ela ali a dizer coisinhas mas eu sempre que suspeitei! ******* Passaram a não haver dois, mas apenas um castelo para os dragões. Já não eram nem dragões brancos nem dragões negros. Eram todos dragões. A única diferença era a cor. Humanos naquele Mundo e dragões passaram a viver em harmonia. Voltei a ver várias vezes os meus pais adoptivos. Eles adoraram conhecer a Sakura e o Haki... 31
  • 35. Bem... apesar de tudo, a Sakura e a Sora tinham razão. Eu e o Haki estamos casados. Mas eu também não me enganei! A Sakura e o Yami também estão casados. O que torna os nossos casais tão engraçados é que, no exemplo deles, a Sakura e o Yami são o oposto: ele está sempre calado e ela não se cala. Ela não para quieta, o Yami está sempre calmo e etc. Os opostos atraem-se, penso eu. E eles completam-se... Eu e o Haki quase nunca estamos de acordo, mas mesmo assim damo-nos muito bem. A Sora é uma sortuda que tem montes de rapazes (dragões e humanos) atrás dela. Tornou-se numa jovem mulher (ela odeia que eu lhe chame isto) muito bonita (aliás, como a Hikari era) e muito simpática, por isso é normal. Temos vivido muito felizes e acho que é uma boa altura para acabar a história. Daqui a muitos anos hei-de estar a contar esta história aos meus netos... Fim Elsa Vila, nº 5, 8º B 32
  • 36. Confissões Apareceste na minha vida. Preparara-me inúmeras vezes para aquele momento, mas quando te vi foi inesquecível. Namoramos durante seis anos, viajámos, vimos coisas magnificas, casámo-nos, tivemos três maravilhosas filhas, foram anos que me marcaram profundamente e os quais nunca esquecerei. Pensei realmente que fosse para toda a vida, via-te como a minha alma gémea, mas agora, agora percebo finalmente que tudo não passou de ilusões, não que esteja arrependida, de maneira alguma, simplesmente percebo agora que nem tudo dura a vida toda. Depois de vinte e oito anos juntos, hoje com cinquenta e quatro anos de idade, enfrento um divórcio difícil. Nunca pensei que pudesse acontecer, mas aconteceu, sim, tu trocaste-me por outra, uma mulher mais nova, com mais vida pela frente, uma mulher de sucesso que apenas se quer divertir. Eu amava-te, no entanto tu deixaste-me, sem a mais pura consideração por mim, por nós, e agora estou sozinha, ou quase. As minhas filhas são neste momento tudo o que tenho, mas já crescidas, tem vida própria e apenas a mais nova continua a viver comigo. Temo ficar sozinha, a solidão assombra-me, e para meu descontentamento, aproxima-se e começa a ameaçar-me. Mas eu terei forças, sei que quando chegar a altura eu conseguirei enfrentá-la. Por enquanto, só me resta esperar, esperar que o tempo passe, pela vida. E talvez, talvez um dia encontrarei alguém com quem recomeçarei uma nova vida e passarei o resto dos meus dias, se não for tarde de mais. Ana Rita Nunes, nº 2, 9º C 33
  • 37. O Feitiço Quebrado Era uma vez um reino longínquo, cheio de mistérios escondidos nos seus bosques e florestas. Aí viviam muitos animais, todos diferentes, mas todos eles tinham medo de entrar na grande gruta. Nunca ninguém se tinha atrevido a lá entrar, pois era escura e de noite ouviam-se ruídos lá dentro. Perto da floresta havia uma grande casa, (parecia um palácio) com grandes janelas e dois andares, com um jardim imenso, cheio de flores e grandes relvados. Nessa casa vivia uma família muito rica, da alta sociedade. O D. Filipe, a D. Henriqueta e a pequena Mariana eram os únicos que lá viviam com mais cinco criadas. A pequena Mariana tinha apenas oito