SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 44
Dr. Alberto de Almeida Las Casas Júnior
Cardiologista do Instituto de Neurologia de Goiânia
lascasasjr@me.com
Relação Odontologia e Endocardite
Infecciosa
Atuais Protocolos de Profilaxia Antibiótica
Endocardite
“A primeira descrição de endocardite foi registrada
provavelmente por Lazare Riviere em 1646. O
paciente procurou-o devido à “palpitação no
coração”. Riviere encontrou “o pulso fino,
irregular, com toda variedade de
irregularidades”. O paciente desenvolveu intensa
dispnéia e edema em membros inferiores,
gradualmente tornou-se mais enfermo,
manifestou hemoptises e faleceu.
 Os seguinte achados foram verificados à
necropsia. “Excrescências arredondadas no
ventrículo esquerdo, assemelhando-se a tecido
pulmonar, a maior das quais parecida com um
aglomerado de avelãs e preenchendo a região
inicial da aorta.”
 BRAUNWALD, Tratado de Medicina
Cardiovascular.
Conceitos
• Infecção microbiana do endocárdio ou endotélio
vascular
• Lesão característica – vegetação
• A incidência e mortalidade não diminuiram nos
últimos 30 anos
• Espectro amplo de apresentações
• Diretrizes por consenso de especialistas, pela baixa
incidência, ausência de estudos randomizados e
poucas meta-análises.
Risco de Endocardite
• População geral não cardiopata – 5/100.000 pts/ano
• Prótese valvar por EI – 2.160/100.000 pts/ano
• PVM sem sopro – 4,6/100.000 pts/ano
• PVM com sopro IM – 52/100.000 pts/ano
• E. Aórtica congênita – 271/100.000 pts/ano
• CIV – 145/100.000 pts/ano
• Cardiopatia reumática – 380-440/100.000 pts/ano
• Endocardite prévia – 740/100.000 pts/ano
Epidemiologia
• Mudanças no perfil epidemiológico:
Antes:
Jovens com valvopatias reumáticas
Hoje:
Idosos submetidos a procedimentos
próteses
Prolapso da válvula mitral
valvopatias degenerativas
usuários de drogas intravenosas
Classificação
• Localização da infecção e material:
Em valva nativa esquerda
Em valva protética esquerda precoce (<1 ano)
Em valva protética esquerda tardia (>1 ano)
Em valva direita
Relacionada a dispositivos (MP/CDI)
Classificação
• Modo de aquisição:
Adquirida na comunidade (sintomas <48 h após a
admissão hospitalar)
Associada aos cuidados de saúde:
Nosocomial (sintomas >48 h após admissão)
Ñ nosocomial (sintomas <48 h após admissão, homecare,
QT, HD <30d, internados há <90d, ou insitucionalizados)
Usuários de drogas intravenosas
Patogênese
• O endotélio normal é estéril
• Rotura causa endocardite trombótica não bacteriana, a
qual depois sofre colonização
• Inflamação endotelial libera integrina β1, à qual adere a
fibronectina da bactéria
• Bacteremia
• Escovação – até 100 UFC/ml sangue por <10 minutos
• Aderência bacteriana depende de fatores do hospedeiro
e do patógeno
Risco Alto de EI ou Desfecho Adverso
• 1. Próteses valvares
• 2. Endocardite infecciosa prévia
• 3. Cardiopatias congênitas:
a) Cianóticas não corrigidas, incluindo “shunts” e condutos paliativos
b) Com correção completa, com prótese ou dispositivo por cirurgia ou
cateterismo, durante 6 meses após, até a endotelização
c) Corrigida com defeitos residuais no local ou adjacentes a retalhos ou
dispositivos prostéticos (que inibem a endotelização)
• 4. Receptores de transplante cardíaco com valvopatias
(AHA)
Quadro Clínico
• A maioria das manifestações e dos achados de exame
físico é inespecífica
• Originam-se de 3 aspectos:
1. Infecção sistêmica (citocinas)
2. Lesão estrutural cardíaca ou vascular
3. Manifestações imunológicas
• Podem se originar predominantemente das
complicações
Quadro Clínico - Sintomas (%)
Febre – 80-85 AVC – 13-20
Calafrios – 42-75 Cefaléia – 15-40
Sudorese – 25 Náusea/vômito - 15-20
Anorexia – 25-55 Mialgia/artralgia - 15-30
Emagrecimento - 30 Dor torácica (EDA) 8-35
Mal-estar – 25-40 Dor abdominal – 5-15
Dispnéia – 25 Dor em dorso – 7-10
Confusão – 10-20
Quadro Clínico - Sinais (%)
Febre – 80-90 Baqueteamento – 10-20
Sopro – 80-85 Nódulos de Osler - 7-10
Sopro novo / ≠ 10-40 H. sub-ungueais - 5-15
