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CASO CLÍNICO 01 Criança, 7anos, BA/2002
C.F.G, 7 anos, chega ao hospital com irritação ocular e ptose palpebral, desde o dia anterior, apresentando edema e flacidez do pescoço,  disfagia e lábios ressecados . TRATAMENTO RECEBIDO: ,[object Object]
Dipirona gts Em seguida foi liberado
Como não apresentou melhora seguiu para outro hospital  onde suspeitaram de botulismo EXAMES SOLICITADOS  Eletroneuromiografia Análise microbiológica do lavado gástrico Análise microbiológica de um ferimento adquirido dias antes numa queda de bicicleta. 3
RESULTADOS Eletroneuromiografia: Incremento da atividade de mais de 50% com estimulação repetitiva. Raspagem do ferimento: Negativo Lavado gástrico: Positivopara toxinas A e B de Clostridium botulinum. Dias antes a criança alimentara-se de um embutido (tipo chouriço). 4
5 Discutindo o caso
O Clostridium botulinum é um bacilo gram-positivo, anaeróbio, capaz de formar esporos resistentes a altas temperaturas e produzir a chamada toxina botulínica. Existem tipos variados da toxina, sendo classificadas de A a G, sendo que os tipos A, B, E, F e potencialmente G são capazes de provocar botulismo clínico em humanos, estando os tipos C e D relacionados a manifestações em animais. O embutimento de alimentos, gera um ambiente muito favorável ao desenvolvimento de microrganismos como o Clostridium botulinum pois, dentre outras razões acaba criando uma atmosfera anaeróbica, ideal ao seu desenvolvimento, sendo justificada a necessidade do uso de conservantes como nitritos e nitratos. 6
AÇÃO DA TOXINA BOTULÍNICA Essa toxina age na transmissão sináptica, impedindo a exocitose da Ach (acetilcolina), um importante NT (neurotransmissor) nos gânglios. A intoxicação alimentar causa paralisia parassimpática e motora de forma progressiva, caracterizando o quadro de dificuldade para engolir (disfagia), flacidez muscular, do tipo descendente incluindo a ptose palpebral e boca seca. 7
A manifestação clínica pode ser leve ou extremamente grave, incluindo óbito dentro de 24hrs, dependendo da quantidade e tipo de toxina, sendo que o período de incubação pode variar de 18 a 36 hrs, havendo casos em que levaram-se apenas duas horas ou mesmo dias. 8
EXAMES O diagnóstico deve se basear nos sinais e sintomas e na confirmação microbiológica. A raspagem do ferimento foi realizada para verificar possibilidade de botulismo ocasionada pela contaminação por C. botulinum, no local. A análise do lavado gástrico, ou mesmo da análise de alimentos ingeridos, que apresentem potencial para o desenvolvimento do microrganismo em questão, constitui fator importante para diagnóstico de botulismo alimentar. Embora a análise clínica seja essencial para iniciar o quanto antes os cuidados necessários, como acompanhamento das funções vitais e uso do soro antibotulínico. A Eletroneuromiografia, constitui um exame de avaliação funcional do sistema nervoso periférico, músculos e junção neuromuscular, através da análise da condução nervosa. 9
O uso do soro antibotulínico é mais eficaz no início do aparecimento dos  sintomas, onde o tecido nervoso ainda não foi atingido por toda a quantidade de toxina circulante, visto que o soro não é capaz de reverter o quadro, embora possa retardá-lo. A melhora é lenta, havendo relatos de pacientes em que o quadro de fraqueza muscular perdurou por cerca de um ano. Sendo dependente da restauração das sinapses nervosas. 10

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Botulismo Alimentar

  • 1. CASO CLÍNICO 01 Criança, 7anos, BA/2002
  • 2.
  • 3. Dipirona gts Em seguida foi liberado
  • 4. Como não apresentou melhora seguiu para outro hospital onde suspeitaram de botulismo EXAMES SOLICITADOS Eletroneuromiografia Análise microbiológica do lavado gástrico Análise microbiológica de um ferimento adquirido dias antes numa queda de bicicleta. 3
  • 5. RESULTADOS Eletroneuromiografia: Incremento da atividade de mais de 50% com estimulação repetitiva. Raspagem do ferimento: Negativo Lavado gástrico: Positivopara toxinas A e B de Clostridium botulinum. Dias antes a criança alimentara-se de um embutido (tipo chouriço). 4
  • 7. O Clostridium botulinum é um bacilo gram-positivo, anaeróbio, capaz de formar esporos resistentes a altas temperaturas e produzir a chamada toxina botulínica. Existem tipos variados da toxina, sendo classificadas de A a G, sendo que os tipos A, B, E, F e potencialmente G são capazes de provocar botulismo clínico em humanos, estando os tipos C e D relacionados a manifestações em animais. O embutimento de alimentos, gera um ambiente muito favorável ao desenvolvimento de microrganismos como o Clostridium botulinum pois, dentre outras razões acaba criando uma atmosfera anaeróbica, ideal ao seu desenvolvimento, sendo justificada a necessidade do uso de conservantes como nitritos e nitratos. 6
  • 8. AÇÃO DA TOXINA BOTULÍNICA Essa toxina age na transmissão sináptica, impedindo a exocitose da Ach (acetilcolina), um importante NT (neurotransmissor) nos gânglios. A intoxicação alimentar causa paralisia parassimpática e motora de forma progressiva, caracterizando o quadro de dificuldade para engolir (disfagia), flacidez muscular, do tipo descendente incluindo a ptose palpebral e boca seca. 7
  • 9. A manifestação clínica pode ser leve ou extremamente grave, incluindo óbito dentro de 24hrs, dependendo da quantidade e tipo de toxina, sendo que o período de incubação pode variar de 18 a 36 hrs, havendo casos em que levaram-se apenas duas horas ou mesmo dias. 8
  • 10. EXAMES O diagnóstico deve se basear nos sinais e sintomas e na confirmação microbiológica. A raspagem do ferimento foi realizada para verificar possibilidade de botulismo ocasionada pela contaminação por C. botulinum, no local. A análise do lavado gástrico, ou mesmo da análise de alimentos ingeridos, que apresentem potencial para o desenvolvimento do microrganismo em questão, constitui fator importante para diagnóstico de botulismo alimentar. Embora a análise clínica seja essencial para iniciar o quanto antes os cuidados necessários, como acompanhamento das funções vitais e uso do soro antibotulínico. A Eletroneuromiografia, constitui um exame de avaliação funcional do sistema nervoso periférico, músculos e junção neuromuscular, através da análise da condução nervosa. 9
  • 11. O uso do soro antibotulínico é mais eficaz no início do aparecimento dos sintomas, onde o tecido nervoso ainda não foi atingido por toda a quantidade de toxina circulante, visto que o soro não é capaz de reverter o quadro, embora possa retardá-lo. A melhora é lenta, havendo relatos de pacientes em que o quadro de fraqueza muscular perdurou por cerca de um ano. Sendo dependente da restauração das sinapses nervosas. 10
  • 12. 11 Referências Bibliográficas FILHO, Adebal de A. Toxicologia na prática clínica. 1ª Ed. Belo Horizonte: Folium, 2001. Botulismo in: http://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/1733/botulismo.htmAcesso em: 25/03/2011. CVE in: ftp://ftp.cve.saude.sp.gov.br/doc_tec/hidrica/doc/BOTU09_CRMissao.pdfAcesso em: 25/03/2011.