anos, mas já tinha muita liberdade, pois os seus pais deixavam-na ir passear pela floresta. Como era muito curiosa andava sempre à procura de novos amigos (pois, porque ela gostava muito dos seus amigos da floresta, os animais), até ao dia que se deparou com a grande gruta. Ficou espantada com o que via, nunca tinha visto uma gruta tão escura. Desatou a correr para casa e quando chegou pegou numa vela, nuns fósforos e voltou para o sítio da gruta. Acendeu a vela e muito cautelosamente entrou, as paredes da gruta tinham lindos desenhos, de fadas e dragões, de estrelas cintilantes, de sonhos e de magia. Os olhos de Mariana brilhavam tanto como as estrelas da gruta. De repente viu um vulto lá ao fundo e continuou a andar para ver o que era, à medida que se ia aproximando o vulto ficava cada vez maior e ela apercebeu-se que era um dragão e decidiu parar. Ganhou coragem e disse: - Porque estás triste? O dragão deu um salto e respondeu: - Estou sempre triste, fui enfeitiçado e não consigo quebrar o feitiço. - Isso quer dizer que não és um dragão na realidade? – perguntou a Mariana. - Não, sou um príncipe e só posso quebrar o feitiço quando encontrar um coração bondoso, alegre, amigo e pô-lo dentro desta caixa de ouro! – disse o dragão. - Não te preocupes que eu vou ajudar-te a encontrar esse tal coração! – disse a Mariana muito confiante. - Obrigado, vou confiar em ti! Saíram os dois da gruta e começaram a conversar, a conversar, a conversar, a conversar, até ficar de noite e Mariana teve de ir para casa, mas prometeu ao dragão que no dia seguinte voltaria à gruta. Durante a noite Mariana sonhou com o dragão, sonhava que voava com ele e conversavam muito. No outro dia ela foi ter com ele e passaram o dia inteiro juntos à procura de um coração, mas nada feito, não encontraram nada. Nos dias seguintes o mesmo se passou e cada vez ficavam mais amigos. Um dia de noite Mariana andava ás voltas na cama, não conseguia dormir pois tinha-se apercebido que o dragão tinha esse tal coração bondoso, alegre e amigo e por muito que lhe custasse tinha de fazer o que fosse preciso para quebrar o feitiço. De manhã quando acordou, vestiu-se, tomou banho, foi à cozinha, pegou numa faca que escondeu na sua lancheira e foi para a floresta. Chegou à gruta e bastante nervosa com as lágrimas nos olhos pegou na faca e matou o dragão. Mariana estava triste mas pegou no coração e colocou-o dentro da caixa. Foi ter com o dragão que estava ali estendido no chão e começou a chorar, mas de repente o dragão começou a transformar-se num lindo príncipe e Mariana ficou com um grande sorriso nos lábios. O príncipe olhou para ela e disse: 34
  • 38. - Obrigado por me teres ajudado a quebrar o feitiço, vai ter com a tua família. Eu voltarei para o meu país. - Está bem, mas vai escrevendo para dar notícias! – disse a Mariana. - Não te preocupes que eu irei escrever, agora vai, os teus pais já devem estar preocupados. E assim foi, despediram-se e cada um foi para o seu caminho. Sofia Cordeiro Fadigas Rodrigues Colaço, nº 25, 7º B 35