Alt.Neurológicas 30-40 Petéquias – 10-40
Embolizações – 20-40 Lesões de Janeway – 6-10
Esplenomegalia – 15-50 M. Roth – 4-10
14
15
16
Complicações
• Insuficiência cardíaca
• Embolização: Arterial em 40-60%
Cérebro 20%, pulmões 15%, coronárias 6%,
baço 6%, membros 6%, intestino 3%
• Perturbações da condução - 4-16%
BAV 1º grau 45%, BAV 3º grau 20%,
BAV 2º grau 15%,Bloqueio de ramo 15%
Complicações
• Neurológicas – 29-50%
Isquêmicas – 80%
Hemorrágicas – 20%
Reação meníngea – 7-15%
Como sintoma inicial – 10-15%
• Aneurismas micóticos – 3-15%
Aorta proximal 25%,
vísceras 24%,
membros 22%,
cérebro 15%
Quando suspeitar de EI ?
• Sopro regurgitante novo
• Eventos embólicos de origem desconhecida
• Sepse de origem desconhecida
• Febre associada a prótese, EI prévia, cardiopatia
congênita, imunodepressão, uso de droga IV,
procedimento invasivo recente, fenômenos vasculares,
sinais neurológicos focais, TEP, abscessos periféricos
de causa desconhecida, HC + para germe compatível.
Critérios de Duke Modificados - Maiores
• Hemoculturas positivas (1 dos abaixo)
(Colher 3 amostras venosas de 10 ml)
Microorganismo típico em 2 separadas
Duas positivas com intervalo > 12 horas,
Três em 3 com intervalo > 1 hora, ou a maioria de pelo
menos 4 em > 1 hora
• Ecocardiograma (1 dos abaixo)
Massa oscilante na valva, fluxo ou prótese,
Discinesia parcial nova de prótese, ou
Regurgitação valvar nova
Critérios de Duke Modificados - Menores
• Predisposição: cardiopatia / drogadição
• Febre: >/= 38°C
• Vasculares: Embolia em artéria calibrosa
Infarto pulmonar séptico
Aneurisma micótico
AVC hemorrágico
Hemorragia conjuntival
Lesões de Janeway
Critérios de Duke Modificados - Menores
• Imunológicos:
Glomerulonefrite
Nódulos de Osler
Manchas de Roth
Fator reumatóide positivo
• Microbiológicos:
Hemocultura com uma amostra positiva
Sorologia de infecção ativa por germe compatível com EI
Diagnóstico Definido
• Critérios patológicos:
Microorganismo em cultura ou histologia
de material cirúrgico ou de necrópsia
• Critérios clínicos:
Dois critérios maiores, um maior e três
menores ou cinco menores
Diagnóstico
• Possível:
1 critério maior e 1 menor ou 3 menores
• Afastado:
Diagnóstico alternativo firme para o quadro
Resolução com antibiótico em até 4 dias
Nenhuma evidência patológica em peça cirúrgica ou
necrópsia, após antibiótico por até 4 dias
Critérios insuficientes para EI possível
25
COMO EVITAR ?COMO EVITAR ?
Bacteremia Provável
• Procedimentos dentários c/ risco de sangrar
• Broncoscopia rígida
• Cistoscopia com infecção urinária
• Biópsia de trato urinário e próstata
• Amigdalectomia e adenoidectomia
• Dilatação esofágica e escleroterapia
• Instrumentação de vias biliares obstruídas
• Prostatectomia transuretral
• Litotripsia
• Procedimentos ginecológicos com infecção
Bacteremia em Procedimentos
Dentários
• Extração - 10-100%
• Cir. Periodontal - 36-88%
• Proc. Endodônticos - até 20%
• Limpeza dental - até 40%
• Matriz p/ elásticos - 9-32%
• Escovação - 20-68%
• Uso de palitos - 20-40%
• Jato de água - 7-50%
• Mastigação de alimentos - 7-51%
Porém...
• Parece não haver diferença clinicamente significante na
freqüência, natureza, magnitude e duração da
bacteremia associada aos procedimentos dentários
comparados às atividades rotineiras diárias.
• Em pacientes com má higiene oral, a incidência de
bacteremia antes de extração dentária pode ser
semelhante à de bacteremia após a extração.
• Não há evidência de que sangramento visível em
procedimentos seja um bom preditor de bacteremia.
• Na maioria dos pacientes com EI não conseguimos
estabelecer uma relação causal com procedimento invasivo.
• Roberts GJ. Dentists are innocent! ‘Everyday’ bacteremia is
the real culprit: a review and assessment of the evidence that
dental surgical procedures are a principal cause of bacterial
endocarditis in children. Pediatr Cardiol 1999;20: 317 – 325.
• Uso indiscriminado de antibióticos pode levar a resistência
bacteriana.
