1. - Exma. Sra. Presidente da Assembleia Municipal do Entroncamento,
Dra. Isilda Aguincha;
- Exmo. Sr. Presidente do Município do Entroncamento,
Sr. Jaime Ramos e distintos Vereadores;
- Exmos. Srs. Presidentes das Juntas de Freguesia de Nossa Senhora de Fátima e de São
João Baptista, Sr. Manuel Bilreiro e Dra. Teresa Martins, respectivamente;
- Srs. Eleitos Municipais e de Freguesia;
- Autoridades Civis e Militares e Autoridades Religiosas;
- Senhoras e Senhores Convidados;
- Minhas Senhoras e Meus Senhores;
Tornou-se hábito corrente na sociedade portuguesa, nas cerimónias anuais de
exaltação desta data, relembrar Abril como a vida da Nação portuguesa e o princípio
de um tempo de glórias e sucessos que se diz ter culminado num fracasso político em
toda a linha e do qual resta hoje um Portugal cinzento, longe do progresso e sem
paralelo com os seus pares. Portugal, o ente bem comportado da velha Europa é hoje,
indiscutivelmente, o incumpridor, o elo mais fraco, o que se ajoelha diante das Nações
ditas civilizadas a pedir confiança. A confiança advém da credibilidade e esta só os que
a praticam são dignos de a ostentar. Muitos são aqueles que, em nome da Pátria, se
serviram dela em vez de a servirem, usaram um país em lugar de o enaltecerem. Hoje,
o dia que alguns querem tomar como sua propriedade, parece-me um dia perfeito
para relembrar aos mais esquecidos que Portugal é fruto de uma conquista com mais
de oito séculos, com as fronteiras mais antigas da Europa e com a democracia como
regime implementado, mesmo que com os erros que todos admitimos. Abril, ou seja, a
democracia não é conquista senão de um povo como um todo e está muito para além
do uso de um adereço floral que em si não é mais do que isso mesmo, um adereço. O
mesmo povo que outrora viu os seus filhos deixados à sorte numa guerra inglória em
nome da pátria. A mesma pátria que deixou milhares de famílias numa verdadeira
agonia social que, ao regressarem ao seu país, desprotegidos pela infeliz política de
descolonização, se viram forçadas a lançar de novo a rede à sorte.
Se as escolhas políticas de outrora foram manifestamente erradas e os seus agentes
benevolamente tratados, o que se pede hoje à classe política é que na sua acção
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2. prestigie os lugares que ocupa e ambicione uma Nação forte e soberana sem poderes
ocultos nem agendas escondidas.
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Portugal vive hoje uma espécie de regime transitório em que se arma betão e se deixa
a factura para os que vêm a seguir pagarem, se fazem escolhas, a maioria das quais
infundadas, sem uma visão de futuro e de sustentabilidade. Num momento em que a
soberania do país é afectada e as contas públicas alvo de inúmeras reticências, a classe
política governativa optou por preferir deixar a factura do que hoje se consome para
aqueles que certamente não vão usufruir dela, que provavelmente não terão sistema
de saúde universal nem sistema de pensões. São os jovens de hoje e os seus filhos que
vão pagar a factura da festa exuberante que outros fizeram com o único objectivo de
lerem o seu nome em placas de inaugurações e correrem o país criando a figura mítica
de um líder, à semelhança de uma verdadeira ditadura, digna de uma claustrofobia
democrática como já a denominaram.
Para se ser governante nos dias de hoje é essencial ter uma visão de futuro e
perspectivar no futuro o impacto das medidas que se tomam, em vez de olhar para o
curto espaço de tempo como é apanágio governativo.
Mas Abril é também um sinal da conquista do poder local. No Entroncamento dizer
que Abril é hoje alvo de violentos ataques pela Administração Central é uma verdade
que não pode passar despercebida. Diariamente, à revelia dos seus parceiros, São
Bento imputa responsabilidades às autarquias sem as dotar das devidas dotações
financeiras, avoluma as dívidas de transferências devidas e altera as regras do jogo a
meio do inglório tabuleiro de movimentações de interesses pessoais. O poder local
tem hoje as duas mãos estendidas: uma para o Governo com que pede o que este lhe
deve, e outra para as populações a quem tem que acorrer nas situações de agonia que
vivem, fruto duma catastrófica governação e duma crise em muito influenciada por
uma gestão danosa.
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3. Falar hoje em Justiça Inter-Geracional é falar em escolhas, em compromissos, em
visões de futuro, em perspectivar um dia melhor aos agentes vindouros que não se
sabe se conseguirão fazer face aos encargos que a geração que hoje está no poder lhes
deixa. Falar em Justiça Inter-Geracional é apelar aos decisores políticos de hoje para
que mostrem aos cidadãos que são superiores a qualquer eleitoralismo barato e que
são dignos de servirem o Regime em lugar de se servirem dele.
O alheamento dos cidadãos do direito ao voto, que é o maior exercício de soberania ao
seu dispor, num Regime Democrático, é reflexo de sucessivos actos de descrença num
Estado em que uns ditam e outros obedecem.
Este conceito de Justiça Inter-Geracional, que urge colocar em prática, deve basear-se
em seis pilares, sendo eles: a Criação de um Alto Comissário para a Justiça Inter-
geracional; a avaliação de decisões no âmbito das Finanças Públicas; o impedimento
de acumulação abusiva de riquezas; a promoção da natalidade; o facilitar a integração
dos jovens emigrantes portugueses que pretendam regressar a Portugal e o promover
da sustentabilidade da segurança social.
A 25 de Abril de 1974 este jovem que hoje se dirige a vós que é o autarca mais novo
em funções na nossa autarquia, eleito pelo Partido Social Democrata, o único partido
que ousou acreditar numa nova geração a ponto de a trazer aos órgãos decisórios
desta Autarquia, não era ainda nascido. Não conhecia um país que é também o seu, no
qual tem orgulho e no qual acredita. Acredito que Portugal é muito mais do que o
descrédito com que os outros nos vêem, que somos capazes de superar a descrença e
voltar aos tempos de glória, com políticas sérias e ponderadas, sem megalomanias e
teorias da conspiração que mais não são do que formas de ocultar a realidade, falando
Verdade.
Viva o Entroncamento!
Viva Portugal!
Disse.
José Filipe Baptista
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