1. Poliomielite
Fernando S. V. Martins & Terezinha Marta P.P. Castiñeiras
A poliomielite é uma doença causada por um enterovírus, denominado poliovírus
(sorotipos 1, 2 e 3). É mais comum em crianças ("paralisia infantil"), mas também
ocorre em adultos. A transmissão do poliovírus "selvagem" pode se dar de pessoa a
pessoa através de contato fecal-oral, o que é crítico em situações onde as condições
sanitárias e de higiene são inadequadas. Crianças de baixa idade, ainda sem hábitos de
higiene desenvolvidos, estão particularmente sob risco. O poliovírus também pode ser
disseminado por contaminação fecal de água e alimentos.
Transmissão
O modo de aquisição do poliovírus é oral, através de transmissão fecal-oral ou,
raramente, oral-oral. A multiplicação inicial do poliovírus ocorre nos locais por onde
penetra no organismo (garganta e intestinos). Em seguida dissemina-se pela corrente
sangüínea e, então, infecta o sistema nervoso, onde a sua multiplicação pode ocasionar a
destruição de células (neurônios motores), o que resulta em paralisia flácida.
Uma pessoa que se infecta com o poliovírus pode ou não desenvolver a doença. Quando
apresenta a doença, pode desenvolver paralisia flácida (permanente ou transitória),
meningite ou, eventualmente, evoluir para o óbito. Desenvolvendo ou não sintomas o
indivíduo infectado elimina o poliovírus nas fezes, o qual pode ser transmitido para
outras pessoas por via oral. A transmissão do poliovírus ocorre mais freqüentemente a
partir do indivíduo assintomático. A eliminação é mais intensa 7 a 10 dias antes do
início das manifestações iniciais, mas o poliovírus pode continuar a ser eliminado
durante 3 a 6 semanas. A poliomielite não tem tratamento específico.
Riscos
A poliomielite ainda é considerada endêmica pela Organização Mundial da Saúde na
Nigéria, Índia, Afeganistão e Paquistão. Existem perspectivas de erradicação, mas
elevado número de pessoas que deslocam de e para áreas endêmicas fazem com que o
risco de reintrodução da poliomielite seja preocupante e, enquanto existirem áreas
endêmicas no mundo, permanente. Não sem razão, entre 2003 e 2005, a doença foi
reintroduzida , através de casos importados, em 25 países de onde fora anteriorment
eliminada.
No Continente Americano, o último caso de poliomielite paralítica causado pelo
poliovírus selvagem ocorreu no Perú em agosto de 1991. Em 1994 a eliminação da
poliomielite no Continente Americano, o primeiro a obtê-la, foi atestada por uma
Comissão Internacional. No Brasil, o último caso de poliomielite com o vírus selvagem
ocorreu em 1989, e o país recebeu o Certificado de Eliminação da Poliomielite em 12
de dezembro de 1994. No entanto, o risco de reintrodução do poliovírus selvagem em
países de onde a doença já foi eliminada, torna mandatória a vigilância continuada dos
casos de paralisia flácida e a manutenção dos programas de imunização para a
poliomielite. A vacina contra a poliomielite faz parte do Calendário Básico de
2. Vacinação, e é aplicada aos 2, 4, 6 e 15 meses de idade. Além disto, é realizada
anualmente uma Campanha Nacional de Imunização, na qual são vacinadas crianças
com idade de até cinco anos.
Manifestações
Uma pessoa que se infecta com o poliovírus pode ou não desenvolver a doença e mais
95% das infecções são assintomáticas. O período entre a infecção com o poliovírus e o
início dos sintomas (incubação) varia de 3 a 35 dias. Quando ocorrem, as manifestações
são semelhantes às de outras doenças, como infecções respiratórias (febre e dor de
garganta, "gripe") ou gastrintestinais (náuseas, vômitos, dor abdominal, constipação -
"prisão de ventre" - ou, raramente, diarréia). Na maioria das vezes as manifestações
desaparecem em uma semana e não ocorre comprometimento do sistema nervoso
central.
Em algumas pessoas, após as manifestações iniciais, pode surgir um quadro de
meningite asseptica, geralmente, com recuperação completa em até dez dias sem que
ocorra paralisia. Contudo, em uma em para cada 200 pessoas infectadas pode haver o
desenvolvimento de poliomielite paralítica. A paralisia flácida geralmente começa
entre 1 e 10 dias depois das manifestações iniciais e progride por 2 a 3 dias. A
poliomielite não tem tratamento específico. Muitas pessoas que desenvolvem
poliomielite paralítica se recuperam total ou parcialmente, mas 2 a 5% das crianças e 15
a 30% dos adultos podem evoluir para o óbito.
Medidas de proteção individual
A poliomielite pode ser evitada através de vacinação e medidas de prevenção contra
doenças transmitidas por contaminação fecal de água e alimentos. Existem dois tipos de
vacinas, a Sabin (oral, com vírus atenuado) e a Salk (injetável, com vírus inativado). A
vacina oral contra a poliomielite não deve ser utilizada em pessoas com
imunodeficiência (inclusive portadores de HIV) e nem em contactantes destes
indivíduos, situações nas quais deve ser utilizada a vacina produzida com vírus
inativado (injetável). Os indivíduos com imunodeficência, além do risco maior de
poliomielite vacinal, podem eliminar o vírus pelas fezes por períodos prolongados
(meses, anos), o que facilita a ocorrência de mutação ("reversão") e constitui um risco
para pessoas não vacinadas. O Cives recomenda às pessoas com viagem programada
para áreas de risco para poliomielite, que:
Atualizem seus esquemas vacinais contra poliomielite, independentemente da
idade (criança ou adulto).
Adotem medidas de prevenção contra as doenças transmitidas por contaminação
fecal de água e alimentos (poliomielite, cólera, febre tifóide, hepatite A, hepatite
E).
Atualizem a vacina contra febre amarela (validade de 10 anos) e outras doenças
imunopreveníveis (como sarampo).
Utilizem medidas de proteção individual contra a malária (paludismo), doença
endêmica no Continente Africano e Subcontinente Indiano, contra a qual não
existem vacinas disponíveis.
3. Em países que estiveram ou ainda estão em guerra, não andem por áreas
desabitadas ou evitadas pela população local, pelo risco acidentes com minas
terrestres explosivas.