• Antibiótico pode levar a anafilaxia.
Estimativa de Risco
Risco de EI para 1 procedimento dentário:
• População geral – 1:14.000.000
• Prolapso de valva mitral – 1:1.100.000
• Cardiopatia congênita – 1:475.000
• Endocardite prévia: 1:95.000
• Cardiopatia reumática: 1:142.000
• Prótese: 1:114.000
• Mesmo que a eficácia dos antibióticos profiláticos fosse
100%, o número de EI prevenidas seria muito baixo.
• 1 EI prevenida, 94.999 pacientes usaram antibiótico sem
benefício algum!
European Heart Journal (2009) 30, 2369-2413
Dúvidas
• Qual procedimento dentário requer profilaxia para
endocardite ?
• Os procedimentos têm mais risco de bacteremia que as
rotinas diárias ( mastigação, bochechos, escovação ) ?
• Duas escovações diárias em 1 ano têm 154.000 vezes
mais risco de bacteremia que uma extração.
• Rotinas diárias durante 1 ano têm 5,6 milhões de vezes
mais risco de bacteremia que uma extração.
• Não existe um estudo prospectivo, randomizado,
controlado por placebo para profilaxia de EI.
Indicações de Profilaxia para EI
Classe IIa - Evidência C
• 1. Próteses valvares ou reparos com material protético
• 2. Endocardite infecciosa prévia
• 3. Cardiopatias congênitas:
a) Cianóticas não corrigidas, incluindo “shunts” e condutos
paliativos
b) Com correção completa, com prótese ou dispositivo por
cirurgia ou cateterismo, durante 6 meses após, até a endotelização
c) Corrigidas com defeitos residuais no local ou adjacentes a
retalhos ou dispositivos prostéticos (que inibem a endotelização)
European Heart Journal (2009) 30, 2369-2413
Profilaxia para EI Não Indicada
• Estenose aórtica
• Estenose mitral
• Prolapso da valva mitral, sintomático ou não.
• Valvopatias nativas em adolescentes e adultos
jovens
• Estenose pulmonar com valvotomia por balão
European Heart Journal (2009) 30, 2369-2413
European Heart Journal (2009) 30, 2369-2413
Indicações de Profilaxia para EI
• Procedimentos dentários com:
1. Manipulação de gengivas
2. Manipulação periapical dos dentes
3. Perfuração das mucosas
• Não é indicada em anestesia em tecido não
infectado, colocação, ajuste ou retirada de próteses e
dispositivos ortodônticos, perda da 1ª dentição ou
trauma aos lábios e mucosa oral.
European Heart Journal (2009) 30, 2369-2413
European Heart Journal (2009) 30, 2369-2413
Profilaxia - Procedimentos Dentários
• Profilaxia em dose alta antes do procedimento, sem
necessidade de dose após.
• Evitar ou minimizar a bacteremia além de alterar
propriedades bacterianas diminuindo a aderência ao
endotélio.
• Amoxicilina 2 g VO 30 a 60 minutos antes do
procedimento dentário (crianças 50 mg/Kg)
• Alérgicos e/ou incapazes de deglutir: Clindamicina 600
mg (crianças 20 mg/Kg) VO, IM ou IV
European Heart Journal (2009) 30, 2369-2413
ACC/AHA 2008 Guideline Update on Valvular Heart Disease:
Focused Update on Infective Endocarditis
Circulation 2008:118:000-000 - August 19, 2008.
“Os clínicos devem estar disponíveis para discutir as
razões para estas novas mudanças com seus
pacientes, incluindo a falta de evidência científica
para demonstrar um benefício provado na profilaxia
da endocardite infecciosa.”
“ Com o tempo e a educação continuada, o Comitê
prevê aceitação crescente das novas diretrizes entre
médicos e pacientes.”
Ponto a Ponderar
AUSÊNCIA DE
EVIDÊNCIA A FAVOR
NÃO SIGNIFICA
EVIDÊNCIA CONTRA
Guidelines on the Prevention, Diagnosis and
Treatment of Infective Endocarditis
European Society of Cardiology – Sept. 2009
“Após revisão informada e
discussão com o paciente, muitos
médicos podem decidir continuar
com a profilaxia, e esta visão
deve ser respeitada.”
41
Prevention of Infective Endocarditis
Guidelines from the American Heart Association
Circulation 2007:116:1736-54 - May 8, 2007.
“...A manutenção de boa higiene oral e o
acesso a cuidados dentários de rotina
provavelmente são mais
importantes na redução do risco de
endocardite por toda a vida que a
administração de profilaxia antibiótica
para um procedimento dentário.”
43
OBRIGADO
lascasasjr@me.com

