2. A Linguagem Poética
A matéria prima do poeta é a palavra. A palavra que vai ser
selecionada, trabalhada, reorganizada, usada com significados
muitas vezes diferentes do convencional.
“ A linguagem poética explora o sentido conotativo das
palavras, isto é, não o sentido frio e impessoal, “em estado de
dicionário”, mas sim o sentido alterado, passível de
interpretações”. Como neste poema de Ferreira Gullar –
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3. Meu povo, meu poema
Ferreira
Goulart
Meu povo e meu poema crescem Meu povo em meu poema
juntos se reflete
como cresce no fruto como a espiga se funde em terra
a árvore nova fértil
No povo meu poema vai nascendo
como no canavial Ao povo seu poema aqui devolvo
nasce verde o açúcar menos como quem canta
do que planta
No povo meu poema está maduro
como o sol
na garganta do futuro
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4. As figuras de linguagem
O trabalho artístico de elaboração com as palavras vai resultar muitas vezes
no que se conhece como “figuras de linguagem”, ou seja, recursos que
podem tornar mais expressivas as mensagens e que se subdividem em
figuras de som, de construção ou sintaxe, de pensamento e de palavras. No
poema do Gullar – Meu povo, meu poema –, vemos a repetição constante
da palavra povo e poema, o que constitui uma figura de linguagem de
construção – anáfora.
Neruda tentava explicar ao carteiro, no filme “O carteiro e o poeta”, o que
são metáforas. A metáfora consiste em “empregar um termo com
significado diferente do habitual, com base numa relação de
similaridade entre o sentido próprio e o sentido figurado. Por
exemplo: Meu pensamento é um rio subterrâneo”. As metáforas são figuras
de linguagem dentro da classificação de figuras de palavras.
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5. As rimas: As rimas vão se constituir no “jogo sonoro” feito com
os sons semelhantes ou idênticos no final dos versos, como no famoso
“Soneto de fidelidade” de Vinícius de Moraes:
Soneto de Fidelidade E assim, quando mais tarde me
Vinicius de Moraes procure
Quem sabe a morte, angústia de quem
De tudo ao meu amor serei atento vive
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento. Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é
Quero vivê-lo em cada vão momento chama
E em seu louvor hei de espalhar meu Mas que seja infinito enquanto dure.
canto
E rir meu riso e derramar meu pranto in Vinicius de Moraes, "Antologia
Ao seu pesar ou seu contentamento Poética", Editora do Autor, Rio de
Janeiro, 1960, pág. 96.
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6. Os poetas modernistas do século XX se contrapõem a essa
exigência exagerada de rimas em seus poemas, uma vez que a
linguagem poética pode ser trabalhada de outras maneiras.
Carlos Drummond de Andrade faz um poema em que essa questão é
destacada. Vejamos a primeira estrofe:
CONSIDERAÇÃO DO POEMA
Não rimarei a palavra sono
com a incorrespondente palavra outono.
Rimarei com a palavra carne
ou qualquer outra, que todas me convêm.
As palavras não nascem amarradas,
elas saltam, se beijam, se dissolvem,
no céu livre por vezes um desenho,
são puras, largas, autênticas, indevassáveis.
(...)
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7. A métrica
Dizemos que os versos são regulares quanto à metrificação quando
apresentam o mesmo número de sílabas poéticas, ou seja, de emissões
sonoras. O conceito de sílaba poética difere do de sílaba gramatical.
Ver no texto as junções sonoras em que duas sílabas gramaticais vão ser
pronunciadas numa única sílaba poética.
A estrofe
Nome que se dá aos grupos de versos dos poemas. No “Soneto de
fidelidade” de Vinícius de Moraes temos quatro estrofes, sendo dois
quartetos e dois tercetos.
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8. O ritmo poético : A rima e a métrica vão contribuir para a
determinação do ritmo poético, somando-se ao jogo das sílabas
tônicas das palavras, dos fonemas vocálicos e consonantais, da
pontuação, entre outros recursos.
No poema do Neruda declamado para o carteiro, no filme “O carteiro e o poeta”,
percebemos bem o jogo rítmico estabelecido:
Aqui na ilha há tanto mar, Batendo numa pedra, mas sem
O mar e mais o mar. convencê-la.
Ele transborda de tempo em tempo. Depois com as sete línguas verdes
Diz que sim, depois que não, De sete tigres verdes, de sete cães
Diz sim e de novo não. verdes,
No azul, na espuma, em galope De sete mares verdes
Ele diz não e novamente sim. Ele a acaricia, a beija e a umedece;
Não fica tranquilo, não consegue E escorre em seu peito
parar. Repetindo seu próprio nome.
Meu nome é mar ele repete
Pablo Neruda
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9. Trecho do Filme: O carteiro e o Poeta
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