  • 39. Diogo e o Anjo Era uma vez um rapaz que se chamava Diogo. Diogo não tinha família nem casa, apenas vagueava por entre as ruas de uma grande cidade. Ele gostava de ver o mar, pois lembrava-se de sua mãe, que tinha os cabelos ondulados como as ondas brilhantes e fortes que rebentam na areia macia da praia. Quando não passeava na praia, andava pelas ruas estreitas e longas da cidade. Era uma cidade com muitas lojas e com montras luxuosas. Os cafés tinham deliciosos doces e salgados e as casas eram grandes e acolhedoras. Na cidade havia um jardim, com flores de todas as cores, árvores muito altas e um grande lago, cor de turquesa. Era aí que Diogo dormia, entre os arbustos, no Inverno frio e gélido tapava-se com mantas que lhe davam. A sua roupa era feita de bocados de tecido que sobravam das lojas que os vendiam. Diogo era alto e magro, loiro de olhos cor de avelã. Por vezes as pessoas perguntavam: -Que rapazito tão bonito! Quantos anos tens? -Tenho os anos que ainda faltam para o resto da minha vida! - respondia Diogo, porque não sabia a sua idade. Todos os dias de manhã, a Sra. Luísa dava-lhe pão e um sumo que tinham de dar para o resto do dia. Não lhe podia dar mais, pois já tinha uma certa idade e o dinheiro não chegava para tudo. Diogo gostava muito dela, eram grandes amigos. A Sra. Luísa era doce e bondosa, tinha os cabelos grisalhos e os olhos verdes. Todos os dias, ao fim da tarde, ele ia à praia, deitava-se na areia a ouvir o cântico das ondas e a olhar o azul do céu. Nos dias de chuva abrigava-se numa pequena gruta que lá havia. Certo dia quando brincava com a espuma do mar, viu uma mulher muito bonita, de longos cabelos ruivos e com um vestido azul comprido, que chamava por ele enquanto caminhava por cima das ondas em sua direcção. -Diogo! Diogo! -Quem és tu? O que queres de mim? – perguntava ele muito aflito. -Não tenhas medo, eu não faço mal! – dizia a mulher com uma voz muito calma. -Mas quem és tu? -Sou o teu anjo da guarda, vim ajudar-te! -Ajudar-me? – perguntou Diogo. -Sim, é mais uma proposta! Porque não vens comigo para um lugar onde não há fome nem desespero, um lugar onde não há problemas? -Era óptimo! – mas pensou na Sra. Luísa, na sua grande amiga – Não pode ser, tenho de fazer companhia a uma grande amiga. – respondeu ele muito convicto. -Tu é que sabes, a escolha é tua! E o anjo desapareceu com o rebentar da onda. Diogo foi ter com a Sra. Luísa, mas mal abriu a porta deparou com ela no meio do chão, estava pálida e não reagia. Dois dias mais tarde foi o seu funeral, Diogo chorava e já não sabia o que fazer, já não tinha comida, a sua sede era mais que muita, já não aguentava mais. Passado uns dias as pessoas paravam na rua para ver um rapaz caído no passeio, era Diogo. Mas o anjo levou-o por entre as ondas, para um lugar onde não havia preocupações, um lugar onde reinava a paz e a beleza, um lugar onde os anjos viviam, um lugar onde encontrou a família, um lugar chamado CASA. Sofia Cordeiro Fadigas Rodrigues Colaço, nº 25, 7º B 36
  • 40. A Inner Magic A jovem mulher respirava com dificuldade e os seus olhos estavam fixos no vazio. Deitada na sua cama, esperava que aquele sofrimento terminasse rapidamente. Subitamente a porta do seu quarto abriu – se e a mulher virou – se tentando identificar quem entrara. - Miyo? – murmurou ela Outra mulher aproximou – se da cama silenciosamente. - Ainda bem que chegaste. – disse a mulher feliz - Como te sentes? – perguntou Miyo tentando sorrir - Em breve estarei bem. – suspirou ela – A hora está a chegar. Foi demais para Miyo. Não conseguia ver a amiga morrer assim. - Não podes morrer Junko! És a única Inner Magic capaz de proteger Allarya! – exclamou Miyo com lágrimas nos olhos - Eu não sou a única Inner Magic, e tu sabes isso – respondeu Junko sorrindo docemente - Eu sei. – disse Miyo limpando as lágrimas – Mas ela nem sabe que é uma Inner Magic! Aliás, ela nem sabe que tu és mãe dela! - Se