Más contenido relacionado

La actualidad más candente

Arritimias cardíacas
Arritimias cardíacasArritimias cardíacas
Arritimias cardíacas
dapab
 
Ecg básico
Ecg básicoEcg básico
Ecg básico
dapab
 
Insuficiencia cardiaca
Insuficiencia cardiacaInsuficiencia cardiaca
Insuficiencia cardiaca
LAC
 
Aula Insuficiência Renal Aguda
Aula Insuficiência Renal AgudaAula Insuficiência Renal Aguda
Aula Insuficiência Renal Aguda
Jucie Vasconcelos
 

La actualidad más candente (20)

Caso clínico Endocardite
Caso clínico EndocarditeCaso clínico Endocardite
Caso clínico Endocardite
 
SARS-CoV-2 e COVID-19
SARS-CoV-2 e COVID-19SARS-CoV-2 e COVID-19
SARS-CoV-2 e COVID-19
 
Insuficiência cardíaca 2017
Insuficiência cardíaca 2017Insuficiência cardíaca 2017
Insuficiência cardíaca 2017
 
Cetoacidose Diabética
Cetoacidose DiabéticaCetoacidose Diabética
Cetoacidose Diabética
 
Acidente Vascular Encefálico
Acidente Vascular EncefálicoAcidente Vascular Encefálico
Acidente Vascular Encefálico
 
Pericardite
PericarditePericardite
Pericardite
 
Alterações do crescimento e diferenciação celular
Alterações do crescimento e diferenciação celularAlterações do crescimento e diferenciação celular
Alterações do crescimento e diferenciação celular
 
Arritmias..
Arritmias..Arritmias..
Arritmias..
 
Hepatite
HepatiteHepatite
Hepatite
 
Febre reumatica
Febre reumaticaFebre reumatica
Febre reumatica
 
Pneumonias Conceito Classificações Fisiopatologia Manifestações Clínicas Diag...
Pneumonias Conceito Classificações Fisiopatologia Manifestações Clínicas Diag...Pneumonias Conceito Classificações Fisiopatologia Manifestações Clínicas Diag...
Pneumonias Conceito Classificações Fisiopatologia Manifestações Clínicas Diag...
 
Arritimias cardíacas
Arritimias cardíacasArritimias cardíacas
Arritimias cardíacas
 
Insuficiência Cardíaca Congestiva - ICC
Insuficiência Cardíaca Congestiva - ICCInsuficiência Cardíaca Congestiva - ICC
Insuficiência Cardíaca Congestiva - ICC
 
[Dotta 2017] Aula Edema Agudo de Pulmão
[Dotta 2017] Aula Edema Agudo de Pulmão[Dotta 2017] Aula Edema Agudo de Pulmão
[Dotta 2017] Aula Edema Agudo de Pulmão
 
Aula arritmias e interpretação de ECG
Aula arritmias e interpretação de ECGAula arritmias e interpretação de ECG
Aula arritmias e interpretação de ECG
 
Critérios de admissão em Unidade de Terapia Intensiva
Critérios de admissão em Unidade de Terapia IntensivaCritérios de admissão em Unidade de Terapia Intensiva
Critérios de admissão em Unidade de Terapia Intensiva
 
Ecg básico
Ecg básicoEcg básico
Ecg básico
 
Apresentacão meningite
Apresentacão meningiteApresentacão meningite
Apresentacão meningite
 
Insuficiencia cardiaca
Insuficiencia cardiacaInsuficiencia cardiaca
Insuficiencia cardiaca
 
Aula Insuficiência Renal Aguda
Aula Insuficiência Renal AgudaAula Insuficiência Renal Aguda
Aula Insuficiência Renal Aguda
 

Similar a Aula endocardite

Transplantes Renais parte 1
Transplantes Renais parte 1Transplantes Renais parte 1
Transplantes Renais parte 1
Ladocriativo
 
Exames Infecção Trato Urinário
Exames Infecção Trato UrinárioExames Infecção Trato Urinário
Exames Infecção Trato Urinário
Jucie Vasconcelos
 
Um caso de Hemorragia Digestiva Alta
Um caso de Hemorragia Digestiva AltaUm caso de Hemorragia Digestiva Alta
Um caso de Hemorragia Digestiva Alta
Bruno Castro
 

Similar a Aula endocardite (20)

Tratamento da Endocardite_infecciosa.pptx
Tratamento da Endocardite_infecciosa.pptxTratamento da Endocardite_infecciosa.pptx
Tratamento da Endocardite_infecciosa.pptx
 
Transplante renal - Liga de Nefrologia UFC - Sobral
Transplante renal - Liga de Nefrologia UFC - SobralTransplante renal - Liga de Nefrologia UFC - Sobral
Transplante renal - Liga de Nefrologia UFC - Sobral
 