não sebe, está na altura de saber. – disse Junko - Malditos sejam os Dark Magic! – exclamou Miyo – Eu hei de vingar – me de Kanna... Senhora da Escuridão e das Sombras, deve estar agora a celebrar, por ter mortos a Rainha da Luz. - Não vai celebrar por muito mais. Miyo... – disse Junko debilmente – Avisa a minha filha, protege a Sunako... – deu um longo suspiro que terminou com a sua vida. - Prometo Junko... Prometo... *** - Que nervos... Está um dia tão bonito, e eu aqui a dar de comer às galinhas! – reclamou Sunako - Pára de te queixares! Despacha – te a dar de comer às galinhas para poderes sair. Sunako olhou para o muro que separava o seu quintal da rua e viu uma rapariga sentada olhando para ela divertida. - Seria mais rápido se ajudasses. – respondeu Sunako com um sorriso matreiro - Não querias mais nada! Ora essa! - Vá lá Kasai, não sejas preguiçosa! - Eu, preguiçosa?! – exclamou Kasai fingindo – se ofendida – Hoje já trabalhei muito! - Acredito... – disse Sunako acenando com a cabeça – O que é que fizeste? Regaste uma planta? - Para tua informação foram duas! - Um trabalho muito penoso... Já estou cansada só de te ouvir... Vá, desce daí e faz – te útil! Kasai saltou do muro para o chão do quintal aproximando – se de Sunako. 37
  • 41. - Ora bem, já cá estou. Dá cá esse cesto de milho. Sunako passou –lhe o cesto para as mão com um ar desconfiado. - Observa e aprende. – disse Kasai. E dito isto entorna o conteúdo todo do cesto para o chão - És doida?! – guinchou Sunako - É preciso ter espírito prático. – respondeu Kasai naturalmente - Sim, mas as galinhas não vão comer este milho todo! - Ora, se não comem agora, comem depois! Anda lá! Com um calor destes só apetece ir ao rio! Sunako sorriu. Só mesmo Kasai para ter tanta energia e boa disposição com um tempo tão quente como aquele. - Vamos lá. – disse Sunako dirigindo – se para o portão Quando lá chegaram, o rio estava a abarrotar de pessoas. - Bolas! – protestou Kasai – Odeio quando isto está cheio de gente! - Bem, já cá estamos não é? Vamos aproveitar! – disse Sunako abrindo caminho entre a multidão. – Olha está ali um lugar! Kasai seguiu – a e em seguida atirou – se para a água. - Kasai?! Tu por acaso já tiraste a roupa? – perguntou Sunako Kasai abriu muito os olhos e saiu da água rapidamente - Esqueci – me completamente! – disse ela tirando as roupas Sunako foi até á margem e pôs um pé dentro de água. De repente deu – lhe a estranha sensação de estar a ser observada. - O que tens? – perguntou Kasai sentando – se ao pé dela - Tenho o pressentimento que estamos a ser observadas. – disse Sunako olhando para todos os lados Kasai levantou – se e de repente começou – se a rir. - Qual é a piada? – inquiriu Sunako sem perceber - Tens razão Sunako. Olha me só para ali. – disse Kasai apontando para a sombra de uma árvore onde estava um rapaz. – É jeitoso, sim senhora! O rapaz olhava fixamente para Sunako como se não houvesse ali mais ninguém. - Acho que ele gostou de ti. – concluiu Kasai rindo – se – Vai lá falar com ele. - Eu?! Deves estar parva! Eu vou é para a água. Vai tu se quiseres. Kasai ficou a ver a amiga a atirar – se para a água num mergulho perfeito. Sunako veio ao de cima e olhou para o sítio onde o rapaz estava e verificou que ele tinha desaparecido. - Estranho... – disse ela. Depois virou – se para onde Kasai estava e viu que ela não estava ali – Mas onde é que será que ela... - AÍ VOU EU!!!! – exclamou Kasai atirando – se para cima de Sunako molhando – a toda - És mesmo maluca! – disse Sunako. Subitamente ouviu – se um grito de desespero. - Socorro! A minha filha está se a afogar!!!! – disse uma mulher na margem do rio Sunako e Kasai viraram – se para trás e viram uma rapariguinha que não devia ter mais de 10 anos sendo arrastada pela corrente. Sunako instantaneamente mergulhou a toda a velocidade para salvar a rapariga. - Sunako! Onde vais?! – chamou Kasai Sunako aproximava se cada vez mais da rapariga quando verificou que algo as estava a puxar para baixo. - Oh, meu Deus! – exclamou Kasai – Eu tenho de a ir ajudar! - Não vás. – disse alguém Kasai olhou para a margem e viu o rapaz que estava a observá – las. 38
  • 42. - Mas a minha amiga precisa de ajuda! – bradou Kasai desesperada - Não te preocupes. Ela desenrasca – se sozinha. – disse ele sorrindo Sunako sentia – se cada vez menos consciente e o ar estava a escassear. De repente bateu com a cabeça em algo sólido e ficou um pouco atordoada mas olhou para o lado e viu uma coisa que parecia uma pessoa, mas que já tinha morrido à uns bons anos, sugando algo brilhante do corpo da rapariga que tinha ido ao fundo com ela. Sunako tentou mover – se mas parecia que estava imobilizada. O ser virou – se para ela e começou a aproximar – se. O pânico começava a tomar conta do seu corpo enquanto terminava o pouco ar que lhe restava. O ser aproximou – se começou a retirar – lhe a energia vital. Sunako sentia os anos de vida a serem lhe retirados quando veio algo á cabeça. Algo que nunca tinha ouvido antes mas que parecia que sabia aquilo desde sempre. - Thenassas, Criptos, Darikleth... – disse ela num sussurro O ser ficou hirto e em seguida desfez – se silenciosamente. Sunako voltou a sentir o seu corpo a obedecer – lhe e o ar a voltar como se tivesse ido ao de cima. Nadou rapidamente até à rapariga que jazia no fundo do rio como uma boneca de trapos. - Não... – pensou Sunako passando – lhe a mão pela cara – Tens de viver. A mão de Sunako começou a brilhar incessantemente numa luz azul néon e a rapariga começou a dar sinais de vida. Sunako pegou nela rapidamente e voltou ao de cima. - Elas estão de volta! – exclamou alguém - Sunako!!! – disse Kasai visivelmente aliviada Sunako nadou até à margem onde toda a gente as esperava. - Afastem – se! – ordenou Kasai saindo dentro de água – Deixem-nas respirar! Sunako deitou a rapariga no chão e esta abriu os olhos. - O... O que é que aconteceu? – perguntou ela - Tem calma. – respondeu Sunako sorrindo – Está tudo bem. Agora estás segura. - AIKO!!! – exclamou a mulher que tinha dado o alarme correndo para elas – Como estás filha?! Sentes – te bem? - Sim mãe, estou bem. – respondeu ela – Esta menina salvou – me. - Muitíssimo obrigado por ter salvo a minha filha! – exclamou a mulher bastante emocionada – Nem sei o que lhe dizer para mostrar a minha gratidão! - Ora... Toda a gente teria feito o mesmo... – respondeu Sunako corando - Nem pensar! O que a menina fez foi um acto de bravura inquestionável! - Bem... Obrigado... – disse ela – Kasai... - Sim? - Anda, vamos para casa. – pediu Sunako - Está bem. Pelo caminho, Kasai não parava de perguntar coisas sobre o ser estranho. - Mas agora a sério, como é que ele era? E por que é que achas que ele andava a tentar sugar a energia vital às pessoas? - E eu é que sei? Não estive propriamente preocupada em parar para lhe perguntar: “ – Olhe, desculpe, mas por que é que anda sugar a energia vital às pessoas? E já agora porque é que parece a múmia do meu tetravô?” - Tens razão. – concordou Kasai – Mas parece que estás um pouco perturbada. O que é se passou mais? - Bem... – começou Sunako – Aquele ser também ia sugar – me a energia vital, mas... - Mas o quê? – perguntou Kasai impacientemente 39