Transplantes Renais parte 1
Transplantes Renais parte 1Transplantes Renais parte 1
Transplantes Renais parte 1
 
Cirurgias nefrológicas.pdf
Cirurgias nefrológicas.pdfCirurgias nefrológicas.pdf
Cirurgias nefrológicas.pdf
 
Exames Infecção Trato Urinário
Exames Infecção Trato UrinárioExames Infecção Trato Urinário
Exames Infecção Trato Urinário
 
Um caso de Hemorragia Digestiva Alta
Um caso de Hemorragia Digestiva AltaUm caso de Hemorragia Digestiva Alta
Um caso de Hemorragia Digestiva Alta
 
TRATAMENTO E PREVENÇÃO DE LESÕES EM MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO E PREVENÇÃO DE LESÕES EM MEMBROS INFERIORESTRATAMENTO E PREVENÇÃO DE LESÕES EM MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO E PREVENÇÃO DE LESÕES EM MEMBROS INFERIORES
 
Acidente vascular encefálico
Acidente vascular encefálicoAcidente vascular encefálico
Acidente vascular encefálico
 
Cateterismo Vesical Intermitente
Cateterismo Vesical IntermitenteCateterismo Vesical Intermitente
Cateterismo Vesical Intermitente
 
pseudoaneurisma radial
pseudoaneurisma radial pseudoaneurisma radial
pseudoaneurisma radial
 
Anatomia e fisiologia vesical
Anatomia e fisiologia vesical Anatomia e fisiologia vesical
Anatomia e fisiologia vesical
 
nefrectomia.pdf
nefrectomia.pdfnefrectomia.pdf
nefrectomia.pdf
 
Colecistite aguda_complicaoes.pdf
Colecistite aguda_complicaoes.pdfColecistite aguda_complicaoes.pdf
Colecistite aguda_complicaoes.pdf
 
Ascite.pdf
Ascite.pdfAscite.pdf
Ascite.pdf
 
Ascite
Ascite Ascite
Ascite
 
Ascite
AsciteAscite
Ascite
 
AULA - INDICADORES ASSISTENCIAIS.pdf
AULA - INDICADORES ASSISTENCIAIS.pdfAULA - INDICADORES ASSISTENCIAIS.pdf
AULA - INDICADORES ASSISTENCIAIS.pdf
 
Afecçoes neurovasculares no pé diabético ii ciclo de debates em ortoprotesia
Afecçoes neurovasculares no pé diabético ii ciclo de debates em ortoprotesiaAfecçoes neurovasculares no pé diabético ii ciclo de debates em ortoprotesia
Afecçoes neurovasculares no pé diabético ii ciclo de debates em ortoprotesia
 
Hemorragia intraventricular e Hemorragia Subependimal
Hemorragia intraventricular e Hemorragia SubependimalHemorragia intraventricular e Hemorragia Subependimal
Hemorragia intraventricular e Hemorragia Subependimal
 
Avc perioperatório
Avc perioperatórioAvc perioperatório
Avc perioperatório
 

Último (6)

8 - O Teste de sentar e levantar em 1 minuto como indicador de resultado nos ...
8 - O Teste de sentar e levantar em 1 minuto como indicador de resultado nos ...8 - O Teste de sentar e levantar em 1 minuto como indicador de resultado nos ...
8 - O Teste de sentar e levantar em 1 minuto como indicador de resultado nos ...
 
700740332-0601-TREINAMENTO-LAVIEEN-2021-1.pdf
700740332-0601-TREINAMENTO-LAVIEEN-2021-1.pdf700740332-0601-TREINAMENTO-LAVIEEN-2021-1.pdf
700740332-0601-TREINAMENTO-LAVIEEN-2021-1.pdf
 
SDR - síndrome do desconforto respiratorio
SDR - síndrome do desconforto respiratorioSDR - síndrome do desconforto respiratorio
SDR - síndrome do desconforto respiratorio
 
Avanços da Telemedicina em dados | Regiane Spielmann
Avanços da Telemedicina em dados | Regiane SpielmannAvanços da Telemedicina em dados | Regiane Spielmann
Avanços da Telemedicina em dados | Regiane Spielmann
 
Psicologia Hospitalar (apresentação de slides)
Psicologia Hospitalar (apresentação de slides)Psicologia Hospitalar (apresentação de slides)
Psicologia Hospitalar (apresentação de slides)
 
CURSO TÉCNICO DE ENFERMAGEM..........pptx
CURSO TÉCNICO DE ENFERMAGEM..........pptxCURSO TÉCNICO DE ENFERMAGEM..........pptx
CURSO TÉCNICO DE ENFERMAGEM..........pptx
 

Aula endocardite

  • 1. Dr. Alberto de Almeida Las Casas Júnior Cardiologista do Instituto de Neurologia de Goiânia lascasasjr@me.com Relação Odontologia e Endocardite Infecciosa Atuais Protocolos de Profilaxia Antibiótica
  • 2. Endocardite “A primeira descrição de endocardite foi registrada provavelmente por Lazare Riviere em 1646. O paciente procurou-o devido à “palpitação no coração”. Riviere encontrou “o pulso fino, irregular, com toda variedade de irregularidades”. O paciente desenvolveu intensa dispnéia e edema em membros inferiores, gradualmente tornou-se mais enfermo, manifestou hemoptises e faleceu.
  • 3.  Os seguinte achados foram verificados à necropsia. “Excrescências arredondadas no ventrículo esquerdo, assemelhando-se a tecido pulmonar, a maior das quais parecida com um aglomerado de avelãs e preenchendo a região inicial da aorta.”  BRAUNWALD, Tratado de Medicina Cardiovascular.
  • 4. Conceitos • Infecção microbiana do endocárdio ou endotélio vascular • Lesão característica – vegetação • A incidência e mortalidade não diminuiram nos últimos 30 anos • Espectro amplo de apresentações • Diretrizes por consenso de especialistas, pela baixa incidência, ausência de estudos randomizados e poucas meta-análises.
  • 5. Risco de Endocardite • População geral não cardiopata – 5/100.000 pts/ano • Prótese valvar por EI – 2.160/100.000 pts/ano • PVM sem sopro – 4,6/100.000 pts/ano • PVM com sopro IM – 52/100.000 pts/ano • E. Aórtica congênita – 271/100.000 pts/ano • CIV – 145/100.000 pts/ano • Cardiopatia reumática – 380-440/100.000 pts/ano • Endocardite prévia – 740/100.000 pts/ano
  • 6. Epidemiologia • Mudanças no perfil epidemiológico: Antes: Jovens com valvopatias reumáticas Hoje: Idosos submetidos a procedimentos próteses Prolapso da válvula mitral valvopatias degenerativas usuários de drogas intravenosas
  • 7. Classificação • Localização da infecção e material: Em valva nativa esquerda Em valva protética esquerda precoce (<1 ano) Em valva protética esquerda tardia (>1 ano) Em valva direita Relacionada a dispositivos (MP/CDI)
  • 8. Classificação • Modo de aquisição: Adquirida na comunidade (sintomas <48 h após a admissão hospitalar) Associada aos cuidados de saúde: Nosocomial (sintomas >48 h após admissão) Ñ nosocomial (sintomas <48 h após admissão, homecare, QT, HD <30d, internados há <90d, ou insitucionalizados) Usuários de drogas intravenosas
  • 9. Patogênese • O endotélio normal é estéril • Rotura causa endocardite trombótica não bacteriana, a qual depois sofre colonização • Inflamação endotelial libera integrina β1, à qual adere a fibronectina da bactéria • Bacteremia • Escovação – até 100 UFC/ml sangue por <10 minutos • Aderência bacteriana depende de fatores do hospedeiro e do patógeno
  • 10. Risco Alto de EI ou Desfecho Adverso • 1. Próteses valvares • 2. Endocardite infecciosa prévia • 3. Cardiopatias congênitas: a) Cianóticas não corrigidas, incluindo “shunts” e condutos paliativos b) Com correção completa, com prótese ou dispositivo por cirurgia ou cateterismo, durante 6 meses após, até a endotelização c) Corrigida com defeitos residuais no local ou adjacentes a retalhos ou dispositivos prostéticos (que inibem a endotelização) • 4. Receptores de transplante cardíaco com valvopatias (AHA)
  • 11. Quadro Clínico • A maioria das manifestações e dos achados de exame físico é inespecífica • Originam-se de 3 aspectos: 1. Infecção sistêmica (citocinas) 2. Lesão estrutural cardíaca ou vascular 3. Manifestações imunológicas • Podem se originar predominantemente das complicações
  • 12. Quadro Clínico - Sintomas (%) Febre – 80-85 AVC – 13-20 Calafrios – 42-75 Cefaléia – 15-40 Sudorese – 25 Náusea/vômito - 15-20 Anorexia – 25-55 Mialgia/artralgia - 15-30 Emagrecimento - 30 Dor torácica (EDA) 8-35 Mal-estar – 25-40 Dor abdominal – 5-15 Dispnéia – 25 Dor em dorso – 7-10 Confusão – 10-20
  • 13. Quadro Clínico - Sinais (%) Febre – 80-90 Baqueteamento – 10-20 Sopro – 80-85 Nódulos de Osler - 7-10 Sopro novo / ≠ 10-40 H. sub-ungueais - 5-15 Alt.Neurológicas 30-40 Petéquias – 10-40 Embolizações – 20-40 Lesões de Janeway – 6-10 Esplenomegalia – 15-50 M. Roth – 4-10