  • 43. - De repente eu disse qualquer coisa esquisita que eu nunca tinha ouvido em lado nenhum, mas o que é dito e certo é que o ser desapareceu de repente. - O que é que tu disseste? - Não sei, nem sequer sei em que língua era. - Tu invocaste um dos feitiços de Ragnarök. – disse uma voz atrás de Kasai e Sunako – Isso significa que tu és a Inner Magic - És tu! – exclamou Kasai – És o rapaz que nos estavas a observar e que disseste que ela não precisava de ajuda quando foi salvar aquela miúda! O rapaz ficou parado a olhar para elas com uma expressão séria e de repente sorriu. - Fico muito feliz por te conhecer! – disse ele aproximando – se de Sunako – Eu nunca conheci uma Inner Magic pessoalmente! - Uma quê? – perguntou ela com uma expressão confusa – E afinal quem és tu? - Pois, desculpa, nem me cheguei a apresentar. Chamo – me Loki e fui enviado para te recrutar numa missão muito importante. E quanto aquilo de seres uma Inner Magic... Bem, é uma longa história... Penso que conheces os Dark Magic. - Não, não conheço. – respondeu Sunako ainda mais confusa do que já estava - Como é possível não conheceres os Dark Magic?! – espantou – se Loki – São os seres mais desprezíveis que existem à face da Terra! - Desculpa, mas nunca ouvi falar. - Os Dark Magic andam há séculos a tentar governar este planeta. São eles que provocaram todas as guerras que existiram, mas indirectamente. Viraram – nos uns contra os outros esperando que nos matássemos, porém a Rainha da Luz, Junko, conseguiu evitar esse grande catástrofe. - Sim, mas o que é que eu tenho haver com tudo isso? – inquiriu Sunako - Bem, Junko também era uma Inner Magic mas morreu há pouco tempo e agora Kanna, a Senhora da Escuridão e das Sombras vai aproveitar para conquistar toda a Allarya! Por isso, tu tens de derrotar Kanna, pois és a sucessora de Junko. Traduzindo, tu és a filha de Junko. - Espera aí! Como assim a filha de Junko?! Eu tenho pais sabias?! – exclamou Sunako - Percebo que estejas confusa, mas... - Espera! Alto e pára o baile! – interrompeu Kasai de repente – Esta história está muito bem contada, não haja dúvida, mas não achas que é um BOCADINHO absurda?! - Eu sei que parece mentira, mas aquele ser que atacou aquela rapariga fez de propósito para tu ires ter com ele, para te matar a ti não á rapariga. Corres perigo Sunako e se não aprenderes a controlar os teus poderes para os utilizares na altura certa então não só a tua aldeia, mas também toda a Allarya irá ser coberta pela escuridão. É isso que queres? - Não... – respondeu Sunako de mansinho. Nunca tinha pensado nisso e o simples pensamento de ver tudo destruído arrepiou – a até às entranhas. Percebeu então que não havia mais nada a fazer senão derrotar Kanna o mais rapidamente possível. Respirou fundo e disse com uma voz decidida: - Vou contigo e derrotarei Kanna seja lá qual for o preço a pagar. - Tens a certeza Sunako? – perguntou Kasai - Tenho. – respondeu Sunako. Virou – se para Loki – Deixa – me só arranjar as minhas coisas e já venho ter contigo. - Óptimo! Fico aqui á tua espera, vem cá ter daqui a uma hora. Enquanto Sunako arranjava as suas coisas numa mochila, uma grande preocupação começava a perturbar a sua mente. E se ela falhasse? Todo o mundo estava nas suas 40