  • 14. 14
  • 15. 15
  • 16. 16
  • 17. Complicações • Insuficiência cardíaca • Embolização: Arterial em 40-60% Cérebro 20%, pulmões 15%, coronárias 6%, baço 6%, membros 6%, intestino 3% • Perturbações da condução - 4-16% BAV 1º grau 45%, BAV 3º grau 20%, BAV 2º grau 15%,Bloqueio de ramo 15%
  • 18. Complicações • Neurológicas – 29-50% Isquêmicas – 80% Hemorrágicas – 20% Reação meníngea – 7-15% Como sintoma inicial – 10-15% • Aneurismas micóticos – 3-15% Aorta proximal 25%, vísceras 24%, membros 22%, cérebro 15%
  • 19. Quando suspeitar de EI ? • Sopro regurgitante novo • Eventos embólicos de origem desconhecida • Sepse de origem desconhecida • Febre associada a prótese, EI prévia, cardiopatia congênita, imunodepressão, uso de droga IV, procedimento invasivo recente, fenômenos vasculares, sinais neurológicos focais, TEP, abscessos periféricos de causa desconhecida, HC + para germe compatível.
  • 20. Critérios de Duke Modificados - Maiores • Hemoculturas positivas (1 dos abaixo) (Colher 3 amostras venosas de 10 ml) Microorganismo típico em 2 separadas Duas positivas com intervalo > 12 horas, Três em 3 com intervalo > 1 hora, ou a maioria de pelo menos 4 em > 1 hora • Ecocardiograma (1 dos abaixo) Massa oscilante na valva, fluxo ou prótese, Discinesia parcial nova de prótese, ou Regurgitação valvar nova
  • 21. Critérios de Duke Modificados - Menores • Predisposição: cardiopatia / drogadição • Febre: >/= 38°C • Vasculares: Embolia em artéria calibrosa Infarto pulmonar séptico Aneurisma micótico AVC hemorrágico Hemorragia conjuntival Lesões de Janeway
  • 22. Critérios de Duke Modificados - Menores • Imunológicos: Glomerulonefrite Nódulos de Osler Manchas de Roth Fator reumatóide positivo • Microbiológicos: Hemocultura com uma amostra positiva Sorologia de infecção ativa por germe compatível com EI
  • 23. Diagnóstico Definido • Critérios patológicos: Microorganismo em cultura ou histologia de material cirúrgico ou de necrópsia • Critérios clínicos: Dois critérios maiores, um maior e três menores ou cinco menores
  • 24. Diagnóstico • Possível: 1 critério maior e 1 menor ou 3 menores • Afastado: Diagnóstico alternativo firme para o quadro Resolução com antibiótico em até 4 dias Nenhuma evidência patológica em peça cirúrgica ou necrópsia, após antibiótico por até 4 dias Critérios insuficientes para EI possível
  • 26. Bacteremia Provável • Procedimentos dentários c/ risco de sangrar • Broncoscopia rígida • Cistoscopia com infecção urinária • Biópsia de trato urinário e próstata • Amigdalectomia e adenoidectomia • Dilatação esofágica e escleroterapia • Instrumentação de vias biliares obstruídas • Prostatectomia transuretral • Litotripsia • Procedimentos ginecológicos com infecção
  • 27. Bacteremia em Procedimentos Dentários • Extração - 10-100% • Cir. Periodontal - 36-88% • Proc. Endodônticos - até 20% • Limpeza dental - até 40% • Matriz p/ elásticos - 9-32% • Escovação - 20-68% • Uso de palitos - 20-40% • Jato de água - 7-50% • Mastigação de alimentos - 7-51%
  • 28. Porém... • Parece não haver diferença clinicamente significante na freqüência, natureza, magnitude e duração da bacteremia associada aos procedimentos dentários comparados às atividades rotineiras diárias. • Em pacientes com má higiene oral, a incidência de bacteremia antes de extração dentária pode ser semelhante à de bacteremia após a extração. • Não há evidência de que sangramento visível em procedimentos seja um bom preditor de bacteremia.
  • 29. • Na maioria dos pacientes com EI não conseguimos estabelecer uma relação causal com procedimento invasivo. • Roberts GJ. Dentists are innocent! ‘Everyday’ bacteremia is the real culprit: a review and assessment of the evidence that dental surgical procedures are a principal cause of bacterial endocarditis in children. Pediatr Cardiol 1999;20: 317 – 325. • Uso indiscriminado de antibióticos pode levar a resistência bacteriana. • Antibiótico pode levar a anafilaxia.
  • 30. Estimativa de Risco Risco de EI para 1 procedimento dentário: • População geral – 1:14.000.000 • Prolapso de valva mitral – 1:1.100.000 • Cardiopatia congênita – 1:475.000 • Endocardite prévia: 1:95.000 • Cardiopatia reumática: 1:142.000 • Prótese: 1:114.000 • Mesmo que a eficácia dos antibióticos profiláticos fosse 100%, o número de EI prevenidas seria muito baixo. • 1 EI prevenida, 94.999 pacientes usaram antibiótico sem benefício algum! European Heart Journal (2009) 30, 2369-2413
  • 31. Dúvidas • Qual procedimento dentário requer profilaxia para endocardite ? • Os procedimentos têm mais risco de bacteremia que as rotinas diárias ( mastigação, bochechos, escovação ) ? • Duas escovações diárias em 1 ano têm 154.000 vezes mais risco de bacteremia que uma extração. • Rotinas diárias durante 1 ano têm 5,6 milhões de vezes mais risco de bacteremia que uma extração. • Não existe um estudo prospectivo, randomizado, controlado por placebo para profilaxia de EI.
  • 32. Indicações de Profilaxia para EI Classe IIa - Evidência C • 1. Próteses valvares ou reparos com material protético • 2. Endocardite infecciosa prévia • 3. Cardiopatias congênitas: a) Cianóticas não corrigidas, incluindo “shunts” e condutos paliativos b) Com correção completa, com prótese ou dispositivo por cirurgia ou cateterismo, durante 6 meses após, até a endotelização c) Corrigidas com defeitos residuais no local ou adjacentes a retalhos ou dispositivos prostéticos (que inibem a endotelização) European Heart Journal (2009) 30, 2369-2413
  • 33. Profilaxia para EI Não Indicada • Estenose aórtica • Estenose mitral • Prolapso da valva mitral, sintomático ou não. • Valvopatias nativas em adolescentes e adultos jovens • Estenose pulmonar com valvotomia por balão European Heart Journal (2009) 30, 2369-2413
  • 34. European Heart Journal (2009) 30, 2369-2413
  • 35. Indicações de Profilaxia para EI • Procedimentos dentários com: 1. Manipulação de gengivas 2. Manipulação periapical dos dentes 3. Perfuração das mucosas • Não é indicada em anestesia em tecido não infectado, colocação, ajuste ou retirada de próteses e dispositivos ortodônticos, perda da 1ª dentição ou trauma aos lábios e mucosa oral. European Heart Journal (2009) 30, 2369-2413
  • 36. European Heart Journal (2009) 30, 2369-2413
  • 37. Profilaxia - Procedimentos Dentários • Profilaxia em dose alta antes do procedimento, sem necessidade de dose após. • Evitar ou minimizar a bacteremia além de alterar propriedades bacterianas diminuindo a aderência ao endotélio. • Amoxicilina 2 g VO 30 a 60 minutos antes do procedimento dentário (crianças 50 mg/Kg) • Alérgicos e/ou incapazes de deglutir: Clindamicina 600 mg (crianças 20 mg/Kg) VO, IM ou IV European Heart Journal (2009) 30, 2369-2413
  • 38. ACC/AHA 2008 Guideline Update on Valvular Heart Disease: Focused Update on Infective Endocarditis Circulation 2008:118:000-000 - August 19, 2008. “Os clínicos devem estar disponíveis para discutir as razões para estas novas mudanças com seus pacientes, incluindo a falta de evidência científica para demonstrar um benefício provado na profilaxia da endocardite infecciosa.” “ Com o tempo e a educação continuada, o Comitê prevê aceitação crescente das novas diretrizes entre médicos e pacientes.”
  • 39. Ponto a Ponderar AUSÊNCIA DE EVIDÊNCIA A FAVOR NÃO SIGNIFICA EVIDÊNCIA CONTRA
  • 40. Guidelines on the Prevention, Diagnosis and Treatment of Infective Endocarditis European Society of Cardiology – Sept. 2009 “Após revisão informada e discussão com o paciente, muitos médicos podem decidir continuar com a profilaxia, e esta visão deve ser respeitada.”
  • 41. 41
  • 42. Prevention of Infective Endocarditis Guidelines from the American Heart Association Circulation 2007:116:1736-54 - May 8, 2007. “...A manutenção de boa higiene oral e o acesso a cuidados dentários de rotina provavelmente são mais importantes na redução do risco de endocardite por toda a vida que a administração de profilaxia antibiótica para um procedimento dentário.”
  • 43. 43

Notas del editor

  1. Janeway: pequenas máculas ou nódulos eritemotoso ou hemorrágico, localizado nas palmas ou solas. Osler: nódulos subcutâneos, dolorosos, em dedos e regiões tenares e hipotenares